Projeto: 2i2p - Internet e Interatividade para a Participação Pública Período: jan 2011 Título: Notas sobre o futuro de websites de vizinhança geridos por cidadãos. Seção 5. Fonte: THE NETWORKED NEIGHBOURHOODS GROUP. Online neighbourhood networks study. Reino Unido, 2010. Disponível em http://networkedneighbourhoods.com/?page_id=409 Introdução Websites de vizinhança criados e mantidos por cidadãos proporcionam uma mistura fértil de alimentação de conteúdo e de dinâmica democracia do dia-a-dia. Eles parecem contribuir positivamente para duas questões que aproximam os conselhos e os websites locais: a) A mudança cultural que termina com o distanciamento estabelecido entre cidadãos e Estado, incorpora princípios de co-produção e constrói sobre o que Stephen Coleman (2005) chamou de “democracia conversacional”. b) O imperativo econômico que requer que autoridades locais economizem numa escala significativa. Nesta seção apresentam-se reflexões finais sobre uma série de questões que emergem dos resultados reportados nas seções anteriores, referindo-se a: Sites como fonte de notícias locais Identidade local e defesa da área Diversidade e representação e A importância do papel do administrador do site. Fonte de notícias locais Aos olhos dos usuários sites de vizinhança são significativos canais de notícias locais: 63% dos respondentes os identificaram como sua principal fonte de notícia. Isso indica uma profunda mudança na forma pela qual a informação é gerada e confirma a poderosa influência potencial dos sites em nível local. Identidade local e defesa da área Haverá questões de interesse coletivo e com relativo poder conforme grupos locais e interesses políticos procurem chamar a atenção e obter influência através desses sites. Diversidade e representação Não foi possível obter um quadro acurado de quem está participando desses sites. Em um dos 3 sites estudados (Brockley Central, East Dulwich Forum e Harringay Online) o uso de pseudônimo prevalece e em outro a quantidade de anonimato encontrada foi tida como problemática. Isto não significa que os participantes são ou não culturalmente representativos da localidade, nem que a conversação reflita a diversidade dos participantes ou a diversidade da localidade. Isso significa que devemos ser cautelosos ao fazer pressuposições. E conforme o site obtenha maior influência legítima, mas não sistemática, pode haver tensão com relação à falta de representação formal. Onde pessoas não participam nos sites, não se pode saber se sua não-participação decorre de uma escolha ou de uma forma de exclusão (inclusive a “exclusão digital”). Em qualquer espaço público ou quase-público, algumas pessoas não se sentirão culturalmente incluídas, mas muitas podem não ver isso de forma negativa, elas simplesmente escolhem não participar. Porém se websites de vizinhança começam a ter influência e se eles acumulam essa influência mais ou menos de modo monopolístico com um site dominando determinada área, a questão da exclusão cultural pode assumir importância. Os sites estudados surgiram organicamente em áreas que são relativamente ricas, mas certamente não uniformemente ricas. Temos consciência de que websites de vizinhança emergem em áreas de baixa renda e será útil avaliar o seu progresso. Talvez mais importante seja observar sites estabelecidos em áreas onde ocorrem relações sociais fraturadas e onde os níveis de eficácia coletiva são baixos. Notas técnicas - Tradução livre Maria Célia Furtado Rocha 11/1/2011 Projeto: 2i2p - Internet e Interatividade para a Participação Pública Período: jan 2011 Título: Notas sobre o futuro de websites de vizinhança geridos por cidadãos. Seção 5. Fonte: THE NETWORKED NEIGHBOURHOODS GROUP. Online neighbourhood networks study. Reino Unido, 2010. Disponível em http://networkedneighbourhoods.com/?page_id=409 Devemos ser cautelosos com relação à representatividade desses sites. Cada um dos sites estudados se funda num senso de propósito social amplo, mas não com uma visão de ser necessariamente democraticamente ou culturalmente representativo ou responsável por algo (accountable). Eles dificilmente podem ser descritos como orientados ao lucro, mas são propriedades privadas e privadamente gerenciados. Eles são baseados em comunidade mas são visíveis por todos. Esses sites estão revolvendo o solo no qual a vida democrática pode florescer, mas eles não fazem isso num sentido democrático tradicional, no qual porta-vozes são escolhidos e eleitos e a eles são atribuídas responsabilidades. Em nosso ponto de vista, a questão é não “como adaptar esses recursos no modelo de democracia existente”, mas “o quê websites de vizinhança nos dizem acerca do tipo de democracia que emerge”. O papel do administrador Através de um tipo de moderação que crie um contexto respeitoso para a discussão e para o debate, os participantes chegam a reconhecer os desafios dos serviços públicos e seu próprio potencial de co-produzir resultados neste sentido. O estudo revelou grande respeito pela forma como os administradores agem para conter postagens e comentários negativos, insistem na justiça e removem material combustível. Sites de sucesso que estabeleceram argumentos equilibrados e evitaram a espiral descendente de agressiva negatividade e que, portanto, oferecem um ambiente no qual os conselhos desejarão se engajar depende fortemente da cultura estabelecida e mantida por fundadores e administradores. Comentários finais Os contextos das redes de vizinhança online não devem ser tomados estreitamente em termos da tecnologia. Websites locais têm emergido por algum tempo num ambiente de mudança democrática no qual as relações entre cidadãos e Estado têm sido revisadas. Encontramos boa-vontade nos governos locais para se engajar com mídias sociais de modo geral e websites geridos por cidadãos em particular, juntamente com muita incerteza a respeito de como fazê-lo. Há uma compreensão difundida de que a independência desses sites é essencial, mas à medida que os benefícios tornam-se aparentes os conselhos podem ter um papel a jogar na facilitação do desenvolvimento de novos sites em suas áreas. Provavelmente um modelo misto de relacionamento emergirá: alguns sites florescerão com conexão com um único oficial ou membro, outros se beneficiaram de uma conexão com um fórum da área ou outro organismo responsável ou com vários organismos. Várias ações e condições serão necessárias para realizar o potencial. Alguns esperam ser convencidos pelo custo-benefício, outros requerem mais do que evangelismo, outros desejarão ainda participar de sessões com oficiais, membros e residentes. É possível que se o site aderir a um código publicado de prática para administradores, o processo de engajamento dos conselhos se acelere. Pensamos que a expansão de websites de vizinhança geridos por cidadãos seja desejável e iminente e que conselhos locais têm um papel a jogar em nutrir seu futuro (?!?). Nosso estudo mostrou que tais sites podem dar uma contribuição particular para o capital social local, coesão e envolvimento cívico. Eles provêem um espaço para a liberdade de expressão que, se apropriadamente moderada, pode ser apoiada sem super-protegida. Eles estimulam um mix variado de conteúdo que refletem a vida do dia-a-dia e proporcionam renovação de atitudes para com a democracia local. E, sim, a experiência de democracia local será diferente. A esfera pública está sendo alterada e, para melhor ou pior, a voz de pessoas comuns está mais audível e mais difícil de ser ignorada ou repudiada. Notas técnicas - Tradução livre Maria Célia Furtado Rocha 11/1/2011