I Simpósio Internacional de Raças Nativas: Sustentabilidade e Propriedade Intelectual Teresina, PI 19 a 22 de agosto de 2015 Perfil bioquímico sérico de equinos clinicamente sadios da raça Campeiro Anderson Fernando de Souza¹, Jackson Schade², Alexandre Floriani Ramos³, Edison Martins4, Maria do Socorro Maués Albuquerque³, Graziela Vieira Fonteque5, Mere Erika Saito¹, Joandes Henrique Fonteque¹ ¹Centro de Ciências Agroveterinárias (CAV), Universidade do Estado de Santa Catarina, Lages, SC, Brasil ²Universidade Estadual de Londrina (UEL), Londrina, PR, Brasil ³Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Brasília, DF, Brasil 4 Associação Brasileira dos Criadores da Raça Crioula Lageana, Lages, SC, Brasil 5 Centro Universitário Facvest. Lages, SC, Brasil. Resumo: O objetivo do trabalho foi determinar o perfil bioquímico sérico de equinos clinicamente sadios da raça Campeiro. Amostras de sangue foram obtidas de 138 equinos registrados da raça Campeiro com idade média de 9,7±5,4 anos, sendo 14 machos (10,15%) e 124 fêmeas (89,85%). Observaram-se valores médios da atividade sérica de GGT: 13,73±4,08 U/L; AST: 246,34±72,87 U/L; ALT: 5,13±1,18 U/L; FA: 284,32±53,33 UI/L; CK: 132,54±72,25 U/L; LDH: 511,38±143,65 U/L; e das concentrações séricas de ureia: 38,65±12,62 mg/dL e de creatinina: 1,24±0,24 mg/dL. Os valores médios de AST, FA, ALT, ureia e creatinina, foram semelhantes aos propostos na literatura para outras raças. Os valores de CK, GGT e LDH foram superiores aos comumente utilizados como referências. Não houve diferenças nas concentrações de nenhum dos componentes séricos avaliados nas diferentes idades analisadas. Maiores valores médios nas concentrações de ureia e menores de creatinina foram observados nas fêmeas em relação aos machos, assim como a maior atividade sérica de FA em fêmeas gestantes em relação às éguas vazias. O perfil bioquímico sérico de equinos sadios da raça Campeiro apresenta variações peculiares que devem ser levadas em consideração na interpretação de exames laboratoriais. Palavras-chave: bioquímica sérica, campeiro, equino, enzimas, soro Serum biochemical profile from Campeiro horses clinically healthy Abstract: The aim of this study was to determine the serum biochemical profile of clinically healthy horses of Campeiro race. Blood samples were obtained from 138 horses registered Campeiro the race with an average age of 9.7±5.4 years, 14 males (10.15%) and 124 females (89.85%). They observed mean values of serum GGT activity: 13.73±4.08 U/L; AST: 246.34±72.87 U/L; ALT 5.13±1.18 U/l; FA: 284.32±53.33 IU/L; CK: 132.54±72.25 U/L; LDH: 511.38±143.65 U/L; and the serum urea: 38.65±12.62 mg/dL and creatinine: 1.24±0.24 mg/dL. The mean values of AST, AP, ALT, urea and creatinine were similar to those proposed in the literature for other races. The values of CK, GGT, and LDH were higher than those commonly used as references. There were no differences in the concentrations of any of the serum components evaluated at different ages analyzed. Further average values in the lower urea concentrations and creatinine were observed in females compared to males, as well as increased serum activity of AF in pregnant mares in relation to empty. Serum biochemical profile of healthy horses of Campeiro race presents peculiar variations that must be taken into consideration in the interpretation of laboratory tests. Keywords: serum biochemistry, campeiro, equine, enzymes, serum Introdução O cavalo Campeiro é uma raça nativa da região do Planalto Serrano Catarinense, que tem como característica ser uma das poucas que apresentam a marcha como seu andamento. Pelas condições ímpares nas quais esses animais se desenvolveram e são mantidos notam-se, como consequência, adaptações fisiológicas compensatórias, que devem ser adequadamente quantificadas, caso contrário podem levar a erros na interpretação dos exames complementares (Kaneko et al. 2008). A bioquímica clínica é de extrema importância nas avaliações da função renal, função e/ou lesão hepática e de lesão muscular, estando cada vez mais direcionadas as diferentes espécies e as variações intraespecíficas. Balarin et al. (2005) discutiram a relevância dos valores padrões de referência para a correta interpretação dos resultados de exames bioquímicos séricos em Medicina Veterinária. Este trabalho teve por objetivo determinar o perfil bioquímico sérico da atividade enzimática da gama glutamiltransferase, aspartato aminotransferase, alanino aminotransferase, fosfatase alcalina, creatina I Simpósio Internacional de Raças Nativas: Sustentabilidade e Propriedade Intelectual Teresina, PI 19 a 22 de agosto de 2015 fosfoquinase, lactato desidrogenase e concentração sérica de ureia e creatinina em equinos sadios da raça Campeiro, bem como diferenças quanto a idade, sexo e período reprodutivo. Materiais e Métodos Foram utilizados 138 equinos com idade média de 9,7±5,4 anos, sendo 14 machos (10,15%) e 124 fêmeas (89,85%) clinicamente sadios da raça Campeiro. Todos os animais eram registrados na Associação Brasileira dos Criadores de Cavalo Campeiro (ABRACCC) e provenientes de propriedades núcleos de conservação da raça nas cidades de Lages, Curitibanos, Campos Novos e Concórdia no Estado de Santa Catarina e Caxias do Sul no Estado do Rio Grande do Sul. Amostras de sangue foram colhidas por venopunção jugular em tubos a vácuo sem anticoagulante. As amostras foram submetidas à centrifugação (2500 rpm por 10 min.), sendo o soro separado, acondicionado em microtubos e armazenados a temperatura de -20ºC até o processamento. As análises bioquímicas foram realizadas por meio de métodos cinético e colorimétrico em analisador automático utilizando kits comerciais no Laboratório de Patologia Clínica do Hospital de Clínicas Veterinárias (HCV) do CAV-UDESC, Lages, SC, Brasil. O perfil bioquímico sérico foi realizado por meio da atividade enzimática da gama glutamiltransferase (GGT), aspartato aminotransferase (AST), alanino aminotransferase (ALT), fosfatase alcalina (FA), creatina fosfoquinase (CK), lactato desidrogenase (LDH) e concentrações séricas de ureia e creatinina. Os animais foram distribuídos em grupos segundo a idade, entre machos e fêmeas e ainda uma comparação entre fêmeas vazias e prenhes. A análise estatística dos dados foi realizada por meio da análise descritiva e para comparação entre faixas etárias o teste de ANOVA, e para a comparação entre sexo e período reprodutivo o Teste t de Student todos ao nível de 5% de significânmcia (CURI, 1998). Resultados e Discussões Os valores médios, mínimos e máximos e desvios-padrões da atividade sérica enzimática da GGT, AST, ALT, FA, CK, LDH e concentração sérica de ureia e creatinina para equinos adultos da raça Campeiro estão representados na Tabela 1. Observaram-se valores médios da atividade sérica da AST, FA, ALT e concentração sérica de ureia e creatinina dentro dos valores de referência e os valores médios da atividade da GGT, CK e LDH foram superiores aos intervalos de referência propostos por Kaneko et al. (2008). Tabela 1. Valores médios, desvios-padrão (xs), valor mínimo e máximo da atividade sérica de 138 equinos machos (n=14) e fêmeas (n=124) adultos clinicamente sadios da raça Campeiro. Variáveis GGT (U/L) AST (U/L) ALT (U/L) FA (UI/L) CK (U/L) LDH (U/L) Uréia (mg/dL) Creatinina (mg/dL) Média 13,73 246,34 5,13 284,32 132,54 511,38 38,65 1,24 Desvio-padrão 4,08 72,87 1,18 53,33 72,25 143,65 12,62 0,24 Valor Mínimo 7,12 140,00 2,58 146,49 35,88 122,36 18,70 0,85 Valor Máximo 22,45 544,45 9,20 410,86 473,12 920,09 88,85 2,12 Não foram observadas diferenças significativas em nenhuma das variáveis analisadas quanto à idade (Tabela 2). Em um estudo realizado por Benesi et al. (2009), onde acompanharam potras da raça Brasileiro de Hipismo do nascimento até os 24 meses, os autores observaram que o perfil bioquímico de algumas enzimas séricas sofreu influências do fator etário no período inicial da vida, passando a serem similares aos valores de referência para equinos adultos a partir dos seis meses de idade. Tabela 2. Valores médios e desvios-padrão (x±s) da atividade sérica de equinos machos e fêmeas adultos clinicamente sadios da raça Campeiro. Variáveis GGT (U/L) AST (U/L) ALT (U/L) FA (UI/L) CK (U/L) 3-5 anos 13,573,69a 228,7291,06a 5,092,33a 271,8031,29a 109,9936,27a 6-8 anos 13,834,71a 249,7990,39a 5,151,45a 272,6350,64a 124,6953,30a 9-12 anos 13,473,91a 267,1761,79a 5,261,04a 274,0857,67a 171,7271,21a Acima 13 anos 14,054,32a 237,2937,63a 5,670,95a 318,6159,96a 121,1798,35a I Simpósio Internacional de Raças Nativas: Sustentabilidade e Propriedade Intelectual Teresina, PI 19 a 22 de agosto de 2015 LDH (U/L) Uréia (mg/dL) Creatinina (mg/dL) A 491,31105,19a 35,4416,93a 1,290,24a 483,87132,84a 37,0612,70a 1,310,15a 475,52147,57a 41,3210,94a 1,250,32a 595,81158,74a 40,439,39a 1,120,16a Para letras maiúsculas iguais não há diferença significativa (P<0,05) entre os grupos. Foram observadas diferenças significativas em relação ao sexo, com valores médios de ureia maiores e de creatinina menores nas fêmeas em relação aos machos. As diferenças podem ter sido um achado ocasional relacionado a variações fisiológicas, uma vez que os valores estão dentro do intervalo de referência proposto por Kaneko et al. (2008) para a espécie. Não se observaram diferenças nas concentrações séricas de ureia e creatinina relacionadas ao sexo em trabalhos realizados com equinos Mangalarga Paulista (Das Neves et al., 2005) e Mangalarga Marchador (Melo et al., 2013). Os valores médios de GGT, AST, ALT, FA, CK e LDH, não diferiram significativamente em relação ao sexo dos animais (Tabela 3). Tabela 3. Valores médios e desvios-padrão (x±s) da atividade de equinos adultos machos e fêmeas (vazias e prenhes) clinicamente sadios da raça Campeiro. Variáveis GGT (U/L) AST (U/L) ALT (U/L) FA (UI/L) CK (U/L) LDH (U/L) Ureia (mg/dL) Creatinina (mg/dL) a Fêmea Macho 14,014,08a 252,5471,19a 5,271,16a 290,5053,13a 142,5276,37a 537,18141,24a 40,6412,28b 1,200,19b 12,614,07a 222,0677,19a 4,531,08a 260,0448,68a 94,1833,83a 410,16106,25a 30,8711,23a 1,430,31a Fêmea Vazia Prenhe 14,294,06a 13,364,02a 260,3891,06a 255,2240,49a a 5,601,25 5,050,97a b 272,1546,98 313,9756,06a a 129,4263,72 161,5390,81a 509,37111,82a 574,87173,20a 36,4710,69a 42,969,51a a 1,230,19 1,160,18a Para letras minúsculas iguais não há diferença significativa (P<0,05) entre os grupos. Conclusões Os equinos da raça Campeiro apresentam perfil bioquímico sérico similar daqueles aos de outras raças estabelecidas na literatura para as enzimas AST, FA, ALT e concentração de ureia e creatinina. Entretanto, apresentam valores de CK, GGT e LDH superiores aos comumente utilizados como referências. Não há diferença para os valores estudados em diferentes idades em animais adultos. Maiores valores de ureia e menores de creatinina observados nas fêmeas em relação aos machos parecem não ter implicações clínicas assim como a maior concentração de FA em fêmeas gestantes frente às éguas vazias. Literatura Citada BALARIN, M.R.S.; LOPES, R.S.; KOHAYAGAWA, A.; LAPOSY, C.B.; FONTEQUE, J.H. Avaliação da glicemia e da atividade sérica de aspartato aminotransferase, creatinoquinase, gama-glutamiltransferase e lactato desidrogenase em eqüinos puro sangue inglês (PSI) submetidos a exercícios de diferentes intensidades. Semina: Ciências Agrárias, v. 26, n. 2, p. 211-218, 2005. BENESI, F.J.; HOWARD, D.L.; LEAL, M.L.R.; GACEK, F.; SOUZA, J.A. T.; FERNANDES, W.R. Perfil bioquímico de algumas enzimas no plasma sangüíneo de potras da raça Brasileiro de Hipismo (BH) criadas em Colina, Estado de São Paulo. Brazilian Journal of Veterinary Research and Animal Science, v. 46, n. 4, p. 288-295, 2009. 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