Perfil de Resultados – Proficiência Clínica
Área: Toxicologia
Rodada: Dez/2013
Tema
TOXICOLOGIA E DROGAS DE ABUSO
Alvaro Pulchinelli Jr. Patologista Clínico, Médico do Trabalho, Especialista em Medicina Legal, Doutor em
Elaborador
Ciências UNIFESP, Preceptor Centro Alfa UNIFESP e assessor médico de Toxicologia e Drogas Terapêuticas do
Grupo Fleury.
Análise das respostas e comentários aos participantes
Questão 1: Esta questão fala especificamente de coleta de amostra de urina para etano, (álcool etílico). É um tipo de amostra que
demonstra contato prévio com etanol, porém não afere o nível de alcoolemia atingido. Em outras palavras, indica contato com a
substância, mas não nos permite dizer o quanto o indivíduo ficou embriagado. A janela de detecção da substância na urina é maior que
no sangue, assim nos permite cobrir um tempo teoricamente maior de observação.
Porém é uma amostra que pode sofrer contaminação quando não bem manipulada, pois a contaminação bacteriana e/ ou fúngica pode
levar a processo de fermentação, produzindo álcool e contaminando a amostra. Esse era o detalhe a ser levantado na questão – a
contaminação de amostras, e consequentemente os resultados falso positivos.
Realmente devemos concordar que o sangue é a amostra definitiva. Porém, no caso em questão, apresenta algumas desvantagens: é
invasiva, necessita de cuidados de coleta como não usar desinfetante a base de álcool na assepsia e tem uma janela de detecção menor
que a urina. Como o exame tem finalidade a triagem, e a primeira amostra não se mostrou adequada, o ideal seria repetir a mesma
amostra em condições ideais para dirimir qualquer dúvida.
Questão 3: Nesta questão o foco era analisar as reais vantagens do uso da urina como amostra em análises toxicológicas. Como visto
na questão, lembramos que a urina é um ultrafiltrado do plasma. Assim tem uma concentração e uma variedade menor de compostos,
sejam proteínas, lípides, etc. Portanto o item que gerou dúvida em parte dos participantes pode estar justamente no fato de que uma
amostra com uma concentração menor de possíveis interferentes (sempre pensando-se em relação ao sangue) teria também uma
chance menor de se obter resultados alterados.
Apenas acrescentando que a carga bacteriana não ajuda na identificação, como também pode atrapalhar, como o comentado na questão
1.
Questão 4: Nesta questão falamos sobre a necessidade de pesquisarmos a droga mãe e os metabólitos. Quanto maior o número de
metabolitos, mais sensível se torna o teste em tese. A opção 1 é a que contempla o maior número de metabólitos. Porém se a questão
falasse nos parâmetros mínimos teríamos como correta a opção 4. O cocaetileno citado é um composto tóxico que ocorre principalmente
no uso concomitante de cocaína e etanol. Um conjunto diagnóstico que rastreie este composto não teria talvez um ganho de efetividade,
visto que a situação do uso conjunto (etanol e cocaína) não ocorra na totalidade dos casos.
Questão 5: A pesquisa de drogas em saliva já é uma realidade em nosso meio e vários conjuntos diagnósticos já podem ser
encontrados no mercado. O epitélio da glândula salivar funciona como um filtro onde temos a passagem da droga mãe para o fluido
salivar. Sabemos que após a entrada da droga, esta se distribui no organismo e começa a ser metabolizada e excretada. Para a
detecção da mesma no fluido oral é necessário que haja quantidade suficiente da droga circulando para que esta possa transpor a
barreira epitelial e ser eliminada na saliva. E uma quantidade pequena, que embora detectável, não é significativa a ponto de o
organismo usar esta via como principal via de eliminação da droga. Assim, a quantidade excessiva de saliva não ajuda na eliminação da
droga, porém, por outro lado, a pouca produção desta, bem como a metabolização e excreção por outros órgãos (como fígado e rins)
podem fazer com a droga não seja detectável. Resumindo, de um modo geral, a meia vida da droga mãe detectável pelo fluido oral é
semelhante à da droga mãe no sangue.
Questão 6: Nesta questão estão listados os critérios de rejeição das amostras para análises toxicológicas, mais especificamente para a
urina. Este tipo de amostra é particularmente sensível a tentativas de adulteração. As três primeiras opções são as formas mais comuns
e eficazes de se inferir a integridade da amostra. A principal forma de tentativa de adulteração é a adição de água, que fatalmente sobe o
pH, diminui a densidade da urina e baixa sua temperatura. Porém o odor não é característico de adulteração da amostra.
Questão 8: O ensaio para determinação de etanol que é aceito como definitivo é a cromatografia. A forma mais comum é cromatografia
a gás com leitura de headspace. Pode-se também utilizar os dispositivos eletroquímicos que estão presentes nos etilometros
(“bafômetros”). Outras formas não são adequadas. Para os outros analitos há análise por métodos imunológicos e cromatográficos.
Questão 9: Nesta questão a maioria dos participantes acertou, porém aqueles que ficaram em dúvida e indicariam um teste
confirmatório, podemos dizer que a princípio este raciocínio não estaria errado, se não fosse pelo fato de já sabermos que é um usuário
crônico em recuperação e que THC tem toxicocinética irregular, acumulando-se no tecido adiposo e sendo liberada de forma irregular,
alternando assim períodos de positividade com negatividade do teste.
Questão 11: O gabarito é a 3, pois é justamente pelo fato da relação do álcool no sangue e no ar expirado ser constante (1:2000) é que
é possível a mensuração do etanol no ar expirado e sua consequente extrapolação para níveis séricos. E uma amostra não sujeita a
interferentes e, portanto, o hábito de fumar não prejudica o resultado. Um ponto importante a ser ressaltado também levantado pela
questão é que um teste positivo de drogas de abuso, de forma isolada, não estabelece padrão de uso, seja qual for a amostra analisada
(urina, sangue, cabelo, etc.)
Questão 12: Nesta questão a amostra mostra dois critérios de rejeição: creatinina e densidades baixas. É uma amostra diluída, portanto
suspeita de alteração. Assim não deve ser processada e deve ser solicitada nova coleta. Portanto não é uma amostra negativa, pois
sequer foi analisada.
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Rodada: Dez/2013
Questão 13: Para compreendermos bem a questão vamos colocar as amostras ordenadas pela sua janela de detecção em ordem
crescente de tempo:
Saliva: tem meia vida próxima do sangue, porém mais curta, pois a quantidade de droga na saliva é pequena em relação ao sangue e a
detecção se dá na identificação da droga mãe, que tem meia vida curta. Os conjuntos diagnósticos tem melhorado sua sensibilidade o
que pode acarretar um aumento na janela de detecção.
Sangue. A meia vida depende do tipo de droga e sua detecção está ligada ao fato de o conjunto diagnóstico também conseguir identificar
os metabolitos.
Urina: é um resumo metabólico das últimas 6 a 8 horas do indivíduo. Assim é necessário esperar pelo menos este período para obtermos
quantidades suficientes de droga mãe e metabólitos que possam ser identificados na amostra, fato que pode persistir por algumas
semanas
Cabelo: o cabelo cresce aproximadamente 1cm por mês. Assim este é o período que demora para o cabelo emergir do bulbo e ser
coletado para análise. Dependendo do comprimento a janela de detecção pode passar facilmente de 1 ano.
Questão 14: nesta questão a afirmação 4 é a única incorreta pois os ensaios que testam anfetaminas são muito sensíveis a
interferentes, tanto pelo fato de haver reação cruzada com medicamentos de venda livre, como antigripais e descongestionantes nasais,
bem como pela ampla gama de compostos e metabólitos que devem ser identificados pelo teste.
Questão 15: Para termos um teste de drogas de abuso positivo devemos idealmente ter dois resultados positivos, feitos por um teste de
triagem (com boa sensibilidade analítica) e por um teste confirmatório (espectrometria de massa). Assim um teste único, com boa
sensibilidade pode não ser suficiente para darmos um resultado definitivo. Também não é necessário analisar a contra prova, a menos
que haja uma indicação específica para isto, com uma contestação judicial do resultado.
Referências
Bibliográficas
•
Pulchinelli Jr, A.; Andriolo, A. Toxicologia in Medicina Laboratorial 2,a Ed Manole 2008.
•
Moyer , TP, Burritt, MF, Butz, JA. Metais Tóxicos in Burtis C A, Ashwood E R, Bruns D E. Tietz,
Fundamentos de Química Clínica. 6a ed. Rio de Janeiro. Elsevier. 2008.
•
Porter, WH. Toxicologia Clínica in Burtis C A, Ashwood E R, Bruns D E. Tietz, Fundamentos de Química
Clínica. 6a ed. Rio de Janeiro. Elsevier. 2008.
•
Pincus, MR, Abraham, NZ. Toxicologia e Monitoramento de Drogas Terapêuticas in Henry J B. Diagnósticos
Clínicos e Tratamento por Métodos Laboratoriais. 20a ed. Barueri, SP. Manole. 2008.
•
Fundamentos de Toxicologia, Seizi Oga, 2ed Atheneu 1996.
Respostas dos Participantes
Opções (%)
Opção 1
Opção 2
Opção 3
Questão 1
6.8%
19.8%
20.3%
Questão 2
82.9%
3.2%
Questão 3
9.9%
8.6%
Questão 4
47.7%
14.9%
16.2%
Questão 5
59.5%
9.5%
Questão 6
12.6%
36.0%
Opção 4
Resultado(s) aceito(s)
53.2%
3
6.3%
7.2%
1
27.9%
53.2%
4
20.3%
1
18.9%
10.4%
3
12.6%
37.4%
4
Questão 7
7.2%
2.7%
8.1%
80.6%
4
Questão 8
65.8%
10.8%
16.7%
5.9%
1
Questão 9
6.8%
65.8%
20.3%
6.3%
2
Questão 10
5.4%
90.5%
2.7%
0.9%
2
Questão 11
14.0%
23.9%
48.6%
12.6%
3
Questão 12
23.9%
2.7%
27.5%
44.1%
4
Questão 13
5.9%
42.8%
49.1%
0.9%
2
Questão 14
65.8%
10.8%
9.5%
12.2%
1
Questão 15
14.0%
6.3%
70.3%
9.0%
3
Questionários Respondidos
222
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