1 Fundação Universidade Federal de Rondônia Campus Ji-Paraná Curso: Engenharia Ambiental Disciplina: Química Ambiental 2 Aula prática 2 OXIGÊNIO DISSOLVIDO Princípio (Método de Winkler) O método de Winkler para a medida de oxigênio dissolvido foi apresentado inicialmente por L. W. Winkler de Budapeste, sendo inteligentemente concebido e muito preciso. O método depende da oxidação do hidróxido manganoso (managnês bivalente) pelo oxigênio dissolvido na água, resultando na formação de um composto tetravalente. Quando a água contendo o composto tetravalente é acidificada, iodo é liberado a partir da oxidação do iodeto de potássio (ou de sódio). O iodo é equivalente quimicamente a quantidade de oxigênio dissolvido presente na amostra e é determinado por titulação com uma solução padrão de tiossulfato de sódio. As reações envolvidas pela adição dos reagentes (KI, KOH, MnSO4 e H2SO4) na amostra de água são as seguintes: Sulfato manganoso reage com a mistura iodeto de potássio-hidróxido de potássio para produzir um precipitado floculento branco de hidróxido manganoso: MnSO4 + 2 KOH Mn(OH)2 + K2SO4 (1) Quando o precipitado branco é obtido, não existe oxigênio dissolvido na amostra. Um precipitado marrom indica que há oxigênio presente e que este reagiu com o hidróxido manganoso, formando um óxido mangânico básico: 2 Mn(OH)2 + O2 (2) 2 MnO(OH)2 A partir da adição de ácido sulfúrico, este precipitado dissolve-se, formando sulfato mangânico: 2 MnO(OH)2 + 4 H2SO4 2 Mn(SO4)2 + 6 H2O (3) Existe uma reação imediata entre Mn(SO)4 e o iodeto de potássio adicionado previamente, liberando iodo e resultando em uma água com coloração típica de iodo (marrom): 2 Mn(SO4)2 + 4 KI 2 MnSO4 + 2 K2SO4 + 2 I2 (4) O número de moles de iodo liberado por esta reação é equivalente ao número de moles de oxigênio presente na amostra. A quantidade de iodo é determinada pela titulação de uma alíquota da solução com uma solução padrão de tiossulfato de sódio: 4 Na2S2O3 + 2 I2 2 Na2S4O6 + 4 NaI A partir das equações (2) e (5), observa-se que, para cada mol de oxigênio molecular (O2), lquatro moles de tiossulfato são titulados. Portanto, um mL de uma solução 0,025M de tiossufato de sódio é equivalente a 0,025meq de oxigênio. Este valor é comumente multiplicado por 8mg,meq -1 para converter o valor a mg de O2. Procedimento: A principal dificuldade na determinação da concentração de oxigênio dissolvido em águas doces está relacionada com a coleta das amostras. É necessário que muitas amostras sejam obtidas em lugares, horas, profundidades e condições específicas, as quais podem ou não representar as condições médias ao longo de um período de tempo, ou a média de uma secção transversal de um lago, rio ou outro corpo d’agua. Além disto, as amostras devem representar as condições existentes no local da amostragem, sem que sejam aeradas ou desaeradas artificialmente durante a coleta. As amostras não devem ficar (5) 2 expostas por longos períodos de tempo ou a altas temperaturas, com o objetivo de evitar que algas, bactérias ou outros organismos alterem o conteúdo de oxigênio dissolvido através de seus metabolismos; também não se pode permitir que os gases escapem. Coleta e preservação da amostra: 1. Coletar a amostra diretamente a partir da bomba; 2. Colocar a mangueira que vem da bomba no fundo de um frasco de DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio) de 60 mL. Deixe a água fluir continuamente através do frasco, excluindo todas as bolhas que possam ficar pressas, até que um volume três vezes superior ao do frasco tenha sido despejado (conte o tempo necessário para encher o frasco uma vez e então espere mais duas vezes este tempo). O fluxo da água não pode ser muito forte. Se estiverem se formando bolhas ao fluir água, diminua o fluxo. Retire a mangueira da garrafa gentilmente ao final do enchimento do frasco, mantendo o fluxo de água enquanto a mangueira é retirada. 3. Imediatamente e gentilmente adicione no fundo no frasco 250µL de MnSO4 e 250µL de NaOH + KI (ou NaI). Evite adicionar ar com a pipeta. Se estiver usando pipetador, não pressione o êmbolo até o final, pare na primeira posição de travamento do mesmo (mesmo que fique uma gota de reagente na ponteira do pipetador, mas assim não é adicionado ar pelo mesmo). Tenha cuidado para não misturar as pipetas destes reagentes (atenção: o reagentes de NaOH + K é extremamente cáustico, não pipete com a boca). Feche o frasco deixando a tampa cair no meio da boca do mesmo, de uma altura de 1-2 cm acima da superfície da amostra. Esta é a melhor maneira de evitar bolhas presas no mesmo. Após fechar, é necessário prender bem a tampa, dando uma pequena girada, em um movimento forçando a tampa contra o frasco. Agite vigorosamente. Deixe o floculado que se forma precipitar. 4. Após o floculado precipitar (ou após 15 minutos), abra o frasco e adicione 500 µL de H 2SO4 50% (v/v, ácido sulfúrico concentrado diluído à metade). Tampe como acima e agite vigorosamente. 5. Mantenha as amostras armazenadas submersas em caixas térmicas contendo a água do rio amostrado. Se utilizar isopor, é necessário revesti-lo com papel de alumínio. Importante: para evitar troca de oxigênio pela tampa, é preciso deixar sempre água nas bordas da tampa ou deixar as amostras submersas. Determinação do conteúdo de oxigênio dissolvido das amostras utilizando uma microbureta HACH 6. Retire uma alíquota de 50mL da amostra com uma pipeta volumétrica e transfira-a para um frasco Erlenmeyer de 100-150mL. Mantenha a ponta da pipeta encostada na parede lateral do frasco durante a transferência. Coloque uma barra agitadora dentro do erlenmeyer e o mesmo sobre um agitador magnético. Obs.: Forre o agitador magnético com um papel branco e, se possível, ponha também papel branco atrás do erlenmeyer, para poder discernir melhor a troca de cores durante a titulação; 7. Com a microbureta Hach cheia de solução de tiossulafto de sódio padronizado, titule até que a solução apresente uma cor amarelo-claro. 8. Adicione duas gotas de solução de amido, o que tornará a solução azul. Proceda com a titulação até atingir a coloração transparente. Atenção: quando a cor for muito tênue, titule devagar. Após terminar a titulação deixe o frasco titulado na bancada, enquanto realiza a próxima. Após 15-20 segundos, no frasco já titulado deve haver a formação de uma coloração azulada novamente. Caso a amostra se mantenha transparente, é sinal que foi 3 adicionado mais titulante do que o necessário. Na próxima replicata, adicione menos tiossulfato. 9. Anote o volume de tiossulfato gasto na titulação e proceda à próxima replicata ou amostra. Cálculo da concentração de oxigênio dissolvido da amostra: O conteúdo de oxigênio dissolvido na amostra será obtido pela equação: mgO2 . L-1 = (mL do titulante).(molaridade do tiossulfato).(8000) (mL da amostra).((mL do frasco – 0,5)/mL do frasco) Anote os valores calculados com três casas decimais. Soluções para determinação de oxigênio pelo Método de Winkler: 1. Iodato de Potássio - KIO3 – 0,125 N Dissolver 4,459 g de KIO3 (P.A., seco a 120oC por aproximadamente 2 horas) em 1 L de água. 1.a. KIO3 – 0,00125 N (preparada no momento da análise) Diluir 10 mL da solução de KIO3 0,125 N em 1000 mL (1 L) de água 2. Tiossulfato de Sódio - NaS2O3 – 0,25 N Dissolver 62 g de Na2S2O3.5H2O em água. Adicionar um grânulo de NaOH ou 1 g de Na2CO3 e completar o volume para 1 L de solução. Armazenar em frasco âmbar. 2a. Na2S2O3 aproximadamente 0,0125 N (preparada e padronizada no momento da análise). Diluir 50 mL da solução de Na2S2O3 0,25 N em um volume final de 1000 mL (1 L). Padronização do Na2S2O3 (Deve ser feita sempre antes de titular as amostras): Em um erlenmeyer de 100-150 mL, pipetar 25mL da solução de KIO3 0,00125 N, adicionar 250 µL da solução alcalina de iodeto (3) e completar o volume até 50mL. Adicionar 500 µL de H2SO4 50% (v/v) e titular com a solução de Na2S2O3 aproximadamente 0,0125 N. Calcular a normalidade do Na2S2O3 a partir da fórmula: Normalidade do Na2S2O3 x Volume de Na2S2O3 = Normalidade do KIO3 x Volume de KIO3, ou, Normalidade do Na2S2O3 = 0,03125/ volume de Na2S2O3 gasto na titulação Obs.: Na estequiometria desta reação de oxi-redução, a razão entre Na2S2O3 e KIO3 é de 1:1. Portanto, para 25 mL de KIO3 0,00125 N devem ser gastos 2,5 mL de Na2S2O3 0,0125 N (Lembrem-se da regrinha básica para diluições: N1V1 = N2V2). 4 3. Solução alcalina de iodeto - KI (ou NaI) + NaOH: Dissolva 250g de NaOH em 200mL de água. Em outro frasco, dissolva 75g de KI (P.A.) em 200mL de água. Após atingirem temperatura ambiente, misture as soluções e complete o volume para 500mL. 4. Sulfato Manganoso - MnSO4.5H2O 50% (m/v): Dissolva 250g de MnSO4.5H2O e complete o volume para 500mL. 5. Indicador de amido: Dissolver 1g de amido em 100mL de água. Aquecer até fervura para dissolver. Cálculo da porcentagem de saturação: As determinações das concentrações de oxigênio dissolvido na água por este método são muito precisas. Entretanto, não representam a real disponibilidade deste gás para os organismos, uma vez que suas concentrações variam em função, principalmente, da temperatura e pressão. Por exemplo, uma amostra de água a uma temperatura de 20 graus Celsius se encontrada saturada em oxigênio dissolvido se a concentração do mesmo for de 9,08 mg/L, ao passo que, a 30 graus Celsius esta concentração precisa ser de 7,59 mg/L. Portanto, é importante que, além da concentração, seja também estimada a porcentagem de saturação deste gás na água, através da equação: % de saturação de O2 = 100x/ST,P onde: x= concentração de O2 na amostra; ST,P = solubilidade do O2 à temperatura e pressão da amostra (Tabelas 1 e 2) Exemplo: Uma amostra, cuja temperatura era de 26,5 graus Celsius, teve sua concentração de oxigênio dissolvido determinada como sendo de 7,38 mg/L, a uma altitude de 100 metros acima do nível do mar. A porcentagem de saturação de oxigênio desta amostra é (veja os fatores T e P marcados nas Tabelas 1 e 2): Saturação de O2 = 100 x 7,38 / 8,06 x 1,01 = 90,66 % Referências Bibliográficas 1. Wetzel, R. G. & Likens, G. E. 1991. Limnological Analyses (2nd Ed.). Springer-Verlag. New York. Págs. 69 a 80. 2. Tabelas extraídas do livro: “Methods for Physical and Chemical Analysis of Fresh Waters” IBP Handbook N. 8, por Golterman, H.L.; Clymo, R.S. & Ohnstad, M.A., Blakwell Sci. Publ. 1978. págs. 176 e 177 3. Protocolo de análises de oxigênio dissolvido do Laboratório do Dr. Ron Benner, EUA. 5 Tabela 1. Solubilidade do oxigênio dissolvido na água em equilíbrio com o ar a uma pressão de 760 mm Hg (nível do mar, altitude 0 m) e % de umidade relativa. Unidades em mg/L. o C 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 0.0 14,60 14,21 13,83 13,46 13,11 12,78 12,45 12,14 11,84 11,56 11,28 11,02 10,76 10,52 10,29 10,07 9,85 9,65 9,45 9,26 9,08 8,91 8,74 8,58 8,42 8,27 8,13 7,99 7,85 7,72 7,59 .1 14,56 14,17 13,79 13,43 13,08 12,74 12,42 12,11 11,81 11,53 11,25 10,99 10,74 10,50 10,27 10,04 9,83 9,63 9,43 9,24 9,06 8,89 8,72 8,56 8,41 8,26 8,11 7,97 7,84 7,70 7,57 .2 14,52 14,13 13,75 13,39 13,04 12,71 12,39 12,08 11,78 11,50 11,23 10,97 10,72 10,47 10,24 10,02 9,81 9,61 9,41 9,23 9,05 8,87 8,71 8,55 8,39 8,24 8,10 7,96 7,82 7,69 7,56 .3 14,48 14,09 13,72 13,36 13,01 12,68 12,36 12,05 11,76 11,47 11,20 10,94 10,69 10,45 10,22 10,00 9,79 9,59 9,39 9,21 9,03 8,86 8,69 8,53 8,38 8,23 8,08 7,94 7,81 7,68 7,55 .4 14,44 14,05 13,68 13,32 12,98 12,64 12,33 12,02 11,73 11,44 11,17 10,91 10,67 10,43 10,20 9,98 9,77 9,57 9,37 9,19 9,01 8,84 8,67 8,51 8,36 8,21 8,07 7,93 7,80 7,66 7,54 .5 14,40 14,02 13,64 13,29 12,94 12,61 12,29 11,99 11,70 11,42 11,15 10,98 10,64 10,40 10,18 9,96 9,75 9,55 9,36 9,17 8,99 8,82 8,66 8,50 8,35 8,20 8,06 7,92 7,78 7,65 7,52 .6 14,36 13,98 13,61 13,25 12,91 12,58 12,26 11,96 11,67 11,39 11,12 10,86 10,62 10,38 10,15 9,94 9,73 9,53 9,34 9,15 8,98 8,81 8,64 8,48 8,33 8,18 8,04 7,90 7,77 7,64 7,51 .7 14,33 13,94 13,57 13,22 12,88 12,55 12,23 11,93 11,64 11,36 11,10 10,84 10,59 10,36 10,13 9,92 9,71 9,51 9,32 9,13 8,96 8,79 8,63 8,47 8,32 8,17 8,03 7,89 7,76 7,63 7,50 .8 14,29 13,90 13,54 13,18 12,84 12,52 12,20 11,90 11,61 11,34 11,07 10,81 10,57 10,34 10,11 9,89 9,69 9,49 9,30 9,12 8,94 8,77 8,61 8,45 8,30 8,16 8,01 7,88 7,74 7,61 7,49 .9 14,25 13,87 13,50 13,15 12,81 12,48 12,17 11,87 11,58 11,31 11,04 10,79 10,55 10,31 10,09 9,87 9,67 9,47 9,28 9,10 8,92 8,76 8,59 8,44 8,29 8,14 8,00 7,86 7,73 7,60 7,47 Tabela 2. Variação da pressão atmosférica com a altitude Altitude 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200 Pressão Atmosférica Média (mmHg) 760 750 741 732 723 714 705 696 687 679 671 663 655 Fator Altitude 1,00 1,01 1,03 1,04 1,05 1,06 1,08 1,09 1,11 1,12 1,13 1,15 1,16 1300 1400 1500 1600 1700 1800 1900 2000 2100 2200 2300 2400 2500 Pressão Atmosférica Média (mmHg) 647 639 631 623 615 608 601 594 587 580 573 566 560 Altitude 1,17 1,19 1,20 1,22 1,24 1,25 1,26 1,28 1,30 1,31 1,33 1,34 1,36 6