Embaixador da Esperança
Foto: Mauricio Araujo
Edição 81. Junho 2014
Caminhada da vida
Todas as festas da igreja são celebradas nos 365 dias do ano de recuperação. O nascimento de
Jesus, a morte, o mês de Maria, o mês da bíblia, a vida dos santos e todos os outros momentos
especiais, fazem a diferença na vida daqueles que buscam sair do inferno das drogas.
www.fazenda.org.br
“Chamou-me atenção na Fazenda como se comportava as pessoas, porque elas me diziam para experimentar um jeito diferente de viver e
viviam de fato esse jeito que me apresentavam” Marcos. (foto a direita)
U
m momento em especial do calendário litúrgico
se dá na celebração do Corpus Christi. “Nessa celebração queremos levar Deus para todos.
Um jovem na Fazenda da Esperança já começa a experimentar o que o papa emérito Bento XVI pediu:
Sejam Embaixadores da Esperança! Nessa data especial
já entendem que devem levar o amor de Jesus para a
sociedade e mostrar para todos, as transformações que
Ele fez em suas vidas”, afirma padre Christian Hein.
O Corpus Christi é sempre festejado no quinto dia
da semana, sendo uma referência à Quinta-feira Santa, quando se deu a instituição deste sacramento e
que celebrassem Sua lembrança comendo o pão e
bebendo o vinho que se transformaram no Corpo e
Sangue de Jesus. “Depois, tomando um pão e dando
graças a Deus, partiu-o e deu-o a eles, dizendo: ‘Isto
é o meu corpo, dado por vós: fazei isto em memória
de mim’. Do mesmo modo, no fim da ceia, tomou o
cálice, dizendo: ‘Este cálice é a nova aliança em meu
sangue, derramado por vós’”, Lucas (22, 19-20).
Através da Eucaristia, Jesus mostra que está presente em cada um. Ele comunica seu amor e se entrega
por todos. Esse entendimento faz com que os jovens
mudem sua atitude perante os outros ao seu redor.
“Quando participava do grupo do coral da igreja
tivemos uma discussão e por mais de um mês não nos
falamos. Um dia recebi o DVD com as entrevistas da
páscoa dadas por vários membros do coral. Meu coração ficou cheio de vontade de levar para assistirmos
juntos, mas estávamos brigados. E neste momento,
motivado pelo evangelho que nos ensina a recomeçar
o tempo todo não tive dúvida, chamei um amigo e
fomos ao quarto do coordenador do coral, dei-lhe o
DVD de presente para guardar de recordação, experimentamos ali o perdão e a alegria de nesta mesma
noite reunir todo o grupo para assistir. Naquela noite
percebi que minha felicidade foi a felicidade deles”,
conta Marcos Peres, 39 anos, São Paulo-SP.
Durante a santa ceia vê-se na escritura a convivência de Jesus com os apóstolos e a mesma é marcada
por amor, conflitos, decepções e cobranças, como se
pode ver no anúncio da traição. “Um de vós vai me
entregar. Os discípulos olhavam uns para os outros,
sem saber a quem ele se referia”, (João 13, 21-22).
Em todas as atividades das celebrações os jovens participam diariamente, como leitores, músicos e acólitos, mas é na festa de Corpus
Christi que há um maior envolvimento e colaboração de todos.
2 - Boletim do Embaixador - Edição 81 - junho 2014
Os relacionamentos diários dos quais os jovens fugiam quando se encontravam na sociedade, na Fazenda são incentivados a viver exatamente para enfrentar
as dificuldades e aprender a conviver harmonicamente. Por exemplo, Marcos ficava meses trancado num
quarto consumindo cocaína sem conviver com seus
familiares e amigos.
“Antes, minha maior dificuldade era conviver e
aceitar as diferenças das pessoas. Hoje, percebo que
a felicidade se revela no próximo, independente se eu
me lanço na direção da necessidade dele ou ele da
minha. Eu consigo fazer o que eu quiser sozinho, mas
eu não consigo ser feliz sozinho. Preciso de Deus e
Deus está no próximo que me afronta, desafia, incomoda e rejeita o que já foi uma das minhas maiores
dificuldades”, afirma Marcos.
O diferencial da proposta da Fazenda está em se
basear no evangelho e a ver Jesus no irmão com
amor para superar os conflitos, as desilusões e as limitações próprias.
“O ano litúrgico começa com o Advento, Jesus nasce, mas também nasce o homem novo. Na quaresma
morre o homem velho e a ressurreição é a possibilidade de vida nova para os jovens. Em outro mês somos
animados a criar um relacionamento com Maria, mãe
de Deus, seguir seu exemplo, caminhar com a Igreja”,
convida padre Christian.
A procissão de Corpus Christi lembra a caminhada
do povo de Deus, que é peregrino, em busca da Terra Prometida. No Antigo Testamento esse povo foi
alimentado com maná, no deserto (Êxodo 16, 1516). Hoje, ele é alimentado com o próprio Corpo de
Cristo. E para os jovens vem ao encontro da busca de
preencher o vazio que procuravam saciar nas drogas
e no álcool.
Os jovens em recuperação passam por um ano de
internação, nesse tempo têm a possibilidade de viver
todos os assuntos do calendário litúrgico que os ajudam a reconquistar valores e dignidade. Estes ficam
marcados por estas datas especiais que na vida anterior, pela reclusão não haviam experimentado. Vivem
intensamente, levantam cedo para preparar o tapete.
Cada jovem doa o que sabe de melhor para, no fim,
celebrar um grande cortejo pelo qual foram responsáveis pela preparação. Aprendem que para se manterem
sóbrios precisam levar o que viveram e aprenderam
aqui para a realidade que vão encontrar na sociedade.
O Corpus Christi e a Palavra de Deus vão renovar seu
sim de vida nova todos os dias.
Aconteceu comigo
Ivanilda Tavares Bezerra,
52 anos, Bezerros/PE.
Minha mãe veio a falecer
quando eu tinha três anos
e eu fui morar com minha
avó por parte de mãe,
porque meu pai morava
em São Paulo. Aos seis
anos de idade mudei para
São Paulo junto com meus
avós, minha irmã e tia. Por
determinação do Juiz nessa época eu e minha irmã
fomos morar com meu pai.
Nós gostávamos de morar com nossa avó e foi uma
guerra aceitar essa mudança. Com sete anos eu já
fumava e aos dez comecei a beber.
Aos 13 anos, cheguei ao extremo no momento
quando meu pai ia me bater com uma cinta. Eu a
segurei e disse: Você nunca mais baterá em mim. Fui
morar na rua. Fiz amizade num restaurante da cidade
e todos os dias recebia comida. Para dormir eu me
refugiava dentro do cemitério de Santo Amaro. À
tardezinha, me escondia por lá, era mais seguro para
passar a noite. Nos dias frios, juntava-me aos mendigos da rua, fazíamos uma fogueira e tomava cachaça
para esquentar.
Depois de um mês e meio, conheci uma senhora
que me ofereceu um quarto para me abrigar, arrumei meus documentos, comecei a trabalhar e toquei
minha vida. Passados uns dois anos, comprei meu
próprio barraco, estava investindo nele, mas cada dia
afundava na cachaça e acabei perdendo tudo.
Durante toda a minha vida trabalhei, mas eu mesma
não parava muito tempo, sempre pedia demissão,
saia de um e ia para outro, e desde a juventude até
os 50 anos sempre consumi álcool. Morava na casa
de amigos e uma senhora minha amiga me ofereceu
tratamento na Fazenda da Esperança, em 2012. Levou
um tempo até aceitar a ajuda.
Uma experiência que me marcou dentro da Fazenda
foi quando uma das jovens me acusou de pegar uma
coisa que não era minha para a coordenadora da
casa. Eu não tinha feito aquilo, nem quando morei
na rua eu roubei. Fiquei triste e até chorei quando fui rezar na Nossa Senhora da Esperança, uma
pequena capela que tem aqui na comunidade de
Guaratinguetá-SP. À noite, a coordenadora encontrou
a jovem escondendo o objeto que tinha me acusado
de pegar. Após isso, elas vieram me pedir perdão e eu
me esforcei e não guardei magoas, fiquei contente e
muito mais livre.
Boletim do Embaixador - Edição 81 - junho 2014 - 3
A-notável
Caminhar juntos
Com a cooperação quem vai ganhar
são os jovens em recuperação
Na visita de Maria Voce e Giancarlo Falleti,
presidente e co-presidente do Movimento dos
Focolares, frei Hans pediu uma colaboração
recíproca com o desejo de intensificar a formação dos jovens que buscam vida nova nas
Fazendas da Esperança, como já acontece em
algumas comunidades.
Giancarlo disse que, pensando no carisma
da unidade, compreendeu-o como a raiz de
uma árvore com muitos ramos e cada ramo
com seus frutos. “Quando penso na Fazenda
vem à minha mente o problema da dependência da droga e digo: é Jesus – que assumiu o
drama da droga – que grita o abandono. Esta
obra assumiu este aspecto como seu, mas é um
grande aspecto, e fez com que este particular
se tornasse uma obra maravilhosa. Mesmo se
a raiz fica escondida e só os ramos e os frutos
aparecem, a raiz se alegra. E os frutos agradecem à raiz”.
“Parece-me que todos os carismas que estamos conhecendo e muitos outros que não conhecemos e que ainda nascerão estão contidos
no carisma da unidade, porque estão ligados
pelo amor recíproco, que coloca em evidência
a grandeza do particular, um do outro. Juntos contribuem para cumprir a oração de Jesus
‘que todos sejam um’. Portanto, eu digo: ‘Viva a
Fazenda da Esperança’!”, concluiu Maria Voce.
www.fazenda.org.br
OBRA SOCIAL NOSSA SENHORA DA GLÓRIA - FAZENDA DA ESPERANÇA
Departamento Retorno à Vida - Caixa Postal 529 - CEP 12511-970
Guaratinguetá-SP Tel.: (12) 3128 8900 E-mail: [email protected]
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