HISTÓRIA & HISTORIOGRAFIA PARÓQUIA SÃO MIGUEL ARCANJO DE GUAÇUÍ – ESPÍRITO SANTO 1918 A 2008 “Ninguém é dono do saber absoluto. Todos contribuem para a construção do Saber” (Professor Dr. José Augusto dos Santos – In Memorian) DEDICATÓRIA À saudosa amiga Maria das Graças Pereira (In Memorian), pelo zelo de ter recolhido, na lata de lixo, o Livro de Tombo I, que se tornou fulcro deste trabalho; A todos os fiéis da Paróquia de São Miguel Arcanjo de Guaçuí – ES, particularmente os anônimos colaboradores, cujos trabalhos os tornam protagonistas desta História; Aos nobres e santos espíritos dos saudosos, anônimos e esquecidos padres que por aqui passaram. AGRADECIMENTOS A Deus, a quem certa vez prometi colocar todos os meus conhecimentos a seu serviço; À minha esposa, filhos e filhas, os quais são sacrificados no cotidiano de suas vidas em decorrência do exercício de meu Ministério Diaconal. Aos saudosos Padres: Miguel de Sanctis, Armando Geertz, Félix Pardo Orje, Enio Octávio Fazolo e Galeno Martins de Oliveira, amigos que contribuíram para minha formação espiritual. TEODORO, Miguel A. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA PARÓQUIA SÃO MIGUEL ARCANJO DE GUAÇUÍ – ESPÍRITO SANTO NO PERÍODO DE 1918 A 2008. 2013. 28f. Trabalho de conclusão de curso (Complementação em Teologia) – Faculdade Católica de Anápolis – Instituto de Ciências Humanas João Paulo II (IJOPA). Cachoeiro de Itapemirim 2013. RESUMO A organização e o desenvolvimento de uma Paróquia não se resumem apenas na capacidade do administrador paroquial, mas, de modo especial, na abnegação e colaboração de leigos e leigas que assumem responsabilidades e contribuem com seus trabalhos em favor do crescimento, não somente espiritual, mas também do administrativo, bem como, do bem-estar de todos os fiéis das comunidades em que habitam. Muitos leigos e leigas destacam-se como verdadeiros protagonistas no campo da evangelização, porém, nem sempre são reconhecidos pela dedicação e pelo zelo na realização de trabalhos empreendidos em prol do bem comum. Sendo assim nessa monografia busca-se contextualizar historicamente as ações empreendidas pelos párocos que por aqui passaram, enfatizando que o desenvolvimento da referida Paróquia só foi possível graças à atuação de inúmeros colaboradores, leigos e leigas, que não deixaram no desamparo seus orientadores espirituais e que, atualmente, encontram-se no anonimato, a exemplo de muitos padres, esquecidos pela história da Paróquia de São Miguel Arcanjo de Guaçuí – Espírito Santo - Brasil. Palavras-chaves: História, Desenvolvimento, Evangelização TEODORO, Miguel A. Historical context of the parish SAO MIGUEL ARCHANGEL Guaçuí – Espírito Santo IN THE PERIOD 1918 TO 2008. 2013. 28f. Working conclusion of course (complementation in theology) - Catholic Faculty of Anapolis - Institute of Humanities Sciences John Paul II (IJOPA). Cachoeiro de Itapemirim / ES / Brazil 2013. ABSTRACT The organization and development of a parish are not restricted only to the ability of the parochial administrator, but, especially, denial and collaboration of lay men and women who take on responsibilities and contribute their work for growth, not only spiritual, but also the administrative as well as the welfare of all the faithful of the communities in which they live. Many lay people stand out as true protagonists in the field of evangelization, however, are not always recognized by the dedication and zeal in carrying out building work for the common good. Thus this monograph seeks to contextualize historically the actions undertaken by the parish priests who passed through here, emphasizing that the development of this parish was only possible through the work of countless contributors, laymen and laywomen who not left in the lurch their spiritual directors and currently find themselves in anonymity, like many priests, forgotten by the history of the Parish of São Miguel Arcanjo - Guaçuí - Espirito Santo - Brazil. Keywords: History, Development, evangelization INTRODUÇÃO É com alegria que disponibilizo este trabalho inédito, através do qual busco apresentar um histórico da Paróquia de São Miguel Arcanjo de Guaçuí/ES entre os períodos de 1918 a 2008, considerando-a como espaço de trabalho e evangelização, tendo como objeto as atividades exercidas por seus administradores no referido período acima mencionado. O presente trabalho ainda tem a intenção de fornecer subsídios, a quem interessar e possa, sobre a paróquia em suas dimensões histórica e pastoral, pois se considerou que a paróquia é o lugar de evangelização que necessita organizar seu trabalho pastoral com base em seus fiéis e, particularmente, nos agentes de pastorais, coordenadores e pessoas de boa vontade. Nessa perspectiva, foi fundamental observar a participação dos colaboradores e suas responsabilidades em consonância com a esfera administrativa, sobretudo, no período que compreende aos anos posteriores a 1971 até o ano 2001 onde se pode observar certo avanço no que corresponde à divisão da Paróquia em Comunidades Eclesiais de Base, bem como, a organização de grupos como, por exemplo: Catequistas, Agentes de Pastorais, Coordenadores de Círculos Bíblicos, Coordenadores de Comunidades, Coordenador Paroquial, Coordenação e membros do Ministério Extraordinário da Pregação da Palavra de Deus, Coordenação e membros do Ministério Extraordinário da Distribuição da Eucaristia e representantes de movimentos tais como: Cursilho de Cristandade, Apostolado da Oração, Liga Católica, Legião de Maria, Confrades e Consócias - Vicentinos(as). Encontro de Casais com Cristo (ECC), Encontro de Adoslecentes com Cristo (EAC) etc. Acreditamos que uma paróquia não é composta somente por padres e diáconos, mas também, por todos que participam, direta e indiretamente, das atividades evangelizadoras feitas com os fiéis em suas comunidades. Assim, a paróquia, juntamente com todos os seus colaboradores, se torna a unidade responsável pela formação, educação e orientação espiritual de seus membros. Por isso, a partir do capítulo primeiro desta Monografia, após breve apresentação, discorre-se, através de relato histórico, sobre os antecedentes históricos buscando enfatizar os primórdios da Paróquia de São Miguel Arcanjo, tendo por base algumas pesquisas efetuadas em Tombos do Carangola – MG e Mariana – MG, como também, em outros registros, disponíveis no Livro de Tombo da Paróquia de São Miguel, de autoria do Monsenhor Miguel de Sanctis; no desenvolvimento do segundo capítulo e seus sub-itens, detemo-nos em expor sobre algumas transformações ocorridas na Paróquia, especialmente entre os anos de 1972 a 2008, em decorrência das inovações oriundas do Concílio Vaticano II. Fase esta, onde testemunhamos, naquele momento histórico, a criação de inúmeros movimentos inovadores, particularmente, sobre um novo modo de “Ser Igreja” e a homologação da organização paroquial, nos anos noventa, em Comunidades Eclesiais de Base e, já, no Terceiro Milênio, a continuidade daquela organização e a caminhada da Igreja na Paróquia de São Miguel Arcanjo de Guaçuí – Espírito Santo. E, por fim, no terceiro capítulo, apresenta-se um resumo das ações empreendidas pelos párocos, que estiveram à frente da administração paroquial, entre os períodos de 1918 a 2008. Embora nossa intenção fosse delimitar nosso trabalho até o presente ano, para que pudéssemos elaborar um trabalho mais completo e fechar, com chave de ouro, nosso Curso de Complementação em Teologia, para o qual tanto nos dedicamos, infelizmente, não obtivemos da nova administração paroquial da Paróquia de São Miguel Arcanjo de Guaçuí – Espírito Santo, a devida autorização para pesquisarmos sobre os dados, da mencionada Paróquia, registrados no período de 2008 a 2013. Desconhecemos as razões desta negação. Mas lamentamos muito sobre esta decisão. Considera-se atitude, como esta, um cerceamento ao direito de pesquisa que é legalmente outorgado ao historiador, a fim de que ele possa gozar de todas as prerrogativas legais, uma vez que o direito conquistado não lhe pode ser negado. Queremos crer mais. Sim. Cada vez mais! Entretanto, tal comportamento nos leva acreditar, cada vez menos, naquele velho conceito de Heródoto, considerado o “Pai da História”, quando afirmou ser “a História restos do passado, núcleo do presente e germe do futuro”; e, acreditar, cada vez mais, conforme se afirma na Canção para a Libertação da América Latina, que “(...) a História é um carro aberto, cheio de um povo contente, que atropela indiferente todo aquele que a negue. É um trem riscando trilhos, abrindo novos espaços, acenando muitos braços e balançando os nossos filhos”. Em outras palavras, tomamos a liberdade de parafrasear o saudoso Padre Enio Octávio Fazolo que, quando dizia a frase “Quem não se renova, morre. A Igreja que não se renova, morre”, dava-nos a impressão de estar fazendo alusão ao termo “aggiornamento”, tão utilizado e tão desejado pelo Papa João XXIII, nos auspícios da convocação para a realização do Concílio Vaticano II. Apesar de tudo, mesmo assim, continuaremos rogando ao Pai Celestial, para que os administradores paroquiais possam ser protagonistas, mais de luzes do que de sombras, pois assim dizia meu inesquecível mentor de Filosofia, Dr. José Augusto dos Santos: Ninguém é dono do saber absoluto, todos devem contribuir para a construção do saber. 2. Breve apresentação da Paróquia[1] O município de Guaçuí/ES, localizado na região sul do estado do Espírito santo, uma cidade de clima tropical temperado, frio e seco no inverno; e quente e chuvoso no verão, com uma população, conforme dados do IBGE (2009), de 26.743 habitantes, sendo que, 79% encontra-se em sua área urbana e, o restante, cerca de 21% nos dois distritos existentes bem como na zona rural. Limita-se ao Norte com o muncípio de Divino de São Lourenço e Ibitirama; ao Sul, com São José do Calçado; a Leste, com o município de Alegre; e, a Oeste, com a cidade de Dores do Rio Preto e o Estado do Rio de Janeiro. É no município de Guaçuí/ES que se encontra localizada a Paróquia de São Miguel Arcanjo. Esta Paróquia de São Miguel Arcanjo da diocese de Cachoeiro de Itapemirim/ES, assim denominada, tem sede à Praça da Matriz, s/n, CEP: 29.560-000, com telefone para contato nº (28) 35531467. No que diz respeito à ação evangelizadora da Igreja Católica Apostólica Romana, a Paróquia, hoje, encontra-se subdividida em 27 Comunidades Eclesiais de Base. Ao longo de sua história religiosa, os fiéis católicos de Guaçuí/ES testemunharam muitos avanços, especialmente no período pós-conciliar. Atualmente, tem como Administrador Paroquial o sr. Pe. Denis Lesqueves Neto e como Vigário Paroquial o Sr. Pe. Wagner Donizeti. Conta, ainda, com a presença do Sr. Pedro Fossi – Pe. Emérito, bem como, dois Diáconos Permanentes, os srs. Lorival Dutra Miranda e Miguel Aparecido Teodoro. No entanto, o Sr. Pe. Denis Lesqueves Neto responde pelas atividades nas vinte e sete comunidades existentes na paróquia e assegura o atendimento dos objetivos e funções das mesmas e, para tanto, ele conta com a colaboração de uma Equipe de Formação Paroquial, Agentes de Pastorais, Coordenadores de Comunidades, Coordenadores de Movimentos: Decolores, ECC, EAC, Catequistas, Equipe de Formação de Noivos, Equipes de Formação para o Batismo, Equipes de Formação para o Sacramento do Crisma, Ministros Extraordinários da Pregação da Palavra, Ministros Extraordinários da Distribuição da Eucaristia, Ministérios de Música, Liga Católica, Legião de Maria, Apostolado da Oração, Vicentinos, Conselho Econômico Paroquial, Conselho Paroquial e Escola de Teologia e Pastoral Dom Bosco. As Equipes de Formação, coordenações e ministérios são formadas, em sua grande maioria, por profissionais especializados, pessoas habilitadas e fiéis de boa vontade. Os horários de atendimento aos fiéis e celebrações nas comunidades acontecem conforme calendário mensal específico e previamente elaborado e publicado nos meios de comunicação utilizados pela paróquia via Pastoral da Comunicação que compreende: Portal na Internet, Programa na Rádio Local, Jornal Mensal, Murais, Avisos que antecedem as celebrações no dia-a-dia. 2.2 Antecedentes: Relato histórico dos primórdios da Paróquia de São Miguel Arcanjo A outrora pequena porção de terra que, hoje, pode ser localizada pelas coordenadas [2]de 20º 46’ 38” de latitude sul e 41º 40’ 44” de longitude W. Gr, e cuja altitude, no centro da cidade, equivale a 586m; e no alto do Morro do Caracol, 910m; e no Tênis Clube, 604m; e, ainda, na Colina do Cristo Redentor, 705m; nos primórdios de sua colonização[3] era conhecida por São Bom Jesus do Livramento e obteve, pela Resolução nº 122, de 25 de novembro de 1861, a sua primeira formação administrativa com a criação da Subdelegacia de Polícia de Veado na Paróquia de Alegre, Município de Itapemirim – ES. A ocupação das terras ao Sul do Espírito Santo, no início do século XIX, foi ocasionada por diversos fatores, entre os quais se destacam os conflitos fronteiriços existentes entre os membros da Bandeira de Minas que ocuparam terras pertencentes ao Rio de Janeiro e Espírito Santo, pois, as expedições mineiras impetradas nessas regiões visavam não somente a expansão das Minas Gerais, mas o extermínio de quilombos e a apreensão de indígenas para a formação de escravaria. Em 1850, com um Decreto Real pôs fim aos conflitos e praticamente delinearam-se os contornos das fronteiras atuais entre esses três Estados. Da chegada dos bandeirantes mineiros à nossa região, em 1820, até ao Decreto Real da Lei nº 601 de 18 de setembro de 1850, as terras, existentes nesses atuais estados, eram habitadas pelos índios Puris e consideradas devolutas, foram ocupadas. De 1855, quando se iniciou o processo de registros, até 1857, foram lavradas 145 escrituras de posses de terras. As que referenciam às regiões que compreendem ao Sul do Espírito Santo somam um total de 51 escrituras; as demais rezam sobre propriedades pertencentes aos Estados do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Através desse Decreto, o Governo Imperial de Sua Majestade, o Imperador D. Pedro II, regulamentou a ocupação de terras consideradas devoluta pertencente à Coroa e entre as exigências para a legitimação da ocupação dessas terras, fixou que “nas posses primárias mansas e pacíficas de terras devolutas, houvesse culturas e moradia habitual de posseiro”. Cinco anos após, ou seja, em 1855 é que se deu inicio a prática desses registros, que eram feitos pela Freguezia (hoje Paróquia) de Nossa Senhora dos Tombos do Carangola, elevada a esta categoria em 1852. O Livro de Registro de Terras Possuídas 1855/1857 teve o mérito de registrar, entre outras, as posses ocorridas primariamente, no caso da Província do Espírito Santo, nas regiões que hoje compreende aos municípios de Guaçuí, Dores do Rio Preto e os povoados de São Romão e São Pedro de Rates. Na época, 1855, a fronteira das Províncias de Minas Gerais e Espírito Santo era a margem direita do Rio Veado. No atual Estado do Rio de Janeiro abrangia Porciúncula, Natividade e Varre-Sai. Quanto à jurisdição da Província de Minas Gerais sobre áreas hoje capixabas, fronteiras indefinidas permitiam os limites mineiros atingir a margem direita do Rio Veado. Esta situação cessou em 10 de janeiro de 1863, quando o Governo Imperial, através do Decreto nº 3043 fixou provisoriamente o Rio Preto como limite entre as Províncias do Espírito Santo e de Minas Gerais. O Livro de Registro de Terras Possuídas 1855/1857[4], original, onde foram efetuados os referidos registros e onde fundamentamos nossa pesquisa, atualmente se encontra no Arquivo Público Mineiro e foi invocado como prova documental pelo Estado de Minas Gerais em 19 de outubro de 1904, na questão de limites com o Estado do Rio de Janeiro. Cita como argumento a posse feita por mineiros, de terras registradas em Tombos, consoante com o Decreto Imperial de 14 de maio de 1843, que fixou a fronteira de então. Nesse período, não era fácil a obtenção de uma escritura. O ocupante de terras era obrigado a declarar residência na Freguezia da Nossa Senhora da Conceição dos Tombos do Carangola e o transporte era precário e a viagem cansativa, pois, na maioria das vezes, era o escrevente que vinha à fazenda para efetuar o registro da escritura. Tais registros foram extremamente importantes para nossa História: eles demarcaram a passagem da fase a qual denominamos “Núcleo Colonizador” para a fase “Núcleo Familiar” é, a partir daí, que as famílias aqui legalmente estabelecidas tornar-se-ão responsáveis pelos alicerces sobre os quais erigiu-se a atual cidade de Guaçuí – ES. A vitória alcançada no ano de 1860 fez com que, o que outrora era berço dos índios Purís, desse lugar a sítios e fazendas na medida em que as distribuições das glebas de terras continuavam. A colonização não ocorreu de forma tão organizada e os caminhos não foram abertos regados ao aroma de rosas. Muitos espinhos se fizeram presentes. As primeiras famílias que aqui se radicaram, tanto sofreram para se estabelecerem quanto os índios que foram expulsos delas. Abrir caminhos, criar pastagens, preparar a terra, sulcá-la para organizar plantações, semear e esperar o tempo da colheita era um processo moroso. As regiões mais próximas distavam-se por léguas e léguas, o que tornava o abastecimento, com ferramentas, víveres e suprimentos, dispendioso para a lavoura. Foi uma tarefa árdua desbravar verdadeiramente essas terras, embora fossem os rios e as florestas, abundantes. Todavia, apesar de todas as dificuldades, o arroz, a cana e seus derivados como o açúcar, a rapadura, a cachaça, o melado; o café, o milho, o feijão, a criação de gado e a produção do leite e seus derivados, começaram a se tornar uma realidade. Pequenos engenhos foram sendo instalados e aos poucos, a mão-de-obra escrava vai se fazendo presente à medida que os proprietários, que receberam as terras das mãos de Manuel José Esteves de Lima e/ou Luís Francisco de Carvalho, os adquiriam. Os remanescentes das tribos Purís que ocupavam a região, os que não fugiram e nem foram mortos, imediatamente assimilaram a cultura do homem branco que aqui se instalara. Esta localidade, agora, detinha em seu seio as três grandes raças que a compunha: o índio, o branco e o negro que, misturando-se, deram origem ao cafuzo, ao mulato e ao caboclo. Todos trabalhando, segundo as ordens de seus senhores, para fazer com que essas terras progredissem. Como não poderia ser diferente de outros vilarejos que constituíam a Província do Espírito Santo. Ainda no decurso daquela querela, entre Luciano Lobato e Luís Francisco de Carvalho e entre bispos do Rio de Janeiro e Minas Gerais, pela disputa dessas terras, o Comendador José de Aguiar Valim e Luís Francisco de Carvalho, fizeram erigir, em 29 de setembro de 1859, uma capela em louvor ao Padroeiro do dia: São Miguel. Esse fato, futuramente, influenciaria nos destinos do que, mais tarde, tornar-se-ia um próspero município. Como resultado do esforço empreendido, em 1861, é criada a primeira Subdelegacia do local, denominada Subdelegacia de Polícia do Veado, tendo como sede a Paróquia de Alegre, e para ocupar o cargo de subdelegado com o objetivo de salvaguardar o novo distrito, foi nomeado o Comendador José de Aguiar Valim. Os mineiros não gostaram desta medida. Em contrapartida, a Assembléia Provincial Mineira criará o Distrito Judiciário de São Pedro de Rates, outorgando-lhe autonomia sobre o Distrito do Veado. Mais uma questão para ser decidida nos tribunais e, mais uma vez, o Espírito Santo sai vencedor: o Imperador D. Pedro II, através do Decreto Imperial nº 3.043, de 10 de janeiro de 1863, determinava a linha limítrofe entre as duas Províncias, ou seja, o Rio Preto. Emergia assim o incipiente distrito que, ao longo da década de sessenta do século XIX, viria, como todos os distritos do Império de Sua Real Majestade D. Pedro II, contribuir com seus impostos para ajudar nas campanhas contra o Paraguai. Nessa década, ocorreu a primeira doação de terras em favor da futura Matriz: “no dia 09 de novembro de 1863, a Sra. Alzira Maria do Espírito Santo, o Sr. João José Justino Maria, o Sr. Alexandre Pereira Monteiro e outros, fizeram uma doação de terras, num total de um alqueire à São Bom Jesus do Veado”. Mais tarde, outra doação foi feita: Os Srs. José Benedito Viana e Silvestre Joaquim da Rosa, doaram terras, num total de dois alqueires à São Bom Jesus, com escritura particular, datada de 23 de novembro de 1869 (Livro do Tombo I, 1918). Pela Lei nº 9, de 13 de julho de 1866, foi criada a Freguezia do Veado, com a invocação de São Miguel e sua consolidação como Distrito subordinado ao Município de Cachoeiro de Itapemerim, se dará a 25 de março de 1867. E, na década de setenta do mesmo século, a então Freguezia do Veado terá, também como em todos os distritos brasileiros, seus primeiros escravos beneficiados pela Lei do Sexagenário e do Ventre Livre. As fazendas do Comendador José de Aguiar Valim e as propriedades de Luiz Francisco de Carvalho, também estavam submissas às essas Leis. Contudo, era raro o negro escravo que poderia ser beneficiado com a Lei do Sexagenário e, dificilmente se poderia ter um negro imediatamente beneficiado pela Lei do Ventre Livre, pois esta, na verdade, garantia ao senhor do escravo ficar com o negro à sua mercê até ele completar vinte e um anos de idade. Até aos sete anos, o pequeno moleque ficava com a mãe e, após esse período, durante quatorze anos, ele permaneceria trabalhando para o senhor para custear as despesas que este tivera no período dos sete primeiros anos de vida do pequeno e futuro escravo temporário. Deste modo, podemos compreender a razão de nossa pequena e incipiente cidade, ter sido berços escravos, considerando que somente Luiz Francisco de Carvalho possuía mais de cem deles. Ainda nesta década, pela Lei nº 1, de 7 de outubro de 1872, foi criado o Distrito da Paz, no lugar denominado Veado, do termo da Vila de Cachoeiro de Itapemirim. A década de oitenta do referido século, seria testemunha de novos tempos. O lugar denominado de Freguezia era composto de inúmeras e prósperas fazendas. Os que aqui outrora se instalaram, começava neste período a divisão de suas propriedades de modo mais particular. Seus filhos cresciam e começava a se dar em casamento o que proporcionou o surgimento de uma nova geração, a segunda dos primeiros colonos que aqui se estabeleceram. Essa nova geração escreveria num futuro bem próximos, através de seus filhos e netos, as páginas de nossa história. Antes, porém, ela testemunharia a assinatura do Decreto-Lei nº 18, de 3 de abril de 1884, pelo qual, a Freguezia de São Miguel do Veado era desmenbrada do Município de Cachoeiro de Itapemirim e vinculada a Alegre. Entretanto, no final desta mesma década, a 11 de novembro de 1890, pelo Decreto Estadual nº 53, eles avalizariam a confirmação da Lei Provincial de 1884, que determinava a instalação de Intendências Municipais. Assim, os representantes da Freguezia de São Miguel do Veado, estiveram presente na solenidade do Ato de criação da Intendência Municipal de Alegre, fato que se consolidaria a 6 de janeiro de 1891, o Comendador Francisco Ourique de Aguiar será um deles. A 15 de novembro de1895, o Estado do Espírito Santo é agraciado com a criação de seu Bispado[5], tendo a capital Vitória por sede. Em conseqüência desse fato, a Paróquia de Nossa Senhora da Penha de Alegre, em 23 de novembro de 1897, será desligada do Bispado de Mariana, e, logo em seguida, ligada ao Bispado do Espírito Santo. Tudo isso por intermédio da Bula Santíssimo Domino Nostro. De acordo com o Livro de Tombo que começou a ser escrito, a partir do ano de 1918, pelo Monselhor Miguel de Sanctis, considerado o Patriarca religioso deste município de Guaçuí/ES, ele inicia sua narrativa reportando-se às reminiscências do passado, especialmente, com citações referentes aos anos de 1863 e 1869, onde se pode observar os motivos que fizera com que seu bispo o nomeasse para vir substituir o então reverendíssimo Sr. Pe. Carlos Regattieri. Aquele padre entregou ao Monsenhor Miguel, apenas os livros de batizados e casamentos pois, os livros paroquianos não existiam. Razão pela qual não se encontra nenhum registro dos acontecimentos paroquiais antes de 1918, o que representa uma lacuna de cinquenta e cinco anos de nossa história paroquial. Portanto, deste período sem registros, só nos foi possível obter informações, segundo a Tradição Oral, através das quais se afirma que no local onde, hoje, está erigida a Matriz, fora construída uma pequena capela em louvor e honra a São Miguel Arcanjo. Todavia, em documentos datados no ano de 1895, pertencentes ao Arquivo Eclesiástico de Mariana/MG de 1895, afirma-se que aquela capela erigida estava sob a jurisdição do bispado de Mariana. Entretanto, no mesmo ano de 1895, a pequena Paróquia de São Miguel era submetida sob a jurisdição do recém criado bispado da Província do Espírito Santo, com sede em Vitória/ES. Segundo as narrativas registradas pelo Monsenhor Miguel, quando aqui chegou, em 11 de dezembro de 1918, ele afirmou: “(...) tanto o templo da pequena capela quanto a Igreja em si, encontravam-se em estado de completo abandono: faltava asseio, a pobreza e a miséria eram enormes. O lado moral do povo estava, também, muito descuidado e o povo não era doutrinado cristãmente” (SANCTIS, Miguel de. Livro do Tombo I, 1918). 2.3 Transformações ocorridas na paróquia, especialmente entre os anos de 1972 a 1980 O Bem Aventurado Papa João XXIII no seu discurso de inauguração do próprio CVII afirmou que "o que mais importa ao concílio ecumênico: que o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz". E ainda: "para que esta doutrina atinja os múltiplos níveis da atividade humana (os indivíduos, a família, a vida social) é necessário primeiramente que a Igreja não se aparte do patrimônio sagrado da Verdade recebido dos seus maiores", essa afirmação é muito clara em seu objetivo, portanto, ninguém deve querer inventar uma nova fé. E ele não para por aí: "Ao mesmo tempo, deve também olhar para o presente, para as novas condições e formas de vida introduzidas no mundo hodierno que abriram novos caminhos ao apostolado católico". Esta é a finalidade do CVII (AZEVEDO JÚNIOR, 2012). Se o desenvolvimento da Igreja Católica Apostólica Romana no mundo e a sua organização nos níveis diocesano e paroquial iam a passos lentos até o início do século XX, começou a dar saltos grandes após o ano de 1965. A mudança maior se deu por ocasião do Concílio Vaticano II (1961-1965) que, sem afetar o dogma e o essencial da fé, modificou a fisionomia da Igreja. Diminuiu a pompa, e a autoridade passou a ser a Igreja de serviço, comunhão, anunciadora. Todo conceito de Igreja e de seu relacionamento com os fiéis foi revisto e adequado aos novos tempos. Da Igreja, dos paramentos e dos ritos, tirava-se o supérfluo. Talvez o fato mais significativo destas mudanças tenha sido quando o Papa Paulo VI, logo após sua eleição em 1963, tirou a tiara, o “tri-regno” que significava seu poder de profeta, sacerdote e rei e no fundo lembrava o autoritarismo dos Reis e do Sacro Império Romano. Seu sucessor, o Papa João Paulo I, decidiu trocar a “coroação” por uma cerimônia que ele chamou de “Inauguração do Supremo Pontificado”. Mais tarde, o Papa João Paulo II na homilia de sua eleição disse: “O último Papa a ser coroado foi Paulo VI em 1963, mas depois da coroação solene, ele nunca mais usou a tiara e deixou liberdade aos seus sucessores de fazê-lo. Não é tempo de voltar a uma cerimônia e a um objeto agora considerados erroneamente, como símbolos do poder temporário dos Papas. “Nosso tempo nos chama, urge-nos, obriga-nos a olhar o Senhor e mergulhar-nos numa meditação humilde e devota sobre o mistério do poder supremo de Cristo mesmo”. Até a publicação da Constituição “Sacrosanctum Concilium” sobre a Sagrada Liturgia, dia 04 de dezembro de 1963, todo culto da Igreja era em latim: leituras bíblicas, missas, casamentos, tudo enfim, sem dar aos fiéis a possibilidade de compreensão. O padre celebrava a missa de costas para o povo, sem diálogo, comunicação, enquanto os fiéis se ocupavam de alguma outra devoção, como o terço ou outras orações e, de açodo com Azevedo Júnior (2012): Os coroinhas se orgulhavam de saber responder em latim: “Et cum spiritu tuo”. E, continua: De repente, o padre se dirigiu à comunidade na sua língua, olhando no rosto das pessoas, dialogando e se comunicando. A assembléia passou a ser ativa, participante. Os leigos proclamavam as leituras bíblicas na missa e até mulheres que antes, com véu na cabeça, não podiam subir os degraus do presbitério agora faziam leituras. Mais ainda... Eram ministros e ministras extraordinários da comunhão eucarística, levavam a hóstia consagrada aos enfermos nas suas casas e nos hospitais e, em caso de necessidade, administravam os sacramentos do Batismo e do Matrimônio (AZEVEDO JÚNIOR, 2012). Assim, o Concílio Vaticano II deu uma nova vida à Igreja. Todavia, muitos bispos tinham certa resistência quanto ao abandono da batina e o uso do clergyman (terno com colarinho). Mas muitos mudaram, assim como também a Igreja mudou! Nascia, então, o novo tempo da participação dos leigos. No Brasil, a partir de 1968, começaram, em inúmeras dioceses, os grandes movimentos dirigidos por leigos. Vinha o Cursilho da Cristandade e com ele uma série de encontros, grupos de jovens, jornadas cristãs, movimentos, o treinamento de Liderança Cristã (TLC); etc. Todos eles dirigidos por leigos. Milhares de jovens, adultos e casais passaram por estes cursos. Em geral, saíam entusiasmados, comprometidos. E a Igreja tomou uma nova feição! Daí nasceu as novas pastorais. Não adiantava só converter-se; era preciso tornar-se missionário, levar a palavra de Deus a todos os setores. Nesse sentido, a segunda fase da história de nossa Paróquia, se assim podemos denominar, de 1972 a 1990, foi marcada pela participação ativa dos leigos. Os Bispos de nossa diocese foram os grandes promotores de encontros, respectivamente Dom Luiz Gonzaga Peluzzo e Dom Luis Mancilha Vilela. Nunca deixaram de comparecer ao encerramento dos cursilhos e muitas vezes eram também, cada um a seu tempo, seus diretores espirituais, assim como dos movimentos de casais e jovens. Entretanto, o Espírito sopra onde quer. Porém, em nossa Paróquia, foi somente a partir de 1972 que se deu início ao processo de implantação das mudanças inovadoras do Concílio Vaticano II. Isto porque ela ficara vacante em decorrência da morte de Monsenhor Miguel de Sanctis, em 1971, que a administrara por cinqüenta e três anos consecutivos. Assim, como ocorrera com muitos bispos do Brasil, também em nossa paróquia pôde-se perceber, em relação às inovações conciliares, forte resistência da parte da maioria dos leigas e leigas acostumadas com aquele antigo modo de “ser igreja”, sobretudo, daqueles que eram colaboradores do padre recém falecido. Fato que deu origem a duas correntes de católicos em nossa paróquia: conservadores e renovadores. Apesar da forte resistência e influência dos conservadores que orientavam a um grande número de fiéis a não aceitarem as inovações pós-conciliares, os renovadores progridem, paulatinamente, com a implantação das novidades trazidas pelo Concílio Vaticano II. “A Igreja que não se renova, morre, pois ela só será jovem quando o jovem for Igreja” (Pe. Enio Fazolo, 1976) A começar pela abertura do espaço concedido aos jovens, foi-lhes permitido missas, especialmente aos sábados. Essa concessão a juventude pode ser considerado o marco inovador das transformações ocorridas na Paróquia de São Miguel Arcanjo de Guaçuí/ES, uma vez que traziam seus pais para as referidas missas de sábado. Não obstante, com a criação Movimento de Jovens Cristãos de Guaçuí – o MJCG -, vieram ocorrer os Encontros de Jovens Cristãos que, para tanto, exigia-se a presença de pais que davam apoio servindo na cozinha, na confecção de lembranças, apoio logístico de externa e encerramento de encontros etc. Do mesmo modo, os jovens empreenderam, ao menos três vezes por ano, campanhas de “Amor ao Próximo” que, também, envolviam seus pais que, motivados pela participação dos filhos na Igreja, se dirigiram para Cachoeiro para fazerem o Cursilho de Cristandade. Fato que ocasionou a criação do Movimento Decolores em nossa Paróquia no ano de 1974. Neste mesmo ano aconteceu, no mês de junho, a Primeira Jornada Cristã para jovens, motivada pelo saudoso Padre Antônio das Mercês Gomes – O Pe. Tonico. Posteriormente, inúmeras outras ocorreram, especialmente para os pais, para adolescentes, para domésticas, e a segunda, terceira e quarta para jovens. Em decorrência disso, pôde-se perceber que aquele grupo de conservadores já não apresentavam tanta resistência às inovações pós-conciliares. Embora, alguns ainda recorriam a missas e batizados na vizinha paróquia de Varressai-RJ, que mantinha viva aquele modelo de Igreja pré-conciliar, como mantém ainda hoje. Contudo, a partir de 1976, é que se pode registrar considerável avanço no conjunto de transformações, pois, com a introdução do Ministério Extraordinário da Distribuição da Eucaristia, leigos escolhidos criteriosamente partilhavam com o pároco da administração paroquial, sobretudo, no campo da evangelização. A partir do referido ano inaugura-se o Curso de Noivos, o que exigiu a formação de uma equipe de casais para se ministrar o referido curso. E o movimento de Jovens, amparados pelas mulheres da OVS, começa enviar jovens para os seminários, bem como, em 1978, criam o Movimento Cristão de Adolescentes – o MOCA -, movimento este que, além de protagonizar grandes momentos referentes à história da Paróquia de São Miguel Arcanjo de Guaçuí/ES, veio se tornar um grande instrumento de evangelização. Desse grupo de adolescentes originou: a primeira confecção de tapetes de Corpus Christi; a ordenação de dois padres Jesuítas; as procissões da semana santa com apresentações teatrais; a promoção de Encontros de Adolescentes em inúmeras paróquias circunvizinhas; e, o grupo teatral Gota, Pó e Poeira que, ainda hoje, se destaca no cenário nacional. Ainda no mesmo ano de 1978 cria-se uma equipe responsável para ministrar cursos para casais, sendo que essa equipe é escolhida dentre aqueles que faziam parte do Grupo de Cursilhistas que, aliás, foi o grande responsável e promotor de diversas campanhas das quais se teve origem os recursos necessários para a construção da nova Casa Paroquial, como também, das Igrejas das Comunidades de São Paulo Apóstolo e Santa Catarina além, é claro, das inúmeras reformas exigidas no prédio da Matriz de São Miguel. 2.4 A Paróquia de São Miguel Arcanjo nos anos 80 Todos os homens, que são pessoas dotadas de razão e de vontade livre e por isso mesmo com responsabilidade pessoal, são levados pela própria natureza e também moralmente a procurar a verdade (Concílio Vaticano II, Dignitatis Humanae, 2. In Compêndio do Concilio Vaticano II, 1991). Acompanhando o processo de crescimento religioso na Paróquia de São Miguel Arcanjo percebeu-se que, nos anos 80, não se identificava tanto quanto na década anterior, aquela resistência apresentada pela ala de fiéis conservadores. Embora muitas outras inovações estavam ainda por acontecer, a tendência para abrir-se para o novo modelo de “ser igreja”, segundo as propostas inovadoras do Concílio Vaticano II, era muito forte. O que contribuiu muito para que isso ocorresse foi, de fundamental importância, a chegada de Dom Luiz Mancilha Vilella em nossa Diocese. Homem profundamente aberto para o novo, cujas idéias pastorais e planos administrativos, muito contribuíram para o desenvolvimento e crescimento espiritual não somente de nossa Paróquia, mas de toda a diocese de Cachoeiro de Itapemirim. A divisão da diocese em regionais, a formação de grupos de estudos para estudarem os documentos conciliares e os documentos da CNBB, a criação das Escolas de Teologia e Pastoral, a implantação do curso para Testemunhas Qualificadas do Matrimônio, a criação do curso para Ministros Extraordinários da Distribuição da Eucaristia, a ordenação de novos padres e a adesão à corrente de pensamento fundamentado na Teologia da Libertação, a formação dos Conselhos Pastorais Diocesanos e, consequentemente, a formação de Equipes Diocesanas para ministrarem Cursos de Formação, bem como, a formação de Equipes Paroquiais com o mesmo objetivo, a ascensão dos movimentos de adolescentes e jovens; o crescimento participativo de casais em equipes de cursilho de cristandade, encontros conjugais, o surgimento das pastorais, em meados dos anos 80, foram fatores marcantes que geraram momentos que possibilitaram a inserção de uma grande maioria de fiéis numa nova realidade religiosa que não podia mais ser ignorada. Então, a consolidação das idéias e inovações propostas pelo Concílio Vaticano II, eram iminentes. Diante de tantas orientações e inovações implantadas pelo novo Bispo da Diocese de Cachoeiro de Itapemirim, a Paróquia de São Miguel Arcanjo de Guaçuí/ES, não ficou alheia a tantas novidades e, nesse sentido, com muito entusiasmo alegria se podia registrar que uma nova fase estava sendo inaugurada em nossa paróquia, pois se desenhava uma nova face para a Igreja de São Miguel, ou seja, um novo rosto, um novo retrato estava surgindo, uma vez que o planejamento pastoral, inserido pelo Bispo, havia sido entendido. Então, naquela década, se pôde registrar na Paróquia de São Miguel Arcanjo, contínuos avanços. Percebeuse o forte crescimento e a ascensão do grupo de cursilhistas, cujas reuniões ocorriam as terças, sob a orientação espiritual do pároco que se fazia sempre presente, animando e incentivando, sobretudo, quando se tratava dos meses de maio e setembro que eram embalados, respectivamente, pelas quermesses diárias do Mês de Maria e pela Novena de São Miguel, sendo a primeira coordenada por inúmeros grupos como, por exemplo, adolescentes, jovens, apostolado da oração, legião de Maria, vicentinos etc.; e, a segunda, pela atuação das equipes formadas pelos cursilhistas, no Restaurante Decolores. Fato que contribuiu imensamente para a consolidação das inovações propostas pelo Concílio Vaticano II na Paróquia de São Miguel Arcanjo, foi a chegada do Padre Galeno Martins de Oliveira que, tão logo foi apresentado aos fiéis, tratou de assumir as celebrações dominicais das dez horas – especial para crianças -, e apoiar os grupos de adolescentes e jovens e, imediatamente, fomentou a criação do Festival de Música Sacra ou Festival de Música Mensagem como passou a ser conhecido. Esse festival tornou-se um instrumento de evangelização, pois congregava inúmeras paróquias no evento que sempre acontecia, anualmente, no mês de junho. O apoio dado aos grupos de adolescentes e jovens favoreceu a implantação das Campanhas de Amor ao Próximo. Nesta campanha, crianças, adolescentes e jovens, juntamente com seus pais, e assessorados por representantes dos demais movimentos, saiam à noite, noites frias do mês de julho, às ruas arrecadando gêneros alimentícios, roupas e cobertores, que seriam doados aos pobres e famílias carentes do município de Guaçuí. No balanço, após trinta dias de campanha, registrava-se a arrecadação de toneladas de alimentos, milhares de peças de roupas, centenas de pares de sapatos, botas, sandálias, chinelos e centenas de cobertores, que eram entregues aos vicentinos, incumbidos de fazerem a distribuição de todas as doações recebidas. Aqueles adolescentes e jovens, influenciados pelo novo modo de ser igreja e como que inspirados faziam, sem saber, acontecer as inovações do Concílio Vaticano II, pois atuavam com esmero e dedicação. Dentre tantos fatos marcantes daquele período, podese destacar um inusitado, ou seja, “a operação do filho do Zé”. Sim. Isso mesmo! Aquele grupo de adolescentes assumiu, com o apoio do pároco, uma operação particular, para um problema de saúde raro na época, que só podia ser feita em caráter particular e cujo valor era correspondente ao preço de um carro popular – OKM -. Com um bilhetinho, escrito pelo pároco, eles procuraram o destinatário do bilhete – um homem de posses, mas de um coração extremamente generoso – senhor Sebastião Liparizi – que não hesitou em atender aquele pedido. Uma vez concluída a operação em um hospital de Petrópolis – RJ, aqueles adolescentes se propuseram em realizar inúmeras campanhas para arrecadar dinheiro para se pagar o valor do empréstimo. Nesse sentido realizaramse, rifas, gincanas, bingos, quermesses e tantos outros eventos que contaram com a participação de todos os movimentos da igreja, mas sempre coordenados pelos adolescentes. Com a quantia em mãos, aqueles adolescentes se dirigiram ao doador para lhe devolver o dinheiro que fora emprestado. Interessante é que, no domingo seguinte, ele nos visitou e doou aquela mesma quantia para o grupo de adolescentes utilizarem em prol de outras pessoas. Um fato inusitado que marcou a existência do Movimento Cristão de Adolescentes da Paróquia de São Miguel – o MOCA[6]. Em meados da referida década já não se sentia mais a resistência dos conservadores. Aparentemente tinha-se a impressão que a realidade de Atos 2,42 era uma realidade, pois, o fervor religioso era muito forte. Tão forte que as mulheres responsáveis pelas Obras das Vocações Sacerdotais (OVS) apresentavam nomes de jovens para a formação em seminários. Assim, alguns nomes foram indicados: Eliomar Ribeiro de Souza e Kleber Chevi, considerando que estava iminente a ordenação do jovem Sebastião Carlos Pirovani que também havia sido fruto do calor religioso que envolvera os jovens naqueles inícios dos anos 80. Sebastião fora ordenado Presbítero em 15 de dezembro de 1987. Ao mesmo tempo, em decorrência da formação daquela Equipe Diocesana, criada para ministrar cursos de formação para novos Ministros Extraordinários da Distribuição da Eucaristia, promoveu-se um curso de formação, a nível diocesano nesta paróquia. Assim, a instituição de novos MEDDE’s, veio fortalecer as inovações e homologar as transformações iniciadas na década anterior. O primeiro grupo de MEDDE’s era composto por doze homens que se colocavam a serviço da Eucaristia, mas, também a serviço da Palavra de Deus. O autor desta Monografia foi o último convidado a compor aquele grupo no qual se encontravam os seguintes membros: José Cirilo Sana, Fausto costa Beber, Amilcar Valentin, Didimo Aguiar, Borges, Professor Geraldo, Orli do Carmo Morais, Henrique Daumas de Almeida, Swedan Rafael de Oliveira, Antônio Gomes de Carvalho, Pedro Renato Vieira e, conforme já se mencionou o último, Miguel Aparecido Teodoro. Posteriormente, conforme se ministravam novos cursos de formação para MEDDE’s, abriu-se espaço para a inserção das mulheres no mesmo ministério, dentre as quais se podem mencionar: Ana Barbosa Sana, Marina Beber e Cacilda Gonçalves. Posteriormente, Maria Mercedes Vargas Muller, Maria Vitório, Maria Rita Ramos, Terezinha Vargas, Ana Maria Moraes Teixeira e tantas outras mulheres de boa vontade. Aqueles abnegados 12 homens, servos de Deus, a serviço da Eucaristia, não mediam esforços para atender a todas as Capelas – pois, era assim que eram conhecidas as hoje, denominadas Comunidades Eclesiais de Base -, sol, chuva, noite, dia, asfalto, estrada de chão, poeira ou lama, não representavam obstáculos para o cumprimento da missão de se ministrar a Eucaristia a quem necessitasse, ou mesmo a partilhar a Palavra em alguma celebração. Nos últimos quatro anos da década de 80, sete acontecimentos consolidaram o processo de transformações iniciados nos anos 70. Em primeiro lugar, desta vez, a Paróquia envia seu primeiro vocacionado para o Curso de Formação para Diáconos Permanentes: Miguel Arcanjo Azevedo que, após ter completado o período de formação, seria ordenado Diácono em 04 de dezembro de 1994; Em segundo momento, convoca-se os fiéis a para a realização da primeira Assembléia Paroquial que veio acontecer no ano de 1987. Como conseqüência da realização da referida Assembléia, implantou-se o sistema de dízimo e criou-se, em quarto momento, a primeira Equipe para compor o Conselho Econômico da Paróquia, que foi formado pelos seguintes membros: João José Barbosa Sana, José Lúcio Sárria, Miguel Arcanjo Azevedo, Miguel Aparecido Teodoro, Maria das Graças Pereira, Maria Lúcia Zini e Maria Inês Zini. Essa equipe, em atendimento ao planejamento pastoral do senhor Bispo, foi a grande responsável pela divulgação do novo projeto de evangelização e orientação para a formação das que viriam a ser, futuramente, as Comunidades Eclesiais de Base da Paróquia de São Miguel Arcanjo de Guaçuí/ES. Os três outros fatos que marcaram profundamente o final daquela década, foram a realização, a nível diocesano, do 1º Encontro de Jovens, no qual se reuniu cerca de 1 300 jovens de toda a diocese nesta Paróquia; a inauguração do templo da Igreja de São Paulo, hoje Comunidade São Paulo Apóstolo e, por fim, o envio de mais trinta fiéis para cursar a formação em Teologia e Pastoral, curso ministrado pela Escola de Teologia e Pastoral de Alegre/ES. Como resultado do desprendimento do inesquecível Padre Galeno, bem como, da dedicação dos membros do grupo de cursilhistas ou, como são conhecidos, do grupo Decolores é importante ainda ressaltar que o final desta década, também foi marcado pela despedida de Padre Enio Fazolo e Padre Galeno Martins de Oliveira; e, também, pela formatura, em Teologia e Pastoral, daqueles fiéis que foram enviados à Escola de Teologia e Pastoral de Alegre/ES. 2.5 A organização paroquial nos anos noventa "Paulo e os Atos dos Apóstolos parecem de repente ganhar vida e se tornar parte do presente. O que era realmente verdadeiro no passado parece estar acontecendo de novo diante dos nossos olhos. É uma descoberta da verdadeira ação do Espírito Santo, sempre atuante, como Jesus prometeu. Ele mantém a sua palavra. É mais uma vez uma explosão do Espírito de Pentecostes, uma alegria que tinha se tornado desconhecida para a Igreja" (CARDEAL SUENENS, 1992). O início dos anos noventa foi marcado com a chegada do Padre Pedro Scaramussa. Ninguém o conhecia. No entanto, em sua bagagem pastoral trazia consigo uma modelo de igreja que ainda não era conhecido por nenhum dos fiéis. Apesar de todas as conquistas realizadas na década anterior, ainda não nos aproximávamos do modelo de igreja exigido, conforme os desejos do senhor Bispo diocesano. Deste modo, Padre Pedro Scaramussa se ocupou logo de formar novas equipes e ia lhe atribuindo funções para que, tão logo, pudéssemos alcançar os objetivos aos quais se propunha, conforme as diretrizes elencadas, não somente pela CNBB, mas, também, pela própria diocese. Assim, o referido padre tratou logo de dividir a Paróquia em setores e, visando a descentralização da Matriz, os setores em comunidades. Deste modo, surgiram as primeiras Comunidades Eclesiais de Base em nossa Paróquia, sendo elas: São Miguel Arcanjo, São Judas Tadeu, Nossa Senhora Auxiliadora,, São Sebastião, São Lucas, São Francisco de Assis, São Luiz, São José Operário, Santa Catarina, Nossa Senhora das Graças, Santo Antônio (urbano), Santo Antônio (rural), São Felipe, Nossa Senhora Sant’Ana, São Mateus, Santa Luzia, São Paulo Apóstolo, São Pedro de Rates, São Pedro Apóstolo. Nossa Senhora da Penha, Nossa Senhora Aparecida, São Domingos, São Bento, Divino Espírito Santo, Nossa Senhora das Medalhas; e, posteriormente, foram criadas mais duas comunidades: Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora da Glória. Tão logo se criou as CEB’s, deu-se início ao processo de construção de seus Templos. Assim, no presente momento, somente as duas últimas não possuem seus templos. Entre tantas mudanças, teve origem, também neste período, mais precisamente no final de 1992, a formação da primeira equipe para compor a Pastoral da Comunicação que fora inaugurada no início de 1993, sob a coordenação de Miguel Aparecido Teodoro. Essa equipe tinha como principal missão, a realização de um programa diário na rádio local – 90.5 FM – denominado “A Hora do Ângelus”. Os demais membros eram: Ana Maria Morais, Déia Vieira Paraíso Ferreira e Edna Viana Cardoso. Com a criação das CEB’s fez-se necessário a formação de novos MEDDE’s e a implantação do curso de Ministros Extraordinários para a Pregação da Palavra de Deus – MEPPD -. Assim, no ano de 1994, quando se inaugurava, concomitantemente, a criação da Escola de Teologia e Pastoral Dom Bosco e a criação da Pastoral da Saúde, a Paróquia já contava, entre MEDDE’s e MEPPD, mais de trezentos ministros extraordinários. Ao final deste mesmo ano, em 04/12, o vocacionado Miguel Arcanjo Azevedo era ordenado Diácono Permanente, e, nos auspícios do ano seguinte consolidou-se a implantação das seguintes pastorais: liturgia, juventude, criança, catequese, família, crisma; consolidou-se, ainda, a implantação de Círculos Bíblicos em todas as CEB’s e organizou os Conselhos Comunitários (CC), Pastorais (CPC) e Paroquial (CPP), ao mesmo tempo em que se iniciava a primeira reforma do Templo da Matriz. Essa reforma, porém, foi causa de um conflito entre a Paróquia e o Poder Público Municipal, pois, em decorrência de um Decreto-Lei, sancionado pelo prefeito municipal, a Paróquia ficara proibida de efetuar as reformas necessárias no referido Templo. Deste modo, foi preciso a intervenção do senhor Bispo Diocesano que, através da emissão de uma carta que visava orientar todos os fiéis, também, buscava esclarecer pontos obscuros sobre a ação do poder público. Assim, o programa “A Hora do Ângelus” tornouse forte instrumento para a divulgação da referida carta do Bispo., o que provocou a revogação do Decreto-Lei e o prosseguimento das obras da reforma do Templo da Matriz. Nos anos que se seguiram, em seu projeto de organização da Paróquia de São Miguel Arcanjo, Pe Pedro Scramussa revelou-se como um grande construtor; ou seja, um verdadeiro levantador de paredes, fazendo-se construir, particularmente, os templos das Comunidades: Santa Catarina, Divino Espírito Santo, São José, São Judas, São Felipe; e, iniciou a construção do Templo da Comunidade São Mateus. Construiu ainda, as seguintes salas: de vídeo, as cinco da Catequese, a da Legião de Maria, da Liga Católica, a que hoje serve a Loja da Livraria Diocesana, a sala da Pastoral da Saúde; e, o auditório do Apostolado da Oração. Como se não bastasse, deu início à segunda reforma e ampliação do Templo da Matriz de São Miguel – obra inaugurada na gestão de seu sucessor. Essa década ainda fora marcada pela ascensão do grupo da Renovação Carismática. Fato que veio somar, em conjunto com os demais movimentos existentes, para o trabalho de evangelização foi o envio, em 1998, de cinco vocacionados para cursarem a formação diaconal; a ordenação presbiteral, em 31/07/99, de Eliomar Ribeiro de Sousa; e, em julho de 2000, a de Kleber Chevi. Esses dois últimos fatos marcaram a Paróquia, devido a chegada de centenas de missionários, oriundos de diversos estados do Brasil, como também, de outros países, para a realização da Semana Missionária, que antecedendo o momento das duas ordenações, aconteceu em toda a Paróquia de São Miguel Arcanjo, o que proporcionou muitas conversões de cristãos em todas as comunidades. 2.6 A continuidade organizacional Ao se olhar para o passado, pode-se afirmar que, nos fins dos anos 90 e nos dois anos seguintes do Novo Milênio, a Paróquia de São Miguel Arcanjo de Guaçuí/ES, se encontrava dentro das inovações mínimas propostas pelo Concílio Vaticano II, como também, atendia as expectativas do plano pastoral do senhor Bispo Diocesano e das Diretrizes da CNBB, pois tudo que fora implantado na referida década estava produzindo muitos frutos, uma vez que, em todas as comunidades, se tornara realidade a presença de todas as pastorais, grupos de formação, ministros da Eucaristia e da Palavra, Círculos Bíblicos e Coordenadores em geral. Assim, no que se relaciona à organização paroquial, ousa-se dizer que restava pouco para o sucessor, do Padre Pedro Scaramussa, realizar. No entanto, a partir do ano 2002, o novo pároco empreendeu a continuidade das reformas e ampliação do Templo da Matriz, que seria reinaugurado dois anos e meio mais tarde. Continuou os trabalhos celebrativos, tanto na Matriz quanto nas Comunidades, e buscou implantar, na iminência de se descobrir novas vocações, os Encontros Vocacionais. No final deste mesmo ano, a Paróquia ganha mais dois Diáconos Permanentes, pois são ordenados, em 22/12, os candidatos Lorival Dutra Miranda e Miguel Aparecido Teodoro, que, ambos, no exercício do referido ministério têm prestado valoroso trabalho na Celebração da Palavra, ministrando batismos, assistindo a casamentos, ministrando aulas na Escola de Teologia e Pastoral, palestras em cursos de formação, e animando comunidades. Os anos seguintes, até 2006, foram marcados por inúmeros cursos ministrados para formação de novos Ministros da Eucaristia e da Palavra, bem como, para formação de novos catequistas e membros de equipes litúrgicas. Vale ressaltar a chegada das Irmãs Sacramentinas de Bérgamo que, por um período de seis anos, muito contribuíram para o trabalho de evangelização e formação espiritual em nossa Paróquia. Pode-se, ainda, registrar, o surgimento dos grupos de Encontro de Casais com Cristo (ECC) e Encontro de Adolescentes com Cristo (EAC). 3 A AÇÃO DOS PARÓCOS NO PERÍODO DE 1918 A 2008 3.1 Pe. Miguel de Sanctis[7] (Administração: 11/12/1918 a 29/09/1971 Após ter sido ordenado padre na Itália, Miguel de Sanctis recebe a missão de vir para o Brasil, onde foi designado, a 11 de dezembro de 1918, a assumir a administração paroquial da cidade de São Miguel do Veado. Seu meio de transporte era, às vezes, um cavalo, um burro ou uma pequena mula, sobre os quais viajava para evangelizar quatro lugarejos, ou seja: São Miguel do Veado que, posteriormente teve o nome mudado para Siqueira Campos e, mais tarde, Guaçuí; São José do Calçado, Dores do Rio Preto e Imbuí (Atual cidade de Divino de São Lourenço). Ele dedicou toda a sua vida sacerdotal em prol de Guaçuí. Com esmero e dedicação, por longos seis anos, empreendeu, inicialmente com seus próprios recursos a construção do Templo a São Miguel – hoje, denominado de Igreja Matriz de São Miguel Arcanjo. Ainda com seus parcos recursos, padre Miguel adquiriu também o prédio do que seria o futuro Ginásio São Geraldo – Educandário que dirigiu até o ano de 1971. Para superar a situação religiosa precária em que se encontrava o povo, ele começa celebrar e a pregar e, de início cria as primeiras escolas de catecismo, na capela erigida em 1859 e em todas as capelas que estavam sob a sua direção. As freqüências dos paroquianos às celebrações eram praticamente nulas. Dizia o jovem padre: “mesmo que se queimem todas as esperanças, por certo, ainda restarão as suas cinzas”. E, movido por um Espírito abrasador, solicita ao Senhor Bispo que se dignasse a enviar missionários para ajudá-lo a inflamar os corações dos paroquianos. Assim, a pequena paróquia toma novo rumo, e o pároco recém-empossado se impôe pela sua personalidade perseverança, cultura e dedicação. A solicitação do envio de missionários lhe é atendida pelo senhor Bispo e, deste modo, em 10 de setembro de 1919, os missionários iniciam suas pregações na sede da Freguezia, permanecendo por dez dias, até o dia 25 de novembro de 1919, perfazendo um total de seis capelas. A 29 de setembro de 1920, o Pe. Miguel formou a primeira comissão para tratar da construção do novo templo. Ficando assim constituída: • Presidente: Padre Miguel de Sanctis. • 1º Vice-Presidente: Coronel Cláudio Miranda. • 2º Vice-Presidente: Coronel Joaquim de Aguiar • 1º Tesoureiro: Coronel Virgílio de Aguiar. • 2º Tesoureiro: Capitão Athaídes Ribeiro • Secretário: Capitão Custódio Martins Carneiro. Durante três longos anos nada foi feito, em conseqüência de alguns conflitos originados da cobrança do aforamento. O Senhor Bispo diocesano quis regularizar tudo a respeito do patrimônio paroquial, o que o fez nomear o Pe. José Lidwin para tratar das medições das terras e escolher o fabriqueiro. O fabriqueiro media posses. Como a propriedade da Igreja havia sido invadida, o fabriqueiro escolhido, o Sr. Benedito, encontrou dificuldades em razão da resistência demonstrada por alguns invasores de terras, o que o torna passível de ameaças graves, pois, a diocese exigia a indenização referente às terras invadidas. Somente o Senhor Custódio Martins Carneiro e D. Maria Ambrozina Castro, cumpriram a missão de pagar tal indenização. Os demais, considerados fraudadores, deixaram tanto a paróquia quanto a diocese no prejuízo. Desta forma, o primeiro fabriqueiro não pode concluir o seu trabalho. Desse modo, foi nomeado um segundo, o Sr. Euclides Debbons cuja passagem foi marcada por atos inescrupulosos e, essa função foi concluída pelo Sr. Edward Emery. Assim, com todos os bens regularizados, as obras da Matriz seriam iniciadas, tão logo a planta fosse aprovada pelo Senhor Bispo diocesano. Suas dimensões eram as seguintes: 30 metros de comprimento, 14 metros de largura, 10 de altura com uma torre de 28 metros. Os alicerces com 80 cm e as paredes com 50 cm. Para iniciá-la, foram convidados os seguintes profissionais: construtor: Sr. Francisco Tallon, um italiano residente em Muniz Freire – ES. Carpinteiro-chefe: o Sr. Américo Lopes de Faria Lemos – MG. Pintor do teto e paredes: Sr. Benedito Simões. Engenheiro dos Altares: Sr.Luís Matheli. Para montar os três altares: o artífice Senhor Adolpho Oslegher . Os sinos: Casa Stemberg do Rio de Janeiro incumbiu-se de importá-los da Alemanha. Com a planta aprovada, os profissionais foram contratados e a Pedra Fundamental, abençoada em solenidade festiva realizada às quatro horas da tarde do dia 29 de setembro de 1923. Contudo, o povo não acreditava na realização desta obra. Várias tentativas em construí-la, haviam sido feitas na gestão do Pe. Bianor Emílio que antecedera ao Pe. Carlos Regathieri. A comissão formada por Pe. Bianor sumiu com o dinheiro arrecadado e 20 mil tijolos como parte do material que havia sido adquirido e quatrocentas sacas de cal, que foram roubadas pelos próprios membros da comissão de Pe. Bianor, que aplicaram o dinheiro e os materiais em obras particulares. Devido à sua ética moral, Pe. Miguel não registrou, naquele Livro de Tombo, os nomes dos membros que compunham a comissão formada por Pe. Bianor. Desacreditado, só e sem dinheiro, movido apenas pela fé em Deus, Pe. Miguel autorizou o início das obras sem nenhum recurso financeiro e dispôs a trabalhar como auxiliar dos construtores para torná-la uma realidade. Somente quando os primeiro resultados começaram a aparecer, é que os paroquianos sentiram que ela poderia ser concluída. De porta em porta, Padre Miguel pedia dinheiro para executá-la. Dia a dia, mês a mês, ano após ano, a comissão formada por Pe. Miguel, em 29 de setembro de 1920, não desanimara. Com a confiança restaurada e a colaboração e o entusiasmo dos fiéis, mais oficiais puderam ser contratados e, finalmente, em setembro de 1928, as obras foram concluídas, porém, sua inauguração veio ocorrer em 29 de setembro de 1929. A capela erigida, em 1859, por José Aguiar de Valin e Luís Francisco de Carvalho, cedeu lugar ao novo templo. A última missa celebrada na referida capela aconteceu em 29 de setembro de 1924, ano no qual a capela do Colégio São Geraldo foi nomeada Matriz provisória. Ressalta-se que ao demolirem a capela velha, inúmeras ossadas humanas foram encontradas pelos oficiais contratados e seus auxiliares. Tantos ossos levaram os oficiais construtores a concluir que a velha matriz havia sido erigida sobre um cemitério. De lá, as ossadas foram sepultadas onde hoje se encontra o cemitério localizado atrás da Matriz. No meio a tantas dificuldades encontradas para se construir o novo Templo da Matriz de São Miguel Arcanjo, é importante frisar que em 1924, a pedido do Senhor Bispo diocesano, foi arrecadado , em nossa paróquia, a quantia de 1.200,000 réis, que foram doados para ajudar na construção do Cristo Redentor da cidade do Rio de Janeiro, então Capital Federal do Brasil. Em janeiro de 1931, a população de Guaçuí era surpreendida com a novidade de que o nome do município havia sido mudado. Os administradores políticos do município, considerando que o nome “São Miguel do Veado”, de certo modo, denegria seus habitantes, procuraram o Presidente do Estado do Espírito Santo – Interventor João Punaro Bley - na tentativa de se encontrar uma solução para o problema. Por sugestão do próprio Presidente do Estado, o nome da cidade de São Miguel do Veado foi mudado para Siqueira Campos e, naquele referido ano, estava para se completar o 13º ano de administração paroquial do padre Miguel de Sanctis na referida Paróquia. Padre Miguel registra que, no ano de 1931, a Paróquia contava com cerca de três mil e quinhentos habitantes. Dentre eles os descendentes de índios, negros escravos e, é claro, por uma minoria proprietária das fazendas, herdeiros daqueles que colonizaram a região, de cujo principal legado pode-se destacar a devoção a São Miguel Arcanjo. Destaca, ainda, a presença de protestantes na região. Registra também que no mês de setembro daquele ano de 1931, uma forte tempestade de muitos raios, trovões e chuvas de granizo caíram sobre a cidade deixando suas casas totalmente destelhadas. O que forçou o prefeito a decretar estado de calamidade pública e, também, fez com que o presidente do Estado visitasse a cidade para ver de perto os estragos causados pela tempestade. Enfatiza que somente a Casa Paroquial e a Igreja Matriz não foram atingidas pela tempestade e não sofreram nenhum dano. Fato que fez com que a população e seus representantes políticos, sob a égide de suas pregações homiléticas, compreendessem que o ocorrido havia sido um castigo de São Miguel, imputado a todos que apoiaram a mudança do nome da cidade. Em decorrência disso, padre Miguel empreendeu fortes campanhas contra os políticos e contra o nome escolhido para o município. Sua perseverança fez com que, alguns anos mais tarde, se fizesse publicar pelo presidente do Estado, um novo decreto que alterou definitivamente o nome Siqueira Campos para Guaçuí. Como grande conhecedor de talentos, padre Miguel de Sanctis, influenciou a centenas de jovens a seguirem a vida sacerdotal. Sua oratória, fé e sabedoria espiritual e intelectual, levaram-no a representar o Brasil no Congresso Eucarístico realizado na Argentina na década de 50 do século passado, o que lhe atribuiu o título de Monsenhor. Monsenhor Miguel tornara-se um ícone e uma referência para os cristãos da cidade de Guaçuí-ES. Era, ao mesmo tempo, severo, carismático sério e brincalhão. Nunca deixou de atender àqueles e àquelas que o procurava. Era um grande evangelizador e educador religioso. Mesmo na sua velhice tratava a todos com carinho e o mesmo ardor e fé que o trouxeram para esta cidade com o objetivo de conduzir as almas para Deus, e na qual ministrou milhares de sacramentos. Sua fé e devoção a São Miguel Arcanjo levava-o a profetizar que morreria no dia em que a Igreja escolheu para que o mundo católico pudesse homenagear este poderoso Arcanjo de Deus -. E, assim aconteceu: no dia 29 de setembro do ano de 1971 ele foi encontrar-se com o Criador. Seus restos mortais, hoje, encontram-se sepultados, repousando em um túmulo dentro da Capela do Santíssimo, na Matriz de São Miguel Arcanjo que ele mesmo construiu. É muito comum que pessoas de todo o Brasil, e até mesmo do exterior, venham visitar, neste dia, o Patriarca religioso do povo de Guaçuí-ES. No mesmo dia, foi nomeado vigário substituto, provisório da Paróquia, Pe. Armando Geerts e, somente em 27 de fevereiro de 1972, tomou posse como vigário, o Pe. Félix Pardo Orje. 3.2 Pe. Armando Geerts (29/09/1971 a 27/02/1972 Por um período de cinco meses, Pe Armando, assistiu, dentro de suas possibilidades, à nossa Paróquia, fazia-se presente celebrando as missas dominicais, atendia a confissões e ministrava os sacramentos. Pouco pode realizar, pois era o administrador da Paróquia do município de São José do Calçado/ES e, como tal, tinha que atender às necessidades de sua Paróquia. 3.3 Pe. Felix Pardo Orje[8] (1972 a 1975) O que se pode registrar na administração de Pe. Félix foi a criação, em outubro e novembro de 1973, das conferências das damas de caridade e o aprimoramento e aperfeiçoamento da equipe de cursilhistas de Guaçuí, bem como, a inserção e o forte crescimento da participação dos jovens nas Missas, uma vez que o Movimento de Jovens Cristãos (MJC) ganha relevância. Observa-se também a importância dos inúmeros Encontros Jovens (EJC), Treinamento de Liderança Cristã (TLC); em 1974 o surgimento das Jornadas Cristã para jovens, adultos, casais e, posteriormente, para adolescentes que eram ministradas pelo saudoso Pe. Antônio das Mercês Gomes – o Pe. Tonico – da Diocese de Juiz de Fora. Neste período destaca-se o valor e a participação das mulheres, que cuidavam dos inúmeros jovens que foram encaminhados para diversos seminários. Entretanto, por motivos familiares, Pe Félix se vê obrigado a deixar, não somente a Paróquia, mas também se viu na obrigação de pedir, à Santa Sé, dispensa do sacerdócio. Razão pela qual que, em 1º de julho de 1975, é nomeado vigário substituto o Pe. Pedro Fossi, que buscou dar continuidade ao trabalho iniciado por Pe. Félix. Pe. 3.4 Pe. Pedro Fossi[9] ( 01/07/1975 a 30/03/1976) Em curto espaço de tempo, Padre Pedro Fossi fez uso de todos os recursos pastorais necessários para motivar e animar a paróquia que acabara de assumir. Para tanto, elaborou um plano evangelizador visando envolver todos os fiéis da Paróquia São Miguel Arcanjo, particularmente, os jovens. Promoveu caminhadas penitenciais, encontros de jovens, jornadas cristãs, Treinamento de lideranças Cristãs (TLC), encontro de casais, encontro de domésticas, fomentou a catequese, os batismos e, particularmente, a participação de todos na Santa Missa e dedicou um dia da semana (sábado) para celebrar especialmente para os jovens. Também estimulou a participação dos vicentinos, Damas da Caridade, Apostolado da Oração, bem como, despertou inúmeras vocações para o sacerdócio. Padre Pedro Fossi ficou na administração paroquial por um período de nove meses, pois, em 30 de março de 1976, toma posse como vigário, o Pe. Ênio Fazolo. 3.5 Pe. Enio Fazolo[10] (30/03/1976 a 12/1990) Ênio Fazolo, antes de entrar para o seminário, viveu entre as pétalas e os espinhos das rosas que a vida lhe apresentou. Quando era ainda uma criança conheceu as durezas e as dificuldades de viver sem o pai, que havia falecido. Sua fé e dedicação o fizeram um homem de qualidades incomparáveis. Talvez, tenha sido por isso que Deus o tenha chamado para servi-lo através da vocação sacerdotal. Apesar de ter empreendido seus estudos filosóficos e teológicos nos parâmetros educacionais de uma Igreja cujo modelo evangelizador refletia a educação pré-conciliar, sua mente e seu espírito já comungava com as renovações propostas pelo Concílio Vaticano II. Era um verdadeiro amante da natureza e gostava de música clássica, pois sempre era pego, de surpresa, cuidando de seu jardim, ou ouvindo as sinfonias de Bethoven em sua velha e inseparável vitrola que o acompanhava para onde quer que ele fosse. Entretanto, como muitos seres humanos, tinha seus momentos de teimosia e desafeto, mas sua capacidade de se tornar flexível diante das mudanças era impressionante. Apoiava profundamente os jovens, pois buscava se fazer presente em todos os encontros e orientava-os no sentido de descobrirem a vocação para o sacerdócio. Foi em sua administração que se deu o início e conclusão da Casa Paroquial e Salão Paroquial. Padre Ênio era muito participativo e nos animava muito, bem como os movimentos de adolescentes, de jovens, de casais; restaurante Decolores, reuniões dos cursilhistas, encontros, retiros, vicentinos, Jornadas Cristãs, Legião de Maria, Liga Católica etc. Participava de todas as reuniões e tinha especial zelo com os Ministros Extraordinários da Distribuição da Eucaristia e, com eles, fazia questão de se reunir todas as quintas na capela do hospital. E, mais: constantemente visitava seus paroquianos. Nos meses de maio e setembro investia todo seu tempo nos leilões e barracas, e para as homenagens à Maria e a São Miguel. Na época de Semana Santa se fazia presente em todas as celebrações de Via Sacra. Ele fazia questão de estar sempre presente em tudo. Em janeiro de 1984, Pe. Ênio se afastou para tratamento de saúde no Rio de Janeiro, ficando a paróquia sob a orientação do Pe. Galeno. Em maio de 1987, aconteceu a 1ª Assembléia Pastoral, com a finalidade de designar equipes pastorais e a implantação do dízimo. Em dezembro de 1987 aconteceu a Ordenação Presbiteral do jovem seminarista Sebastião Pirovani. Ele ficou conosco cerca de quatorze anos. Em dezembro de 1990, tanto ele quanto Pe Galeno foram transferidos para outra paróquia. Foi em sua administração paroquial que Pe. Galeno foi nomeado Vigário Paroquial. 3.6 Pe. Galeno Martins de Oliveira[11] (1983 a 1990) Ao desembarcar na rodoviária de Guaçuí/ES foi logo pedindo informações perguntando para que lado ficava a Igreja Matriz. Padre Galeno chegou à nossa Paróquia no ano de 1983. Trajava roupas simples e trazia consigo uma pequena mala, pois não tinha muito o que transportar, a não ser, conforme afirmava, as idéias de um novo modelo de ser igreja que, aos poucos, com sua simplicidade e humildade, por onde quer que fosse ia ensinando. Era um padre aberto e profundamente acolhedor. Padre Galeno era homem especial. Como vigário paroquial foi logo assumindo a responsabilidade das celebrações de missas para crianças que aconteciam aos domingos, às dez horas. Em seguida, tratou de animar os movimentos de adolescentes e jovens, através dos quais criou e implantou o Festival de Música Sacra – Festival de Música Mensagem -, sendo que, o primeiro, aconteceu no ano seguinte, após sua chegada em nossa paróquia. Foi um grande evento que, por um período de quatro anos, reunia, todos os anos, representantes de mais de dez paróquias. As missas que celebrava eram muito animadas e participativas. Em todas elas fazia questão de acompanhar o ministério de música com sua voz incomparável. Ele cantava como ninguém. Padre Galeno era negro, alto, meio magro e tinha a voz como o som de um trovão; era amável, paciente e, mesmo apesar das dificuldades que a diabetes lhe impunha, estava sempre sorrindo e era simpático para com todos que o rodeava. Tinha especial carinho com os idosos, com os pobres e, especialmente, com aqueles que não freqüentavam a Igreja. Estava constantemente fazendo visitas. Normalmente, optava em ir às casas mais simples e humildes. Ele gostava de estar junto com os pobres, pois, tão logo se criava um novo bairro, ali estava ele para criar uma comunidade. Exemplo disso é a comunidade São Paulo Apóstolo, para a qual, ao lado dos cursilhistas, se empenhou na construção de seu templo. Sua transferência ocorreu no mesmo dia da do Pe. Enio Fazolo. No entanto, ressalta-se que no dia 20 de junho de 2003, Pe. Galeno veio residir na Paróquia, por necessitar de cuidados especiais por conta de sua saúde, e veio a falecer no dia 12 de janeiro de 2004. Para substituí-los, Dom Luiz Mancilha Vilela nomeou o Pe. Pedro Scaramussa. 3.7 Pe. Pedro Scaramussa[12] (1990 a 2001) No ano de 1990, a Paróquia de São Miguel Arcanjo – Guaçuí/ES recebeu, de braços abertos, a Pe. Pedro Scaramussa. Homem simples, dinâmico e portador de carismas imensuráveis, além de seus infinitos dons, trazia consigo uma sabedoria inconfundível. Como profundo conhecedor da Palavra de Deus exortava-nos sempre a colocá-la em prática, pois suas teorias confundiam-se com suas ações práticas. A princípio de sua administração paroquial, Pe Pedro Scaramussa preocupou-se em conhecer suas ovelhas e, especialmente a todas as capelas – pois era assim que as comunidades da época eram conhecidas; sobretudo, da zona rural. Revestido dos ideais inovadores do Vaticano II, buscou de imediato a organizar, segundo sua filosofia, a Paróquia que viria administrar por cerca de dez anos. Assim, tornou-se o criador das primeiras Comunidades Eclesiais de Base da Paróquia de São Miguel Arcanjo – Guaçuí/ES, pois em cada rua e esquina era possível encontrar também os primeiros grupos de Círculo Bíblico que, atentamente, motivava. Uma das características que lhe era peculiar é que se fazia sempre presente nas inúmeras reuniões, sempre orientando e formando novos líderes cristãos. Após a criação das centenas de Círculos Bíblicos, tomou como propósito a criação das primeiras Comunidades Eclesiais de Base. Para tanto, regionalizou a Paróquia, dividindo as regiões em oito setores, subdividindo esses setores por número de Círculos Bíblicos. Assim, formaram-se vinte e três Comunidades, das vinte e sete existentes hoje em nossa Paróquia. Em muitas das Comunidades criadas não existia o templo. Nesse sentido, Pe Pedro revelou-se como um grande construtor; ou seja, um verdadeiro levantador de paredes, fazendo-se construir, particularmente, o templo da Comunidade Santa Catarina, Comunidade Divino Espírito Santo, Comunidade São José, bem como a reforma e ampliação da Igreja Matriz, onde se encontra a Comunidade São Miguel Arcanjo. Construiu ainda, a sala de vídeo, a sala de Legião de Maria, a sala da Liga Católica, a sala da Livraria Diocesana e a sala da Pastoral da Saúde. Entretanto, em 1993 ele criou a Pastoral da Comunicação. Importante frisar que, dentre seus grandes feitos no ano de 1994, destacam-se dois: a criação da Escola de Teologia e Pastoral Dom Bosco, que desde o ano de 1994 encontra-se em funcionamento, por onde passa cerca de cento e vinte alunos, divididos em quatro turmas anuais, para a formação de novos agentes de pastorais, coordenadores de Círculos Bíblicos e candidatos aos diversos ministérios extraordinários existentes; e, a Pastoral da Saúde[13]. Foi também na gestão do Pe. Pedro Scaramussa que teve origem, em nossa Paróquia, o Ministério das Testemunhas Qualificadas do Sacramento do Matrimônio, sendo eles: Graciano Carlos Pirovani, Rubens de Souza Ril, José Cirilo Sana e Valter Lúcio de Paula; bem como, o envio de cinco candidatos para a Escola Diaconal de nossa diocese: Rubens de Souza Ril, Geraldo Carvalho de Paula, Valter Lúcio de Paula, Lorival Dutra Miranda e Miguel Aparecido Teodoro, dos quais os dois últimos foram ordenados Diáconos Permanentes. Ressalta-se ainda, o fantástico trabalho exercido na elaboração de diversos cursos por ele ministrados como, por exemplo, Parapsicologia, formação de Ministros Extraordinários da Palavra e Eucaristia, Catequistas, Cursos de Noivos etc. Pe Pedro foi, em nossa Paróquia, um grande incentivador de todos os movimentos existentes. Alegre e sorridente fazia-se sempre presente, prestigiando todas as reuniões com sua iluminada presença, levando motivação por meio de suas palavras de sabedoria. As missas por ele presididas conduziam-nos a um verdadeiro “Fazer Memória”, pois em suas homilias revelava-se como um grande mestre a formar discípulos e missionários, ensinando-nos a aliar a fé com a vida, para nossa prática cotidiana. Uma qualidade especial: um verdadeiro Homem da Caridade, profundamente desapegado dos bens materiais, pois muitas foram as vezes que se pode testemunhar as doações que fazia aos mais carentes, desamparados e, particularmente, por aqueles que se encontravam doentes. Eram inúmeras cestas básicas que adquiria com seu salário para doar aos pobres de nossa paróquia. Um Homem Promotor da Justiça de Deus, Pe Pedro Scaramussa nunca se deixou vencer pelos poderosos que praticam injustiças, destacando-se entre nós, como um verdadeiro Guerreiro de Deus, combatendo as práticas injustas dos mais ricos e políticos inescrupulosos, não se deixando intimidar em nenhum confronto contra os escribas e fariseus de nosso tempo. Um homem corajoso e de uma fé inabalável. Destacou-se também pela prática do esporte, especialmente o Futebol de Salão, que até a presente data, muitos grupos por ele incentivados, encontram-se, pelo menos, duas vezes por semana, às cinco horas da manhã, desde o ano de 1992. Ainda em sua gestão aconteceu duas grandes ordenações: a do seminarista Eliomar Ribeiro de Sousa em 31/07/1999 e a do seminarista Kleber em julho de 2000. Considerado não somente como um padre, pela grande maioria dos fiéis que tiveram a oportunidade de conhecê-lo e com ele conviver, mas um grande e fiel amigo de todas as horas, fazendo-se presente em qualquer momento de nossas vidas, em sua simplicidade podemos perceber a presença de Deus, cuja semelhança cada um de nós fomos criados. Pe. Pedro Scaramussa ficou em nossa Paróquia até o ano de 2001 e, para substituí-lo, Dom Luiz Mancilha Vilella nomeou o recém-ordenado Pe Juarez Delorto Secco. 3.8 Pe Juarez Delorto Secco[14] (2001 a 2008) Aos 23 de abril de 2001, Pe. Juarez Delorto Secco foi empossado como vigário administrador. No final de 2001, foram apresentados à Paróquia os seminaristas Juliano de Almeida e Luciano Vial Orcino. No dia 21 de dezembro de 2002, foram ordenados, pela imposição das mãos de Dom Luiz Mancilha Villela, Diáconos Permanentes os srs. Lorival Dutra Miranda e Miguel Aparecido Teodoro. Foi nesta gestão que teve origem a “Caminhada Penitencial” realizada todos os anos com saída da Comunidade São Miguel (Matriz) e destino à Comunidade Nossa Senhora da Penha, que se encontra, cerca de oito quilômetros, no Distrito de São Tiago. No dia 20 de junho de 2003, Pe. Galeno veio residir na Paróquia, por necessitar de cuidados especiais por conta de sua saúde, que veio a falecer no dia 12 de janeiro de 2004. No dia 10 de dezembro de 2005, Dom Célio deu posse, como Vigário Administrador, ao Pe. Bruno Cadart. A partir do mesmo ano de sua posse empreenderam a continuidade das reformas e ampliação do Templo da Matriz, que seria reinaugurado dois anos e meio mais tarde. Continuou os trabalhos celebrativos, tanto na Matriz quanto nas Comunidades, e buscou implantar, na iminência de se descobrir novas vocações, os Encontros Vocacionais. Os anos seguintes, até 2006, foram marcados por inúmeros cursos ministrados para formação de novos Ministros da Eucaristia e da Palavra, bem como, para formação de novos catequistas e membros de equipes litúrgicas. Vale ressaltar a chegada das Irmãs Sacramentinas de Bérgamo que, por um período de seis anos, muito contribuíram para o trabalho de evangelização e formação espiritual em nossa Paróquia. Pode-se, ainda, registrar, o surgimento dos grupos de Encontro de Casais com Cristo (ECC) e Encontro de Adolescentes com Cristo (EAC). No início do ano de 2006, a Paróquia acolheu Pe. Pedro Fossi, Pároco Emérito que passou a residir na Casa Paroquial, fazendo parte da família Presbiteral da Paróquia. Em 2008 cedeu sua administração a Padre Genivaldo Marcolan Laquini. 4 CONCLUSÃO Neste trabalho, apresentamos o histórico da Paróquia de São Miguel Arcanjo de Guaçuí – Espírito Santo. Preocupamo-nos em delinear dados históricos por julgarmos ser de vital importância, sobretudo, para o leitor que tiver a oportunidade de acessar esta nossa produção historiográfica, para que conheça os fundamentos nos quais se erigiram a história desta Paróquia de São Miguel. De um lado, partimos do pressuposto da colonização e a divisão das terras entre os primeiros colonizadores, bem como, a sua organização política e social que resultou na doação de terras, a partir de 1863, para o que viria a ser a futura Paróquia de São Miguel, cujo ato foi consolidado através de escritura registrada em 1869; e, de outro, buscamos enfatizar a situação da já constituída Paróquia a partir de 1918. Atemo-nos, ainda, para que o leitor possa bem contextualizar, na importância das transformações ocorridas, a partir de 1972, após longo período de enraizamento de uma igreja aos moldes de Trento, uma vez que nos encontrávamos apenas seis anos de período pós-conciliar. Deste modo, ressaltamos a significante abertura proposta pelo Concílio Vaticano II e executada, apesar de alguma resistência da parte de paroquianos conservadores, pelos padres que por aqui passaram proporcionando, cada um a seu modo, novas experiências sobre um novo modo de “ser igreja” o que, aliás, contribuiu não somente para o crescimento espiritual de todos os católicos de nossa Paróquia, mas também do crescimento, alargamento e expansão da própria Igreja a nível local. Como se pôde perceber, vimos que o modelo de Igreja proposto pelos documentos conciliares só começaram a tomar corpo, em nossa Paróquia, a partir dos anos noventa, quando se concretizou a realidade das Comunidades Eclesiais de Base, bem como, o fato de o leigo assumir definitivamente seu espaço, neste modelo novo de Igreja, vindo a se tornar o verdadeiro protagonista de uma igreja que se organiza. Para tanto, acreditamos que o surgimento, a motivação, animação e organização de novos grupos de adolescentes, jovens, cursilho de cristandade, damas de caridade, OVS, e tantos outros, somados à proposta de formação intelectual, através da implantação da Escola de Teologia e Pastoral Dom Bosco, foi um grande marco que, ainda hoje, vem contribuindo imensamente para o partejamento de novos agentes de pastorais que se tornam cada vez mais capacitados para fazerem, com sabedoria, a ligação Fé + Vida, frente a realidade de suas comunidades. Por fim, foi visto, no decorrer desta nossa minudência, que a Igreja é uma realidade presente aonde quer que ela esteja enraizada. Em alguns casos, o seu processo de desenvolvimento pode ser mais acelerado ou moroso. Assim, acreditamos que seus avanços ou retrocessos dependem da eclesiologia que o pároco traz em sua bagagem cultural e sua continuidade ou descontinuidade, suas luzes ou sombras nos levam a crer que é resultante da capacidade que cada um de nós possuímos para assumirmos o nosso protagonismo na História. Afinal, todos devem contribuir para a construção do saber. Padre Armando Geerts Pároco (29/09/1971 a 27/02/1972) Padre Genivaldo M. Laquini Pároco 2008 - 2013 Matriz de São Miguel 1929 Padre Félix Pardo Orje Pároco 1972 - 1975 Padre Denis L. Neto Pároco atual Padre Miguel de Sanctis Pároco 1918 - 1971 Padre Pedro Fossi Pároco ( 01/07/1975 a 30/03/1976) Padre Enio Fazolo Pároco (30/03/1976 a 12/1990) Matriz de São Miguel 2008 Diácono Miguel A. Azevendo Ordenado em 04/12/1994 Diácono Lorival D. Miranda Ordenado em: 21/12/2002 PADROEIRO SÃO MIGUEL ARCANJO Frei Alexandre Matos Ordenado em 2007 Diácono Miguel A. Teodoro Ordenado em: 21/12/2002 Padre Galeno M. Oliveira Vigário (1983 a 1990) Padre Pedro Scaramussa Pároco (1990 a 2001) Padre Eliomar R. Sousa Ordenado em: 31/07/1999 Padre Wériton C. Nery Ordenado em: 29/10/1967 Padre Sebastião Carlos Pirovani Ordenado em: 15/12/1987 Padre Juarez D. Secco Pároco (2001 a 2008) Padre Kleber Chevi Ordenado em: 07/2000 O AUTOR Prof. Miguel Aparecido Teodoro Mestre em História Social do trabalho Professor MSC – Historiador – Escritor e Poeta Residente em: Guaçuí/ES - Bacharel em Teologia pela Escola Diaconal Santo Estevão Diocese de Cachoeiro de Itapemirim - ES. Teólogo pelo Instituto de Ciências Humanas João Paulo II/Faculdade Católica de Anápolis. Graduado em História pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Alegre/ES. Pós-graduado, Lato Sensu, Especialista em Ciências Sociais – História Social pela Universidade Severino Sombra/Vassouras-Rio de Janeiro. Pós-graduado, Stricto Sensu. Mestre em História Social do Trabalho – pela Universidade Severino Sombra/VassourasRio de Janeiro. 5 REFERÊNCIAS AZEVEDO JÚNIOR, Padre Paulo Ricardo. O verdadeiro espírito do Concílio Vaticano II. Texto. Arquidiocese de Cuiabá (Mato Grosso – Brasil), 2012. CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA. Edição Típica Vaticana. São Paulo: Edições Loyola, 2000. COMPÊNDIO DO VATICANO II: constituições, decretos, declarações. 21ª Edição. Petrópolis: Vozes, 1991 FAZOLO, Enio Octávio. Discursos. Guaçuí, 1976. L. J. Suenens (Cardeal). Memórias e esperanças, Dublin, Veritas 1992, pág. 267. LIVRO DE REGISTRO DE TERRAS POSSUÍDAS. Ano de 1855. Cartório de Registros de Tombos do Carangola – MG, Tombos/MG, 1999. LIVRO DE ATAS DO MOVIMENTO CRISTÃO DE ADOLESCENTES – MOCCA. Guaçuí/ES, 1983. PARÓQUIA DE SÃO MIGUEL ARCANJO. Livros do Tombo, I, II e III. Arquivo da Matriz de São Miguel Arcanjo. Guaçuí, ES, 1918 – 1976. PARÓQUIA DE SÃO MIGUEL ARCANJO. Livros do Tombo, III. Arquivo da Matriz de São Miguel Arcanjo. Guaçuí, ES, 1977 - 2006. PASTORAL DA SAÚDE. Livro de Atas. Arquivo da Pastoral da Saúde, Paróquia de São Miguel Arcanjo, 1996. SANCTIS, Miguel de. Livro do Tombo I, Paróquia de São Miguel Arcanjo – Guaçuí/ES. Guaçuí, 1918 SANTOS, José Augusto dos. Texto. Saber absoluto. Vassouras-RJ. USS, 1998. TEODORO, Miguel A. História de Guaçuí. Guaçuí - ES, Edição Particular, 2001. [1] Dados obtidos na Paróquia São Miguel Arcanjo – Guaçuí/ES, 2013. [2] Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), 2009 [3] Fonte: TEODORO, Miguel A. História de Guaçuí. Edição Particular, 2001. [4] Dados obtidos no Livro de Registro de Terras Possuídas no período de 1855. Cartório de Tombos do Carangola – MG, 1999. [5] Dados obtidos no Arquivo Eclesiástico de Mariana – MG. [6] Livro de Atas do Movimento Cristão de Adolescentes, 1983. [7] As narrativas aqui descritas e adaptadas, fundamentaram-se nas transcrições efetuadas, pelo autor desta monografia, dos manuscritos de autoria do Monsenhor Miguel de Sanctis e que se encontram registrados no Livro do Tombo I, da Paróquia de São Miguel Arcanjo de Guaçuí/ES. [8] Texto produzido com base em entrevistas realizadas com alguns fiéis da Paróquia de São Miguel Arcanjo/Guaçuí/ES, bem como, na participação e testemunho do autor desta monografia. [9] Idem. [10] As narrativas aqui descritas e adaptadas, fundamentaram-se nos manuscritos de autoria do Padre Enio Octávio Fazolo e que se encontram registrados no Livro do Tombo II, da Paróquia de São Miguel Arcanjo de Guaçuí/ES, como também, em entrevistas realizadas com alguns fiéis da Paróquia de São Miguel Arcanjo/Guaçuí/ES, bem como, na participação e testemunho do autor desta monografia. [11] Texto produzido com base em entrevistas realizadas com alguns fiéis da Paróquia de São Miguel Arcanjo/Guaçuí/ES, bem como, na participação e testemunho do autor desta monografia. [12] As narrativas aqui descritas e adaptadas, fundamentaram-se nos manuscritos de autoria do Padre Pedro Scaramussa e que se encontram registrados no Livro do Tombo III, da Paróquia de São Miguel Arcanjo de Guaçuí/ES, como também, em entrevistas realizadas com alguns fiéis da Paróquia de São Miguel Arcanjo/Guaçuí/ES, bem como, na participação e testemunho do autor desta monografia. [13] Desde a sua fundação em 1994, a Pastoral da Saúde da Paróquia de São Miguel Arcanjo já realizou, até a presente data, mais de 37 368 atendimentos. No ano de 2006, em reconhecimento de seu valoroso e relevante serviço visando o bem-estar da saúde do povo de Guaçuí, ela recebe homenagem com “Moção de Aplauso” concedida pela Câmara Municipal de Guaçuí/ES. [14] As narrativas aqui descritas e adaptadas fundamentaram-se nos manuscritos de autoria do Padre Juarez Delorto Secco e que se encontram registrados no Livro do Tombo III, da Paróquia de São Miguel Arcanjo de Guaçuí/ES, como também, em entrevistas realizadas com alguns fiéis da Paróquia de São Miguel Arcanjo/Guaçuí/ES, bem como, na participação e testemunho do autor desta produção historiográfica.