fotos charles guera
Desafio quíntuplo
Por cinco vezes, a socióloga Leoni
Margarida Simm viu seus cabelos caírem,
desde que foi diagnosticada com câncer de
mama, em 2001, com 44 anos, e iniciou o
tratamento quimioterápico. Quando percebeu
os primeiros fios começaram a rarear, a
sensação de ver sua imagem mudar foi de
desolação. Hoje, encara isso como uma condição necessária e passageira, pois se sente
muito melhor após receber o tratamento.
– Na época, era muito assustador, porque
havia um estigma muito grande em relação
ao câncer. Perder o cabelo mexe bastante
com a pessoa. Depois acostuma. Mas quem
não gostaria de ter a sua imagem de volta,
não é? – conta Leoni, que hoje é presidente
da Associação Brasileira dos Portadores
de Câncer, com a qual se engajou logo que
recebeu o diagnóstico, após buscar informações sobre a doença e descobrir que, com o
tratamento e a adoção de um estilo de vida
saudável, é possível viver com câncer.
Assim como o ex-presidente Lula, Leoni
também já raspou a cabeça algumas vezes,
pois considera um incômodo os contratempos provocados pela queda de fios, que
caem nos olhos e na boca.
– Acho que algumas pessoas fazem isso
também como uma forma de dizer que estão
prontas para enfrentar a doença. O Lula
está sendo um belo exemplo, encarando de
peito aberto e incentivando as pessoas a
buscarem tratamento. Mas nós, portadores,
esperamos que ele dê mais um passo e
faça um pronunciamento se posicionando
claramente contra o cigarro – enfatiza.
rafael souza vieira, álbum de família
Família unida
Quando Tarcísia Granucci, mãe da estudante Mirella de 21 anos, foi diagnosticada
com câncer de mama, em 2009, ela e as
três irmãs, Sabrina, Bruna e Nina, decidiram
se unir em um gesto de solidariedade e
rasparam as cabeças também.
– Era uma maneira de estar junto com
ela naquele momento, de demonstrar união.
Quando a gente entrava num restaurante ou
no hospital, as pessoas não sabiam quem
estava doente, ou se havia alguém doente.
Isso foi muito bom para a minha mãe, porque
tirava o foco dela. Depois do tratamento, ela
me disse que aquilo foi muito importante,
porque fez com que ela não se sentisse
diferente ou estranha – recorda Mirella.
Hoje, com os cabelos já na altura dos ombros, a estudante vê as fotos daquela época
como lembranças de um momento de muita
união familiar, que mudou a sua perspectiva
de encarar a vida.
– As pessoas falavam ‘nossa, vocês
rasparam a cabeça!’, mas eu pensava, ‘mas
gente, é só cabelo... isso não é nada!’.
MIrella granucci
Estudante
Quando a gente entrava num
restaurante ou no hospital,
as pessoas não sabiam quem
estava doente, ou se havia
Uma peça do destino
Depois de oito anos trabalhando como enfermeira no hospital do Centro de Pesquisas
Oncológicas (Cepon), de Florianópolis, Vera
Rangel encontra-se agora numa posição
diferente: de paciente.
Em 2008, ela foi diagnosticada com
câncer de tireoide e, durante os exames
pré-operatórios, descobriu também um outro
tumor, desta vez no pulmão.
Foi operada no mesmo ano, mas a doença reincidiu, atingindo a garganta, e há seis
meses Vera precisou retomar o tratamento
de quimioterapia no Cepon.
– Quando trabalhava lá, sempre imaginava como a pessoa se sentiria passando por
essa situação, como seria o mal estar. No
começo, é difícil até de se olhar no espelho.
Para as mulheres, perder os cabelos é
como ser marcada, porque todo mundo
percebe quem usa lenço como alguém que
tem algo errado. Hoje, como paciente, eu
vejo que nós recebemos tanto amor aqui
que questões como perder cabelos acabam
sem importância – conta Vera.
Vera Rangel
Enfermeira
Para as mulheres, perder os
cabelos é como ser marcada,
porque todo mundo percebe
quem usa lenço como alguém
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