ESTE SUPLEMENTO FAZ PARTE INTEGRANTE DO DIÁRIO ECONÓMICO Nº 6118 DE 25 DE FEVEREIRO DE 2015 E NÃO PODE SER VENDIDO SEPARADAMENTE SeongJoon Cho / Bloomberg Logística & Distribuição Os custos de operação logística continuam altos devido aos preços dos combustíveis, às portagens e à electricidade. Estes são desafios que as empresas de logística e transporte enfrentam e que devem ser ultrapassados, diz Nuno Rangel, vice-presidente do grupo Rangel. Mesmo assim, as empresas têm conseguido “evoluir a sua ‘performance’ logística, aproximando-se dos níveis de qualidade praticados na Europa”. O que falta é mais investimento no cumprimento dos prazos de entrega, no nível de serviço, e nas infra-estruturas tecnológicas, defende, aconselhando a uma maior aposta na formação especializada em transportes e logística. O bom desempenho está dependente do equilíbrio conseguido pelas empresas no que respeita à relação entre qualidade e preço praticado. Mas se os custos forem elevados, o equilíbrio pode ser posto em causa. Os desafios deste sector vão muito mais além disso. Christoph Atz, ‘country manager’ da UPS para Portugal e Espanha não tem dúvidas que os principais desafios para o comércio internacional estão relacionadas com questões de documentação e de conformidade. Diz ser essencial » Tecnologia tem melhorado o serviço logístico II Diário Económico Quarta-feira 25 Fevereiro 2015 LOGÍSTICA & DISTRIBUIÇÃO A logística da Amazon é uma das maiores a nível internacional. Na Europa, a empresa está a investir Chris Ratcliffe / Bloomberg num parque logístico na República Checa, mesmo no centro da Europa. » garantir a simplificação de processos para que “os produtos dos clientes passem através das fronteiras nacionais, o mais rapidamente possível e sem problemas”. Christoph Atz frisa que “acordos de livre comércio, modernização das alfândegas e políticas que abram fronteiras são cruciais para o crescimento contínuo do comércio”. Para o responsável, a proposta Transatlantic Trade and Investment Partnership (TTIP) entre a Europa e os EUA “é um exemplo de um acordo que traria enorme valor para as empresas, grandes e pequenas”, sendo urgente “incentivar mais as PME e grandes empresas para exportar os seus produtos”. O que será possível com menos burocracia alfandegária. Outros desafios a que as empresas deverão estar atentas prendem-se com as alterações à legislação, frisa Rui Gomes, ‘coutry manager’ da DHL Supply Chain, nomeadamente “algumas restrições técnicas e ambientais com tendência crescente”. Outro desafio diz respeito ao momento que o mercado atravessa, verificando-se “uma pressão global e ‘cross-sectorial’ para redução de custos, e exigência, flexibilidade e qualidade acrescidos”. Rui Gomes fala da necessidade em obter “ganhos de eficiência contínuos num contexto de crescente competitividade”. E lembra o facto de haver um número maior de ‘players’ no mercado, o que o torna “mais atomizado do ponto de vista da flexibilidade e serviço”. O que é certo é que todos concordam num ponto. As empresas de transportes e logística Comércio electrónico com potencial O segmento B2C (empresa para consumidor) e o comércio electrónico parecem ser uma grande tendência de futuro. Christoph Atz, da UPS, diz que quer um quer outro vão crescer. E Rui Gomes, da DHL refere o “o grande potencial” do B2C. Vítor Enes, da Luis Simões, aponta o ‘e-commerce’ como um canal “cada vez mais utilizado no processo de compra”. E Nuno Rangel refere-o como um “desafio e oportunidade para as empresas”. têm que saber adaptar a sua oferta à constante evolução tecnológica. Para Nuno Rangel, a multiplicidade de canais é uma realidade que não deve ser esquecida e que só implica uma especialização e uma aposta maior em tecnologias que permitirão melhorar a qualidade e eficiência do serviço. O responsável considera que “a tecnologia é um factor diferenciador” e acredita que uma mais-valia resultante das novas tecnologias é a monitorização das cargas em tempo real. “Qualquer cliente pode agendar, rastrear e automatizar os envios e consultar informações actualizadas”, diz. A isto está naturalmente ligada a agregação de valor à cadeia de abastecimento que é, para Vítor Enes, director geral ibérico de Logística da Luis Simões, o maior desafio das empresas do sector. Para tal é preciso desenvolver e implementar soluções competitivas “que se traduzam em ganhos de produtividade e eficiência para o cliente”. E isso só é possível com um investimento grande em tecnologia. Vítor Enes garante que o desafio tecnológico para o sector “é uma oportunidade de competitividade”, visto “simplificar processos e representar uma janela de oportunidades de negócio na cadeia de distribuição”. A aposta em tecnologia parece ser fundamental quer para as empresas de distribuição e logística, quer para as empresas que as contratam (ver texto da página 6). Rui Gomes, ‘country manager’ da DHL Suplly Chain está certo disso. “A tecnologia passou a ser fundamental para o êxito de qualquer organização”, garante, afirmando já não ser vista “apenas como suporte administrativo, mas sim como vector estratégico, constituindo uma importante fonte de vantagem competitiva”. Quem utiliza tecnologias está mais perto do sucesso, pois o seu uso eficaz e a sua integração com os processos logísticos “trouxe um conjunto de vantagens às empresas, quer ao nível da standardização de processos e automatização de determinadas tarefas, quer ao nível da eficiência”, diz Rui Gomes. E as empresas estão cada vez mais conscientes dessa realidade. Por exemplo, a Abreu Carga tem vários clientes de diferentes áreas de negócio “cujo suporte tecnológico é crucial para as suas actividades”, diz Francisco Barbosa, director coordenador, que está convicto que “a optimização e crescimento do negócio é maior se as empresas optarem por terem armazéns inteligentes e apostarem no intercâmbio electrónico de dados”. Francisco Barbosa frisa a existência de “uma série de soluções tecnológicas que conferem competitividade acrescida”. E as mais valias, são, desde logo, “permitir satisfazer as necessidades do clientes, de forma mais rápida, organizada e económica”. Daí a empresa oferecer soluções tecnológicas que “muito têm influenciado positivamente a gestão logística”. RAQUEL CARVALHO Quarta-feira 25 Fevereiro 2015 Diário Económico III Por onde passa a estratégia das empresas de logística e distribuição CHRISTOPH ATZ ‘Country Manager’ da UPS para Portugal e Espanha A estratégia da UPS passa por “aumentar os negócios em todos os segmentos, continuar a fazer investimentos na rede de transporte, produtos e tecnologia, continuar a desenvolver os seus pontos fortes e tirar o máximo proveito das tendências de mercado existentes”, diz Christph Atz. O responsável garante que a UPS estará atenta ao crescimento do comércio electrónico, à gestão ‘just-in-time’ do inventário e ao crescente uso da Internet. Mas não só. O gestor para Portugal e Espanha diz que a empresa quer criar condições para ter serviços de transporte “ainda mais confiáveis e eficazes”, e que estará atenta à “terceirização da gestão da cadeia de abastecimento”, que permite diminuir custos aos clientes. PUB VÍTOR ENES Director geral ibérico de logística da Luís Simões 2014 foi positivo para a Luís Simões, que angariou novos clientes em particular no mercado espanhol, como a Monster Energy, Estrella Galicia, Schweppes PVL e a Procter & Gamble (P&G). O ano passado ficou marcado pela ampliação de serviços contratualizados com clientes de longa data (como as marcas Heineken e Nestlé, Sogenave e Telepizza) e pela abertura do novo centro logístico e de operações da multinacional P&G, no parque empresarial La Quinta, “criado para dar resposta às suas necessidades e que veio alargar a nossa capacidade de oferta e consolidar a nossa operação na capital espanhola”, diz Vitor Enes. Em 2015, o objectivo é “a consolidação e aposta no nosso principal mercado xterno: Espanha”. NUNO RANGEL Vice Presidente da Rangel RUI GOMES ‘Country Manager’ DHL FRANCISCO BARBOSA Director coordenador da Abreu Carga Com um volume de negócios de 150 milhões de euros em 2014, a Rangel quer em breve alargar os serviços que presta no Brasil, onde já está em São Paulo, ao começar a operar também nas regiões do Rio de Janeiro, Recife e Manaus. Uma das grandes apostas da empresa é a unidade Rangel Pharma, que deverá ver crescer o seu peso para 5% da facturação já em 2015. Nuno Rangel frisa a aposta na solução ‘one-stop-shop’ que vai desde o despacho aduaneiro, transporte terrestre europeu, transporte aéreo e marítimo, transporte expresso doméstico e internacional, gestão de ‘stocks’ e serviços de valor acrescentado. Com este serviço, a empresa está presente em sectores como o da electrónica, ‘automotive’ e aeronáutica, farmacêutica, industrial, moda e acessórios. A DHL Supply Chain é uma das três divisões do grupo alemão Deutsche Post DHL. Está presente em 220 países e oferece soluções à medida das necessidades das empresas, tanto no transporte de carga, armazenagem e distribuição, como na cadeia de fornecimentos. Rui Gomes destaca a aposta na tecnologia para tornar o negócio dos clientes “mais competitivo”. E refere que o sucesso passa por oferecer serviços que permitem uma integração plena com os processos logísticos. O responsável destaca ainda a oferta a nível de classificadores automáticos e sistemas de ‘picking’ automático. De frisar que a DHL fornece expresso internacionais, frete global aéreo, marítimo, rodoviário e ferroviário, bem como soluções de armazenagem. A Abreu Carga está muito focada nas empresas exportadoras. São elas as suas principais clientes, garante Francisco Barbosa, que não tem dúvidas em afirmar que o maior desafio da empresa, na conjuntura económica actual, é “dar apoio às empresas portuguesas com vocação exportadora, numa lógica de serviços cuja competitividade – em razão do preço e da agregação de competências nos diferentes modos de transporte - é determinante”, uma vez que, explica, muitas empresas dependem das importações”. A dupla vertente importação-exportação é um desafio competitivo à actividade da Abreu Carga em Angola, onde tem uma filial há quatro anos. A empresa tem vários clientes de diferentes áreas e aposta muito em tecnologia e num sistema informático integrado. IV Diário Económico Quarta-feira 25 Fevereiro 2015 LOGÍSTICA & DISTRIBUIÇÃO Associações unem-se pela competitividade As exportações nacionais e a competitividade de Portugal pode estar em causa com novas medidas protecionistas e anti-concorrenciais. RAQUEL CARVALHO [email protected] As exportações portuguesas para o centro da Europa podem sair prejudicadas com as alterações feitas em França, Bélgica e Alemanha relativamente às regras relacionadas com o transporte internacional de mercadorias. Para tentar ‘boicotar’ o seu avanço, sete associações portuguesas (APLOG, APOL, ANTRAM, ANTP, APAT, AIP, CPC, subscreveram um documento que luta pela competitividade do transporte internacional rodoviário de mercadorias. As medidas em causa têm que ver com a proibição de condutores de transporte rodoviário terem um descanso semanal regular de 45 horas a bordo das viaturas, sendo obrigados a dormir em unidades hoteleiras daqueles três países, e a aplicação do salário mínimo por hora na Alemanha para os condutores de veículos rodoviários de empresas domiciliadas fora desse país. Para as associações estas são medidas “altamente proteccionistas e anti-concorrenciais que configuram a criação de barreiras ao livre comércio, penalizando os produtos provenientes dos países periféricos e protegendo os produtos originários do centro da Europa. A persistência destas alterações, são, dizem no documento, “um grave ataque à economia nacional, prejudicando fortemente o sector exportador, tão importante para a recuperação que se pretende que continue”. Ao Diário Económico, Alcibíades Paulo Guedes, presidente da direcção da Associação Portuguesa de Logística (APLOG), mostrou-se preocupado com as consequências para Portugal, como país periférico que é. Lembra que Portugal está a sair da crise e que as exportações “foram e são fundamentais para o nosso país continuar o caminho de sucesso, tendo a logística contribuído por obter uma maior produtividade, eficiência e competitividade”, pelo que acredita que a permanência destas medidas pode levar a um retrocesso. Na sua opinião, a sua não suspensão vai “contribuir para reduzir a nossa competitividade logística”. Realçando que o potencial acréscimo de custo inerente a ambas as medidas resulta, essencialmente, da necessidade de descanso de muitos motoristas de transporte rodoviário ter de ser efectuado, em França e Bélgica, em unidades hoteleiras e não a bordo das suas viaturas como é habitual”. Fonte oficial do Conselho Português de Carregadores (CPC) revelou as mesmas preocupa- ALCIBÍADES PAULO GUEDES Presidente da Associação Portuguesa de Logística “ A não suspensão destas medidas vai contribuir para reduzir a nossa competitividade logística. As associações em protesto As sete associações que subscreveram o documento são a Associação Portuguesa de Logística (APLOG), a Associação Portuguesa de Operadores Logísticos (APOL), a Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM), a Associação Nacional das Transportadoras Portuguesas (ANTP), a Associação dos Transitários de Portugal (APAT), e a Associação Industrial Portuguesa (AIP). ções, frisando que as medidas vão prejudicar as exportações nacionais para o centro da Europa, “onde o transporte marítimo não é competitivo” e para onde não existem soluções ferroviárias a partir de Portugal. Frisa ainda serem medidas proteccionistas e anti-concorrenciais e menciona o aumento dos custos para transportadores e carregadores. Para os carregadores, além do potencial aumento de custo, poderá verificar-se um incremento do tempo de trânsito entre a origem e o destino do produto, com implicações no serviço prestado pelos exportadores aos seus clientes europeus”, diz fonte da CPC. Alcibíades Paulo Guedes enumera o mesmo facto, e acrescenta o potencial aumento de roubos de produtos transportados nos veículos. O presidente da APLOG frisa que os motoristas de transporte rodoviário “não são colaboradores que estão destacados em trabalho em determinado país, mas sim temporariamente e por esta razão, não faz sentido que a legislação seja aplicada ao transporte rodoviário”. E revela não entender medidas proteccionistas no seio da União Europeia. Mas se é o transporte rodoviário o mais prejudicado, a CPC acredita que estas medidas vão “afectar todo o transporte de Portugal para a Alemanha por serem cargas com uma origem e apenas um destino”. Como podem as empresas combater estas medidas? “Unirem-se e bloquearem na União Europeia (UE) a sua aplicação”, diz Alcibíades Paulo Guedes. Daí o manifesto a que várias associações se juntaram. Quanto aos desafios que as empresas do sector enfrentam, o presidente da APLOG diz estarem associados à localização periférica de Portugal e “a questões estruturais”, sendo importante a criação de condições para “reduzir custos de periferia, ao nível de transporte ferroviário/marítimo e apostar numa maior integração europeia, por forma a aproveitar as condições logísticas de Portugal, quer na ligação África/América, quer no ‘hub’ de ligação à Ásia (Sines). Já a CPC afirma que os desafios concentram-se “na busca incessante de maior eficiência, produtividade e competitividade”, considerando necessário fazer alterações legislativas em todos os meios de transporte de mercadorias para tornar o país cada vez mais competitivo. ■ Quarta-feira 25 Fevereiro 2015 Diário Económico V Empresas atentas à extensão do porto para o Barreiro Transporte rodoviário será prejudicado pelas regras francesas, alemãs e belgas. Associações portuguesas dizem que também para as exportações nacionais as alterações serão negativas. Competitividade pode aumentar com maior movimentação. As empresas portuguesas estão atentas à possibilidade do porto de Lisboa se expandir para o Barreiro através de um novo terminal de contentores. “Em função das notícias que têm surgido, muitas empresas estão a reposicionar-se face à eventual construção do porto, que irá incrementar a procura e dinamizar os parques industriais da região”, garante Leonardo Peres, responsável pelo departamento industrial da consultora imobiliária CBRE. A expansão do porto de Lisboa para o Barreiro está a ser analisada, mas a própria presidente da Administração do Porto de Lisboa, Marina Ferreira, tem vindo a defender a opção. Em entrevista ao Económico, disse que uma das Chris Ratcliffe / Bloomberg PUB suas vantagens “é a possibilidade de ter uma zona logística e tecnológica associada, propriedade do Estado”. Bernardo Mota, responsável de logística e serviço ao cliente da Fisipe, vê a extensão como positiva para a empresa. A proximidade iria “aumentar a competitividade na entrega de contentores cheios para exportação”. Leonor Afonso, directora de logística da Auchan, antevê que poderá “permitir maior movimentação de cargas”. E, caso se aumente a capacidade de acessos ferroviários de mercadorias com ligação directa ao pólo logístico de Azambuja, acredita que as valências “poderão ser realmente relevantes”, diz. ■ I.M. e R.C. VI Diário Económico Quarta-feira 25 Fevereiro 2015 LOGÍSTICA & DISTRIBUIÇÃO Como organizam as empresas a sua logística Através de ‘outsourcing’, com recurso a transportes marítimos, rodoviários ou por avião. IRINA MARCELINO E RAQUEL CARVALHO [email protected] Para exportar, importar, receber ou distribuir os seus produtos, as empresas têm de organizar a sua logística da melhor forma. Conheça como o fazem algumas das empresas contactadas pelo Diário Económico. SOGRAPE VINHOS Transporte marítimo é o mais utilizado A logística na Sogrape Vinhos está integrada na área de operações para optimizar os meios e recursos nos centros de armazenagem e de distribuição dos dois pólos de produção, em Avintes e em Santa Marinha. O serviço comporta a logística de recepção, com os armazéns de matérias-primas e abastecimentos às linhas, e a logística de saída, com o armazéns de produto acabado e as distribuições. A distribuição internacional é feita directamente a partir dos dois pólos produtivos e a nacional em armazém próprio, em Avintes. “Todo o planeamento e gestão dos meios logísticos das operações e transportes são centralizados neste serviço”, informa Paulo Manso Preto, director de operações. Nas importações, a Sogrape Vinhos utiliza em 80% das vezes o transporte marítimo, e nos restantes 20% o rodoviário. Para exportar a via marítima pesa 65% das cargas totais, tendo ganho terreno ao rodoviário nos últimos três anos. BOSCH 6.500 referências recebidas por dia A logística na Bosch em Aveiro coordena todo o fluxo de materiais na cadeia de valor através de três áreas. A primeira está relacionada com o planeamento dos clientes e gestão dos respectivos ‘stocks’ de produto final nos ar- mazéns em todo o mundo. A segunda trata do planeamento de quantidades com fornecedores. E a terceira do fluxo de materiais. O departamento de logística da Bosch em Aveiro é responsável pela distribuição dos seus produtos a todos os clientes no mercado nacional e pela exportação para mais de 50 países. Por dia, entrega e recebe cerca de 6.500 referências de produtos para distribuição. 130 colaboradores da área trabalham para dar resposta atempada a todos os pedidos. O facto de grande parte do negócio ser europeu contribuiu para que o principal meio de transporte utilizado pela Bosch em Aveiro ser o rodoviário. Mas o crescimento e aposta da Bosch Termotecnologia noutros mercados, como o México ou o Norte de África, tem vindo a impulsionar o desenvolver o transporte marítimo, disse ao Económico Anabela Rodrigues, directora de Logística da Bosch Termotecnologia. FUJITSU Meios terrestre e aéreo são os mais usados A actividade da Fujitsu em Portugal ao nível da armazenagem, recepção, ‘stockagem’, expedição, circuito de transporte, etc. é assegurada por um operador em regime de ‘outsourcing’. Mas existe uma estrutura interna que assegura a gestão e a supervisão do operador. “Geograficamente, temos um armazém central e mais cinco pólos logísticos no continente. Nas ilha, a logística é assegurada por parceiros locais”, conta António Enes, da Fujitsu Portugal. A maioria das importações feitas pela empresa vêm pela via terrestre, optando-se por vezes pelo ‘drop-shipment’. Em situações de urgência, recorrem ao transporte aéreo, que também é utilizado por alguns dos seus fornecedores que têm acordos com ‘couriers’. A via marítima é raramente utilizada e acontece apenas em situações em que a mercadoria seja volumosa, pesada e que venha da Ásia ou da América. Nas exportações em que é a Fujitsu em Portugal a tratar, depende do destino e do tempo disponível para o transporte, sendo que por vezes pode passar pelos meios terrestre e aéreo. “Por norma, recorremos a transitários que nos organizam os envios”. A Fujitsu é o maior empregador japonês no nosso país, com mais de mil colaboradores. FISIPE ‘Outsourcing’ para produto acabado Com logística própria, a Fisipe recorre a transportadores, transitários, agentes de navegação e armadores para transportar os seus produtos até aos clientes. Utiliza o ‘outsourcing’ no armazém de produto acabado e o transporte marítimo é o que mais utiliza. Mais de 130 pessoas trabalham na logí da Bosch em Aveiro. AUCHAN Cinco plataformas A logística da Auchan divide-se em cinco plataformas especializadas por tipologia de mercadoria, todas num raio de 100 quilómetros da Grande Lisboa. Para as transacções intracomunitárias, a empresa utiliza o transporte rodoviário. Já nas importações e nas transacções extra comunitárias, o transporte marítimo é o mais utilizado, logo seguido do aéreo, rodoviário e intermodal. ■ A utilização de tecnologias na logística empresarial é já uma realidade e tem trazido grandes benefícios às empresas. Bernardo Mota, da Fisipe, reconhece que os avanços tecnológicos “têm ajudado de forma significativa a operação logística”. Paulo Manso Preto, da Sogrape, fala de um “aumento de eficiência administrativa, da eficácia do planeamento, da diminuição de erros, do controlo e visibilidade de todo o processo, aumentando o nível de serviço prestado ao cliente”. A racionalização de custos e a diminuição de erros nas operações são as mais-valias trazidas pelas tecnologias ao serviço de logística da Auchan, frisa Leonor Afonso, directora daquele serviço, levando a “um aumento do volume das operações”, diz. Paa a Fujitsu Portugal, a tecnologia tem sido “crucial no aumento de eficiência e produtividade logística”, e a empresa reconhece estar “permanentemente atentos no sentido da adopção de novas soluções tecnológicas” nesta área, “cuja aplicação tem resultados em ganhos substanciais para toda a nossa operação”. O mesmo acontece com a Bosch, para quem as tecnologias de in- formação e comunicação, juntamente com as tecnologias de automação, “têm aumentado a rapidez da identificação, recolha, processamento, análise e transmissão de dados, garantindo um elevado nível de confiança e precisão nesta área” e sendo essenciais para garantir a gestão de informação e a eficácia e eficiência numa cadeia logística, disse ao Económico fonte da empresa. ■ Foto cedida pela Fujitsu Em defesa das tecnologias Quarta-feira 25 Fevereiro 2015 Diário Económico VII Suportaria 24 horas a organizar a logística de uma empresa? ística A organização dos produtos frescos da Auchan em imagem de 2012. Paulo Alexandre Coelho Foto cedida pela Bosch O desafio é lançado a profissionais de vários sectores. Este ano vai ser na Sonae, na Maia. A 10ª edição do “24 horas de Logística” está programada para acontecer este ano a 27 e 28 de Junho. O local escolhido são as instalações da Sonae na Maia (Entreposto Maia). Alexandre Real, ‘partner’ da SFORI, a empresa que organiza, desde sempre, o desafio, disse ao Diário Económico esperar que a edição deste ano seja “competitiva”. Uma competitividade que será potenciada pela “grande capacidade” dos armazéns da Sonae a nível tecnológico. Com o objectivo desenvolver as competências relacionais e potenciar o trabalho em equipa, as “24 horas de logística” têm uma “vertente prática muito grande”. Alexandre Real destaca o facto de, em 2005, quando surgiu, apenas existir formação técnica na área em Portugal. Esta formação, que acontece uma vez por ano, veio trabalhar vertentes até então desacompanhadas: o comportamento e a liderança. A formação é levada a cabo através da experiência das 24 horas, durante as quais vários desafios intelectuais, físicos e relacionais são lançados. Os participantes terão de reagir como se de uma situação real - e limite - se tratasse. O evento é, por isso, difícil. E as empresas reconhecem-no. “Até os responsáveis pela logística do F16, uma equipa vinda da Força Aérea Portuguesa, consideraram a iniciativa dura”, lembra o ‘partner’. E a partir da 12ª hora mais complicada se torna. “A partir da 12ª hora começa a ser bastante cansativo. Deixamos de ter filtros. Há uma entropia na comunicação e é difícil gerir conflitos”. Esta fase é, no entanto, muito importante para perceber de que forma trabalham as equipas sob cansaço e em situações de stress. No final do dia, ganha quem comunicou e liderou melhor, sendo que a parte da partilha é fundamental: “é tão importante a comunicação como a liderança partilhada”, confirma Real. Cada empresa pode inscrever um grupo de entre três a cinco pessoas. Os participantes podem vir de áreas diferentes dentro da empresa (do líder à pessoa com experiência em dirigir um empilhador), compondo assim equipas mistas e polivalentes. Não podem participar equipas da empresa onde vai decorrer o evento. Este ano, a Sonae fica de fora. Ao final de um mês, são distribuídos os troféus. No ano passado, a grande vencedora da edição que decorreu no Porto de Sines, foi a S-LOG, uma empresa do grupo Entreposto Logística. Há dois anos a vencedora foi o Instituto Politécnico de Setúbal e, há três, a Autoeuropa. Mas a empresa que venceu maior número de edições foi a Luis Simões. ■ I.M. ALEXANDRE REAL ‘Partner’ da SFORI, a empresa que organiza as “24 horas de logística”. EQUIPAS Casa empresa pode inscrever as suas equipas, que devem ter entre três e cinco pessoas. Para se inscrever Vá ao site www.24horasdelogistica. sfori.com e inscreva a sua equipa a partir do formulário ali disponibilizado, anexando à inscrição o pagamento. VIII Diário Económico Quarta-feira 25 Fevereiro 2015 LOGÍSTICA & DISTRIBUIÇÃO A região Norte tem mostrado dinâmica no último ano. A Leica contribuiu para isso com as suas novas instalações ANA GOMES Cushman & Wakefield Bruno Barbosa em Famalicão. LEONARDO PERES CBRE Procura por imobiliário industrial está a recuperar Procura ainda é moderada. Inquilinos têm tentado renegociar as suas condições. IRINA MARCELINO [email protected] As perspectivas para o desenvolvimento do imobiliário industrial - e os seus segmentos industrial e logística - em 2015 estão optimistas, ainda que de forma moderada. Depois de alguns anos de estagnação “total”, a melhoria chegou pelo menos no último trimestre de 2014 e a tendência é para continuar em 2015, confirma Ana Gomes, responsável pelo departamento industrial da consultora imobiliária Cushman & Wakefield. Espaços que estavam vazios há algum tempo começam agora a ser ocupados mas, mesmo “havendo ainda mais oferta do que procura, a oferta de qualidade é cada vez mais reduzida”, afirma a especialista. Leonardo Peres, ‘senior consultant’ no departamento industrial de outra con- sultora, a CBRE, confirma a tendência de crescimento, mas avisa que ainda é “muito moderada e com tomadas de decisão longas”. O especialista destaca alguns projectos industriais na zona Norte do país, entre os quais as novas unidades industriais da Leica em Vila Nova de Famalicão e da Borg-Warner em Viana do Castelo. “Tem existido um fluxo muito interessante do sector industrial na região Norte, onde assistimos a uma procura relevante para a instalação de novos projectos no nosso país”. Com o aumento da actividade industrial “é expectável uma procura mais activa no médio-prazo”. Também Ana Gomes confirma a dinâmica a Norte, antevendo o seu potencial de desenvolvimento “sobretudo para o PRINCIPAIS EIXOS INDUSTRIAIS A procura só atingiu o estado “moderado” nos eixos Alverca-Azambuja e Grande Porto Eixo Alverca-Azambuja Almada-Setúbal Loures Montijo-Alcochete Sintra-Cascais Grande Porto Fonte: Cushman & Wakefield Zonas Intervalo Oferta de rendas (€/m2/mês) Póvoa de Santa Iria, Alverca, Vila Franca de Xira, Azambuja e Carregado 3,25-3,75 Elevada Almada, Seixal, Quinta do Anjo, Palmela e Setúbal 2,0-2,75 Elevada Loures, Odivelas, São Julião do Tojal e MARL 3,50-3,75 Moderada Montijo e Alcochete 3,00-3,50 Moderada Sintra, Cascais, Oeiras e Amadora 3,50-3,75 Reduzida 3,50-3,75 Reduzida Procura Moderada Reduzida Reduzida Reduzida Reduzida Moderada segmento industrial que tem crescido muito nos últimos anos”. No entanto, não deixa de fora a Grande Lisboa entre as zonas com potencial. Leonardo Peres é mais específico na área que considera poder vir a crescer dentro da Grande Lisboa, destacando o facto da procura estar a ser especialmente crescente no Norte da capital, de onde se consegue aceder de forma rápida e com o “menor custo possível ao centro urbano de Lisboa”. O consultor refere ainda o facto do crescimento do negócio B2C (’business to consumer’) estar a “afunilar” a procura para zonas mais próximas do centro. Por isso, acredita, podem vir a existir “alguns desenvolvimentos nessas zonas” a prazo. Uma eventual recuperação económica do país terá bastante importância para o imobiliário industrial. O incremento das exportações e, também, das importações, poderá despoletar a necessidade de mais espaço de armazenagem de qualidade. Hoje, em geral, a procura por parte das empresas continua muito focada na redução de custos e nos ganhos na eficiência. “Nos últimos 15 anos muitas empresas foram “obrigadas” a crescer para localizações dispersas”, afirma Ana Gomes. Mas agora procuram concentrar operações “por forma a rentabilizar meios e a tirar partido das condições mais vantajosas do mercado”. A renegociação de contratos tem sido por isso uma constante. “A procura existente tem um misto de necessidades de operação com ocupantes a tirarem partido das condições de mercado para procurarem melhores instalações a valores competitivos”, confirma Leonardo Peres. Do lado dos senhorios parece haver flexibilidade para a renegociação. Ana Gomes explica porquê: “a procura que vai existindo vem principalmente de ocupantes actuais e menos de novas empresas a entrar no mercado”. Leonardo Peres deixa, no entanto, um conselho às empresas que querem ter menos custos com os seus espaços industriais: consultem profissionais do sector. Isto porque “um imóvel e um contrato de arrendamento não se resumem a um valor m2 e a uma duração contratual”. Há, garante, “um conjunto de factores importantíssimos numa negociação que muitas vezes são desvalorizados em detrimento de uma análise mais simplista”, conclui. ■