UNIVERSIDADE NOVA: TRÊS ANOS DEPOIS
BORGES, Ana Lucia Araujo1
SOUZA, Sidineia Maria de 2
AZEVEDO, Daniel H. Carrara de3
RESUMO: Considerando a ligação entre desafios ao desenvolvimento do Brasil e
transformações no ensino superior, este artigo tem o objetivo de investigar como se encontra
no inicio do ano de 2011, as teorias e praticas da polemica Universidade Nova, inspirada nas
orientações de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, incentivada pela Universidade Federal da
Bahia e amparada por um decreto do governo federal publicado em 2007. Para tanto foi
realizado um levantamento bibliográfico em diferentes bases de dados, bem como foram
acessados os sítios das instituições de ensino superior que mostraram-se favoráveis a
implantação dos bacharelados interdisciplinares (BI) em suas grades curriculares durante o
ano de 2007. Utilizando contribuições das discussões tanto favoráveis como contrárias as
transformações oriundas da Universidade Nova, ressalta a importância de um estudo conjunto
no Brasil que venha desenvolver o ensino superior no Brasil, visando vencer o triplo desafio
da educação universitária ao permitir padrões de qualidade, universalidade de acesso e
relevância social.
PALAVRAS CHAVE: Universidade Nova. REUNI. Ensino Superior. Grade Curricular
ABSTRACT: Considering the link between Brazil’s development challenges and
transformations in higher education, this article aims to investigate how is the beginning of
2011, theories and practices of the New University controversy, inspired by the guidelines and
Darcy Ribeiro Teixeira spurred by the Federal University of Bahia and supported by a federal
government decree published in 2007. To do so was based on a literature in different
databases, as well as the sites were accessed from institutions of higher learning that would
welcome the establishment of interdisciplinary bachelor (BI) in their curricula during the year
2007. Using contributions from the discussions, both favorable and contrary the changes
arising from the New University, emphasizes the importance of a collaborative study in Brazil
that will develop higher education in Brazil to win the triple challenge of higher education by
providing quality standards, universal access and social relevance.
KEY-WORDS: New University. REUNI. Higher Education. Curriculum.
1
Ana Lúcia Araujo Borges. Professora Mestre da Universidade Luterana do Brasil.
2
Sidinéia Maria de Souza. Professora Mestre da Universidade Estadual de Montes Claros.
3
Daniel H. Carrara de Azevedo. Professor Especialista da Universidade Luterana do Brasil
INTRODUÇÃO
Pensar em Estado, políticas publicas e desafios ao desenvolvimento do Brasil, sempre remete
a reflexão da educação, mais especificamente do ensino superior enquanto grande aliada a um
futuro promissor.
Entretanto, esta dimensão traz um desafio triplo conforme enfatiza Mello
(2010). O primeiro desafio se refere ao padrão de qualidade exigido na contemporaneidade a
fim de se fazer frente à globalização e a mercantilizarão.
O segundo desafio se refere à universalidade de acesso, sendo necessário para
tanto repensar a qualidade e não tão somente a quantidade de alunos que obtém sucesso. E,
por último o desafio de se formar uma universidade socialmente relevante que seja capaz de
contribuir com a busca de soluções aos considerados grandes problemas do Brasil.
Para tanto, opiniões e sugestões conflitantes não faltam, como ocorreu com a
temática Universidade Nova. Assim, este artigo tem o objetivo de investigar como se encontra
no inicio do ano de 2011, as teorias e praticas da polemica Universidade Nova, inspirada nas
orientações de Anísio Teixeira e Darcy Ribeiro, incentivada pela Universidade Federal da
Bahia e amparada por um decreto do governo federal publicado em 2007.
A fim de se fundamentar o objetivo proposto, este artigo esta organizado em
três partes, alem desta introdução e considerações finais. Na primeira parte são apresentadas
algumas considerações sobre o tema Universidade Nova e REUNI para uma melhor
compreensão das posições favoráveis e contrarias a sua implantação, representadas pela
segunda e terceira parte do artigo. Em seguida, são apresentados os aspectos metodológicos e
os resultados encontrados.
1. A UNIVERSIDADE NOVA E O REUNI
Anísio Teixeira foi um dos principais teóricos da educação brasileira e
enfatizava a educação como um direito de todos e dever do Estado (TEIXEIRA, 1994). Desta
forma a educação para o baiano Anísio Teixeira se caracterizava como democrática e
progressiva o que lhe ocasionou perseguições políticas por parte dos conservadores da época.
Durante sua vida (1900-1971) o autor antecipava-se aos frutíferos temas de
interdisciplinaridade e da complexidade da ciência (TEIXEIRA, 1999). Dentre suas inúmeras
contribuições:
“a mais recente iniciativa de repensar a instituição universitária brasileira,
com vistas à tarefa de atualizá-la, continuamente, frente aos desafios e
exigências dos novos tempos, inspira-se fortemente na obra de Anísio
Teixeira. Trata-se do movimento Universidade Nova, que vem ganhando
adeptos em todo o país, cujo principal objetivo e a reestruturação curricular
radical dos programas de formação universitária. (LIMA ROCHA, 2002,
p.4).
Tal reestruturação curricular consiste na implantação dos Bacharelados
interdisciplinares (BI), que tem currículos flexíveis em torno de três Eixos Temáticos
Interdisciplinares: Artes, Ciências e Tecnologia e Humanidades apresentado no Projeto de Lei
que institui a Universidade de Brasília em 1960, conforme Salmeron, 1998.
Anísio Teixeira é reconhecido enquanto precursor da Universidade Nova, 30
anos antes de se iniciar o modelo europeu conhecido como Universidade de Bolonha. A esse
respeito, Lima Rocha, 2006 salientou:
Parece não haver duvidas de que os modelos de formação universitária
adotados por nossas instituições de educação superior já se encontram
totalmente superados. Quando o prazo de consolidação do Processo de
Bolonha for alcançado (anotem: a data e 2010), o Brasil corre serio risco de
ser um dos últimos países, com grau razoável de desenvolvimento cientifica
tecnológico e industrial a possuir uma arquitetura curricular com padrões e
modelos estabelecidos na Europa, não de agora, não do século passado, mas
de um momento anterior aos anos 10 do século XIX. Isto e, antes da
Universidade de Pesquisa de Humboldt. (LIMA ROCHA, 2006, p.4).
Esclarece-se que a concepção pedagógica de Wilhelm Von Humboldt foi
decisiva ao surgimento da universidade moderna, no inicio do século XIX, resultando no fim
da universidade clássica.
No Brasil, em 2001, no fim do mandato de Fernando Henrique Cardoso com a
Lei n° 10.172/2001 foi instituído o Plano Nacional de Educação, e assim lançado o desafio de
expansão e transformações na educação superior pública.
Em 24 de abril de 2007 o Presidente da República apresenta o PDE – Plano
Nacional de Educação que trouxe como uma de suas propostas o REUNI - Programa de
Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais, instituído pelo
Decreto n° 6.096 de 24 de abril de 2007.
O REUNI apresenta as seguintes dimensões: ampliação da oferta de educação
superior publica; reestruturação acadêmico-curricular; renovação pedagógica da educação
superior; mobilidade intra e interinstitucional; compromisso social da instituição e suporte da
pós-graduação ao desenvolvimento e aperfeiçoamento qualitativo dos cursos de graduação.
Enquanto meta global este programa tem a pretensão de alcançar, de forma
gradual, ao final de cinco anos, a contar do inicio de cada plano, por um lado, uma taxa de
conclusão media de noventa por cento nos cursos de graduação presenciais.
Por outro lado, e estabelecida à meta de ampliar a relação de alunos de
graduação em cursos presenciais por professor para dezoito. Prevë-se também a garantia da
qualidade da graduação da educação publica, conforme mencionado nas diretrizes gerais do
REUNI:
A qualidade almejada para este nível de ensino tende a se concretizar a partir
da adesão dessas instituições ao programa e as suas diretrizes, com o
conseqüente redesenho curricular dos seus cursos, valorizando a flexibilização
e a interdisciplinaridade, diversificando as modalidades de graduação e
articulando-a com a pós-graduação (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2007
p.5).
O termo adesão explícito neste documento traz em si a participação voluntaria
e autonomia permitida enquanto opção a cada universidade na participação do programa e
nesse teor assim que foi lançado o REUNI, iniciou-se uma discussão nas Instituições Federais
de Ensino Superior acerca do Projeto de Decreto do MEC, sendo que no texto destinado a
apresentação do REUNI, foi mencionado que:
Não obstante sua oportunidade e pertinência, a expansão do sistema público
federal de educação superior deve estar associada a reestruturações
acadêmicas e curriculares que proporcionem maior mobilidade estudantil,
trajetórias de formação flexíveis, redução de taxas de evasão, utilização
adequada dos recursos humanos e materiais colocados a disposição das
universidades federais. Mais do que uma iniciativa de governo, este
movimento alinha-se as propostas dos dirigentes das universidades federais,
no sentido de consolidar e aperfeiçoar o sistema de educação superior, com
destaque para revisão de currículos e projetos acadêmicos visando flexibilizar
e melhorar a qualidade da educação superior, bem como proporcionar aos
estudantes formação multi e interdisciplinares, humanista e o desenvolvimento
do espírito critico". (MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO, 2007, p. 9)
Nesta perspectiva, o REUNI apresenta enquanto idéia Central a implementação
da Universidade Nova, ao prever uma revisão da atual estrutura acadêmica das universidades
e desta forma pressupõe-se a criação do bacharelado interdisciplinar, que se configura em
uma forma obrigatória de acesso a educação universitária. Tal bacharelado consiste na escolha
pelo aluno de uma das três grandes áreas: Artes, Humanidades, Ciências e tecnologia.
Mas, as instituições de ensino superior que se mostraram favoráveis foram
conforme Fischer (2007, p.4)
"o Projeto Universidade Nova, formulado pelo reitor da Universidade Federal
da Bahia (UFBA) e por outras universidades entre elas a Universidade de
Brasília (UNB), a Federal do Rio de Janeiro, a Federal do Rio Grande do Sul,
a Federal do Maranhão e a Federal do Ceara. E muito próximo do projeto
inicial da UNB, formulado pelo grande educador Anísio Teixeira e por Darcy
Ribeiro, que acabou não sendo aplicado por conta do Regime Militar".
(FISCHER, 2007, p. 4)
No Brasil, o magnífico reitor: Naomar de Almeida Filho da Universidade
Federal da Bahia, convicto defensor e seguidor de Anísio Teixeira, formulou o projeto de
Universidade Nova, atendendo a um dos itens presentes da pauta da greve estudantil de 2004.
Entretanto, em 2007, valendo-se das diretrizes do REUNI conclamou os outros reitores a
discutirem conjuntamente as possibilidades de implantação, conforme o texto abaixo:
A Universidade Federal da Bahia encontra-se em um momento privilegiado,
tanto em termos de conjuntura externa quanto de conjuntura interna, para
consolidar, ampliar e aprofundar um processo de transformação já em curso,
viabilizando aqui na UFBA, a Universidade Nova. Esperamos, dessa forma,
contar com a colaboração de todos para o desafiante processo de profunda
revisão da estrutura, função e compromisso social da Universidade Federal da
Bahia, imprescindível para construir o nosso futuro enquanto instituição. do
projeto e a citação anterior mostra a necessidade em se discutir de forma
aprofundada os caminhos desta trajetória por ser um viés ideológico que
divide opiniões e concepções mesmo no campo universitário, enfatizada pela
adesão e conclamação de outras universidades a adesão ao projeto, o que fica
claro por meio do texto abaixo (UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA,
2007, p. 4)
Com esta conclamação, diferentes opiniões vieram contribuir com o debate do
projeto no ano de 2007, e a citação anterior mostra a necessidade em se discutir de forma
aprofundada os caminhos desta trajetória por ser um viés ideológico que divide opiniões e
concepções mesmo no campo universitário, enfatizada pela adesão e conclamação de outras
universidades a adesão ao projeto.
2. ARGUMENTOS
FAVORÁVEIS
UNIVERSIDADE NOVA
A
IMPLANTAÇÃO
DA
Um dos argumentos da UFBA – Universidade Federal da Bahia é de que a
globalização com suas profundas transformações traz ameaças de propostas mercantilizadoras
transnacionais e para o enfrentamento destas adversidades
devemos avaliar com realismo critico as possibilidades de nossas instituições
educacionais, a fim de reforçar nossa capacidade de enfrentar os
imperialismos atuais com estratégias viáveis de sucesso, que não sejam
somente bandeiras da mera resistência ideológica e política, indefesas frente
ao poderio mercantil das novas economias. (UNIVERSIDADE DA BAHIA,
2007 p.3)
Esta afirmação contempla também o pressuposto de Ribeiro (2003) ao enfatizar
que as instituições de educação superior assumem um papel fundamental para a humanidade
enquanto detentoras da capacidade de transformação e em permitir respostas aos desafios das
sociedades em mutação que exige saberes cada vez mais complexos.
Destaca-se desta forma a busca do desenvolvimento do conhecimento para uma
melhor compreensão e intervenção ao invés de tão somente se submeter passivamente aos
novos ditames impostos pela desenfreada massificação de diferentes dimensões como, por
exemplo, de mercado, tecnológicos e culturais. Nessa perspectiva, Marilena Chaui (2001)
enfatiza o modelo de universidade brasileira herdado de uma postura colonizada.
Enfim, dentre os argumentos favoráveis a implantação de ao menos algumas
opções da Universidade Nova presentes no REUNI, são citados abaixo algumas opiniões
expressadas durante o ano de 2007, conforme consta no sitio da UFBA:
“O Ensino Superior Brasileiro atual é a expressão mais clara de uma sociedade
que se fundamenta na desigualdade. Ele é o principal instrumento de
reprodução da exclusão"” - Aloísio Teixeira (Reitor da UFRJ) .
“Acho que é uma discussão pra mexer com a gente, pra fazer a gente pensar,
pra tirar a gente da inércia desse pacotinho que é disciplina, departamento etc.
esse é o grande mérito da proposta e acho que a gente tem que incentivar a
discussão a partir disso” - Lúcio Botelho (Reitor da UFSC) .
“Essa será uma mudança inovadora, pois se discute a partir do foco da área
acadêmica e da estrutura curricular. Essa é a discussão acadêmica que
queremos” - José Carlos Ferraz Hennemanna (Reitor da UFRGS) .
“Se um garoto de que faz medicina em uma federal descobre que não quer
prosseguir no curso porque gosta de filosofia, ele terá que sair da universidade
e prestar um novo vestibular para essa outra carreira. Não conseguirá mudar
dentro da instituição. Ou seja, não temos sequer mobilidade dentro das
próprias instituições. Imagine então entre universidades” - Hermano Tavares
(Reitor da UFABC) .
“Estamos formando profissionais tão especializados que quando eles chegam
ao mercado o conhecimento já está obsoleto. É um custo muito elevado para a
sociedade. A diferenciação, entre as carreiras tem que vir na pós-graduação. É
uma grande falha nossa querer formar, na graduação, um profissional tão
especializado quanto um pós-graduado” - Timothy Mulholland (Reitor da
UnB) .
“Anísio Teixeira dizia que não se faz reforma sem a mudança do saber que a
universidade vai transmitir. Esta opinião ainda permanece atual” - Aloísio
Teixeira (Reitor da UFRJ) .
“Hoje o vestibular promove exclusão social e tem um efeito terrível sobre o
ensino Médio, pois muitas escolas concentram os estudos em preparar os
alunos para o exame. (...) É preciso implantar uma nova filosofia, que leve em
conta o perfil do estudante que se pretende contar nas nossas universidades” Leandro Tessler (Coordenador da Comissão Permanente para os
Vestibulares da Unicamp).
“Há poucos empregos claramente associados com a formação tradicional das
universidades. Mas existe uma demanda imensa por profissionais qualificados.
O profissional precisa se formar com competência para trabalhar em diferentes
áreas” - Manuel Palácios (Secretário de Educação Superior do MEC).
“Apesar de todas dificuldades, é impossível não ver vantagens nessa proposta
da Universidade Nova, na qual se combina a formação técnica com ampliação
do repertório cultural do universitário. E, assim, ajuda-o a se reciclar pelo
resto da vida, que é o que importa. A discussão é relevante porque, em todo o
mundo, dentro e fora das universidades, são desenvolvidos mecanismos para
descobrir, nutrir e atrair talentos. Está em jogo, afinal, a capacidade de uma
nação se manter inovadora e competitiva.” - Gilberto Dimenstein .
“Na linha da defesa de uma profunda reforma no ensino superior como a
anunciada no projeto “Universidade Nova”, está um argumento que apresentei
no Café Científico. O Bacharelado Interdisciplinar, ao aumentar
significativamente o número de concluintes do terceiro ciclo, fazendo o Brasil
sair da vergonhosa marca de 10 % de estudantes no ensino superior para o
conjunto da população em idade escolar, estará ampliando as possibilidades do
país se tornar competitivo, gerando imperfeições e assimetrias no comércio
exterior, não em commodities, mas sim em bens resultantes de inovações
incrementais e revolucionárias. Além disso, proporcionará uma interferência
expressiva naquilo que se denomina competitividade sistêmica, que resulta de
uma presença maior de graduados em todas as cadeias produtivas e sistemas
de logística. É esta crença que me faz ser, sine conditio, defensor da idéia”. Amílcar Baiardi (Professor Titular da UFRB.
Dentre estas opiniões percebe-se que os principais defensores dos preceitos da
Universidade Nova, focam suas discussões em torno da necessidade de transformação na
conjuntura do Ensino Superior, para que sejam superados problemas de acesso e de
mobilidade ao ensino superior, para que o ensino não seja fragmentado e especializado,
adotando desta forma a interdisciplinaridade. Também são afirmadas questões ligadas aos
processos de escolhas prematuras de carreiras e as possibilidades em tornar a nação mais
competitiva e inovadora.
3. ARGUMENTOS
CONTRÁRIOS
UNIVERSIDADE NOVA
A
IMPLANTAÇÃO
DA
Dentre os indivíduos contrários a Universidade Nova, se encontrava o
Sindicato Nacional dos docentes das instituições de Ensino Superior – ANDES, que
conclamou a partir de discussões, assembléias e informativos a comunidade acadêmica, pois
se referiram ao projeto como sendo de extrema gravidade, devido aos seguintes aspectos:
O artigo 1° do decreto estabelece a criação de condições para a ampliação do
acesso a educação superior, por meio do melhor aproveitamento da estrutura física e de
recursos humanos existentes nas universidades federais e estabelece enquanto meta global a
elevação da taxa de conclusão media em cursos presenciais para 90 por cento e aumenta a
relação estudante/professor para 18/1 ao final de 10 anos.
Entretanto, conforme a Andes estas propostas não prevêem contratação adicional
de professores, pois partem do pressuposto de que existe ociosidade por parte dos professores,
isto porque não são consideradas as atividades desenvolvidas de pesquisa, extensão e pósgraduação. Nesta perspectiva, prezam pela quantidade ao invés da qualidade e manutenção do
tripé (ensino, pesquisa e extensão), bem como se corre o risco do projeto resultar em uma
política de ``aprovação automática sem critérios de qualidade por parte dos discentes, isto tão
somente para serem alcançadas taxas medias de conclusão do ensino superior.
Outra crítica se refere ao Bacharelado Interdisciplinar, pelo qual segundo a
ANDES (2007, p.1) como este bacharelado é realizado em três anos, “no decorrer dessa fase,
no entanto, instalar-se-ia uma grande competição para selecionar a minoria de estudantes que,
na sequência teriam acesso aos cursos profissionalizantes” e assim acabaria por aumentar o
número de excluídos do sistema educacional no ensino superior e no mercado de trabalho.
Quanto ao item financiamento, o Andes (2007, p.1 ) relata que
não há recursos novos disponíveis e sim uma proposta de simples
redistribuição dos recursos existentes no Orçamento do MEC. Ao relacionar
esses artigos com as disposições previstas no Programa de Aceleração do
Crescimento – PAC, que limitam gastos com contratação e reajuste de
servidores públicos, conclui-se de fato, não haverá provisão de novos recursos
para atender aos objetivos propostos. (ANDES, 2007, p. 1).
Isto ao se considerar as altas metas de expansão e o condicionamento da
liberação de verbas adicionais ao cumprimento das metas do projeto Universidade Nova
capaz de ocasionar baixa qualidade no ensino e precarização do trabalho docente, o que se
torna também fruto de indignações presentes em outros artigos publicados (LIMA,
AZEVEDO, CATANI, 2008; PEIXOTO, 2007; RIBEIRO, 2007; TONEGUTTI,
MARTINEZ, 2007; LEDA, 2007)
4. ASPECTOS METODOLÓGICOS
Este estudo se caracteriza como qualitativo, quanto à forma de abordagem, pois
por meio deste buscou-se uma análise de cunho subjetivista, optando desta forma por uma
dimensão mais interpretativa e compreensiva da realidade, conforme enfatiza Paton, 1986.
Este estudo se caracteriza também como descritivo, pois é um estudo que por
um lado busca mensurar características de eventos, conforme esclarece Hair et. al. 2005. Por
outro lado, Lakatos et. al, 1985 enfatizam que em um estudo descritivo, o processo e seu
significado são os focos principais de abordagem. Nesta perspectiva, somente poderá ser
possível descrever as características dos eventos representados pelas práticas administrativas a
partir de uma revisão bibliográfica que consiste em pesquisar na literatura, o estado da arte e
as contribuições oriundas de estudos anteriores.
Quanto à estratégia de pesquisa a ser utilizada, conforme orientação de Yin
(2005) pode-se optar por: experimento, levantamento, pesquisa histórica, documental ou
estudo de caso. Esclarece-se que este estudo se caracteriza como um levantamento e inserido
nesta abordagem os dados serão alcançados a partir de levantamento bibliográfico em bases
de dados de pesquisa e em sítios de algumas instituições.
Assim, estabelecidas as opções metodológicas consideradas como capazes e
mais adequadas a alcançar o objetivo proposto, este estudo focará em seguida aos resultados
alcançados com a investigação.
5. RESULTADOS ENCONTRADOS
Partindo do reconhecimento de que o termo Universidade Nova propiciou um
amplo debate que ocasionou um dilema entre diferentes pesquisadores durante o ano de 2007,
bem como foi estabelecido um prazo para que as instituições aderissem de forma voluntária,
ao decreto, pretende, por um lado averiguar passados três anos de sua fervorosa discussão,
para se verificar por meio de levantamento bibliográfico em algumas bases de dados acerca da
quantidade de trabalhos divulgados durante o ano de 2010 e em seguida, acessar os sítios das
Universidades que optaram pela adesão à Universidade Nova em 2007, com o intuito de
averiguar se as mesmas continuam no processo.
Por se tratar de uma investigação em nível nacional, optou-se por realizar o
levantamento bibliográfico nas seguintes bases de dados: Scielo, CAPES - Domínio Público,
Google, Capes – Teses e Dissertações, bem como o sítio da livraria cultura, para verificar a
existência de algum livro publicado.
Esclarece-se que a pesquisa foi realizada durante a primeira semana do mês de
Janeiro de 2011. O descritor utilizado foi em um primeiro momento: Universidade Nova,
filtrado tão somente durante o último ano.
Entretanto, em termos de freqüência não foi alcançado nenhuma publicação no
período estudado e em nenhuma das bases de dados consultadas, restando a dúvida se um
tema tão em voga durante o ano de 2007 havia se esgotado
Em seguida, decidiu-se por utilizar o descritor: Bacharelado Interdisciplinar,
pelo qual foram encontrados resultados significativos no Google no total de 19.600, mesmo
inserindo o termo entre aspas, o que restringe a pesquisa. Percebeu-se ainda que muitas das
ocorrências eram devido à divulgação pelas instituições de suas práticas e convocações para o
vestibular.
Decidiu-se ainda, restringir a pesquisa somente para trabalhos em acrobat - pdf,
o que permitiu 154 resultados encontrados.
Quanto às outras bases previstas anteriormente, esclarece-se que nenhum
resultado foi encontrado em específico. E, também não foi encontrado nenhum livro
publicado neste período.
Nesse contexto, permaneceu a dúvida, se aquelas instituições presentes na
citação de Fischer (2007) haviam implantado os bacharelados interdisciplinares em suas
grades curriculares. Nesta perspectiva, foram acessados os sítios das universidades: UFBA,
UNB, UFRJ, UFRGS, UFM e UFC, nos quais foi possível constatar que nas descrições de
seus cursos de graduação tão somente a UFBA, continua ou mesmo implantou de forma
sistemática o bacharelado interdisciplinares, entretanto com opções também para os cursos de
licenciatura e bacharelados tradicionais.
É importante, ressaltar ainda que na UFBA, os bacharelados interdisciplinares
estão estruturados no seguinte teor: com os seguintes bacharelados interdisciplinares: Artes,
Artes – Noturno, Ciência e Tecnologia, Humanidades, Humanidades – Noturno, Saúde, Saúde
– Noturno, Ciência e Tecnologia – Noturno.
Foi criado ainda em 22 de outubro de 2008 o IHAC, uma sigla usada para
nomear o Instituto de Humanidades, Artes e Ciências Professor Milton Santos que acolhe os
Bacharelados Interdisciplinares, além de programas de pós-graduação e centros de pesquisa e
extensão de configuração multi, inter e transdisciplinar.
É importante ressaltar que em seu sítio consta que “Os BIs foram criados em
função de uma série de fatores mais amplos, como a “crise” do modelo disciplinar, e
específicos, como a adesão da UFBA ao [...] Reuni do governo federal”.
A partir daí, como no Google haviam sido apresentados 154 resultados em
acrobat – pdf decidiu-se por não encerrar a pesquisa e sim verificar nestes acessos os nomes,
bem como se realmente se configuravam em bacharelados interdisciplinares.
Nesta etapa da pesquisa, por um lado, foi encontrado um dado estatístico
interessante, embora não tenha sido publicado em um artigo de cunho cientifico:
Mais de 12 mil estudantes de universidades federais brasileiras cursam
atualmente bacharelados interdisciplinares. Apesar de o número ainda
responder por apenas 2% do total de matrículas no segmento, a nova
modalidade de graduação foi a mais procurada na primeira edição do
vestibular via Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e é uma das
principais ferramentas do Ministério da Educação (MEC) para modernizar o
sistema curricular das instituições de ensino superior de sua alçada.
(MAXIMO, p. 15)
Por outro lado, foram constatadas práticas de BIs nas seguintes instituições que
ofereceram cursos durante o ano de 2010 e continuar-se-ão a oferecer BIs no ano de 2011:
Universidade Federal do ABC, UFVJM, UFOPA, UFJF, UFRB, UFRN, UNIFAL-MG,
permitindo assim o resultado atual de oito instituições no país a oferecer o BIs.
Durante este estudo também foi encontrado um documento desenvolvido pelo
governo federal intitulado: Referenciais orientadores para os Bacharelados Interdisciplinares e
similares, que foi elaborado pelo Grupo de Trabalho, constituído por diferentes instituições de
ensino e instituído pela Portaria SESu/MEC nº 383, de 12 de abril de 2010, a qual contou
com a participação e sugestões de representantes de outras Universidades Federais que ainda
não implantaram o Bacharelado Interdisciplinar, são elas: UFRJ, UNILAB, UNIPAMPA,
UFFS, UFERSA e UFMA, o que sugere que as discussões continuam, com a possibilidade de
atrair novos adeptos.
Foi importante perceber a presença na formulação deste documento de Naomar
de Almeida Filho, o reitor da UFBA, mencionado anteriormente e que atualmente se encontra
aposentado, mas que pelo visto continua oferecendo contribuições a Universidade Nova,
termo que participou ativamente de sua construção e divulgação.
Resolveu-se a partir daí enviar um e-mail para: [email protected], o qual foi
especialmente criado para criticas, sugestões e adesões ao ditames da Universidade Nova.
Entretanto, o e-mail foi devolvido por duas vezes, acusando endereço de e-mail invalido,
assim confirmava-se que o mesmo o e-mail havia sido desativado.
Percebeu-se assim, que passados trës anos desde a implantacao do REUNI que
tem como ideia central a implantacao da “Universidade Nova” surgiram algumas
modificacoes tais como:
O termo “Universidade Nova” durante o ultimo ano nao foi encontrado enquanto
descritor nas bases de dados, levando a crer que nao houveram publicacoes acerca desta
tematica, entretanto ao refinar o termo para “Bacharelado Interdisciplinar” que se configura
na principal modificacao proposta pela Universidade Nova, percebeu-se a prevalencia de
publicacoes nao cientificas no Google referente a instituicoes que implantaram esta prática.
Isto leva a crer, por um lado, que esta prática está inserida no interior das
instituições, o que ficou comprovado ao ser alcancado o total de oito institutições de ensino
superior que implantaram o bacharelado interdisciplinar em conjunto com os tradicionais
bacharelados e licenciaturas.
Por outro lado, a ausência de publicações científicas sobre tais bacharelados
pode ser explicada devido ao curto espaço de tempo (três anos e em outros casos, um ano)
desde sua implantação. Pode ser que por estarem sendo pesquisados em nível de pósgraduação, em breve surjam resultados de pesquisa publicados capazes de mostrar avanços ou
retrocessos adquiridos neste processo, considerando que a primeira turma de um curso de BI
será concluída no ano de 2011, na UFBA.
De concreto, pode-se afirmar que os posicionamentos contrários a
Universidade Nova foram silenciados e que embora de forma lenta, os bacharelados tem
alcançado novos adeptos a idéia e caso sejam mostrados resultados satisfatórios adquiridos
pela primeira turma a se formar em 2011, termos de qualidade do ensino, continuidade dos
estudos e aceitação no mercado de trabalho, novas perspectivas surgir-se-ão.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Como toda investigação que busca definir elementos em sua totalidade, no
tempo e no espaço é percebido que, por mais coerente que seja, sofre modificações
provenientes de seu processo evolutivo, e sendo assim, diferentes dimensões estão sempre em
construção.
Como ocorreu com o termo “Universidade Nova” que cedeu lugar ao descritor
Bacharelado Interdisciplinar (BIs) que se configura em um dos pontos centrais da
Universidade Nova.
Considera-se que o objetivo geral deste estudo foi contemplado por terem sido
alcançadas informações importantes acerca das oito atuais instituições de ensino superior que
implantaram e mantém em suas grades curriculares os Bacharelados Interdisciplinares.
Percebe-se assim que diferentemente da tentativa em se implantar as
orientacoes de Anisio Teixeira e Darcy Ribeiro na epoca do regime militar, desta vez foi
obtido um certo avanco representado pelas instituicoes que aceitaram o desafio apesar da
polemica gerada.
A pesquisa é uma atividade científica pela qual descobrimos a realidade
(DEMO, 1995) e espera-se contribuir com este levantamento acerca da necessidade de que
novas investigacoes, perante a inexistëncia durante o último ano de estudos cientificos,
capazes de expandir ou até retroceder o processo, caso não seja alcançados o desafio triplo da
universidade, conforme enfatiza Melo (2010) de qualidade do ensino, universalização do
acesso e relevancia social.
Referencias
BRASIL, 2001. Lei n° 10.172, de 09 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de
Educação e da outras providencias. Presidência da Republica. Brasília, DF: Diário Oficial da
União de 10.01.2001.
BRASIL, 2007. Decreto n° 6.096, de 24 de abril de 2007. Institui o Programa de Apoio a
Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – REUNI. Presidência da
Republica. Brasília, DF: Diário Oficial da União de 25.04.2007.
CHAUI, Marilena. Escritos sobre a Universidade. São Paulo: Editora Unesp, 2001.
FISCHER, T. M. D. Seremos todos gestores. HSM Management www.hsmmagement.com.
Acesso em 15 de janeiro de 2011.
LIMA ROCHA, João Augusto de; ALMEIDA FILHO, Naomar. Anísio Teixeira e
Universidade
Nova,
disponível
em
http://www.universidadenova.ufba.br/twiki/bin/view/UniversidadeNova/Conceitos - Acesso
em 28/12/1010.
RIBEIRO, Renato Janine. A universidade e a vida atual. Rio de Janeiro: Campus, 2003.
SALMERON, Roberto. A universidade interrompida (UNB, 1961-65). Brasília: Editora UNB,
1998.
SOUSA SANTOS, Boaventura de. A Universidade no Século XXI: Para uma reforma
democrática e emancipatória da Universidade. São Paulo: Editora Cortez, 2005.
Download

Universidade Nova: três anos depois