“Era Bernardinho”
Nove vezes campeão pela Liga Mundial, o técnico do vôlei do Brasil extravasa sua
ansiedade em quadra e mantém boas noites de sono para recarregar as energias.
Bernardo Rocha de Rezende, o Bernardinho, foi o técnico da seleção
brasileira feminina adulta de 94 a 2000. Em 2001, passou a comandar a
seleção masculina. Antes disso, jogou de 1979 até 1986, e conquistou
a medalha de bronze na Copa do Mundo em 81, a medalha de prata no
Campeonato Mundial em 82, e também nos Jogos Olímpicos de Los
Angeles em 84. Em 88, parou de jogar e começou a carreira de treinador
como assistente técnico de Bebeto de Freitas nos Jogos Olímpicos de
Seul. Este é o nono título da Liga Mundial na “Era Bernardinho”. São
tantas vitórias e com elas tanta cobrança, que às vezes a ansiedade e
o nervosismo tomam conta das situações. Lidar com essas sensações
e ao mesmo tempo ter que controlá-las para reger um time inteiro não
deve ser nada fácil, dormir tranquilo então, nem se fala!
Em entrevista exclusiva à Dr. Jornal, depois de um pequeno período
de férias, já que teve de retornar para os treinos, Bernardinho conversa
com a gente e conta como encara a responsabilidade de ser o técnico
da seleção eneacampeã do mundo.
Dr. Jornal - A sua carreira no vôlei
começou como jogador. Como
conseguia lidar com a ansiedade
e adrenalina antes dos jogos?
Bernardinho - Esse nível de stress,
ansiedade e adrenalina continua
como treinador. Não mudou muito.
Acho que como jogador você só
consegue
nivelar
efetivamente
isso durante o jogo. Quando você
vai pro jogo, se aquece. Você usa
a adrenalina como força motriz. A
adrenalina é que te move. É pra
matar ou morrer. Um embate. Como
treinador é mais difícil porque não
tem onde extravasar isso. Meu jeito
de ser na quadra tem um pouco a
ver com isso, é uma forma de estar
vivendo aquilo ali, de estar liberando
o stress, a ansiedade e adrenalina,
tudo isso junto. As pessoas me
dizem: ‘vai ter um negócio.’ Mas, se
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eu me contivesse, seria pior. É mais
um desabafo. A única coisa que me
tira um pouco dessa ansiedade é a
leitura. Na Liga Mundial eu li um livro
de 900 páginas, e usava-o como um
antídoto de stress. Mergulhei em
outro tema, porque me interessei
muito pelo livro, e ele me tirava um
pouco da ansiedade da partida.
Dr. Jornal - Como eram suas
noites de sono em véspera
de jogos importantes como o
Campeonato Mundial e Jogos
Olímpicos, por exemplo?
Bernardinho - Como jogador, de
modo geral, dormia bem. Como
treinador é mais complicado
porque você fica pensando em
milhões de coisas, e tem a idade
também. Somando tudo isso, hoje
é muito mais difícil.
Dr. Jornal - E fora das quadras,
você é uma pessoa tranquila?
Existe algum exercício que o
mantém calmo?
Bernardinho - Sim, sou calmo.
Gosto de correr, me sinto bem.
Dr. Jornal - Como você se
prepara para uma temporada
de treinos intensos, físico e
emocionalmente? E como
consegue passar tranquilidade e
confiança para os jogadores?
Bernardinho - Tranquilidade eu
não passo muito não (risos). Acho
que duas coisas são importantes
pra mim e que, às vezes, até
negligencio um pouco: um é o
exercício físico, que me mantém
bem, e outra, é o equilíbrio comigo.
São duas coisas importantes
para mim e que são fundamentais
Foto: Divulgação
Bernardinho - O preparador físico
da seleção, José Inácio Salles Neto,
que tem uma atenção fundamental
pela flexibilidade, inclusive, para
a saúde articular. A flexibilidade é
usada como forma de ter uma melhor
performance, de estar protegendo
as articulações, e isso gera, como
consequência, uma melhor saúde
como um todo.
Dr. Jornal - O que te tira do sério
dentro da quadra?
Bernardinho - Falta de concentração
e de comprometimento.
Dr. Jornal - Qual a parte mais
difícil de lidar com mulheres na
hora do treino?
Bernardinho - O lado emocional,
na hora da pressão, da cobrança
do jogo. Tem que ter mais cuidado
com a pressão emocional. As
mulheres precisam ter uma atenção
mais delicada porque tendem a ser
tomadas pela questão emocional.
para que eu mantenha foco e a
capacidade boa de trabalho.
Dr. Jornal - O que você aconselha
que eles façam para relaxar?
Bernardinho - Têm uns que gostam
de videogame, outros de ler um
pouco, outros de assistir filmes. O
que gera conforto e relaxamento, e o
que eu aconselho, é fazer o que você
gosta. Na concentração eles usam
muito o computador. Eles poderiam
fazer yoga ou dar uma corrida para
relaxar, mas é mais um exercício.
Requer tempo. Dar um mergulho na
praia, na piscina, eles fazem sempre.
Dr. Jornal - Alongamentos são
importantíssimos para manter
a saúde física e mental, qual
s e quê n c i a d e a l o n g a m e n t o s
vocês costumam fazer?
Dr. Jornal - Qual a responsabilidade
de ser a seleção eneacampeã da
liga mundial? Vocês são muito
cobrados por ser um time brasileiro,
que tem um peso considerável no
esporte pelo mundo. Como lidam
com essa cobrança?
Bernardinho - A responsabilidade
é enorme. Somos extremamente
cobrados e seremos cada vez mais.
Em função das vitorias, a cobrança
será sempre maior. Temos que lidar
com essas cobranças trabalhando,
seguindo em frente.
Como treinador é mais difícil porque não tem
onde extravasar isso. Meu jeito de ser na quadra
tem um pouco a ver com isso, é uma forma de
estar vivendo aquilo ali, de estar liberando o
stress, a ansiedade e adrenalina, tudo isso junto.
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