Departamento de Microbiologia
Instituto de Ciências Biológicas
Universidade Federal de Minas Gerais
http://www.icb.ufmg.br/mic
Estudo macro e microscópico de fungos
filamentosos e leveduriformes
Objetivos
Após a realização desta prática, você deverá estar apto a diferenciar levedura de bolor, executar
cultivo em lâmina, executar técnica de lactofenol azul de algodão, descrever os principais aspectos
macroscópicos de uma colônia, descrever os aspectos microscópicos dos fungos e executar técnica
de coloração de cápsula.
Introdução
Os fungos constituem um grupo de microrganismos de grande interesse prático e científico. São
encontrados em todos os ambientes, na água, no solo, no ar, assim como no organismo dos animais
e do homem, nos vegetais, insetos, etc. Devido a sua ubiqüidade, eles se tornam importantes sob
o ponto de vista profissional e humano, e a conscientização da importância do seu estudo vem se
tornando cada vez mais necessária em vista, dentre outros, dos seguintes motivos:
a) Determinar com relativa freqüência, diversas micoses nas várias espécies animais e no
homem.
b) Confundir clinicamente com outras patologias, exigindo do profissional conhecimento
prévio da sua existência e dos recursos laboratoriais existentes para se fazer o diagnóstico diferencial
entre elas.
Os fungos são divididos em unicelulares e multicelulares. Os unicelulares são as leveduras, que apresentam células arredondadas ou ovais e se dividem por brotamento e raramente por cissiparidade.
Os multicelulares são chamados filamentosos, miceliais ou bolores, atualmente conhecidos como
oportunistas. Estes apresentam uma estrutura tubular, com parede rígida, a hifa, que pode ser ramificada. O conjunto de hifas é denominado micélio ou talo. A hifa pode apresentar parede transversal (septo) ou não, portanto o micélio pode ser septado ou asseptado. Alguns fungos apresentam
em determinadas condições, um micélio filamentoso e em outras condições, um micélio unicelular,
como o das leveduras. Como exemplo deste dimorfismo, temos o Paracoccidioides brasiliensis, o
Histoplasma capsulatum e o Sporothrix schenckii, importantes agentes de micoses, que na natureza
ou em laboratório à temperatura de 25o C, apresentam-se em forma de bolor e quando infectando
um hospedeiro ou a 37o C em laboratório, apresentam-se em forma de levedura.
O estudo morfológico dos bolores e leveduras é importante para a determinação do gênero e espécie. Para isso são empregados dois métodos básicos: o primeiro consiste no exame macroscópico da
colônia, no qual deve ser descrito tamanho, superfície, bordas, pigmentação, etc. O segundo consiste no exame microscópico, que pode ser feito retirando-se um fragmento da colônia que é então
colocado entre lâmina e lamínula, para a observação do micélio e tipos de esporos, ou usando-se a
técnica de Ridell para microcultivo em lâmina.
Estudo macro e microscópico de leveduras e fungos filamentosos - www.icb.ufmg.br/mic
1
Fungos Filamentosos
O isolamento da flora anemófila é importante na determinação da flora do ar de um determinado
ambiente, no estudo da correlação de alergia e infecções com fungos e na obtenção de amostras
de interesse industrial. No diagnóstico laboratorial de uma infecção micótica o método mais rápido
é o exame direto do material em uma lâmina para se determinar se o fungo está presente, porém
para um estudo mais detalhado, no qual são necessárias estruturas intactas e separadas, realiza-se
o microcultivo (técnica de Ridell). Com a utilização dessa técnica é possível conservar a continuidade
entre os esporos, esporóforos e hifas, porém a sua desvantagem é ser mais demorada.
Observação macroscópica:
Material:
- Placas de ágar Sabouraud previamente expostas ao ar em diferentes ambientes.
Ágar Sabouraud
Peptona
1g
Extrato de Levedura 0,5 g
Glicose2 g
Ágar
1,5 g
H2O destilada100 ml
pH
6,5
Execução, leitura e interpretação
Observação macroscópica das colônias:
- Tamanho: as colônias leveduriformes têm crescimento limitado, enquanto que as colônias
filamentosas têm crescimento invasor.
- Textura ou consistência: Cremosas, Butirosas ou Mucóides; Cotonosas; Aveludadas; Serosas; Camurças; Granulosas; Pulverulentas; Membranosas ou Coriáceas; Verrucosas.
- Pigmentação da superfície e do verso: Alterada ou Inalterada.
- Superfície: Lisa, Fissurada, Rugosa.
- Bordas: Regulares, Irregulares, Radiadas.
- Topografia: Plana, Convexa, Umbilicada, Pregueada, Cerebriforme.
- Cor da colônia: Branca, Preta, Verde, Vermelha, etc.
- Aspecto: Brilhante, Opaco, Seco, Ùmido.
- Pigmento: presença ou ausência, cor do pigmento, difuso ou restrito à colônia.
- Tempo de crescimento: A velocidade de crescimento é variável, podendo ser rápida (< 7
dias), intermediária (8 a 14 dias) ou lenta (> 15 dias), e importante para a identificação presuntiva do
fungo.
- Diâmetro da colônia.
Observa-se aspecto filamentoso dos fungos.
Estudo macro e microscópico de leveduras e fungos filamentosos - www.icb.ufmg.br/mic
2
Observação microscópica não detalhada
Material:
- Cultura de Aspergillus, Penicillium, Rhizopus, Curvularia.
- Lâminas e lamínulas de microscopia.
- Alças de platina em anel, gancho e estilete.
- Tubos com salina estéril.
- Frascos com lactofenol e azul de metileno.
- Bateria de corantes de Gram.
- Lâminas preparadas.
Lactofenol
Fenol
20 g
Ácido Lático20 g
Glicerina40 g
Azul de metileno (ou de algodão)
0,05 g
Água destilada20 ml
- Solubilizar os cristais de fenol em banho-maria e juntar
- Esperar 24 h e filtrar
Lacto................. clarificação
Fenol..................... fungicida
Azul de metileno...... corante
Execução:
- Colocar sobre a lâmina duas gotas de lactofenol (azul de algodão ou azul de metileno).
- Retirar com alça de platina em gancho, um pequeno fragmento das colônias dos fungos
filamentosos e colocar sobre a lâmina contendo o corante.
- Abrir as estruturas com auxílio de estilete e gancho. Cobrir com lamínula e observar com
objetivas de 10 e 40 vezes.
Leitura e interpretação
Observar as estruturas visualizadas
- Micélio vegetativo: Clamidoconídio ou artroconídio. Tipo de hifa: septada ou asseptada.
- Micélio reprodutivo: esporos endógenos em esporangióforos e esporos exógenos conídios em
conidióforos. Conídias: forma e tamanho
Tratamento
As Clamídias são suscetíveis às tetraciclinas, como doxicilina e a macrolídeos, como eritromicina e
azitromicina. A penicilina não é efetiva. A droga de escolha para doenças sexualmente transmissíveis
por C. trachomatis é a azitromicina.
Prevenção
Além do uso de preservativos, principal método para prevenção de DST’s, a melhor medida para
limitar a transmissão de C. trachomatis é o tratamento correto do paciente e do parceiro sexual,
inclusive de indivíduos assintomáticos.
Estudo macro e microscópico de leveduras e fungos filamentosos - www.icb.ufmg.br/mic
3
Observação microscópica detalhada: Microcultivo
Material
- Placas de Petri estéreis, montadas com suporte de vidro em forma de V, lâmina, lamínula e
algodão hidrófilo;
- Água destilada estéril;
- Alça de platina, pinça;
- Placa contendo meio de ágar Sabouraud ou ágar Fubá divida em cubos;
- Corante lactofenol-azul-algodão;
- Lâminas de microcultivo de Aspergillus, Penicillium, Rhyzopus, Curvalaria, Cladosporium, M.
canis, M. gypseum, T. mentagrophytes, E. floccosum, E. pedrosi, S. schenckii, Rhinocladiellla, Paracoccidioides brasilienses.
Agar Fubá
Fubá
20 g
Tween 80
5 ml
Agar Bacteriológico
15 g
Água destilada
500 ml
Água destilada20 ml
- Adicionar o fubá em 250 ml de água e ferver até borbulhar. Filtrar o fubá em gaze dobrada
em quatro. Dissolver o ágar em 250 ml de água. Restaurar o volume da infusão de fubá para 250 ml,
com água quente, juntar as suspensões, ajustar o pH para 6,6 – 6,8 e adicionar o Tween 80. Esterilizar em autoclave a 120°C por 15 minutos e distribuir em placas de Petri estéreis.
Execução
- A cultura fúngica a ser utilizada deve ser recente e cultivada em meio sólido;
- Transferir um bloco do ágar com o auxílio de uma pinça estéril para a lâmina montada sobre
o suporte de vidro (tubo em L) contido dentro de uma placa de Petri, sob condições de assepsia (Figura 1);
- Retirar pequenas porções da colônia e semear nos quatro lados do bloco de meio;
- Cobrir o bloco com uma lamínula estéril, com cuidado;
- Molhar o algodão com água destilada estéril (cerca de 2 mL). A placa funcionará como uma
câmara úmida;
- Incubar as placas a temperatura ambiente até a observação do crescimento da cultura;
- Quando houver desenvolvimento satisfatório, submeta à ação do formol (0,5 mL durante 1
hora), retirar a lamínula do microcultivo, transferindo-a para uma nova lâmina contendo o corante
lactofenol azul de algodão em quantidade suficiente para corar o material fúngico aderido na lamínula. Alternativamente pode-se utilizar a lâmina do microcultivo (se houver crescimento).
Figura 1: Microcultivo em lâmina para a visualização de estruturas fúngicas.
Estudo macro e microscópico de leveduras e fungos filamentosos - www.icb.ufmg.br/mic
4
Leitura e interpretação
A cultura cresce na lâmina e lamínula, aparecendo as estruturas intactas quando se retira o quadrado de ágar, permitindo assim, o estudo detalhado da micromorfologia dos bolores.
Fungos leveduriformes
Leveduras são fungos predominantemente unicelulares que se reproduzem assexuadamente por
brotamento ou, raramente, fissão binária e sexuadamente pela produção de ascosporos e basidiósporos. Podem filamentar dependendo das condições ambientais, produzindo micélio verdadeiro ou
pseudo-micélio. A identificação tradicional das leveduras é baseada na observação de características morfológicas e assimilação de provas bioquímicas como a fermentação de carboidratos (zimograma) e a utilização de fontes de carbono e nitrogênio (auxonograma). As técnicas utilizadas para a
observação microscópica dependerão do objetivo do estudo, pode-se observar a estrutura fúngica
diretamente com o preparo de lâmina, ou fazendo-se o microcultivo, sendo que o primeiro método
é o mais utilizado, visto que o segundo é utilizado quando se necessita observar as pseudo-hifas e
esporos produzidos pelas leveduras. Há também a técnica para a coloração de cápsula, essa é feita
para permitir a visualização das leveduras capsuladas.
Observação macroscópica
A observação é feita seguindo o mesmo princípio da observação em fungos filamentosos, para a
qual é necessária uma placa de Petri previamente exposta no ambiente. Observa-se um aspecto
cremoso das colônias.
Material
- Culturas de Candida, Rhodotorula e Cryptococcus.
- Lâminas e lamínulas de microscopia.
- Alças de platina em anel.
- Tubos com salina estéril.
- Frascos com tinta da china a 50%.
- Bateria com corantes de Gram.
- Lâminas preparadas.
Execução
- Fazer esfregaço fino a partir de cultura de Rhodotorula ou Candida, espalhando, com movimentos circulares, o inóculo com a alça de platina em anel sobre uma gota de salina previamente
colocada na lâmina;
- Corar pelo GRAM;
- Examinar com objetiva de imersão;
- Observar as estruturas visualizadas, células arredondadas ou esféricas, GRAM positivas, e
brotamento ou gemulação.
Coloração de cápsula ou Método de Burri:
- Colocar pequena porção da cultura de Cryptococcus laurentii entre lâmina e lamínula com
duas gotas de tinta da china (1:1 em água destilada).
- Examinar ao MO com aumento de 10X e 40X.
Estudo macro e microscópico de leveduras e fungos filamentosos - www.icb.ufmg.br/mic
5
Leitura e interpretação
- As leveduras são células arredondadas ou ovaladas, fortemente Gram positivas. Podem ou
não apresentar pseudo-micélio, artrosporos e clamidósporos. A reprodução assexuada se dá por
brotamento ou gemulação, com formação de blastosporos.
- A cultura de Candida sp é cremosa, esbranquiçada com o verso inalterado. As células são
fortemente Gram positivas, sem artrosporos, podendo apresentar clamidosporos ou não e podem
apresentar pseudomicélio “in vivo” (na lesão).
- A cultura de C. laurentii é mucóide, castanho claro e com o verso inalterado. A presença
de cápsula é visível, por refringência, nas preparações com tinta da china (coloração negativa). As
células são ovais ou elípticas, apresentando blastosporos. Este método deve ser realizado quando
se necessita de estudo morfológico detalhado das leveduras. È possível estudar as características
das células vegetativas das leveduras, como também a formação de pseudo-hifas e dos esporos por
multiplicação vegetativa (clamidoconídio, artroconídio e blastoconídio).
Estudo macro e microscópico de leveduras e fungos filamentosos - www.icb.ufmg.br/mic
6
Literatura sugerida
Apostilas de aulas práticas dos cursos de Graduação de Enfermagem, Medicina, Fisioterapia, Veterinária, Odontologia,
Ciências Biológicas e Farmácia da UFMG.
Estudo macro e microscópico de leveduras e fungos filamentosos - www.icb.ufmg.br/mic'
Download

Estudo macroscópico e microscópico de fungos e leveduras.indd