ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DO DIÁRIO ECONÓMICO Nº 6118 DE 25 DE FEVEREIRO DE 2015 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE
SeongJoon Cho / Bloomberg
Logística
& Distribuição
Os custos de operação logística continuam altos devido aos preços dos combustíveis, às portagens e à electricidade.
Estes são desafios que as empresas de logística e transporte enfrentam e que devem ser ultrapassados, diz Nuno Rangel,
vice-presidente do grupo Rangel. Mesmo
assim, as empresas têm conseguido
“evoluir a sua ‘performance’ logística,
aproximando-se dos níveis de qualidade
praticados na Europa”. O que falta é mais
investimento no cumprimento dos prazos de entrega, no nível de serviço, e nas
infra-estruturas tecnológicas, defende,
aconselhando a uma maior aposta na formação especializada em transportes e logística.
O bom desempenho está dependente do
equilíbrio conseguido pelas empresas no
que respeita à relação entre qualidade e
preço praticado. Mas se os custos forem
elevados, o equilíbrio pode ser posto em
causa.
Os desafios deste sector vão muito mais
além disso. Christoph Atz, ‘country manager’ da UPS para Portugal e Espanha
não tem dúvidas que os principais desafios
para o comércio internacional estão relacionadas com questões de documentação
e de conformidade. Diz ser essencial »
Tecnologia tem
melhorado
o serviço logístico
II Diário Económico Quarta-feira 25 Fevereiro 2015
LOGÍSTICA & DISTRIBUIÇÃO
A logística da Amazon é uma das maiores a nível
internacional. Na Europa, a empresa está a investir
Chris Ratcliffe / Bloomberg
num parque logístico na República Checa,
mesmo no centro da Europa.
» garantir a simplificação de processos para que
“os produtos dos clientes passem através das
fronteiras nacionais, o mais rapidamente possível e sem problemas”. Christoph Atz frisa que
“acordos de livre comércio, modernização das
alfândegas e políticas que abram fronteiras são
cruciais para o crescimento contínuo do comércio”. Para o responsável, a proposta Transatlantic Trade and Investment Partnership (TTIP)
entre a Europa e os EUA “é um exemplo de um
acordo que traria enorme valor para as empresas, grandes e pequenas”, sendo urgente “incentivar mais as PME e grandes empresas para
exportar os seus produtos”. O que será possível
com menos burocracia alfandegária.
Outros desafios a que as empresas deverão estar
atentas prendem-se com as alterações à legislação, frisa Rui Gomes, ‘coutry manager’ da
DHL Supply Chain, nomeadamente “algumas
restrições técnicas e ambientais com tendência
crescente”. Outro desafio diz respeito ao momento que o mercado atravessa, verificando-se
“uma pressão global e ‘cross-sectorial’ para redução de custos, e exigência, flexibilidade e
qualidade acrescidos”. Rui Gomes fala da necessidade em obter “ganhos de eficiência contínuos num contexto de crescente competitividade”. E lembra o facto de haver um número
maior de ‘players’ no mercado, o que o torna
“mais atomizado do ponto de vista da flexibilidade e serviço”.
O que é certo é que todos concordam num
ponto. As empresas de transportes e logística
Comércio
electrónico
com potencial
O segmento B2C (empresa
para consumidor) e o
comércio electrónico
parecem ser uma grande
tendência de futuro.
Christoph Atz, da UPS, diz
que quer um quer outro vão
crescer. E Rui Gomes, da
DHL refere o “o grande
potencial” do B2C.
Vítor Enes, da Luis Simões,
aponta o ‘e-commerce’ como
um canal “cada vez mais
utilizado no processo de
compra”. E Nuno Rangel
refere-o como um “desafio e
oportunidade para as
empresas”.
têm que saber adaptar a sua oferta à constante
evolução tecnológica.
Para Nuno Rangel, a multiplicidade de canais é
uma realidade que não deve ser esquecida e que
só implica uma especialização e uma aposta
maior em tecnologias que permitirão melhorar a
qualidade e eficiência do serviço.
O responsável considera que “a tecnologia é um
factor diferenciador” e acredita que uma mais-valia resultante das novas tecnologias é a monitorização das cargas em tempo real. “Qualquer cliente pode agendar, rastrear e automatizar os envios e consultar informações actualizadas”, diz.
A isto está naturalmente ligada a agregação de
valor à cadeia de abastecimento que é, para Vítor Enes, director geral ibérico de Logística da
Luis Simões, o maior desafio das empresas do
sector. Para tal é preciso desenvolver e implementar soluções competitivas “que se traduzam
em ganhos de produtividade e eficiência para o
cliente”. E isso só é possível com um investimento grande em tecnologia. Vítor Enes garante
que o desafio tecnológico para o sector “é uma
oportunidade de competitividade”, visto “simplificar processos e representar uma janela de
oportunidades de negócio na cadeia de distribuição”.
A aposta em tecnologia parece ser fundamental
quer para as empresas de distribuição e logística, quer para as empresas que as contratam (ver
texto da página 6). Rui Gomes, ‘country manager’ da DHL Suplly Chain está certo disso. “A
tecnologia passou a ser fundamental para o êxito
de qualquer organização”, garante, afirmando já
não ser vista “apenas como suporte administrativo, mas sim como vector estratégico, constituindo uma importante fonte de vantagem
competitiva”.
Quem utiliza tecnologias está mais perto do sucesso, pois o seu uso eficaz e a sua integração
com os processos logísticos “trouxe um conjunto de vantagens às empresas, quer ao nível da
standardização de processos e automatização de
determinadas tarefas, quer ao nível da eficiência”, diz Rui Gomes.
E as empresas estão cada vez mais conscientes
dessa realidade. Por exemplo, a Abreu Carga
tem vários clientes de diferentes áreas de negócio “cujo suporte tecnológico é crucial para as
suas actividades”, diz Francisco Barbosa, director coordenador, que está convicto que “a optimização e crescimento do negócio é maior se as
empresas optarem por terem armazéns inteligentes e apostarem no intercâmbio electrónico
de dados”.
Francisco Barbosa frisa a existência de “uma série de soluções tecnológicas que conferem competitividade acrescida”. E as mais valias, são,
desde logo, “permitir satisfazer as necessidades
do clientes, de forma mais rápida, organizada e
económica”. Daí a empresa oferecer soluções
tecnológicas que “muito têm influenciado positivamente a gestão logística”.
RAQUEL CARVALHO
Quarta-feira 25 Fevereiro 2015 Diário Económico III
Por onde passa a estratégia das empresas de logística e distribuição
CHRISTOPH ATZ
‘Country
Manager’
da UPS
para Portugal
e Espanha
A estratégia da UPS passa por
“aumentar os negócios em
todos os segmentos, continuar
a fazer investimentos na rede
de transporte, produtos e
tecnologia, continuar a
desenvolver os seus pontos
fortes e tirar o máximo
proveito das tendências de
mercado existentes”, diz
Christph Atz. O responsável
garante que a UPS estará
atenta ao crescimento do
comércio electrónico, à gestão
‘just-in-time’ do inventário e ao
crescente uso da Internet. Mas
não só. O gestor para Portugal
e Espanha diz que a empresa
quer criar condições para ter
serviços de transporte “ainda
mais confiáveis e eficazes”, e
que estará atenta à
“terceirização da gestão da
cadeia de abastecimento”, que
permite diminuir custos aos
clientes.
PUB
VÍTOR ENES
Director geral
ibérico
de logística
da Luís Simões
2014 foi positivo
para a Luís Simões, que
angariou novos clientes em
particular no mercado
espanhol, como a Monster
Energy, Estrella Galicia,
Schweppes PVL e a Procter &
Gamble (P&G). O ano passado
ficou marcado pela ampliação
de serviços contratualizados
com clientes de longa data
(como as marcas Heineken e
Nestlé, Sogenave e Telepizza)
e pela abertura do novo centro
logístico e de operações da
multinacional P&G, no parque
empresarial La Quinta, “criado
para dar resposta às suas
necessidades e que veio
alargar a nossa capacidade de
oferta e consolidar a nossa
operação na capital
espanhola”, diz Vitor Enes. Em
2015, o objectivo é “a
consolidação e aposta no
nosso principal mercado
xterno: Espanha”.
NUNO RANGEL
Vice Presidente
da Rangel
RUI GOMES
‘Country
Manager’ DHL
FRANCISCO BARBOSA
Director coordenador
da Abreu Carga
Com um
volume de
negócios de 150
milhões de euros em 2014, a
Rangel quer em breve alargar
os serviços que presta no
Brasil, onde já está em São
Paulo, ao começar a operar
também nas regiões do Rio de
Janeiro, Recife e Manaus.
Uma das grandes apostas da
empresa é a unidade Rangel
Pharma, que deverá ver
crescer o seu peso para 5% da
facturação já em 2015.
Nuno Rangel frisa a aposta na
solução ‘one-stop-shop’ que vai
desde o despacho aduaneiro,
transporte terrestre europeu,
transporte aéreo e marítimo,
transporte expresso doméstico
e internacional, gestão de
‘stocks’ e serviços de valor
acrescentado. Com este
serviço, a empresa está
presente em sectores como o
da electrónica, ‘automotive’ e
aeronáutica, farmacêutica,
industrial, moda e acessórios.
A DHL Supply
Chain é uma
das três divisões
do grupo alemão
Deutsche Post DHL. Está
presente em 220 países e
oferece soluções à medida das
necessidades das empresas,
tanto no transporte de carga,
armazenagem e distribuição,
como na cadeia de
fornecimentos. Rui Gomes
destaca a aposta na tecnologia
para tornar o negócio dos
clientes “mais competitivo”. E
refere que o sucesso passa por
oferecer serviços que
permitem uma integração
plena com os processos
logísticos. O responsável
destaca ainda a oferta a nível
de classificadores automáticos
e sistemas de ‘picking’
automático. De frisar que a
DHL fornece expresso
internacionais, frete global
aéreo, marítimo, rodoviário e
ferroviário, bem como soluções
de armazenagem.
A Abreu Carga está muito
focada nas empresas
exportadoras. São elas as
suas principais clientes,
garante Francisco Barbosa,
que não tem dúvidas em
afirmar que o maior desafio
da empresa, na conjuntura
económica actual, é “dar
apoio às empresas
portuguesas com vocação
exportadora, numa lógica de
serviços cuja competitividade
– em razão do preço e da
agregação de competências
nos diferentes modos de
transporte - é determinante”,
uma vez que, explica, muitas
empresas dependem das
importações”. A dupla
vertente importação-exportação é um desafio
competitivo à actividade da
Abreu Carga em Angola, onde
tem uma filial há quatro anos.
A empresa tem vários clientes
de diferentes áreas e aposta
muito em tecnologia e num
sistema informático integrado.
IV Diário Económico Quarta-feira 25 Fevereiro 2015
LOGÍSTICA & DISTRIBUIÇÃO
Associações unem-se
pela competitividade
As exportações nacionais e a competitividade de Portugal pode estar em causa
com novas medidas protecionistas e anti-concorrenciais.
RAQUEL CARVALHO
[email protected]
As exportações portuguesas para o centro da
Europa podem sair prejudicadas com as alterações feitas em França, Bélgica e Alemanha
relativamente às regras relacionadas com o
transporte internacional de mercadorias.
Para tentar ‘boicotar’ o seu avanço, sete associações portuguesas (APLOG, APOL, ANTRAM, ANTP, APAT, AIP, CPC, subscreveram
um documento que luta pela competitividade
do transporte internacional rodoviário de
mercadorias. As medidas em causa têm que
ver com a proibição de condutores de transporte rodoviário terem um descanso semanal
regular de 45 horas a bordo das viaturas, sendo obrigados a dormir em unidades hoteleiras
daqueles três países, e a aplicação do salário
mínimo por hora na Alemanha para os condutores de veículos rodoviários de empresas
domiciliadas fora desse país.
Para as associações estas são medidas “altamente proteccionistas e anti-concorrenciais
que configuram a criação de barreiras ao livre
comércio, penalizando os produtos provenientes dos países periféricos e protegendo os
produtos originários do centro da Europa.
A persistência destas alterações, são, dizem
no documento, “um grave ataque à economia
nacional, prejudicando fortemente o sector
exportador, tão importante para a recuperação que se pretende que continue”.
Ao Diário Económico, Alcibíades Paulo Guedes, presidente da direcção da Associação
Portuguesa de Logística (APLOG), mostrou-se preocupado com as consequências para
Portugal, como país periférico que é. Lembra
que Portugal está a sair da crise e que as exportações “foram e são fundamentais para o
nosso país continuar o caminho de sucesso,
tendo a logística contribuído por obter uma
maior produtividade, eficiência e competitividade”, pelo que acredita que a permanência
destas medidas pode levar a um retrocesso.
Na sua opinião, a sua não suspensão vai “contribuir para reduzir a nossa competitividade
logística”. Realçando que o potencial acréscimo de custo inerente a ambas as medidas resulta, essencialmente, da necessidade de descanso de muitos motoristas de transporte rodoviário ter de ser efectuado, em França e
Bélgica, em unidades hoteleiras e não a bordo
das suas viaturas como é habitual”.
Fonte oficial do Conselho Português de Carregadores (CPC) revelou as mesmas preocupa-
ALCIBÍADES PAULO
GUEDES
Presidente da Associação
Portuguesa de Logística
“
A não suspensão
destas medidas
vai contribuir
para reduzir
a nossa
competitividade
logística.
As associações
em protesto
As sete associações que
subscreveram o documento
são a Associação
Portuguesa de Logística
(APLOG), a Associação
Portuguesa de Operadores
Logísticos (APOL),
a Associação Nacional de
Transportadores Públicos
Rodoviários de Mercadorias
(ANTRAM), a Associação
Nacional das
Transportadoras
Portuguesas (ANTP),
a Associação dos
Transitários de Portugal
(APAT), e a Associação
Industrial Portuguesa (AIP).
ções, frisando que as medidas vão prejudicar
as exportações nacionais para o centro da Europa, “onde o transporte marítimo não é
competitivo” e para onde não existem soluções ferroviárias a partir de Portugal. Frisa
ainda serem medidas proteccionistas e anti-concorrenciais e menciona o aumento dos
custos para transportadores e carregadores.
Para os carregadores, além do potencial aumento de custo, poderá verificar-se um incremento do tempo de trânsito entre a origem
e o destino do produto, com implicações no
serviço prestado pelos exportadores aos seus
clientes europeus”, diz fonte da CPC. Alcibíades Paulo Guedes enumera o mesmo facto, e
acrescenta o potencial aumento de roubos de
produtos transportados nos veículos.
O presidente da APLOG frisa que os motoristas de transporte rodoviário “não são colaboradores que estão destacados em trabalho em
determinado país, mas sim temporariamente
e por esta razão, não faz sentido que a legislação seja aplicada ao transporte rodoviário”. E
revela não entender medidas proteccionistas
no seio da União Europeia.
Mas se é o transporte rodoviário o mais prejudicado, a CPC acredita que estas medidas vão
“afectar todo o transporte de Portugal para a
Alemanha por serem cargas com uma origem
e apenas um destino”.
Como podem as empresas combater estas
medidas? “Unirem-se e bloquearem na
União Europeia (UE) a sua aplicação”, diz Alcibíades Paulo Guedes. Daí o manifesto a que
várias associações se juntaram.
Quanto aos desafios que as empresas do sector enfrentam, o presidente da APLOG diz
estarem associados à localização periférica
de Portugal e “a questões estruturais”, sendo importante a criação de condições para
“reduzir custos de periferia, ao nível de
transporte ferroviário/marítimo e apostar
numa maior integração europeia, por forma
a aproveitar as condições logísticas de Portugal, quer na ligação África/América, quer
no ‘hub’ de ligação à Ásia (Sines). Já a CPC
afirma que os desafios concentram-se “na
busca incessante de maior eficiência, produtividade e competitividade”, considerando necessário fazer alterações legislativas em todos os meios de transporte de
mercadorias para tornar o país cada vez
mais competitivo. ■
Quarta-feira 25 Fevereiro 2015 Diário Económico V
Empresas atentas à extensão
do porto para o Barreiro
Transporte rodoviário será prejudicado
pelas regras francesas, alemãs e belgas.
Associações portuguesas dizem
que também para as exportações nacionais
as alterações serão negativas.
Competitividade pode aumentar com maior movimentação.
As empresas portuguesas estão atentas à possibilidade do porto de Lisboa se expandir para
o Barreiro através de um novo terminal de
contentores.
“Em função das notícias que têm surgido,
muitas empresas estão a reposicionar-se face
à eventual construção do porto, que irá incrementar a procura e dinamizar os parques industriais da região”, garante Leonardo Peres,
responsável pelo departamento industrial da
consultora imobiliária CBRE.
A expansão do porto de Lisboa para o Barreiro
está a ser analisada, mas a própria presidente
da Administração do Porto de Lisboa, Marina
Ferreira, tem vindo a defender a opção. Em
entrevista ao Económico, disse que uma das
Chris Ratcliffe / Bloomberg
PUB
suas vantagens “é a possibilidade de ter uma
zona logística e tecnológica associada, propriedade do Estado”.
Bernardo Mota, responsável de logística e
serviço ao cliente da Fisipe, vê a extensão
como positiva para a empresa. A proximidade
iria “aumentar a competitividade na entrega
de contentores cheios para exportação”.
Leonor Afonso, directora de logística da Auchan, antevê que poderá “permitir maior
movimentação de cargas”. E, caso se aumente a capacidade de acessos ferroviários
de mercadorias com ligação directa ao pólo
logístico de Azambuja, acredita que as valências “poderão ser realmente relevantes”,
diz. ■ I.M. e R.C.
VI Diário Económico Quarta-feira 25 Fevereiro 2015
LOGÍSTICA & DISTRIBUIÇÃO
Como organizam as
empresas a sua logística
Através de ‘outsourcing’, com recurso a transportes marítimos, rodoviários ou por avião.
IRINA MARCELINO E RAQUEL CARVALHO
[email protected]
Para exportar, importar, receber ou distribuir
os seus produtos, as empresas têm de organizar a sua logística da melhor forma. Conheça
como o fazem algumas das empresas contactadas pelo Diário Económico.
SOGRAPE VINHOS
Transporte marítimo é o mais utilizado
A logística na Sogrape Vinhos está integrada
na área de operações para optimizar os meios
e recursos nos centros de armazenagem e de
distribuição dos dois pólos de produção, em
Avintes e em Santa Marinha. O serviço comporta a logística de recepção, com os armazéns de matérias-primas e abastecimentos às
linhas, e a logística de saída, com o armazéns
de produto acabado e as distribuições. A distribuição internacional é feita directamente a
partir dos dois pólos produtivos e a nacional
em armazém próprio, em Avintes. “Todo o
planeamento e gestão dos meios logísticos
das operações e transportes são centralizados
neste serviço”, informa Paulo Manso Preto,
director de operações. Nas importações, a
Sogrape Vinhos utiliza em 80% das vezes o
transporte marítimo, e nos restantes 20% o
rodoviário. Para exportar a via marítima pesa
65% das cargas totais, tendo ganho terreno
ao rodoviário nos últimos três anos.
BOSCH
6.500 referências recebidas por dia
A logística na Bosch em Aveiro coordena todo
o fluxo de materiais na cadeia de valor através de três áreas. A primeira está relacionada
com o planeamento dos clientes e gestão dos
respectivos ‘stocks’ de produto final nos ar-
mazéns em todo o mundo. A segunda trata do
planeamento de quantidades com fornecedores. E a terceira do fluxo de materiais. O
departamento de logística da Bosch em Aveiro é responsável pela distribuição dos seus
produtos a todos os clientes no mercado nacional e pela exportação para mais de 50 países. Por dia, entrega e recebe cerca de 6.500
referências de produtos para distribuição.
130 colaboradores da área trabalham para dar
resposta atempada a todos os pedidos. O facto de grande parte do negócio ser europeu
contribuiu para que o principal meio de
transporte utilizado pela Bosch em Aveiro ser
o rodoviário. Mas o crescimento e aposta da
Bosch Termotecnologia noutros mercados,
como o México ou o Norte de África, tem vindo a impulsionar o desenvolver o transporte
marítimo, disse ao Económico Anabela Rodrigues, directora de Logística da Bosch Termotecnologia.
FUJITSU
Meios terrestre e aéreo
são os mais usados
A actividade da Fujitsu em Portugal ao nível
da armazenagem, recepção, ‘stockagem’,
expedição, circuito de transporte, etc. é assegurada por um operador em regime de
‘outsourcing’. Mas existe uma estrutura interna que assegura a gestão e a supervisão do
operador. “Geograficamente, temos um armazém central e mais cinco pólos logísticos
no continente. Nas ilha, a logística é assegurada por parceiros locais”, conta António
Enes, da Fujitsu Portugal. A maioria das importações feitas pela empresa vêm pela via
terrestre, optando-se por vezes pelo ‘drop-shipment’. Em situações de urgência, recorrem ao transporte aéreo, que também é
utilizado por alguns dos seus fornecedores
que têm acordos com ‘couriers’. A via marítima é raramente utilizada e acontece apenas
em situações em que a mercadoria seja volumosa, pesada e que venha da Ásia ou da
América. Nas exportações em que é a Fujitsu
em Portugal a tratar, depende do destino e do
tempo disponível para o transporte, sendo
que por vezes pode passar pelos meios terrestre e aéreo. “Por norma, recorremos a
transitários que nos organizam os envios”. A
Fujitsu é o maior empregador japonês no
nosso país, com mais de mil colaboradores.
FISIPE
‘Outsourcing’ para produto acabado
Com logística própria, a Fisipe recorre a
transportadores, transitários, agentes de navegação e armadores para transportar os seus
produtos até aos clientes. Utiliza o ‘outsourcing’ no armazém de produto acabado e o
transporte marítimo é o que mais utiliza.
Mais de 130 pessoas trabalham na logí
da Bosch em Aveiro.
AUCHAN
Cinco plataformas
A logística da Auchan divide-se em cinco
plataformas especializadas por tipologia de
mercadoria, todas num raio de 100 quilómetros da Grande Lisboa. Para as transacções
intracomunitárias, a empresa utiliza o transporte rodoviário. Já nas importações e nas
transacções extra comunitárias, o transporte
marítimo é o mais utilizado, logo seguido do
aéreo, rodoviário e intermodal. ■
A utilização de tecnologias na logística empresarial é já uma realidade e tem trazido grandes benefícios às empresas. Bernardo
Mota, da Fisipe, reconhece que os
avanços tecnológicos “têm ajudado de forma significativa a
operação logística”.
Paulo Manso Preto, da Sogrape,
fala de um “aumento de eficiência administrativa, da eficácia do
planeamento, da diminuição de
erros, do controlo e visibilidade
de todo o processo, aumentando
o nível de serviço prestado ao
cliente”.
A racionalização de custos e a diminuição de erros nas operações
são as mais-valias trazidas pelas
tecnologias ao serviço de logística da Auchan, frisa Leonor Afonso, directora daquele serviço, levando a “um aumento do volume
das operações”, diz.
Paa a Fujitsu Portugal, a tecnologia tem sido “crucial no aumento
de eficiência e produtividade logística”, e a empresa reconhece
estar “permanentemente atentos
no sentido da adopção de novas
soluções tecnológicas” nesta
área, “cuja aplicação tem resultados em ganhos substanciais
para toda a nossa operação”. O
mesmo acontece com a Bosch,
para quem as tecnologias de in-
formação e comunicação, juntamente com as tecnologias de automação, “têm aumentado a rapidez da identificação, recolha,
processamento, análise e transmissão de dados, garantindo um
elevado nível de confiança e precisão nesta área” e sendo essenciais para garantir a gestão de informação e a eficácia e eficiência
numa cadeia logística, disse ao
Económico fonte da empresa. ■
Foto cedida pela Fujitsu
Em defesa das tecnologias
Quarta-feira 25 Fevereiro 2015 Diário Económico VII
Suportaria 24 horas
a organizar a logística
de uma empresa?
ística
A organização dos produtos
frescos da Auchan em imagem de 2012.
Paulo Alexandre Coelho
Foto cedida pela Bosch
O desafio é lançado a profissionais de vários
sectores. Este ano vai ser na Sonae, na Maia.
A 10ª edição do “24 horas de Logística” está
programada para acontecer este ano a 27 e 28 de
Junho. O local escolhido são as instalações da
Sonae na Maia (Entreposto Maia). Alexandre
Real, ‘partner’ da SFORI, a empresa que organiza, desde sempre, o desafio, disse ao Diário
Económico esperar que a edição deste ano seja
“competitiva”. Uma competitividade que será
potenciada pela “grande capacidade” dos armazéns da Sonae a nível tecnológico.
Com o objectivo desenvolver as competências
relacionais e potenciar o trabalho em equipa, as
“24 horas de logística” têm uma “vertente prática muito grande”. Alexandre Real destaca o
facto de, em 2005, quando surgiu, apenas existir formação técnica na área em Portugal. Esta
formação, que acontece uma vez por ano, veio
trabalhar vertentes até então desacompanhadas: o comportamento e a liderança.
A formação é levada a cabo através da experiência das 24 horas, durante as quais vários desafios intelectuais, físicos e relacionais são lançados. Os participantes terão de reagir como se
de uma situação real - e limite - se tratasse.
O evento é, por isso, difícil. E as empresas reconhecem-no. “Até os responsáveis pela logística
do F16, uma equipa vinda da Força Aérea Portuguesa, consideraram a iniciativa dura”, lembra o ‘partner’.
E a partir da 12ª hora mais complicada se torna.
“A partir da 12ª hora começa a ser bastante cansativo. Deixamos de ter filtros. Há uma entropia
na comunicação e é difícil gerir conflitos”. Esta
fase é, no entanto, muito importante para perceber de que forma trabalham as equipas sob
cansaço e em situações de stress.
No final do dia, ganha quem comunicou e liderou melhor, sendo que a parte da partilha é fundamental: “é tão importante a comunicação
como a liderança partilhada”, confirma Real.
Cada empresa pode inscrever um grupo de entre três a cinco pessoas. Os participantes podem
vir de áreas diferentes dentro da empresa (do
líder à pessoa com experiência em dirigir um
empilhador), compondo assim equipas mistas e
polivalentes. Não podem participar equipas da
empresa onde vai decorrer o evento. Este ano, a
Sonae fica de fora.
Ao final de um mês, são distribuídos os troféus.
No ano passado, a grande vencedora da edição
que decorreu no Porto de Sines, foi a S-LOG,
uma empresa do grupo Entreposto Logística.
Há dois anos a vencedora foi o Instituto Politécnico de Setúbal e, há três, a Autoeuropa. Mas a
empresa que venceu maior número de edições
foi a Luis Simões. ■ I.M.
ALEXANDRE REAL
‘Partner’ da SFORI,
a empresa que organiza
as “24 horas de logística”.
EQUIPAS
Casa empresa pode inscrever
as suas equipas, que devem
ter entre três e cinco pessoas.
Para se inscrever
Vá ao site
www.24horasdelogistica.
sfori.com e inscreva
a sua equipa a partir
do formulário ali
disponibilizado,
anexando à inscrição
o pagamento.
VIII Diário Económico Quarta-feira 25 Fevereiro 2015
LOGÍSTICA & DISTRIBUIÇÃO
A região Norte tem
mostrado dinâmica
no último ano. A Leica
contribuiu para isso
com as suas novas
instalações
ANA GOMES
Cushman & Wakefield
Bruno Barbosa
em Famalicão.
LEONARDO PERES
CBRE
Procura por imobiliário
industrial está a recuperar
Procura ainda é moderada. Inquilinos têm tentado renegociar as suas condições.
IRINA MARCELINO
[email protected]
As perspectivas para o desenvolvimento do imobiliário industrial - e os seus
segmentos industrial e logística - em
2015 estão optimistas, ainda que de forma moderada. Depois de alguns anos de
estagnação “total”, a melhoria chegou
pelo menos no último trimestre de 2014
e a tendência é para continuar em 2015,
confirma Ana Gomes, responsável pelo
departamento industrial da consultora
imobiliária Cushman & Wakefield. Espaços que estavam vazios há algum
tempo começam agora a ser ocupados
mas, mesmo “havendo ainda mais oferta do que procura, a oferta de qualidade
é cada vez mais reduzida”, afirma a especialista.
Leonardo Peres, ‘senior consultant’ no
departamento industrial de outra con-
sultora, a CBRE, confirma a tendência
de crescimento, mas avisa que ainda é
“muito moderada e com tomadas de
decisão longas”. O especialista destaca
alguns projectos industriais na zona
Norte do país, entre os quais as novas
unidades industriais da Leica em Vila
Nova de Famalicão e da Borg-Warner
em Viana do Castelo. “Tem existido um
fluxo muito interessante do sector industrial na região Norte, onde assistimos a uma procura relevante para a instalação de novos projectos no nosso
país”. Com o aumento da actividade industrial “é expectável uma procura
mais activa no médio-prazo”.
Também Ana Gomes confirma a dinâmica a Norte, antevendo o seu potencial
de desenvolvimento “sobretudo para o
PRINCIPAIS EIXOS INDUSTRIAIS
A procura só atingiu o estado “moderado” nos eixos Alverca-Azambuja e Grande Porto
Eixo
Alverca-Azambuja
Almada-Setúbal
Loures
Montijo-Alcochete
Sintra-Cascais
Grande Porto
Fonte: Cushman & Wakefield
Zonas
Intervalo
Oferta
de rendas (€/m2/mês)
Póvoa de Santa Iria, Alverca, Vila Franca de Xira, Azambuja e Carregado 3,25-3,75
Elevada
Almada, Seixal, Quinta do Anjo, Palmela e Setúbal
2,0-2,75
Elevada
Loures, Odivelas, São Julião do Tojal e MARL
3,50-3,75 Moderada
Montijo e Alcochete
3,00-3,50 Moderada
Sintra, Cascais, Oeiras e Amadora
3,50-3,75 Reduzida
3,50-3,75 Reduzida
Procura
Moderada
Reduzida
Reduzida
Reduzida
Reduzida
Moderada
segmento industrial que tem crescido
muito nos últimos anos”. No entanto,
não deixa de fora a Grande Lisboa entre
as zonas com potencial.
Leonardo Peres é mais específico na
área que considera poder vir a crescer
dentro da Grande Lisboa, destacando o
facto da procura estar a ser especialmente crescente no Norte da capital, de
onde se consegue aceder de forma rápida e com o “menor custo possível ao
centro urbano de Lisboa”. O consultor
refere ainda o facto do crescimento do
negócio B2C (’business to consumer’)
estar a “afunilar” a procura para zonas
mais próximas do centro. Por isso,
acredita, podem vir a existir “alguns
desenvolvimentos nessas zonas” a prazo.
Uma eventual recuperação económica
do país terá bastante importância para
o imobiliário industrial. O incremento
das exportações e, também, das importações, poderá despoletar a necessidade de mais espaço de armazenagem de qualidade.
Hoje, em geral, a procura por parte das
empresas continua muito focada na
redução de custos e nos ganhos na eficiência. “Nos últimos 15 anos muitas
empresas foram “obrigadas” a crescer
para localizações dispersas”, afirma
Ana Gomes. Mas agora procuram concentrar operações “por forma a rentabilizar meios e a tirar partido das condições mais vantajosas do mercado”.
A renegociação de contratos tem sido
por isso uma constante. “A procura
existente tem um misto de necessidades de operação com ocupantes a tirarem partido das condições de mercado
para procurarem melhores instalações
a valores competitivos”, confirma
Leonardo Peres.
Do lado dos senhorios parece haver
flexibilidade para a renegociação. Ana
Gomes explica porquê: “a procura que
vai existindo vem principalmente de
ocupantes actuais e menos de novas
empresas a entrar no mercado”.
Leonardo Peres deixa, no entanto, um
conselho às empresas que querem ter
menos custos com os seus espaços industriais: consultem profissionais do
sector. Isto porque “um imóvel e um
contrato de arrendamento não se resumem a um valor m2 e a uma duração
contratual”. Há, garante, “um conjunto de factores importantíssimos numa
negociação que muitas vezes são desvalorizados em detrimento de uma
análise mais simplista”, conclui. ■
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