ESTUDANTES DE MÚSICA: PANORAMA GERAL DE UMA ATIVIDADE DE RISCO PARA A AUDIÇÃO Débora Lüders; Cláudia Giglio de Oliveira Gonçalves Pesquisas comprovam que muitos músicos não têm consciência do prejuízo que a música em forte intensidade pode trazer para sua carreira profissional, como a dificuldade no reconhecimento de timbres e na afinação dos instrumentos. Este estudo teve como objetivo analisar o risco auditivo da prática musical em estudantes de graduação em música da cidade de Curitiba – Paraná. Participaram 62 estudantes de três instituições públicas de ensino, sendo 26 (41,94%) do gênero feminino e 36 (58,06%) do gênero masculino, com idades variando entre de 18 a 58 anos (média de 26 anos). Os estudantes responderam a um questionário sobre prática musical, história da saúde auditiva e geral, conhecimento dos riscos para a saúde auditiva, medidas preventivas de alterações auditivas e hábitos auditivos. A avaliação audiológica foi realizada em 42 dos 62 estudantes e constou de: audiometria tonal convencional e de altas frequências; emissões otoacústicas evocadas transientes e produto de distorção, sendo os resultados comparados com um grupo controle. Os níveis de pressão sonora e espectro de frequência dos instrumentos musicais foram mensurados. Entre os estudantes 48,38% tocam instrumentos de corda, seguidos dos instrumentos eletrônicos e/ou amplificados. 80% já toca e/ou canta há mais de quatro anos e 56% já faz parte de um grupo há mais de quatro anos; 72% estuda até duas horas por dia 58% ensaia de três a seis horas semanais. Apesar de 75% não perceber qualquer dificuldade auditiva, 45% referiu algum sintoma auditivo (intolerância e/ou zumbido). Entre os problemas de saúde foram encontrados estresse/irritação; dores de cabeça; baixa concentração; dores musculares, problemas para dormir e depressão. 91,93% referiu que a música em forte intensidade pode prejudicar a audição, 11,3% irritação ou estresse; 9,67% dores de cabeça e 8% zumbido. 58% conhece protetores auditivos, porém, entre aqueles que conhecem, 80,64% nunca o utiliza. Em relação a audiometria convencional, 39 (92,85%) dos 42 estudantes apresentaram todos os limiares auditivos dentro dos padrões de normalidade. Porém, os piores limiares médios foram observados na orelha esquerda para todas as frequências, excetuando-se a 4000 Hz. Quando comparado ao grupo controle o grupo estudo apresentou piores médias dos limiares auditivos nas frequências de 500 Hz na orelha esquerda, 250 Hz e 6000 Hz em ambas as orelhas. Em relação a audiometria de altas frequências, os piores resultados para o grupo de estudantes ocorreram somente na frequência de 9.000 Hz da orelha direita. No entanto, as médias dos limiares das frequências de 9000 Hz na orelha esquerda e 10000 Hz e 11200 Hz em ambas as orelhas foram piores no grupo estudo em relação ao grupo controle. Houve presença de emissões otoacústicas transientes em 41 (97,6%) das orelhas direitas e 40 (95,2%) das orelhas esquerdas. Foram registradas ausência das emissões otoacústicas produto de distorção em vários estudantes, em todas as frequências, principalmente na orelha esquerda. As médias das amplitudes das EOAPD e da relação sinal/ruído, também foram piores na orelha esquerda, excetuando-se 8000 Hz. Comparado ao grupo controle, observou-se que as médias das amplitudes das EOAPD do grupo estudo são menores em todas as frequências, excetuando-se 4000 Hz na orelha direita, e maior número de resultados incertos, principalmente na orelha esquerda em todas as frequências, exceto 6000 Hz na orelha direita. Os níveis médios de pressão sonora encontrados durante as atividades acadêmicas variaram de 77,2 dB(A) a 99,4 dB(A), com picos de intensidade entre 78,8 dB(A) e 113,1 dB(A). Os maiores valores ocorreram no ensaio da banda sinfônica, com maiores níveis na sessão das madeiras (entre as flautas transversais) e dos metais, próximos à percussão (tímpano). A partir da análise dos resultados, pode-se concluir que os estudantes de graduação em música encontram-se em situação de risco para a perda auditiva. As diferenças encontradas nos limiares auditivos das altas frequências, se acompanhadas durante um período maior de tempo, associadas também aos limiares auditivos convencionais e aos valores das amplitudes das emissões otoacústicas, podem trazer informações sobre o estado auditivo dos músicos com o passar dos anos, mostrando-se eficazes na detecção precoce da deficiência auditiva. Se este acompanhamento puder ser realizado no período acadêmico, como parte de um Programa de Preservação Auditiva, juntamente com ações educativas, o futuro músico estaria muito mais preparado para enfrentar as situações de risco e, quem sabe, colaborar para que as intensidades sonoras não sejam fortes o suficiente ou, pelo menos, por tempo tão prolongado, a ponto de afetar sua audição. Palavras-chave: música; estudantes; audição; perda auditiva.