Isabel Mendonça . Hélder Carita . Marize Malta Coordenação A CemASA S ENHORIAL Lisboa e no Rio de Janeiro: Anatomia dos Interiores Instituto de História da Arte Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa Escola de Belas Artes Universidade Federal do Rio de Janeiro A CemASA S ENHORIAL Lisboa e no Rio de Janeiro: Anatomia dos Interiores Coordenação Isabel Mendonça . Hélder Carita . Marize Malta A CemASA S ENHORIAL Lisboa e no Rio de Janeiro: Anatomia dos Interiores Instituto de História da Arte Faculdade de Ciências Sociais e Humanas – Universidade Nova de Lisboa Escola de Belas Artes Universidade Federal do Rio de Janeiro 2014 FCT (PTDC/EAT-HAT/112229/2009) ISBN: 978-989-99192-0-4 Coordenação (Universidade Nova de Lisboa) Isabel M. G. Mendonça ISBN: 978-85-87145-60-4 Hélder Carita (Universidade Federal Marize Malta do Rio de Janeiro) A Casa Senhorial em Lisboa e no Rio de Janeiro: Anatomia dos Interiores Design gráfico: Atelier Hélder Carita Secretariado: Lina Oliveira Tiago Antunes Edição conjunta Instituto de História da Arte (IHA) – Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa ISBN: 978-989-99192-0-4 Escola de Belas Artes (EBA) – Universidade Federal do Rio de Janeiro ISBN: © Autores e IHA Os artigos e as imagens reproduzidas nos textos são da inteira responsabilidade dos seus autores. Depósito legal: 383142 / 14 Tipografia: Norprint Tiragem: 300 exemplares LISBOA – RIO DE JANEIRO 2014 Este trabalho é financiado por Fundos Nacionais através da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia, no âmbito do projecto com a referência EAT-HAT.112229.2009. ÍNDICE MECENAS E ARTISTAS. VIVÊNCIAS E RITUAIS 18 Cátia Teles e Marques Os paços episcopais nos modelos de representação protagonizados por bispos da nobreza no período pós-tridentino em Portugal 44 Daniela Viggiani “L’ Abecedario Pittorico” de Pellegrino Antonio Orlandi 64 Celina Borges Lemos André Guilherme Dornelles Dangelo Solar “Casa Padre Toledo”: o bem cultural como uma conjunção ritualística de espaços e tempos limiares 86 Miguel Metelo de Seixas O uso da heráldica no interior da casa senhorial portuguesa do Antigo Regime: propostas de sistematização e entendimento ARQUITECTURA, ESTRUTURAS E PROGRAMAS DISTRIBUTIVOS 112 Isabel Soares de Albergaria O Palácio dos Câmara “aos Mártires” – um caso excecional da opulência seiscentista 134 João Vieira Caldas Maria João Pereira Coutinho O Nome e a Função: Terminologia e Uso dos Compartimentos na Casa Nobre Urbana da Primeira Metade do Século XVIII 190 Hélder Carita O Palácio Ramalhete, nas Janelas Verdes: uma tipologia de palacete pombalino 208 Ana Lúcia Vieira dos Santos Formas de morar no Rio de Janeiro do século XIX: espaço interior e representação social ÍNDICE 7 224 Mariana Pinto da Rocha Jorge Ferreira Tiago Molarinho Antunes O Palácio dos Condes da Ribeira Grande, na Junqueira: análise do conjunto edificado 248 José Pessôa Padrões distributivos das casas senhoriais no Rio de Janeiro do primeiro quartel do século XIX 272 José Marques Morgado Neto As Casas Senhoriais da Belém colonial entre os séculos XVIII e XIX: sob a perspectiva dos relatos de viajantes, da iconografia da época e da remanescência no centro histórico da cidade 292 Gustavo Reinaldo Alves do Carmo O Palácio das Laranjeiras e a Belle Époque no Rio de Janeiro (1909-1914) 318 Patrícia Thomé Junqueira Schettino Celina Borges Lemos “O Palacete Carioca”. Estudo sobre a relação entre as transformações da arquitetura residencial da elite e a evolução do papel social feminino no final do século XIX e início do século XX no Rio de Janeiro 338 Felipe Azevedo Bosi Palácio Isabel: o Palácio do Conde e Condessa d’Eu no Segundo Reinado brasileiro 346 Paulo Manta Pereira A arquitetura doméstica de Raul Lino (1900-1918). Expressão meridional do Arts and Crafts, ou síntese local de um movimento artístico universal do último terço de oitocentos A ORNAMENTAÇÃO FIXA 8 366 Ana Paula Correia Memórias de casas senhoriais – patrimónios esquecidos 382 Sofia Braga Sobre a Sala Pompeia do Antigo Palácio da Ega A CASA SENHORIAL EM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO 404 Cristina Costa Gomes Isabel Murta Pina Papéis de parede da China em Casas Senhoriais Portuguesas 424 Ana Pessoa As Artes Decorativas no Rio de Janeiro do século XIX: um panorama 444 Isabel Mendonça Estuques de Paris e “parquets” de Bruxelas num palácio oitocentista de Lisboa 472 Isabel Sanson Portella Análise Tipológica dos Padrões dos Pisos de Parquet dos Salões do Palácio Nova Friburgo / Palácio do Catete 482 Alexandre Mascarenhas Cristina Rozisky Fábio Galli A “Casa Senhorial” em Pelotas no século XIX: família Antunes Maciel 502 Miguel Leal A Pintura Decorativa do Palacete Alves Machado: um estudo de caso 516 Rosa Arraes A função social das decorações e seus ornatos dos palacetes na Belle-époque da Amazônia EQUIPAMENTO MÓVEL 536 Maria João Ferreira Ecos de hábitos e usos nos inventários: os adereços têxteis nos interiores das residências senhoriais lisboetas seiscentistas e setecentistas 562 Marize Malta Sumptuoso leilão de ricos móveis... Um estudo sobre o mobiliário das casas senhoriais oitocentistas no Rio de Janeiro por meio de leilões ÍNDICE 9 Resumo/Abstract Analise Tipológica dos Padrões dos Pisos de Parquet dos Salões do Palácio Nova Friburgo / Palácio do Catete Palavras-chave Arquitetura século XIX, Elementos decorativos, Palácio Nova Friburgo, Palácio do Catete, Parquets O presente trabalho se refere aos estudos iniciais do Projeto Palácio Nova Friburgo: um sonho materializado em pedra e cal – Levantamento da decoração aplicada dos salões do Museu da República, que no ano de 2013 foi contemplado com um auxílio da FAPERJ. A partir do convite feito pela Dra. Ana Pessoa da Casa de Rui Barbosa a integrar o Projeto A Casa Senhorial em Lisboa e no Rio de Janeiro (sécs. XVII, XVIII e XIX) no ano de 2012, o Museu da República vem desenvolvendo uma pesquisa sistemática de seus padrões decorativos. Em parceria estabelecida com a Casa de Rui Barbosa foi elaborado uma ficha catalográfica. Nesta analise preliminar foi realizada o preenchimento desta com: medições, localização, breve descrição dos pisos em parquet, imagens e uma análise de suas características. Esta pesquisa concentra-se no diversos pisos e padrões diferenciados para cada salão do Palácio. Typological Analysis of Patterns in the Parquet floors of Halls From Palace Nova Friburgo / Palace Catete Keywords Nineteenth century architecture, Decorative arts, Palácio Nova Friburgo, Palácio do Catete, Parquet. The present work refers to the initial studies Palácio Nova Friburgo: um sonho materializado em pedra e cal – Levantamento da decoração aplicada dos salões do Museu da República, which in 2013 was awarded an aid FAPERJ decor. From the invitation by Dr. Ana Pessoa of Casa de Rui Barbosa to integrate the Project A Casa Senhorial em Lisboa e no Rio de Janeiro (sécs. XVII, XVIII e XIX) in 2012, the Museu da República has been developing a systematic study of their decorative patterns. In partnership with Casa de Rui Barbosa was drafted one catalog entry. In this preliminary analysis of this filling was performed with: measurements, location, brief description of parquet floors, pictures and an analysis of its features. This research focuses on different floors and different for each Palace room standards. Isabel Sanson Portella. Pesquisadora de acervo do Museu da República- IBRAM/MinC Doutora em História e Crítica da Arte UFRJ/EBA, pesquisadora de acervo do Museu da República Ibram/MinC, curadora da exposição Você conhece, vocé se lembra? Tá quente, tá frio. (Museu da República 20 de maio de 2011 a 20 fevereiro de 2012). Atualmente coordena a pesquisa Palácio Nova Friburgo: um sonho materializado em pedra e cal – Levantamento da decoração aplicada dos salões do Museu da República com o auxílio APQ1 da FAPERJ. [email protected] Analise Tipológica dos Padrões dos Pisos de Parquet dos Salões do Palácio Nova Friburgo/ Palácio do Catete Isabel Sanson Portella A história do Palácio do Barão de Nova Friburgo começou a ser traçada mais exatamente em maio de 1858, quando foram fincadas as primeiras pedras que serviriam de alicerce à construção do edifício - o Palácio Nova Friburgo e/ou Palácio das Águias ou, como é mais conhecido, o Palácio do Catete, numa referência ao bairro em que está situado. Desde sua inauguração, época em que foi residência da família do Barão de Nova Friburgo, o Palácio do Catete era usado exclusivamente por seus proprietários e aberto apenas para convidados da alta sociedade. No período em que foi sede do Governo Federal era freqüentado por importantes figuras da política brasileira. Com a mudança da capital para Brasília, no ano de 1960, o Palácio do Catete deixa de ser sede oficial do Governo e se transforma em Museu da República, sendo desde então aberto ao público, tornando-se patrimônio cultural da cidade do Rio de Janeiro. Durante os 94 anos em que o acesso a seu interior foi restrito (de 1866 a 1960), este palácio, referência da arquitetura neoclássica pelo lado externo e eclética internamente, despertou fascínio, inveja e muita curiosidade por parte daqueles que podiam somente desfrutar da suntuosidade de sua fachada e apenas imaginar como seria aquele lugar que era tão próximo de todos, porém inacessível. Sua localização, na rua do Catete, centro residencial e de grande movimentação urbana na época, muito contribuiu para que estivesse ainda mais integrado ao cenário carioca, tornando-se parte proeminente da paisagem da cidade. A literatura brasileira está repleta de referências ao Palácio. Machado de Assis, em seu livro “Esaú e Jacó” (1904), dedica um pequeno capítulo ao prédio, demonstrando a admiração e reverência do povo: Ao passar pelo Palácio Nova Friburgo, levantou os olhos para ele com o desejo do costume, uma cobiça de possuí-lo, sem prever os altos destinos que o palácio viria a ter na República. Para Santos a questão era só possuí-lo, dar ali grandes festas únicas, celebradas nas gazetas, narradas na cidade A ORNAMENTAÇÃO FIXA 473 entre amigos e inimigos, cheios de admiração, de rancor ou de inveja. A casa de Botafogo, posto que bela, não era um palácio, e depois, não estava tão exposta como aqui no Catete, passagem obrigada de toda a gente, que olharia para as grandes janelas, as grandes portas, as grandes águias no alto, de asas abertas. Quem viesse pelo lado do mar, veria as costas do palácio, os jardins e os lagos... Santos imaginava os bronzes, mármores, luzes, flores, danças, carruagens, músicas, ceias...1 O desejo e o fascínio do personagem Santos é um reflexo da importância dessa construção para o cenário carioca. E confirma a fala de Joaquim Nabuco que, em 1875, profetiza à Baronesa de São Clemente (esposa do filho mais velho do barão de Nova Friburgo) que aquele prédio ainda seria, “dentro de uns trezentos anos, objeto de estudos.” 2 O Palácio do Catete manteve até os dias atuais em grande parte, seu aspecto original. Seus muros conseguiram preservar a atmosfera de toda história que carrega, se transformando numa espécie de cápsula do tempo. Isso o torna ainda mais interessante, se considerarmos que o bairro do Catete, assim como toda a cidade do Rio de Janeiro, sofreram profundas transformações com o passar dos anos. Intensificou-se ainda mais o contraste de sua arquitetura do período imperial com a configuração arquitetônica e urbanística atual. Num cenário bucólico repleto de pequenas chácaras e comércio ainda restrito, o português Antônio Clemente Pinto adquiriu, em 1858, uma casa e um terreno de fundos que se estendia até a Praia do Flamengo. Sua intenção era construir uma residência na côrte, uma vez que sua ocupação com as fazendas de café o mantinha afastado, em Nova Friburgo. Anos mais tarde adquiriu mais duas casas contíguas que serviram para ampliar o jardim de sua residência. Encomendou ao arquiteto alemão Carl Friedrich Gustav Waehneldt um projeto que, apresentado na Exposição Geral da Academia de Belas Artes do Rio de Janeiro em 1862, ganhou a medalha de prata. Pode-se notar no projeto a nítida influência da arquitetura italiana, mais precisamente dos palácios urbanos de Florença do final do século XV e dos palácios de Veneza. Para a execução do projeto empregou artistas renomados como o escultor português Quirino Antônio Vieira, que confeccionou ornamentos e fachadas; Emil Bauch, pintor e gravador alemão, premiado em 1860 com medalha de ouro na Exposição Geral de BelasArtes, a quem foram encomendadas várias pinturas decorativas, dentre elas um enorme quadro do Barão e da Baronesa de Nova Friburgo; e o estucador português Bernardino da Costa, autor das portas do andar térreo. O material, quase todo importado da Europa, foi utilizado na construção dos três 474 A CASA SENHORIAL EM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO pavimentos que compõem o prédio. Assim como nos palácios florentinos, o primeiro piso era destinado a serviços gerais e primeiras recepções; no segundo, conhecido como piso nobre, luxuoso, colorido e exuberante, aconteciam as festas; e o terceiro abrigava os dormitórios e áreas reservadas à família. Algumas soluções típicas da arquitetura renascentista italiana foram aplicadas, como o cortille, ou pátio interno, arrematado ao alto por um grande vitral sob a clarabóia, de origem alemã, cujo desenho é de autoria do próprio Gustav Waehneldt. A circulação podia ser feita pelo corredor externo e não era necessário passar por dentro dos cômodos. A construção é impressionante. São três andares com cerca de 35 saletas, salas e salões, sem contar com as áreas de passagem. Um salão nobre dedicado a Apolo, uma capela, uma sala inspirada em Pompéia e outra no Palácio de Alhambra, todas carregadas de uma profusão de cores que apontam para o neoclassismo europeu. Para cada cômodo teria sido planejada uma decoração que harmonizasse com sua finalidade e fosse coerente com o restante da casa. O mobiliário desses ambientes também seguiria o mesmo propósito e cada centímetro de parede, chão e teto foi estudado e elaborado em minúcias decorativas. Não existe espaço para o vazio, para o branco existir. Como bem ressalta Marize Malta em seu livro Olhar decorativo, o autor Henry Havard, se refere, em 1884, ao horror ao vazio. Em L´Art dans La Maison, Harvard sublinha: “a decoração assim como a natureza têm horror ao vazio” 3. Nos salões ricamente decorados e com seus usos bem específicos distribuídos entre o andar térreo, o primeiro pavimento e o segundo pavimento, é possível fazer um levantamento dos tipos e padrões dos pisos em madeiramento existentes no palácio 4. Esta pesquisa concentra-se numa identificação e catalogação dos diversos pisos e padrões diferenciados para cada salão do térreo e do primeiro pavimento, mais conhecido como piso nobre do Palácio. Num primeiro momento identificamos os padrões dos pisos hidráulicos do Palácio 5 quando foram encontrados 58 tipos diferentes, sendo 14 em formato de “tapetes”. Dentre estes tapetes podemos destacar a águia do hall central. Numa segunda fase de identificação e catalogação, os pisos em madeira foram analisados quanto à variação da cor natural da madeira e os diferentes motivos florais e/ou geométricos utilizados. No século XIX, a liberalização do comércio mundial e a influência dos costumes europeus no Brasil manifestam-se na arquitetura e demais artes. Com a chegada da Missão Francesa, em 1815, e a criação da Academia Imperial de Belas Artes, arquitetos estrangeiros e, fundamentalmente, artesãos imigrantes produzem uma importante modificação nos hábitos de construção, especialmente nas cidades onde as classes mais abastadas do litoral A ORNAMENTAÇÃO FIXA 475 Ilustração 1 Detalhe do piso do Salão Ministerial. Ilustração 6 Detalhe do piso da Sala dos Símbolos. 476 mantêm contato permanente com a Europa. Novas técnicas e materiais importados se impõem paulatinamente. Num país que acabou sendo batizado com o nome de uma árvore, o uso da madeira foi largamente empregado. Por sua abundância e variedade, o material foi utilizado para os mais diversos fins na construção civil. A destinação da madeira para a construção naval foi um dos grandes atrativos tendo gerado uma regulamentação para o controle do corte de determinadas espécies, ficando estas conhecidas como Madeiras de lei. Os pisos mais correntemente empregados no Palácio do Catete são os de madeira e os ladrilhos hidráulicos. No caso das madeiras, as inovações estão relacionadas ao melhor aparelhamento das peças, alcançando um maior apuro formal e maior refinamento nos detalhes e encaixes (difunde-se o encaixe macho-e-fêmea), característica marcante deste fim de século XIX devido ao aparecimento das serrarias mecânicas. Estes refinamentos técnicos ampliam o leque de possibilidades formais, onde os pisos podem formar um sem número de desenhos decorativos, auxiliando assim, na ornamentação dos ambientes internos, sejam eles em tabuado, parquets ou tacos. No decorrer do século XIX, utilizava-se com freqüência o pinho-de-riga, a peroba do campo ou o ipê, mas também madeiras como o jequitibá rosa e o pinho nacional, todas madeiras de lei. Já os parquets são compostos por pedaços de madeira de tamanhos e formas variadas formando desenhos de mosaicos, geométricos, estrelas, gregas, entre outros. Os tacos são constituídos por peças de madeira com forma retangular, uniformes, assentados um a um, em espinha de peixe, xadrez, entre outros motivos. Tanto os pisos tabuados, como os de tacos e parquets, recebem normalmente em seu perímetro tabeiras, podendo ser estas formadas por madeiras de diversas colorações, conformando trechos atapetados no ambiente. A CASA SENHORIAL EM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO Em sua origem, parquet define um tipo de assoalho formado por partes de tamanhos e formas diversos, compondo uma espécie de mosaico formando desenhos simples ou mais elaborados. Parquet vem da palavra “parc” e foi usada ainda na idade média para designar o local ao redor do estrado de madeira onde ficavam os magistrados do rei. Executados de diversas maneiras, o piso de tabuado em madeira corrida será encontrado nos diferentes cômodos entre os três pavimentos do Palácio. Na construção original da casa, as salas do primeiro pavimento tinham como função social o recebimento de visitantes, pequenas recepções do barão e o estar familiar. No Salão Ministerial (Ilustração 1), encontraremos taboado de madeira corrido em duas cores. Na sala seguinte, que hoje é denominada de Sala dos Símbolos (Ilustração 2) (símbolos republicanos) teremos o taboado de madeira em dois tons com trecho central em formato de estrela de cinco pontas em círculo. No primeiro pavimento, todo o piso será em taboado de madeira. Primeiramente, no Salão de Banquete (Ilustração 3), teremos o parquet de madeiras em tons diversos com um padrão de estrela de oito pontas em composição lado a lado formando tapete único arrematado por tabeira em grega de motivos geométricos. No Salão Mourisco (Ilustração 4), o parquet de madeiras será em tons diversos com um padrão de quadrado com losango central em composição lado a lado, formando tapete único arrematado por tabeira em grega de motivos geométricos. No Salão Amarelo (Ilustração 5), teremos parquet de madeiras em tons diversos, com padrão quadrado, com elementos que se desenvolvem de forma radial com desenhos de flechas e folhas estilizadas, composição lado a lado formando tapete único arrematado por tabeira em pequenos círculos. No Salão Pompeano (Ilustração 6), teremos parquet de madeiras em dois tons com padrão quadrado composto de quatro “cruzes” e A ORNAMENTAÇÃO FIXA Ilustração 3 Detalhe do piso do Salão de Banquete. Ilustração 4 Detalhe do piso do Salão Mourisco. 477 Ilustração 5 Detalhe do piso do Salão Amarelo. Ilustração 6 Detalhe do piso do Salão Pompeano 478 quadrado central; entre estes elementos estão faixas de ligação que dão um desenho geral de grelha. Composição lado a lado formando tapete único arrematado por tabeira lisa com quatro cantoneiras quadradas com desenho central geométrico, com soleira da porta com elemento central simétrico de motivo fitomórfico. Continuando o percurso das salas, teremos no Salão Azul (Ilustração 7), com o parquet de madeiras em diversos tons com padrão composto de estrela de oito pontas. No centro, estes elementos estão em faixas de ligação que levam a um desenho geral de grelha, tapete único arrematado por tabeira com motivo em dois tons de madeira. Na Capela (Ilustração 8), o parquet de madeira está em dois desenhos de uma cruz e uma estrela de oito pontas, intercaladas com arremate de fitas entrelaçadas. O arremate em tabeira tem formato de grega. No Hall dos Vitrais, o taboado liso de madeira tem dois tons formando tapetes quadrados de taboas em diagonal que se encontram em pequeno quadrado central e a tabeira é lisa. No Salão Nobre (Ilustração 9), o parquet de madeira está em dois padrões de estrela de quatro pontas com motivos decorativos diferenciados, o primeiro com motivos fitomórficos com flechas e folha estilizada e o segundo com um motivo fitomórfico. Entre as estrelas se destacam losangos de madeira em tom mais escuro. O tapete é arrematado por tabeira de motivos fitomórficos com volutas. A importância de se catalogar e estudar esses padrões não se dá apenas pela simples valorização estética dos belos motivos decorativos geométricos e/ou florais, mas pelo significado de sua incorporação na arquitetura desta casa e pelo uso distintivo de sua aplicação nas moradias. Podemos também citar a importância de resgatar a técnica utilizada na confecção das padronagens e da colocação da madeira. A CASA SENHORIAL EM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO Ilustração 7 Detalhe do piso do Salão Azul. Ilustração 8 Detalhe do piso da Capela. Ilustração 9 Detalhe do piso do Salão Nobre. A ORNAMENTAÇÃO FIXA 479 Ilustração 10 Fachada do Palácio Nova Friburgo/ /Palácio do Catete É possível assegurar, pela documentação, que se trata de madeira brasileira e resgatar a autoria dos pisos. Esta pesquisa, entretanto, ainda não foi concluída. A partir do levantamento das características, medidas e elementos da confecção conjuntamente com um estudo detalhado e a análise da documentação primária do Barão de Nova Friburgo, procuramos chegar à confirmação de dados mais precisos sobre a origem desses e outros materiais empregados nesta residência. A tipologia social do Palácio Nova Friburgo (Ilustração 10) segue as condicionantes sociais e ambientais de um programa que define os usos e tamanhos das diferentes peças da casa em função dos costumes e das possibilidades materiais e econômicas de seus moradores, nobres cafeicultores da monarquia brasileira. A arquitetura, como qualquer outra manifestação social, foi influenciada pelas contribuições portuguesas e de outros grupos que chegaram ao Brasil, constituindo um verdadeiro sincretismo arquitetônico, adaptado, no possível, às condições materiais e ambientais do país. 480 A CASA SENHORIAL EM LISBOA E NO RIO DE JANEIRO NOTAS ASSIS, Machado - Esaú e Jacó. Rio de Janeiro: Editora Nova Aguilar, 1994. Publicado originalmente pela Editora Garnier, Rio de Janeiro, 1904, p. 32-33. 2 NABUCO, Joaquim - O Globo. Rio de Janeiro, 19/9/1875. 3 MALTA, Marize - O Olhar Decorativo: Ambientes domésticos em fins do século XIX no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Mauad X : FAPERJ, 2011, p. 17. 4 O presente trabalho refere-se aos estudos iniciais do Projeto Palácio Nova Friburgo: um sonho materializado em pedra e cal – Levantamento da decoração aplicada dos salões do Museu da República, que no ano de 2013 foi contemplado com um auxílio da FAPERJ. A partir do convite feito pela Dra. Ana Pessoa, da Casa de Rui Barbosa, para integrar o Projeto A Casa Senhorial em Lisboa e no Rio de Janeiro (sécs. XVII, XVIII e XIX) no ano de 2012, o Museu da República vem desenvolvendo uma pesquisa sistemática de seus padrões decorativos. Em parceria estabelecida com a Casa de Rui Barbosa foi elaborada uma ficha catalográfica. Nesta analise preliminar foi realizado o preenchimento desta com: medições, localização, breve descrição dos pisos em parquet, imagens e uma análise de suas características. 5 Em parceria estabelecida com a Casa de Rui Barbosa foi elaborada uma ficha catalográfica. Nesta análise preliminar foi realizado o preenchimento desta com: medições, localização, breve descrição dos ladrilhos, imagens e uma analise tipológica. Esta pesquisa concentra-se no emprego dos ladrilhos e na construção dos mosaicos hidráulicos em toda a extensão do piso térreo do Palácio. 1 BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, Cícero Antônio F. de - 50 anos do Museu da República (con)tradições da memória republicana. In Musas. Revista Brasileira de Museus e Museologia. Brasília: Instituto Brasileiro de Museus, nº 5, p. 196-209, 2011. Idem - Catete: Memórias de um Palácio. Rio de Janeiro: Museu da República, 1994. CZAJKOWSKI, Jorge (org) - Guia da Arquitetura Eclética do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro: Centro de Arquitetura e Urbanismo, 2000. FRAGOSO, João - A Nobreza da República: notas sobre a formação da primeira elite senhorial do Rio de Janeiro (séculos XVI e XVII). In Revista de História, v. 1, nº 1, jan-dez, 2000. Programa de PósGraduação em História Social da UFRJ. Guia, Glória e Catete. 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