LITERATURA
PRÉ-VESTIBULAR
LIVRO DO PROFESSOR
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© 2006-2008 – IESDE Brasil S.A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito dos autores e do
detentor dos direitos autorais.
I229
IESDE Brasil S.A. / Pré-vestibular / IESDE Brasil S.A. —
Curitiba : IESDE Brasil S.A., 2008. [Livro do Professor]
360 p.
ISBN: 978-85-387-0573-4
1. Pré-vestibular. 2. Educação. 3. Estudo e Ensino. I. Título.
CDD 370.71
Disciplinas
Autores
Língua Portuguesa
Literatura
Matemática
Física
Química
Biologia
História
Geografia
Francis Madeira da S. Sales
Márcio F. Santiago Calixto
Rita de Fátima Bezerra
Fábio D’Ávila
Danton Pedro dos Santos
Feres Fares
Haroldo Costa Silva Filho
Jayme Andrade Neto
Renato Caldas Madeira
Rodrigo Piracicaba Costa
Cleber Ribeiro
Marco Antonio Noronha
Vitor M. Saquette
Edson Costa P. da Cruz
Fernanda Barbosa
Fernando Pimentel
Hélio Apostolo
Rogério Fernandes
Jefferson dos Santos da Silva
Marcelo Piccinini
Rafael F. de Menezes
Rogério de Sousa Gonçalves
Vanessa Silva
Duarte A. R. Vieira
Enilson F. Venâncio
Felipe Silveira de Souza
Fernando Mousquer
Produção
Projeto e
Desenvolvimento Pedagógico
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Modernismo
a
2. geração:
poesia
Características
EM_V_LIT_014
Contexto histórico
Antecipada pela quebra da Bolsa de Valores
de Nova York, em 1929, a década de 1930 foi um
período extremamente conturbado. A Revolução de
30 e a subida de Getúlio Vargas ao poder alteraram
a sociedade da época.
As liberdades começaram a ser reduzidas no
Brasil (o que já acontecia em diversos países europeus com os regimes totalitários) e atingiram seu
máximo de impedimento a partir de 1937, com o
Estado Novo, que se estenderia até 1945. A criação
do Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP)
fez com que diversas manifestações artísticas e intelectuais fossem censuradas.
No campo da poesia o que vemos é um período
de afirmações. Afirmação das conquistas dos modernistas de 1922 e da posição do escritor diante da sociedade. Antes de qualquer coisa, poesia é pensar o
mundo, pensar a condição humana na sociedade.
Por meio da poesia, nesse período, procurou-se
entender o mundo.
Autores e obras
Murilo Mendes
Autor desconhecido.
Raros momentos na história da literatura ocidental apresentaram, numa mesma época, tantos mestres da literatura. Murilo Mendes, Cecília Meireles,
Jorge de Lima, Mário Quintana, Carlos Drummond de
Andrade e Vinícius de Moraes compuseram a idade
de ouro da poesia brasileira.
A produção da maioria desses poetas começa
em 1930, e se estende por aproximadamente cinquenta anos, quando Drummond, em 1987, falece. Vamos
estudar um dos momentos mais ricos e interessantes
da literatura brasileira.
Aspecto medular da poesia produzida a partir
de 1930 é a consolidação das conquistas de 1922
obtidas pela vanguarda modernista. Agora o poeta
não necessita mais lutar para obter a liberdade de
criação. Todas as liberdades formais e expressivas já
haviam sido atingidas, com o potencial destruidor da
primeira geração de escritores modernistas.
A geração de 1930, antes de acabar com o já
existente ela quer dizer o novo. A ­desintegração das
velhas formas já fora realizada com sucesso. Pode-se
dizer que a produção poética de 1930 é mais madura,
e, por isso, demonstra-se mais construtiva e politizada. Os poetas ­discutem o “estar-no-mundo”, sua
condição na coletividade.
Quanto à linguagem vemos uma mescla entre
o estilo elevado e o estilo coloquial.
Murilo Monteiro
Mendes nasceu no ano
de 1901, em Juiz de
Fora, Minas Gerais.
Perdeu a mãe aos dois
anos. Quando jovem,
mudou-se para Niterói.
Em 1953 foi viver na
Europa, estabelecendo-se em Roma, onde
dava aulas de Literatura Brasileira. Faleceu
em 1975.
Murilo Mendes.
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1
A obra de Murilo Mendes caracteriza-se por
seguir a linha modernista de 1922. Ao estilo de
Oswald de Andrade, faz poemas irreverentes, bem-humorados, os poemas-piadas. Um dos seus mais
célebres dessa fase é a paródia de Canção do Exílio,
de Gonçalves Dias. Vamos lê-lo.
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de
ametistas.
Os sargentos do exército são monistas,
cubistas,
[os filósofos são polacos vendendo a
prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a
Gioconda.
Eu morro sufocado em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de
verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade.
2
Coincidindo com a morte de seu melhor amigo,
o pintor Ismael Nery, a poesia de Murilo Mendes entra numa fase filosófico-religiosa da qual não mais
sairia. Em colaboração com Jorge de Lima, escreve
a obra Tempo e Eternidade, em que por meio do misticismo busca a “restauração da poesia em Cristo”.
Todavia, a poesia religiosa desse poeta não fez com
que se desligasse da questão social, abordando diversas vezes em seus poemas a questão da guerra.
O cristianismo serviu, dessa forma, como opção
de caminho para a paz, para a justiça social, para o
sentido da existência.
Murilo Mendes é, dos poetas brasileiros, aquele
que mais se aproxima do surrealismo literário. Seu
Poema barroco
Os cavalos da aurora derrubando pianos
Avançam furiosamente pelas portas da
noite.
Dormem na penumbra antigos santos com
os pés feridos,
Dormem relógios e cristais de outro tempo,
esqueletos de atrizes.
O poeta calça nuvens ornadas de cabeças
gregas
E ajoelha-se ante a imagem de Nossa
Senhora das Vitórias
Enquanto os primeiros ruídos de
carrocinhas de leiteiros
Atravessam o céu de açucenas e bronze.
Preciso conhecer os porões da minha
miséria,
Tocar fogo nas ervas que crescem pelo
corpo acima,
Ameaçando tapar meus olhos, meus
ouvidos,
E amordaçar a indefesa e nua castidade.
É então que viro a bela imagem azulvermelha:
Apresentando-me o outro lado coberto de
punhais,
Nossa Senhora das Derrotas, coroada de
goivos,
Aponta seu coração e também pede auxílio.
Jorge de Lima
EM_V_LIT_014
Características e temas
conteúdo metafísico o leva à construção de símbolos e metáforas sofisticadas, que somente um leitor
experiente consegue perceber a grandeza de tais
escritos.
Domínio público.
Suas principais obras são: Poemas (1930); História do Brasil (1932); Tempo e Eternidade (em parceria
com Jorge de Lima, 1935); A Poesia em Pânico (1937);
As Metamorfoses (1944); Poesia Liberdade (1947);
Contemplação de Ouro Preto (1954); Convergência
(1970).
Jorge de Lima.
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Jorge Mateus de Lima nasceu em União dos
Palmares, Alagoas, no ano de 1893. Filho de um
senhor-de-engenho, dividia sua vida entre a cidade e
o campo. Formou-se em Medicina no Rio de Janeiro.
Foi deputado estadual. A partir de 1930 estabeleceuse permanentemente no Rio, onde lecionou Literatura Brasileira na Universidade do Brasil. Morreu
em 1953.
Suas principais obras são: XIV Alexandrinos
(1914); Novos Poemas (1929); Tempo e Eternidade
(em parceria com Murilo Mendes, 1935); A Túnica
Inconsútil (1938); Poemas Negros (1947); Invenção
de Orfeu (1952).
Características e temas
Encontramos três fases distintas na obra de
Jorge de Lima. A primeira, fortemente ligada ao
Parnasianismo e sem grande relevância na sua produção.
A segunda fase de sua obra trata da volta às
origens e do universo afro-brasileiro. A volta às origens está relacionada à cultura popular nordestina,
que ele vivenciou quando habitava o engenho de seu
pai em Alagoas. O universo afro-brasileiro relaciona-se a tematização da cultura negra brasileira, sua
história e seus costumes. A linguagem coloquial
é utilizada. O poema mais conhecido dessa linha é
“Essa Negra Fulô”.
Essa negra Fulô
Ora, se deu que chegou
(isso já faz muito tempo)
no banguê dum meu avô
uma negra bonitinha
chamada negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
EM_V_LIT_014
Ó Fulô! Ó Fulô!
(Era a fala da Sinhá)
— Vai forrar a minha cama,
pentear os meus cabelos,
vem ajudar a tirar
a minha roupa, Fulô!
Essa negra Fulô!
Essa negrinha Fulô
ficou logo pra mucama,
para vigiar a Sinhá
pra engomar pro Sinhô!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô
Ó Fulô! Ó Fulô !
(Era a fala da Sinhá)
vem me ajudar, ó Fulô,
vem abanar o meu corpo
que eu estou suada, Fulô!
vem coçar minha coceira,
vem me catar cafuné,
vem balançar minha rede,
vem me contar uma história,
que eu estou com sono, Fulô!
Essa negra Fulô!
“Era um dia uma princesa
que vivia num castelo
que possuía um vestido
com os peixinhos do mar.
entrou na perna dum pato
saiu na perna dum pinto
o Rei-Sinhô me mandou
que vos contasse mais cinco”.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô? Ó Fulô?
Vai botar para dormir
esses meninos, Fulô!
“Minha mãe me penteou
minha madrasta me enterrou
pelos figos da figueira
que o Sabiá beliscou.”
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Fulô? Ó Fulô?
(Era a fala da Sinhá
chamando a negra Fulô.)
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3
O Sinhô foi ver a negra
levar couro do feitor.
A negra tirou a roupa.
O Sinhô disse: Fulô!
(A vista se escureceu
que nem a negra Fulô.)
A terceira fase da poesia de Jorge de Lima
situa-se na religiosidade. Observa-se a valorização
do mundo do misticismo. Foi nessa fase que realizou
juntamente com Murilo Mendes Tempo e Eternidade.
A obra, símbolo do mundo cristão em sua produção,
encontra-se na hermética obra Invenção de Orfeu,
livro de poesia com metáforas sofisticadas e uma
tal quantidade de referências “extraliteratura” que
exige do leitor um alto nível cultural para poder fluir
plenamente dessa grande obra.
Cecília Meireles
Domínio público.
Cadê meu frasco de cheiro
que teu Sinhô me mandou?
— Ah! foi você que roubou!
Ah! foi você que roubou!
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô
Ó Fulô ? Ó Fulô?
Cadê meu lenço de rendas
cadê meu cinto, meu broche,
cadê meu terço de ouro
que teu Sinhô me mandou?
Ah! foi você que roubou.
Ah! foi você que roubou.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô
O Sinhô foi açoitar
sozinho a negra Fulô.
A negra tirou a saia
e tirou o cabeção,
de dentro dele pulou
nuinha a negra Fulô.
Essa negra Fulô!
Essa negra Fulô!
Ó Fulô? Ó Fulô?
Cadê, cadê teu Sinhô
que nosso Senhor me mandou?
Ah! foi você que roubou,
foi você, negra Fulô?
4
Cecília Benevides de Carvalho Meireles nasceu
na ­cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1901. Muito
cedo ficou órfã de pai e mãe, sendo criada pela avó
materna. Formou-se na Escola Normal do Rio de
Janeiro em 1917, seguindo carreira de professora
primária. Da década de 1930 em diante lecionou em
algumas universidades, dentre elas a Universidade
do Texas (EUA), ministrando a cadeira de Literatura
e Cultura Brasileira. Faleceu em 1964.
Características e temas
Cecília Meireles participou nas primeiras décadas do século XX do grupo neossimbolista Festa.
Devido a isso mantém em sua poesia forte influência
da lírica tradicional. Seus versos são de grande musicalidade e apresentam com certa constância algumas
imagens como o mar, a areia, a lua, a espuma, o vento.
Tais imagens ascendem ao nível do símbolo, fazendo
com que a poesia de Cecília muito mais sugira do que
diga concretamente algo.
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Essa negra Fulô!
Cecília Meireles.
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Motivo
Adriane Baldini.
Canção
Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Pus o meu sonho num navio
e o navio em cima do mar;
– depois, abri o mar com as mãos,
para o meu sonho naufragar
Minhas mãos ainda estão molhadas
do azul das ondas entreabertas,
e a cor que escorre de meus dedos
colore as areias desertas.
O vento vem vindo de longe,
a noite se curva de frio;
debaixo da água vai morrendo
meu sonho, dentro de um navio...
Chorarei quanto for preciso,
para fazer com que o mar cresça,
e o meu navio chegue ao fundo
e o meu sonho desapareça.
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Depois, tudo estará perfeito;
praia lisa, águas ordenadas,
meus olhos secos como pedras
e as minhas duas mãos quebradas.
A linguagem utilizada pela poeta ainda mantém
fortes laços com a poesia tradicional, sendo toda ela
de estilo elevado, uma exceção na geração de 1930.
Traço interessante, relacionado aos aspectos formais
de sua poesia, é a aplicação do verso sincopado.
Aquele verso que faz uma quebra de ritmo na leitura,
por possuir menos sílabas que os demais. Vejamos
um exemplo.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
– não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
– mais nada.
O tema principal de sua obra é o tempo. A consciência de sua transitoriedade, de que o tempo elimina tudo, ilusões, sonhos, faz com que percebamos em
sua poesia uma espécie de niilismo racional, visto
que chega à conclusão do sem sentido da existência
a partir da brevidade e da vaguidade dessa. Consequência natural disso é uma visão melancólica da
vida, um sentimento de ausência e solidão.
Retrato
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
– Em que espelho ficou perdida
A minha face?
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5
Através de grossas portas,
sentem-se luzes acesas,
– e há indagações minuciosas
dentro das casas fronteiras.
“Que estão fazendo, tão tarde?
Que escrevem, conversam, pensam?
Mostram livros proibidos?
Leem notícias nas Gazetas?
Terão recebido cartas
de potências estrangeiras?”
(Antiguidades de Nimes
em Vila Rica suspensas!
Cavalo de La Fayette
saltando vastas fronteiras!
Ó vitórias, festas, flores
das lutas da Independência!
Liberdade – essa palavra,
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda!)
6
Mario Quintana
Mario Quintana nasceu em Alegrete, Rio Grande
do Sul, no ano de 1906. Quando jovem, foi estudar
no Colégio Militar de Porto Alegre. Abandonou os
estudos em 1924, retornando brevemente à cidade
natal. Logo após, fixou-se definitivamente na capital gaúcha, levando uma vida boêmia. Trabalhou
em jornais e na Editora Globo, da família Bertaso,
traduzindo obras de Marcel Proust, Aldous Huxley,
Conrad, Maupassant e Paul Verlaine. Mesmo consagrado nacionalmente e muito homenageado, morreu
em péssimas condições financeiras em 1994.
Suas principais obras são: Rua dos Cataventos (1940); Canções (1946); Sapato Florido (1948); O
Aprendiz de Feiticeiro (1950); Espelho Mágico (1951);
Poesias (1962); Do Caderno H (1973); Apontamentos
de História Sobrenatural (1976); A Vaca e o Hipogrifo
(1977); Esconderijos do Tempo (1980); Baú de Espantos (1986); Velório sem Defunto (1990).
Mario Quintana.
Características e temas
Vários críticos classificam a poesia de Mário
Quintana como poesia crepuscular, de heranças
simbolistas. Seus versos revelam uma forte amargura e uma melancolia da existência, das pessoas,
das coisas, de tudo.
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EM_V_LIT_014
Umas das obras mais importantes e belas da
literatura brasileira, O Romanceiro da Inconfidência
é construído a partir de um modelo propositalmente
arcaico de poesia. Um romanceiro é um conjunto de
romances (não confundir com a manifestação em
prosa a que estamos acostumados), que são unidades
poéticas as quais possuem independência temática
e simultaneamente estabelecem relação com os demais romances da obra.
O Romanceiro da Inconfidência possui 85 romances que contam, de forma lírica e dramática,
os episódios da Inconfidência Mineira. Por se tratar
de um fato histórico antigo é que a autora utilizou-se de uma forma poética antiga. Possui versos em
redondilha maior.
Pode-se dizer que O Romanceiro da Inconfidência é uma obra de caráter nacionalista a qual exalta
a liberdade, a independência e os brasileiros que se
opuseram ao domínio da coroa portuguesa.
A formação da consciência de um povo revela-se de forma magistral nesses versos de Cecília
Meireles.
Vamos ler um trecho do “Romance XXIV” ou da
“Bandeira da Liberdade”.
E a vizinhança não dorme:
murmura, imagina, inventa.
Não fica bandeira escrita,
mas fica escrita a sentença.
Autor desconhecido.
O Romanceiro da Inconfidência
(1953)
Permeada quase que constantemente pelo assunto da morte, a obra desse autor mistura a vida real
do cotidiano, do banal, do prosaico com um universo
onírico, um mundo de fantasias. No poema “O Mapa”
o autor recria Porto Alegre.
O mapa
Olho o mapa da cidade
Como quem examinasse
A anatomia de um corpo...
(É nem que fosse meu corpo!)
Sinto uma dor esquisita
Das ruas de Porto Alegre
Onde jamais passarei...
Há tanta esquina infinita
Tanta nuança de paredes
Há tanta moça bonita
Nas ruas que não andei
(E há uma rua encantada
Que nem em sonhos sonhei...)
Quando eu for, um dia desses,
Poeira ou folha levada
No vento da madrugada,
Serei um pouco do nada
Invisível, delicioso
Que faz com que o teu ar
Pareça mais um olhar
Suave mistério amoroso
Cidade de meu andar
(Deste já tão longo andar!)
E talvez de meu repouso...
Semelhante a Manuel Bandeira, seu estilo é de
extrema simplicidade. Quanto à linguagem vemos
a mistura da lírica tradicional com a simplicidade
linguística.
Vamos ler agora dois de seus poemas.
EM_V_LIT_014
A carta
Hoje encontrei dentro de um livro uma velha
carta amarelecida.
Rasguei-a sem procurar ao menos saber de
quem seria...
Eu tenho um medo horrível
A essas marés montantes do passado,
Com suas quilhas afundadas, com
Meus sucessivos cadáveres amarrados aos
mastros e gáveas...
Ai de mim,
Ai de ti, ó velho mar profundo,
Eu venho sempre à tona de todos os
naufrágios!
Da primeira vez em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram,
Foram levando qualquer coisa minha...
(Primeiro quarteto do “Soneto XVII”)
Os Quintanares
Os Quintanares – nomenclatura criada por
Manuel Bandeira – são poemas em prosa. Chamados
também de epigramas, esse tipo de poesia escrita por
Mário Quintana apresenta como traço de destaque o
humor através da ironia sutil. Vamos ler alguns.
O pior
O pior dos problemas da gente é que ninguém
tem nada com isso.
Evolução
O que me impressiona, à vista de um macaco, não
é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser nosso futuro.
A arte de ler
O leitor que mais admiro é aquele que não chegou
até a presente linha. Neste momento já interrompeu
a leitura e está continuando a viagem por conta
própria.
A voz
Ser poeta não é dizer grandes coisas, mas ter uma
voz reconhecível dentre todas as outras.
Biografia
Era um grande nome — ora que dúvida! Uma
verdadeira glória. Um dia adoeceu, morreu, virou rua...
E continuaram a pisar em cima dele.
Cartaz para uma feira do livro
Os verdadeiros analfabetos são os que aprenderam a ler e não leem.
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7
Dos leitores
Há leitores que acham bom o que a gente escreve.
Há outros que sempre acham que poderia ser melhor.
Mas, na verdade, até hoje não pude saber qual das
duas espécies irrita mais.
A arte de fumar
Desconfia dos que não fumam: esses não têm
vida interior, não têm sentimentos... O cigarro é uma
maneira disfarçada de suspirar...
Tempo
Coisa que acaba de deixar a querida leitora um
pouco mais velha ao chegar ao fim desta linha.
Para encerrar, um de seus mais conhecidos
poemas.
Poeminha do contra
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
Características
Utilizando-se de uma linguagem que mescla o
estilo elevado e o estilo coloquial, a obra de Carlos
Drummond de Andrade caracteriza-se fundamentalmente pela ideia do gauche (literalmente esquerda,
em francês, porém, em Drummond, é utilizado com
o sentido de errado, torto, anormal). O poeta não se
sente integrado no mundo, e essa diferença é que
faz sua poesia.
Poema de sete faces
Carlos Drummond de Andrade.
Carlos Drummond de Andrade nasceu em Itabira, Minas Gerais, no ano de 1902. Filho de uma família
tradicional de fazendeiros, matriculou-se no Colégio
Anchieta, em Nova Friburgo, do qual foi expulso. Formou-se em Farmácia, profissão que nunca exerceu.
Trabalhou em jornais e no Ministério da Educação.
Em 1987, sua filha, a pessoa que o poeta mais amava,
morre vitimada por um câncer. Doze dias depois, com
complicações cardíacas, Drummond falece.
Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.
As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.
O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta
meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.
O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do -bigode,
Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.
Mundo mundo vasto mundo,
se eu me chamasse Raimundo
seria uma rima, não seria uma solução.
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EM_V_LIT_014
Domínio público.
Carlos Drummond de Andrade
8
Suas principais obras são: Alguma Poesia (1930);
Brejo das Almas (1934); Sentimento do Mundo (1940);
José (1942); A Rosa do Povo (1945); Claro Enigma
(1951); Fazendeiro do Ar (1954); Lição das Coisas
(1962); Boitempo (1968); As Impurezas do Branco
(1973); Discurso de Primavera e Algumas Sombras
(1977); Corpo (1984); Amar se Aprende Amando
(1985); O Amor Natural (1992); Farewell (1996).
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.
Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.
O que motiva também tal ideia é a sensação de
perda que alguns de seus poemas passam, perda das
ilusões, em consequência da corrosão dos valores humanos. A desesperança surge da incompatibilidade
entre o que se diz, o que se sonha e o que realmente
acontece nas relações ­humanas. Dessa forma, o poeta
apela para o humanismo como tentativa de se amenizar as ideias do gauche, da perda e da corrosão.
Todavia os poemas de Drummond são tratados
com um humor sutil. Num primeiro momento, temos
como reação uma risada no canto da boca, logo após
percebemos a crítica e entramos onde o poeta queria:
na reflexão existencial que ele trata. É a sua forma
de discutir o “estar-no-mundo”.
No meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do
caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Vimos que a pedra é a metáfora das dificuldades
da vida. A repetição constante revela que sempre há
uma pedra no meio do caminho da nossa vida. Os
problemas existem, passam, e surgem outros.
EM_V_LIT_014
Temas
Um dos temas mais constantes na obra drummondiana é a poesia sobre o passado, em que o poeta
busca em seu passado familiar a explicação para o
presente. Nesse tema vemos muitas vezes a figura
de seu pai, chefe da família Drummond.
O amor também é abordado em sua poesia.
Percebemos uma busca de completude devido a
uma carência afetiva. O amor não acontece entre os
indivíduos devido ao desencontro.
Esse desencontro leva a mais um tema, muito
desenvolvido na obra de Drummond, que é a solidão,
a incomunicabilidade disfarçada que existe entre os
seres humanos.
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que
amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa
para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou
para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J.
Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.
Vimos que os três temas citados anteriormente
estão relacionado à poesia de cunho individualista
do poeta. Contudo, há um tema, presente principalmente na obra A Rosa do Povo (sua obra de exceção
temática, de 1945) em que se nega toda e qualquer
forma de individualismo. A fraternidade e o engajamento são as pedras fundamentais desses poemas. É importante notarmos que tal obra foi escrita
durante um período ditatorial no Brasil e durante
a Segunda Guerra Mundial. Carlos Drummond de
Andrade, como humanista que era, não se absteve
de fazer o que podia para tentar mudar, pelo menos,
a mentalidade das pessoas. A poesia era sua arma
de combate.
Mãos dadas
Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus
companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes
esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos
afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos
dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma
história.
Não direi suspiros ao anoitecer, a
paisagem vista na janela.
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9
Enfim, toda a obra de Drummond é uma interrogação sobre a existência, busca de respostas para
a vida, a procura de um sentido em um mundo em
que os valores, os quais são a base da realidade,
foram perdidos.
José
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou
e agora, José?
E agora, José?
sua doce palavra,
seu instante de febre,
10
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio - e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
Você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
A única solução é amar.
Amar
Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar?
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
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EM_V_LIT_014
Não distribuirei entorpecentes ou cartas de
suicida.
Não fugirei para ilhas nem serei raptado por
serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo
presente, os [homens presentes,
a vida presente.
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples
ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de [rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura
medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor, e na
secura nossa
amar a água implícita, e o beijo tácito, e a
sede infinita.
Bernard Cox.
Vinicius de Moraes
Marcus Vinicius da Cruz de Mello Moraes nasceu na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1913. Formou-se na Faculdade de Direito em 1933. Trabalhou
como diplomata em diversas cidades do exterior. Foi
um dos fundadores da Bossa Nova, no ano de 1958,
juntamente com João Gilberto e Tom Jobim. A partir
de então, aproximou-se cada vez mais da música,
fazendo parceria com diversos músicos, dentre eles
Chico Buarque de Holanda, Baden Powel e outros.
Faleceu em 1980.
Suas principais obras são: Ariana, a Mulher
(1936); Novos Poemas (1938); Cinco Elegias (1943);
Poemas, Sonetos e Baladas (1946); Orfeu da Conceição
(teatro, 1956); Livros de Sonetos (1957); Para Viver um
Grande Amor (crônicas, 1962).
Características e temas
A obra de Vinicius de Moraes divide-se, como
o próprio poeta afirma no prefácio de sua antologia
poética, em duas fases distintas.
A primeira fase caracteriza-se por abordar o
amor transcendental, espiritualizado. As poesias
dessa fase são escritas com versos longos e a linguagem é, por vezes, nebulosa.
A segunda fase da obra de Vinicius de Moraes
é o grande momento de sua poesia. Esse é o período
em que o poeta começa a produzir letras para músicas, especialmente letras de Bossa Nova, estilo que
estava nascendo no Rio de Janeiro e se espalharia
pelo mundo.
Nessa fase, sua poesia revela a aproximação
com o mundo material, concreto. O amor espiritualizado da fase anterior passa a ser o amor carnal,
envolto em uma aura de erotismo e sensualidade. A
linguagem passa de um estilo sublime para o coloquial, e seus versos são mais curtos.
Consciente de que os sentimentos não são
perenes, o poeta define o amor como “chama”, algo
intenso, mas que em algum momento se apaga. É
uma fase de maior realismo e resignação com os
acontecimentos da vida. Vamos ler, agora, dois de
seus mais conhecidos poemas: “Soneto de Fidelidade” e “Soneto da Separação”.
EM_V_LIT_014
Soneto de fidelidade
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento
Vinícius de Moraes.
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11
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa lhe dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.
Soneto da separação
De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.
De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.
12
Pensem nas crianças
Mudas telepáticas
Pensem nas meninas
Cegas inexatas
Pensem nas mulheres
Rotas alteradas
Pensem nas feridas
Como rosas cálidas
Mas oh não se esqueçam
Da rosa da rosa
Da rosa de Hiroshima
A rosa hereditária
A rosa radioativa
Estúpida e inválida
A rosa com cirrose
A antirrosa atômica
Sem cor sem perfume
Sem rosa sem nada.
O operário em construção
Era ele que erguia as casas
Onde antes só havia chão.
Como um pássaro sem asas
Ele subia com as casas
Que lhe brotavam da mão
Mas tudo desconhecia
De sua grande missão:
Não sabia, por exemplo
Que a casa de um homem é um templo
Um templo sem religião
Como tampouco sabia
Que a casa que ele fazia
Sendo a sua liberdade
Era a sua escravidão.
[...]
EM_V_LIT_014
Vimos que esses dois poemas líricos são sonetos, como os próprios títulos indicam. Vinicius de
Moraes é o renovador do soneto, forma utilizada
na poesia clássica, muito aplicada por Luís Vaz de
Camões. Vinicius moderniza o soneto, inserindo-lhe
o prosaico, o banal, o cotidiano, o amor simples, sem
perder a intensidade emotiva que essa forma poética
proporciona.
Além desse tema observa-se, também, a poesia de denúncia social, engajada, como “a Rosa de
Hiroshima” e “Operário em Construção”.
A rosa de Hiroshima
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``
a) A temática existencial, com preocupação religiosa,
desse poema não era comum na poesia da primeira geração modernista.
1. (UERJ)
b) Dentre as características formais:
Mulher ao espelho
Hoje, que seja esta ou aquela,
pouco me importa.
Quero apenas parecer bela,
pois, seja qual for, estou morta.
Já fui loura, já fui morena,
já fui Margarida e Beatriz.
Já fui Maria e Madalena.
Só não pude ser como quis.
Que mal faz, esta cor fingida
do meu cabelo, e do meu rosto,
se tudo é tinta: o mundo, a vida,
o contentamento, o desgosto?
Por fora, serei como queira
a moda, que me vai matando.
Que me levem pele e caveira
ao nada, não me importa quando.
Mas quem viu, tão dilacerados,
olhos, braços e sonhos seus,
e morreu pelos seus pecados,
falará com Deus.
Falará, coberta de luzes,
do alto penteado ao rubro artelho.
Porque uns expiram sobre cruzes,
outros, buscando-se no espelho.
(MEIRELES, Cecília. Poesias Completas.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1973.)
A temática e alguns procedimentos característicos do
Barroco no século XVII foram retomados no poema de
Cecília Meireles.
Tal poema revela uma mudança de perspectiva em
relação à primeira geração modernista.
a) Explique, em uma frase completa, por que a temática desse poema difere da temática dominante na
primeira fase do Modernismo.
EM_V_LIT_014
Solução:
b) Cite duas características formais do poema que
acompanham essa mudança de atitude.
– versos rimados e metrificados;
– vocabulário elaborado;
– predomínio do uso da língua culta no seu registro
formal.
2. (Elite) “A Rosa de Hiroshima”, de Vinicius de Moraes, foi
escrita em razão de quê? Faz parte de qual temática da
obra desse poeta?
``
Solução:
Foi escrita em razão do lançamento, efetuado pelas forças
armadas americanas, da bomba atômica na cidade de
Hiroshima no Japão, durante o fim da Segunda Guerra
Mundial. Esse poema insere-se na temática social de
Vinicius de Moraes.
1. (Cesgranrio)
Pátria Minha
Vinicius de Moraes
A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.
Se me perguntarem o que é a minha pátria, direi:
Não sei. De fato, não sei [...]
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.
Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos [...]
Vontade de mudar as cores do vestido
[(auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias, pátria minha
Tão pobrinha!
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Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contacto com a dor do tempo [...]
Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão [...]
Que vontade me vem de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.
2. Cite o movimento de vanguarda a que o texto acima
pode ser associado.
3. No texto, o autor desestrutura o senso e instaura o
contrassenso.
Teça um breve comentário que justifique a afirmativa
acima.
O texto a seguir refere-se às questões 4 e 5.
(Unirio)
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.
Cantiga Outonal
Cecília Meireles
b) Valoração de elementos da natureza como forma de
exaltação da terra brasileira.
Outono. As árvores pensando...
Tristezas mórbidas no mar...
O vento passa, brando, brando...
E sinto medo, susto, quando
Escuto o vento assim passar...
4. Apesar de modernista, a autora apresenta tendências
de outro movimento literário, evidentes no texto. Que
movimento é esse?
c) Sentimentos de saudade e nostalgia, causados
pela dor do exílio.
5. Retire do texto uma passagem que justifique a sua
resposta anterior e, a seguir, cite a característica que
ela apresenta.
d) Preocupação social, através da menção a problemas brasileiros.
6. (Mackenzie)
e) Abandono do ideal purista dos neoclássicos na
prevalência do conteúdo sobre a forma.
O texto a seguir refere-se às questões 2 e 3.
(Unirio)
Metade Pássaro
Murilo Mendes
A mulher do fim do mundo
Dá de comer às roseiras,
Dá de beber às estátuas,
Dá de sonhar aos poetas.
A mulher do fim do mundo
Chama a luz com um assobio.
Faz a virgem virar pedra,
Cura a tempestade,
Atrás de portas fechadas,
à luz de velas acesas,
entre sigilo e espionagem
acontece a Inconfidência.
Liberdade, ainda que tarde
ouve-se em redor da mesa.
E a bandeira já está viva
e sobe na noite imensa.
E os seus tristes inventores
já são réus – pois se atreveram
a falar em Liberdade.
Liberdade, essa palavra
que o sonho humano alimenta
que não há ninguém que explique
e ninguém que não entenda.”
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EM_V_LIT_014
Apesar de modernista, Vinicius apresenta, no texto,
características da estética romântica.
Assinale a única característica romântica não presente
nesse texto.
a) Preocupação com o eu-lírico, através da expressão
de emoções pessoais.
14
Desvia o curso dos sonhos.
Escreve cartas ao rio,
Me puxa do sono eterno
Para os seus braços que cantam.
Os versos, relacionados à Inconfidência e em redondilha
maior, fazem parte da obra de:
a) Vinicius de Moraes.
Texto II
b) Mário Quintana.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.
Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.
Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!
O poema acima faz parte da obra de:
a) Cecília Meireles.
O texto II pertence ao estilo de época do:
a) Modernismo.
b) Mário Quintana.
b) Dadaísmo.
c) Jorge de Lima.
c) Futurismo.
d) Murilo Mendes.
d) Pré-modernismo.
e) Carlos Drummond de Andrade.
e) Simbolismo.
c) Murilo Mendes.
d) Cecília Meireles.
e) Jorge de Lima.
7.
(Mackenzie)
No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.
8. (UFMG) Com relação à religiosidade popular, a atitude
presente no livro Novos Poemas, de Jorge Lima, é de:
a) irreverência impiedosa.
b) crítica ideológica.
Murilo Mendes
10. (Elite) Na década de 1930, despontaram escritores
cuja obra poética aproveitou e aprofundou princípios
estéticos e ideológicos do movimento modernista de
1922. Entre os poetas dessa geração impõem-se os
nomes de:
a) Carlos Drummond de Andrade, Vinicius de Moraes
e Mário Quintana.
c) tolerância condescendente.
d) adesão afetuosa.
9. (Faap)
b) Manuel Bandeira, Augusto dos Anjos e João Cabral
de Melo Neto.
Texto I
c) Carlos Drummond de Andrade, Murilo Mendes e
Augusto dos Anjos
Gonçalves Dias
e) Jorge de Lima, Ferreira Goulart e Manuel Bandeira.
EM_V_LIT_014
Minha terra tem palmeiras
Onde canta o sabiá;
As aves que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.
d) Murilo Mendes, João Cabral de Melo Neto e Vinicius de Moraes.
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15
com o cotidiano, restringe-se a um inventário das
emoções mineiras do poeta.
As sem-razões do amor
Carlos Drummond de Andrade
Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.
Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.
Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.
Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.
Amor é primo da morte,
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
O texto lido inclui-se em Corpo, um dos últimos
livros publicados em vida do autor, em 1984. O amor
representou um dos temas recorrentes no universo
drummondiano. Na segunda fase de sua obra poética,
na década de 1930, entretanto, sua preocupação mais
evidente centraliza-se na(o):
a) incomunicabilidade.
b) metafísica.
c) poesia reflexiva.
d) poesia social.
e) experimentalismo formal.
2. (ITA) Dadas as afirmações:
I. A poesia de Carlos Drummond de Andrade, de caráter fundamentalmente regionalista e preocupada
16
II. A poesia de Manuel Bandeira, de inspiração jornalística e de caráter confidencial e autobiográfico,
exprime-se tanto pelo verso livre quanto pelo tradicional.
III. A obra lírica de Cecília Meireles, marcada por constantes formais – como o mar, o espaço, a solidão,
o sentimento do efêmero – é essencialmente descritiva, voltada para a natureza brasileira e nossos
vultos históricos.
Está (ão) correta(s):
a) nenhuma.
b) apenas I.
c) apenas II.
d) apenas III.
e) todas.
3. (UFSC) Mário Quintana, considerado pela crítica um
lírico autêntico, possuía rigoroso domínio da forma
poética e uma agilidade criadora que lhe permitiam
passar de uma inspiração a outra, sem deter-se em
lugares-comuns. Seus poemas têm um direcionamento
mais filosófico do que social. Assinale as proposições em
que o comentário está correto de acordo com o texto
de Mário Quintana.
(01) “Que dança que não se dança?/ Que trança não se
destrança?/ O grito que voou mais alto/ Foi um grito
de criança.” O autor fez uso, nesse texto, a exemplo
dos simbolistas, da musicalidade obtida pela repetição e/ou semelhança de palavras e sons.
(02) “Eu quero os meus brinquedos novamente!/ Sou um
pobre menino... acreditai.../ Que envelheceu, um dia,
de repente!...” Mário Quintana revela saudade da infância, tempo feliz, em contraste com o desagrado
da velhice, digna de piedade.
(04) “Ah!, se eu pudesse, tardezinha pobre,/ Eu pintava
trezentos arco-íris/ Nesse tristonho céu que nos encobre...” O poeta faz uso das figuras de linguagem
hipérbole (exagero) e prosopopeia (personificação).
(08)“Quantas coisas perdidas e esquecidas/ no teu baú
de espantos... Bem no fundo,/ uma boneca toda estraçalhada!/ É ela, sim! Só pode ser aquela,/ a jamais
esquecida Bem-Amada./ Em vão tentas lembrar o
nome dela.../ E em vão ela te fita... e a sua boca/
tenta sorrir-te mas está quebrada!” Mário Quintana,
através de metáforas, sugere uma divagação pelo
seu tempo de infância, haja vista a saudade da menina amada, de cujo nome e sorriso não consegue
lembrar-se.
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EM_V_LIT_014
1. (Cesgranrio) Texto:
(16) “A morte deveria ser assim:/ um céu que pouco a
pouco anoitecesse/ e a gente nem soubesse que
era o fim.” O poeta faz uma reflexão em torno do mistério que a palavra morte sugere, porque não sabe
como, nem quando vai ocorrer, mas aspira a que
seja simples e suave como o anoitecer.
Soma (
)
4. (Unesp) A partir da leitura dos seguintes poemas,
assinale a alternativa incorreta com relação ao Modernismo.
I – Vício da Fala
e) As experiências de linguagem desses poemas modernistas tentam resgatar o formalismo e a riqueza
sonora da poesia parnasiana.
5. (UFMG) Todas as alternativas contêm trechos do
Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, que
tematizam a importância da palavra como estruturadora
da realidade, exceto
a) “Ai, palavras, ai, palavras,
Oswald de Andrade
que estranha potência, a vossa!
Todo o sentido da vida
Para dizerem milho dizem mio
Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados.
principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota...”
II – Poema do Beco
b) “Como pavões presunçosos,
Manuel Bandeira
Que importa a paisagem, a Glória, a baía, a linha do
horizonte?
– O que eu vejo é o beco.
suas letras se perfilam.
Cada recurvo penacho
é um erro de ortografia.
Pena que assim se retorce
deixa a verdade torcida.”
III – Festa Familiar
Murilo Mendes
Em outubro de 1930
Nós fizemos – que animação!
Um pic-nic com carabinas.
c) “Liberdade – essa palavra
que o sonho humano alimenta:
que não há ninguém que explique,
e ninguém que não entenda!”
d) “Morre a tinta das sentenças
IV – Cota Zero
e o sangue dos enforcados...
Carlos Drummond de Andrade
Stop
A vida parou
ou foi o automóvel?
a) Os poemas quando não se fixam em uma cena da
vida cotidiana podem refletir sobre a nossa história
com muito humor e ironia.
EM_V_LIT_014
d) Os poemas mostram claramente uma ruptura com
os códigos literários anteriores na forma; no conteúdo buscam penetrar mais fundo na realidade
brasileira.
b) Predomínio do verso livre e cultivo de uma poesia
sintética.
c) Introdução da fala popular e elementos característicos da prosa.
– liras, espadas e cruzes
pura cinza agora são.
Na mesma cova, as palavras,
o secreto pensamento,
as coroas e os machados
mentira e verdade estão.”
e) “Pelas gretas das janelas,
pelas frestas das esteiras,
agudas setas atiram
a inveja e a maledicência.
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17
como peludas aranhas
Uma das constantes da obra de Carlos Drummond de
Andrade, como se verifica nos versos anteriormente
citados, é:
a) a louvação do homem social.
na gosma das teias densas,
b) o negativismo destrutivo.
rápidas e envenenadas,
c) a violação e desintegração da palavra.
engenhosas, sorrateiras.”
d) o pessimismo lírico.
oscilam no ar de surpresas,
6. (UEL) Na década de 1930:
a) o Modernismo viu esgotados seus ideais, com a retomada de uma prosa e de uma poesia de caráter
conservador.
b) a poesia se renovou significativamente, graças a
poetas como Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes.
c) não houve surgimento de grandes romancistas, o
que só viria a ocorrer na década seguinte.
d) predominou, ainda, o ideário modernista dos primeiros momentos, sendo central a figura de Graça
Aranha.
e) a poesia abandonou de vez o emprego do verso,
substituindo‑o pela composição de palavras soltas
no espaço da página.
7.
(Fuvest) Como o próprio título indica, no Romanceiro
da Inconfidência, de Cecília Meireles, os romances têm
como referência nuclear a frustrada rebelião na Vila Rica
do século XVIII. No entanto, deve-se reconhecer que:
a) a base histórica utilizada no poema converte-se no
lirismo transcendente e amargo que caracteriza as
outras obras da autora.
b) as intenções ideológicas da autora e a estrutura
narrativa do poema emprestam ao texto as virtudes
de uma elaborada prosa poética.
c) a imaginação poética dá à autora a possibilidade
de interferir no curso dos episódios essenciais da
rebelião, alterando-lhes o rumo.
d) a matéria histórica tanto alimenta a expressão poética no desenvolvimento dos fatos centrais quanto
motiva o lirismo reflexivo.
e) a preocupação com a fidedignidade histórica e com
o tom épico atenua o sentimento dramático da vida,
habitual na poesia da autora.
8. (PUC-Rio)
Não faça versos sobre acontecimentos,
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
Não aquece nem ilumina.
18
e) o questionamento da própria poesia.
9. (UM-SP) É incorreto afirmar sobre a obra de Carlos
Drummond de Andrade que:
a) seu posicionamento individualista o afasta da problemática do homem comum, do dia-a-dia.
b) uma de suas temáticas é a reflexão em torno da
própria poesia.
c) a lembrança de Itabira, sua terra natal, aparece em
parte de sua obra.
d) ocorre-lhe, muitas vezes, a mostragem de uma angústia proveniente de acreditar que não há saída
para a problemática existencial.
e) a ironia madura é uma das características marcantes de sua poesia.
10. (Elite) Classifique a oração “que ninguém tem nada com
isso” encontrada neste epigrama de Mário Quintana.
O Pior
O pior dos problemas da gente é que ninguém tem
nada com isso.
11. (Unicamp)
Aquarela
Murilo Mendes
Mulheres sólidas passeiam no jardim molhado da
chuva,
o mundo parece que nasceu agora,
mulheres grandes, de coxas largas, de ancas largas,
talhadas para se unirem a homens fortes.
A montanha lavada inaugura toaletes novas
pra namorar o sol, garotos jogam bola.
A baía arfa, esperando repórteres...
Homens distraídos atropelam automóveis,
acácias enfiam chalés pensativos pra dentro das ruas,
meninas de seios estourando esperam o namorado na
janela.
estão vestidas só com uma blusa, cabelos lustrosos
saídos do banho e pensam longamente na forma
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EM_V_LIT_014
Palavras conjeturadas
do vestido de noiva: que pena não ter decote!
Arrastarão solenemente a cauda do vestido
até a alcova toda azul, que finura!
A noite grande encherá o espaço
e os corpos decotados se multiplicarão em outros.
O título do poema de Murilo Mendes poderia ser
explicado a partir de qualquer uma das definições a
seguir:
Aquarela:
1. Massa com pigmento de várias cores, que se deve
dissolver em água para reduzi-la a tinta.
2. Técnica de pintura [...] na qual o aquarelista deve
trabalhar rapidamente, sem se deter em minúcias e
sem poder sobrepor a tinta para retoques.
3. (fig.) Visão alegre ou otimista de uma época, uma
situação, um lugar etc.
a) Escolha um dos significados da palavra aquarela
e explique a escolha desse título para o poema.
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b) Em “Aquarela”, o verso “o mundo parece que nasceu agora” concentra algumas imagens poéticas
que são recorrentes no poema todo. Explicite duas
dessas imagens e encontre em outros versos do
poema expressões que reflitam essas imagens.
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19
1. C
1. C
2. Surrealismo.
2. A
3. Há falta de lógica apresentada em cada verso, na relação
dos verbos com os substantivos.
3. Soma: 29 (01+04+08+16).
Exemplo: 2.° v, 3.° v, 6.° v etc.
4. Simbolismo.
5. C
5. Passagem: resposta pessoal.
Característica: o esquema rímico e o esquema rítmico
traduzem a musicalidade;
há presença de elementos sensoriais;
há presença de palavras etc.
6. D
E
8. D
9. A
10. A
20
6. B
7.
D
8. E
9. A
10. Oração subordinada substantiva apositiva.
11.
a) 3. (fig.) “Visão alegre ou otimista de uma época”,
pois corresponde à caracterização constante do
texto.
b) “o mundo parece que nasceu agora” sugere um
mundo reconstruído por imagens surrealistas e poéticas: “Homens distraídos atropelam automóveis”,
“meninas de seios estourando”, “alcova toda azul”.
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7.
4. E
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LITERATURA - Vestibular UERJ