FACULDADE DE FARMÁCIA UNIVERSIDADE DE LISBOA FACULDADE FARMÁCIA Universidade de Lisboa TOXICOLOGIA LABORATÓRIO Docentes Ana Paula Marreilha dos Santos Álvaro Teixeira Lopes Cristina Carvalho Ana Cristina Ribeiro Nuno Oliveira LISBOA 2012 Trabalhos Laboratoriais Trabalho nº1 (A) Doseamento do Álcool etílico no sangue (método de Widmark) (B) Doseamento do Álcool etílico no sangue (Cromatografia gás-líquido) Trabalho nº2 (A) Doseamento do Monóxido de carbono no sangue (B) Doseamento da Metahemoglobina no sangue Trabalho nº3 (A) Determinação quantitativa do Ácido delta-aminolevulínico em urina (ALA-U) (B) Determinação quantitativa de Coproporfirinas em urina (COPRO-U) Trabalho nº4 (A) Pesquisa de insecticidas Organofosforados numa amostra de terra (B) Determinação da actividade das Colinesterases em soro ou plasma 2/18 Trabalho nº1 (A) Doseamento do álcool etílico no sangue (método de Widmark) Técnica Experimental 1. Na cápsula do matraz de Widmark colocar 0,2 ml da amostra (sangue). 2. No fundo do matraz, introduzir 2 ml da solução cromossulfúrica. 3. Fechar e colocar o matraz durante duas horas em um banho de águaa uma temperatura de 60ºC, (se existir álcool na amostra de sangue este vai volatizar-se e reduzir parte do dicromato – que está em excesso) 4. Paralelamente fazer um ensaio a branco. 5. Ao fim das 2 horas retirar as tampas e colocar no fundo de cada matraz 25 ml de água destilada e 0,5 ml de soluto de KI a 5%. 6. Após 1,5 minutos, titular o I2 libertado com tiossulfato de sódio 0,01N. (Mede-se o volume gasto na titulação (VA) e o gasto na titulação do branco (VB). e é a partir da diferença (VB)-VA) que se efectuam os cálculos). Reacções 3 C2H5OH + 2 K2Cr2O7 + 8 H2SO4 (x2) K2Cr2O7 + 6 KI + 7 H2SO4 (x2) 3 I2 + 6 Na2S2O3 3 CH3COOH + 2 Cr2(SO4)3 + K2OH4 +11 H2O Cr2(SO4)3 + 4 K2SO4 + 7 H2O + 3 I2 3 Na2S4O6 + NaI 3/18 Apuramento de resultados 3 C2H5OH 12 Na2S2O3 C2H5OH 4 Na2S2O3 Na2S2O3 PM C2H5OH /4 PM (Etanol) = 46 +3 PM Etanol /4 = 46/4 = 11.5 +4 Solução de Hipossulfito 0.01 N: 0,01 eq. Na2S2O3 1000 mL 1 eq. V mL 1 equivalente de Na2S2O3 em V = 105 mL 105mL Na2S2O3 (N/100) V B - VA 11,5 g álcool x (VB mL – VA mL) Na2S2O3 ↔ x g/álcool em 0,2 ml de sangue xg y _____________ ______________ 0,2 ml (toma de ensaio) 1000 ml y = Quantidade de álcool em g/l Trabalho nº1 (B) Doseamento do álcool no sangue por cromatografia gás-liquído Em cromatografia gás-líquido, a separação dos componentes de uma mistura é feita através de um processo de partilha entre a fase estacionária e a fase móvel (gás de arraste). Para que um produto possa ser analisado por este método, é necessário que ele seja volátil e estável á temperatura a que a análise é realizada. A análise qualitativa é baseada na observação do tempo que medeia entre a injecção da amostra e a eluição do composto (pico) em estudo – tempo de retenção. Na análise quantitativa é determinada a área do pico. Em cromatografia gás líquido uma quantidade conhecida de um determinado composto (padrão interno – PI) é muitas vezes adicionada no inicio do processo de tratamento da amostra . Este composto sofre portanto o mesmo tratamento que os compostos em estudo. A determinação do tempo de retenção do PI corrige determinados factores de variabilidade, como por exemplo a alteração do fluxo do gás de arraste durante a análise. Mais importante ainda, determinação da relação entre a área do pico do composto em análise e a área do pico do PI corrige variações resultantes do volume de amostra injectado. Este método permite detectar e determinar alcoóis como o etanol, metanol, 2-propanol e butanol no sangue total, plasma/soro ou urina, em concentrações da ordem dos 0,04 g/l ou superiores. Na aula prática iremos determinar a concentração de etanol numa amostra de sangue. 4/18 Técnica Experimental A 0,1 ml de amostra é adicionada uma solução do PI em solução de ácido clorídrico 0,01 mol/l, para precipitar as proteínas . Depois de agitar no vortex e centrifugar, 1 µL do sobrenadante é analisado através de cromatografia gás-líquido com detector de ionização de chama (GC-FID). É construída uma curva de calibração com soluções padrão de etanol preparadas em água desionisada, com razões entre as áreas de etanol e de PI contra as concentrações do primeiro. Condições cromatográficas Detector: Ionização de chama (FID) Temperatura do forno: 40º Temperatura do detector: 180º Temperatura do injector: 160º Fluxo de gás de arraste (azoto): 10 mL/min Coluna: HP 20M (Carbowax 20M) comprimento 10m, Ø interno 530µm Solução de padrão interno Diluir 0,10 ml de n-butanol para 50 ml com ácido clorídrico 0,01 mol/l Curva de calibração do etanol • Diluir 0,10 ml de etanol absoluto para 100 ml com água desionisada (solução de etanol 0,80g/l). • Retirar 0,1/0,2/0,4 e 0,6 ml da solução anterior para eppendorfs marcados • Adicionar a cada tubo 0,1 ml da solução do PI • Completar com água desionisada para 1 ml Estas soluções correspondem a soluções padrão de etanol com concentrações compreendidas entre 0,08 e 0,48 g/l Injectar no cromatografo 1 µl de cada solução Análise da amostra 1. • • • • • • • Preparação da amostra Retirar 0,1 ml da amostra (sangue total – homogenizar previamente) para eppendorf Adicionar 0,1 ml da solução do PI Completar com água desionisada para 1 ml Agitar 5 segundos no vortex Centrifigar a 4000 rpm, 4 minutos Separar 500 µl de sobrenadante para um Eppendorf novo Injectar no cromatografo 1 µl do sobrenadante 2. Identificar o(s) composto(s) presentes no cromatograma comparando-o com o cromatograma de uma solução de etanol. 3. Se o etanol estiver presente preparar as soluções para a curva de calibração. 4. Analisar as soluções padrão e construir um gráfico com as razões entre áreas dos padrões e do PI contra a concentração das soluções de etanol. 5. Calcular a concentração de etanol na amostra através da curva de calibração construída. 5/18 6/18 Trabalho nº2 A DOSEAMENTO DO MONÓXIDO DE CARBONO NO SANGUE O método que utilizamos na aula prática baseia-se nas propriedades redutoras do monóxido de carbono , manifestadas através da reacção: PdCl2 + CO + H2O → 2 HCl + Pd + CO2 Cloreto de paládio H2SO 4 Amostra de sangue O CO libertado da carboxihemoglobina por uma acidificação da amostra de sangue, difundindo-se no interior de uma célula de Conway, vai reduzir uma solução de cloreto de paládio colocada no compartimento, interior desta. O método clássico de Conway consistia em determinar o ácido libertado, relacionando-se com a quantidade de monóxido de carbono presente. Técnica Experimental 1. Aplique uma fina camada de silicone, ou outro produto similar , na tampa de uma célula de Conway. 2. Pipete 3 ml de solução de cloreto de paládio 0,005N para o compartimento central da célula. 3. Pipete 1,0 ml de H2SO4 3,6N no compartimento exterior da célula e coloque a tampa de modo a ficar uma pequena abertura que permita a introdução de sangue. 4. Introduza rapidamente 0,5 ml da amostra de sangue. Tape a célula e misture o conteúdo do compartimento exterior por agitação suave, que se prolongará por duas horas à temperatura ambiente. *Neste ponto é possível apreciar semi-quantitativamente a carboxihemoglobina, observando a extensão da redução ocorrida. A camada negra de paládio metálico que se forma, é função da quantidade de CO libertado da amostra 5. Transfira o conteúdo do compartimento central para um balão de 50 ml, lavando-o por 3 vezes com HCl 0,1N (3 ml) 6. Dilua o conteúdo do balão para 50 ml com HCl 0,1N e misture bem. 7. Usando HCl 0,1N como referência, determine a absorvância, desta solução a 278nm. 8. Usando o mesmo HCl 0,1N como solução de referência, determine a absorvância de 3 ml de PdCl2 0,005N diluídos para 50 ml com HCl 0,1N. 7/18 CURVA DE CALIBRAÇÃO Enquanto aguarda o termo das duas horas, proceda ao estabelecimento de uma curva de calibração do seguinte modo: 1. Dilua 0,5/1,0/1,5/2,0/2,5/3,0 ml de solução de PdCl2 0,005N para 50 ml, com HCl 0,1N e misture bem. 2. Determine a absorvância de cada uma das soluções a 278nm, utilizando como branco, HCl 0,1N. 3. Marque as absorvâncias obtidas em ordenadas, contra volumes de monóxido de carbono / 100 ml, em abcissas. Os respectivos valores do monóxido de carbono são: Volumes de cloreto de paládio (mL/50 mL) 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 Volumes de monóxido de carbono (mL/100 mL) 0 5,6 11,2 16,8 22,4 28,0 4. Determine os volumes de CO pela curva de calibração. 5. Faça a determinação da hemoglobina na amostra em causa e complete os cálculos como segue Volumes de CO x 100 = % de carboxihemoglobina Hemoglobina (g/dL) x 1,35 8/18 Trabalho nº 2B Doseamento da Metahemoglobina em uma amostra de sangue Reagentes . . Solução de dihidrogenofosfato de potássio (sol. I) Solução de dihidrogenofosfato de sódio (sol. II) KH2PO4 2,269 g H2O dest. q.b. p. 1000 mL Na2HPO4 2,969 g H2O dest. q.b. p. 1000 mL . R1: Solução tampão-fosfato - extemporânea • Solução aquosa de ácido acético glacial a 12% • R2: Solução neutralizada de cianeto de potássio – extemporânea Sol. I 6,3 mL Sol. II 3,7 mL A técnica indica para no momento de emprego, neutralizar um mínimo da solução de cianeto a 10% com uma solução de ácido acético a 12% gota a gota (verificar se o pH está próximo de 7) Proceder com cuidado a esta operação, dada a possibilidade de libertação de gás cianídrico NOTA: (dadas as características do padrão de KCN existente no laboratório pode bastar a preparação de 1mL deste composto em água destilada, sem neutralização. Consulte o docente) • R3: Solução aquosa de ferricianeto de potássio a 5% - (extemporânea, mas já preparada) Técnica Experimental 1. Introduzir 10 mL do reagente R1 num tubo de centrifuga e 0,2 mL da amostra de sangue (recolhida em heparina ou EDTA) homogeneizada. 2. Agitar, deixar em contacto por 10 min. E em seguida centrifugar. 3. Distribuir por 2 tubos de ensaio 3 mL o líquido sobrenadante. 9/18 a) Primeiro tubo: - Medir a absorvância a 630 nm. Seja o valor medido A b) Segundo tubo: - Adicionar uma gota do reagente R2. - Medir a absorvância a 630 nm. Seja o valor medido B c) Terceiro tubo: - Adicionar uma gota de reagente R3 - Medir a absorvância a 630 nm. Seja o valor medido de C - Juntar em seguida na própria tina espectrofotómetro, uma gota do reagente R2 -Medir novamente a absorvância. Seja o valor D. A 11 A diferença de absorvâncias (A-B) é proporcional à meta-Hb existente na amostra (homolizado) 2 B 630 c.d.o. A diferença de absorvâncias (C-D) é proporcional à -Hb total C 3 D 630 c.d.o. Cálculos % de Metahemoglobina no sangue = 100 x (A – B) (C – B) 10/18 Trabalho nº 3 A Doseamento do ácido δ-aminolevulínico na urina (ALA-U) Reagentes: • Solução mãe de ALA (50mg/L) • Acetato de Etilo • Acetoacetato de Etilo • Tampão acetato pH 4,6 • Reagente de Ehrlich modificado Técnica Experimental 1. Preparar para balões de 10 mL as soluções padrão de concentração 2,5 mg/L, 5,0 mg/L, 7,5 mg/L 10 mg/L, 15 mg/L a partir da solução mãe de ALA (50 mg/L) 2. Para tubos de centrifuga pipetar rigorosamente 1 mL de cada solução padrão 3. Pipetar para um tubo de centrífuga 1 mL de água destilada que servirá de branco 4. Pipetar 1 mL de amostra (urina) para tubos de centrífuga 5. A cada tubo adicionar 1 mL de tampão acetato pH 4,6 6. Adicionar a cada tubo 0,2 mL de acetoacetato de etilo e agitar durante 5 segundos 7. Colocar em banho de água (100ºC) durante 10 minutos 8. Deixar arrefecer e juntar 3 mL de acetato de etilo agitar 50 x 9. Centrifugar 3 minutos a 2000 rpm 10. Transferir 2 mL da fase orgânica para tubos de vidro 11. Juntar 2 mL de reagente de Ehrlich 12. Agitar no vortex e ler ler a 553 nm após 10 minutos contra o branco 13. Fazer a curva de calibração e calcular a concentração em ácido δ-aminonolevulinico em mg/L ALA-U (mg/L) Normal <6 Valores de ALA na urina Aceitável Excessivo 6-20 20-40 11/18 Perigoso >40 Trabalho 3 (B) Determinação quantitativa de Coproporfirinas em urina (COPRO-U) AMOSTRAS E REAGENTES • Amostra(s) de urina • Solução clorídrica de iodo (1mL de solução etanólica de iodo a 1% em 200mL de HCl a 5%) • Ácido acético glacial • Éter etílico TÉCNICA 1. Em um tubo de ensaio colocar 2mL da amostra (urina), 0,2mL de ácido acético e 5mL de éter etílico. 2. Agitar por 15”, aguardar a separação de fases e remover a fase aquosa, desprezando-a. 3. Adicionar 5mL da solução clorídrica de iodo à fase etérea, agitar e remover a fase orgânica rejeitando-a. 4. Colocar os tubos em um banho de água a 37ºC durante 5’. 5. Medir a absorvância a 380nm, 430nm e no máximo da banda de Soret (em torno de 401nm) usando como referência a solução de ácido clorídrico. CÁLCULOS As concentrações de coproporfirina, expressas em µg/L, são obtidas através da fórmula: [ 2 x Amáx – (A430 + A380) ] x 2,093 x 1,064 x 1000 = x µg/L COPRO Amáx A430, A380 1,064 2,093 Absorvância máxima de coproporfirina na banda de Soret Absorvâncias referentes a impurezas Factor de correcção proposto por Soulsby e Smith Factor proposto por Rimington utilizando o coeficiente de extinção da COPRO e o factor de diluição usado no método Soulsby J, Smith RL, Brit. J.Ind. Med., 31, 72-74, 1974 Rimington C, Biochem.J., 75, 620-3, 1960 Copro-U (µg/L) Valores de coproporfirinas totais na urina Normal Aceitável Excessivo <150 150-500 500-1500 12/18 Perigoso >1500 Trabalho nº4 Insecticidas Organofosforados Propriedades e Mecanismos de Acção Os organofosforados são, salvo raras excepções, líquidos muito lipossolúveis; a sua tensão de vapor é elevada mesmo a temperaturas normais, facilitando assim uma penetração rápida por todas as vias; digestiva e respiratória. Os seus metabolitos são excretados, quase exclusivamente, numa forma degradada pela urina, decorrendo obviamente um certo tempo entre a absorção e a excreção, variável consoante a afinidade química do produto ou seus metabolitos, para os tecidos. O despiste de uma intoxicação por organofosforados pode assim ser executada nos meios biológicos, por intermédio de diversas técnicas analíticas, desde as mais simples até às mais elaboradas: reacções cromáticas em cromatografia em camada fina, cromatografia fase gasosa, cromatografia líquida de alta pressão, espectrofotometria de absorção de ultravioletas e de infravermelhos, espectrometria de massa, etc… Pode ainda ser executada em materiais tão diversos como alimentos, água, solos, quando haja suspeita de contaminação. Um dos obstáculos iniciais de qualquer análise toxicológica, reside no método de extracção a adoptar. Quase sempre as substâncias a analisar se encontram envolvidas numa “matriz” que pode comprometer a sua correcta determinação, pelo que se deve escolher criteriosamente a metodologia de extracção. A análise de substâncias em teores residuais obriga igualmente á selecção de métodos contínuos de extracção, como os que envolvem a extractor de refluxo de SOXHLET. A acção insecticida destes compostos foi descoberta na Alemanha, durante a 2ª Guerra Mundial. Estes insecticidas são geralmente muito mais tóxicos para os insectos e vertebrados do que os organoclorados, e são instáveis quimicamente. Esta última propriedade confere aos organofosforados vantagem no seu uso como substitutos dos persistentes organoclorados, especialmente do DDT. Todos os compostos organofosforados são derivados do ácido fosfórico. Aliás, organofosforados é um termo genérico que inclui todos os insecticidas que contêm fósforo,. Atribui-se-lhes a seguinte estrutura geral. S (O) R P R' O (S) X Fig. 4 - R e R' grupo amino ou alcoxi; X - grupo aromático, alifático ou oheterocíclico. 13/18 Mencionam-se seguidamente alguns compostos organofosforados mais comuns Paratião O Paratião foi descoberto em 1944. Este composto e o seu homólogo, metil-paratião, têm sido os insecticidas organofosforados mais utilizados. Deve, porém salientar-se que a sua toxicidade para os mamíferos é tão elevada que alguns países têm proibido o seu uso. Este as pecto é, aliás, um factor limitante na sua aplicação Atenção ao esquema S (RO)2 Fig. 5 Paratião ou etil-paratião R Metil-paratião R O P NO2 C 2H 5 o,o-dietil-o,p-nitrofenilfosforotioato C 2H 3 o,o-dimetil-o,nitrofenilfosforotioato Azinfos ou azinfos-metilo Estes compostos e o seu homólogo, azinfos-etilo, são bastante eficazes contra as pragas que se alimentam das folhas das plantas cultivadas. Ambos os compostos são bastante tóxicos para os mamíferos S (RO)2 P O S CH3 N 3 N Fig. 6 -Azinfos-metilo Azinfos-etilo 4 2 1 N o,o-dimetil-s-{4-oxo-1,2,3-benzotriazino-3(4H)-ilmetil}-fosforoditioato o,o-dietil-s-{4-oxo-1,23-benzotriazino-3(4H)-ilmetil}-fosforoditioato Malatião Devido à sua baixa toxicidade para os mamíferos e à sua alta actividade insecticida, o malatião é talvez o organofosforado mais usado. Tem sido utilizado em larga escala pela Organização Mundial de Saúde no combate dos mosquitos transmissores da malária. É ainda um insecticida doméstico muito divulgado para combate de pulgas, moscas e mosquitos. 14/18 S (CH3O)2 P S O CH C O CH2H5 CH2 C O CH2H5 O Fig.7 – Malatião: O,O-dimetilfosforoditioato de dietilmercaptosuccinato TOXICOLOGIA DOS INSECTICIDAS ORGANOFOSFORADOS Inibição das Colinesterases É quase universalmente aceite que os insecticidas organofosforados e carbamatos são letais para os insectos e vertebrados porque inibem a enzima acetilcolinesterase. Esta enzima está localizada na membrana póssináptica, junto aos receptores sinápticos. O conhecimento do mecanismo molecular de catálise, operando no local activo da enzima é fundamental para a compreensão da inibição causada pelos agentes anticolinesterásicos. A reacção de hidrólise da acetilcolina no local activo da enzima acetilcolinesterase compreende 3 fases fundamentais: a) A molécula de substrato liga-se ao local activo da enzima. Esta ligação é de natureza iónica envolvendo um resíduo aniónico da enzima e o amónio quaternário do substrato. Esta região tem polaridade de dimensões consentâneas com a introdução de um grupo amónio quaternário, pois os substratos e inibidores competitivos da enzima têm invariavelmente um grupo idêntico. CH3 CH3 N + CH2 CH2 O C CH3 Acetilcolina (substrato) CH3 CH3 CH3 N + O CH2 CH2 O C (CH2)2 CH3 Butirilcolina (substrato) CH3 CH3 CH3 N + CH2 O CH3 Muscarina (inibidor competitivo) CH3 OH Fig. 12. 15/18 b) O substrato reage com uma parte da enzima designada por local esteárico. É quase certo que este local é um resíduo de serina. Este resíduo proporciona um mecanismo de reacção tipo ácido-base. Devido à proximidade da ligação éster da acetilcolina e ao carácter nucleofilico do oxigénio da serina, o protão do hidroxilo é rapidamente transferido para a ligação éster que se desfaz ficando o acetato com deficiência de electrões . Gera-se colina que se separa e o acetato que, na condição de electrofilico (tem falta de electrões), reage rapidamente com o oxigénio nucleofilico da serina (tem abundância de electrões) formando-se uma ligação covalente por acetilação da serina. Deve notar-se que o importante no processo da catálise é a colocação táctica da ligação susceptível (éster) em frente do hidrxilo da serina. Assim, é importante que o substrato possua colina, mas não interessa muito o comprimento da cadeia para além da ligação éster, porque substratos como propionilcolina e butirilcolina são perfeitamente adequados, resultando a formação dos respectivos produtos. Moléculas muito parecidas mas sem resíduo colina são próprias como substratos, sendo no entanto, inibidores competitivos Os insecticidas organofosforados e carbamatos inibem a enzima acetilcolinesterase de modo diferente dos inibidores competitivos mencionados. Os insecticidas não são posicionados no local activo como substrato e os inibidores competitivos. O seu posicionamento no local activo é motivado por interacções não iónicas, uma vez que os insecticidas não têm grupos carregados. Todos os venenos insecticidas anticolinesterases têm em comum um grupo em que há assimetria de distribuição electrónica. Os organofosforados têm um grupo fosfato em que P é electrofilico porque há deslocamento de electrões na direcção do oxigénio, P=O. É facto estabelecido que os compostos organofosforados têm efeito inibidor apenas na forma oxão (P=O) e não na forma de fosforotioato (P=S). A diferença fundamental é que o P das formas oxão é muito mais electrofilico do que o das formas P=S que não são reactivas. Essencialmente, a interação dos insecticidas anticolinesterases com o local activo da enzima faz-se segundo mecanismos ácido-base, em que grupos nucleofilicos e electrofilicos do substrato e enzima estão implicados. Determinação da actividade da Colinesterase Dois tipos básicos de actividade colinesterásica são encontrados nos tecidos de todos os animais: a colinesterase “verdadeira” ou eritrocitária, detectada nos eritrócitos e tecido nervoso, exibe uma preferência de substrato para a acetilcolina. A pseudocolinesterase encontrada principalmente no plasma, hidrolisa preferencialmente a butirilcolina e também a acetilcolina, esta ultima a velocidade menor. De um modo geral todos os insecticidas organofosforados e carbamatos, são potenciais inibidores da colinesterase, inibindo a maior parte deles, ambos os tipos de enzima. A determinação quantitativa da actividade colinesterásica, constitui assim, um meio de diagnóstico clínico da intoxicação por organofosforados, A actividade da pseudocolinesterase é normalmente, mas não invariavelmente inibida mais rapidamente do que a da colinesterase eritrocitária. Dada a grande amplitude de valores considerados “normais” em actividade colinesterásica, é desejável que quando se pretenda controlar indivíduos expostos a inibidores desta enzima, se determinem previamente os seus teores normais individuais. Em regra deve-se considerar significativo e indicador de uma exposição tóxica, quando a actividade descer para valores abaixo de 80%, relativos ao valor médio normal (inibição ≥ 20%).Contudo, pode existir uma acentuada inibição destas duas enzimas , sem a sintomatologia de intoxicação(!) 16/18 Trabalho 4 (A) Pesquisa de insecticidas organofosforados numa amostra de terra Técnica Experimental O trabalho da aula prática vai consistir na extracção de eventuais resíduos de insecticidas organofosforados a partir de um material sólido, e sua identificação por cromatografia de camada fina. 1. – Introduzir a amostra num cartucho contentor (completar cerca de 2/3); 2. Extrair em Soxhlet durante 90 min, com a mistura: n-hexano/acetona (9:1) (150 mL); A mistura entra em ebulição e vaporiza. Após a condensação dissolve os organofosforados no cartuxo e depois volta para o balão pelo sistema de sifão. Começa assim um novo ciclo e, dependendo do objectivo da análise (análise qualitativa ou quantitativa) e da quantidade de contaminante, assim continuamos ou não a extracção até se verficarem no mínimo 3 ciclos. Após extracção procedemos à concentração da amostra em rota-vapor a pressão reduzida. 3. Analisar o resíduo por cromatografia em camada fina com o sistema: n-hexano/acetona (4:1) usando os seguintes padrões: paratião, malatião e gusatião 4. Detecção: Observação em UV (254nm/366nm) Revelação química com PdCl2 (0,5%) 17/18 Trabalho nº 4 (B) Determinação da actividade da (pseudo)colinesterase em soro ou plasma Técnica Experimental O objectivo é determinar se o indivíduo esteve ou não em contacto com organofosforados ou anticolinesterásicos . Os valores normais têm uma variação muito grande, portanto para comparar correctamente teria de se comparar com a actividade com valores previamente determinada (valor de referência) desse mesmo indivíduo. A actividade da colinesterase é determinada a partir da velocidade do aparecimento de tiocolina provocada por esta reacção. Amostra: Soro ou plasma recolhido em heparina ou EDTA. 18/18 Procedimento: 1) Na tina do espectrofotómetro juntar: R1 = 350 µL + 350 µL de água destilada Amostra = 40 µL R2 = 560 µL 2) Homogeneizar rapidamente 3) Registar os valores de absorvância em intervalos de 30” (0”,30”,60”,90”) e calcular a média da variação (∆A). Aplicar factor Ou 3’) Calcular o tempo (t) de variação de absorvância de 0,1. Aplicar factor 4) Registar o valor de actividade obtido e proceder a estudo comparativo 19/18