Isabel Mendonça . Hélder Carita . Marize Malta
Coordenação
A CemASA
S
ENHORIAL
Lisboa e no Rio de Janeiro:
Anatomia dos Interiores
Instituto de História da Arte
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa
Escola de Belas Artes
Universidade Federal do Rio de Janeiro
A CemASA
S
ENHORIAL
Lisboa e no Rio de Janeiro:
Anatomia dos Interiores
Coordenação
Isabel Mendonça . Hélder Carita . Marize Malta
A CemASA
S
ENHORIAL
Lisboa e no Rio de Janeiro:
Anatomia dos Interiores
Instituto de História da Arte
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa
Escola de Belas Artes
Universidade Federal do Rio de Janeiro
2014
FCT (PTDC/EAT-HAT/112229/2009)
ISBN: 978-989-99192-0-4
Coordenação
(Universidade Nova de Lisboa)
Isabel M. G. Mendonça
ISBN: 978-85-87145-60-4
Hélder Carita
(Universidade Federal
Marize Malta
do Rio de Janeiro)
A Casa Senhorial
em Lisboa e no Rio de Janeiro:
Anatomia dos Interiores
Design gráfico:
Atelier Hélder Carita
Secretariado:
Lina Oliveira
Tiago Antunes
Edição conjunta
Instituto de História da Arte (IHA) – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas
da Universidade Nova de Lisboa
ISBN: 978-989-99192-0-4
Escola de Belas Artes (EBA) – Universidade Federal do Rio de Janeiro
ISBN:
© Autores e IHA
Os artigos e as imagens reproduzidas nos textos são da inteira responsabilidade dos seus autores.
Depósito legal:
383142 / 14
Tipografia:
Norprint
Tiragem:
300 exemplares
LISBOA – RIO DE JANEIRO 2014
Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia,
no âmbito do projecto com a referência EAT-HAT.112229.2009.
ÍNDICE
MECENAS E ARTISTAS. VIVÊNCIAS E RITUAIS
18
Cátia Teles e Marques
Os paços episcopais nos modelos de representação protagonizados por bispos da
nobreza no período pós-tridentino em Portugal
44
Daniela Viggiani
“L’ Abecedario Pittorico” de Pellegrino Antonio Orlandi
64
Celina Borges Lemos
André Guilherme Dornelles Dangelo
Solar “Casa Padre Toledo”: o bem cultural como uma conjunção ritualística
de espaços e tempos limiares
86
Miguel Metelo de Seixas
O uso da heráldica no interior da casa senhorial portuguesa do Antigo Regime:
propostas de sistematização e entendimento
ARQUITECTURA, ESTRUTURAS E PROGRAMAS DISTRIBUTIVOS
112
Isabel Soares de Albergaria
O Palácio dos Câmara “aos Mártires” – um caso excecional
da opulência seiscentista
134
João Vieira Caldas
Maria João Pereira Coutinho
O Nome e a Função: Terminologia e Uso dos Compartimentos
na Casa Nobre Urbana da Primeira Metade do Século XVIII
190
Hélder Carita
O Palácio Ramalhete, nas Janelas Verdes: uma tipologia de palacete pombalino
208
Ana Lúcia Vieira dos Santos
Formas de morar no Rio de Janeiro do século XIX: espaço interior
e representação social
ÍNDICE
7
224
Mariana Pinto da Rocha Jorge Ferreira
Tiago Molarinho Antunes
O Palácio dos Condes da Ribeira Grande, na Junqueira:
análise do conjunto edificado
248
José Pessôa
Padrões distributivos das casas senhoriais no Rio de Janeiro
do primeiro quartel do século XIX
272
José Marques Morgado Neto
As Casas Senhoriais da Belém colonial entre os séculos XVIII e XIX: sob a perspectiva dos relatos de viajantes, da iconografia da época e da remanescência
no centro histórico da cidade
292
Gustavo Reinaldo Alves do Carmo
O Palácio das Laranjeiras e a Belle Époque no Rio de Janeiro (1909-1914)
318
Patrícia Thomé Junqueira Schettino
Celina Borges Lemos
“O Palacete Carioca”. Estudo sobre a relação entre as transformações da arquitetura residencial da elite e a evolução do papel social feminino no final do século
XIX e início do século XX no Rio de Janeiro
338
Felipe Azevedo Bosi
Palácio Isabel: o Palácio do Conde e Condessa d’Eu
no Segundo Reinado brasileiro
346
Paulo Manta Pereira
A arquitetura doméstica de Raul Lino (1900-1918). Expressão meridional
do Arts and Crafts, ou síntese local de um movimento artístico universal
do último terço de oitocentos
A ORNAMENTAÇÃO FIXA
8
366
Ana Paula Correia
Memórias de casas senhoriais – patrimónios esquecidos
382
Sofia Braga
Sobre a Sala Pompeia do Antigo Palácio da Ega
A CASA SENHORIAL
EM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO
404
Cristina Costa Gomes
Isabel Murta Pina
Papéis de parede da China em Casas Senhoriais Portuguesas
424
Ana Pessoa
As Artes Decorativas no Rio de Janeiro do século XIX: um panorama
444
Isabel Mendonça
Estuques de Paris e “parquets” de Bruxelas num palácio oitocentista de Lisboa
472
Isabel Sanson Portella
Análise Tipológica dos Padrões dos Pisos de Parquet dos Salões
do Palácio Nova Friburgo / Palácio do Catete
482
Alexandre Mascarenhas
Cristina Rozisky
Fábio Galli
A “Casa Senhorial” em Pelotas no século XIX: família Antunes Maciel
502
Miguel Leal
A Pintura Decorativa do Palacete Alves Machado: um estudo de caso
516
Rosa Arraes
A função social das decorações e seus ornatos dos palacetes
na Belle-époque da Amazônia
EQUIPAMENTO MÓVEL
536
Maria João Ferreira
Ecos de hábitos e usos nos inventários: os adereços têxteis nos interiores
das residências senhoriais lisboetas seiscentistas e setecentistas
562
Marize Malta
Sumptuoso leilão de ricos móveis... Um estudo sobre o mobiliário das casas
senhoriais oitocentistas no Rio de Janeiro por meio de leilões
ÍNDICE
9
Resumo/Abstract
Analise Tipológica dos Padrões dos Pisos de Parquet
dos Salões do Palácio Nova Friburgo / Palácio do Catete
Palavras-chave
Arquitetura
século XIX,
Elementos
decorativos,
Palácio
Nova Friburgo,
Palácio do Catete,
Parquets
O presente trabalho se refere aos estudos iniciais do Projeto Palácio Nova Friburgo: um sonho
materializado em pedra e cal – Levantamento da decoração aplicada dos salões do Museu da
República, que no ano de 2013 foi contemplado com um auxílio da FAPERJ. A partir do convite
feito pela Dra. Ana Pessoa da Casa de Rui Barbosa a integrar o Projeto A Casa Senhorial em
Lisboa e no Rio de Janeiro (sécs. XVII, XVIII e XIX) no ano de 2012, o Museu da República vem
desenvolvendo uma pesquisa sistemática de seus padrões decorativos.
Em parceria estabelecida com a Casa de Rui Barbosa foi elaborado uma ficha catalográfica. Nesta
analise preliminar foi realizada o preenchimento desta com: medições, localização, breve descrição dos pisos em parquet, imagens e uma análise de suas características. Esta pesquisa concentra-se no diversos pisos e padrões diferenciados para cada salão do Palácio.
Typological Analysis of Patterns in the Parquet floors of Halls
From Palace Nova Friburgo / Palace Catete
Keywords
Nineteenth century
architecture,
Decorative arts,
Palácio
Nova Friburgo,
Palácio do Catete,
Parquet.
The present work refers to the initial studies Palácio Nova Friburgo: um sonho materializado em
pedra e cal – Levantamento da decoração aplicada dos salões do Museu da República, which in 2013
was awarded an aid FAPERJ decor. From the invitation by Dr. Ana Pessoa of Casa de Rui Barbosa
to integrate the Project A Casa Senhorial em Lisboa e no Rio de Janeiro (sécs. XVII, XVIII e XIX) in
2012, the Museu da República has been developing a systematic study of their decorative patterns.
In partnership with Casa de Rui Barbosa was drafted one catalog entry. In this preliminary analysis of
this filling was performed with: measurements, location, brief description of parquet floors, pictures
and an analysis of its features. This research focuses on different floors and different for each Palace
room standards.
Isabel Sanson Portella. Pesquisadora de acervo do Museu da República- IBRAM/MinC
Doutora em História e Crítica da Arte UFRJ/EBA, pesquisadora de acervo do Museu da República
Ibram/MinC, curadora da exposição Você conhece, vocé se lembra? Tá quente, tá frio. (Museu da
República 20 de maio de 2011 a 20 fevereiro de 2012). Atualmente coordena a pesquisa Palácio Nova
Friburgo: um sonho materializado em pedra e cal – Levantamento da decoração aplicada dos salões
do Museu da República com o auxílio APQ1 da FAPERJ. [email protected]
Analise Tipológica dos Padrões dos
Pisos de Parquet dos Salões do
Palácio Nova Friburgo/ Palácio do Catete
Isabel Sanson Portella
A
história do Palácio do Barão de Nova Friburgo começou a ser traçada mais
exatamente em maio de 1858, quando foram fincadas as primeiras pedras
que serviriam de alicerce à construção do edifício - o Palácio Nova Friburgo e/ou Palácio
das Águias ou, como é mais conhecido, o Palácio do Catete, numa referência ao bairro em
que está situado.
Desde sua inauguração, época em que foi residência da família do Barão de Nova
Friburgo, o Palácio do Catete era usado exclusivamente por seus proprietários e aberto
apenas para convidados da alta sociedade. No período em que foi sede do Governo Federal
era freqüentado por importantes figuras da política brasileira.
Com a mudança da capital para Brasília, no ano de 1960, o Palácio do Catete deixa
de ser sede oficial do Governo e se transforma em Museu da República, sendo desde então
aberto ao público, tornando-se patrimônio cultural da cidade do Rio de Janeiro. Durante os
94 anos em que o acesso a seu interior foi restrito (de 1866 a 1960), este palácio, referência da
arquitetura neoclássica pelo lado externo e eclética internamente, despertou fascínio, inveja
e muita curiosidade por parte daqueles que podiam somente desfrutar da suntuosidade de
sua fachada e apenas imaginar como seria aquele lugar que era tão próximo de todos, porém
inacessível. Sua localização, na rua do Catete, centro residencial e de grande movimentação
urbana na época, muito contribuiu para que estivesse ainda mais integrado ao cenário
carioca, tornando-se parte proeminente da paisagem da cidade.
A literatura brasileira está repleta de referências ao Palácio. Machado de Assis, em
seu livro “Esaú e Jacó” (1904), dedica um pequeno capítulo ao prédio, demonstrando a
admiração e reverência do povo:
Ao passar pelo Palácio Nova Friburgo, levantou os olhos para ele com o desejo do costume, uma
cobiça de possuí-lo, sem prever os altos destinos que o palácio viria a ter na República. Para Santos
a questão era só possuí-lo, dar ali grandes festas únicas, celebradas nas gazetas, narradas na cidade
A ORNAMENTAÇÃO
FIXA
473
entre amigos e inimigos, cheios de admiração, de rancor ou de inveja. A casa de Botafogo, posto
que bela, não era um palácio, e depois, não estava tão exposta como aqui no Catete, passagem
obrigada de toda a gente, que olharia para as grandes janelas, as grandes portas, as grandes
águias no alto, de asas abertas. Quem viesse pelo lado do mar, veria as costas do palácio, os jardins
e os lagos... Santos imaginava os bronzes, mármores, luzes, flores, danças, carruagens, músicas,
ceias...1
O desejo e o fascínio do personagem Santos é um reflexo da importância dessa
construção para o cenário carioca. E confirma a fala de Joaquim Nabuco que, em 1875,
profetiza à Baronesa de São Clemente (esposa do filho mais velho do barão de Nova
Friburgo) que aquele prédio ainda seria, “dentro de uns trezentos anos, objeto de estudos.” 2
O Palácio do Catete manteve até os dias atuais em grande parte, seu aspecto
original. Seus muros conseguiram preservar a atmosfera de toda história que carrega, se
transformando numa espécie de cápsula do tempo. Isso o torna ainda mais interessante, se
considerarmos que o bairro do Catete, assim como toda a cidade do Rio de Janeiro, sofreram
profundas transformações com o passar dos anos. Intensificou-se ainda mais o contraste de
sua arquitetura do período imperial com a configuração arquitetônica e urbanística atual.
Num cenário bucólico repleto de pequenas chácaras e comércio ainda restrito, o
português Antônio Clemente Pinto adquiriu, em 1858, uma casa e um terreno de fundos
que se estendia até a Praia do Flamengo. Sua intenção era construir uma residência na
côrte, uma vez que sua ocupação com as fazendas de café o mantinha afastado, em Nova
Friburgo. Anos mais tarde adquiriu mais duas casas contíguas que serviram para ampliar o
jardim de sua residência.
Encomendou ao arquiteto alemão Carl Friedrich Gustav Waehneldt um projeto que,
apresentado na Exposição Geral da Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro em 1862,
ganhou a medalha de prata. Pode-se notar no projeto a nítida influência da arquitetura
italiana, mais precisamente dos palácios urbanos de Florença do final do século XV e dos
palácios de Veneza.
Para a execução do projeto empregou artistas renomados como o escultor português
Quirino Antônio Vieira, que confeccionou ornamentos e fachadas; Emil Bauch, pintor e
gravador alemão, premiado em 1860 com medalha de ouro na Exposição Geral de BelasArtes, a quem foram encomendadas várias pinturas decorativas, dentre elas um enorme
quadro do Barão e da Baronesa de Nova Friburgo; e o estucador português Bernardino da
Costa, autor das portas do andar térreo.
O material, quase todo importado da Europa, foi utilizado na construção dos três
474
A CASA SENHORIAL
EM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO
pavimentos que compõem o prédio. Assim como nos palácios florentinos, o primeiro
piso era destinado a serviços gerais e primeiras recepções; no segundo, conhecido como
piso nobre, luxuoso, colorido e exuberante, aconteciam as festas; e o terceiro abrigava os
dormitórios e áreas reservadas à família.
Algumas soluções típicas da arquitetura renascentista italiana foram aplicadas, como o
cortille, ou pátio interno, arrematado ao alto por um grande vitral sob a clarabóia, de origem
alemã, cujo desenho é de autoria do próprio Gustav Waehneldt. A circulação podia ser feita
pelo corredor externo e não era necessário passar por dentro dos cômodos.
A construção é impressionante. São três andares com cerca de 35 saletas, salas e salões,
sem contar com as áreas de passagem. Um salão nobre dedicado a Apolo, uma capela, uma
sala inspirada em Pompéia e outra no Palácio de Alhambra, todas carregadas de uma profusão
de cores que apontam para o neoclassismo europeu. Para cada cômodo teria sido planejada
uma decoração que harmonizasse com sua finalidade e fosse coerente com o restante da
casa. O mobiliário desses ambientes também seguiria o mesmo propósito e cada centímetro
de parede, chão e teto foi estudado e elaborado em minúcias decorativas. Não existe espaço
para o vazio, para o branco existir. Como bem ressalta Marize Malta em seu livro Olhar
decorativo, o autor Henry Havard, se refere, em 1884, ao horror ao vazio. Em L´Art dans
La Maison, Harvard sublinha: “a decoração assim como a natureza têm horror ao vazio” 3.
Nos salões ricamente decorados e com seus usos bem específicos distribuídos entre o
andar térreo, o primeiro pavimento e o segundo pavimento, é possível fazer um levantamento
dos tipos e padrões dos pisos em madeiramento existentes no palácio 4.
Esta pesquisa concentra-se numa identificação e catalogação dos diversos pisos e
padrões diferenciados para cada salão do térreo e do primeiro pavimento, mais conhecido
como piso nobre do Palácio.
Num primeiro momento identificamos os padrões dos pisos hidráulicos do Palácio 5
quando foram encontrados 58 tipos diferentes, sendo 14 em formato de “tapetes”. Dentre
estes tapetes podemos destacar a águia do hall central.
Numa segunda fase de identificação e catalogação, os pisos em madeira foram
analisados quanto à variação da cor natural da madeira e os diferentes motivos florais e/ou
geométricos utilizados.
No século XIX, a liberalização do comércio mundial e a influência dos costumes
europeus no Brasil manifestam-se na arquitetura e demais artes. Com a chegada da Missão
Francesa, em 1815, e a criação da Academia Imperial de Belas Artes, arquitetos estrangeiros
e, fundamentalmente, artesãos imigrantes produzem uma importante modificação nos
hábitos de construção, especialmente nas cidades onde as classes mais abastadas do litoral
A ORNAMENTAÇÃO
FIXA
475
Ilustração 1
Detalhe do piso
do Salão Ministerial.
Ilustração 6
Detalhe do piso
da Sala dos Símbolos.
476
mantêm contato permanente com a Europa. Novas técnicas e materiais importados se
impõem paulatinamente.
Num país que acabou sendo batizado com o nome de uma árvore, o uso da madeira
foi largamente empregado. Por sua abundância e variedade, o material foi utilizado para os
mais diversos fins na construção civil. A destinação da madeira para a construção naval foi
um dos grandes atrativos tendo gerado uma regulamentação para o controle do corte de
determinadas espécies, ficando estas conhecidas como Madeiras de lei.
Os pisos mais correntemente empregados no Palácio do Catete são os de madeira e
os ladrilhos hidráulicos. No caso das madeiras, as inovações estão relacionadas ao melhor
aparelhamento das peças, alcançando um maior apuro formal e maior refinamento nos
detalhes e encaixes (difunde-se o encaixe macho-e-fêmea), característica marcante deste fim
de século XIX devido ao aparecimento das serrarias mecânicas. Estes refinamentos técnicos
ampliam o leque de possibilidades formais, onde os pisos podem formar um sem número
de desenhos decorativos, auxiliando assim, na ornamentação dos ambientes internos, sejam
eles em tabuado, parquets ou tacos. No decorrer do século XIX, utilizava-se com freqüência
o pinho-de-riga, a peroba do campo ou o ipê, mas também madeiras como o jequitibá rosa
e o pinho nacional, todas madeiras de lei.
Já os parquets são compostos por pedaços de madeira de tamanhos e formas variadas
formando desenhos de mosaicos, geométricos, estrelas, gregas, entre outros. Os tacos são
constituídos por peças de madeira com forma retangular, uniformes, assentados um a um,
em espinha de peixe, xadrez, entre outros motivos. Tanto os pisos tabuados, como os de tacos
e parquets, recebem normalmente em seu perímetro tabeiras, podendo ser estas formadas
por madeiras de diversas colorações, conformando trechos atapetados no ambiente.
A CASA SENHORIAL
EM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO
Em sua origem, parquet define um tipo de assoalho formado por partes de tamanhos
e formas diversos, compondo uma espécie de mosaico formando desenhos simples ou mais
elaborados. Parquet vem da palavra “parc” e foi usada ainda na idade média para designar o
local ao redor do estrado de madeira onde ficavam os magistrados do rei.
Executados de diversas maneiras, o piso de tabuado em madeira corrida será encontrado
nos diferentes cômodos entre os três pavimentos do Palácio.
Na construção original da casa, as salas do primeiro pavimento tinham como função
social o recebimento de visitantes, pequenas recepções do barão e o estar familiar. No Salão
Ministerial (Ilustração 1), encontraremos taboado de madeira corrido em duas cores.
Na sala seguinte, que hoje é denominada de Sala dos Símbolos (Ilustração 2) (símbolos
republicanos) teremos o taboado de madeira em dois tons com trecho central em formato de
estrela de cinco pontas em círculo.
No primeiro pavimento, todo o piso será em taboado de madeira. Primeiramente, no
Salão de Banquete (Ilustração 3), teremos o parquet de madeiras em tons diversos com
um padrão de estrela de oito pontas em composição lado a lado formando tapete único
arrematado por tabeira em grega de motivos geométricos. No Salão Mourisco (Ilustração
4), o parquet de madeiras será em tons diversos com um padrão de quadrado com losango
central em composição lado a lado, formando tapete único arrematado por tabeira em grega
de motivos geométricos. No Salão Amarelo (Ilustração 5), teremos parquet de madeiras em
tons diversos, com padrão quadrado, com elementos que se desenvolvem de forma radial
com desenhos de flechas e folhas estilizadas, composição lado a lado formando tapete único
arrematado por tabeira em pequenos círculos. No Salão Pompeano (Ilustração 6), teremos
parquet de madeiras em dois tons com padrão quadrado composto de quatro “cruzes” e
A ORNAMENTAÇÃO
FIXA
Ilustração 3
Detalhe do piso
do Salão de Banquete.
Ilustração 4
Detalhe do piso
do Salão Mourisco.
477
Ilustração 5
Detalhe do piso
do Salão Amarelo.
Ilustração 6
Detalhe do piso
do Salão Pompeano
478
quadrado central; entre estes elementos estão faixas de ligação que dão um desenho geral
de grelha. Composição lado a lado formando tapete único arrematado por tabeira lisa
com quatro cantoneiras quadradas com desenho central geométrico, com soleira da porta
com elemento central simétrico de motivo fitomórfico. Continuando o percurso das salas,
teremos no Salão Azul (Ilustração 7), com o parquet de madeiras em diversos tons com
padrão composto de estrela de oito pontas. No centro, estes elementos estão em faixas de
ligação que levam a um desenho geral de grelha, tapete único arrematado por tabeira com
motivo em dois tons de madeira. Na Capela (Ilustração 8), o parquet de madeira está em
dois desenhos de uma cruz e uma estrela de oito pontas, intercaladas com arremate de fitas
entrelaçadas. O arremate em tabeira tem formato de grega. No Hall dos Vitrais, o taboado
liso de madeira tem dois tons formando tapetes quadrados de taboas em diagonal que se
encontram em pequeno quadrado central e a tabeira é lisa. No Salão Nobre (Ilustração
9), o parquet de madeira está em dois padrões de estrela de quatro pontas com motivos
decorativos diferenciados, o primeiro com motivos fitomórficos com flechas e folha estilizada
e o segundo com um motivo fitomórfico. Entre as estrelas se destacam losangos de madeira
em tom mais escuro. O tapete é arrematado por tabeira de motivos fitomórficos com volutas.
A importância de se catalogar e estudar esses padrões não se dá apenas pela simples
valorização estética dos belos motivos decorativos geométricos e/ou florais, mas pelo
significado de sua incorporação na arquitetura desta casa e pelo uso distintivo de sua
aplicação nas moradias. Podemos também citar a importância de resgatar a técnica utilizada
na confecção das padronagens e da colocação da madeira.
A CASA SENHORIAL
EM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO
Ilustração 7
Detalhe do piso
do Salão Azul.
Ilustração 8
Detalhe do piso
da Capela.
Ilustração 9
Detalhe do piso
do Salão Nobre.
A ORNAMENTAÇÃO
FIXA
479
Ilustração 10
Fachada do Palácio
Nova Friburgo/
/Palácio do Catete
É possível assegurar, pela documentação, que se trata de madeira brasileira e resgatar a
autoria dos pisos. Esta pesquisa, entretanto, ainda não foi concluída.
A partir do levantamento das características, medidas e elementos da confecção
conjuntamente com um estudo detalhado e a análise da documentação primária do Barão
de Nova Friburgo, procuramos chegar à confirmação de dados mais precisos sobre a origem
desses e outros materiais empregados nesta residência.
A tipologia social do Palácio Nova Friburgo (Ilustração 10) segue as condicionantes
sociais e ambientais de um programa que define os usos e tamanhos das diferentes peças
da casa em função dos costumes e das possibilidades materiais e econômicas de seus
moradores, nobres cafeicultores da monarquia brasileira. A arquitetura, como qualquer outra
manifestação social, foi influenciada pelas contribuições portuguesas e de outros grupos que
chegaram ao Brasil, constituindo um verdadeiro sincretismo arquitetônico, adaptado, no
possível, às condições materiais e ambientais do país.
480
A CASA SENHORIAL
EM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO
NOTAS
ASSIS, Machado - Esaú e Jacó. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1994. Publicado originalmente
pela Editora Garnier, Rio de Janeiro, 1904, p. 32-33.
2
NABUCO, Joaquim - O Globo. Rio de Janeiro, 19/9/1875.
3
MALTA, Marize - O Olhar Decorativo: Ambientes domésticos em fins do século XIX no Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro: Mauad X : FAPERJ, 2011, p. 17.
4
O presente trabalho refere-se aos estudos iniciais do Projeto Palácio Nova Friburgo: um sonho
materializado em pedra e cal – Levantamento da decoração aplicada dos salões do Museu da República,
que no ano de 2013 foi contemplado com um auxílio da FAPERJ. A partir do convite feito pela Dra.
Ana Pessoa, da Casa de Rui Barbosa, para integrar o Projeto A Casa Senhorial em Lisboa e no Rio de
Janeiro (sécs. XVII, XVIII e XIX) no ano de 2012, o Museu da República vem desenvolvendo uma
pesquisa sistemática de seus padrões decorativos. Em parceria estabelecida com a Casa de Rui Barbosa
foi elaborada uma ficha catalográfica. Nesta analise preliminar foi realizado o preenchimento desta
com: medições, localização, breve descrição dos pisos em parquet, imagens e uma análise de suas
características.
5
Em parceria estabelecida com a Casa de Rui Barbosa foi elaborada uma ficha catalográfica. Nesta
análise preliminar foi realizado o preenchimento desta com: medições, localização, breve descrição
dos ladrilhos, imagens e uma analise tipológica. Esta pesquisa concentra-se no emprego dos ladrilhos
e na construção dos mosaicos hidráulicos em toda a extensão do piso térreo do Palácio.
1
BIBLIOGRAFIA
ALMEIDA, Cícero Antônio F. de - 50 anos do Museu da República (con)tradições da memória
republicana. In Musas. Revista Brasileira de Museus e Museologia. Brasília: Instituto Brasileiro de
Museus, nº 5, p. 196-209, 2011.
Idem - Catete: Memórias de um Palácio. Rio de Janeiro: Museu da República, 1994.
CZAJKOWSKI, Jorge (org) - Guia da Arquitetura Eclética do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Centro de
Arquitetura e Urbanismo, 2000.
FRAGOSO, João - A Nobreza da República: notas sobre a formação da primeira elite senhorial do Rio
de Janeiro (séculos XVI e XVII). In Revista de História, v. 1, nº 1, jan-dez, 2000. Programa de PósGraduação em História Social da UFRJ.
Guia, Glória e Catete. Bairros do Rio. Rio de Janeiro: Fraiha, 1999.
FOLLY, Luiz Fernando Dutra, OLIVEIRA, Luanda Jucyelle Nascimento, FARIA, Aura Maria Ribeiro
- Barão de Nova Friburgo: impressões, feitos e encontros. Rio de Janeiro: UFRJ/EBA Publicações, 2010.
Madeira na Arquitetura, Construção e Mobiliário. Associação Brasileira de Desenhistas de Interiores e
Decoradores. São Paulo: Editora Projeto, 1988.
MALTA, Marize - O Olhar Decorativo: Ambientes domésticos em fins do século XIX no Rio de Janeiro.
Rio de Janeiro: Mauad X : FAPERJ, 2011.
SILVA, Moema Ribas - Matérias de Construção. São Paulo: Pini, 1985.
A ORNAMENTAÇÃO
FIXA
481
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