ANÁLISE DA GERMINAÇÃO DA ESPÉCIE Guazuma ulmifolia Lam USANDO DIFERENTES TRATAMENTOS TÉRMICOS. Suelma Nazareth da Cruz Tessari1 Antônio Pasqualetto2 Roberto Malheiros³ Universidade Católica de Goiás – Departamento de Engenharia – Engenharia Ambiental Av. Universitária, Nº 1440 – Setor Universitário – Fone (62)3227-1351. CEP: 74605-010 – Goiânia - GO. Resumo A espécie Guazuma ulmifolia Lam. é uma planta arbórea pioneira de ocorrência natural em quase todo o Brasil, desde a Amazônia até o Paraná. Pertence a família Sterculiaceae, sendo recomendada para os programas de recuperação de áreas degradadas na fase da revegetação, pois em plantios heterogêneos é indispensável na formação dos primeiros ambientes, que irão criar condições ambientais para o desenvolvimento das demais espécies secundárias e clímax. Este trabalho é o resultado dos dados obtidos na pesquisa desenvolvida no laboratório de sementes e viveiro nativo do Instituto do Trópico Subúmido da Universidade Católica de Goiás, localizado no Campus II da UCG na região sudeste de Goiânia. O objetivo da pesquisa foi desenvolver uma análise sobre a germinação de sementes da espécie Guazuma ulmifolia Lam (Mutamba) em diferentes tratamentos térmicos. Sabendo-se que as sementes possuem dormência, portanto necessitam de métodos de quebra de dormência para viabilizar e aumentar o percentual de germinação. Foram realizadas algumas experimentações buscando obter os melhores percentuais de germinação. Os resultados demonstraram que a maior taxa de germinação foi observada para sementes com exposição de até 10 segundos. Verificou-se que o tempo de 15 segundos pode ocorrer desnaturação protéica e morte embrionária de algumas sementes. Palavras chave: Germinação, Dormência, Espécies Arbóreas. Abstract ANALYSIS germination of the KIND Guazuma ulmifolia Lam using different heat treatment. The species Guazuma ulmifolia Lam is a pioneer plant tree of natural occurrence in almost all of Brazil, from the Amazon to Parana. Sterculiaceae family belongs to and is recommended for programs for the rehabilitation of degraded areas in the stage of restoration, as in plantations heterogeneous is essential in the formation of the first environments, which will create conditions for the development of other secondary species and climax. This work is the result of data obtained from research developed in the laboratory of seed and nursery native of the Institute of Tropical subhumid at the Catholic University of Missouri, located in the Campus II of the UCG in the region southeast of Goiania. The objective of this research was to develop an analysis on the germination of seeds of the species Guazuma ulmifolia Lam (Mutamba) in different heat treatments. Knowing that the seeds have dormancy, so methods need to break from dormancy to facilitate and increase the percentage of germination. We performed some experiments trying to obtain the best percentage of germination. The findings showed that the highest germination rate was observed for seeds with exposure of up to 10 seconds. There was that time of 15 seconds can occur denaturing protein and embryonic death of some seeds. Key words: germination, dormancy, Tree Species. 1 Acadêmica do curso de Engª Ambiental da Universidade Católica de Goiás.([email protected]) Orientador Profº Dr. Universidade Católica de Goiás - UCG. ([email protected]) ³ Co-Orientador Profº Msc. Universidade Católica de Goiás – UCG. ([email protected]) 2 2 1 INTRODUÇÃO Localizado no planalto central do Brasil, a Região do Cerrado possui uma área de aproximadamente 2 milhões de quilômetros quadrados de extensão. Nesta área imperam climas tropicais de caráter subúmido com duas estações bem definidas: uma seca, outra chuvosa. A estação seca ocorre no inverno - de maio a setembro - e a chuvosa no verão - de outubro a abril. A precipitação anual varia entre 1200 e 1800mm por ano, em 86% de sua superfície. A média mensal no mês mais seco é de 7,1mm e no mais chuvoso, 299,7mm. A temperatura média anual situa-se entre 22oC ao sul e 27oC ao norte. Conforme a fórmula de Köpper, o domínio dos cerrados corresponde ao tipo Aw. sendo, entretanto, uma área de transição. Ao norte de Mato Grosso verifica-se o tipo Am. quente e úmido com estação seca pouco pronunciada, reflexos do clima caracteristicamente Amazônico. No extremo sul do Mato Grosso e sudeste da região, englobando trechos do Triângulo Mineiro e sul de Goiás, ocorre o tipo Cwa. mesotérmico, de verões quentes e com estação chuvosa no verão, (ASSAD,1994). No nordeste há uma ligeira tendência para o clima semi-árido quente. Os solos predominantes são profundos, e apresentam baixa fertilidade natural, acidez acentuada em função da grande presença de alumínio, pouca capacidade para retenção de água em relevo plano e suavemente ondulado, apresentando uma boa estrutura para mecanização. A drenagem é perene e os rios são normalmente acompanhados por formações vegetais de tipos fisionômicos variados, (DIAS,1996). A região do cerrado constitui o Domínio do Trópico Subúmido, o qual é coberto por uma paisagem que constitui um mosaico de tipos fisionômicos que variam de campos abertos – heliófitos1– a áreas florestadas – umbrófilas2. As formações vegetais do Cerrado após sofrerem todo um processo adaptativo, alcançaram o clímax evolutivo dentro da escala ambiental. Isso significa que as ações mal planejadas nesse tipo de formação podem levar a extinção de espécies vegetais que jamais irão se recuperar na sua totalidade. As espécies vegetais nativas do cerrado que ocorrem em ambientes campestres, cerrado strictu senso, cerradão, matas semidecídua e decídua, obedecem a ciclos biológicos 1 2 Ambiente aberto ou exposto à luz direta. Ambiente fechado ou sem incidência de luz direta. 3 bem definidos: durante a estação chuvosa, as espécies estão em pleno ciclo vegetativo, produzem folhas novas e exuberantes, flores e grandes quantidades de frutos; na estação seca, o ciclo diminui de intensidade, algumas plantas perdem folhas e não soltam novos brotos, muitas espécies produzem flores durante os meses de maio, junho, julho, agosto e setembro quando são adultas. Durante o período da seca, época em que corresponde ao inverno, são registradas as menores taxas de umidade relativas do ar e as maiores intensidades de ventos. Isto acontece justamente no período em que as espécies vegetais que possuem sementes aladas estão abrindo seus frutos, para que o vento seja o elemento dispersor dessas espécies; a esse fenômeno dá-se o nome de anemocoria3. Quando termina a fase das sementes aladas, começam as chuvas e a maturação dos frutos, que vão servir de alimento a uma fauna bem variada. Ao consumir os frutos, os animais se tornam responsáveis pela dispersão das sementes nos diversos ambientes; a isto dá-se o nome de zoocoria4, (MALHEIROS, 2004). Até a década de 1960, a região do cerrado era considerada área marginal para produção de alimentos, sofrendo, portanto, pouca intervenção humana. A partir de então, sob o estigma da Revolução Verde que apregoava o incremento da produção mundial de alimentos e a utilização das regiões tropicais para tal propósito, o cerrado foi invadido por tratores e agricultores de várias partes do país. A incorporação dessa região à área de produção agrícola permitiu a ampliação e a diversificação da agricultura brasileira. Nos últimos anos, o cerrado tem contribuído com aproximadamente 25% da produção de grãos e abrigando 40,5% do rebanho nacional. Todavia, o desconhecimento do potencial de uso dos recursos naturais, o desrespeito às leis de proteção ambiental, as queimadas irregulares e a intensa exploração agrícola, têm provocado prejuízos irreparáveis ao solo, fauna, flora e aos recursos hídricos, comprometendo a sustentabilidade dessa região e colocando muitas espécies de animais e vegetais em risco de extinção. O desmatamento desses ambientes acelerou o empobrecimento dos solos em macro e micro nutrientes em toda a faixa ribeirinha, principal responsável pela biodiversidade das espécies no ambiente aquático e subaquático. Portanto, para evitar que os prejuízos sejam ainda maiores e irreversíveis, há necessidade de se definir uma política regionalizada para promover o desenvolvimento sustentável, associada a um programa de planejamento ambiental, com base na recuperação de áreas degradadas utilizando espécies vegetais nativas da própria região. 3 4 Processo de dispersão de sementes pelo vento. Processo de dispersão de sementes por animais. 4 Neste sentido objetivou-se analisar a germinação das sementes da espécie Guazuma ulmifolia Lam (Figura 1) através das técnicas de quebra de dormência. Tendo em vista a conservação da espécie, através da produção de mudas (Figura 2), pois é uma planta nativa dos ambientes de matas do cerrado, cujas características de planta pioneira e frutífera, são fundamentais em projetos de recuperação de espaços degradados através da revegetação em plantios consociados com outras espécies típicas dos ambientes de florestas estacionais do cerrado. Figura 1 –Exemplar de Guazuma ulmifolia Lam (Mutamba) Figura 2 – Produção de mudas da espécie Guazuma ulmifolia Lam. 5 2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Apesar da dimensão e da importância do bioma cerrado, a germinação das sementes de suas espécies só foi estudada com mais intensidade, em diferentes níveis e aspectos, a partir da década de 1960, (LABORIAU, 1996). A primeira tentativa de sintetizar esses estudos aconteceu na metade da década de 1980 com uma revisão feita por Felippe & Silva (1984). Naquela publicação foram organizadas as informações que até então encontram-se bastante dispersas, relacionando-as em função dos fatores que influenciam a germinação sem, entretanto, considerar as fitofisionomias de ocorrência das espécies. Posteriormente, Melo et al. (1998) reuniram informações mais recentes sobre a fisiologia da germinação entre vários outros aspectos de propagação de espécies do bioma cerrado. Todas essas revisões foram importantes, pois além de agrupar informações sobre germinação das sementes, ajudaram a divulgar ainda mais esse bioma até então desconhecido. A espécie Guazuma ulmifolia Lam. é uma espécie comum no cerrado brasileiro e pertence a família Sterculiaceae que engloba outras espécies típicas da região como Sterculia chicha St.Hil .ex Turpin e Sterculia striata St. Hil. Et Naud. , apesar de não ser uma família muito abrangente em termos de gêneros e espécies, mas existem espécies importantes do ponto de vista comercial como é o caso de Theobroma cacao L. conhecido popularmente como (cacau, cacaueiro,cacau – vermelho), cujo fruto é a matéria prima para produção do chocolate que é o doce mais apreciado do mundo, outras espécies da família são encontradas no território brasileiro como Pterigota brasiliensis Fr.All. (pau – rei, farinha – seca, maperoá) (LORENZI, 1992). Guazuma ulmifolia Lam é popularmente conhecida como mutambo, mutamba, fruta-de-macaco, embira, embireira e mutamba verdadeira. É uma espécie heliófita, semidecídua, pioneira característica de formações secundárias, ocorrendo em toda a América Latina, ( BARBOSA & MACEDO, 1993). Segundo Malheiros et al. (2001), Guazuma ulmifolia Lam. é encontrada nas formações florestais denominadas subsistema de Matas que ocorrem na região do cerrado, portanto é uma espécie adaptada a solos de boa fertilidade natural, isso nos remete a uma maior atenção quando da indicação da planta, para projetos de revegetação de áreas degradadas. Além das espécies nativas do Brasil, Lorenzi (2003), descreve outras espécies exóticas 6 da família Sterculiaceae utilizadas na arborização urbana e no paisagismo como Brachychiton acerifolium (A. Cunn.) F.Muell. , Brachychiton discolor F.Muell. , Brachychiton populneum (Schott & Endl.) R.Br. ,Cola acuminata ( P.Beauv) Schott & Endl. ,Dombeya naiorobensis Engler. , Dombeya wallichii (Lindl.) K.Schum. , Sterculia foetida L., que adaptaram – se muito bem as condições climáticas e pedológicas das Regiões brasileiras. No entanto, Trape & Oliveira (1995) classificaram a Guazuma ulmifolia Lam como espécie secundária inicial. A árvore atinge altura de 8 a 16 m, com tronco de 30 a 50 cm de diâmetro (LORENZI, 1992). A madeira apresenta coloração castanho-clara, com densidade regular e tecido compacto, pouco resistente, sendo utilizada em caixotaria, marcenaria, fabrico de carroceria, confecção de tonéis e coronhas de armas (BARBOSA & MACEDO, 1993). Além de fornecer material para o fabrico de cordas, as folhas e os frutos, podem ser utilizados na alimentação de animais domésticos e silvestres, (PIO CORREA, 1926). O fruto adocicado de Guazuma ulmifolia é muito apreciado por diversas espécies de animais do cerrado, entre os mamíferos são destacados Tapirus terrestris (Anta), Tayassu pecari (Porco queixada), Tayassu tajacu (Porco cateto), Mazama americana (Veado mateiro), Sphiggurus villosus (Ouriço – cacheiro), Hydrochaeris hydrochaeris (Capivara), Agouti paca (Paca), Dasyprocta azarae (Cutia) , Cebus apella (Macaco prego) ,Alouatta caraya (Macaco guariba) e Didelphis marsupialis (Gambá) (SILVA, 1984). Segundo Andrade (1992) algumas espécies de aves também apreciam os frutos da família Sterculiaceae entre outros Ramphastos toco (Tucano), Ara ararauna (Arara canindé), Anodorhynchus hyacinthinus (Arara azul), Brotogeris chiriri (Perequito – de – encontro – amarelo), Amazona xanthops (Papagaio – galego) e Amazona aestiva (Papagaio verdadeiro). No Brasil a estação de florescimento se dá no final de setembro até início de novembro, os frutos desta floração amadurecem no próximo ano, nos meses de agosto e setembro (ARAÚJO NETO & AGUIAR, 1999). A morfologia da semente é necessária nas análises de identificação e certificação da qualidade das sementes (OLIVEIRA & PEREIRA, 1984). Para os taxonomistas, as diferenças entre plantas, assim como as mudanças que possam ter em comum, são susceptíveis de avaliação em larga escala pelos caracteres morfológicos. Estes caracteres manisfestam-se por componentes estruturais das plantas e, o seu valor aprecia-se pela constância. Assim quanto mais constantes, maior a confiança que neles se pode depositar (LAWRENCE, 1973). O estudo morfológico das sementes permite identificar caracteres taxonômicos e filogenéticos. Apesar dos caracteres externos serem mais utilizados, os internos são mais confiáveis na classificação. 7 A germinação é um fenômeno biológico que, fisiologicamente, pode ser caracterizado como retomada do crescimento do embrião e conseqüente rompimento do tegumento pela radícula, (LABORIAU, 1983; BORGES & RENNA, 1993). Para tecnólogos de sementes, no entanto, a germinação é somente reconhecida quando as plântulas apresentam tamanhos suficientes para avaliação da normalidade de seus órgãos, (LABORIAU, 1983). Algumas sementes podem germinar pela disponibilização de condições ambientais favoráveis, como a incidência luminosa, a temperatura e a hidratação adequada, sendo estas condições variáveis entre as diferentes espécies de plantas. Assim os fatores bióticos, intrínsecos à própria semente e abióticos como a luz, temperatura e umidade influenciam fortemente na sua germinação (BASKIN & BASKIN, 1998). De fato, a umidade é um dos fatores imprescindíveis ao processo de germinação, pois é através da absorção de água, por embebição, que este processo se inicia. Assim, há necessidade de que a semente alcance um nível adequado de hidratação, que permitirá a reativação dos processos metabólicos, (BORGES & RENNA, 1993 ; MELO et al, 1998). Este nível de hidratação é alcançado pelo embrião, que o controla através da permeabilidade do tegumento, pela superfície de contato e pela composição química da semente, (POPINIGS, 1977). No entanto, o excesso de umidade pode prejudicar o processo germinativo visto que impede a penetração de oxigênio e reduz a atividade metabólica, (POPINIGS,1977; BORGES & RENNA, 1993). Do mesmo modo, a temperatura, também, pode afetar diferencialmente a germinação das sementes, (LABORIAU, 1983; BORGES & RENNA, 1993). Os efeitos da temperatura podem ser profundamente influenciados pela condição fisiológica da semente. Portanto, a temperatura ideal para germinação pode sofrer variações, conforme o período de coleta e a presença ou não da dormência da semente, (POPINIGS 1977; RIZZINI (1997). Podendo ser variável, também, entre as diferentes espécies, (ARAÚJO-NETO et al, 2003). Neste sentido, várias sementes de espécies tropicais apresentam algum tipo de dormência que impede a pronta germinação, mesmo em condições ambientais favoráveis (POPINIGIS, 1977; RIZZINI, 1997). A dormência de sementes tem fundamental importância para a perpetuação e o estabelecimento de muitas espécies vegetais nos mais variados ambientes, mas pode trazer desvantagens, principalmente considerando a exploração vegetal, (ZAIDAN & BARBEDO, 2004). Em síntese, tendo-se uma semente viável em repouso, por quiescência ou dormência, quando satisfeitas as condições externas (do ambiente) e internas (intrínsecas a semente), ocorrerá a germinação, (BORGES & RENA, 1993). Assim, características próprias da 8 semente podem impedir a germinação, como características estruturais, inclusive do endosperma, e, algumas vezes, do perisperma, (NIKOLAEVA, 1997). Deste modo, para superar este tipo de dormência, existem vários mecanismos de escarificação tegumentar, que promove a germinação de sementes que possuem impermeabilidade do tegumento aos fatores do ambiente. Alguns processos, que ocorrem naturalmente podem promover a escarificação do tegumento das sementes, como ações abrasivas do solo/água, escarificações ocorridas no trato digestivo de muitos animais ou ataque de microorganismos, (MENDONÇA, 2002). Entretanto, esta dormência, também, pode ser superada com tratamentos laboratoriais de escarificação mecânica (lixamento), química (ácidos) e térmica (água quente), promovendo assim o rompimento do tegumento das sementes, possibilitando a absorção principalmente de água e conseqüentemente a reativação dos processos metabólicos, (BORGES & RENNA, 1993). Portanto, o uso de mecanismos de quebra de dormência, além do incremento de porcentagem de germinação, também, pode acelerar o processo germinativo, resultando em maior uniformidade e sobrevivência, (NASCIMENTO & OLIVEIRA, 1999). Apesar de sua importância, estudos sobre o processo germinativo das espécies arbóreas, principalmente na região norte do Estado de Minas Gerais são escassos. Além disto, informações relativas à propagação de espécies ocorrentes em áreas de Florestas Estacionais Deciduais brasileiras são praticamente inexistentes. Martins (2007), ao listar espécies para recuperação de Matas Ciliares indica a utilização de Guazuma ulmifolia, pois além de ser uma espécie com destaque nos levantamentos fitossociológicos em matas ciliares, também está comprovado cientificamente a sua eficácia em projetos de recuperação, pelo desenvolvimento rápido e o fornecimento de frutos que contribui para fixação da fauna. 9 3 METODOLOGIA A pesquisa foi desenvolvida no laboratório de sementes da Estação Ciência São José / ITS, localizado no Campus II da Universidade Católica de Goiás na região sudeste de Goiânia (Figura 3). Figura 3 – Laboratório de sementes do ITS/UCG. Os frutos coletados (Figura 4) para obtenção das sementes utilizadas na pesquisa foram adquiridos na área do campus II/UCG no mês de Outubro, época em que coincide com a maturação e queda dos frutos de Guazuma ulmifolia Lam, nessa região. Realizou-se uma seleção dos frutos escolhendo os que apresentavam uniformidade de tamanho e coloração para retirada das sementes. Das sementes (Figura 5) selecionaram-se as que apresentavam maior uniformidade quanto ao tamanho e aspectos fitossanitários. Figura 4 – Frutos coletados Guazuma ulmifolia Lam. Figura 5 – Sementes selecionadas de Guazuma ulmifolia Lam. 10 Dez frutos foram escolhidos. As características analisadas de cada fruto foram: peso, diâmetro do fruto, diâmetro da semente e quantidade de sementes por fruto. Segundo Lorenzi (1992) cada fruto possui em média 160 sementes. Para o desenvolvimento dos experimentos de germinação a base de aquecimento para quebra de dormência das sementes, foi feita a partir do acondicionamento em bolsa de pano e mergulhadas em água com temperatura média de 90° C. O ensaio foi realizado utilizando delineamento experimental inteiramente casualizado em estufa BOD com temperatura constante de 24°C e fotoperíodo de 12 horas (Figura 6). Cada parcela constou de uma placa de petri de 15 cm de diâmetro (ø) com duas folhas de papel filtro embebido em água destilada. Após realizados os tratamentos, foram colocadas as sementes em placas de petri (Figura 7). Figura 6 – Estufa BOD Figura 7 – Guazuma ulmifolia Lam em placa de petri Os experimentos foram montados obedecendo os seguintes procedimentos: Experimento com: 4 tratamentos 5 repetições Tratamento 1 = sem choque térmico Controle Tratamento 2 = choque térmico por 5 segundos Tratamento 3 = choque térmico por 10 segundos Tratamento 4 = choque térmico por 15 segundos OBS: Cada tratamento com 30 sementes e 5 repetições (4 x 30 x 5 = 600 sementes no total) A partir da coleta dos dados de germinação realizou-se análise de variância (ANOVA) para verificar a possível diferença entre os tratamentos, utilizando-se nível de 11 significância de 5%. Em seguida, foi executado teste de Tukey para verificar entre quais tratamentos a diferença foi significativa (α: 5%). Análise de regressão linear foi também utilizada para verificar o grau de influência de cada tratamento na freqüência de sementes germinadas. Ambas as análises foram executadas através do software Statistica 7.1 (StatSoft, 2005). 12 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES O tratamento controle registrou uma média de 2,8 sementes germinadas por placa (Tabela. 1). A maior média de germinação foi observada para o tratamento 3 (Figura 8). É importante registrar que o tratamento 4 foi o mais heterogêneo quanto a freqüência de germinação de mutamba tento em vista o maior valor de desvio padrão (Tabela 1) tanto quanto erro padrão (Figura 8). Tabela 1 – Número de sementes germinadas de Guazuma ulmifolia Lam. depois de submetidas a quatro diferentes tratamentos baseados em choque térmico. Repetição T1 (Controle) T2 T3 T4 1 6 8 28 15 2 0 10 30 9 3 3 9 27 12 4 1 12 25 10 5 4 11 28 8 2,8 2,387467277 10 1,58113883 27,6 1,816590212 10,8 2,774887385 Média Desvio Padrão 35 M éd ia M é dia ±E P M é dia ±DP Número de sementes germinadas 30 25 20 15 10 5 0 -5 1 2 3 4 T rata m e nto Figura 8 – Box-plot para freqüência absoluta de sementes de Guazuma ulmifolia Lam. germinadas a partir de diferentes tratamentos. 13 Tabela 2 – Resultados de Análise de Variância (ANOVA) para freqüências de sementes de Guazuma ulmifolia Lam. germinadas a partir de diferentes tratamentos. FONTES DE VARIAÇÃO GL SQ QM Fcalc p Tratamentos Erro 3 16 1600 77 551,467 4,8 114,8889 < 0.0001 Os resultados da ANOVA demonstraram que houve diferença significativa quanto a freqüência de sementes de Guazuma ulmifolia Lam., germinadas entre diferentes tratamentos (Tabela 2). O teste de Tukey registra diferenças significativas entre o tratamento 1 (controle) e todos os demais tratamentos, demonstrando que choque térmico em sementes de mutamba tem efeito sobre a quebra de dormência (Tabela 3). Entretanto, dentre os tratamentos executados, o tratamento 3 (10 segundos) foi o que apresentou melhor resultado por apresentar maiores freqüências de germinação, não tendo havido diferenças entre o tratamento 2 e 4. Tabela 3 – Teste de Tukey realizado para freqüências de sementes de Guazuma ulmifolia Lam. germinadas a partir de diferentes tratamentos. Diferença Q p T1xT2 T1xT3 T1xT4 T2xT3 T2xT4 T3xT4 7,2 24,8 8,0 17,6 0,8 16,8 7,3485 25,3114 8,1650 17,9629 0,8165 17,1464 < 0.01 < 0.01 < 0.01 < 0.01 Não significativo < 0.01 A regressão polinomial quadrática demonstrou haver correlação entre o tempo de exposição ao choque térmico e número de sementes germinadas (Tabela 4). O modelo adotado obedeceu à seguinte equação: Equação 1: y = -0,24x² + 4,432x + 0,56 sendo y igual ao número de sementes germinadas e x o tempo de exposição ao choque térmico (dado em segundos). A linha de tendência dos dados é dada na Figura 9. 14 Tabela 4 – Escores de regressão linear entre tempo de exposição de sementes de mutamba a choque térmico e freqüência de sementes germinadas. Fontes de variação GL SQ QM Regressão 2 1152,6400 576,3200 Erro 17 578,5600 34,0329 Total 217 1731,2000 Fcalc 16,9342 (p) 0,0002 Coeficiente de determinação múltipla (R²) 0,6658 FR² 35,8606 (p) 0,0000 R² ajustado 0,6265 Coeficiente de correlação múltipla (R) 0,8160 Intercepto (a) 0,5600 t = 0,2202 p = 0,8283 Coeficiente parcial de regressão (b1) 4,4320 t = 5,4265 p < 0,0001 Coeficiente parcial de regressão (b2) -0,2400 t = -4,5996 p = 0,0003 t = 5,3896 p < 0,0001 Comparação: Coeficiente (b1) e Coeficiente (b2) 35 Nº de sementes germinadas 30 25 20 15 10 5 0 0 2 4 6 8 10 12 14 16 Tempo de exposição ao choque térmico (s) Figura 9 – Regressão polinomial quadrática utilizando dados de tempo de exposição de sementes de Guazuma ulmifolia Lam a choques térmicos e número de espécies germinadas (F=16,9342; p=0,0002, R=0,8160). 15 A dormência das sementes para ser efetiva como mecanismo de sobrevivência, deve variar entre os indivíduos e principalmente entre espécies (BIANCHETTI,1989). Entretanto, na prática silvicultural o ideal é que sementes de uma espécie tenham germinação rápida e homogênea para a produção de mudas (TORRES & SANTOS, 1994). Deste modo, a dormência das sementes torna-se um problema para o manejo florestal e métodos para sua superação devem ser utilizados. Foi observado que sementes de Guazuma ulmifolia Lam apresentaram taxas germinativas relativamente altas no período de 10 segundos de exposição, sugerindo que este tratamento possa ser utilizado na propagação da espécie. O tempo de 15 segundos pode ocorrer desnaturação protéica e morte embrionária de algumas sementes, desencadeando heterogeneidade de germinação, verificado nas diferenças entre as repetições para este tratamento. Portanto a temperatura e o tempo de exposição pode ser determinante no comportamento germinativo das sementes (BORGES & RENNA, 1993). Estudando a temperatura e tempo de exposição de sementes a partir da equação é possível ajustar um intervalo de tempo (Tabela 5) onde a quebra de dormência ocorre de maneira satisfatória, ou seja, de acordo com a equação: y = -0,24x² + 4,432x + 0,56 Verificou-se que entre 7 e 10 segundos de exposição a temperatura de 90ºC a quebra de dormência resulta em germinação semelhante. (Valores Próximos). Tabela 5 – Intervalos de tempo onde a quebra de dormência ocorre. Tempo Quantidade sementes germinadas Percentagem (%) (estimada) 7 19,824 66,08 8 20,656 68,85 9 21,008 70,03 10 20,88 69,6 Pela equação de regressão o tempo de exposição que melhor permitiria melhores resultados para germinação (Figura 10) de sementes da espécie Guazuma ulmifolia Lam seria 9 segundos com uma percentagem de 70,03% de germinação. 16 Figura 10 - Germinação da espécie Guazuma ulmifolia Lam. 17 5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES O tempo de dez segundos foi suficiente para quebrar a dormência de sementes de Guazuma ulmifolia Lam., pois apresentaram taxas germinativas satisfatórias quando utilizado técnicas de choque térmico, sugerindo que este tratamento pode ser usado na propagação da espécie. Apesar da existência de diversos trabalhos sobre germinação de sementes de espécies nativas, este número é ainda, muito pequeno em relação à diversidade de espécies vegetais dos diferentes ambientes tropicais. Estudos sobre o potencial germinativo de espécies nativas, principalmente das regiões do semi-árido brasileiro, tornam-se essenciais ao desenvolvimento de técnicas de conservação, manejo e restauração dos ambientes naturais bem como para o fornecimento de novos produtos para o setor agroindustrial. 18 6 REFERÊNCIAS ANDRADE, M. A.de. Aves Silvestres: Minas Gerais. Belo Horizonte: Conselho Internacional para a preservação das Aves, 1992. ARAÚJO-NETO, J. C., AGUIAR, I. B. Desarroloontogênico de plântulas de Guazuma ulmifolia (Sterculiaceae). Revista de Biologia Tropical, San José, v. 47, n. 4, 1999, p.785-790. ARAÚJO-NETO, J. C., AGUIAR, I. B. & FERREIRA, V. M. Efeito da temperatura e da luz na germinação de sementes de Acácia polyphylla DC. Revista Brasileira de Botânica,26(2): 249-256, 2003. ASSAD, E. D. (coord.). Chuva nos Cerrados. Brasília; Empresa de Pesquisa Agropecuária – Centro de Pesquisa Agropecuário dos Cerrados, 1994. 423p. BARBOSA, J.M.; MACEDO, A.C. 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