Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.3, n.1, p.7-12, 2001 7 FLUIDODINÂMICA DE UMA MISTURA DE PARTÍCULA EM LEITO FLUIDIZADO F. R. Nascimento1, A. P. S. Gomes1, M. M. Almeida2 e G. F. Silva3 RESUMO Este trabalho tem como objetivo o estudo da fluidodinâmica de uma mistura milho/areia numa câmara de leito fluidizado. No estudo foi verificado o efeito da fração ponderal do milho e da temperatura de operação na velocidade e na porosidade mínima de fluidização da mistura. O sistema consta de um câmara de leito fluidizado, um soprador, um aquecedor, dois rotâmetros de alta e baixa vazão, um manômetro para medida da queda de pressão no leito e termopares para medida das temperaturas na entrada e no interior da câmara. Os experimentos realizados consistiram em determinar a queda de pressão com a vazão do ar crescente e decrescente para diferentes frações de milho e diferentes temperaturas de operação. O aumento da fração de milho favorece a elevação da velocidade mínima de fluidização da mistura e conseqüentemente aumenta a porosidade do leito. O aumento da temperatura favorece a diminuição da velocidade mínima de fluidização com a fração de milho constante. Palavras Chave: produtos agrícolas, secagem, leito fluidizado, milho. FLUIDODYNAMIC OF ONE PARTICLE MIXTURE IN FLUIDIZED BED ABSTRACT This work has as objective the study of the fluidodynamics of a maize/sand mixture, treated as a fluid, in a chamber of fluidized bed. In the study the effects of the ponderal fraction of the maize and that of the operating temperature in the speed were verified as well as the minimum porosity of fluidization of the mixture. The system consists of a chamber of fluidized stream bed, a puffer, a heater, two rotameters of high and low outflow, a manometer for measuring the fall of pressure in the stream bed and thermocouples for measuring the temperatures in the input and the output of the chamber. The carried through experiments consisted of determining the fall of pressure with the outflow of increasing and decreasing air for different fractions of maize and different operating temperatures. The increase of the maize fraction favors the rise of the minimum speed of fluidization of the mixture and consequently it magnifies the porosity of the stream bed. The increase of the temperature favors the reduction of the minimum speed of fluidization with the fraction of constant maize. Keywords: agricultural products, drying, fluidized bed, maize. INTRODUÇÃO A utilização de processos inadequados para a preservação da qualidade de produtos agrícolas que serão submetidos à armazenagem por um determinado período até a sua comercialização, proporciona um elevado percentual de perdas, o que acarreta grandes prejuízos para o agricultor (Mourand et al. 1992; Gomide, 1983). Freqüentemente a secagem artificial é empregada para este propósito, exercendo total influência sobre as características nutricionais e organolépticas do produto tratado. Secadores em leito fluidizado destacam-se por apresentarem grande eficiência em virtude da alta mobilidade e intensa mistura dos sólidos, que promovem, por sua vez, altíssimas taxas de transferência de calor e massa, assim como uma uniformidade de temperatura no interior do leito (Almeida, 1993). _______________________________ 1 Alunos de Iniciação Científica Professor do DQ/CCT/UE Professor do DEQ/CCET/UFS, DEQ/CCET/UFS, Cidade Universitária, Jd. Rosa Elze, São Cristóvão-SE, CEP: 49.100-000, Fax: (79)212.6684, Email: [email protected]. 2 3 8 A fluidização de sólidos vem sendo bastante utilizada nos processos industriais onde se consegue um contato sólido-fluido mais eficiente. A ampla utilização desse mecanismo de contato deve-se, principalmente, a alta mobilidade e intensa mistura dos sólidos que proporcionam, por sua vez, altíssimas taxas de transferência de calor e massa, e uma uniformidade de temperatura no interior do leito (Coulson & Richardson,1968; Geldart, 1983). A determinação da velocidade e da porosidade mínima de fluidização de um leito constituído por uma mistura de partículas difere de um leito homogêneo uma vez que a variação da queda de pressão no leito com o aumento da velocidade superficial do gás é diferente (Cheung et al. 1968; Kunii & Levenspiel, 1969; Rowe & Nienow, 1975; Tambourgi & Pereira, 1984; Wen & Yu, 1966). A fluidização de partículas com diâmetros acima da faixa ideal para o processamento da operação é usualmente melhorada pela adição de partículas finas, onde a velocidade mínima de fluidização se reduz. O presente trabalho refere-se à avaliação fluidodinâmica do sistema binário milho/areia com o objetivo de estudar a secagem de grãos de milho por flotação num leito fluidizado. MATERIAIS E MÉTODOS Materiais O diâmetro da partícula (dp) e a massa específica ( ) dos componentes milho/areia foram determinados em laboratório e são mostrados na Tabela 1. Tabela 1. Características do materiais Componentes (g/cm3) dp (mm) Milho 1,20 7,50 Areia 2,66 0,16 O milho utilizado, do tipo destinado à ração animal, foi adquirido no comércio de Aracaju. Para os ensaios de secagem, este foi umidificado, até aproximadamente 50% de umidade inicial. Equipamento Nos ensaios fluidodinâmicos e de secagem foi utilizado o sistema composto por uma coluna de vidro de 45 cm de altura e 6,5 cm de diâmetro, contendo uma cesta metálica de coleta e um distribuidor na base, constituído de duas telas de arame e um papel de filtro colocado entre as duas com porosidade suficiente para que a perda de carga se torne desprezível e evite a passagem de partículas finas através dos orifícios. Foi utilizado um ventilador de 1 CV e na sua linha foram colocados um sistema de aquecimento e dois rotâmetros, um para baixas e outro para altas vazões. Na entrada da coluna foi inserido um termopar. As tomadas de queda de pressão foram feitas por meio de uma sonda móvel no interior da coluna. O sistema experimental é mostrado na Figura 1. LEGENDA 6 5 1,2,3 - Termopares; 4 7 4- Câmara de leito fluidizado (Coluna de vidro de 45cm de altura e 6,5 cm de diâmetro interno); 5,6- Rotâmetros para altas e baixas vazões de ar; 7- Manômetro diferencial (Líquido manométrico: água). Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.3, n.1, p.7-10, 2000 9 Figura 1. Sistema de leito fluidizado Procedimento Experimental A Tabelas 2 e 3 mostram a variação da velocidade (Vmf) e porosidade mínima de Fluidodinâmica fluidização ( Os ensaios para a fluidodinâmica consistiram em determinar a queda de pressão formada com a vazão crescente e decrescente do ar e a expansão do leito com a vazão crescente para diferentes frações de milho variando a temperatura operacional. A velocidade mínima de fluidização foi obtida em cada ensaio a partir das curvas características de queda de pressão, construídas para velocidades superficiais decrescentes do ar, utilizando o mesmo método aplicado para um componente puro. A porosidade mínima de fluidização foi determinada a partir das curvas obtidas através do gráfico ln(U/Umf) pela variação da perda de carga produzida com a elevação da velocidade superficial do ar. temperatura de operação, respectivamente. A fração de milho fixada na análise do efeito da temperatura na fluidodinâmica, foi representada por aquela em que a operação ainda transcorreu de forma definida, levando-se em conta as condições operacionais do equipamento utilizado. Durante os experimentos foi observado que, para frações de milho mais elevadas, as curvas representativas da operação apresentavam um comportamento irregular nas condições de leito totalmente fluidizado, possuindo características de uma pistonagem. Secagem O estudo da secagem foi realizado com duas vazões do ar de entrada no secador (838 e 390 cm3.s-1), temperatura de 70 °C e fração de 23% de milho para análise destas condições. Os componentes foram misturados em um recipiente e introduzidos na cesta, de massa conhecida, contida na câmara do secador nas condições pré-estabelecidas. Após o equilíbrio da temperatura foi retirada a cesta da câmara e feita a pesagem inicial do milho retido nesta. A cada quinze minutos foi realizada uma nova pesagem dos grãos de milho, procedendo desta mesma forma até atingir o equilíbrio. No final da secagem foi determinada a massa seca do produto através de uma estufa a 105 C por 24 horas. Com os dados obtidos da variação da umidade com o tempo foram construídas as curvas de secagem. RESULTADOS E DISCUSSÃO Dos resultados obtidos nos ensaios relativos ao estudo da fluidodinâmica do sistema milho/areia, observou-se que, embora não houvesse uma variação significativa da porosidade mínima de fluidização, a velocidade correspondente variou de forma diretamente proporcional à fração e inversamente à temperatura. mf ) em função da fração de milho e Tabela 2. Variação da velocidade e porosidade mínima de fluidização em função da fração de milho mantendo a temperatura de operação a 30oC X (%) Vmf (cm/s) 9,0 17,0 23,0 29,0 33,0 4,33 4,75 4,95 5,78 6,12 mf (%) 37,0 35,0 34,0 36,0 Tabela 3. Variação da velocidade e porosidade mínima de fluidização com a temperatura de operação mantendo a fração de milho de 23% T (oC) Vmf (cm/s) 30,0 45,0 65,0 85,0 4,95 4,08 3,35 3,00 mf (%) 34,0 35,0 33,0 37,0 Nas Figuras 2, 3 e 4 são mostrados o efeito da fração de milho na porosidade mínima de fluidização, o efeito da fração de milho na velocidade mínima de fluidização e o efeito da temperatura de operação no sistema milho/areia. Dos ensaios realizados com a secagem foi verificado que as curvas características possuíam Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.3, n.1, p.7-12, 2000 10 secagem para o milho na temperatura de 70oC para as vazões do ar de alimentação de 838cm3/s e 390cm3/s. um comportamento semelhante, tendendo para um mesmo ponto de equilíbrio. Com a elevação da vazão de ar as taxas de secagem tornaram-se mais elevadas, não sendo observados regimes de taxa constante. Na Figura 5 são mostradas as curvas de 0 .6 mf 0 .5 0 .4 Xf = 9,0% X f = 1 7,0% X f = 2 3,0% X f = 3 3,0% 0 .3 0 .0 2.0 4 .0 6.0 8 .0 V /V m f Figura 2. Efeito da fração de milho na porosidade mínima de fluidização 12.0 P(cmH2O) 8.0 4.0 Xf = 9,0% Xf = 17,0% Xf = 23,0% Xf = 29,0% Xf = 33,0% 0.0 0.0 5.0 10.0 15.0 20.0 25.0 V (cm/s) Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.3, n.1, p.7-12, 2000 11 Figura 3. Efeito da fração de milho na velocidade mínima de fluidização 12.0 10.0 )2 O H m c( P 8.0 6.0 4.0 T = 30 o C T = 45 o C 2.0 0.0 5.0 Figura 4. Efeito da temperatura de operação 10.0 1 5.0 20.0 25.0 V (cm/s) para o sistema milho/areia 50.0 Q = 838 cm3/s Q = 390 cm3/s 40.0 U (%) 30.0 20.0 10.0 0.0 0.0 2.0 4.0 6.0 8.0 10.0 Tempo (h) Figura 5. Curvas de secagem do milho natemperatura de 70oC CONCLUSÕES O aumento da fração de milho favorece a elevação da velocidade mínima de fluidização da mistura em virtude do milho possuir uma velocidade mínima maior que a da areia. O aumento da fração de milho diminui a porosidade mínima de fluidização com também a porosidade do leito. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.3, n.1, p.7-12, 2000 12 O aumento da temperatura favorece a redução da velocidade mínima de fluidização devido ao peso das partículas do leito diminuir. O aumento da temperatura favorece o aumento da porosidade mínima de fluidização para mistura milho/areia. A vazão do ar de entrada na câmara do leito fluidizado influencia na taxa de secagem, reduzindo o tempo de secagem do milho. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS Gomide, R. Operações com sistemas sólidos granulares. v.1, São Paulo, 1983. Kunii, D.; Levenspiel, O., Fluidization engineering, John Wiley and Sons, Inc., New York, 1969. Mourad, M.; Hemati, M.; Laguerie, C. Drying of corn kernels in a flotation fluidized bed influence of the operating conditions on product quality. Drying Technology, p.1457-1465, 1992. Almeida, M.M. Processamento de urucum em leito de jorro: Estudos fluidodinâmicos. Campina Grande-PB: Universidade Federal da Paraíba, 1993. 90p. (Dissertação de Mestrado). Rowe, P.N.; Nienow, A.W., “Minimum fluidization velocity of multi - component Particle Mixtures”, Chemical Engineering Science, v.30, p.1365-1369, 1975. Cheung, L.; Nienow, A.W.; Rowe, P.N. Minimum fluidization velocity of a binary mixture of different sized particles. Chemical Engineering Science, v.29, p.1301- 1303, 1974. Tambourgi, E.B.; Pereira, J.A.F.R. Distribuição granulométrica de partículas transportadas em leito fluidizado, In: Encontro Nacional de Escoamento em Meios Porosos-ENEMP, 12, 1984, Maringá. Anais… Maringá: UM. v.1, p.256. Coulson, J.M.; Richardson, J.F. Tecnologia Química. v.2, ed.2, Fundação Calouste Gulbenkian, 1968. Geldart, D. Gas fluidization technology, John Wiley & Sons, Inc. New York, 1986. Wen, C.H.; Yu, Y.H. Generalized method for predicting the minimum fluidization velocity, AICH. v.12, p.610, 1966. Revista Brasileira de Produtos Agroindustriais, Campina Grande, v.3, n.1, p.7-12, 2000 This document was created with Win2PDF available at http://www.daneprairie.com. The unregistered version of Win2PDF is for evaluation or non-commercial use only.