0 Sistemas de Informação Wander Fernandes Rodrigues Júnior ACESSIBILIDADE EM SISTEMAS WEB PARA DEFICIENTES VISUAIS Cabo Frio 2009 1 WANDER FERNANDES RODRIGUES JÚNIOR ACESSIBILIDADE EM SISTEMAS WEB PARA DEFICIENTES VISUAIS Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Sistemas de Informação da Universidade Veiga de Almeida, como requisito para obtenção do título de Bacharel. Orientador: Prof. M.Sc. Matheus Bousquet Bandini. Cabo Frio 2009 2 WANDER FERNANDES RODRIGUES JÚNIOR ACESSIBILIDADE EM SISTEMAS WEB PARA DEFICIENTES VISUAIS Monografia de Conclusão de Curso apresentada ao Curso de Sistemas de Informação da Universidade Veiga de Almeida, como requisito para obtenção do título de Bacharel. Aprovada em: ____/____/2009. Banca Examinadora: Prof. MATHEUS BOUSQUET BANDINI M.Sc. Sistemas e Computação - IME/RJ. Professor de Sistemas de Informação da Universidade Veiga Almeida. Prof. FÁBIO BARRETO. M.Sc. em Engenharia de Sistemas e Computação – COPPE/URFJ. Professor de Sistemas de Informação da Universidade Veiga Almeida. Profa. MYRNA CECÍLIA MARTINS DOS SANTOS AMORIM. M.Sc. Sistemas e Computação - IME/RJ. Professor de Sistemas de Informação da Universidade Veiga Almeida. Grau: ___________________. 3 Aos meus pais, pela instrução, compreensão e tolerância mesmo em momentos árduos. Por suas ações e caráter honrados, que me ensinam valores para a vida mais que quaisquer palavras poderiam fazê-lo. A minha querida irmã e amiga, por suas virtudes, por todos os momentos valiosos que passamos e por me querer bem acima de todas as circunstâncias. 4 AGRADECIMENTOS A Deus, sobretudo, por sua graça, seu amor e fidelidade, demonstrados repetidamente a mim. A minha família amada, por ser meu sustentáculo a todo instante. Aos amigos Felipe Araújo, Marcelo Soares, Swellen Dezerbelles e Tamiris Nazareth, por todas as consultas gratuitas e conselhos valiosos que me tornaram um profissional e um aluno melhor. A todos os colegas de classe, pela alegria que trouxeram a minha vida durante estes anos e por todos os encontros acadêmicos. Aos professores Fábio Barreto, Glauco Amorim e Myrna Amorim, nossos amados mestres não apenas acadêmicos, mas por merecimento. Nossa classe sempre se espelhou em vocês. Ao meu orientador, Prof. M.Sc. Matheus Bousquet Bandini, que aceitou o desafio mesmo com a limitação do tempo e viabilizou este projeto. Aos estimados revisores Patrícia Corado e Pedro, por seu tempo dedicado. Aos demais amigos conviveram comigo durante aprendizagem e e colegas este contribuíram, indiretamente, para minha formação. ciclo direta que de ou 5 “O poder da Web está em sua universalidade. O acesso feito por qualquer pessoa, independentemente de sua capacidade, é um aspecto essencial.” - Tim Berners-Lee - 6 RESUMO A Internet tornou-se um grande canal de comunicação, aprendizagem, lazer e consumo de produtos e serviços, atendendo tanto a pessoas quanto a empresas. Estas vantagens, disponíveis para a maior parte dos usuários que utilizam a rede mundial de computadores, esbarram em problemas de acessibilidade para aqueles que apresentam algum tipo de deficiência visual. A Internet pode proporcionar a inclusão digital e social a estes deficientes visuais, desde que obtenham acesso pleno à informação e aos serviços disponíveis através da web. Este trabalho apresenta conceitos relacionados à acessibilidade na web, como design universal, tecnologias assistivas e razões para adotá-la. Seu principal objetivo consiste em apresentar diretrizes para o desenvolvimento de sites acessíveis a deficientes visuais e disponibilizar as principais técnicas para que projetistas e desenvolvedores possam aplicá-las. Além de abordar métodos e ferramentas para a avaliação da acessibilidade web, o trabalho também propõe um modelo de site acessível. Palavras-chave: acessibilidade web, diretrizes de acessibilidade web, padrões web, deficientes visuais, inclusão digital. 7 ABSTRACT Internet became a large channel of communication, learning, leisure and consuming of products and services, supporting people and companies. These advantages, available to most part of users that use the Internet, face accessibility issues to those presenting some kind of visual impairment. Internet may provide digital and social inclusion to these visual impaired, since they have full access to information and services available through web. This work presents concepts related with web accessibility, like universal design, assistive technology and reasons to adopt it. The main goal of this work consists in showing guidelines to the development of accessible sites for visual impaired and makes available the main techniques, so designs and developers may apply them. In addition the approach of methods and tools for web accessibility assessments, the work also proposes an accessible site model. Keywords: web accessibility, web accessibility guidelines, web standards, visual impaired, digital inclusion. 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES LISTA DE GRÁFICOS Figura 2.1 - Símbolo utilizado em páginas com acessibilidade. Figura 4.1 - Selos de níveis de conformidade que podem ser obtidos por uma página web. Figura 4.2 - Exemplos das principais declarações de tipo de documento – DTD. Figura 4.3 - Estrutura básica de um documento HTML. Figura 4.4 - Exemplo de como referenciar o CSS em uma página. Figura 4.5 - Exemplo da aplicação de folhas de estilo em Cascata auditivas (Aural). Figura 4.6 - Diferentes tipos de mídia definidos em um mesmo documento de estilo. Figura 4.7 - A cor não deve ser o único elemento para a transmissão de informações. Figura 4.8 - Exemplo de declaração de fontes utilizando CSS. Figura 4.9 - Exemplo de accesskey e tabindex. Figura 4.10 - Uso de acrônimos e abreviações, atrelados a folhas de estilo. Figura 4.11 - Exemplo de citação indireta em texto. Figura 4.12 - Exemplos de definição no texto. Figura 4.13 - Exemplo de uma lista de definições. Figura 4.14 - Definição do conjunto de caracteres utilizado em uma página. Figura 4.15 - Meta dados para links através do atributo title. Figura 4.16 - Exemplo de link estendido ao contexto. Figura 4.17 - Links do tipo âncora. Figura 4.18 - Exemplo de link externo indicado visualmente. Figura 4.20 - Exemplo de imagens sem acessibilidade. Figura 4.19 - Definição do comportamento do link, através de CSS, ao receber o foco. Figura 4.21 - Exemplo do código de uma imagem acessível. Figura 4.22 - Recurso d-link junto à imagem. Figura 4.23 - Exemplo de um mapa de imagem acessível. Figura 4.24 - Comparação entre célula criada com tabela e com o elemento div. Figura 4.25 - Exemplo das propriedades legenda e sumário em tabelas. Figura 4.26 - Exemplo de tabela com áreas de cabeçalho e conteúdo. Figura 4.27 - Exemplo de exibição de tabela em navegador gráfico. Figura 4.28 - Tabela com células de dados associadas aos cabeçalhos correspondentes. Figura 4.29 - Tabela com cabeçalhos de linhas e colunas. Figura 4.30 - Associação de um rótulo a um controle de formulário. Figura 4.31 - Seqüência lógica de tabulação e teclas de atalho em formulários. Figura 4.32 - Agrupamento de informações em formulários. Figura 4.33 - Botões de seleção podem exigir menor precisão. Figura 4.34 - Grupo de controles sem exibição de borda, utilizando CSS. Figura 4.35 - Botões gráficos acessíveis. Figura 4.36 - Script para evitar erro por campos vazios em navegadores antigos. Figura 4.37 - Exemplo de uso da tag noscript. Figura 4.38 - Iniciativa de acessibilidade em ferramentas de autoria, como Adobe Flash. Figura 5.1 - Exemplo de navegador gráfico com imagens desabilitadas. Figura 5.2 - Exemplo de site testado com o simulador Lynx Viewer. Figura 5.3 - Modelo proposto de site acessível – www.acessibilidadeweb.com.br. Figura A.1 – Validação automática de sintaxe (HTML). Figura A.2 – Validação automática de folhas de estilo. Figura A.3 – Avaliação automática de acessibilidade. Figura A.4 – Teste com emulador de navegador textual - Lynx Viewer. 9 Figura A.5 – Teste com Javasript desabilitado. Figura A.6 – Teste com página sem folhas de estilo vinculadas. Figura A.7 - Teste com imagens desabilitadas. Figura A.8 - Simulador Vischeck indicando a visualização de um deficiente com Deuteranopia. Figura A.9 - Simulador Vischeck indicando a visualização de um deficiente com Protanopia. Figura A.10 - Simulador Vischeck indicando a visualização de um deficiente com Tritanopia. 10 LISTA DE TABELAS TABELA A - Tecnologias assistivas para deficientes visuais (DIAS, 2007, p. 121). 11 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS CORDE – Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência CSS – Cascading Style Sheets (Folhas de estilo em cascata) DTD - Document Type Definition (Declaração de Tipo de Documento) E-MAG – Modelo de Acessibilidade de Governo Eletrônico HTML – HyperText Markup Language (Linguagem de marcação de hipertexto) ONG – Organização não governamental TTY – Teletypewriters (dispositivos de telecomunicação para surdos) W3C – World Wide Web Consortium (Consórcio World Wide Web) WAI – Web Accessibility Initiative (Iniciativa para Acessibilidade Web) WCAG – Web Content Accessibility Guidelines (Recomendações para acessibilidade de conteúdo web ) XHTML – Extensible HyperText Markup Language (Linguagem de Marcação de Hipertexto Extensível) XML – Extensible Markup Language (Linguagem de Marcação Extensível) 12 LISTA DE SÍMBOLOS < ... > Símbolo que define uma etiqueta HTML, um código de marcação desta linguagem. 13 SUMÁRIO CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 15 1.1 Considerações iniciais ..................................................................................................... 15 1.2 Questões norteadoras da pesquisa ................................................................................... 16 1.3 Objetivos da pesquisa ...................................................................................................... 17 1.3.1 Objetivos gerais ........................................................................................................ 17 1.3.2 Objetivos específicos ................................................................................................ 17 1.4 Justificativa da investigação ............................................................................................ 18 1.5 Organização do trabalho.................................................................................................. 19 CAPÍTULO 2 ACESSIBILIDADE EM SISTEMAS WEB ............................................... 20 2.1 Design universal e tecnologias assistivas ........................................................................ 20 2.2 Definição de acessibilidade ............................................................................................. 21 2.2.1 Acessibilidade web ................................................................................................... 21 2.2.2 Mitos sobre acessibilidade web................................................................................. 22 2.2.3 Razões para a acessibilidade web ............................................................................. 23 2.2.4 Aspectos legais sobre acessibilidade ........................................................................ 25 2.2.2 Entidades e iniciativas de acessibilidade no Brasil ................................................... 27 CAPÍTULO 3 DEFICIENTES VISUAIS E BARREIRAS NA UTILIZAÇÃO DE SISTEMAS WEB .................................................................................................................... 29 3.1 Deficiências: definições e tipos ....................................................................................... 29 3.2 Deficiências visuais ......................................................................................................... 30 3.3 Tecnologias assistivas para deficientes visuais ............................................................... 32 3.4 Barreiras a acessibilidade ................................................................................................ 33 CAPÍTULO 4 DIRETRIZES E TÉCNICAS PARA SISTEMAS ACESSÍVEIS ............ 36 4.1 Diretrizes para acessibilidade web .................................................................................. 36 4.1.1 World Wide Web Consortium ................................................................................... 36 4.1.2 Recomendações para acessibilidade de conteúdo web ............................................. 37 4.2 Técnicas para acessibilidade web .................................................................................... 42 4.2.1 Declaração e estrutura de documentos ...................................................................... 43 4.2.2 Navegação ................................................................................................................. 45 4.2.3 Folhas de estilo ......................................................................................................... 46 4.2.4 Cores e fontes ............................................................................................................ 49 4.2.5 Navegação pelo teclado ............................................................................................ 52 4.2.6 Textos e links ............................................................................................................ 54 4.2.7 Descrição de imagens ............................................................................................... 59 4.2.8 Tabelas e frames ....................................................................................................... 62 4.2.9 Formulários ............................................................................................................... 68 4.2.10 Scripts, applets e plug-ins ....................................................................................... 71 4.2.11 Animações - tecnologia flash .................................................................................. 73 4.2.12 Multimídia .............................................................................................................. 74 CAPÍTULO 5 AVALIAÇÃO DA ACESSIBILIDADE ..................................................... 76 5.1 Métodos de avaliação ...................................................................................................... 76 5.1.1 Validação automática ................................................................................................ 77 5.1.2 Avaliação humana ..................................................................................................... 78 5.1.3 Testes com usuários .................................................................................................. 81 14 5.2 Modelo proposto de site acessível ................................................................................... 81 5.2.1 Avaliação da acessibilidade no modelo proposto ..................................................... 82 CAPÍTULO 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ....................................................................... 85 6.1 Conclusão ........................................................................................................................ 85 6.2 Trabalhos futuros............................................................................................................. 86 ANEXO A – EXEMPLOS DE TESTES DE ACESSIBILIDADE ..................................... 87 REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 92 15 CAPÍTULO 1 INTRODUÇÃO 1.1 Considerações iniciais Os serviços da Internet concretizaram-se como um forte meio de comunicação – através da troca de mensagens e arquivos via e-mail e conversas em tempo real; aprendizagem – com pesquisas em artigos acadêmicos, enciclopédias e livros eletrônicos; lazer – músicas, vídeos e jogos online; e compra e venda de produtos e serviços. Os benefícios que a web proporciona às empresas também são exponenciais. Devido ao seu grande alcance, o marketing se propaga rapidamente e a abrangência de pessoas e a visibilidade do produto podem ser maiores, se comparados a outros meios de comunicação. Estes serviços estão disponíveis para a maior parte das pessoas que utilizam a rede mundial de computadores, mas não para aqueles que apresentam deficiência visual. Apesar das tecnologias computacionais avançadas disponíveis no mercado, é evidente o descaso quanto às dificuldades que os deficientes visuais enfrentam para acessar páginas web. Basta navegar por algumas páginas para descobrir, em pouco tempo, a variedade de temas, tipos de mídias utilizadas e finalidades a que se propõem os sites. Contudo, a maioria apresenta um ponto em comum: uso extremo de recursos visuais. Ligar o computador, conectar-se a um provedor de Internet, executar um programa de navegação, pagar contas e realizar compras online parecem ações simples, quando se pode enxergar. Entretanto, a realidade que pode ser observada é que os sites não possuem estrutura adequada para receber usuários com deficiência visual. Para este grupo de pessoas, navegar pela Internet ocorre de um modo diferente. Há aqueles que possuem baixo grau de visão e necessitam que os sites apresentem flexibilidade para aumentar o tamanho das letras. Outros encaram dificuldades relacionadas às cores, como os daltônicos, cuja necessidade é o alto contraste de cores – como preto e branco. Existem, ainda, os cegos. Para estes, as diferenças começam já nos softwares utilizados, onde o áudio é predominante. Programas sintetizadores de voz fazem a leitura de documentos, em substituição a um navegador comum com interface gráfica rica. O mouse normalmente não é utilizado, por ser um recurso que interage estritamente com a visão. Os comandos são realizados através do teclado. Outras barreiras se levantam, tratando-se usuários completamente sem visão: imagens que não possuem uma descrição textual alternativa, vídeos que não possuem narração, tabelas 16 que não fazem sentido quando lidas célula por célula ou em modo linearizado e ausência, nas páginas, de atalhos para o teclado do computador. Este é um público-alvo considerável, que não pode ser excluído da rede virtual. Chak (2004, p. 2) reforça a importância de um site de fácil acesso e que possa ser utilizado por todos: “Se os usuários não podem navegar e encontrar os itens, eles não podem comprá-los”. Um levantamento realizado com mais de seiscentos profissionais da web mostrou que apenas 19,9% consideram a acessibilidade em seus projetos (FREIRE, 2008). Para profissionais que produzem conteúdo para a web, não conhecer a maneira como as pessoas com deficiência acessam a Internet, o modo como navegam ou como funcionam os programas específicos é garantia de um site com páginas mal estruturadas e, conseqüentemente, inacessíveis. Soluções existentes para estes problemas devem ser apontadas. Para o escopo da deficiência visual, existe uma série de técnicas que devem ser aplicadas ao código das páginas para possibilitar ou facilitar o entendimento de seu conteúdo. No Brasil, instituições governamentais, ONGs (Organizações não governamentais) e entidades sem fins lucrativos atuam na conscientização e em projetos que garantam acessibilidade em páginas web. Existe material didático de referência sobre o assunto, abordado nos capítulos 4 e 5, como livros na língua inglesa e cartilhas em português, além de serviços online que avaliam automaticamente o código de sites no quesito acessibilidade, representando, ainda que imperfeitos, uma excelente alternativa de validação. Não basta uma leitura superficial sobre o tema na tentativa de se obter resultados imediatos. É possível acreditar que se conhece o suficiente para desenvolver projetos web com acessibilidade e estar enganado. Para que se garanta sites realmente acessíveis, é preciso testar as técnicas aplicadas, incansavelmente. 1.2 Questões norteadoras da pesquisa Tendo em vista o crescente número de profissionais sem o conhecimento das técnicas padronizadas para tornar sites acessíveis, o modo e os programas utilizados pelos deficientes visuais para se navegar, além das fontes existentes de pesquisa, o quadro apresentado atualmente na web é composto de páginas que excluem um grande número de usuários cuja visão não pode ser utilizada total ou parcialmente. Devido a esta realidade, a questão primordial a ser respondida na monografia aqui proposta é: como desenvolver sites realmente acessíveis para deficientes visuais? 17 Para responder a esta indagação é preciso atentar para outros questionamentos, tais quais: a) Em que consiste a acessibilidade na web e quais as razões para aplicá-la? b) Quais as barreiras encontradas pelos deficientes visuais no acesso e utilização de sites? c) Quais diretrizes e técnicas devem ser observadas no desenvolvimento de sites acessíveis? d) Como avaliar e assegurar que um site seja realmente acessível? 1.3 Objetivos da pesquisa 1.3.1 Objetivos gerais Este trabalho propõe expor as dificuldades enfrentadas pelos deficientes visuais na utilização de sistemas na Internet, bem como demonstrar aos profissionais da web, através de conceitos, técnicas e modelos, as diretrizes necessárias para o desenvolvimento de páginas acessíveis a estes deficientes, proporcionando assim uma agregação desse público e também novas perspectivas de possíveis negócios. 1.3.2 Objetivos específicos Para que os objetivos gerais sejam alcançados, é necessário: a) Alcançar a compreensão do termo “acessibilidade”. A proposta aqui explorada busca definir o que representa a acessibilidade web para o escopo da deficiência visual, as razões para adotá-la e, em paralelo, apresentar leis e entidades vinculadas ao assunto; b) Efetuar o levantamento das reais necessidades de navegação dos deficientes visuais. O objetivo aqui é retratar as barreiras faceadas em sites não acessíveis e abordar tecnologias assistivas disponíveis que possibilitam a navegação; c) Oferecer material para o preparo e conhecimento dos profissionais sobre o uso das técnicas voltadas para a acessibilidade. Muitos profissionais não detêm o devido conhecimento das diretrizes existentes para desenvolvimento de sistemas web acessíveis ou não se encontram suficientemente estimulados para 18 utilizá-las. O objetivo aqui a ser alcançado é abordar as diretrizes por meio de técnicas que exemplificam sua aplicabilidade; d) Determinar como se dá a avaliação de sites acessíveis. Serão estudados métodos para a avaliação de sites, além da disponibilização de um modelo genérico de site seguindo os padrões apresentados durante o desenvolvimento desta pesquisa. 1.4 Justificativa da investigação Esta pesquisa justifica-se por meio de diversos aspectos, abrangendo o cunho social, cultural, mercadológico, acadêmico e legislativo, como descritos a seguir: Socio-cultural. Neste âmbito, a pesquisa é justificada pela necessidade de disseminar uma nova cultura entre desenvolvedores de sistemas web – a cultura de criar sites acessíveis. Existem mitos a serem desfeitos, como os que argumentam que um “site acessível implica em baixa qualidade visual” ou “site acessível defasa a usabilidade”. Em adição, é necessário semear a inclusão digital, para que deficientes visuais tenham acesso pleno a toda informação disponível na Internet, direito de todo cidadão. Mercadológico. Grande parte dos profissionais encontra-se despreparada para uma nova e crescente demanda por sites acessíveis. Conhecer superficialmente, desconhecer ou não ter interesse no assunto são justificativas comumente encontradas. No entanto, é preciso atentar ao público com limitações visuais, que é notoriamente expressivo. Acadêmico. A relevância da pesquisa sob este ângulo reside na escassez de material didático disponível na língua portuguesa com o teor prático oferecido neste projeto. São raras as fontes de pesquisa que concentram, de forma profunda e objetiva, barreiras de utilização e tecnologias assistivas para deficientes visuais e, ao mesmo tempo, diretrizes e exemplos de código para desenvolvedores. Portanto este estudo justifica-se neste aspecto por proporcionar material didático para futuras pesquisas na área. Legislação: No Brasil e em diversos países já existem leis que obrigam os sites governamentais a se apresentarem de forma acessível, apesar de muitos não seguirem ainda a regulamentação. Teoricamente, esta iniciativa tende a se alastrar. Não é difícil prever, a curto ou médio prazo, leis que requeiram acessibilidade em sites institucionais. Portanto a pesquisa justifica-se por fornecer meios para que profissionais desenvolvam sites em concordância com o legislativo. 19 1.5 Organização do trabalho Este trabalho de pesquisa está organizado do seguinte modo: no capítulo 2 são apresentados conceitos relacionados à acessibilidade na web, como design universal e tecnologias assistivas, bem como aspectos sobre a própria acessibilidade, como mitos, razões para adotá-la, legislações, entidades e suas iniciativas. No capítulo 3 são explanadas as deficiências visuais, barreiras de acesso e utilização de páginas web e tecnologias de apoio. No capítulo 4 são apresentadas diretrizes para sites acessíveis e as principais técnicas para aplicá-las. O capítulo 5 aborda métodos e ferramentas para a avaliação da acessibilidade e propõe modelo de site acessível. Finalmente, no capítulo 6, são apresentadas as principais conclusões para esta pesquisa e apontamentos para trabalhos futuros. 20 CAPÍTULO 2 ACESSIBILIDADE EM SISTEMAS WEB A definição do conceito de acessibilidade web requer, igualitariamente, a compreensão de termos afins como design universal e tecnologias assistivas, descritos a seguir, bem como a ciência da legislação que incide sobre o tema e as razões pelas quais adotá-lo. Neste capítulo, alguns mitos sobre a acessibilidade web serão desfeitos e algumas iniciativas concomitantes serão apontadas. 2.1 Design universal e tecnologias assistivas Para atender a pessoas com diferentes habilidades ou necessidades é preciso desenvolver páginas baseadas nos princípios do design universal. Design ou desenho universal, ou ainda design para todos, compreende um conceito amplo que abrange várias áreas acadêmicas e profissionais, e recentemente passou a ser utilizado também em informática. O termo “[...] refere-se à tecnologia desenvolvida de maneira que seja flexível o suficiente para acomodar as diversas habilidades humanas sem sacrificar a estética, a eficácia, ou o custo” (FREIRE, 2008, p. 8). Segundo o Centro para Design Universal, da Universidade Estadual da Carolina do Norte (North Carolina State University, The Center for Universal Design), Estados Unidos, os princípios de design universal são: uso equitativo, flexibilidade de uso, uso simples e intuitivo, informação perceptível, tolerância a erros, baixo esforço físico e tamanho e espaço para aproximação e uso (THE PRINCIPLES, 1997). Projetar um produto tendo em mente a universalidade torna seu uso mais fácil para qualquer pessoa, e resulta em maior aceitação do mesmo. Para Dias (2007, p. 104), o design universal tem geralmente seu foco em dois aspectos principais: Desenvolver produtos comerciais flexíveis o suficiente para serem diretamente utilizados [...] por pessoas com diversas habilidades e sob diversas circunstâncias, aplicando materiais, tecnologias e conhecimentos atuais. Desenvolver produtos compatíveis com tecnologias assistivas que possam ser usados por aqueles que não sejam capazes de acessá-los e usá-los diretamente de maneira eficiente. Tecnologias assistivas são recursos ou serviços os quais possibilitam ou facilitam a execução de atividades que pessoas com alguma espécie de deficiência ou limitação não 21 poderiam realizar por si só, promovendo independência e inclusão. Estas tecnologias têm como objetivo assistir pessoas em atividades das mais variadas naturezas, seja no trabalho, estudo, diversão, acesso a informações, comunicação e até mesmo em atos primordiais, como andar ou ouvir. Por recursos, compreende-se que sejam produtos, equipamentos e sistemas cujo uso auxilia as capacidades funcionais de deficientes, enquanto os serviços auxiliam as pessoas a terem acesso a estes produtos (ASSISTIVA, 2009). Uma tecnologia assistiva pode ser definida, ainda, como “Ferramenta ou recurso utilizado com a finalidade de proporcionar uma maior independência e autonomia à pessoa com deficiência” (SERPRO, 2008). Alguns sinônimos podem ser encontrados, como tecnologia de apoio ou adaptativa. A despeito do conceito de tecnologias de apoio ser amplamente empregado na área da computação, dispositivos apontadores especiais, terminais em Braille, sintetizadores de voz e leitores de tela não são uma exclusividade. Igualmente classificáveis, constituem ótimos exemplos: bengalas, óculos, cadeiras de rodas ou rampas de acesso. 2.2 Definição de acessibilidade Enquanto o design universal aborda a idéia de projetar para todas as pessoas, existe seu subconjunto que trata especificamente do acesso: a acessibilidade. O termo acessível, na língua portuguesa, significa “de acesso fácil” e “inteligível, compreensível” (FERREIRA, 2009, p. 10). E, na web, não poderia ser de outra forma. A Word Wide Web ou meramente web é um serviço da Internet que tem por natureza a disponibilização, o compartilhamento de informações. O conceito inicial é justamente o oposto de restrição. Para Tim Berners-Lee, diretor do World Wide Web Consortium (W3C), “o poder da web está em sua universalidade. Ser acessada por todos, independente de deficiência, é um aspecto essencial” (SERPRO, 2008). 2.2.1 Acessibilidade web A acessibilidade na web consiste em desenvolver sistemas online ou sites que possibilitem aos usuários, deficientes ou não, a obtenção de informações, produtos e serviços desejados, com ou sem auxílio de tecnologia de apoio, onde quer que estejam e a qualquer momento. Eis uma excelente definição de acessibilidade na web (SERPRO, 2008): 22 Acessibilidade na Internet ou acessibilidade na web significa permitir o acesso à web por todos, independente de tipo de usuário, situação ou ferramenta. É criar ou tornar as ferramentas e páginas web acessíveis a um maior número de usuários, inclusive pessoas com deficiências. A acessibilidade na web beneficia também pessoas idosas, usuários de navegadores alternativos, usuários de tecnologia assistiva e de acesso móvel. Apesar de o termo englobar a idéia de acesso à Internet por dispositivos móveis, a acessibilidade na web está, normalmente, atrelada a idéia de permitir o acesso de usuários deficientes, com alguma espécie de limitação ou incapacidade. A seguir é apresentado o símbolo de acesso a web1, utilizado em páginas nas quais foram aplicadas técnicas de acessibilidade a usuários deficientes. Figura 2.1 - Símbolo utilizado em páginas com acessibilidade. A acessibilidade é, por definição, um subconjunto de usabilidade. Usabilidade é a prática de desenhar sites de modo que os usuários possam realizar as tarefas desejadas sem impedimentos indevidos. Portanto, existe uma ligação clara entre usabilidade e acessibilidade. A primeira trata da facilidade de navegação e execução de tarefas e a segunda trata, geralmente, de auxiliar o acesso de usuários deficientes. Um site pode oferecer usabilidade sem, contudo, ser acessível. O oposto também é verídico (CLARK, 2002a). 2.2.2 Mitos sobre acessibilidade web Segundo Dias (2007), para os que não dominam o assunto, existem conceitos errôneos a serem desmistificados, tais como: Site acessível implica em baixa qualidade visual – contudo, as recomendações sobre acessibilidade não limitam a parte gráfica ou multimídia do projeto. O 1 Símbolo disponível para download em: http://ncam.wgbh.org/webaccess/symbolwinner.html. 23 oposto é verdade, pois a acessibilidade melhora os resultados e permite seu uso por tecnologias avançadas. Deficientes não usam a web – os projetistas que alegam conhecer bem seus clientes talvez nunca tenham realizado pesquisas para avaliar a satisfação ou descobrir quais são deficientes. É possível que os deficientes realmente não visitem seus sites justamente por não serem acessíveis. A acessibilidade na web é algo complexo para o projetista mediano – não é necessário conhecer a fundo HTML (HyperText Markup Language) ou folhas de estilo para desenvolver páginas acessíveis. Ao fazê-lo, porém, o projetista aprende como realmente a web funciona, e seu real papel para a sociedade. É caro e demorado projetar páginas web acessíveis – desde que a preocupação com acessibilidade ocorra já no início do projeto, o custo para implementar acessibilidade é praticamente nulo. E o tempo gasto não é em vão. Pode-se comparar estes cuidados com a revisão gramatical e ortográfica de um livro, por exemplo. Para Spelta (2009), psicóloga, programadora, analista, cega e uma das autoridades em acessibilidade no Brasil, além destes mitos, há outra convicção equivocada: “meu site é direcionado a um público específico; ele não interessa a todos os grupos de usuários”. Um sistema ou página web implementado sob este princípio é potencialmente não acessível. Ela ressalva, ainda: “quando restringimos o acesso do nosso site ao que julgamos serem as características do seu público alvo, estamos, na prática, usando a Internet para limitar o nosso público, ao invés de ampliá-lo”. Páginas web inacessíveis produzem um efeito negativo persistente, uma vez que potenciais clientes, não encontrando acessibilidade, tendem a não retornar. E aos que acreditam que a acessibilidade traz melhorias apenas para deficientes, Krug (2008, p. 174) destaca: se “tornar sites acessíveis os deixa mais usáveis por todos”, o contrário também é verdade: “tornar os sites mais usáveis para o „resto de nós‟ é uma das formas mais eficazes de torná-los mais eficazes para pessoas com deficiências”. 2.2.3 Razões para a acessibilidade web Projetistas e desenvolvedores, em especial, temem ter mais trabalho, ou que o projeto possa ser comprometido pela aplicação da acessibilidade. A verdade, entretanto, é que as razões para adotar a acessibilidade são inúmeras e irrefutáveis. 24 A acessibilidade ajuda a garantir igualdade de direitos e cidadania. Promove independência, melhoria na qualidade de vida, inclusão social e digital de pessoas com deficiências visuais, ao permitir acesso igualitário a informações. Queiroz (2006a) assegura: ...Se, enfim, conseguissem utilizar de todas as facilidades que a Internet, especialmente a web, oferece à maioria de seus usuários, essas pessoas estariam cada vez menos limitadas. A tecnologia da web não seria mais uma barreira a ser transposta mas, ao contrário, um veículo de transposição de barreiras e melhora da qualidade de vida. Contudo, acessibilidade não é mero altruísmo. E todos estão sujeitos a acidentes e aos efeitos do envelhecimento, e possíveis deficiências que estes possam acarretar. A acessibilidade agrega valor ao site, enfatiza Clark (2002b), constituindo mais um atributo a ser anexado ao projeto no momento da venda. Ao criar sites em conformidade com os padrões web, projetistas e desenvolvedores demonstram maturidade profissional e social, adicionando redundâncias benéficas – como um texto que descreve uma imagem. O resultado são páginas ricas em conteúdo. O profissional da web desenha sites para pessoas diferentes de si, que usam diferentes tecnologias e possuem preferências e necessidades distintas. Para Bruno Torres, Coordenador de Marketing Online do Universo Online (UOL), o maior beneficiado com um site acessível é o próprio proprietário do site, devido à maximização da exposição de seu produto ou serviço: “acessibilidade é, antes de qualquer coisa, inteligência e visão de mercado” (TORRES, 2006). Dados publicados pela Organização Mundial de Saúde (World Health Organization, WHO) mostram que o número de pessoas com deficiência visual em todo o mundo em 2002 havia excedido 161 milhões, dos quais 37 milhões eram cegos (WHO, 2004). De acordo com o levantamento de dados realizado no último censo pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2000, 14,5% da população brasileira era portava uma das deficiências investigadas pela pesquisa. O censo revelou, também, que em 2000 havia 148 mil brasileiros cegos e 2,4 milhões com grande dificuldade para enxergar, e que 29,5% dos portadores de deficiência ocupados tinham rendimento de até um salário mínimo (IBGE, 2000). Além de configurar enorme público potencial, consumidores deficientes são assíduos e fiéis quando encontram um site acessível – justamente pelas dificuldades faceadas ao utilizarem meios tradicionais para, por exemplo, fazer compras (SPELTA, 2007a). Suas aquisições podem ser para uso pessoal ou de terceiros. Nada deveria impedir um deficiente visual de obter um livro, ainda que não em Braille, para presentear alguém. 25 Existem várias vertentes de conhecimento requeridas de projetistas e desenvolvedores web para se atingir o objetivo de criar sistemas acessíveis. Os requisitos são completamente tangíveis, porém, aprofundar-se neste contexto requer motivação. Ademais, argumentos como código padronizado, informação organizada de forma mais objetiva, abertura para novos públicos-alvo, e maior visibilidade e otimização do produto pelos robôs de busca são apenas alguns dos incentivos que se somam aos argumentos apresentados anteriormente para convencer o profissional a abraçar a acessibilidade. Segundo pesquisa com usuários realizada nos Estados Unidos e no Japão, sites que permitem a navegação de usuários deficientes (cegos, com baixo grau de visão ou dificuldades motoras) tornam-se três vezes mais fáceis de serem utilizados por usuários sem deficiência (NIELSEN, 2001). Estima-se que 68% dos que usuários abandonam um site o fazem por não encontrar a informação solicitada (RIBEIRO, p. 32). Outros fatores técnicos favoráveis podem ser destacados, tratando-se de páginas web acessíveis: custo mínimo, otimização e acesso por dispositivos móveis (DIAS, 2007, p. 134). Custo mínimo. Desde que as recomendações para design acessível sejam aplicadas desde o início do projeto, o aumento no custo de produção de sistemas ou sites web é mínimo. Otimização. Páginas web com acessibilidade tendem a fornecer melhores resultados em mecanismos de buscas, permitindo que usuários as encontrem com maior facilidade, visto que tais mecanismos indexam apenas texto (imagens e arquivos multimídias são indexados apenas quando oferecem equivalentes textuais). Neste contexto, servidores web que hospedam páginas acessíveis tornam-se mais eficientes, pois os usuários requisitam menos recursos ao encontrar, com mais facilidade, os dados desejados. Acesso por dispositivos móveis. Esta é uma preocupação crescente entre profissionais web. Aplicar as normas de acessibilidade faz com que o site possa ser acessado por dispositivos móveis, que possuem tecnologias modernas, como telefones celulares com navegação na Internet, televisão, e automóveis. Krug (2008, p. 171) ressalta: “é verdadeiramente a coisa certa a fazer”, e conclui: “e para aqueles de vocês que não acharem este argumento atrativo, estejam cientes de que haverá uma obrigação legislativa mais cedo ou mais tarde. Contem com isso”. 2.2.4 Aspectos legais sobre acessibilidade Diretrizes de acessibilidade na web, sob o aspecto legal, já podem ser encontradas em alguns países, como Austrália, Canadá e Estados Unidos. Agências e departamentos do 26 governo australiano são obrigados pelo Ato de Discriminação de Deficientes de 1992 (Disability Discrimination Act 1992) a assegurar que serviços e informações online sejam acessíveis a pessoas com deficiências (ACCESSIBILITY, 2009). O governo canadense disponibiliza, em seu web site, diretrizes para acessibilidade, interoperabilidade e usabilidade (COMMON, 2006). Nos Estados Unidos, o governo estabeleceu, em 1998, a “Seção 508” (Section 508), uma emenda do Ato de Reabilitação (Rehabilitation Act) que obriga agências federais a tornar acessível a pessoas deficientes sua tecnologia eletrônica e de informação. O mesmo é exigido para se realizar negócios com o governo americano. A lei almeja eliminar barreiras em tecnologia da informação, a fim de possibilitar novas oportunidades para pessoas com deficiência e encorajar o desenvolvimento de tecnologias que auxiliarão nestes objetivos. De acordo com a mesma lei, tecnologia inacessível interfere na habilidade individual de se obter e usar informação rápida e facilmente (508, 1998). O governo americano reuniu, ainda, um conjunto de leis para formar o American with Disabilities Act (ADA), que regula os direitos dos cidadãos com deficiência naquele país, e lançou padrões para design acessível - ADA Standards For Accessible Design (ESTADOS, 2003). É possível, ainda, encontrar as diretrizes irlandesas para acessibilidade, desenvolvidas pelo Centro para Excelência em Design Universal (WEB, 2009), traduzidas para a língua portuguesa (QUEIROZ, 2006b). No Brasil vigora a Lei 7.853, de 24 de outubro de 1989, que trata das “normas gerais que asseguram o pleno exercício dos direitos individuais e sociais das pessoas portadoras de deficiências, e sua efetiva integração social” e institui responsabilidades para a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência – CORDE, entre as quais se encontram o dever de “coordenar as ações governamentais e medidas que se refiram às pessoas portadoras de deficiência” e ainda “manter, com os Estados, Municípios, Territórios, o Distrito Federal, e o Ministério Público, estreito relacionamento, objetivando a concorrência de ações destinadas à integração social das pessoas portadoras de deficiência” (BRASIL, 1989). Para promover acessibilidade nos sistemas de comunicação, a Lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000, deixou a cargo do Ministério Público o dever de promover “a eliminação de barreiras na comunicação” e estabelecer “mecanismos e alternativas técnicas que tornem acessíveis os sistemas de comunicação e sinalização às pessoas portadoras de deficiência sensorial e com dificuldade de comunicação”. A Lei garantiu ainda “o direito de acesso à 27 informação, à comunicação, ao trabalho, à educação, ao transporte, à cultura, ao esporte e ao lazer” (BRASIL, 2000). Em 2 de dezembro de 2004 foi publicado o Decreto 5.296, que obrigou, num prazo de doze meses a contar da data de publicação, a acessibilidade em portais e sítios eletrônicos da administração pública na Internet para deficientes visuais, e garante o “pleno acesso às informações disponíveis” (BRASIL, 2004). A determinação abrangeu igualmente portais e sítios de grande porte, exceto se demonstrada alguma inviabilidade para seu cumprimento. O governo brasileiro lançou, em 14 de dezembro de 2005, a versão revisada do Modelo de Acessibilidade de Governo Eletrônico (E-MAG), uma cartilha com recomendações padronizadas para implementação da acessibilidade na web. O E-MAG é coerente com as necessidades brasileiras e em conformidade com os padrões internacionais, e a observância de seus padrões é obrigatória em sítios e portais do governo brasileiro (E-MAG, 2007). 2.2.2 Entidades e iniciativas de acessibilidade no Brasil No Brasil, diversas entidades atuam na conscientização e em projetos que garantam aos deficientes visuais o acesso à Internet. Entre as organizações não governamentais, destacam-se a Acessibilidade Brasil e o Acesso Digital. Acessibilidade Brasil2, também denominada Acesso Brasil, é uma entidade sem fins lucrativos, que tem como missão a disseminação dos princípios de acessibilidade, na área digital, visando à inclusão social e econômica de pessoas com deficiência, idosos e pessoas com baixa escolaridade. Entre suas inúmeras ações, está o desenvolvimento do site atual do Instituto Benjamin Constant, acessível a deficientes visuais. O Acesso Digital3 é uma organização não governamental que reúne um experiente grupo de especialistas em acessibilidade, design, padrões web, usabilidade e tecnologias assistivas. Além de vários artigos e cursos de capacitação sobre acessibilidade, também oferece serviços de avaliação, adequação e desenvolvimento de web sites acessíveis e consultoria. Na área acadêmica, podem ser destacados os projetos de acessibilidade do Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NCE/UFRJ)4. Em meio a 2 Acessibilidade Brasil - http://www.acessobrasil.org.br/ Acesso Digital - http://www.acessodigital.net/ 4 NCE/UFRJ - http://intervox.nce.ufrj.br/ 3 28 outros projetos, encontra-se o sistema operacional para microcomputadores DOSVOX, destinado a cegos. Outra pesquisa significante é o Guia de Referência em Acessibilidade Web5, da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro – UNIRIO, o qual reúne uma coleção de links para sites, projetos e documentos que tratam de acessibilidade na web. Dentre as ações governamentais, pode-se encontrar o Instituto Benjamin Constant (IBC)6, ligado ao Ministério da Educação, o qual constituiu-se como um centro de referência, a nível nacional, para questões da deficiência visual. Seus esforços são direcionados para a educação e profissionalização de deficientes visuais, além da realização de projetos sociais, publicações científicas e em Braille. O Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO) é uma empresa pública, vinculada ao Ministério da Fazenda, que, entre outras iniciativas, desenvolve projetos e programas que contemplem as questões sociais de acessibilidade e inclusão digital, e apóia as políticas do governo federal. Em seu sítio eletrônico7, há uma sessão que trata exclusivamente da acessibilidade. 5 Guia de Referência UNIRIO - http://www.acessibilidadelegal.com/13-guia.php. IBC - http://www.ibc.gov.br/. 7 SERPRO – Acessibilidade na web: http://www.serpro.gov.br/acessibilidade/. 6 29 CAPÍTULO 3 DEFICIENTES VISUAIS E BARREIRAS NA UTILIZAÇÃO DE SISTEMAS WEB Para qualquer aspecto que configure motivação para a acessibilidade – obrigação legal, razões comerciais, razões técnicas ou mera decência humana – será necessário, primeiro, a compreensão das diferentes deficiências e o estudo das barreiras faceadas recorrentemente por portadores de necessidades especiais ao navegarem na web, bem como tecnologias assistivas existentes que ajudem a transpor tais barreiras. Dentre os vários tipos de deficiências existentes, este trabalho tem seu foco voltado à deficiência visual. 3.1 Deficiências: definições e tipos A utilização dos termos “deficiente” ou “portador de necessidades especiais” pode ser confusa, ou errônea, dada a falta de observância de suas definições. Não é toda dificuldade que pode ser considerada deficiência. Ela deve estar associada a alguma limitação para a execução de atividades essenciais da vida cotidiana, como locomoção ou leitura. Ainda sobre o termo, Spelta (2007b) acrescenta que “a deficiência e o seu grau de severidade dependem das atividades e dos recursos disponíveis em cada cultura. Os testes para avaliar uma deficiência visual, por exemplo, consideram o melhor olho, após a aplicação da melhor correção óptica possível”. Para esclarecer conceitos de saúde e deficiência, a Organização Mundial de Saúde publicou, em 2001, a Classificação Internacional de Funcionalidades - CIF (International Classification of Functioning, Disability and Health - ICF). A CIF diferencia os conceitos de “deficiência” (impairment), “incapacidade” (disability) e “desvantagem” (handicap). A deficiência pode gerar uma incapacidade que pode acarretar uma desvantagem, de acordo com o contexto social. A definição de “pessoa deficiente”, segundo a ONU - Organização das Nações Unidas - (apud ACESSIBILIDADE, 2004, p. 15) é: “qualquer pessoa incapaz de assegurar por si mesma, total ou parcialmente, as necessidades de uma vida individual ou social normal, em decorrência de uma deficiência congênita ou não, em suas capacidades físicas, sensoriais ou mentais”. As definições utilizadas no Brasil para a diferenciação entre os conceitos de deficiência, incapacidade ou desvantagem, segundo a CORDE, são: 30 Deficiência: “toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função psicológica, fisiológica ou anatômica” (apud ACESSIBILIDADE, 2004, p. 20). Incapacidade: “toda restrição ou falta (devido a uma deficiência) da capacidade de realizar uma atividade na forma ou na medida em que se considera normal a um ser humano” (apud ACESSIBILIDADE, 2004, p. 20). Desvantagem: “em conseqüência de uma deficiência ou de uma incapacidade, que limita ou impede o desempenho de um papel que é normal em seu caso (em função de idade, sexo e fatores sociais e culturais)”, (apud ACESSIBILIDADE, 2004, p. 20). Deficiências podem surgir das mais variadas naturezas, acarretando problemas motores, cognitivos, mentais, de linguagem, auditivos, visuais ou múltiplos. Sobre o modo como as deficiências afetam a navegação na Internet, Nielsen (2000, p. 298) esclarece: O conceito de deficiência precisa ser definido de forma relativamente ampla quando se fala da Web. Não se trata da pessoa usar uma cadeira de rodas; na verdade, muitos usuários em cadeiras de rodas não precisam de considerações especiais quando pesquisam a Web. A questão é se o usuário tem algum problema que dificulta o uso de dispositivos de entrada e saída tradicionais. Ainda segundo Nielsen (2000, p. 302), “os problemas de acessibilidade mais sérios dado o atual estado da Web, relacionam-se a usuários cegos e a usuários com outras deficiências visuais, posto que a Web é altamente visual”. 3.2 Deficiências visuais A deficiência visual constitui diminuição ou perda de capacidade visual, em ambos os olhos, de modo irreversível, a qual não pode ser atenuada ou retificada com o uso de lentes, tratamento clínico ou cirúrgico. A deficiência visual pode ser desencadeada acidentalmente, por razão inata ou hereditária. O decreto nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004, define deficiência visual: Cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos 31 for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores; Para acessar a web, usuários cegos geralmente utilizam, em lugar de um navegador comum – com interface gráfica, navegadores textuais juntamente com um programa leitor de telas, que realiza a leitura em voz alta através de um sintetizador de voz. Existe, ainda, outra problemática denominada visão subnormal, “cujos limites variam com outros fatores, tais como: fusão, visão cromática, adaptação ao claro e escuro, sensibilidades a contrastes, etc.” (IBC, 2009). Usuários que apresentam baixa visão, ou visão subnormal, conseguem enxergar, porém possuem este sentido drasticamente reduzido. Estes usuários geralmente necessitam de tamanhos maiores de fontes (letras) para ver - ainda que com dificuldade -, ou do aumento da tela via software ou hardware. Entretanto, podem facilmente se perder por visualizarem na tela apenas uma pequena parte do conteúdo da página. Além de usuários com visão reduzida, os daltônicos apresentam dificuldade para distinguir cores. Por esta razão, é aconselhável evitar fundos com textura que interfiram na leitura e páginas com certas combinações de cores entre primeiro e segundo plano, se não apresentarem alto contraste. Do mesmo modo, a cor não deve ser o único ou principal elemento a transmitir uma informação. Apontadas por Clark (2002c), a seguir, os tipos mais comuns de daltonismo (ou “cegueira de cor”): Protanopia: Os receptores de cor nos olhos (cones) não podem distinguir vermelhos e verdes. Vermelhos, além disso, aparentam ser algo escuro. As cores vermelho e preto podem parecer as mesmas, se o vermelho for suficientemente escuro. Semelhante ao primeiro caso, pessoas com protanomalia conseguem distinguir entre vermelhos e verdes, porém os resultados são parecidos. Na verdade, eles conseguem somente perceber que cores diferentes estão presentes. Deuteranopia: Pessoas que também não conseguem distinguir vermelhos e verdes. A diferença é que onde há vermelho, a cor não é percebida como algo escuro. É a forma mais encontrada de cegueira de cor. A deuteranomalia possibilita a distinção precisa entre vermelhos e verdes, ainda que não permita enxergar como uma pessoa sem esta deficiência. Outra categoria, rara, é a tritanopia, que é a insensibilidade envolvendo as ondas curtas (azuis). Verdes e azuis podem ser confundidos. 32 3.3 Tecnologias assistivas para deficientes visuais As diferenças para a navegação na Internet começam já nos softwares utilizados pelos deficientes, onde o áudio é predominante. Para usuários com baixo grau de visão, programas especiais podem aumentar a tela. Para usuários cegos, programas sintetizadores de voz fazem leitura de documentos. O mouse normalmente não é utilizado, por ser um recurso apenas visual. Os comandos são realizados através do teclado. A principal forma para ir de uma página a outra é através do conjunto de teclas TAB - cuja função, dentre outras, é saltar de link em link - e ENTER – que, ao ser pressionado, ativa o link e muda para a página especificada. Também existem teclas de atalhos que podem ser especificadas em cada site, mas geralmente não são utilizadas. Para usuários cegos, existem sistemas operacionais completos – para computadores – adequados à sua realidade, que trazem consigo uma gama de aplicativos com diversas funções: leitores de texto, comunicadores instantâneos, navegadores para Internet, reprodutores de áudio, entre outros. Um dos sistemas operacionais mais conhecidos é o DOSVOX, que foi desenvolvido utilizando tecnologia totalmente brasileira, pelo Núcleo de Computação Eletrônica da Universidade Federal do Rio de Janeiro (NCE - UFRJ). Segundo Antonio José Borges, professor do Núcleo, “O sistema operacional DOSVOX permite que pessoas cegas utilizem um microcomputador comum (PC) para desempenhar uma série de tarefas, adquirindo assim um nível alto de independência no estudo e no trabalho” (BORGES, 2008). A seguir, é apresentado o quadro com as tecnologias assistivas mais comuns empregadas por usuários deficientes visuais no uso de computadores (DIAS 2007, p. 121): Tecnologias Assistivas Funcionalidade Proporcionada Software leitor de tela Permite ao usuário navegar por janelas, menus e controles enquanto recebe informações textuais e gráficas (com certas limitações). Esse software interpreta o que é apresentado na tela e o direciona a um sintetizador de voz (saída em áudio), ou monitor em Braille (saída táctil). Imagens sem texto equivalente alternativo associado não são lidas por esse software. Alguns leitores de tela não conseguem distinguir colunas, tabelas, frames, e lêem páginas 33 web horizontalmente, misturando textos, imagens e links. Monitor Braille Apresenta, linha a linha, o texto que aparece na tela, usando uma série de pinos em forma de símbolos Braille que são constantemente atualizados (abaixados ou levantados) à medida que o usuário navega pela interface. Tradutor de texto em Traduz texto eletrônico, gerado por software leitor de tela ou voz navegador textual, em texto falado por meio de um sintetizador de voz. Navegador Web textual Navegador web, como alternativa aos navegadores de interface gráfica, que pode ser utilizado em conjunto com software leitor de tela para auxiliar pessoas cegas. Também é usado por pessoas com conexões de baixo desempenho ou que não queiram aguardar pelo download de imagens. Ampliador de tela Provê o aumento de uma porção ou de toda a tela, incluindo textos, gráficos e janelas, permitindo, ao usuário, acompanhar o foco de entrada. Tabela A - Tecnologias assistivas para deficientes visuais (DIAS 2007, p. 121). 3.4 Barreiras a acessibilidade Acessar informações de forma online, para deficientes visuais, implica em muitas vantagens em comparação a informações impressas. Com um computador e acesso a Internet, usuários deficientes são estimulados a realizar tarefas que seriam difíceis através de outras tecnologias. Para que este acesso online ocorra, entretanto, é necessário eliminar obstáculos a acessibilidade. Os obstáculos a acessibilidade podem ser categorizados em diferentes áreas, abrangendo: barreiras urbanísticas, nas edificações, nos transportes e nas comunicações e informações. Os entraves para a acessibilidade na web se enquadram entre as “barreiras nas comunicações e informações”, definidas pelo Decreto de Lei nº 5.296 (BRASIL, 2004a), da seguinte forma: Qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos dispositivos, meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa, bem como aqueles que dificultem ou impossibilitem o acesso à informação. 34 Diferentes empecilhos podem ser encontrados por deficientes visuais quando navegam por páginas na Internet, de acordo com a deficiência que apresentam. A seguir, exemplos destes empecilhos, faceados por usuários cegos, com baixa visão e daltônicos (SERPRO, 2008b): a) Exemplos de barreiras na web para usuários que apresentam cegueira: Imagens sem descrição textual alternativa equivalente. Imagens complexas, relevantes, que não possuem descrição adequada. Vídeos sem descrição textual ou sonora. Tabelas que não fazem sentido quando lidas célula a célula ou de forma linearizada. Frames (quadros) que não apresentam a alternativa “noframe” (“sem quadro”), ou nomeados inadequadamente. Formulários que não admitem uma navegação seqüencial lógica ou não apresentam seus campos devidamente rotulados. Navegadores e ferramentas de autoria que não oferecem suporte a navegação pelo teclado. Navegadores e ferramentas de autoria que não utilizam programas de interfaces padronizadas para o sistema operacional em que foram baseados. Documentos concebidos fora dos padrões web, dificultando a interpretação por leitores de tela. b) Exemplos de barreiras na web para usuários que apresentam baixa visão: Páginas com fontes de tamanho absoluto (fixo), que inviabilizam sua ampliação ou redução. Páginas com layout inconsistente e de difícil navegação quando ampliadas. Páginas ou imagens com contraste de cor e brilho insuficientes. Textos apresentados no formato de imagens (não permitem quebra de linha quando ampliados). c) Exemplos de barreiras na web para usuários que apresentam daltonismo: Utilização da cor como único recurso para enfatizar o texto (transmitir informação). Contrastes indevidos entre as cores da fonte (primeiro plano) e fundo (segundo plano). Navegadores que não possibilitam ao usuário utilizar folhas de estilo personalizadas. 35 Existem outras barreiras para deficientes visuais, a depender do tipo e extensão da limitação da visão. Além das citadas acima, animações – que utilizam a tecnologia Flash ou similar, sem descrição textual ou sonora, compreensíveis somente através da visão – e ausência de atalhos para o teclado do computador completam o quadro das barreiras mais ocorrentes. 36 CAPÍTULO 4 DIRETRIZES E TÉCNICAS PARA SISTEMAS ACESSÍVEIS Para o escopo da deficiência visual, existe uma série de diretrizes que especificam questões de acessibilidade para páginas na Internet, bem como diversas técnicas que devem ser aplicadas ao código das páginas web para possibilitar, ou facilitar, o acesso, a navegação e o entendimento do conteúdo. 4.1 Diretrizes para acessibilidade web As diretrizes para acessibilidade na web são regulamentadas pelo World Wide Web Consortium, um grupo empenhado em desenvolver e difundir Web Standards, ou padrões web. 4.1.1 World Wide Web Consortium O World Wide Web Consortium (W3C) é um consórcio internacional comprometido com o desenvolvimento de padrões web. O W3C tem por missão conduzir a World Wide Web para que atinja seu potencial pleno, desenvolvendo protocolos e diretrizes (guidelines) que assegurem seu crescimento a longo prazo (W3C, 2009). Fundado em 1994, no Laboratório de Ciência da Computação do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT-LCS), O consórcio, desde o seu princípio, tem trabalhado incessantemente para promover a evolução e interoperabilidade da web. O W3C possui representações em diversos países. Seu escritório no Brasil8 foi fundado em 1 de novembro de 2007. Para o cumprimento de seus princípios – web para todos (Web for All) e web em todos os dispositivos (Web on Everything), o W3C lançou a Iniciativa para Acessibilidade Web (Web Accessibility Initiative - WAI) que trabalha com organizações ao redor do mundo para desenvolver estratégias, diretrizes e recursos para tornar a web acessível a pessoas com deficiência. A WAI atua junto a indústrias, organizações que auxiliam deficientes, governos e instituições de pesquisa sobre acessibilidade, para que as tecnologias, ferramentas de desenvolvimento e profissionais web apliquem a acessibilidade. Entre as diversas publicações da WAI, encontram-se as Recomendações para Acessibilidade de Conteúdo Web. 8 http://www.w3c.br/. 37 4.1.2 Recomendações para acessibilidade de conteúdo web As Recomendações para Acessibilidade de Conteúdo Web 1.0 (WCAG – Web Content Accessibility Guidelines 1.09) fazem parte de uma série de diretrizes do W3C, publicadas com a finalidade de auxiliar autores de páginas, projetistas de sites e desenvolvedores de ferramentas de autoria a tornar o conteúdo da web acessível a deficientes. As WCAG 1.0 foram lançadas em 5 de Maio de 1999, firmando-se como guia oficial do W3C, utilizado e traduzido em diversos países, por colaboradores voluntários, em seus respectivos idiomas. A tradução para a língua portuguesa10 já está disponível. As recomendações abordam dois temas genéricos: assegurar uma transformação harmoniosa e tornar o conteúdo compreensível e navegável. A aplicação destas diretrizes beneficia não apenas deficientes – seu principal objetivo, mas torna o acesso às informações mais rápido e fácil, mesmo sob circunstâncias adversas, sem o uso das mãos, em um ambiente com ruídos ou mal iluminado. Sobre a possibilidade de as WCAG limitarem o conteúdo web, Dias (2007, p. 139): contradiz: As recomendações constantes do guia W3C explicam como tornar o conteúdo web acessível a pessoas com deficiências, sem o intuito de restringir a utilização de imagem ou vídeo, por parte dos produtores de conteúdo; ao contrário, explicam como tornar o conteúdo em multimídia mais acessível a um público mais vasto. As Recomendações para Acessibilidade de Conteúdo Web 1.0 (W3C, 1999) são compostas por um conjunto de 14 diretrizes: 1. Fornecer alternativas equivalentes ao conteúdo sonoro e visual: Esta recomendação destaca a importância de fornecer equivalentes textuais para elementos não textuais (como imagens, áudio pré-gravado, vídeo). O conteúdo apresentado ao usuário deve transmitir, em essência, as mesmas funções e finalidade que o conteúdo sonoro ou visual, para que aqueles que não vêem (ou não podem olhar) atinjam o mesmo grau de compreensão. 9 As WCAG 1.0 estão disponíveis em: http://www.w3.org/TR/WAI-WEBCONTENT. As WCAG 1.0 foram em português disponibilizadas até novembro 2009 em: http://www.geocities.com/claudiaad/acessibilidade_web.html. Contudo, ainda podem ser encontradas em: http://web.archive.org/web/20071028094752/http://www.geocities.com/claudiaad/acessibilidade_web.html 10 38 2. Não recorrer apenas à cor: Deve-se assegurar a percepção do texto e dos elementos gráficos quando vistos sem cores, utilizando-se do contexto ou de marcações. A utilização da cor como único recurso para transmitir informação pode impedir pessoas que não são capazes de diferenciar certas cores e usuários de dispositivos não coloridos ou monitores não visuais de receber essas informações. 3. Utilizar corretamente marcações e folhas de estilo: Documentos devem ser marcados com os elementos estruturais adequados, e a apresentação deve ser controlada por meio de folhas de estilo, em vez de elementos de apresentação e atributos. A diferença entre conteúdo, estrutura e apresentação será explanada posteriormente. 4. Indicar claramente qual o idioma utilizado: Utilizar marcações que facilitem a pronúncia e a interpretação de abreviaturas ou texto em língua estrangeira. Assim, sintetizadores de voz e dispositivos Braille podem passar automaticamente para um novo idioma. O idioma predominante do documento deve ser identificado e siglas de quaisquer abreviaturas devem ser acompanhadas da versão por extenso. 5. Criar tabelas passíveis de transformação harmoniosa: As tabelas precisam conter as marcações necessárias (exemplo: cabeçalhos de linhas e colunas) para poderem ser transformadas harmoniosamente por navegadores acessíveis e outros agentes do usuário. Tabelas devem ser utilizadas apenas para marcar informações tabulares genuínas (“tabelas de dados”), e não como recurso de paginação (“tabelas de disposição”) – a menos que façam sentido quando lidas de modo linearizado. 6. Assegurar que as páginas dotadas de novas tecnologias sejam transformadas harmoniosamente: É preciso garantir que as páginas sejam acessíveis mesmo quando as tecnologias mais recentes não forem suportadas ou tenham sido desativadas. 7. Assegurar o controle do usuário sobre as alterações temporais do conteúdo: Oferecer mecanismos para a interrupção momentânea ou definitiva de movimento, intermitência, transcurso ou atualização automática de objetos ou páginas. Caso o usuário não possa controlar estes itens, eles devem ser evitados. 8. Assegurar a acessibilidade direta de interfaces do usuário integradas: Interfaces devem obedecer a princípios de design para a acessibilidade, permitindo seu acesso independente de dispositivos (tecnologias de apoio), operacionalidade pelo teclado e emissão automática de voz (verbalização). 39 9. Projetar páginas considerando a independência de dispositivos: As páginas devem permitir o acesso e utilização por meio de uma grande variedade de dispositivos de entrada de comandos (mouse, teclado, voz, ponteiro de cabeça, ou outro). 10. Utilizar soluções de transição: É preciso fornecer soluções de acessibilidade transitórias, para que as tecnologias de apoio e os navegadores mais antigos funcionem corretamente. 11. Utilizar tecnologias e recomendações do W3C: deve-se utilizar tecnologias concordantes com as especificações do W3C e seguir suas recomendações de acessibilidade. Quando isto não for possível, deve-se fornecer uma versão alternativa, acessível, do conteúdo. 12. Fornecer informações de contexto e orientações: A provisão de contexto e orientações para ajudar os usuários a compreenderem páginas ou elementos complexos é imprescindível. 13. Fornecer mecanismos de navegação claros: Os mecanismos de navegação precisam ser coerentes e sistematizados, incluindo informações de orientação como barras de navegação e mapa do site, para aumentar as probabilidades de uma pessoa encontrar o que procura em um dado site. 14. Assegurar a clareza e a simplicidade dos documentos: Os documentos devem ser claros, simples e fáceis de compreender. Estes objetivos podem ser alcançados com a utilização de paginação (disposição em página) coerente e sistemática, de gráficos reconhecíveis (e com equivalência textual) e de uma linguagem fácil. Cada diretriz possui pontos de verificação, para que se meça o impacto em termos de acessibilidade, aos quais foram atribuídos diferentes níveis de prioridade: Prioridade 1: “Pontos que os criadores de conteúdo web devem satisfazer inteiramente. Se não o fizerem, um ou mais grupos de usuários ficarão impossibilitados de acessar as informações contidas no documento” (W3C, 1999). Prioridade 2: “Pontos que os criadores de conteúdos na web deveriam satisfazer. Se não o fizerem, um ou mais grupos de usuários terão dificuldades em acessar as informações contidas no documento” (W3C, 1999). Prioridade 3: “Pontos que os criadores de conteúdos na web podem satisfazer. Se não o fizerem, um ou mais grupos poderão se deparar com algumas dificuldades em acessar informações contidas nos documentos” (W3C, 1999). O documento WCAG 1.0 estabeleceu, também, níveis de conformidade, para avaliar a satisfação dos pontos de verificação. Se todos os pontos de verificação de prioridade 1 foram 40 satisfeitos, o nível de conformidade é “A”, o mais baixo. Caso todos os pontos de verificação de prioridades 1 e 2 foram atendidos, o nível é “AA”. Para o nível de conformidade “AAA”, o mais elevado, foram satisfeitos todos os pontos de verificação de prioridades 1, 2 e 3. A imagem 4.1 demonstra os selos dos três níveis de conformidade que podem ser obtidos: Figura 4.1 - Selos de níveis de conformidade que podem ser obtidos por uma página web. Outro documento, denominado Técnicas para Acessibilidade de Conteúdo Web 1.0 (Techniques for Web Content Accessibility Guidelines 1.011), explica como implementar os pontos das WCAG 1.0, provendo maiores detalhes e exemplos usando HTML, CSS (Cascading Style Sheets, ou Folhas de Estilo em Cascata), e outras linguagens. Em sua segunda versão, anunciada em 11 de dezembro de 2008, as Recomendações para Acessibilidade de Conteúdo Web 2.012 (WCAG 2.0) foram organizadas para atender a quatro princípios que, para o W3C, constituem a fundação da acessibilidade da web: perceptível, operável, compreensível e robusto. As WCAG 2.0 baseiam-se nas WCAG 1.0. Seus princípios não são específicos a uma linguagem de marcação, como HTML, mas sim concebidos para serem aplicados em larga escala a diferentes tecnologias web. A segunda versão das WCAG é apoiada por outros documentos, denominados Entendendo o WCAG 2.013 e Técnicas para o WCAG 2.014. Ainda que não possuam o status formal de recomendação como as WCAG 2.0, fornecem informações essenciais para a compreensão e implementação das WCAG. As WCAG 2.0 também já podem ser encontradas na língua portuguesa15. Os três níveis de conformidade (níveis A, AA e AAA) são mantidos na segunda versão das recomendações. Cada recomendação traz seu nível de conformidade e o critério de sucesso correspondente (que indica como a diretriz será atendida). Em adição, é reforçada a idéia de que, para se obter um determinado nível de conformidade, todas as páginas devem atender aos pontos de verificação, e não apenas uma parte destas. Se determinado processo 11 http://www.w3.org/TR/WAI-WEBCONTENT-TECHS/. As WCAG 2.0 estão disponíveis em: http://www.w3.org/TR/WCAG20/. 13 Entendendo o WCAG 2.0: http://www.w3.org/TR/UNDERSTANDING-WCAG20/. 14 Técnicas para o WCAG 2.0: http://www.w3.org/TR/WCAG20-TECHS/. 15 As WCAG 2.0 em português: http://www.ilearn.com.br/TR/WCAG20/. 12 41 em um site exige mais de uma página, todas devem se adequar ao mesmo nível de conformidade ou superior. A seguir as 12 diretrizes para Acessibilidade de Conteúdo Web 2.0, enquadradas nos quatro princípios, extraídos na integra (W3C, 2008): Princípio 1: Perceptível - A informação e os componentes da interface do usuário têm de ser apresentados aos usuários em formas que eles possam perceber. Recomendação 1.1: Alternativas em texto - Fornecer alternativas em texto para qualquer conteúdo não textual permitindo, assim, que o mesmo possa ser alterado para outras formas mais adequadas à necessidade do indivíduo, tais como impressão em caracteres ampliados, Braille, fala, símbolos ou linguagem mais simples. Recomendação 1.2: Mídias com base no tempo - Fornecer alternativas para mídias com base no tempo. Recomendação 1.3: Adaptável - Criar conteúdos que possam ser apresentados de diferentes maneiras (por exemplo, um layout mais simples) sem perder informação ou estrutura. Recomendação 1.4: Discernível - Facilitar a audição e a visualização de conteúdos aos usuários, incluindo a separação do primeiro plano e do plano de fundo. Princípio 2: Operável - Os componentes de interface de usuário e a navegação têm de ser operáveis. Recomendação 2.1: Acessível por teclado - Fazer com que toda a funcionalidade fique disponível a partir do teclado. Recomendação 2.2: Tempo suficiente - Fornecer tempo suficiente aos usuários para lerem e utilizarem o conteúdo. Recomendação 2.3: Ataques epilépticos - Não criar conteúdo de uma forma conhecida que possa causar ataques epilépticos (Exemplo: mais de três flashs no período de um segundo). Recomendação 2.4: Navegável - Fornecer formas de ajudar os usuários a navegar, localizar conteúdos e determinar o local onde estão. Princípio 3: Compreensível - A informação e a operação da interface de usuário têm de ser compreensíveis. 42 Recomendação 3.1: Legível - Tornar o conteúdo de texto legível e compreensível. Recomendação 3.2: Previsível - Fazer com que as páginas web surjam e funcionem de forma previsível. Recomendação 3.3: Assistência de entrada - Ajudar os usuários a evitar e corrigir erros. Princípio 4: Robusto - O conteúdo tem de ser robusto o suficiente para poder ser interpretado de forma concisa por diversos agentes do usuário, incluindo tecnologias assistivas. Recomendação 4.1: Compatível - Maximizar a compatibilidade com atuais e futuros agentes de usuário, incluindo tecnologias assistivas. A seguir são especificadas as principais técnicas utilizadas para aplicar as diretrizes de acessibilidade web e satisfazer os critérios de sucesso estabelecidos pelo W3C. 4.2 Técnicas para acessibilidade web Técnicas simples, aplicadas no código das páginas web, viabilizam a acessibilidade, como Nielsen (2000, p. 298) destaca: Tornar a Web mais acessível a usuários com várias deficiências resume-se, até certo ponto, a usar o HTML da forma pretendida: para codificar significado em vez de aparência. Desde que a página seja codificada para o significado, é possível que os browsers alternativos apresentem esse significado de formas otimizadas às capacidades de usuários individuais e, assim, facilitem o uso da Web por usuários deficientes. Um dos primeiros fatores que devem ser compreendidos pelos profissionais da área é a diferença apontada por Nielsen entre significado e aparência. O termo “significado” pode ser compreendido também como “conteúdo”, enquanto o termo “aparência” compreende o mesmo que “apresentação”. As Recomendações para Acessibilidade de Conteúdo Web 2.0 diferenciam os termos do seguinte modo: Conteúdo (conteúdo da Web): Informação e experiência sensorial a serem comunicadas ao usuário através de um agente de usuário, incluindo o código ou a marcação que define a estrutura, a apresentação e as interações (W3C, 2008). 43 Estrutura: O modo como as partes de uma página web estão organizadas em relação umas às outras; e o modo como um conjunto de páginas web está organizado. A estrutura é composta pelos elementos da linguagem de marcação (HTML), ou código (W3C, 2008). Apresentação: Composição do conteúdo de forma que seja compreendido pelos usuários. A apresentação é definida, geralmente, por folhas de estilo – CSS (W3C, 2008). As principais técnicas para desenvolver sites acessíveis são descritas adiante. 4.2.1 Declaração e estrutura de documentos A Declaração de Tipo de Documento (DOCTYPE - Document Type Definition) constitui um importante aspecto para a acessibilidade. A Declaração de Tipo de Documento (DTD) não é uma tag (etiqueta, marca) HTML, porém instrui os navegadores web sobre a versão da linguagem de marcação utilizada na página, permitindo a exibição correta do conteúdo. O DTD também permite aos validadores automáticos de páginas a efetuar uma avaliação mais precisa, baseando-se nas especificações e regras corretas para a versão do código utilizado. As principais DTD, segundo Gameleira (2002a), são: HTML 4.01 Strict - Esta DTD contém todos os tipos de elementos e atributos HTML, mas não permite a inclusão de apresentação ou elementos depreciados (como a tag <FONT>). Frames não são permitidos. HTML 4.01 Transitional - Contém todos os tipos de elementos e atributos HTML, e permite a inclusão de apresentação e elementos depreciados (ou seja, não mais recomendados). Frames não são permitidos. XHTML 1.0 Strict - Contém todos os tipos de elementos e atributos HTML, mas não permite a inclusão de apresentação ou elementos depreciados. Frames não são permitidos. As marcações devem ser escritas com XML (Extensible Markup Language, Linguagem de Marcação Extensível) semanticamente corretos e bem formados. XHTML 1.0 Transitional - Contém todos os tipos de elementos e atributos HTML, e permite a inclusão de apresentação e elementos depreciados. Frames não são permitidos. As marcações devem ser escritas com XML semanticamente corretos e bem formados. 44 <!DOCTYPE HTML PUBLIC "-//W3C//DTD HTML 4.01//EN" "http://www.w3.org/TR/html4/strict.dtd"> <!DOCTYPE HTML PUBLIC "-//W3C//DTD HTML 4.01 Transitional//EN" "http://www.w3.org/TR/html4/loose.dtd"> <!DOCTYPE html PUBLIC "-//W3C//DTD XHTML 1.0 Strict//EN" "http://www.w3.org/TR/xhtml1/DTD/xhtml1-strict.dtd"> <!DOCTYPE html PUBLIC "-//W3C//DTD XHTML 1.0 Transitional//EN" "http://www.w3.org/TR/xhtml1/DTD/xhtml1transitional.dtd"> Figura 4.2 - Exemplos das principais declarações de tipo de documento – DTD. O W3C disponibiliza uma lista completa com todas as versões de DTD16. A versão atualmente recomendada é a XHTML 1.0 Strict. Após uma declaração consistente do documento, é preciso, de acordo com Nielsen (2000), assegurar que a página possua uma marcação HTML adequada, utilizando <H1> para o cabeçalho de nível superior, <H2> para títulos importantes dentro de <H1>, e <H3> para divisões mais sutis de informação, ou seja, subtítulos de <H2>. Desta forma, usuários com leitores de tela podem ter uma compreensão rápida da página ao instruir o programa para ler apenas títulos e ganhar tempo ao pular para outra seção, caso a atual não seja interessante. <!DOCTYPE html PUBLIC "-//W3C//DTD XHTML 1.0 Strict//EN" "http://www.w3.org/TR/xhtml1/DTD/xhtml1-strict.dtd"> <html lang="pt-br"> <head> <title>Título do documento</title> </head> <body> <h1>Título principal de conteúdo</h1> <p>Conteúdo do documento...</p> </body> </html> Figura 4.3 - Estrutura básica de um documento HTML. O idioma principal do documento é outro elemento que deve ser identificado. A figura 4.3 demonstra, juntamente com a tag HTML, o atributo lang, cujo objetivo é identificar a 16 Lista de DTD recomendadas: http://www.w3.org/QA/2002/04/valid-dtd-list.html. 45 linguagem principal do documento. Além de auxiliar a segmentação por idioma em mecanismos de busca, o objetivo capital de se especificar a linguagem principal do documento é permitir que leitores de tela identifiquem automaticamente o idioma e os sintetizadores de voz leiam adequadamente o conteúdo. As alterações de idioma no decorrer da página devem também ser identificadas pela mesma razão. O atributo lang pode ser utilizado em conjunto com outras tags, como as que definem blocos ou parágrafos. 4.2.2 Navegação Um bom posicionamento e organização do conteúdo resultam em uma página com estrutura consistente. Áreas de informações específicas do site – como cabeçalho, menus de navegação (principal e secundário), conteúdo, e rodapé – devem ser definidas e exibidas sempre nos locais pré-estabelecidos. Se o conteúdo principal da página estiver sempre no mesmo local, por exemplo, o usuário poderá saltar diretamente para esta parte, desobrigandose de ouvir novamente todas as opções do menu de navegação (GAMELEIRA, 2002b). Uma navegação ideal também não exige que o usuário acione mais de três links para chegar à informação pretendida. Uma página sobre a acessibilidade do site precisa estar disponível, informando aos usuários como o conteúdo está organizado e de que forma se dá a navegação, incluindo atalhos de teclados em navegadores distintos17(GAMELEIRA, 2002b). Desenvolvedores freqüentemente utilizam o recurso que direciona o conteúdo de um link para abrir em uma nova janela. O ponto de verificação 10.1 das WCAG 1.0 adverte que, até que os agentes do usuário o permitam desativar janelas secundárias, não se deve provocar o aparecimento de janelas de sobreposição ou outras quaisquer, tampouco fazer com que o conteúdo da janela atual seja modificado sem que o usuário seja informado (W3C, 1999). No HTML, o valor “_blank” (nova janela), do atributo target (alvo), utilizado em links, permite tal situação. O objetivo de se utilizar uma nova janela é fazer com que os usuários se lembrem de retornar ao site de onde partiram. Mas o que prende a atenção dos usuários é um bom conteúdo. É extremamente difícil para um deficiente visual saber se a página aberta está na mesma janela ou em uma nova. Portanto, o padrão para o destino dos links deve ser a própria janela. Desta forma, o usuário poderá retornar a página anterior, através da combinação das teclas BACKSPACE + Seta esquerda ou ALT + Seta esquerda (GAMELEIRA, 2002b). 17 Exemplo de página sobre a acessibilidade do site: http://www.acessibilidadelegal.com/00-acessibilidade.php. 46 4.2.3 Folhas de estilo Cascading Style Sheets (CSS), ou folhas de estilo em cascata, por princípio, permitem a separação de apresentação e conteúdo, decoração da essência. O uso de estilos misturados nas linhas dos elementos HTML é proibido nas verões HTML Strict e XHTML Strict. Tamanhos de fontes, tipologia, planos de fundos, posicionamento de blocos e inúmeros outros itens de apresentação são definidos para todas as páginas de um site e referenciados em um único arquivo de estilo. Um excelente projeto que auxilia no entendimento da separação entre conteúdo e apresentação é o Zen Garden18, cujo mesmo conteúdo é apresentado em dezenas de formas diferentes, apenas modificando-se o CSS. Desenvolvedores podem se inscrever e enviar um novo arquivo de estilo para ser incorporado aos diversos temas existentes, sempre com o mesmo conteúdo. As folhas de estilo são suportadas pela grande maioria dos navegadores. As vantagens assinaladas por Krug (2008) são enormes: Controle imensamente maior sobre a formatação. Flexibilidade. Uma única alteração na folha de estilo pode modificar a aparência de todo o site. Não é necessário alterar página por página. Consistência entre navegadores. Há a necessidade de maleabilidade e experimentações, mas é possível que o CSS funcione em todos os navegadores. Serialização do conteúdo. O conteúdo pode ser colocado em ordem seqüencial na página, facilitando o entendimento para usuários de leitores de tela. O posicionamento visual dos elementos fica a encargo do CSS. Possibilidade de mudança no tamanho do texto. O CSS facilita a mudança de tamanho no texto, funcionalidade útil para usuários com pouca visão (ou que necessitem de lentes bifocais). O W3C publicou um documento que descreve as técnicas para a elaboração de folhas de estilo em cascata19, disponível também na língua portuguesa20. A segunda versão do CSS, que se tornou uma recomendação do W3C em 12 de maio de 199821, instituiu “tipos de mídia”, a fim de uma exibição mais apropriada do conteúdo em determinados tipos de dispositivos de visualização ou leitura. Estas folhas de estilo podem adaptar apresentações do conteúdo para dispositivos com saída em Braille, sintetizadores de 18 Zen Garden - http://www.csszengarden.com/tr/portuguese/. Técnicas CSS para acessibilidade - http://www.w3.org/TR/2000/NOTE-WCAG10-CSS-TECHS-20001106/. 20 Tradução das Técnicas CSS para acessibilidade - http://www.maujor.com/w3c/tec_css_acess.html. 21 CSS 2 Specification - http://www.w3.org/TR/1998/REC-CSS2-19980512/. 19 47 voz, ou dispositivos TTY (teletypewriters ou dispositivos de telecomunicação para surdos). Conforme Clark (2002d), os tipos de mídias principais são os seguintes: Aural: Planejado para sintetizadores de voz. Braille: Utilizado para dispositivos que fornecem resposta tátil em Braille. Embossed: Utilizado para impressoras de páginas em Braille. Print: Utilizado para impressão em papel, material opaco e para documentos visualizados na tela em modo de impressão. Screen: Utilizada principalmente para atender a telas coloridas de computadores. Tty: Pretendido para mídias que utilizam caracteres de comprimento fixo, como teletipos, terminais, ou dispositivos portáteis com capacidade limitada de exibição. A lista completa de mídias reconhecidas pelo W3C está disponível em seu site22. O código presente no gráfico 4.4 demonstra como referenciar folhas de estilo, exemplificando três tipos distintos de mídia: <link rel="stylesheet" href="estilo-tty.css" type="text/css" media="tty" /> <link rel="stylesheet" href="estilo-aural.css" type="text/css" media="aural" /> <link rel="stylesheet" href="estilo-braille.css" type="text/css" media="braille" /> Figura 4.4 - Exemplo de como referenciar o CSS em uma página. O CSS 2 provê propriedades auditivas que levam informações para usuários com deficiências visuais e auditivas de modo semelhante às informações passadas visualmente através de textos. O documento do W3C, Técnicas CSS para acessibilidade a conteúdo web Diretrizes 1.0, citado anteriormente, traz exemplos da aplicação de mídias distintas. 22 Lista de tipos de mídias reconhecidas - http://www.w3.org/TR/CSS2/media.html. 48 h1 { voice-family: paul; stress: 20; richness: 90; cue-before: url("ping.au") } Figura 4.5 - Exemplo da aplicação de folhas de estilo em Cascata auditivas (Aural). O exemplo dado pela figura 4.5 demonstra de que forma variadas nuances do som (incluindo “voice-family”, que é muito semelhante a uma fonte de áudio) indicam, ao usuário, que o conteúdo sonorizado é um cabeçalho. As propriedades a seguir, extraídas das Técnicas CSS para acessibilidade a conteúdo web - Diretrizes 1.0, fazem parte das folhas de estilo auditivas CSS 2. “volume” controla o volume do texto lido. “speak” controla se o conteúdo será ou não lido e, em caso positivo, se será soletrado ou lido normalmente. “pause”, “pause-before”, e “pause-after” controla as pausas antes e depois de uma leitura. Isto permite ao usuário separar conteúdos, melhorando seu entendimento. “cue”, “cue-before”, e “cue-after” especificam um som a ser reproduzido antes e depois do conteúdo, o que pode ser valioso para orientação (bastante parecido a um ícone visual). “play-during” controla um som de fundo enquanto o documento é processado (bastante parecido a uma imagem de fundo). “azimuth” e “elevation” proporcionam uma dimensão ao som, o que permite ao usuário distinguir vozes, por exemplo. “speech-rate”, “voice-family”, “pitch”, “pitch-range”, “stress”, e “richness” controlam a qualidade do conteúdo lido. Variando estas propriedades para os diferentes elementos, os usuários podem fazer uma sintonia fina nos conteúdos lidos da apresentação auditiva. “speak-punctuation” e “speak-numeral” controlam a maneira como números e sinais de pontuação são lidos, o que afeta a qualidade da experiência de uma navegação auditiva. Existe, ainda, a propriedade “speak-header”, que controla como devem ser lidas as células de cabeçalho, antes das células de conteúdo (SILVA, 2003). 49 É possível definir, em um mesmo documento de folhas de estilo, vários tipos de mídia. No exemplo a seguir, são definidos tamanhos diferentes para a fonte (font-size), a depender da mídia onde o documento será processado, e um mesmo espaçamento entre linhas (line-height) é determinado para as mídias tela e impressão (screen e print). @media body } @media body } @media body } print { { font-size: 10pt } screen { { font-size: 13px } screen, print { { line-height: 1.2 } Figura 4.6 - Diferentes tipos de mídia definidos em um mesmo documento de estilo. 4.2.4 Cores e fontes A diretriz 1.4.1 (WCAG 2.0) afirma que a cor não deve ser o único meio para se “transmitir informações, indicar uma ação, pedir uma resposta ou distinguir um elemento visual” (W3C, 2008). Um exemplo simples e prático refere-se aos links. Sempre que um usuário focar ou ativar um link, ele pode apresentar uma mudança de estilo ou forma (por exemplo: sublinhado, negrito, itálico ou aumento de fonte), ao invés de apenas modificar a cor. Usuários com baixa visão, visão monocromática, acromática ou com dificuldade para distinguir cores são os beneficiados por tal diretriz de acessibilidade. O contraste compreende outro elemento fundamental para a apresentação visual do conteúdo. O contraste deve estar presente em todos os elementos, como botões de navegação, tipografia, ícones e links, principalmente entre primeiro plano e plano de fundo. Um botão ou link pode ser inserido no site para permitir ao usuário alternar o esquema de cores para uma versão com alto contraste. Contudo, isto não significa que designers terão que criar páginas com visual pobre, apenas texto, ou não utilizar imagens (fotografias). Significa que o assunto carece de alguns cuidados. Onde a cor implicar algum significado, deve-se assegurar que seja de fácil compreensão e distinção em relação a outras cores, e que o conteúdo esteja disponível em outro formato. Se a cor não transmitir alguma informação significativa (além de decoração), alterar a imagem torna-se opcional (CLARK, 2002c). No exemplo a seguir, o 50 gráfico (4.7) de linhas do metrô de Londres pode exibir uma versão alternativa em preto e branco, além de estar acompanhado de informação textual. Figura 4.7 - A cor não deve ser o único elemento para a transmissão de informações. Um dos documentos do W3C, sobre técnicas de acessibilidade, traz uma lista denominada web-safe colors 23(cores seguras para web), com 26 cores, que resultam em taxas de contraste aceitáveis quando utilizadas em conjunto com preto (taxa de contraste 3:1) e branco (taxa de contraste 5:1). Para links, circundados por texto preto (código hexadecimal: #000000), e fundo branco, a cor azul apresenta um excelente contraste (código hexadecimal: #3366CC). A cor azul é recomendada para links por afetar pouco a usuários com dificuldade para distinguir as cores vermelho e verde. O vermelho e o verde são os tons que mais afetam usuários com deficiências visuais relativas a cores, os daltônicos. Um fato que ocorre, por vezes, é a confusão que este tipo de deficiência ocasiona com bege, amarelo e laranja, sendo descritos como vermelho e verde. A razão é que vermelho e verde podem ser percebidos como falso bege, amarelo ou laranja. Portanto, os tons que devem ser utilizados com cuidado são: vermelho, laranja, amarelo, bege e verde (CLARK, 2002c). Sempre que ocorrer o processo de seleção de cores para determinado site, ao menos cinco itens precisam ter suas cores definidas: texto, plano de fundo, links normais, links ativos e links visitados. O padrão mínimo de cinco cores deve ser adotado a fim de evitar conflitos 23 Web-safe colors - http://www.w3.org/TR/2008/NOTE-WCAG20-TECHS-20081211/workingexamples/G183/link-contrast.html. 51 com as cores padrão do programa de navegação que o usuário faz uso. Durante este procedimento, algumas combinações de cores precisam ser evitadas: O vermelho não deve ser aplicado ao preto, tampouco o preto sobre o vermelho. O vermelho aparenta escuro para pessoas com protanopia, e a combinação pode parecer bege, amarelo ou laranja sobre preto. Cinza escuro, neste caso, tem o mesmo efeito do preto. Verde sobre vermelho ou vermelho sobre verde são combinações complementares que não devem ser aplicadas. A maioria dos cegos de cor irá confundi-las. Duas metades de um par de cores confuso não devem ser posicionadas com proximidade. Bege, amarelo ou laranja não devem ser misturados com vermelho e verde (CLARK, 2002c). A diretriz WCAG que trata de cores beneficia igualmente a pessoas que apresentam monocromia, também conhecida como acromia, e constituem um grupo raro de usuários com ausência da percepção de cores, enxergando sempre em tons de cinza. E, ainda, usuários que utilizam telas monocromáticas. No tangente a tipologia (ou seja, fontes ou tipos de letras), mais de um tipo de fonte deve ser especificado. Clark (2002c) adiciona uma recomendação para o momento em que se definem as fontes, através de folhas de estilo: especificar uma família de fonte genérica ao fim de cada declaração de fonte. Subentende-se que uma fonte genérica estará presente na maioria dos sistemas de computação utilizados pelos usuários. Caso o sistema não reconheça nenhuma das fontes determinadas anteriormente, é provável que reconheça ao menos a fonte genérica indicada. As famílias de fontes genéricas em CSS nível 2 são: serif, sans-serif, cursive, fantasy e monospace. body { font-family: Georgia, Times New Roman, Times, serif; font-size:inherit; } Figura 4.8 - Exemplo de declaração de fontes utilizando CSS. 52 O tamanho das fontes não deve ser definido de forma absoluta, utilizando unidades como pontos ou centímetros. Segundo Nielsen (2000b, p. 302), é imprescindível codificar as informações de forma relativa, utilizando um percentual do tamanho da fonte padrão (default) utilizada pelo navegador do usuário. Unidades relativas de fontes comuns são “%” e “em” (SILVA, 2004). Ele acrescenta: “o suporte total a usuários com visão reduzida necessitaria de que as páginas ficassem igualmente bem em todos os tamanhos de fonte”. Para assegurar que a página funcione perfeitamente em todos os tamanhos de fontes, Nielsen (2000b) recomenda o teste das páginas com tamanhos relativos e o navegador ajustado aos padrões 10, 12 e 14 pontos, para que se garanta um design ótimo com estes tamanhos de fontes comuns. E, após os primeiros testes, testes adicionais com fontes padrão definidas em 18 e 24 pontos, a fim de garantir que o design funcione nestes tamanhos que aumentam a acessibilidade. A recomendação 1.4.4 das WCAG 2.0 requisita que o texto possa ser redimensionado sem tecnologia assistiva em até 200 por cento, sem perder conteúdo ou funcionalidade. O item 3.2.10 menciona um script disponível na web para atender tal requisição. Mesmo que o site não forneça nenhuma funcionalidade direta para redimensionar textos, o uso de medidas relativas permite que o usuário redimensione o texto através do software de navegação utilizado. 4.2.5 Navegação pelo teclado Todo elemento de uma página HTML, seja um link, um bloco div, uma tabela, um parágrafo, entre outros, constitui um objeto, mesmo que não seja visualmente percebido como tal (GAMELEIRA, 2002b). Estes objetos podem ser acessados através do Modelo de Objetos de Documento (DOM - Document Object Model). O W3C24 define o DOM como uma plataforma – e linguagem – de interface neutra que permite programas e scripts a acessarem e atualizarem dinamicamente o conteúdo, estrutura e estilo de documentos. Desenvolvedores de conteúdo web precisam ter ciência de que tais objetos são, não raro, acessados sem o uso de um dispositivo apontador (como o mouse). A alternativa de navegação mais comum é o teclado. A recomendação 2.1 das WCAG 2.0 é clara: “fazer com que toda a funcionalidade fique disponível a partir do teclado” (W3C, 2008). Deficientes visuais que sofrem de cegueira navegam necessariamente pelo teclado. Dispositivos apontadores, como o mouse, requerem coordenação na visão e nas mãos, que um usuário cego não dispõe. Portanto, todo o conteúdo deve estar acessível pelo teclado. 24 Definição e outras informações sobre o DOM - http://www.w3.org/DOM/. 53 A navegação ocorre através das teclas TAB, setas para a direita e para a esquerda, de cima para baixo, da esquerda para a direita, por padrão. Botões de seleção e outros itens podem ser acionados pela barra de espaço. Links e a maior parte dos comportamentos e eventos são disparados pela tecla ENTER. Navegar item por item pode ser tedioso e confuso. Mesmo que o usuário faça uma varredura na página, procurando apenas por cabeçalhos e links de seu interesse, torna-se indesejável ter que ouvir novamente o menu de navegação, por exemplo. Outro exemplo enfadonho é ter que teclar TAB ao menos dez vezes para se chegar ao conteúdo principal da página visitada. A recomendação 2.4.1 das WCAG 2.0 trata deste tema. Prover teclas de atalho para os principais links do documento constitui o ponto 9.5 das WCAG 1.0. Seções importantes da página podem receber atalhos, através do atributo accesskey do HTML. Este atributo pode ser utilizado em conjunto com números ou letras, e acionado por uma combinação de teclas, que variam de acordo com o navegador. Mesmo navegadores gráficos similares, como Internet Explorer25 e Firefox26, ambos gráficos, possuem teclas de atalhos distintas. Leitores de tela, como o Jaws27 e o Virtual Vision28, também são dotados de atalhos. Como muitos atalhos padrões definidos nos navegadores fazem o uso de letras, não é sensato utilizá-las ao definir atalhos de navegação para sites. Por exemplo: um accesskey definido como “f”, acessado pelo navegador Internet Explorer, irá substituir o atalho padrão para o recurso de sites favoritos. Pode-se, contudo, utilizar os números. Não é obrigatório definir, por exemplo, um atalho para cada item de menu. Este procedimento exigirá uma carga muito alta de memória do usuário e, dificilmente, todos os atalhos serão utilizados. As teclas de atalho poderiam, por exemplo, ser definidas para os seguintes itens: página principal do site, primeiro item de menu principal, primeiro item de menu secundário, caixa de busca e página sobre a acessibilidade do site. O accesskey deve ser utilizado apenas em itens importantes para a navegação. Outro modo de prover um caminho mais curto ao conteúdo desejado é através de saltos. Os cinco itens cotados acima para receber o accesskey não englobam, entre outros itens, o conteúdo principal, o início e o fim do documento. O usuário que navega pelo teclado deve ter a chance de saltar diretamente para o conteúdo principal da página sem ter que ouvir todos os itens do menu principal novamente. Toda região com muitas opções de navegação 25 Teclas de atalhos para Internet Explorer - http://www.acessibilidadelegal.com/33-teclas-ie.php. Teclas de atalhos para Firefox - http://www.acessibilidadelegal.com/33-teclas-ff.php. 27 Teclas de atalhos para Jaws - http://www.acessibilidadelegal.com/13-atalhos.php. 28 Teclas de atalhos para Virtual Vision 2.01 - http://www.lupadigital.info/teclas-do-virtual-visiom-201.html. 26 54 deveria conter um salto para o próximo item. A aplicação de saltos será descrita no item 3.2.6 Textos e links. A seqüência lógica de tabulação, recomendação 9.4 presente nas WCAG 1.0, é outro fator decisivo para a navegação. As WCAG 2.0, item 2.4.3 também abordam a seqüência de navegação. É possível definir a ordem de navegação dos elementos de uma página, através do atributo tabindex, do HTML. O atributo pode ser adicionado a links, objetos (tag object) e a alguns elementos de formulários. Existe certa liberdade para a definição dos números que preenchem o tabindex. Qualquer número pode ser escolhido, entre “0” e “32767” – mas não números negativos. Não há a necessidade de uma ordem consecutiva, como um, dois e três. O importante é garantir que o próximo número na ordem de tabulação seja maior que o atual. O incremento pode ocorrer, por exemplo, de cem em cem: 100, 200, 300, etc. <a href="acessibilidade.html" tabindex="3" title="Página sobre acessibilidade do site - Tecla de atalho (2)." accesskey="2">Acessibilidade</a> Figura 4.9 - Exemplo de accesskey e tabindex. 4.2.6 Textos e links O texto compreende um dos formatos mais acessíveis de conteúdo. Entretanto, alguns cuidados razoáveis devem ser tomados, como instrui Clark (2002e). A recomendação 3.1, das WCAG 2.0, afirma que o conteúdo de texto precisa ser legível e compreensível, e cuida para que haja mecanismos que possibilitem o entendimento de palavras incomuns (como expressões idiomáticas, jargões), definições e abreviaturas. No HTML, abreviações podem ser indicadas pelas tags ABBR, acrônimos por ACRONYM, definições por DFN, CITE é usado para citações e CODE para indicar a presença de códigos descritos no texto. Abreviações, de modo geral, são indicadas visualmente por um ponto, da mesma forma que acrônimos por letras maiúsculas. Contudo, para leitores de tela, um ponto indica o fim de um período, e letras maiúsculas são utilizadas para diversos fins. Por isto a importância de se indicar tais expressões utilizando estruturas pré-definidas da linguagem de marcação. O significado completo é atribuído ao title e, se houver mudança de linguagem, esta deve ser 55 indicada pelo atributo lang. Os elementos podem, ainda, ter o visual controlado por folhas de estilo. HTML: <acronym lang="en" xml:lang="en" title="World Wide Web">WWW</acronym> <abbr title="Etcetera">Etc.</abbr> CSS: abbr, acronym { font-size: smaller; letter-spacing: .1em; text-transform: uppercase; text-decoration: underline } Figura 4.10 - Uso de acrônimos e abreviações, atrelados a folhas de estilo. Para citações, os elementos apropriados são Q, para citações curtas, dentro do mesmo bloco de texto, e BLOCKQUOTE para citações maiores, que exigem um bloco de texto único para si. Ambos os elementos são acompanhados do atributo cite, que indica a fonte da informação (online ou impressa). Tim Berners-Lee afirma que <q cite=" http://www.w3.org/People/Berners-Lee/">a Web é universal</q> Figura 4.11 - Exemplo de citação indireta em texto. Uma definição (de elemento DFN), por sua vez, é atrelada a um id. No texto, onde o termo é citado, pode ser inserido um salto para a definição. O uso de saltos será abordado posteriormente, nesta mesma seção. No texto: A <dfn id="def-internet">Internet</dfn> representa... Texto com salto: A <a href="#def-internet" title="Definição de Internet"> Internet</dfn> representa... Figura 4.12 - Exemplos de definição no texto. 56 A explicação dos termos se dá através de uma lista de definição (DL - definition list, do HTML). Sua estrutura é composta por termos (elemento DT – definition term) e descrições (elemento DD – definition description). <dl> <dt>Internet</dt> <dd> A <em>Internet</em> é um conglomerado de redes em escala mundial...</dd> <dt> World Wide Web</dt> <dd>A <em>World Wide Web</em> é o serviço mais utilizado e popular na Internet</dd> </dl> Figura 4.13 - Exemplo de uma lista de definições. A lista completa de elementos que auxiliam a compreensão de conteúdo de texto, na versão XHTML, pode ser encontrada no site do W3C29. Mesmo a codificação de caracteres (character encodings ou charset) é essencial para a acessibilidade. Um charset representa o conjunto de caracteres utilizados em uma página, e permite uma codificação correta, incluindo caracteres especiais e acentos. As codificações mais utilizadas atualmente na web são ISO-8859-1 e UTF-830. <meta http-equiv="content-type" content="text/html; charset=iso-8859-1" /> Figura 4.14 - Definição do conjunto de caracteres utilizado em uma página. Após a definição do charset, deve-se assegurar que marcas e caracteres especiais de texto sejam corretamente codificados, como, por exemplo, utilizar o código “ para representar as aspas duplas (“) que iniciam uma citação. Assim como as citações em um texto fazem referência a outros documentos, a web é composta por um sistema de documentos hipertexto conectados entre si através de ligações denominadas hiperlinks, ou simplesmente links. As recomendações WCAG 2.0 (pontos 2.4.4 e 2.4.9) mencionam que os links devem revelar sua finalidade a partir de seu próprio texto ou a partir do contexto que os cercam. O atributo title, do HTML provê informação sobre o próprio link, e descreve sua finalidade. 29 Elementos de texto que auxiliam a acessibilidade - http://www.w3.org/TR/xhtml2/mod-text.html. O W3C fornece detalhes sobre charsets - http://www.w3.org/TR/html401/charset.html. Tradução disponível em: http://desenaviegas.com/charset.html. 30 57 <a href="acessibilidade.html" title="Página sobre acessibilidade do site">Acessibilidade</a> Figura 4.15 - Meta dados para links através do atributo title. Para prover acessibilidade através do contexto, Gameleira (2002c) demonstra algumas soluções possíveis. Hiperlinks com texto genérico, sem contexto, precisam ser evitados. Expressões corriqueiras como “saiba mais” e “clique aqui”, se não forem acompanhadas de uma descrição adequada, não permitirão a compreensão do contexto para usuários de leitores de tela. Uma solução prática seria dotar o atributo title de mais informações. Enquanto o texto do link traz a informação “saiba mais”, a descrição poderia conter “saiba mais sobre a acessibilidade na web”. Outra abordagem é estender o link ao título ou ao parágrafo, ou seja, envolver estes elementos com o link. Desta forma, o agente do usuário fará a leitura de todo o bloco de informação. <a href="acessibilidade.html"> <h1>o que é acessibilidade na internet?</h1></a> Figura 4.16 - Exemplo de link estendido ao contexto. Em concordância com Clark (2002e) deve-se evitar, também, que os links estejam lado a lado, sem ao menos um caractere separador (uma barra vertical, por exemplo). Alguns leitores de tela antigos fariam uma leitura consecutiva, e o usuário compreenderia tudo como um link apenas. A utilização consecutiva de links, sem um elemento separador, causa confusão até para usuários com perfeita visão, pois a distinção entre os links existentes se torna difícil. A navegação feita por hiperlinks pode ser interna – dentro do mesmo site – ou externa, para outro site (outro banco de dados, segundo o W3C31). Há ainda a navegação por links para dentro da própria página. Quando um link permite um salto para um elemento específico (um id na mesma página, por exemplo) recebe o nome de âncora. Estas âncoras permitem ao usuário, por exemplo, saltar diretamente para o conteúdo da página e evitar a leitura repetitiva do menu de navegação. A composição de um link âncora se faz em duas etapas: o objeto de destino recebe 31 Lista de definição de termos do W3C - http://www.w3.org/Terms.html. 58 um id, e o valor deste id é referenciado no link, precedido pelo sinal pré-definido “#”. Outros exemplos de aplicações para links do tipo âncora seriam: link para o topo do site, links para definições, links para determinadas áreas de outra página, construção de sumários com hiperlinks que dão acesso diretamente ao conteúdo referido em cada item. Link: <a href="#conteudo" title="Saltar para o conteúdo">Saltar para o conteúdo</a> Objeto de destino: <div id="conteudo">Conteúdo principal da página...</div> Figura 4.17 - Links do tipo âncora. Em links externos, o usuário pode ser avisado que está prestes a entrar em um novo site. O atributo title pode trazer a informação adicional “site externo” e uma imagem padrão (um quadrado ou janela com uma seta) pode ser utilizada, através do CSS, para indicar visualmente ao usuário sobre a mudança. Conforme explanado anteriormente (item 3.2.2), o link deve abrir na mesma janela. Figura 4.18 - Exemplo de link externo indicado visualmente. Sobre usuários impossibilitados de utilizar um dispositivo apontador, Clark (2002c) alerta a respeito de um cuidado a ser tomado: definir, no CSS, o comportamento de links ao receberem o foco. Se apenas o efeito hover (acionado quando o usuário repousa o dispositivo apontador sobre o link) for definido, usuários que navegam pelo teclado não serão capazes de visualizar este efeito. a:focus { color: #990000; background-color: white; border: solid 1px gray; } Figura 4.19 - Definição do comportamento do link, através de CSS, ao receber o foco. 59 4.2.7 Descrição de imagens Desenvolvedores web carregam consigo o dever de preparar suas páginas para diferentes tipos de usuários que enfrentam diferentes situações. Desde a primeira recomendação das WCAG 1.0, os esforços do grupo de trabalho do W3C estão voltados àquela que pode ser considerada uma das maiores barreiras a acessibilidade web: imagens sem alternativas equivalentes. Os cenários nos quais um usuário pode não ter acesso às imagens são diversos. As WCAG 1.0 exemplificam: alguns usuários podem não ser capazes de visualizar imagens, outros podem usar navegadores baseados em texto sem suporte a imagens, enquanto outros podem simplesmente desativar o suporte a imagens de seu navegador gráfico (devido a uma conexão lenta com a Internet). Figura 4.20 - Exemplo de imagens sem acessibilidade. O gráfico 4.20, um navegador com imagens desabilitadas, demonstra três situações possíveis para a descrição de imagens: Imagens com descrição textual adequada, imagens com descrição textual inadequada e imagens sem descrição textual. 60 As imagens com descrição textual adequada, no exemplo anterior, são as imagens de produtos, ao centro. Mesmo sem as imagens, é possível saber que se trata de um produto – e qual produto, pois a descrição textual alternativa traz esta informação. De outro modo, as três imagens à esquerda, cujos equivalentes textuais são “imagem produto”, apresentam uma informação irrelevante ao usuário. Assim também ocorre com as imagens, ao centro, de equivalente textual “imagem”, uma informação sem sentido. Um usuário utilizando-se de um navegador textual jamais saberia que se trata de um botão indicando “frete grátis”. Há, ainda, imagens sem qualquer descrição textual, completamente inacessíveis para deficientes sem visão. O atributo HTML utilizado em imagens para fornecer equivalente textual é o alt. <img src="images/logoacesso.jpg" alt="Símbolo de acesso à Web" longdesc="longdesc/logoacesso.html" /> Figura 4.21 - Exemplo do código de uma imagem acessível. Na figura 4.21 é apresentado um exemplo para o código de uma imagem acessível. Além do atributo alt, que descreve a imagem, pode ser acrescentado o atributo longdesc, cujo endereço nele contido levará o usuário a uma página que descreve com riqueza de detalhes a imagem referida. A descrição textual alternativa a uma imagem deve ser relevante. Descrições úteis são aquelas que verbalizam o significado ou papel da imagem no diálogo, e devem responder a seguinte questão: “O que a imagem pretende comunicar e o que acontecerá se for clicada?” (NIELSEN, 2000c, p. 305). Por exemplo, a logomarca da empresa no site pode conter a seguinte descrição: “Empresa ABC”, ou “Logo Empresa ABC”. Caso a logomarca seja também um link para a página inicial, é possível acrescentar o destino na descrição, resultando em “Homepage da Empresa ABC”. A descrição deve ser breve e direta, não mais que 8 a 10 palavras. Muitos navegadores não realizam a quebra de linha automática de textos alternativos, e sua visualização poderia estar comprometida caso apresentasse um número maior de palavras. Embora o padrão predominante seja fornecer descrição textual a todas as imagens, Nielsen (2002c) defende que as imagens que não apresentem significado, sendo apenas decorativas, podem conter uma seqüência de caracteres vazia (espaços em “branco”). O atributo alt seria preenchido desta maneira: alt=“ ”. A seqüência de caracteres vazia como descrição textual indica ao software leitor de tela que pule a imagem, e faz mais sentido ao 61 usuário que uma descrição, por exemplo, contendo o texto “Grande bola azul” para indicar um demarcador de uma lista. Se nenhuma descrição fosse fornecida, o usuário saberia que há uma imagem, mas não seria possível determinar sua relevância para o contexto. A alternativa que também aborda imagens decorativas diz respeito ao atributo background-image (imagem de plano de fundo), que pode ser aplicado aos elementos da página através do CSS, sem que seja lida por navegadores textuais. Para as chamadas imagens descritivas, cujo equivalente textual busca verbalizar a forma como um usuário com visão as perceberia, Gameleira (2002d) afirma que pode ser utilizado o recurso denominado d-link. Este constitui um link logo após a imagem, que levará o usuário a uma página com descrição detalhada da imagem. O d-link poderá estar visível, seguindo o padrão “[d]”, ou em uma imagem transparente, quadrada, com cerca de cinco pixels de largura. Tão logo um usuário sem a visão navegue após a imagem, poderá desfrutar de descrição textual rica, tal como “Um globo reluzente com um buraco de fechadura ao centro, simbolizando o acesso a web”. [d] Figura 4.22 - Recurso d-link junto à imagem. O HTML permite que imagens sejam mapeadas em diferentes regiões, e cada região ativa, quando selecionada, pode conter um link ou promover outra forma de interação com o usuário. Como ressalva Gameleira (2002d), para que um mapa de imagens seja concebido de forma acessível, é preciso se certificar de que cada ação pertinente a uma região visual da imagem possa ser acionada sem o uso de um dispositivo apontador, como o mouse. Os mapas de imagens são definidos através do elemento MAP, do HTML. Cada área mapeada deve conter um texto equivalente, fornecido pelos atributos title e alt. Os mapas de imagens devem ser usados no lado cliente, e não no lado servidor, conforme o exemplo da figura 4.23, pois “rótulos alternativos não funcionam com mapas de imagens no lado do servidor” (KRUG, 2008, p. 179). 62 <img usemap="#mapadeimagem" src="images/imagemapexemplo.jpg" alt="exemplo de IMAGE MAP" /> <map id="mapadeimagem" name="mapadeimagem"> <area shape="rect" coords="4,8,144,36" href="#acessibilidade" alt="Acessibilidade" title="Acessibilidade"> <area shape="rect" coords="356,7,449,36" href="#diretrizes" alt="Diretrizes " title="Diretrizes"> </map> Figura 4.23 - Exemplo de um mapa de imagem acessível. Alguns designers preferem imagens de texto ao invés de texto puro, na tentativa de causar maior impacto visual. A recomendação 1.4.5 das WCAG 2.0 afirma: “Se as tecnologias que estiverem sendo utilizadas puderem proporcionar a apresentação visual, é utilizado texto para transmitir informações em vez de imagens de texto” (W3C, 2008). As exceções para esta recomendação se aplicam em imagens que sejam personalizáveis pelo usuário (tamanho da fonte, cor e plano de fundo) ou em imagens consideradas essenciais. Logotipos são exemplos de imagens essenciais. Neste caso, deve ser fornecido texto equivalente, com os atributos alt e title, conforme visto anteriormente. 4.2.8 Tabelas e frames Em conformidade com as WCAG 1.0 (item cinco), tabelas devem ser utilizadas apenas para marcar informações tabulares genuínas (“tabelas de dados”), e não como recurso de paginação (“tabelas de disposição”) – a menos que façam sentido quando lidas de modo linearizado. A informação é considerada tabular quando a estrutura de linhas e colunas é essencial para seu entendimento. E conteúdo linearizado (lido de forma linear) refere-se a percorrer o conteúdo de células conjuntas sem respeitar a estrutura de linhas e colunas. O problema, apontado por Gameleira (2002e), é que alguns softwares leitores de tela não são capazes de interpretar adequadamente tabelas e frames (quadros), e processam páginas web de modo horizontal, embaralhando textos, imagens e links. Segundo ele, portanto, o posicionamento e estruturação das páginas devem ser efetuados através de folhas 63 de estilos (CSS). A alternativa a tabelas para marcação estrutural de páginas faz uso do elemento DIV, que demarca blocos de conteúdo, e é controlado através do CSS. Para Clark (2002f), existe um conceito mal compreendido de que tecnologias adaptativas não podem ler e entender tabelas, e que o uso de tabelas é proibido pela Iniciativa de Acessibilidade Web (W3C/WAI). Ele defende também que tabelas para layouts contenham apenas os elementos TABLE, TR e TD, e explica que tabelas aninhadas (nested tables) – técnica bastante utilizada em tabelas para layouts, onde uma tabela contém outra(s) tabela(s) dentro de si – resultam em um processamento mais lento em browsers gráficos. A seguir é feita uma comparação criando-se uma única célula com tabela, e a mesma célula com o elemento DIV. Estrutura básica da tabela: Estrutura básica do DIV <table> <tr> <td>Texto</td> </tr> </table> <div>Texto</div> Figura 4.24 - Comparação entre célula criada com tabela e com o elemento div. Tabelas aninhadas, conclui Clark (op. cit.), também confundem usuários de leitores de tela: Você pode navegar para uma tabela ou dentro de uma tabela. E é ai que o problema se inicia. Para tabelas simples de layout não aninhadas dentro de outras tabelas, não há problemas em se mover de célula em célula. Com tabelas aninhadas, contudo, um usuário de leitor de tela acaba dentro de um labirinto formado por uma tabela dentro de outra. As WGAG, de fato, não proíbem expressamente o uso de tabelas para layouts, mas afirmam que é apropriado usar tabelas para exibir dados, e que usuários com leitores antigos podem ter problemas ao processar o conteúdo. Se for utilizada uma tabela para efeitos de disposição em página (o que é desaconselhado), não deve ser inserida qualquer marcação estrutural para efeitos de formatação visual. Por exemplo, em HTML, o elemento TH não deve ser usado para fazer com que o conteúdo de uma célula (que não seja de cabeçalho de tabela) apareça centralizado e em negrito. 64 Sobre tabelas de dados, alguns cuidados devem ser tomados. Os primeiros elementos de acessibilidade em uma tabela são legenda e sumário. A legenda é inserida através do elemento CAPTION do HTML e posicionada logo após o elemento TABLE. O sumário, que resume o propósito da tabela (conteúdo e/ou a estrutura), é um atributo que acompanha o elemento TABLE, inserido através do metadado summary. A legenda é visível, porém o sumário não é exibido na tela, por ser específico para agentes que processam conteúdo não visual. Dado o fato que tanto legenda quanto sumário comunicam uma informação resumida de uma tabela que se segue, é comum encontrar apenas um dos elementos. A figura a 4.25 demonstra o uso de tais propriedades. <table summary=”Descrição/Resumo da tabela...”> <caption>Legenda da tabela...</caption> <tr> <td>Texto</td> </tr> </table> Figura 4.25 - Exemplo das propriedades legenda e sumário em tabelas. Toda tabela de dados precisa conter marcações indicando quais células são cabeçalhos e quais células apresentam dados. O primeiro nível de um cabeçalho pode ser estabelecido utilizando o elemento TH ao invés de TD para uma ou mais células que contenham os cabeçalhos. Em um segundo nível, é possível (e recomendável) delimitar a área de cabeçalho da tabela, através dos elementos THEAD, rodapé, com o elemento TFOOT e também a área de conteúdo da tabela, com o elemento TBODY. Células nas áreas de cabeçalho ou rodapé devem conter informações sobre as colunas da tabela, ao passo que células na área do corpo ou conteúdo (TBODY), as informações da tabela, conforme exemplificado pela figura 4.26. 65 <table border=”1” summary=”Estados brasileiros com maior concentração de renda no Brasil em 2009”> <caption>Concentração de renda no Brasil</caption> <thead> <tr> <th>Estado</th> <th>Concentração de renda (em %)</th> </tr> </thead> <tbody> <tr> <td>São Paulo</td> <td>40%</td> </tr> <tr> <td>Rio de Janeiro</td> <td>36%</td> </tr> </tbody> </table> Figura 4.26 - Exemplo de tabela com áreas de cabeçalho e conteúdo. A tabela seria exibida em um navegador gráfico da seguinte forma: Figura 4.27 - Exemplo de exibição de tabela em navegador gráfico. Toda tabela de dados necessita conter marcações que associem explicitamente as células de dados com as respectivas células de cabeçalhos, para que usuários de tecnologias assistivas possam interpretar o conteúdo. Para isto, é imprescindível o uso do atributo “id” nos cabeçalhos, e do atributo “headers” nas células de dados, apontando para o cabeçalho adequado. O código da figura a 4.28 exemplifica esta técnica. A visualização em navegadores gráficos seria a mesma apresentada na figura 4.27. 66 <table border=”1” summary="Estados brasileiros com maior concentração de renda no Brasil em 2009"> <caption>Concentração de renda no Brasil</caption> <thead> <tr> <th id="estado">Estado</th> <th id="renda">Concentração de renda (em %)</th> </tr> </thead> <tbody> <tr> <td headers="estado">São Paulo</td> <td headers="renda">40%</td> </tr> <tr> <td headers="estado">Rio de Janeiro</td> <td headers="renda">36%</td> </tr> </tbody> </table> Figura 4.28 - Tabela com células de dados associadas aos cabeçalhos correspondentes. Contudo, os navegadores textuais realizariam a leitura de modo que fizesse sentido para o usuário. Seria lido no exemplo fornecido pelo gráfico 4.28 (após a legenda): “Estado: São Paulo. Concentração de renda (em %): 40%. Estado: Rio de Janeiro. Concentração de renda (em %): 36%”. Caso os cabeçalhos não fossem indicados, a leitura seria: “Estado. Concentração de renda (em %). São Paulo. 40%. Rio de Janeiro. 36%”, tornando a compreensão mais difícil, obrigando o usuário a se lembrar dos cabeçalhos a cada nova célula. É válido advertir que usuários de leitores de tela não conseguem interpretar facilmente tabelas com cabeçalhos de linhas e colunas utilizados ao mesmo tempo. Contudo, é possível criar tabelas de dados acessíveis com cabeçalhos de colunas e linhas. O atributo scope (escopo) pode receber o valor “col”, indicando que célula é um cabeçalho de coluna, ou o valor “row”, indicando que a célula é um cabeçalho de linha. 67 <table> <caption>Legenda da tabela...</caption> <tr> <th scope="col">Estado</th> <th scope="col">Homens 18–25</th> <th scope="col">Mulheres 18–25</th> </tr> <tr> <td scope="row">Rio de Janeiro</td> <td>12,4%</td> <td>14,4%</td> </tr> <tr> <td scope="row">São Paulo</td> <td>19,9%</td> <td>17,0%</td> </tr> </table> Figura 4.29 - Tabela com cabeçalhos de linhas e colunas. Finalmente, conforme Gameleira (2002f), frames (quadros) devem ser evitados. Páginas com estruturas de frames não são permitidas nas versões mais modernas da linguagem HTML (ver item 3.2.1). A maior parte dos leitores de tela não são capazes de identificar a existência de frames e, caso não haja indicação da sua existência, o usuário, através da tecla TAB, navegaria em ciclos repetidos dentro do mesmo frame, ou alternaria o foco para um frame incorreto. Caso o objetivo na utilização de frames seja uma suposta facilidade de manutenção, é recomendado o uso da diretiva “include”, que permite incluir uma página ou trecho de página HTML dentro de outra página HTML, o uso de modelos (templates) disponíveis em ferramentas de autoria, ou o uso de sistemas gerenciadores de conteúdo. Caso a utilização de frames seja inevitável, sua existência deve ser informada (inclusive na página sobre a acessibilidade do site), e uma versão alternativa sem frames do conteúdo fornecida, através do elemento NOFRAME. Cada frame deve conter, em adição, um título (atributo title) para fornecer um mínimo de informação sobre os quadros utilizados. Um cuidado extra com a usabilidade do site deve ser adotado. 68 4.2.9 Formulários Formulários constituem um meio de interação utilizado em larga escala na web. Contudo, se alguns cuidados não forem tomados, usuários de leitores de tela terão dificuldades de acesso. Muitos leitores não são capazes de ler o título de um campo de texto editável e o usuário não consegue discernir qual informação deve fornecer naquele campo. Os campos de um formulário (menus, botões de seleção, etc.) são denominados controles de formulário. Para tornar os campos de formulários acessíveis, de acordo com as WCAG 1.0, item 12.4, deve-se associar explicitamente os rótulos aos respectivos controles, utilizando o elemento LABEL e o respectivo atributo for, do HTML. O controle do formulário a que o rótulo diz respeito deve conter o atributo id com o mesmo valor dado ao atributo for deste rótulo. <label for="nome">Seu nome<br /> <input id="nome" type="text" name="nome" size="20"></label> Figura 4.30 - Associação de um rótulo a um controle de formulário. As recomendações WCAG 1.0, itens 9.4 e 9.5 indicam respectivamente que formulários devem oferecer uma seqüência lógica de tabulação e atalhos por teclado. A seqüência lógica de tabulação (ou seja, navegação através da tecla TAB) é definida pelo atributo tabindex. Dentre as tags HTML que podem receber este atributo, estão: INPUT (campo de texto), SELECT (menu de seleção), TEXTAREA (área de texto) E BUTTON (botão). Já o atributo accesskey permite ao usuário acessar um controle de formulário, a qualquer momento, através de uma combinação de teclas de atalho e independente de onde estiver o foco do cursor na tela. <label for="nome">Seu nome<br /> <input id="nome" type="text" name="nome" size="20" tabindex="1" accesskey="n"></label> Figura 4.31 - Seqüência lógica de tabulação e teclas de atalho em formulários. 69 Ademais, Clark (2002g) provê outras técnicas que, aplicadas a formulários, aumentam a acessibilidade e auxiliam usuários a interagir. Tais técnicas fazem referência a: agrupamento de conteúdo, botões com imagens, campos de texto pré-preenchidos e tratamento de erros. Desenvolvedores de conteúdo devem agrupar informações onde for natural e apropriado. Em formulários, informações afins – como logradouro, endereço, cidade, Estado, país e código postal – podem ser agrupadas através do elemento FIELDSET. O grupo pode receber um título, através do elemento legend (que corresponde ao caption, em tabelas). <fieldset> <legend>Selecione a faixa etária</legend> <label for="jovem"> <input id="jovem" type="radio" name="faixa" value="jovem" tabindex="0" accesskey="j">1. Jovem</label><br /> <label for="adulto"> <input id="adulto" type="radio" name="faixa" value="adulto" tabindex="1" accesskey="a">2. Adulto</label> </fieldset> Figura 4.32 - Agrupamento de informações em formulários. No exemplo da figura 4.32, outro detalhe pode ser observado. Para os botões de seleção (radio), um nível de precisão menor – com o ponteiro do mouse – pode ser exigido de usuários iniciantes ou com baixa visão. Ao usar o elemento LABEL envolvendo o botão de seleção, as opções podem ser acionadas passando-se o mouse sobre o texto correspondente, e não apenas sobre o botão de seleção. Contudo, para que este recurso seja facilmente percebido pelo usuário, o ponteiro do cursor deve ser alterado quando repousar sobre o texto, através do CSS. label { cursor:pointer; } Figura 4.33 - Botões de seleção podem exigir menor precisão. 70 O uso do FIELDSET, por sua vez, gera automaticamente uma borda que envolve o conteúdo dentro de si. Se preferir, o desenvolvedor pode desabilitar a borda, atribuindo o valor none (nenhum) para o atributo border (borda), através do CSS. fieldset { border: none } Figura 4.34 - Grupo de controles sem exibição de borda, utilizando CSS. É comum encontrar na web botões de formulários com visual personalizado, geralmente pelo uso de imagens. Quando botões de imagens, ou botões gráficos forem utilizados, além dos atributos value (valor), name (nome) e id (identificador), os atributos alt e title devem ser fornecidos, para descrição e título, respectivamente. A sintaxe do botão será a seguinte (exemplo utilizando botão de envio, ou submit): <input type="image" src="images/botao_enviar.gif" alt="Enviar" name="Enviar" id="Enviar" value=" Enviar" title="Enviar informações" /> Figura 4.35 - Botões gráficos acessíveis. O ponto de verificação 10.4 das WCAG 1.0 adverte sobre a necessidade de se incluir caracteres predefinidos (place-holders characters) de preenchimento nas caixas de edição e nas áreas de texto, até que os agentes do usuário (navegadores, por exemplo) tratem corretamente os controles vazios. O problema em questão resume-se ao fato de que alguns navegadores antigos não manipulam adequadamente campos vazios, como TEXTAREA e INPUT, ambos para texto. Campos pré-preenchidos, contudo, podem ser inoportunos ou causar confusão durante o preenchimento pelo usuário. Para evitar tal situação, é aconselhado o uso simplório de um script (linguagem de script ou extensão) “para apagar o valor do atributo value quando este for focado pelo mouse ou pelo teclado e o faz reaparecer quando o foco sair do campo sem ter sido preenchido” (PORTA; QUEIROZ, 2008). 71 <label for="busca">Pesquisar no site. <input type="text" name="busca" id="busca" title="Digite a palavra desejada (Tecla de atalho 0)" accesskey="0" size="30" maxlenght="40" value="*" onfocus="if (this.value == '*') {this.value='';}" onblur="if (this.value == '') {this.value='*';}" /> </label> Figura 4.36 - Script para evitar erro por campos vazios em navegadores antigos. O script citado e exemplificado na figura 4.36 faz uso de dois manipuladores de eventos (handler operators) para garantir que o campo esteja vazio ao receber o foco: onfocus (em foco) – que apaga o asterisco do campo quando este receber o foco pelo mouse ou teclado; e onblur (ao desfocar) – que preenche o campo com um asterisco quando o foco lhe é retirado, e se não estiver preenchido. O uso de scripts, de eventos e seus correspondentes são abordados no item 3.2.10 – Scripts, applets e plug-ins. Caso seja necessário alertar usuários sobre um erro, utilizar métodos redundantes é imprescindível. Ao reapresentar a página indicando os erros (campos preenchidos incorretamente, ou campos obrigatórios para os quais não foram fornecidos os dados solicitados), é contra-recomendado simplesmente marcar os campos com erro em vermelho. O item 3.2.4 explica detalhadamente as razões deste método ser inacessível para usuários com deficiências visuais relacionadas a cores ou com leitores de tela. Ao apresentar um erro, deve-se aconselhar em conjunto as ações prováveis para a correção de tais erros. Por fim, é válido lembrar que formulários eficazes em acessibilidade não são arranjados na página com tabelas (table hack). A leitura linearizada de células é mais lenta e pode confundir ou impedir o acesso a diversos elementos do formulário para certos grupos de usuários deficientes. 4.2.10 Scripts, applets e plug-ins Navegadores web processam e exibem facilmente HTML. Contudo, para adicionar novas funcionalidades aos sites ou apresentar conteúdo especial de mídia rica, muitos desenvolvedores recorrem a programas adicionais, geralmente de formato proprietário, que, para serem processados, necessitam de scripts (linguagens extensão), applets (programas pequenos) e plug-ins ou add-ons (pacotes de expansão). 72 A recomendação 6.3 das WCAG 1.0 ratifica a necessidade de scripts, applets e plugins promoverem a acessibilidade: Assegurar que todas as páginas possam ser utilizadas mesmo que os programas interpretáveis, os applets ou outros objetos programados tenham sido desativados ou não sejam suportados. Se isso não for possível, fornecer informações equivalentes em uma página alternativa, acessível (W3C, 1999). O site Acessibilidade Legal32 fornece um exemplo do uso de uma linguagem script em conjunto com a alternativa noscript. O script, evocado através do arquivo “auxiliar.js”, desenha da tela as opções para se alternar o tamanho das fontes e o contraste do site. Caso o navegador não ofereça suporte à linguagem Javascript, será exibido o conteúdo situado entre as tags noscript. <script type="text/javascript" src="auxiliar.js"></script> <noscript> <ul id="acessibilidade"> <li><a href="#conteudo" title="Ir direto ao assunto.">Saltar para conteúdo</a></li> <li><a href="00-acessibilidade.php" title="Conheça os recursos para acessibilidade deste site.">Acessibilidade deste site</a></li> </ul> </noscript> Figura 4.37 - Exemplo de uso da tag noscript. As tags noscript, que devem ser aplicadas em conjunto com um script, são essenciais para que se garanta a exibição do conteúdo alternativo, mesmo que o agente do usuário não suporte a linguagem script utilizada. Em adição, ao serem programados, scripts, applets e plug-ins devem estar em conformidade com as diretrizes de acessibilidade, seja pela navegação, exibição de conteúdo ou resposta a eventos. Gameleira (2002g) ensina que, na linguagem interpretada Javascript, por exemplo, deve-se acrescentar tratamentos redundantes nos eventos do mouse, beneficiando usuários que navegam pelo teclado. Os eventos que respondem a um dispositivo apontador podem ser utilizados em conjunto com seus correspondentes para o teclado: Eventos: onmousedown (ao pressionar o mouse) e onkeydown (ao pressionar o uma tecla); 32 Acessibilidade Legal - http://www.acessibilidadelegal.com/. 73 Eventos: onmouseup (ao liberar o botão do mouse) e onkeyup (ao liberar uma tecla); Eventos: onclick (ocorre após um clique no mouse) e onkeypress (após uma tecla receber um ciclo completo de toque: após ser pressionada e solta); Eventos: onmouseover (ao repousar o ponteiro do mouse sobre o objeto) e onfocus (no momento em que um elemento recebe o foco); Eventos: onmouseout (ao retirar o ponteiro do mouse de cima do objeto) e onblur (no momento em que um elemento perde o foco). Sempre que aplicável, scripts, applets e plug-ins devem estar acompanhados de atributos descritivos, como title e alt. 4.2.11 Animações - tecnologia flash Animações constituem uma fonte rica de experiência visual para usuários da web. Entretanto, uma maioria desmedida de animações encontradas por toda a rede é inacessível. O software mais popular utilizado na criação de animações e mídia rica para web é o Flash, da empresa Adobe. Sua plataforma permite o desenvolvimento de animações e aplicativos com acessibilidade. Para isto, contudo, requer alguns cuidados geralmente negligenciados por desenvolvedores. Sempre que uma animação do tipo Flash (ou similar) for utilizada, descrição e conteúdo alternativos devem ser fornecidos. Gameleira (2002h) evidencia detalhes que devem ser observados. O primeiro é o software utilizado, que só passou a oferecer recursos de acessibilidade a partir da versão MX, atendendo aos requisitos mínimos da Seção 508 e da MSAA (Microsoft Active Accessibility), tecnologia utilizada por alguns leitores de tela. Ao oferecer tais recursos, o Flash passou a permitir que leitores tenham acesso ao conteúdo de seus objetos (textos, botões, campos), e que sejam atribuídos foco textos alternativos a estes objetos. A navegação pelo teclado também passou a ser possível. Porém, para que estas funcionalidades estejam disponíveis ao usuário, é necessário que este tenha instalado em sua máquina o Flash Player, que interpreta e executa as animações, na versão seis ou posterior. 74 Figura 4.38 - Iniciativa de acessibilidade em ferramentas de autoria, como Adobe Flash. A iniciativa de acessibilidade para esta plataforma vem aumentando, contrariando a opinião generalizada de que Flash não é acessível. Juntamente com a versão mais recente do software, Adobe Flash CS4 Professional, foram lançadas diretrizes no próprio site da empresa33, sobre como criar conteúdo rico acessível. De modo geral, algumas regras devem ser seguidas para assegurar que a animação esteja realmente acessível: Tornar a própria animação acessível, de forma nativa (navegação pelo teclado, objetos acessíveis e com descrição); prover sons e leitura do conteúdo, independente de leitores de tela; e, novamente, fornecer conteúdo alternativo (CREATING, 2009). É de suma importância que projetistas desenvolvedores recorram a ferramentas de autoria que fomentem a acessibilidade, pois elas tornam natural a utilização de técnicas que obedecem as diretrizes de acessibilidade para conteúdo web. O W3C também formalizou diretrizes de acessibilidade para ferramentas de autoria - Authoring Tool Accessibility Guidelines (ATAG)34. 4.2.12 Multimídia A recomendação 1.1 das WCAG 2.0 diz que todo conteúdo não-textual deve apresentar um equivalente textual. Para as chamadas mídias com base no tempo, a alternativa em texto precisa fornecer, no mínimo, uma identificação descritiva do conteúdo não textual. A forma mais ocorrente de mídias com base no tempo, também denominadas como conteúdo multimídia, é o vídeo. Compreender a barreira para a acessibilidade é fácil: deficientes visuais que apresentam cegueira não conseguem ver vídeos. 33 34 Iniciativa de acessibilidade no Adobe Flash - http://www.adobe.com/accessibility/products/flash/tutorial/. Diretrizes W3C para ferramentas de autoria - http://www.w3.org/WAI/intro/atag.php. 75 A recomendação 1.2 das WCAG 2.0 trata com mais clareza das mídias baseadas em tempo, e determina que, como principais técnicas para vídeo, sejam fornecidas uma faixa de áudio e audiodescrição (verbalização do conteúdo visual), ou uma mídia alternativa, com mesmo conteúdo (exceto quando o conteúdo de vídeo já representar uma alternativa ao conteúdo de texto). As WCAG 2.0 definem a audiodescrição como uma “narração adicionada à trilha sonora que descrever detalhes visuais importantes que não podem ser compreendidos a partir apenas da trilha sonora principal”. Estes detalhes podem ser “sobre ações, personagens, mudanças de cenário, textos na tela e outro conteúdo visual” (W3C, 2008). Caso o áudio já revele, por si só, informações sobre o vídeo, a audiodescrição não é requerida. Para permitir o controle sobre o tempo da mídia, e outros itens de acessibilidade, devese utilizar todos os recursos de acessibilidade disponíveis em ferramentas de autoria, como Flash, descrita no item 3.2.11. A plataforma Flash também é amplamente utilizado para exibir vídeos na web. O site Blindtube35 é um excelente projeto que exemplifica como vídeos online podem ser acessíveis a deficientes. O projeto se autodenomina o primeiro portal de entretenimento com acessibilidade, pioneiro no mundo. Similar ao site YouTube, apresenta vídeos adaptados para surdos e cegos, com legendas e audiodescrição. 35 BlindTube: portal de entretenimento com acessibilidade - http://www.blindtube.com.br/. 76 CAPÍTULO 5 AVALIAÇÃO DA ACESSIBILIDADE Existem diversos métodos para se avaliar a acessibilidade de um sistema web. A avaliação é de suma importância, pois a aplicação da acessibilidade ao se desenvolver projetos web é suscetível a erros (SOARES, 2005). Com testes precoces é possível reduzir a possibilidade de erros. O W3C, no anexo A das WCAG 1.0, define de que forma os testes devem ser realizados: A validação da acessibilidade deve ser feita por meio de ferramentas automáticas e da revisão direta. Os métodos automáticos são geralmente rápidos, mas não são capazes de identificar todas as nuances da acessibilidade. A avaliação humana pode ajudar a garantir a clareza da linguagem e a facilidade da navegação (W3C, 1999). As ferramentas automáticas ou semi-automáticas são softwares ou serviços online, e a avaliação humana é feita de forma manual por especialistas ou usuários. 5.1 Métodos de avaliação O próprio W3C fornece métodos de avaliação, presente nas Recomendações para acessibilidade de conteúdo web 1.0, direcionando profissionais a realizarem uma avaliação abrangente e eficaz das páginas. Os métodos são: 1. Utilizar uma ferramenta de acessibilidade automatizada e uma para validação de navegadores. 2. Validar a sintaxe do documento, como HTML e XML. 3. Validar as folhas de estilo, como CSS. 4. Testar o documento utilizando um navegador exclusivamente textual ou um emulador. 5. Fazer uso de vários navegadores gráficos, contemplando os seguintes cenários: o Som e gráficos ativos; o Gráficos desabilitados; o Som desabilitado; o Sem mouse; o Sem carregar frames, programas interpretáveis, folhas de estilo ou applets. 6. Realizar testes em múltiplos navegadores, tanto antigos quanto recentes. 7. Realizar testes utilizando um navegador de emissão automática de fala, um leitor de tela, software de ampliação, uma tela de pequenas dimensões. 77 8. Utilizar corretores ortográficos e gramaticais para que se aumente o grau de compreensão de usuários com a necessidade de sintetizadores de voz. 9. Revisar o documento, assegurando que seja claro e simples. A revisão poderá ser feita através de software específico ou, melhor, por um revisor experiente. 10. Verificar o seu grau de acessibilidade e facilidade de utilização através de testes ou revisões feitos por pessoas com deficiências, com ou sem experiência (W3C, 1999). 5.1.1 Validação automática As ferramentas automáticas para validação, gratuitas em sua maioria, analisam o código das páginas em busca de erros na sintaxe da linguagem utilizada e verificam se alguns mecanismos de acessibilidade estão presentes. Ao final de uma validação, um relatório é apresentado, mostrando os erros e sugerindo melhorias, ou um selo de conformidade é disponibilizado para o documento. Um validador automático é capaz, por exemplo, de verificar a de presença descrições alternativas equivalentes para imagens, ao encontrar o atributo alt preenchido. Apesar disso, é necessário ressaltar que tais ferramentas não abrangem todas as questões da acessibilidade, sendo incapazes de avaliar a clareza e simplicidade de textos, ou, ainda, se a descrição textual equivalente fornecida a uma imagem faz sentido para o usuário. Alguns exemplos de ferramentas automáticas de validação são: Validadores W3C - http://validator.w3.org/ e http://jigsaw.w3.org/cssvalidator/, para avaliação do HTML (e outras linguagens de marcação como XML) e CSS, respectivamente. Não avaliam a acessibilidade, mas sim o código. “Entretanto, vale lembrar que a validação de código é importante [...], pois as tecnologias assistivas se baseiam em codificação válida para interpretar e traduzir corretamente páginas web” (DIAS, 2007, p. 152). Hera - http://www.sidar.org/hera/index.php.pt, ferramenta de avaliação portuguesa que verifica as WCAG 1.0. Cynthia Says - http://www.cynthiasays.com/, realiza validação baseando-se nos padrões da Seção 508 ou WCAG 1.0, e ainda é capaz de emular o uso de vários navegadores. WAVE - http://wave.webaim.org/, fornece um relatório com ícones indicando erros ou melhorias, entre muitas outras funcionalidades, como ver apenas o 78 texto ou a estrutura da página. Permite interação com outros sites e ferramentas, e até disponibiliza plug-ins para navegadores, como o Firefox. DaSilva - http://www.dasilva.org.br/, valida páginas de acordo com as diretrizes WCAG 1.0 ou as diretrizes do governo brasileiro, E-GOV. É também o primeiro validador brasileiro e em português. Mantém no site uma lista de sites acessíveis e disponibiliza um software para validação off-line com diversas funcionalidades , compatível com o sistema operacional Windows. Juicy Studio - http://juicystudio.com/services/translations/colourcontrast-ptbr.php, avalia o contraste entre duas cores fornecidas, retornando um relatório simples que diz se a diferença de brilho e a diferença entre as duas cores é suficiente. Vischeck - http://www.vischeck.com/vischeck/vischeckURL.php, permite simular como seria a visão de um usuário com daltonismo (deficiências visuais protanopia, deuteranopia e tritanopia, abordadas no item 3.2.4). O W3C/WAI mantém uma extensa lista36 de ferramentas avaliação, concerto e transformação (softwares e serviços online) que ajudam a determinar se um site apresenta conformidade com as diretrizes de acessibilidade. As verificações que estas ferramentas realizam abrangem desde o código até o contraste de cores. As revisões ortográficas e gramaticais também podem ser efetuadas de forma automática. 5.1.2 Avaliação humana A avaliação humana dos requisitos de acessibilidade em páginas web é imprescindível para abranger pontos os quais a validação automática não é capaz de suprir. Assegurar que o documento seja claro e simples, por exemplo, é uma tarefa realizada preferencialmente por pessoas experientes, ao invés de algum programa de computador. Especialistas, ou seja, profissionais da web, precisam checar manualmente os pontos de verificação, critérios de sucesso e técnicas apresentados pelas recomendações de acessibilidade (WCAG) 1.0 e 2.0. Os avaliadores podem determinar quais níveis de conformidade desejam atingir (A, AA ou AAA), e em sites de grande porte podem, na concepção de Dias (2007, p. 156), “escolher, além da homepage, amostras representativas de 36 Ferramentas de avaliação - http://www.w3.org/WAI/ER/tools/. 79 páginas web do portal, relacionadas com as tarefas típicas realizadas com ele (identificadas na análise de seu contexto de uso)”. Diferentes navegadores (antigos e recentes) devem ser testados, de fabricantes distintos. Internet Explorer (da Microsoft), Mozilla Firefox (da Fundação Mozilla), Safari (Apple) e Opera (Opera Software) são os navegadores gráficos mais populares. Outro navegador popular atualmente é o Chrome (Google), contudo a funcionalidade que permite teclas de atalhos em sites (atributo accesskey do HTML) está desabilitada neste navegador. Navegadores devem, em adição, ser testados em diferentes cenários. No escopo da deficiência visual (cegueira, daltonismo e baixa visão), todos os cenários apontados no quinto método do W3C são relevantes: navegação com som e gráficos ativos; com gráficos desabilitados; som desabilitado; sem mouse; sem carregar frames, programas interpretáveis, folhas de estilo ou applets. Figura 5.1 - Exemplo de navegador gráfico com imagens desabilitadas. Avaliações com ampliação de tela podem recorrer aos softwares fornecidos pelos próprios fabricantes de sistemas operacionais, como o Magnifier, fornecido pela Microsoft. Um exemplo de navegador com emissão automática de fala que pode ser utilizado em avaliações é o Easy Web Browsing37, software proprietário fornecido pela IBM, atendendo também ao sétimo método de avaliação do W3C. Suas funcionalidades vão além de apenas ler textos: incluem o aumento de tela como um todo ou em porções específicas e a personalização de cores de fundo e do texto. O navegador da IBM é destinado principalmente a usuários idosos ou com alguma deficiência visual. 37 Download do Easy Web Browsing - http://www-03.ibm.com/able/dwnlds/index.html. 80 Para testes com navegadores textuais, desenvolvedores podem recorrer ao Lynx38, ou um simulador online para o mesmo, Lynx Viewer39. Este simulador é destinado apenas a desenvolvedores. Para testar um site com o Lynx Viewer, é preciso criar e publicar no mesmo endereço eletrônico um arquivo HTML (com qualquer conteúdo) sob o nome “delorie.htm”. Com esta política de segurança, o serviço online impede a ação de usuários mal intencionados. O navegador textual ou seu simulador exibem apenas texto, ignorando imagens, folhas de estilo e linguagens programadas. Figura 5.2 - Exemplo de site testado com o simulador Lynx Viewer. Outra categoria de navegadores são os leitores de tela. Alguns exemplos são: Jaws40, Virtual Vision41 (em português) e Monitvox (utilitário do sistema DosVox42, gratuito e em português). A avaliação em leitores de tela pode ser feita em conjunto com usuários deficientes visuais. Existem diferentes métodos de avaliação de páginas por deficientes 38 O navegador textual Lynx está disponível em - http://lynx.browser.org/. Simulador do navegador textual Lynx - http://www.delorie.com/web/lynxview.html. 40 Jaws - http://www.freedomscientific.com/fs_downloads/jaws.asp. 41 Virtual Vision - http://www.micropower.com.br/v3/pt/acessibilidade/index.asp. 42 DosVox - http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/. 39 81 visuais, que podem fornecer informações extremamente valiosas para desenvolvedores e projetistas web. 5.1.3 Testes com usuários O último método de avaliação da acessibilidade proposto pelo W3C é a revisão das páginas por deficientes visuais, para que se verifique o grau de acessibilidade e facilidade de utilização. A importância de testes com usuários é reforçada por Krug (2008, p. 133): Se você quiser um ótimo site, tem que testar. Após ter trabalhado em um site por até mesmo algumas semanas, você não consegue mais vê-lo como algo novo. Você sabe demais. A única forma de descobrir se ele realmente funciona é testando-o. Testes com usuários devem incluir diferentes habilidades e deficiências, e podem ser realizados no próprio ambiente em que estes usuários utilizam seus computadores ou em laboratórios específicos para testes, que dispõem de câmeras, gravadores de áudio, espelhos de face única e softwares de monitoramento. Os testes incluem orientações aos usuários, listas de tarefas a realizar (por exemplo, acessar determinada página e comprar um produto) e questionários de avaliação que podem ser respondidos pelos participantes (DIAS, 2007). Seguramente os testes com usuários podem ser simples, não há razões para superestimar estrutura ou investimentos. Se os testes forem realizados no início do desenvolvimento, o número de usuários pode ser menor. Em sua coluna Alertbox sobre usabilidade Nielsen fornece razões pelas quais a maioria dos testes só precisaria de no máximo cinco usuários. Entre elas: com muitos usuários, se aprende menos. Os avaliadores começam a ver erros repetidos. O recomendado é testar com poucos usuários, efetuar as modificações necessárias e realizar novos testes (Nielsen, 2000). 5.2 Modelo proposto de site acessível Com o objetivo de auxiliar a profissionais que geram conteúdo para a web, um modelo de site acessível encontra-se disponível no endereço: www.acessibilidadeweb.com.br. O modelo demonstra, de forma prática, várias técnicas para aplicar a acessibilidade abordadas durante esta pesquisa. O modelo proposto consiste em um site acessível que pode, portanto, ser acessado por deficientes visuais e visa despertar o interesse e facilitar o aprendizado de projetistas e desenvolvedores web sobre a acessibilidade. 82 O modelo passou por todos os métodos de avaliação de acessibilidade recomendados pelo W3C (especificados no item 5.1 Métodos de avaliação) e incluiu testes dos tipos automático, manual e com usuários, descritos a seguir. Figura 5.3 - Modelo proposto de site acessível – www.acessibilidadeweb.com.br. 5.2.1 Avaliação da acessibilidade no modelo proposto Os testes para assegurar a acessibilidade do modelo proposto de site se iniciaram com a validação da linguagem de marcação utilizada (XHTML 1.0 Transitional) e da folha de estilos (CSS) pelos respectivos validadores do W3C. A gramática e a ortografia também representaram itens passíveis de análise automática, enquanto a clareza e simplicidade foram analisadas de forma manual. A avaliação automática de acessibilidade ficou a cargo do serviço online DaSilva, que garantiu o nível de conformidade mais alto para o modelo (“AAA”). Após a validação do 83 código e de serviços online que avaliam a acessibilidade, os pontos de referência das WCAG foram verificados, manualmente, seguindo a recomendação do W3C. O emulador escolhido para a navegação textual foi o Lynx Viewer. O conteúdo foi apresentado com uma seqüência lógica e clara. Vários navegadores gráficos serviram de base para os testes: Internet Explorer (Versão 8), Mozilla Firefox (Versão 3), Safari (Versão 4) e Opera (Versão 9), abrangendo todos os cenários distintos (apresentados no item 5.1 Métodos de avaliação). O modelo proposto foi testado com navegadores ajustado aos padrões de fonte (tipologia) nos tamanhos 10, 12, 14 e 18 pontos – apresentando excelente visibilidade sem descaracterização do visual. Com o padrão de fonte ajustado para 24 pontos, entretanto, o design apresentou ligeiro comprometimento na parte inferior, com a sobreposição parcial (apenas visual) de dois links, o que não afetou a visualização de todo o conteúdo, tampouco a navegação. É válido ressaltar que os links que se sobrepuseram eram repetições de outros links já existentes na página. A visualização do modelo através do software ampliador de tela Magnifier não acarretou em qualquer ônus ao layout e a navegabilidade do site. Para simular a visão de usuários daltônicos, utilizou-se o simulador Vischeck, que assegurou uma boa composição de cores e contraste para as seguintes categorias de deficiências: Deuteranopia (não distinção entre vermelhos e verdes), cujo teste pode ser conferido no endereço a seguir: http://vischeck.homeip.net/uploads/125961750128328/; Protanopia (novamente a não distinção entre vermelhos e verdes) - http://vischeck.homeip.net/uploads/125961756328400/; Tritanopia (insensibilidade de cores azuis) - http://vischeck.homeip.net/uploads/125961759028472/. No anexo A são encontrados gráficos comprobatórios de vários testes citados, a fim de auxiliar a compreensão do processo de avaliação da acessibilidade automática ou por especialistas. Os testes abrangeram, ainda, um usuário piloto, deficiente visual com cegueira, que fez uso de leitores de telas e um navegador alternativo para deficientes visuais. Os leitores de tela utilizados foram o Jaws e o Monitvox. Este último integra o pacote de softwares do sistema operacional DosVox, do qual também foi utilizado o programa de navegação WebVox (sem suporte total a Javascript). Os testes comprovaram um bom nível de acesso e navegação do conteúdo. Adicionalmente, tarefas específicas de navegação foram realizadas, como acessar e utilizar o formulário de contato, leitura de conteúdo e a utilização de saltos. Durante o período de testes com o usuário piloto, algumas modificações foram sugeridas: 84 Inserção do título da página atual junto ao título do site (tag title do documento). Exemplo: Acessibilidade Web – Página de Contato. Encurtamento dos títulos que descrevem as funções dos links que possuem atalhos. Exemplo: de “Pular para o conteúdo – Atalho no 2” para “Conteúdo no 2”. Na página inicial, retirar o link dos ícones na área de conteúdo, pois acarretavam em uma leitura duplicada, visto que os títulos dos quadros apresentavam os mesmos links. As necessidades de modificações percebidas através dos testes foram realizadas. Novos testes deverão ocorrer abrangendo distintos navegadores e mais usurários. 85 CAPÍTULO 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A web possibilita aos deficientes visuais a inclusão digital, social, o acesso a informações e serviços que, por outros meios, talvez não sejam fáceis de realizar. Contudo, o desfrute destes adventos tecnológicos tem esbarrado nas dificuldades de acesso a páginas com estrutura e conteúdo inadequados, incompreensíveis para estes deficientes. O estudo de tais barreiras mostrou-se essencial para que profissionais geradores de conteúdo compreendam as diferentes deficiências visuais existentes, tecnologias de apoio que oferecem assistência e de que forma o conteúdo deve ser apresentado. Diretrizes para a acessibilidade na web foram apontadas, objetivando a orientação de projetistas e desenvolvedores, a fim de que produzam páginas que permitam o acesso e interação de pessoas desprovidas ou com capacidade limitada de visão. Estes profissionais muitas vezes ignoram tais diretrizes baseando-se em mitos, desfeitos através desta pesquisa. Os conceitos, métodos, técnicas e ferramentas demonstrados para o desenvolvimento e avaliação de sites com acessibilidade comprovam que esta é uma realidade possível de ser alcançada, sem demandar altos custos ou comprometer a viabilidade dos projetos. Em adição, foi proposto um modelo de site acessível, que visa ser fonte de interação e pesquisa para desenvolvedores, contribuindo, assim, para sua conscientização de que uma web acessível é uma web melhor para todos. 6.1 Conclusão O principal objetivo deste trabalho fundamentou-se no levantamento de técnicas para a aplicação das diretrizes de acessibilidade para o conteúdo web. A pesquisa realizada e a demonstração de tais técnicas são importantes por permitir que profissionais desenvolvam páginas estruturalmente adequadas, com desempenho melhorado, maior abrangência de público e, sobretudo, acessíveis aos deficientes visuais. Além de firmar-se como um manual de desenvolvimento de sistemas web acessíveis, este trabalho proporciona para a sociedade outras contribuições que se somam à sua contribuição primária: a inclusão digital e a inclusão social de deficientes visuais. A inclusão digital permite o acesso pleno e democrático à informação disponibilizada através da Internet, resultando em maior independência para deficientes visuais. Por 86 conseguinte, páginas acessíveis alavancam a inclusão social, disponibilizando meios para que deficientes visuais se comuniquem e se relacionem ampla e eficazmente, obtenham estudo, trabalho, lazer e melhoria na qualidade de vida. A acessibilidade torna a web um amplo canal para transpor outras barreiras, ao invés de apenas mais uma barreira a ser transposta. Um canal para o acesso pleno a informação e a cidadania. 6.2 Trabalhos futuros A pesquisa sobre a acessibilidade na web gerou a motivação necessária para a continuidade dos estudos e a criação de um ambiente colaborativo que, com base no modelo proposto de um site acessível, deverá transformar-se em fonte de participação, contribuição e conhecimento para projetistas e desenvolvedores. Serão investigadas, por meio de questionários, novas necessidades ou dificuldades destes profissionais, para que se identifique pontos técnicos adicionais a serem explorados no site. Novas tecnologias e novas versões das tecnologias já existentes surgem com freqüência na Internet, requerendo a atualização de diretrizes e das técnicas que possibilitam a acessibilidade. Revisões sistemáticas deverão ser realizadas para assegurar que o conteúdo disponibilizado esteja sempre atualizado, ainda que se garanta o histórico de técnicas depreciadas, para fins documentativos. Mais estudos sobre diretrizes para a acessibilidade web devem ser realizados, abrangendo as demais categorias de deficiências, como auditivas, motoras, cognitivas, mentais, de linguagem ou múltiplas. Tais estudos ocasionarão a disponibilização de novas técnicas no ambiente virtual outrora mencionado. Deverão ser realizadas pesquisas e atividades de conscientização, como palestras e seminários, junto a empresas e entidades de ensino relacionadas ao desenvolvimento de conteúdo para a web, a fim de que as vantagens inerentes a acessibilidade sejam amplamente difundidas e as técnicas para a aplicação da mesma sejam ensinadas. 87 ANEXO A – EXEMPLOS DE TESTES DE ACESSIBILIDADE Figura A.1 – Validação automática de sintaxe (HTML). Figura A.2 – Validação automática de folhas de estilo. 88 Figura A.3 – Avaliação automática de acessibilidade. Figura A.4 – Teste com emulador de navegador textual - Lynx Viewer. 89 Figura A.5 – Teste com Javasript desabilitado. Figura A.6 – Teste com página sem folhas de estilo vinculadas. 90 Figura A.7 - Teste com imagens desabilitadas. Figura A.8 - Simulador Vischeck indicando a visualização de um deficiente com Deuteranopia. 91 Figura A.9 - Simulador Vischeck indicando a visualização de um deficiente com Protanopia. Figura A.10 - Simulador Vischeck indicando a visualização de um deficiente com Tritanopia. 92 REFERÊNCIAS 508 Law, 1998. Disponível em: <http://section508.gov/index.cfm?FuseAction=Content&ID=3>. Acesso em: 09 out. 2009. ACCESSIBILITY. Disponível em: <http://australia.gov.au/about/accessibility>. Acesso em: 09 out. 2009. ACESSIBILIDADE para todos: uma cartilha de orientação. Rio de Janeiro: Núcleo PróAcesso, UFRJ/FAU/PROARQ, 2004. BRASIL. Lei nº 7.853, de 24 de outubro de 1989. Dispõe sobre o apoio às pessoas portadoras de deficiência, sua integração social, sobre a Coordenadoria Nacional para Integração da Pessoa Portadora de Deficiência - CORDE, institui a tutela jurisdicional de interesses coletivos ou difusos dessas pessoas, disciplina a atuação do Ministério Público, define crimes, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L7853.htm>. Acesso em: 11 out. 2009. _____. Lei nº 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L10098.htm>. Acesso em: 11 out. 2009. _____. Lei nº 5.296, de 2 de dezembro de 2004. Regulamenta as Leis nos 10.048, de 8 de novembro de 2000, que dá prioridade de atendimento às pessoas que especifica, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato20042006/2004/Decreto/D5296.htm>. Acesso em: 11 out. 2009. BORGES, José Antonio. Projeto Dosvox. <Disponível em http://intervox.nce.ufrj.br/dosvox/>. Acesso em: 27 nov. 2008. 93 CHAK, Andrew. Como criar sites persuasivos: clique aqui. Tradução: Katia Aparecida Roque. São Paulo: Pearson Education do Brasil, 2004. 278 p. CLARK, Joe. Building Accessible Websites – Navigation. 2006a. Disponível em: <http://joeclark.org/book/sashay/serialization/Chapter08.html>. Acesso em: 08 out. 2009. _____. Building accessible websites – why bother?. 2006b. 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