Seminário China and the World Economy
Representante do BNDES: Alexandre Lautenschlager, economista
da Área de Comércio Exterior.
Data: 17 e 18 de março de 2011.
Local: EPGE – FGV, Rio de Janeiro.
O seminário China and the World Economy foi dedicado à reunião
de representantes das esferas acadêmica, empresarial e pública para
discutir a economia chinesa em seus diversos aspectos. Temas tratados
ao longo dos dois dias do evento incluíram a estratégia de desenvolvimento da China, suas lições para outros países em desenvolvimento,
os prospectos de médio e longo prazos para o país e o papel dos
“desequilíbrios globais” para o futuro da economia mundial.
Por restrições de agenda, o autor compareceu somente à primeira
seção do segundo dia do evento. Entre os trabalhos apresentados, o
do economista e professor Raghuram G. Rajan foi escolhido para esta
comunicação pela proeminência do palestrante e pela relevância de
suas conclusões. Rajan foi economista chefe do Fundo Monetário
Internacional (FMI) e atualmente leciona na Booth School of Business
da Universidade de Chicago. Em 2005, ganhou atenção ao apresentar,
sob críticas da maioria dos presentes, o artigo “Has Financial Development Made the World Riskier?”, no encontro do Federal Reserve
(Fed), o Banco Central americano, em Jackson Hole, Wyoming.1
Nele, mostrou grande clareza sobre como o desenvolvimento de um
mercado financeiro desregulado, a despeito de alguns benefícios,
tinha também trazido novos perigos à economia mundial. Seu mais
recente livro, Fault lines: how hidden fractures still threaten the world
1
O artigo se encontra disponível em:
<http://www.kansascityfed.org/publicat/sympos/2005/pdf/rajan2005.pdf>.
Seminário China and the World Economy
411
p. 411-416
economy, é considerado uma referência para a interpretação da crise
financeira internacional e suas consequências, tendo sido premiado
pelo Financial Times/Goldman Sachs como “2010 Best Business
Book of the Year”. Em fevereiro, levantamento realizado pela revista
The Economist com 50 economistas de destaque apontou Rajan como
o detentor das ideias mais importantes para o mundo pós-crise.
Trabalho: The global trade imbalances, how they might develop,
and what role China might play 2
Autor: Raghuram Rajan, Universidade de Chicago.
O argumento desenvolvido por Rajan tem por base a divisão dos
principais atores do comércio global em três categorias: os países consumidores (ou gastadores, do termo inglês spenders), os produtores e
os ricos em recursos naturais. No primeiro grupo, estão nações como
Estados Unidos, Reino Unido e Espanha. O segundo inclui grandes
exportadores líquidos, como China, Alemanha e Japão. No último,
encontram-se os fornecedores dos diversos tipos de commodities
na América Latina, no Oriente Médio e na África. Do resultado do
comércio entre consumidores e produtores, originam-se os chamados
“desequilíbrios globais”, expressos com maior destaque no déficit em
conta corrente americano e no persistente superávit chinês. Grande
parte dos macroeconomistas interpreta tal fenômeno como simples
consequência de um excesso de poupança nos países credores, que
financia o consumo de suas contrapartes deficitárias. Rajan, por
sua vez, defende que os nexos causais são mais tênues. Um melhor
entendimento da situação atual passaria pelas políticas públicas implementadas em cada país de modo independente.
No caso dos Estados Unidos, a explosão de consumo da década
passada teria raízes na brutal concentração de renda verificada desde
2
A apresentação de Rajan está disponível em: <http://epge.fgv.br/chinaconference/docs/
Global-Trade-mbalances-How-they-may%20develop-and-%20Chinas-role.ppt >.
412
Revista do BNDES 35, julho 2011
o início dos anos 1990. Com o advento de novas tecnologias, segundo
Rajan, o mercado de trabalho americano tornou-se mais exigente
quanto às habilidades e à instrução dos empregados. Esse movimento
não foi acompanhado de medidas que reestruturassem o sistema
educacional, compatibilizando a oferta com o número de vagas
abertas com o requisito de nível superior. Frente à escassez de mão
de obra qualificada, salários nos estratos mais elevados de rendimento
aumentaram continuamente, avançando sobre a remuneração das
camadas intermediárias e inferiores. Dado o fraco apoio à ação
redistributiva mais direta, mesmo em governos democratas, políticos
viram um caminho particularmente fácil e efetivo para a supressão
do descontentamento popular no fomento à expansão do crédito
(nas palavras de Rajan, “let them eat credit”), especialmente o
habitacional, por meio de agências governamentais. Assim, com
a ajuda de hipotecas e instrumentos derivativos sofisticados, o
endividamento permitiu que o consumo permanecesse artificialmente
alto mesmo entre famílias cuja renda disponível estava estagnada.
A situação ganhou também uma face cíclica quando finalmente
ocorreu o estouro da bolha no mercado de empréstimos subprime.
Por força da experiência histórica, em que, tipicamente, o produto
interno bruto (PIB) retornava a uma trajetória de crescimento dois
trimestres após a crise e os empregos perdidos eram recuperados em
cerca de oito meses, a rede de proteção social dos Estados Unidos
é focada em benefícios de curta duração. Similarmente, planos de
assistência médica são condicionados ao vínculo empregatício,
deixando particularmente vulneráveis pessoas que ainda estejam
procurando recolocação. Entretanto, a última retomada da atividade
econômica americana tem sido caracterizada por baixa geração de
empregos (jobless recovery) e as autoridades são então pressionadas
a executar estímulos fiscais e monetários desproporcionais (e.g. o
programa de incentivo à compra de carros e a política de quantitative
Seminário China and the World Economy
413
easing), prolongando o período de sobreconsumo.3 O capital barato
oferecido pelos países poupadores teria facilitado a dinâmica descrita,
mas não seria uma condição necessária para sua materialização. Nas
palavras do próprio palestrante, a poupança chinesa apenas “adicionou
combustível ao fogo”.
Por sua vez, do outro lado do Pacífico, países asiáticos registram
superávits graças à orientação de seus governos em perseguir uma
estratégia de crescimento apoiado pelas exportações (export-led
growth), inspirada principalmente no sucesso do modelo japonês.
Em alguns casos, como Coreia do Sul e Filipinas, a decisão decorreu
do choque da crise asiática, quando os países foram obrigados a
confrontar a fragilidade do modelo anterior de investimento financiado
por endividamento externo. Para outros, a ênfase na integração ao
comércio internacional era importante porque o mercado interno se
mostrava muito estreito para acomodar um volume de vendas que
garantisse os ganhos necessários à formação de grandes empresas
nacionais. Em comum, os formuladores da política econômica
estariam agindo de forma “discriminatória” em favor do empresariado
e contra as famílias (households), deprimindo a renda dos segundos
para melhorar os ganhos dos primeiros e torná-los competitivos a
nível global.
Para o futuro próximo, Rajan prevê uma gradual superação dos
desequilíbrios atuais. Apesar da insistência do governo americano
nos estímulos ao consumo e outras medidas expansionistas, a relativa
lentidão dos países desenvolvidos em readquirir o dinamismo pré-crise
acelerará o deslocamento do centro de gravidade do consumo global
em direção aos emergentes. Ao mesmo tempo, a China dá sinais de
que está disposta a diminuir sua dependência da demanda externa e
3
Nesse sentido, se ressaltariam as possíveis contradições no duplo mandato do Federal Reserve
em controlar pressões inflacionárias e manter níveis adequados de emprego.
414
Revista do BNDES 35, julho 2011
retornar à trajetória de apreciação, ainda que lenta, de sua moeda em
termos reais. Quanto à necessidade de que o processo de ajustamento
seja de alguma forma coordenado pelo G-20, o palestrante manifesta
ceticismo não apenas na capacidade de um grupo tão heterogêneo
alcançar acordo sobre questões de política que envolvem as soberanias individuais, mas também quanto à efetividade de intervenções
desse tipo, já que a defasagem entre ações e seus efeitos é “variável
e incerta”. Organismos supranacionais, principalmente o FMI, teriam
como principal missão garantir a regulação das finanças globais com
medidas macroprudenciais e impedir a adoção por parte de seus
países-membros de barreiras ao comércio e ao investimento.
Durante os comentários, Rajan foi questionado se, em sua opinião,
o restabelecimento do Glass-Steagal Act nos Estados Unidos seria
uma forma eficiente de evitar novos colapsos no sistema financeiro
americano.4 Em sua resposta, ele afirmou que a aprovação da
legislação original foi muito pouco baseada em dados e mais na
percepção de que os bancos haviam se tornado grandes demais. Tal
preocupação foi renovada na última crise, mas reguladores devem
ponderar o perigo de se verem na situação oposta na qual os bancos
são “muito numerosos para quebrar” (too many to fail, em oposição a
too big to fail) ou, alternativamente, na qual as atividades arriscadas
tenham se movido completamente para o shadow banking system,
onde não podem ser monitoradas com confiabilidade. Ademais,
mesmo que as antigas restrições não tivessem sido revogadas, os
grandes protagonistas da crise, como o banco Lehman Brothers,
não seriam impossibilitados de executar as manobras contábeis e a
engenharia financeira que eventualmente colaboraram para a crise.
4
O Glass-Steagal Act foi a legislação aprovada após a Grande Depressão, que, entre outras
medidas, promovia a separação entre bancos de depósito e investimento. A partir de 1999,
tal restrição foi suspensa.
Seminário China and the World Economy
415
Aos interessados, uma referência crítica à interpretação de Rajan
sobre a ligação entre desigualdade de renda nos Estados Unidos,
políticas públicas e a crise é o economista do Massachusetts Institute
of Technology (MIT) Daron Acemoglu. Uma apresentação resumindo
seus argumentos está disponível em: <http://econ-www.mit.edu/
files/6348>. A ela é oferecida uma contrarresposta em: <http://blogs.
chicagobooth.edu/n/blogs/blog.aspx?nav=main&webtag=faultlines&
entry=29>. Paul Krugman e Robin Wells também escreveram uma
informativa resenha dos livros sobre a crise financeira para o The
New York Review of Books, dividida em duas partes, que podem ser
lidas em: <http://www.nybooks.com/articles/archives/2010/sep/30/
slump-goes-why/?page=1> e <http://www.nybooks.com/articles/
archives/2010/oct/14/way-out-slump/?utm_source=feedburner&utm_
medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+nybooks+%28The+New
+York+Review+of+Books%29>.
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Revista do BNDES 35, julho 2011
Reunião anual da Associação de Economia dos EUA
Representante do BNDES: Gilberto Rodrigues Borça Jr., economista
e gerente da Área de Pesquisa e Acompanhamento Econômico do
Departamento (APE).
Data: 6 a 9 de janeiro de 2011.
Local: Denver, Colorado, EUA.
Tema: American Economic Association (AEA) Meeting
Descrição das “mesas” e palestrantes
O AEA Meeting envolve, à semelhança do encontro nacional dos
centros de pós-graduação no Brasil (Anpec), diversas mesas e painéis
simultâneos sobre os mais variados assuntos. Dessa forma, entre
os temas considerados mais relevantes, escolheu-se um painel para
elaboração desse comunicado, haja vista a restrição de espaço.
O principal painel do evento, no dia 7 de janeiro, intitulava-se The
Dollar, the Euro, the Yuan, and the International Monetary System,
presidido por Dominick Salvatore (Fordham University) e teve como
debatedores alguns dos mais reconhecidos professores de economia
internacional: Martin Feldstein (Harvard University); Peter Kenen
(Princeton University); Ronald McKinnon (Stanford University).
Ausentaram-se da mesa de discussão Kenneth Rogoff (Harvard
University) e Michael Mussa (Peterson Institute for International
Economics), que inicialmente faziam parte da mesa.
Martin Feldstein (Universidade de Harvard)
Martin Feldstein sustenta que os desequilíbrios globais em conta
corrente estão, atualmente, em processo natural de correção. No
entanto, as políticas econômicas implementadas por seus principais
Reunião anual da Associação de Economia dos EUA
417
p. 417-428
atores – EUA e China – vêm impedindo que as forças de mercado
atuem na “direção correta” de maneira mais efetiva. Antes de chegar
a esse ponto, Feldstein fez algumas afirmações sobre como os desequilíbrios globais em conta corrente afetam a economia internacional:
a. criam pressões para a adoção de políticas protecionistas nos
países com déficits em transações correntes;
b. têm levado à adoção de medidas restritivas (controles seletivos
sobre os fluxos de capitais) para a prevenção de movimentos
bruscos de apreciação cambial nos países emergentes, acarretando distorção na realização de investimentos e má alocação
de capital entre os países;
c. fomentaram o estouro da bolha imobiliária norte-americana em
2006, na medida em que contribuíram para que as taxas de juros
de longo prazo – tanto nos EUA como no restante do mundo –
ficassem artificialmente baixas, levando os investidores internacionais a elevarem seu grau de apetite ao risco via excessiva
alavancagem na busca de ativos de maior rentabilidade;
d. políticas que visam conter a apreciação cambial em países com
contas correntes superavitárias tendem a elevar os níveis de inflação quando a demanda doméstica está aquecida (esterilização
dos influxos de capitais, acúmulo de reservas internacionais e
expansão monetária), ao passo que políticas que têm a intenção
de conter a depreciação cambial tendem a causar deflação nos
países com déficit em conta corrente (queima de reservas e queda
da oferta monetária).
Feldstein sustenta também que países com déficit em transações
correntes devem elevar seus níveis de poupança interna (elevação da
poupança do governo e/ou do setor privado), isto é, devem reduzir
seus níveis de absorção doméstica – reduzindo o consumo privado
e/ou os investimentos e/ou gastos públicos.
418
Revista do BNDES 35, julho 2011
Países com STC < 0 ΔSgov > 0; ΔSpri > 0
ΔC < 0 e/ou ΔI < 0 e/ou ΔG<0
ΔSint > 0, i.e.
Países com superávit em transações correntes devem reduzir
seus níveis de poupança interna (redução da poupança do governo
e/ou do setor privado), isto é, devem elevar seus níveis de absorção
doméstica – elevando o consumo privado e/ou os investimentos e/ou
gastos públicos.
Países com STC > 0 ΔSgov < 0; ΔSpri < 0
ΔC > 0 e/ou ΔI > 0 e/ou ΔG>0
ΔSint < 0, i.e.
Esse ajustamento deve ocorrer independentemente das variações
na taxa de câmbio real, já que investimento/poupança são variáveis
fundamentais (reais) e, sozinhos, refletem o resultado do saldo em
transações correntes de um país. No entanto, as variações na taxa de
câmbio real são cruciais para a manutenção do pleno emprego dos
fatores de produção (non-inflationary/deflationary full employment)
durante o processo de ajuste do saldo em conta corrente.
Países com déficit em conta corrente (STC < 0) devem elevar a
poupança interna (Si), i.e., cortar gastos domésticos (consumo das
famílias e/ou investimentos e/ou gastos públicos). Para que não
haja recessão ou elevação do desemprego, a taxa de câmbio real
deve se depreciar para que a demanda externa – via elevação das
exportações líquidas – substitua, na mesma magnitude, a retração
da demanda doméstica.
Países com superávit em conta corrente (STC > 0) devem diminuir
a poupança nacional (Si), i.e., elevar gastos domésticos (consumo das
famílias e/ou investimento e/ou gastos públicos). Para que não haja
superaquecimento e/ou pressões inflacionárias na economia, a taxa de
câmbio real deve apreciar-se. A apreciação cambial real aumenta as
Reunião anual da Associação de Economia dos EUA
419
importações – reduzindo as pressões inflacionárias pela concorrência
dos produtos importados com os nacionais – e, simultaneamente, estimula o consumo doméstico privado, expandindo a demanda interna
na mesma magnitude da retração da demanda externa – pela redução
das exportações líquidas.
O ajustamento macroeconômico em conta corrente dos EUA –
elevação da poupança interna associada à depreciação da taxa de
câmbio – vem sendo, em algum grau, impedido pela China, na
medida em que há um gerenciamento da taxa de câmbio entre o
RMB/US$ – manutenção do RMB em patamares relativamente
depreciados vis-à-vis o dólar.
Embora haja gerenciamento da taxa nominal de câmbio por parte
dos chineses, a taxa real de câmbio vem se movimentando na “direção correta”. Isso ocorre porque o câmbio real depende não apenas
da taxa nominal de câmbio, mas também do diferencial de inflação
entre os dois países. Feldstein afirma que nos últimos 12 meses,
encerrados em junho de 2010, além da apreciação nominal de 5%
do RMB em relação ao dólar, o diferencial de inflação, medido pelo
índice de preços ao consumidor, entre China e EUA atingiu cerca de
5%. Assim, a apreciação real atingiu cerca de 9%.
No entanto, as políticas governamentais adotadas nos EUA e na
China vêm impedindo que a correção dos desequilíbrios globais em
contas correntes ocorra de maneira mais veloz:
• EUA: os grandes déficits fiscais associados à baixa taxa de
poupança das famílias (devido aos generosos programas de seguridade social – social security pensions; health care for aged
in Medicare; benefícios do seguro-desemprego; e estímulo à
tomada de novos financiamentos imobiliários).
• China: excesso de poupança interna (45% do PIB) em função dos
lucros retidos das empresas estatais e da poupança das famílias
420
Revista do BNDES 35, julho 2011
(ausência de um sistema de seguridade social). Ainda assim, os
chineses conseguem manter elevado o nível de demanda agregada e de crescimento do emprego urbano mediante a canalização
desse excesso de poupança para a realização de investimentos
(públicos e privados) e pelo estímulo às exportações mediante
o gerenciamento da taxa nominal de câmbio (impedindo sua
apreciação em relação ao dólar).
Quanto às proposições e tentativas de políticas para a limitação dos
Global Imbalances, Feldstein sugere que a correção dos desequilíbrios
globais deve ser foco de negociação internacional e das atividades
do FMI. As discussões bilaterais entre China e EUA têm se concentrado, exclusivamente, na política cambial chinesa – caminho que tem
se mostrado infrutífero. Deve, portanto, voltar-se para proposições
de políticas nas variáveis fundamentais (reais) da economia, i.e., no
binômio investimento-poupança da China.
Ações do FMI
• Discussões sobre os cinco maiores países superavitários em
conta corrente.
• Multilateral Surveillance Process – países monitorando uns aos
outros no que tange aos desequilíbrios em conta corrente.
• G-20 – limitação do superávit em conta corrente (STC > 0) em
4% do PIB (proposta americana rejeitada por China e Alemanha) –
qualquer proposição que limite os resultados (sejam esses superavitários ou deficitários em conta corrente) não é objeto efetivo
de controle de políticas macro dos países (choques nos preços das
commodities e flutuações excessivas nas taxas de câmbio não são
variáveis sob controle das autoridades, embora tenham profundas
implicações para os níveis de investimento/poupança).
Reunião anual da Associação de Economia dos EUA
421
Negociações internacionais
• Compromisso do G-20 na realização de esforços para conter os
desequilíbrios globais, com o auxílio do FMI.
• Para ele, efetivamente, ainda não há decisão nenhuma tomada.
Em termos prospectivos, Feldstein afirma que o processo de ajustamento continua a ocorrer e deve acelerar-se, em função:
1. da elevação da poupança/redução do consumo das famílias
nos EUA:
a. baixa renda real (desemprego elevado);
b. elevado nível de endividamento (famílias desalavancando e
realizando ajustes patrimoniais);
c. condições restritas de crédito;
2. da redução mais acentuada do déficit público (visão otimista
sobre a evolução da política fiscal norte-americana);
3. da continuidade do processo de ajustamento da taxa real de
câmbio (apreciação nominal do RMB e diferencial positivo de
inflação entre China e EUA);
4. do New Five Years Plan da China – que visa não apenas elevar
o consumo das famílias como proporção do PIB, mas também
à distribuição de dividendos das empresas estatais e aos gastos
governamentais em saúde, educação e moradia – ações compatíveis com a elevação nos padrões de vida dos chineses.
Ronald McKinnon (Universidade de Stanford)
McKinnon começa sua exposição afirmando que os EUA são um país
soberano que tem o direito de seguir sua própria política monetária.
Por um acidente da história, desde 1945, são também o centro do
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Revista do BNDES 35, julho 2011
mundo por meio do padrão-dólar – que continua surpreendentemente
robusto até os dias atuais. Portanto, a escolha da política monetária
pelo Federal Reserve (FED) afeta fortemente seus vizinhos – seja para
melhor ou para pior. Começando com o choque implementado por
Nixon em 1971, os policy-makers americanos têm olhado excessivamente para “dentro” no que diz respeito à execução de sua política
monetária. Mas, ignorando seus efeitos sobre o os demais países, o
FED tornou menos estáveis o mundo e a economia americana.
O exemplo mais recente é a política do FED de fixação das taxas
de juros de curto prazo próximo a zero desde meados de 2008 [Zero
Interest Rate Policy (ZIRP)], e, em seguida, no final de 2010, pelo
Quantitative Easing (QE2), destinado a reduzir também as taxas de
juros de longo prazo. No encontro do G-20 em Seul, em novembro
de 2010, autoridades estrangeiras reclamaram veementemente de
influxos de capital do tipo hot money oriundos das políticas expansionistas dos Estados Unidos, os quais geram não apenas apreciação
excessiva de suas taxas de câmbio (via operações de carry trade),
mas também criam pressões inflacionárias (advindas do processo
de esterilização/acúmulo de reservas internacionais e expansão da
oferta monetária doméstica). Ironicamente, a política de taxas de
juros zero do FED também não vem estimulando a concessão
de empréstimos bancários nos Estados Unidos em si, causando
uma espécie de “empoçamento da liquidez”. Além disso, provoca sério enfraquecimento de outras instituições financeiras
americanas, como seguradoras e fundos de pensão.
McKinnon classifica o dólar como moeda “não amada” (the
unloved US$), uma vez que ela não consegue agradar nem aos norte-americanos, os quais não conseguem exercer um controle efetivo
sobre sua taxa de câmbio, nem ao resto do mundo, na medida em que
suas políticas expansionistas geram pressões de apreciação cambial
(devido aos fluxos de hot money), que são combatidas por políticas
Reunião anual da Associação de Economia dos EUA
423
de esterilização/controle de capitais e provocam expansão monetária
[mesmo em ambientes de demanda doméstica aquecida (inflação)].
Ele afirma também que, se na década de 1930 as políticas de
desvalorização cambial competitiva (“políticas de empobrecimento
do vizinho”) foram utilizadas amplamente, no período pós-crise
financeira de 2008 elas voltaram à tona, mas adquiriram uma nova
versão via redução excessiva das taxas de juros básicas (policy rate)
dos países centrais. Estas geram operações de carry trade para os países
emergentes não apenas pelo diferencial de taxas de juros existentes,
mas também pela divergência na velocidade de recuperação (two-speed
recovery) entre países centrais e países emergentes.
McKinnon também ressalta que a política monetária norte-americana (ZIRP + QE2) está voltada exclusivamente para “dentro” (por
causa das tendências deflacionárias e do alto nível de desemprego),
ignorando suas consequências no resto do mundo e, assim, o papel
do dólar no sistema monetário internacional (padrão-dólar). As consequências são:
• Excessiva liquidez internacional (gerando fluxos de hot money
nos países emergentes) com apreciação cambial e imposição
de controles de capitais/tentativas de esterilização e acúmulo de
reservas. Todavia, essa combinação de políticas tende a levar os
países emergentes a reduzir suas taxas de juros domésticas, uma
vez que a esterilização completa é difícil. Como efeito colateral,
há a expansão da oferta monetária doméstica, contribuindo para
a alta da inflação.
• Alta de preços internacionais das commodities – que são precificadas em dólar. Como o rendimento dos ativos financeiros está
baixo, o sistema fica mais suscetível a bolhas especulativas, pois
há elevação do “grau de apetite ao risco” dos investidores internacionais à procura de ativos de maior rendimento (search for
yield), assim como aconteceu com a bolha imobiliária nos EUA.
424
Revista do BNDES 35, julho 2011
• Continuidade das políticas ZIRP, associada a uma situação
de “armadilha da liquidez” tipicamente keynesiana, faz com
que qualquer estímulo monetário fornecido pelas autoridades
se transforme em excesso de reservas por parte do sistema
bancário, mantendo o crédito travado (o crescimento da base
monetária foi contrabalançado por uma forte redução do multiplicador monetário).
• Dificuldade para outros importantes intermediários financeiros,
como fundos de pensão com benefício definido ou companhias
de seguro, cujos ativos são fortemente vinculados aos papéis de
longo prazo do governo.
Em termos propositivos, McKinnon sugere:
1. abandonar políticas de ZIRP + QE2, que tendem a pressionar os
países emergentes na manutenção de taxas de juros reduzidas
mesmo sob pressões inflacionárias (esterilização + acúmulo de
reservas + expansão monetária doméstica);
2. elevar as taxas de juros nominais nos principais países centrais
(EUA, Inglaterra, Zona do Euro e Japão) de maneira coordenada,
buscando sair da armadilha da liquidez (liquidity trap);
3. legitimar e auxiliar os países emergentes na imposição de
controles de capitais (conforme já realizado na última reunião
do G-20).
Peter Kenen (Universidade de Princeton)
Em essência, Kenen afirma que não há mais espaço para que o dólar
ocupe sozinho o papel de moeda internacional. Sendo assim, propõe
um arranjo monetário internacional em que a compensação das relações
comerciais e financeiras passe a ocorrer, gradualmente, em Special
Drawing Rights (SDR) ou Direitos Especiais de Saques (DES), moeda
Reunião anual da Associação de Economia dos EUA
425
escritural do FMI. Embora essa ideia tenha surgido há cerca de 30 anos,
sua proposta almeja, diferentemente, que as transações comerciais e
financeiras sejam compensações entre países em DES.
Ressalta que o apoio político para isso é reduzido, em especial
nos EUA, mas começa a ganhar espaço no resto do mundo. Kenen
cita como exemplo o speech do presidente do Banco Central Chinês
em 2009, que faz menção à ideia do Plano Keynes elaborado no
pós-Segunda Guerra Mundial.
Relevância do seminário para a atuação do BNDES
A Área de Pesquisa e Acompanhamento Econômico (APE) vem,
ao longo dos últimos anos, desenvolvendo trabalhos de análise
sobre a situação da economia internacional e da realidade socioeconômica brasileira.
Para aprimorar as rotinas de trabalho, atendendo de forma cada
vez mais satisfatória às necessidades do BNDES, é fundamental que
a equipe de pesquisa econômica esteja atualizada não apenas com
os fatos e acontecimentos internacionais e as medidas de política
econômica implementadas, mas também com a recente literatura
acadêmica especializada. Nesse sentido, o American Economic
Association (AEA) Meeting, fórum organizado para debater temas
econômicos relacionados à ciência e aplicação de políticas públicas,
que reuniu vários acadêmicos de renome das principais universidades
norte-americanas, foi uma ótima oportunidade para o aprimoramento
e o desenvolvimento profissional dos economistas da APE/BNDES. A
absorção de conhecimento tende a ser revertida, em nossas atividades
rotineiras, a favor do BNDES a curto, médio e longo prazos.
Além disso, o evento é uma boa oportunidade para o desenvolvimento de canais de comunicação com outras instituições mundo afora,
426
Revista do BNDES 35, julho 2011
haja vista a grande participação de profissionais de inúmeras áreas
(economia, finanças, ciências sociais etc.) e diversas nacionalidades.
A troca de informações e o estabelecimento de redes de contato são
vitais para o aperfeiçoamento da atividade profissional de uma equipe
de pesquisa econômica, pelo intercâmbio de conhecimentos técnicos
específicos e/ou de informações de experiências de outras economias
no desenvolvimento e na adoção de políticas públicas. Desse modo, o
evento permitiu que os economistas da Área de Pesquisa do BNDES
tivessem contato com reflexões que orientam/orientarão decisões
econômicas no presente e no futuro próximo.
Coordenadas da página eletrônica do evento. Referência dos
papers e painéis de discussão do evento: http://www.aeaweb.
org/aea/2011conference/program/meetingpapers.php
Reunião anual da Associação de Economia dos EUA
427
13a Conferência Europeia sobre Financiamento
de Aeronaves
Representantes do BNDES: Marcio Nobre Migon – chefe de Departamento (AEX/DECEX1).
Sergio Bittencourt Varella Gomes – gerente (AEX/DECEX1).
Tema do seminário: 13ª Conferência Europeia sobre Financiamento
de Aeronaves.
Data e local: 25 a 27 de janeiro de 2011, em Dublin, República da Irlanda.
Descrição das “mesas” e palestrantes
25 de janeiro: Investindo em Aeronaves e Motores Aeronáuticos
Esse primeiro dia do evento foi organizado sob a forma de um “seminário didático”, ou seja, procurou-se dar um caráter educativo a
cada um dos painéis, sem prejuízo do espaço para debates ao fim
de cada um deles. Observadas tais premissas, os principais temas e
aspectos relacionados ao financiamento aeronáutico foram cobertos. A organização do evento optou por constituir “mesas” com até
quatro participantes para os assuntos mais polêmicos e promover
palestras tradicionais quando a finalidade era essencialmente informativa e de atualização do tema tratado. Assim, realizaram-se
as seguintes “mesas”:
• Tendências quanto ao valor residual das aeronaves, composta por
representantes das empresas de avaliação (appraisers) Morten,
Bayer & Agnew, Avitas, IBA Group e do banco DVB Bank, com
a moderação a cargo da editora do Airfinance Journal.
• Aeronaves regionais como ativos para investimento, composta
por representantes das empresas fabricantes Mitsubishi Aircraft
Corp., SuperJet International, Bombardier e Embraer, com
a moderação a cargo de representante da consultoria HMG
Aviation Inc.
Comunicação de participação em seminário
429
p. 429-434
• Aeronaves usadas: por que investir no mercado secundário?,
composta por representantes das empresas de arrendamento de
aeronaves KV Aviation, RPK Capital, Cabot Aviation e Tailwind
Capital LLC, com a moderação a cargo do vice-presidente de
Marketing da Orix Aviation.
• Retomada de aeronaves – um guia para os investidores, composta
por representantes das empresas Orix Aviation, Sage-Popovich e
KV Aviation, com a moderação a cargo de sócio da Arthur Cox.
• Grandes motores, pequenos motores e remotorização, composta por representantes dos fabricantes de motores aeronáuticos
CFM e Pratt & Whitney, e a moderação a cargo da editora do
Airfinance Journal.
Já as palestras foram organizadas de modo que os principais
fabricantes – Airbus e Boeing para os grandes jatos comerciais,
e Bombardier e ATR para os turbo-hélices regionais – pudessem
atualizar os participantes quanto ao desenvolvimento de suas mais
recentes aeronaves (histórico e perspectivas de desenvolvimento
futuro para cada uma delas).
26 de janeiro: 1º dia da Conferência sobre Financiamento
de Aeronaves
Assim como no dia anterior, nesse também houve “mesas” e palestras
individuais. No que tange às “mesas”, a organização do evento levou
às seguintes composições:
• Decifrando o novo Entendimento Setorial Aeronáutico (ASU),
com representantes da Boeing, Airbus, Bombardier, Embraer,
ATR, Mitsubishi e AWG – Aviation Working Group;1 moderação
a cargo de sócio da KPMG.
1
Organização social composta pelos principais fabricantes de aeronaves e de motores e por
instituições financeiras, reconhecida como legítima representante do interesse desse grupo
no âmbito da OCDE.
430
Revista do BNDES 35, julho 2011
• Painel das transportadoras europeias – sobrevivência das “empresas de bandeira”, com representantes da Iberia, Air France,
Lufthansa, Virgin Atlantic e Cargolux; moderação a cargo do
VP Financeiro da Natixis Transport Finance.
• Créditos oficiais à exportação – uma forma normal de financiamento?, com representantes da ECGD, Coface, EDC, Euler
Hermes e US Ex-Im Bank; moderação a cargo do presidente do
conselho da Vedder Price.
• A capacidade de financiamento dos bancos comerciais para
2011 e além, com representantes sênior da AerCap, Aircastle
Advisor, Orix Aviation, AWAS e Amentum Capital; moderação
a cargo de sócio da Maples Calder.
Já as palestras individuais foram organizadas, presume-se, de forma
a proporcionar um quadro que refletisse os pontos de vista de representantes de grandes grupos com interesses no setor e de alguns atores
diretamente envolvidos com o financiamento de aeronaves. Assim,
houve palestras a cargo do sênior VP e CFO do Grupo Air France
KLM, do CEO da ILFC (segunda maior empresa de arrendamento de
aeronaves do mundo), do presidente e CEO da Gecas (maior empresa
de arrendamento de aeronaves), do CFO da Lufthansa e do sênior VP
da Avitas [empresa de avaliação de aeronaves (appraiser)].
27 de janeiro: 2º dia da Conferência sobre Financiamento
de Aeronaves
Como de hábito, viram-se aqui “mesas” e palestras individuais. Com
relação às “mesas”, a organização levou às seguintes composições:
• As novas empresas de arrendamento (lessors) serão competitivas?, com os CEOs da Avolon, AirLeaseGroup, Hong Kong
Aviation Capital, Jackson Square e KV Aviation; moderação
a cargo de sócio da A&L Goodbody.
• Como o modelo de transportador de baixos custos está se saindo na Europa?, com os CFOs das empresas de baixos custos
Comunicação de participação em seminário
431
easyJet, Aer Lingus, Ryanair, Flybe, Norwegian Air Shuttle e
Wizz Air; moderação a cargo da editora do Airfinance Journal.
• Debate Boeing & Airbus, com o VP da Boeing Capital Corp. e
o Sênior VP de Clientes da Airbus; moderação a cargo do CEO
da Engine Lease Finance Corp.
• A dinâmica do mercado: como gerenciar o crescimento em
direção a aeronaves de maior capacidade?, com os VPs de
Marketing e Estratégia da Embraer e da Bombardier; moderação
a cargo da editora do Airfinance Journal.
• Painel das transportadoras norte-americanas – metas de expansão e estratégias de financiamento, com os diretores financeiros da United Airlines, American Airlines, Virgin America e
JetBlue; moderação a cargo do diretor do The Airline Analyst,
Airfinance Journal.
• Os planos de investimentos internacionais chineses para
2011, com os diretores de finanças da BOC Aviation, ICBC
Financial Leasing e CMB China; moderação a cargo do diretor
comercial do IBA Group.
• Mercados de capitais – é este o caminho à frente?, com os VPs
de finanças corporativas da Goldman Sachs, Credit Suisse e
Emirates Group; moderação a cargo de sócia da A&L Goodbody.
Já as palestras individuais – em contraste com o ocorrido no dia
anterior – foram aparentemente organizadas para refletir setores,
empresas e indivíduos com fortes pontos de vista sobre o setor. Estiveram a cargo o VP e CFO da Ryanair, o presidente e CEO da AWAS
e um sócio da KPMG.
Relevância da conferência para a atuação do BNDES
Tal qual ocorreu nos anos recentes, a pretensão da conferência é “dar
o tom” para o financiamento de aeronaves em todo o mundo no resto
432
Revista do BNDES 35, julho 2011
do ano. Fato reforçado neste ano com o comparecimento recorde de
mais de mil participantes. O Brasil se insere nesse quadro, pois, assim
como ocorre nos demais países fabricantes de aeronaves, a agência de
crédito à exportação – o BNDES Exim – foi chamada a incrementar
substancialmente seu apoio ao financiamento de aeronaves em função
da crise mundial. Assim, podem-se sintetizar os seguintes pontos
relevantes da conferência para a atuação do BNDES:
• O ciclo de vida útil econômica das aeronaves apresenta forte
tendência de queda em função de mudanças tecnológicas e de
mercado, reduzindo-se de 20-25 anos para 15-20 anos. Aeronaves consideradas “maduras” eram aquelas com mais de 20 anos
de fabricação; agora esse limiar teria caído substantivamente. A
indicação para o BNDES seria, portanto, de redução nos prazos
de financiamento e/ou redução nos percentuais financiados de
forma a se reduzir os riscos de valor residual das aeronaves – que
são a garantia essencial dos contratos, dado que a qualidade do
risco corporativo das linhas aéreas é historicamente incompatível
com os volumes de financiamento que elas demandam.
• O lançamento da nova linha CSeries da Bombardier de jatos
comerciais para 100 a 149 assentos (entregas a partir de 2013),
incorporando motores de tecnologia avançada que proporcionariam economia de combustível da ordem de 12% a 16%,
deflagrou a iniciativa de remotorização da Airbus – aeronave
A320-NEO – para poder concorrer com o CSeries. O novo
jato regional da Mitsubishi – com 98 assentos – também terá
motores com a nova tecnologia. Boeing e Embraer vêm realizando estudos para decidir se vão também nessa direção que,
conforme exposto na conferência, poderá levar a uma queda
não prevista e importante no valor residual das aeronaves atualmente fabricadas e financiadas, inclusive aquelas das famílias
Embraer 170/190 já financiadas pelo BNDES.
Comunicação de participação em seminário
433
• Vários países (Rússia, Indonésia, Índia) vêm introduzindo – de
forma inédita – restrições de importação e operação de aeronaves em seus territórios, com base unicamente na idade das
mesmas – 15 anos ou até menos. Isso significa menor liquidez no
mercado secundário de aeronaves. Para o BNDES, assim como
para qualquer outro financiador de aeronaves, isso representa
uma redução no espaço geográfico e jurisdicional de recomercialização de aeronaves eventualmente devolvidas ou retomadas
de clientes inadimplentes. Reforça-se com isso o argumento
para maior mitigação do risco de crédito, seja pela redução dos
prazos totais de repagamento, seja pela redução dos percentuais
máximos financiáveis do preço da aquisição.
• O novo Entendimento Setorial Aeronáutico (ASU), em vigor
desde 1º de fevereiro, elaborado no âmbito da Organização
para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE),
foi recebido com reservas pelo público presente. Houve quase
um consenso, até entre os fabricantes de aeronaves, de que
ele é bem mais complexo que o ASU 2007, o que dificultará
sua implementação. Já as empresas aéreas reclamaram do
aumento de custos nele embutido, pelo menos no momento
atual, dado que sua precificação de risco de crédito segue
“referências do mercado privado” (e não uma tabela independente, como no ASU 2007). Para o BNDES, significa uma
necessidade de treinamento imediato de suas equipes operacionais e o forçoso encarecimento de seus financiamentos de
aeronaves no curto prazo.
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Revista do BNDES 35, julho 2011
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