RISCO/VULNERABILIDADE AO USO DE ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS E INFORMAÇÕES BÁSICAS PARA A PREVENÇÃO DALLO, Luana1 - UNESP/Marília. DONATI, Fabiana Augusta2 - UNESP/Marília. PARREIRA, Grasiela Vanessa3 - UNESP/Marília. MARTINS, Raul Aragão Martins4 - UNESP/Marília. Grupo de Trabalho – Educação e saúde Agência Financiadora: CAPES Resumo O estudo apresenta uma revisão bibliográfica a respeito do conceito, classificação e riscos das drogas mais usadas por adolescentes, podendo servir como base a programas de prevenção às drogas, principalmente nas escolas. Quanto a metodologia, refere-se à uma revisão da literatura que será apresentado em três momentos: conceito de drogas, classificação e menção as drogas mais usadas e prejudiciais aos adolescentes. Conceito - Segundo Nicastri (2011), as drogas são conceituadas pela Organização Mundial da Saúde como qualquer substância, não produzida pelo organismo, que atua sobre um ou mais de seus sistemas cerebrais, alterando o seu funcionamento. Classificação – O efeito da droga no SNC pode ser classificado em depressor, estimulante e alucinatório. Mas além de considerar as especificidades das drogas, também deve se buscar entender o estado emocional, as expectativas e o meio que vive o usuário para a compreensão do resultado final no organismo do sujeito. As drogas mais usadas - No último levantamento (CARLINI et al, 2010), a sequência das cinco drogas mais usadas nos parâmetros uso na vida, no ano e no mês foi: álcool, tabaco, solventes inalantes, maconha e ansiolíticos. Observa-se aumento de uso de drogas como anfetaminas e anabolizantes devido ao contexto cultural de idolatria ao corpo, em que a aparência é um fator predominantemente para o reconhecimento social e autoestima, questões centrais na adolescência. Considerações finais - Pretende-se destacar nesse estudo, o quanto o “alarme” as drogas ilícitas escamoteiam os prejuízos das drogas lícitas e a negligência das autoridades 1 Doutoranda em Educação pela UNESP – Campus de Marília. Doutoranda em Educação pela UNESP – Campus de Marília. 3 Mestre em Educação pela UNESP – Campus de Marília. 4 Doutor em Psicologia na Fundação Getúlio Vargas - RJ, Professor Livre-Docente em Psicologia da Educação da Universidade Estadual Paulista (UNESP). Docente do Programa de Pós Graduação em Educação da UNESP (Campus de Marília). 2 27077 quanto ao desenvolvimento de políticas públicas referentes as drogas lícitas como o álcool, anabolizantes, antidepressivos e anfetaminas, propiciando a naturalização, aceitação social e até mesmo incentivo social do uso dessas drogas. É essencial que profissionais da educação conheçam informações “científicas” sobre drogas, para que o assunto não seja tratado de forma acrítica. Palavras-chave: Drogas. Adolescentes. Prevenção. Introdução Pesquisas sobre condutas de risco estão presente na literatura internacional (HIDALGO, GARRIDO, HERNANDEZ, 2000; FELTON et al, 1998), e na nacional (FARIAS JÚNIOR et al, 2009; PILLON, O´BRIEN, CHAVEZ, 2005; CÂMARA, 2005) e vêm procurando entender o que faz os jovens se comportarem de maneira arriscada através do consumo de drogas legais e ilegais e nas condutas sexuais desprotegidas, além das outras condutas que preocupam os estudiosos pela sua frequência elevada, como a condução perigosa automotiva e o envolvimento em situações de violência. Para Feijó e Oliveira (2001, p.125): A expressão comportamento de risco pode ser definida como participação em atividades que possam comprometer a saúde física e mental do adolescente. Muitas dessas condutas podem iniciar apenas pelo caráter exploratório do jovem, assim como pela influência do meio (grupo de iguais; família); entretanto, caso não sejam precocemente identificadas, podem levar à consolidação destas atitudes com significativas consequências nos níveis individual, familiar e social. Por um outro lado, segundo Paulilo e Jeolás (2000), o conceito teórico de vulnerabilidade, formada no contexto de epidemia da Aids, buscou ultrapassar a compreensão inicial do risco da AIDS. Era baseada na ideia de grupo de riscos ou comportamentos de riscos e teve como consequência a compreensão da prevenção da doença como resultado da vontade e busca de informação pessoal, dependendo unicamente da mudança de comportamento voluntário do individuo. Buscou-se, então, segundo os mesmos autores, ampliar essas reflexões, entendendo o comportamento individual como respostas das interações entre múltiplos fatores, que nem sempre é reduzida a vontade própria num domínio racional e consciente. Nesse sentido, pode se aferir que tanto o termo conduta de risco, quando analisado de uma forma distorcida e com base no senso comum, pode indicar uma individualização na responsabilidade do comportamento, como o termo vulnerabilidade pode ausentar a presença 27078 dos aspectos individuais, no entanto, nenhuma dessas concepções exclui a totalidade dessas dimensões. Por isso, no presente estudo, independente da concepção, considera-se as dimensões individuais, micro e macrossociais. Dessa forma, pode-se dizer que num contexto de vulnerabilidade social, econômico, politico e cultural, os adolescentes desenvolvem condutas de risco, que muitas vezes, são fortemente reforçadas pela própria sociedade. Nesse estudo, apresentar-se-á o conceito, classificação e riscos do uso de álcool e outras drogas por adolescentes com o propósito de contribuir com informações básicas aos programas de prevenções. A metodologia utilizada é revisão de literatura, com base em autores como: Lemos, Zaleski 2004; Carlini, Nappo, Galduróz, Noto, 2001; Carlini Et Al, 2010; Nicastri, 2011; Lemos, Zaleski, 2004. Drogas: Principais informações para adolescentes As drogas recreacionais ou de abuso são comumente distinguidas por serem lícitas (álcool, tabaco) ou ilícitas (maconha, cocaína, cola, LSD, entre outras). Do ponto de vista biológico, são classificadas conforme a sua ação no cérebro, por modificar a atividade do sistema nervoso central –SNC (LEMOS; ZALESKI, 2004). Segundo Nicastri (2011), as drogas são conceituadas pela Organização Mundial da Saúde como qualquer substancia, não produzida pelo organismo, que atua sobre um ou mais de seus sistemas cerebrais, alterando o seu funcionamento. A sensação agradável e de bem estar deve-se a ação indireta ou direta da droga sobre uma via de neurônios cerebrais chamada de via dopaminérgica mesolímbica, área responsável pela sensação de prazer e/ou satisfação nas diferentes situações. Também conhecida por via de reforço, gratificação ou prazer (LEMOS; ZALESKI, 2004). Desse modo, são classificadas com base no efeito cerebral predominante em: 27079 Tabela 1 – Classificação das drogas Classificação Tipos de drogas DEPRESSORAS: diminuem a atividade do sistema nervosa central Álcool, Sedativos (barbitúricos, benzodiazepínicos), Opióide (morfina, heroína, codeína, diversas substancias sintéticas), Solventes ou Inalantes entre outras. ESTIMULANTES: celeram o funcionamento do sistema nervoso central, deixando as pessoas mais “elétricas” e com sono diminuído. Anfetaminas, Cocaína, Crack, Cafeína, Nicotina, entre outras. PERTURBADORAS: potencializam sensações e alteram funcionamento do sistema nervoso central, podendo causar, inclusive alucinações. Maconha, Alucinógenos, LSD, Ecstasy. Fonte: COMEN – CONSELHO MUNICIPAL DE ENTORPECENTES. Cartilha Informativa. CAXIAS DO SUL. 2010. Tal classificação, de acordo com Lorencini Júnior (1998), é bastante genérica, porque se deve considerar que as decorrências das drogas dependem da dosagem e as características psicológicas do individuo. Dessa forma, Cada tipo de droga, com suas características químicas, tende a produzir efeitos diferentes no organismo. A forma como uma substância é utilizada, assim como a quantidade consumida e o seu grau de pureza, também terão influência no efeito (BRASIL, 2010, p.7). Um exemplo bastante típico, a respeito do álcool, é quando a maioria das pessoas acreditam que o álcool é uma droga euforizante, que deixam as pessoas alegres. De fato, num primeiro momento, o álcool tem um efeito estimulante como euforia, desinibição e loquacidade (maior facilidade para falar), mas à medida que o tempo corre e as doses aumentam, começam a surgir efeitos depressores, levando a diminuição da coordenação motora e os reflexos e aumentando o sono (CARLINI; NAPPO; GALDURÓZ; NOTO, 2001). Dessa forma, quanto mais álcool no sangue, mais a bebida atua como depressora e não como estimulante, por isso beber com moderação é menos arriscado e mais divertido (BRASIL, 2010). Segundo Nicastri (2011), o efeito do álcool e os níveis de substância no sangue, dependem de variações dos tipos de bebidas utilizadas, rapidez no consumo, presenças de 27080 alimentos no estomago e de possíveis alterações no metabolismo da droga, como exemplo, na insuficiência hepática ou uso de álcool por mulheres, em que a metabolização é mais lenta. Tabela 2 - Níveis de álcool no sangue Baixo Médio Alto Desinibição do comportamento Maior incoordenação motora (ataxia) Podem surgir náuseas e vômitos. Diminuição da crítica A fala torna-se pastosa, há dificuldade de marcha e aumento importante do tempo de resposta (reflexos mais lentos) Visão dupla (diplopia) Hilariedade e labilidade afetiva (a pessoa ri ou chora por motivos pouco significativos) Aumento da sonolência, com prejuízo das capacidades de raciocionio e concentração Acentuação da ataxia e da sonolência (até o coma) Certo grau de incoordenação motora Pode ocorrer hipotermia e morte por parada respiratória. Prejuízo das funções sensoriais Fonte: Nicastri, S. Drogas: classificação e efeitos no organismo. In: Brasil. Prevençao ao uso indevido de drogas: capacitação para conselheiros e lideranças comunitárias. 4ed. Brasília: Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Politicas sobre drogas – SENAD, 2011. O estado emocional e as expectativas do usuário quanto a forma como a substância usada vai influenciá-lo e o meio são importantes. Assim, um jovem que toma uma cerveja numa festa para relaxar e entrosar-se socialmente, pode se sentir assim, mesmo tomando cerveja sem álcool, quando não ciente da situação (BRASIL, 2010). Quanto ao tabaco, tem-se uma situação semelhante, muitos jovens acreditam que essa substância seja um depressor do SNC, por aliviar a ansiedade. Mas conforme Lorencini Júnior (1998), quando em baixas concentrações é um fraco estimulante da mente, mas em doses maiores produz um efeito depressor com um hipotético domínio da ansiedade, que explica a sensação prazerosa e satisfatória. Assim também com a maconha, segundo o mesmo autor, o efeito depende do seu principal componente psicoativo, o THC (tetrahidrocanibol), que por sua vez, a concentração depende da condição do solo em que foi cultivada, de armazenamento e genética da planta 27081 cannabis sativa, e ainda, essas variáveis precisam ser relacionas as circunstancias do uso, personalidade e estado afetivo do usuário. Dessa forma, a maconha com a concentração baixa do seu composto THC causa efeitos relaxantes, para a maior parte das pessoas, mas com alta concentração causa efeitos alucinógenos. Nesse sentido, pode ser classificada como uma droga alucinógena, no entanto, nas doses mais frequentemente usadas, os efeitos são a euforia, com alterações na consciência, mas sem alucinações. Nesse sentido, desenvolveu-se um conceito de modelos de com base na tríade: droga, indivíduo e contexto. A diferenciação entre os tipos acontecem devido a ênfase dada a uma das categorias prevenção (TRAD, 2004), como descrito a seguir: a) modelo jurídico moral: foco nas drogas em si, a partir da classificação como inofensivas ou perigosas, baseado na noção legal e medicinal, tem como propósito que determinas substâncias fique fora do alcance do público, por meio das medidas legais; b) modelo médico ou da saúde pública: considera as drogas, o indivíduo e o contexto, mas com ênfase na substância, percebida como geradora de dependência; c) modelo psicossocial: valorize as drogas, individuo e contexto, com ênfase no consumidor e a sua relação complexa e dinâmica com a droga, levando em consideração os efeitos e quantidades, frequência, modos de uso e características individuais; d) modelo sociocultural: Compreensão da prevenção com base na tríade, com destaque no contexto. A importância e o significado da substância dependem da forma como cada sociedade define o uso e os usuários. Assim, entende-se como distinto a proveniência dos comportamentos, podendo ser oriundo do próprio individuo ou da reação da sociedade diante dele. Diante dessa explanação, considera-se importante, apresentar aos adolescentes as especificidades das drogas (efeitos do uso das drogas no SNC), do usuário (quantidades, frequência, modo de uso, personalidade) e o contexto (produtos e formas de consumo dependendo da cultura, aceitação e incentivo social a algumas drogas). 27082 As drogas mais usadas e prejudiciais aos adolescentes: breve esboço A epidemiologia sobre o uso de drogas no Brasil está apresentando dados confiáveis de todo o território brasileiro desde a década de 1980 por meio dos estudos do Centro Brasileiro de informações sobre drogas – CEBRID. Entre todos os levantamentos desde aquele período, os resultados apontaram que o álcool é a primeira e a mais utilizada por adolescentes. Com estudantes do ensino fundamental e médio, foram realizados seis levantamentos e todos foram unanimes ao destacar o álcool como a mais usada (CARLINI-COTRIN et al., 1989; CARLINI-COTRIN et al., 1990; GALDURÓZ et al., 1994; GALDURÓZ et al., 1997; GALDURÓZ et al., 2005; CARLINI et al, 2010). Também o álcool é percebido como a droga mais prejudicial, considerando tanto os prejuízos a curto e longo prazo (LORENCINI JÚNIOR, 1998). No último levantamento (CARLINI et al, 2010), a sequência das cinco drogas mais usadas nos parâmetros uso na vida, no ano e no mês foi: álcool, tabaco, solventes inalantes, maconha e ansiolíticos. Os principais efeitos prejudiciais dessas drogas são: a) Álcool: Quanto aos danos cerebrais: comprometimento da atenção, memoria, ações motoras e viso espaciais, raciocínio abstrato, aquisição de informações, prejuízo na capacidade de julgamento, no controle dos impulsos, níveis de ansiedade e agressividade, envolvendo exposições a riscos como: quedas, queimaduras, afogamentos, dirigir embriagado, transar sem camisinha, homicídio e suicídio. Nos adolescentes, que estão numa fase de estruturação biológica, social e emocional, o impacto na neuroquímica cerebral terá como resultado um retardo no desenvolvimento das habilidades, provocando prejuízos para a vida inteira. Como danos a saúde são listados as doenças do fígado (hepatite alcoólica, cirrose), do aparelho digestivo (gastrite, pancreatite e síndrome de má absorção) e do sistema cardiovascular (hipertensão e problemas no coração. Em relação as mulheres, a metabolização do álcool e das outras drogas é mais lenta do que nos homens, devido a mulher apresentar menos agua no corpo e maior quantidade de tecido gorduroso, também possuem menores níveis séricos da enzima álcooldesidrogenase, que implicam na metabolização do álcool e são responsáveis pelas mulheres absorverem 30% a mais do álcool consumido. Nesse sentido, a mulher 27083 pode desenvolver miocardiopatia, miopatia, lesão cerebral e hepatite alcoólica que geralmente progride para cirrose, inibição da ovulação, diminuição da fertilidade e problemas ginecológicos e obstétricos (ALMEIDA, PASA, SCHEFFER, 2008; LEMOS, ZALESKI, 2004; MARQUES, CRUZ, 2000; CARLINI, NAPPO, GALDUROZ, NOTO, 2001; NOBREGA, OLIVEIRA, 2005). b) Tabaco: O tabagismo é conhecido como a causa mais comum de mortes evitáveis, agrupado em quatro principais causas de morte no mundo: doenças cardíacas (infarto, morte súbita), pulmonar obstrutiva crônica, câncer e acidente vascular cerebral. São diversas as formas de câncer – pulmão, boca, faringe, laringe, esôfago, estomago, pâncreas, rim, bexiga, útero. O risco dos fumantes adoecerem de câncer de pulmão é dez vezes maior do que não fumantes, de ter tido infarto, enfisema pulmonar, é cinco vezes maior, e de sofrer acidente vascular cerebral é duas vezes maior. (ALMEIDA, MUSSI, 2006; NICASTRI, 2011) c) Solventes inalantes: Solventes e Inalantes: os mais conhecidos são o lançaperfume, cola de sapateiro e cheirinho ou loló. A repetição da aspiração pode destruir os neurônios cerebrais, causando lesões irreversíveis ao cérebro, e o uso crônico causar apatia, aumento de batimentos cardíacos (podendo ocasionar morte súbita), perda da memória e dificuldade de concentração. Um efeito importante dessas substancias é a interação com a adrenalina, que causa arritmias cardíacas. Também causa lesões no fígado, nervos periféricos, rins e medula óssea (CARLINI, NAPPO, GALDUROZ, NOTO, 2001; NICASTRI, 2011). d) Maconha: o uso crônico da maconha causa déficits de aprendizagem e memória, agravo nos distúrbios psíquicos preexistentes, bronquites, infertilidade e a diminuição progressiva da motivação, também chamada de síndrome amotivacional. Esse estado amotivacional está ligado a passividade e indiferença, constituído por disfunção generalizada das capacidades cognitivas, interpessoais e pessoais, devido ao consumo de THC (princípio ativo da maconha), que mesmo quando o consumo é interrompido, os efeitos persistem. Outras consequências do uso dessa substâncias são náusea, fadiga crônica, letargia, dor de cabeça e garganta crônica, irritabilidade, congestão nasal, agravo da asma, infecções pulmonares, redução da coordenação motora, alteração da capacidade visual e raciocínio abstrato, problemas menstruais, impotência, impotência, amenização 27084 da libido e da satisfação sexual, ansiedade e depressão (RIGONI, OLIVEIRA, ANDRETTA, 2008; LEMOS, ZALESKI, 2004; CARLINI, NAPPO, GALDUROZ, NOTO, 2001) e) Ansiolíoticos: Também chamados de benzodiazepínicos ou calmantes, atuam sobre a ansiedade e tensão. Quando em altas dosagens, podem surgir sinais de incoordenação motora, significativa acentuação do sono, podendo a chegar ao coma ou morte por parada respiratória. Discute-se a alta incidência do uso dessas drogas devido a distribuição gratuita, baixo preço e prescrições médicas indevidas (BRASIL, 2011; TELLES FILHO, CHAGAS, PINHEIRO, LIMA, DURÃO, 2011). Segundo Carlini et al (2010), entre os anos de 2004 e 2010, foi percebido redução do número de estudantes que disseram consumo de bebidas alcóolicas e tabaco, para uso na vida e no ano. A redução também foi notada para uso no ano de inalantes, ansiolíticos, maconha, anfetaminas e crack, no entanto, aumentou para cocaína. Outros dois pontos devem ser comentados a respeito do resultado desse ultimo levantamento. O primeiro é referente ao uso de drogas por gênero. Segundo os autores, pela primeira vez na cadeia dos levantamentos entre estudantes, o gênero feminino teve maior uso na vida de tabaco. O uso de álcool também foi predominante nas meninas, com significado estatístico, episódio já ressaltado em 2004. Os rapazes, por sua vez, usam mais drogas como cocaína, maconha, solventes, e esteroides; e o feminino, medicamentos, como as anfetaminas (moderadores de apetite) e os ansiolíticos comumente conhecidos como tranquilizantes. Essas diferenças de gênero convergem ao segundo ponto que refere-se ao uso não médico de drogas lícitas. As drogas líticas foram usadas por 34,7% dos estudantes (anfetamínicos, inalantes, anticolinérgicos, benflogim, analgésicos, analgésicos opiáceos, energéticos com álcool e anabolizantes), contrapondo-se a 12,2% do uso da drogas ilícitas (ópio, LSD, êxtase, ketamina, metanfetamina, cocaína, maconha e crack). A convergência entre gênero e uso não médico das drogas lícitas deve-se ao fato, que no atual levantamento e nos anteriores, o uso dos benzodiazenípicos e dos anfetamínicos acontece predominantemente entre as estudantes. Como também é destacado, nesse relatório, o alto número de rapazes usando anabolizantes. 27085 Esse fato provavelmente deve-se ao contexto cultural de idolatria ao corpo, em que a aparência é um fator predominantemente para o reconhecimento social e autoestima, questões centrais vivenciadas na fase da adolescência. Uma série de estudos (NAPPO, CARLINI, ARAÚJO, MOREIRA, 2010; CARLINI et al, 2009; NAPPO, TABACH, NOTO, CARLINI, 2002) apontam questões éticas no uso desses medicamentos para o tratamento do excesso de peso, nesse sentido, essas drogas estão sendo usadas mais por razões cosméticas do que terapêuticas, não justificando, dessa forma, o uso indiscriminado. Carlini et al (2009), identificou que as prescrições de fluoxetina eram destinadas predominantemente a mulheres, associadas com outras substancias ativas, principalmente as anfetaminas. Esses achados sugeriram que o uso de fluoxetina teria como maior finalidade a perda do peso, ao invés do tratamento para a depressão. Esses medicamentos requerem receita especial dos médicos, mas isto não inibe o uso irracional, Carlini et al (2010) supõem que as estudantes consigam estes medicamentos por meio das ditas farmácias dos lares e condescendência dos amigos, mas do que de forma direta pelo tráfico. Dados como esse indicam que é relativamente fácil o acesso a essas drogas e que o uso, possivelmente, está relacionado aos exemplos dados dentro de caso, adultos que tomam os medicamentos para ficarem calmos ou para perder pesos. Em relação aos anabolizantes, os dados levantados por Oliveria, Costa e Laus ( 2012), demonstram que é grande o número de adolescentes que usam essas substâncias sem a correta orientação. O que se pode perceber é que em academias, estas práticas são decorrência, na maioria das vezes, de indicações feitas por pessoas que não são habilitadas, por influencias do meio de comunicação ou por iniciativa própria. Dessa forma, pretende-se destacar nesse estudo, o quanto o “alarme” as drogas ilícitas escamoteiam os prejuízos das drogas lícitas e a negligência das autoridades quanto ao desenvolvimento de políticas públicas referentes as drogas lícitas como o álcool, anabolizantes, antidepressivos e anfetaminas, propiciando a naturalização, aceitação social e até mesmo incentivo social do uso dessas drogas. Além disso, o assunto em programas de prevenção ou ações educativas é tratado de forma acrítica, com exagero nos efeitos, distorções de fatos, dúvidas científicas tratadas como verdades, informações baseadas em crenças pessoais que incorrem, frequentemente, em preconceitos e discriminações (BUCHELE, COELHO, LINDNER, 2009). 27086 De acordo com Bucher (2007), é direito do jovem saber a verdade sobre as drogas, sem mentiras, falsidades ideológicas, demagogia e terror. O conhecimento deve ser passado de forma objetiva e fidedigna, empregada para veicular valores que despertem interesse no jovem. Nesse sentido, é necessário que se desenvolvam materiais pedagógicos que contribuem na formação de educadores e profissionais de saúde para o trabalho da prevenção. Considerações Finais Algumas pontuações dos autores do último levantamento sobre drogas (2010) podem ser alvo de novas pesquisas para o aprofundamento dos problemas associados ao uso de drogas. Observou-se a redução de uso de diversas drogas, no entanto, indicou-se aumento da cocaína, analisar as razões para essa elevação é uma questão importante. Outro tema relevante é o destaque dado ao gênero feminino quanto ao uso das drogas lícitas, algumas pesquisas principiantes já começaram a investigar o assunto, características do contexto cultural como o culto a beleza e a frequência aumentada de moças em bares, danceterias e baladas, onde o uso de drogas lícitas como álcool e cigarro são incentivos entre amigos, são provavelmente razões para esse resultado. Direcionamento de pesquisas para o assunto das drogas que necessitam das prescrições médicas e que são distribuídas e prescritas inadequadamente pode favorecer o desenvolvimento de políticas públicas que normatizem, limitem e fiscalizem assiduamente a prescrição desses medicamentos, que devido a questões econômicas, implicam em rotular as pessoas com algum determinado transtorno psicológico a fim de lucrar com a banalização dessas drogas. Por fim, considera-se importante assinalar a importância de se desenvolver materiais didáticos para a utilização em programas de prevenção que não apresentem apenas informações técnicas científicas, mas assuntos que abram espaços para a discussão com os alunos, abrangendo os efeitos neurológicos, psicológicos e sociais das drogas. REFERÊNCIAS ALMEIDA, A.F.; MUSSI, F.C. Tabagismo: conhecimentos, atitudes, hábitos e grau de dependência de jovens fumantes em Salvador. Revista Escolar de Enfermagem, USP, 40(4):456-63. 2006. 27087 ALMEIDA, R.M.M. 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