Cooperação para uma educação no desporto – César Valentim 2005 INTRODUÇÃO A necessidade uma Educação no Desporto direccionada aos jovens portugueses, como um meio de obtenção de uma juventude saudável e até de prevenção contra a delinquência juvenil, fenómeno que cada vez mais carece de atenção na nossa sociedade, a falta de coordenação entre os diversos subsistemas desportivos (Federado, Autárquico, Escolar) e a má utilização dos recursos disponibilizados no que concerne às infra-estruturas conduziu à criação desta proposta. Propomos a criação de um programa de coordenação, cooperação e educação desportiva em que as diversas autoridades desportivas e mais especificamente os atletas abrangidos pelo percurso e pelo estatuto de Alta-competição possam contribuir de uma forma mais relevante para a sociedade em que se integram. A falta de incentivos para a prática competitiva de alto nível é uma realidade inerente às condições macroeconómicas e sociais em que se integra o nosso país contudo, é verdade que a falta de visão a médio e longo prazo sobre o futuro profissional dos atletas após término de carreira dificulta a integração destes na restante sociedade e passa pela responsabilização dos mesmos quanto à sua contribuição para o desenvolvimento da mesma. É necessário que estes atletas de relevo nacional e mesmo internacional sejam parte integrante da educação desportiva dos nossos jovens em idade escolar através de uma obrigatoriedade de participação em regime de cooperação com os nossos órgãos de poder local e junto dos demais organismos juvenis. É pois necessário que podendo beneficiar de diversos benefícios (fiscais, sociais e escolares), estes exponentes do desporto português, colaborem na divulgação e ensino das demais práticas desportivas a que estão associados aos jovens por todo o país. Não podemos continuar a ignorar que na maior parte dos casos, os atletas após terminarem a sua carreira competitiva enveredam pela carreira pedagógica e esta compulsão impele mesmo aqueles que não estão nesse sentido direccionados para uma consciência social desportiva. Achamos também que as diversas associações desportivas, em particular as Federações Desportivas devam ser as principais impulsionadoras da recolha de jovens para as modalidades pelas quais são responsáveis, beneficiando assim de benefícios programáticos de acordo com a sua participação. EDUCAÇÃO NO DESPORTO Defendemos a necessidade de desenvolver acções de formação (estágios, seminários, competições) no sentido de proporcionar uma educação no desporto, permitindo a ocupação dos tempos livres dos jovens através de programas continuados, funcionando como forma de prevenção contra a delinquência juvenil, resultado principal do frequente abandono de que são vítimas. Sabemos que a nossa juventude em idade escolar, quando sai das escolas não se dirige imediatamente para casa por não ir encontrar nesse retiro os seus familiares que a essa hora ainda se encontram a trabalhar. Carecendo de um acompanhamento familiar, os jovens refugiam-se nas ruas e na companhia de outros iguais que padecem do mesmo problema. Nessa situação de carência de um lar acolhedor e protector estes descobrem facilmente os vícios e os perigos proporcionados a uma juventude desamparada engrenando-os num ciclo malicioso e conduzindo-os a um sentimento de desamparo e de descrédito nos valores sociais. Uma educação no desporto proporciona também à nossa juventude um maior bemestar físico e psicológico. Urge cultivar na nossa juventude, através de uma pedagogia desportiva correcta, o sentido de fair-play, saúde e condição física, espírito cooperativo e de associativismo, preserverança e espírito de aperfeiçoamento, inerentes às diversas práticas desportivas colectivas ou individuais. Uma educação no desporto com a participação de agentes desportivos das diferentes modalidades proporcionará aliás a estes um meio de descoberta no meio de um novo universo dos novos talentos que porventura poderão ingressar a um nível mais profundo na prática destas modalidades, ajudando deste modo a melhorar a nossa prática desportiva nacional e mesmo internacional. INCENTIVOS É necessário rever a diversa legislação em vigor permitindo o incentivo aos diversos agentes desportivos que colaborem numa educação no desporto mas, reforçando o papel dos atletas de alta-competição neste processo. A revisão dos benefícios fiscais, laborais e escolares aos atletas que participem activamente na sociedade através da partilha de conhecimentos específicos deverão ter condições especiais de acesso a diversas áreas como o ensino superior, a saúde e o trabalho. Deve ainda ser criado um sistema de apoio à integração na vida activa finda a carreira competitiva dos mesmos. AUTARQUIAS, EDUCAÇÃO, FEDERAÇÕES E O DESPORTO A coordenação dos diversos subsistemas desportivos, em especial o escolar e o autárquico é essencial para o desenvolvimento desportivo. A integração do desporto federado nesta equação é essencial para o devido enquadramento da prática e para o aproveitamento das infra-estruturas disponíveis. As autarquias, em conjunto com as escolas e com as associações desportivas, deverão proporcionar acções de formação, ministradas por elementos das associações desportivas e/ou de atletas das respectivas modalidades, providenciando as condições necessárias para a sua realização e responsabilizando-se pela divulgação das mesmas, empenhando-se para que o programa de cooperação e educação no desporto atinja o maior número de jovens em idade escolar. O Instituto do Desporto de Portugal, através das suas delegações regionais, deverá coordenar a prática desportiva juvenil, sempre com o apoio das estruturas locais e das federações desportivas nacionais ou das representações territoriais.