Anais do 5º Encontro do Celsul, Curitiba-PR, 2003 (573-580) FRASE FONOLÓGICA E CHOQUES DE ACENTO Gisela COLLISCHONN (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Juliana SANTOS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) ABSTRACT: Nespor and Vogel (1986) state that the constituents called for in Prosodic Phonology, specially the phonological phrase, can account for some rhythmical phenomena in poetry. Our purpose is to verify this statement phocusing on the occurence of stress clashes in a sample of Cecilia Meireles' poetry and the conditions available to resolve these clashes. KEYWORDS: stress; stress clash; Prosodic Phonology; phonological phrase; metrics. 1 Introdução O presente trabalho tem por objetivo examinar as condições que regem a correspondência entre estrutura métrica e estrutura lingüística na poesia em língua portuguesa, com enfoque para o choque de acento. O Choque de Acentos ocorre quando dois acentos estiverem linearmente adjacentes,como no exemplo Jesus Cristo (ROMANCE XXXIV ou DE JOAQUIM SILVÉRIO); quando o acento na primeira palavra do sintagma apresenta-se recuado para a esquerda (Jésus), temos um caso de resolução de choque. Estudos sobre a estrutura rítmica do português brasileiro afirmam que há resolução de choques de acento (Collischonn, 1993); mas que essa resolução é restrita à posição interna da frase fonológica (Abousalh, 1997). A investigação propõe-se então a verificar, a partir de dados da linguagem poética, como são resolvidos os casos de choque de acentos e se esta resolução é mesmo restrita à posição interna da frase fonológica. 2 Fundamentação teórica A pesquisa está fundamentada em teorias fonológicas, as teorias do acento (Liberman e Prince, 1977; Halle e Vergnaud, 1987; Hayes, 1992; Kager, 1995; Kiparsky e Hanson, 1996) e a Fonologia Prosódica (Nespor e Vogel, 1986; Hayes, 1989). Das teorias sobre o acento, tem-se a noção de Choque de Acento e as possibilidades de deslocamento ou apagamento de acento como resolução de choques. Em Collischonn (1993), é apresentado um estudo do acento secundário do português , de acordo com a Teoria Métrica do Acento, utilizando o modelo de Halle & Vergnaud. Uma das conclusões deste trabalho refere-se ao choque de acentos, afirmando que a língua suporta mal o choque e tende a buscar uma resolução, como é o caso do recuo do acento em Jesus Cristo para Jesus Cristo. A análise baseia-se em compostos e frases nominais exclusivamente, sem fazer referência à frase fonológica.1 Nespor e Vogel (1986) defendem que a Fonologia Prosódica pode dar conta de certos fenômenos rítmicos na poesia. A Fonologia Prosódica é uma teoria sobre a interface entre a estrutura sintática e a estrutura fonológica. Essa teoria considera que as regras fonológicas não têm acesso direto à estrutura sintática, mas que essa relação é intermediada por uma representação estruturada em constituintes, a representação prosódica. Especialmente a frase fonológica, segundo Nespor e Vogel (1986), teria papel na compreensão de fenômenos rítmicos como a resolução de choques de acento. A Fonologia Prosódica pressupõe a existência dos seguintes constituintes prosódicos: sílaba pé Palavra fonológica (ou prosódica) Grupo clítico Frase fonológica Frase entonacional enunciado 1 σ Σ W ou ω C φ I U Além do recuo, outras soluções apontadas são apagamento de acento, inserção de pausas e mudanças de contornos entoacionais. Essas estratégias são relativamente fáceis de serem distinguidas pelo ouvido e os falantes também são perfeitamente capazes de identificar os casos em que há ocorrência de choques. 574 FRASE FONOLÓGICA E CHOQUES DE ACENTO Abousalh (1997), retomando a questão do choque de acentos na língua portuguesa, conclui que, para que um choque de acentos seja obrigatoriamente reajustado, ele precisa ser interno a uma mesma frase fonológica. Ou seja, a autora afirma que choques de acento em fronteiras de frase fonológica não necessitam de reajuste e que o recuo ou apagamento de acento para desfazer choques só se manifestam sistematicamente no interior do espaço delimitado pelas fronteiras de frase fonológica. Essa constatação poderia explicar por que nem sempre ocorre a resolução de choques: haveria, nestes casos, uma fronteira de domínio prosódico (mais especificamente, de frase fonológica) e esta seqüência de acentos adjacentes não configuraria então um caso de "choque" em português. Na seção seguinte, serão explicitados os objetivos da pesquisa aqui delineada e as hipóteses que norteiam a elaboração dos experimentos. 2 Objetivos e hipóteses O objetivo maior deste trabalho é examinar vários princípios que foram propostos para caracterizar a relação entre a estrutura métrica e a estrutura prosódica (Nespor e Vogel, 1986; Kiparsky e Hanson , 1996; Hayes, 1989; Hayes e Kaun, 1996). Essas propostas se baseiam em línguas como o italiano, o inglês, o grego e o finlandês; mas não há estudos nesses moldes sobre a língua portuguesa. Esses trabalhos apontam para casos em que não há correspondência entre posição métrica forte e sílaba tônica. Alguns desses casos são devidos a que, pelo lado da língua, há choque de acentos. Como vimos, na língua falada comum, i.e., não-poética, ocorre o recuo de acento. Por exemplo, nos casos em que uma palavra oxítona é seguida por uma palavra iniciada por sílaba acentuada, espera-se que a regra fonológica de resolução do choque se aplique obrigatoriamente para evitar o choque, surgindo uma nova configuração acentual como no exemplo a seguir: mortal fera * * mortal fera * * Na linguagem poética, não é somente esta a solução empregada. Nespor e Vogel (1986) listam outras soluções para casos em que choque de acentos provoca a não-correspondência entre posições métricas fortes e sílabas tônicas. Kiparky e Hanson (1996) ressaltam que palavras monossílabas sempre podem ocorrer associadas a posições metricamente fracas, ou seja, elas ficam sem acento. Outro aspecto levantado por essas análises é a observação de que a não-correspondência entre posição métrica forte e sílaba acentuada é mais livre no lado esquerdo do que no lado direito de cosntituintes prosódicos. Em suma, a presente pesquisa, a partir dos princípios delineados na teoria chamada de métrica gerativa, buscou levantar dados sobre a língua portuguesa, para a discussão sobre estrutura métrica e constituintes prosódicos, com especial enfoque sobre o choque de acentos, as possibilidades para a resolução destes choques e, ainda, o papel que a frase fonológica (como definida na fonologia prosódica) tem na compreensão da estrutura métrica da poesia. Foram definidos os seguintes objetivos para a pesquisa: (a) ampliar a compreensão das condições que permitem o choque de acento no português brasileiro; (b) verificar as condições em que é permitido recuo ou deslocamento de acentos como resolução de choque de acento; (c) fornecer alguns elementos para a discussão do papel da frase fonológica na resolução de choque de acentos; (d) verificar se os princípios relatados na literatura lingüística sobre a estrutura métrica na poesia podem ser observados na poesia em língua portuguesa (inicialmente na poesia de Cecília Meireles). 4 Metodologia A presente pesquisa utilizou como corpus alguns romances do Romanceiro da Inconfidência de Cecília Meireles. A escolha deveu-se ao fato de ser um poema longo, com um aparente padrão métrico, e que parece privilegiar a naturalidade da língua em sua construção. Inicialmente, só foram escandidos e analisados dois cenários compostos de versos decassílabos . Os versos foram analisados da seguinte maneira: cada verso recebeu duas segmentações: (a) em constituintes prosódicos de acordo com Nespor e Vogel (1986) e (b) nas posições métricas. Uma vez feita esta segmentação, foram identificadas as ocorrências de choque de acento, e estas foram isoladas e analisadas individualmente. Verificou-se então se houve resolução de choque, se essa resolução implicou Gisela COLLISCHONN & Juliana SANTOS 575 deslocamento ou apagamento de acento e, no caso de deslocamento, se este foi para a direita ou para a esquerda (recuo). Ainda algumas informações sobre o tratamento dos dados, ou seja, as anotações que cada verso recebeu: (a) essa notação faz parte de um projeto mais amplo que busca analisar do ponto de vista lingüístico o ritmo poético; (b) essa notação se dá nos moldes de Hayes e Kaun (1996); (c) quanto aos constituintes prosódicos considerados, não trabalhamos com a noção de Grupo Clítico; constituintes como Enunciado e Frase Entonacional não são relevantes para o presente trabalho (i.e. todas as fronteiras de Enunciado e de Frase Entonacional são também fronteiras de Frase Fonológica); como o pé (prosódico) é uma noção controversa (e não tem papel nos trabalhos analíticos de Hayes), não será considerado aqui; (d) considera-se que, em caso não-marcado, os limites de um verso coincidam com limites de Frase Fonológica; no interior dos versos decassílabos, são esperadas fronteiras de Frase Fonológica entre a quarta e a sexta posições; (e) em caso não marcado, um complemento não ramificado será adjungido à frase fonológica que contém o seu núcleo (Hayes e Kaun, 1996, p.251). Frota observa (nota 2) que o tipo de reestruturação encontrado em italiano e inglês também está disponível para o português; (f) as posições métricas podem variar, especialmente no início dos versos (isto é, um decassílabo pode ser todo iâmbico, mas pode também ser, em parte, trocaico ou datílico); procuramos respeitar ao máximo a correspondência entre posições métricas fortes e sílabas tônicas; (g) espera-se também que palavras funcionais monossilábicas, como as preposições “de”, “em”, “por” e os artigos “a“ e “o” não recebam acento, i.e., que não correspondam a posições métricas fortes.3 Além destes, palavras monossílabas não funcionais, como verbos, substantivos, etc., podem ocorrer em posições metricamente fracas do verso, desde que ladeadas por outras sílabas tônicas. 5 Resultados obtidos A partir das observações feitas, foi possível constatar, mesmo numa pequena amostra do Romanceiro, um número relevante de casos de choques de acento envolvendo seqüências constituídas de dois monossílabos seguidos de uma palavra com a primeira sílaba acentuada. Na maioria destes casos, foi verificado o apagamento do segundo monossílabo, resultando em uma seqüência de sílabas do tipo forte/fraca/forte. É importante salientar que este tipo de resolução se apresentou dentro, mas também em fronteira de frases fonológicas, como no verso com o pó do chão meu sonho confundia. Abaixo serão apresentados alguns exemplos deste tipo de ocorrência: 3 [x ][ [x ][ [x ][ [x x x | | | nu tre as pa x ][ x ][ x ][ x x x | | | pou las de x] x ][ x ][ x] x ][ x ][ x] x x x x] | | | | tão va ga es sência? W S W S W W S S W S A lista completa destas formas, conforme Vigário (1999, p.256): a. a, com, de em, por (e as contrações com artigos) preposições b. o(s), a(s) artigos definidos c. me, te, se lhe(s), nos, vos, o(s), a(s) pronomes pessoais d. e, ou, mas conjunções e. que, se, de, em, por, a complementizadores nível da fras. fonol. nível dos ac. Lexic. nível dos acentos nível da sílaba 576 FRASE FONOLÓGICA E CHOQUES DE ACENTO [ [ [ [x | com o W x x x | pó S x ][ ][ x ][ ][ x ][ x x | | do chão W S [ x ][ [ x ][x ][ [ x ][x ][ [x x x x | | | | e não po de en S W S W [ x ][ [ x ][ [ x ][ [x x x | | | E a voz que W S W x ][ x ][ x x ][ x x x | | | meu so nho W S W x ][ x ][ x ][ x x x | | | ten der a W S W x] x] x x] x x x] | | | con fun dia. S W S x x x | nos S x ][ x ] [x ] [ x ][ x ] [x ] [ x ][ x x x x | | | | já não fa la, e S W S W ][ ][ x | sa W x] x] x] x] | pena. S x x x x | | se pro S W x] x] x] x] | longa. S nível da fras. fonol. nível dos ac. Lexic. nível dos acentos nível da sílaba nível da fras. fonol. nível dos ac. Lexic. nível dos acentos nível da sílaba nível da fras. fonol. nível dos ac. Lexic. nível dos acentos nível da sílaba Outros monossílabos também apareceram desacentuados, mas estes eram antecedidos de palavras polissilábicas das classes de substantivos e verbos. Observou-se um número razoável de ocorrências configuradas com uma seqüência de duas sílabas desacentuadas, em que o monossílabo desacentuado encontrava-se antecedido por uma sílada também desacentuada. Nestes casos, os monossílabos pertenciam às classes de preposições e advérbios e o choque dava-se com a palavra que o sucedia, compreendida em uma mesma frase fonológica. Vejamos os exemplos abaixo: [ [ [ [x | E as W x ][ x ][ x ][ x x | | sim me a S W [ x [ x [x x [x x x | | | O pas sa S W S x ][ x ][x][ x ][x][ x x x | | | ce nam por S W W x ][ x ][ x ][ x x x | | | to dos os S W W x] x] x] x] | lados. S ][ x ][ x] ] [ x ][ x ][ x ][ x ] ] [ x ][ x ][ x ][ x ] x x x x x x x] | | | | | | | do não a bre a su a porta W W S W S W S [ x ][ x][ [ x ][ x ][ x][x][ [ x ][ x ][ x][x][ [ x x x x x x x | | | | | | | Mas, nos cam pos sem fim que o S W S W W S W x ][ x ] x ][ x ] x ][ x ] x x x] | | | so nho corta, S W S nível da fras. fonol. nível dos ac. Lexic. nível dos acentos nível da sílaba nível da fras. fonol. nível dos ac. Lexic. nível dos acentos nível da sílaba nível da fras. fonol. nível dos ac. Lexic. nível dos acentos nível da sílaba Outra observação refere-se aos exemplos abaixo: monossílabos constituídos de verbo ( é e vou) encontravam-se entre duas sílabas fortes e na fronteira entre duas frases fonológicas. Gisela COLLISCHONN & Juliana SANTOS [ x ] [x ] [ x ][ [x ][ x ] [x ] [ x ] [x ][ [x ][ x ] [x ] [ x ] [x ][ [x x x x x x x x x | | | | | | | | | Tu do em re dor é tan ta coi sa e é W S W S W S W S W [ x ][ x ][x][ [ x ][ x ][x][ [ x ][ x x ][x][x [x x x x x x x x x | | | | | | | | | “A deus! Que tra ba lhar vou pa ra W S W S W S W S W 577 x] x] x] x] | nada: S nível da fras. fonol. nível dos ac. Lexic. nível dos acentos nível da sílaba x] x] x] x] | todos!...” S nível da fras. fonol. nível dos ac. Lexic. nível dos acentos nível da sílaba Em todos os casos acima apresentados, os monossílabos encontram-se em uma posição metricamente fraca e são, portanto, realizados sem acento. Houve também casos em que um monossílabo acentuado em choque com uma palavra iniciada por acento não perdeu o seu acento, o que acabou gerando um deslocamento do segundo acento para a direita. Vale ressaltar que o choque nestes dois casos ilustrados a seguir ocorreram em uma fronteira de frase fonológica. Além disso, podemos observar que as sílabas que receberam os acentos são sílabas pesadas, o que acaba despertando a atenção para o papel do peso silábico no deslocamento em casos de choque de acentos. [ x ][ x ][ x ][ [ x ][ x ][ x ][ x [ x ][ x ][ x ][ x [x x x x x x x | | | | | | | tin giu de in cên dio: a voz des W S W S W S W [ [ [ [x | E W x] x] x] x] | ínas S nível da fras. fonol. nível dos ac. Lexic. nível dos acentos nível da sílaba x] x] x] x x] | | mo mentos W S nível da fras. fonol. nível dos ac. Lexic. nível dos acentos nível da sílaba ][ ][ x | sas S x ][ x ][ x ][ x ][ x ][ x ][ x ][ x ][ x x x x x x x x | | | | | | | são to das as coi sas uns S W S W S W S x | ru W No verso abaixo, observou-se que o monossílabo acentuado manteve o seu acento e o choque foi resolvido com o apagamento do acento da palavra seguinte: [ x ][ x ][ [x ][ x ][ x ][ x ][ [x ][ x ][ x ][ x ][ [x x x x x x x | | | | | | | so bre a qual nos so a mor sau S W S W W S W x ][ x] x ][ x] x ][ x] x x x] | | | do so a deja. S W S nível da fras. fonol. nível dos ac. Lexic. nível dos acentos nível da sílaba Em relação ao choque de acentos entre palavras polissilábicas, pôde-se observar a ocorrência de vários deslocamentos do acento na segunda palavra para a direita, contrariando o deslocamento esperado (o acento da primeira palavra recuaria para a esquerda, como em mortal fera). Além disso, a maior parte destes deslocamentos ocorreu para resolver choques de acentos na fronteira de frases fonológicas. Cabe ressaltar que em alguns casos como brilhou de homens, vi serem e comuns nossas as sílabas que receberam o acento, mais uma vez, são sílabas pesadas. (Além disso, deve-se observar que as palavras em que houve o deslocamento de acento para a direita não recebem o acento frasal; isto é, tudo indica que 578 FRASE FONOLÓGICA E CHOQUES DE ACENTO esta opção de resolução por deslocamento para a direita somente está disponível quando a sílaba tônica não for a sílaba mais forte na frase fonológica.) [x ][ x [x ][ x [x ][ x [x x x | | | on de a fa S W S W S W [ [ [ [x | e W x ][ x ][x x ][x x x | | vi se S W ][ ][ ][ x ][ x ][ x ][ x ][ x ][ x x x x x x | | | | | | ce bri lhou de ho mens an W W S W S W S (alternativa de escansão) ][ ][ x x | | rem co S W x] x] x] x] | tigos, S x ][ x] x ][ x ][ x] x ][ x ][ x] x x x x x] | | | | | muns nos sas lem branças. S W S W S [ [ [ [x | e os W x ][ x ][ x ][ x ][ x ][ x x ][ x ][ x ][ x x x x x x x x | | | | | | | | gi ras sóis des tes jar dins, que um S W S W S W S W [ [ [ [x | pi W x ][ x][ x ][ x][ x ][ x ][ x][ x ][ x x x x x x x x | | | | | | | | sa ram por a li tris tes ca S W S W S W S W x] x] x] x] | dia S x] x] x] x] | valos. S nível da fras. fonol. nível dos ac. Lexic. nível dos acentos nível da sílaba nível da fras. fonol. nível dos ac. Lexic. nível dos acentos nível da sílaba nível da fras. fonol. nível dos ac. lexicais nível dos acentos nível da sílaba nível da fras. fonol. nível dos ac. Lexic. nível dos acentos nível da sílaba No exemplo abaixo, a resolução do choque deu-se a partir do apagamento do acento da palavra à direita (esse tipo de solução parece ser privilegiado quando a solução de deslocar o acento não estiver disponível): [ x][ x ][ x ][ [ x][ x ][ x ][ x [x x][ x ][ x ][ x [x x x x x x x x | | | | | | | | va ci lar co mo em cau les de al S W S W W S W S x] ][ x ] ][ x ] x x] | | tas velas W S nível da fras. fonol. nível dos ac. Lexic. nível dos acentos nível da sílaba Abaixo, é possível verificar duas ocorrências de recuo do acento para a sílaba à esquerda do choque. No caso de ficou presa pode-se justificar este deslocamento levando-se em consideração o fato de que ficou é um verbo de ligação e que a seqüência ficou presa está localizado na mesma frase fonológica. Sendo assim, a sílaba tônica em presa recebe o acento da frase fonológica, e, portanto, não está autorizado a se deslocar o acento. Por esse motivo, é o acento da primeira palavra, ficou, que tem de se deslocar. Gisela COLLISCHONN & Juliana SANTOS [ x ][x][ [ x ][x][ [ x ][x][ x [x x x x | | | | Por que a voz que W S W S x ][ x ][ x ][ x x x x | | | | ti ve ram fi W S W S x] x ][ x ] x ][ x ] x x] | | cou presa W S 579 nível da fras. fonol. nível dos ac. Lexic. nível dos acentos nível da sílaba Finalmente, destaca-se um caso de choque de acento resolvido com uma pequena pausa entre duas sílabas fortes. Salienta-se que esta configuração pode estar sendo proporcionada em razão de o choque ocorrer em uma posição de fronteira de frases fonológicas em que ambas as palavras recebem o acento da respectiva frase fonológica. [ [ [x [x | A S x ][ x][ x ][ x] x ][ x][ x ][ x] x ][ x x][ x x][ x] x x x x x x x x x] | | | | | | | | | me mó ria é tam bém pá li da e morta W S W W S / S W W S nível da fras. fonol. nível dos ac. Lexic. nível dos acentos nível da sílaba Serão então destacadas algumas conclusões a partir da pesquisa realizada: (a) os monossílabos, conforme previsto, apresentaram uma tendência à perda de acento, quando em situação de choque de acentos; (b) o exemplo de resolução de choque de acento por recuo para a esquerda da tônica da primeira palavra, como em ficou presa, sugere que esse tipo de resolução ocorre obrigatoriamente, no interior de uma frase fonológica; (c) os exemplos de resolução de choque por deslocamento para a direita da tônica da segunda palavra, como em girassóis destes , ou por desacentuação, como em vacilar como, sugerem que as fronteiras de frases fonológicas são um contexto relevante para o choque de acentos; embora esses casos indiquem que na linguagem poética há uma busca para resolução do choque nesses contextos, essa resolução não é a mesma dos casos de choque no interior de frases fonológicas; (d) sílabas pesadas apareceram, em alguns casos, como receptoras de acento em caso de deslocamentos provocados por choques, por exemplo em vi serem. Esta observação dá início a uma nova investigação a respeito do papel do peso silábico em casos de choque de acentos (e possivelmente uma reformulação no nosso sistema de notação dos versos da amostra, com a inclusão de informações sobre o peso da sílaba, conforme Hayes e Kaun, 1996) . Como é possível observar, a pesquisa encontra-se ainda em fase inicial e são poucos os dados disponíveis para uma análise mais aprofundada. Entretanto, a partir dos dados já selecionados, pode-se verificar que a continuidade deste estudo pode trazer valiosas contribuições para o estudo dos choques de acentos e das possibilidades de resolução destes choques no português brasileiro. RESUMO: Partindo da constatação de Nespor e Vogel (1986) de que constituintes prosódicos, especialmente a frase fonológica, teriam papel na compreensão de fenômenos rítmicos na poesia, buscamos no estudo da poesia de Cecília Meireles a confirmação dessas observações. O estudo que apresentamos verifica as modalidades de resolução de choque de acento numa amostra de poemas do Romanceiro da Inconfidência. PALAVRAS-CHAVE: acento; choques de acento; Fonologia Prosódica; frase fonológica; métrica. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABOUSALH, Elaine. Resolução de choques de acento no português brasileiro: elementos para uma reflexão sobre a interface sintaxe: fonologia. Dissertação de mestrado. Campinas: Instituto de Estudos da Linguagem, 1997. BISOL, Leda. Introdução a estudos de fonologia do português brasileiro. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1999. 580 FRASE FONOLÓGICA E CHOQUES DE ACENTO _____. O acento: duas alternativas de análise. Texto não publicado, 1992. CAGLIARI, Luiz Carlos. Acento em português. Campinas: L.C., 1999. COLLISCHONN, Gisela. Acento secundário em português. Letras de Hoje, 98, p.43-53, 1994. FROTA, Sônia. On the prosody of intonation and focus in European Portuguese. In: Morales e Front. 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