pH Entenda o que é e veja como ele está presente em nosso cotidiano 1 Número 03 - Maio de 2003 1. CONCEITOS BÁSICOS SOBRE pH Antes de iniciar este assunto, é recomendável uma rápida re-leitura da primeira edição de WALTER-TEK que trata especificamente de “Soluções”. Serão utilizados os princípios de misturas homogêneas, soluto e solvente. Uma das Leis mais difundidas da Química é justamente sobre a composição da substância mais encontrada em nosso planeta e a mais importante para nossa sobrevivência: a água. Em qualquer oceano, dentro de qualquer freezer ou como componente de nossa cerveja, a água é sempre a mesma: formada por 2 átomos do elemento Hidrogênio combinados com 1 único átomo do não menos importante Oxigênio. A equação de dissociação da água, o tema principal para entendermos o conceito de pH, é a seguinte: H2O H+ + OH- Nela podemos observar que ainda continuam existindo os dois átomos de hidrogênio para um de oxigênio. Os sinais de “positivo” e “negativo” que agora aparecem são, na realidade, as cargas elétricas de cada. Nesse sentido a mesma equação lida na forma inversa (da direita para a esquerda) também é verdadeira e realmente ocorre. Se, por algum motivo ocorrer um desequilíbrio nessa equação, poderemos tem um pequeno ou um grande acréscimo de radicais positivos ou de radicais negativos. Assim como a FIFA regulamenta as leis do futebol pelo o mundo todo, a Química também tem seu organismo regulador, a IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry). Ela determina que quando uma solução aquosa tiver as mesmas quantidades de radicais positivos e negativos estaremos diante de uma solução NEUTRA; se o desequilíbrio mostrar um excesso de radicais positivos (H+) presenciamos uma solução ÁCIDA e, finalmente, se houver uma quantidade maior de radicais negativos (OH-) observa-se uma solução ALCALINA. Esta última classificação também é conhecida por BÁSICA. Literalmente pH significa “Potencial Hidrogeniônico” e a letra “p” inicial é escrita sempre no formato minúsculo, como manda a IUPAC. Esta também formatou uma escala numérica que varia de 0,0 até 14,0. Não são números escolhidos ao acaso ou por gosto particular dos elaboradores; são cálculos matemáticos precisos com base logarítmica (o log) e não é conveniente fazer-se uma demonstração de tais cálculos. Quem os desejarem, por favor, me envie um e-mail solicitando-os. Garanto que é pura matemática. A exata metade dessa escala atinge o valor 7.0 e isso quer dizer que quando o “equilíbrio” entre ácido e álcali ocorre temos uma solução neutra. Se o valor obtido estiver em qualquer intervalo entre 0.0 e 6.9 (ou MENOR de 7.0) existe uma solução ácida; em contrapartida, qualquer valor achado entre 7.1 até 14.0 (ou MAIOR que 7.0) nos informa uma solução alcalina. A escala de logaritmos é de base 10 e isso quer dizer que uma solução de pH 4.0 é DEZ VEZES mais forte (ou ácida) do que uma solução com pH de 5.0 e CEM vezes mais forte do que outra com pH de 6.0. Na página seguinte há uma representação gráfica do mecanismo. 2 Número 03 - Maio de 2003 Mais Forte ou mais ALCALINA Mais Forte ou mais ÁCIDA H+ OH- pH 1 MÚLTIPLOS DE DEZ 14.0 13.0 12.0 11.0 10.0 9.0 8.0 7.0 6.0 5.0 4.0 3.0 2.0 1.0 0.0 FORÇA PROPORCIONAL 10.000.000 vezes mais alcalina 1.000.000 vezes mais alcalina 100.000 vezes mais alcalina 10.000 vezes mais alcalina 1.000 vezes mais alcalina 100 vezes mais alcalina 10 vezes mais alcalina NEUTRO 10 vezes mais ácida 100 vezes mais ácida 1.000 vezes mais ácida 10.000 vezes mais ácida 100.000 vezes mais ácida 1.000.000 vezes mais ácida 10.000.000 vezes mais ácida Os desbalanceamentos de íons H+ ocorrem quando dissolvemos ácidos ou bases (álcalis) em água. Tais alterações podem ser tão grandes quanto 1x1014, ou seja, a variação do pH 0.0 até o valor de 14.0 chega a 100 trilhões de vezes ou 100.000.000.000.000. Deve-se sempre lembrar que esta escala não se inicia no número “zero” mas sim no meio da escala, no número 7.0. Uma solução aumenta seu caráter (ou força) ácida quanto mais se aproximar do extremo de sua escala (neste caso 0.0) e, portanto, uma solução com pH 3.8 é MUITO mais forte (e ácida) que outra com pH 6.5, por exemplo. O mesmo conceito é verdadeiro para as soluções alcalinas que, partindo de 7 aumentam sua força (ou alcalinidade) quanto mais próximas estiverem numericamente de 14.0. Outro detalhe é de que NUNCA existirão valores de pH como 23,5 ou 16,9 ou 32,5 pois a escala tem seu máximo em exatamente 14,0. Qualquer outro valor acima deste deverá ser interpretado como uma outra medição qualquer, menos de pH. 3 Número 03 - Maio de 2003 2. Água Pura Muito se ouve falar em água pura, mas, quimicamente isso é uma perfeita Utopia. É impossível utilizar água na forma “pura” pois por mais que retiremos dela impurezas, gases e sais dissolvidos, o próprio recipiente aonde iremos armazená-la já contém uma infinidade de contaminantes tanto nas paredes, no fundo e no ar que está dentro dele. Isso é mais do que o suficiente para alterar as características do pH da água. Abaixo há uma pequena tabela com valores do pH de várias marcas conhecidas de águas minerais, naturais ou artificiais, gasosas ou não: MARCA ORIGEM GASEIFICADA pH a 25°C Schincariol Artificial Sim Minalba Natural Sim Fratelli Vita Artificial Sim Mogiana Natural Não Aldeinha da Serra Natural Não 7.25 7.80 6.00 5.40 5.80 Observa-se uma grande variação nos valores devido ao processo industrial, tipo de terreno e formação geológica. Estes dados foram retirados de produtos que estão à venda no mercado varejista. Tenha a curiosidade de, na próxima vez em que for a um supermercado, ler o rótulo de várias garrafas de diferentes marcas e tire suas próprias conclusões. Esta variação do pH não é prejudicial à nossa saúde. Na verdade, nosso metabolismo utiliza e produz uma infindável variedade de substâncias, mas nenhuma deles possui um pH neutro. O sangue varia de 7.2 a 7.5; o suco gástrico e o DNA celular oscilam entre 1.0 a 1.2; nossas lágrimas funcionam muito bem num pH de 8.0 a 8.3 e nossa urina pode chegar a até 9.5. A água comum que bebemos diariamente das torneiras tem um valor médio de 7.7. Desde que nascemos estamos acostumados à “viver” com essa realidade. A água possui muitos sais e gases dissolvidos nela e isso é que nos confere o “sabor” ao qual nos habituamos há muito tempo. Faça uma experiência: ferva uma caneca com água durante 15 minutos, aguarde o líquido esfriar e o ingira. Provavelmente você já até fez isso algum dia. E explicação para a “enorme” diferença de sabor é que quando aquecemos a água, eliminamos todos os gases que nela estavam dissolvidos, conferindo um outro sabor. Alguém já experimentou beber água destilada? Quem já o fez sabe que o paladar é mais horrível ainda, pois nessa situação você eliminou também a maioria dos sais que estavam dissolvidos na água. Pode-se dizer que a água destilada (ou bidestilada) é o exemplo real mais próximo de uma “água pura” mas consumi-la diariamente seria impossível para nós pois necessitamos (e muito) dos sais que estão dissolvidos em cada copo de água que bebemos. 4 Número 03 - Maio de 2003 No quadro abaixo estão relacionadas várias substâncias que fazem parte de nosso cotidiano, outras de que já ouvimos falar ou já as utilizamos alguma vez. 14 13 12 11 10 9 8 7 6 5 4 3 2 1 0 – – – – – – – – – – – – – – – Soda Cáustica Amoníaco caseiro Leite de Magnésia Bórax e Sabões em pó Água do Mar Sangue Saliva e Leite Chuva Café Preto Vinhos Coca-Cola e Vinagre Suco de Limão Suco Gástrico Ácido Clorídrico 5 Número 03 - Maio de 2003