Anais do Simpósio Regional de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto - GEONORDESTE 2014
Aracaju, Brasil, 18-21 novembro 2014
CARACTERIZAÇÃO DO USO E OCUPAÇÃO DO SOLO NA ÁREA DE INFLUENCIA
DIRETA DO PARQUE ESTADUAL DAS ÁGUAS DO CUIABÁ, MUNICÍPOS DE NOBRES E
ROSÁRIO OESTE, MATO GROSSO
Edson Viana Massoli Junior 1, 2, Jean Fábio Paelo Silva1, Patrícia Regina da Silva Gonçalves1,
Raimundo Fagundes1, Tatyane de Lima Mendes1 Vanderley Severino dos Santos1
1
Instituto Federal de Educação, IFMT, Campus Cuiabá – Tecnólogo em Geoprocessamento; [email protected]
2
UNIVAG – Centro Universitário, GPA – Ciências Agrárias, Biológicas e Engenharias
RESUMO: O objetivo desse estudo foi caracterizar o uso e ocupação do solo na área de influencia
direta do Parque Estadual Águas do Cuiabá. Para a classificação da paisagem nós consideramos as
seguintes classes: 1. Mata; 2. Cerrado; 3. Áreas degradadas; 4. Pastagens; 5. Agricultura; 6. Encostas.
Utilizamos imagens do sensor Landsat TM para vetorizar polígonos referentes a cada uma das classes
no software QUANTUM GIS 2.0.1. Os principais critérios para delimitação das classes foram cor,
textura e forma. O Parque Estadual Águas do Cuiabá possui 76984,98 há de área, sua paisagem é
dominada por áreas antrópicas (61,53%), especificamente áreas degradadas (30,94%), agricultura
(17,11%) e pastagem (13,48%). Já as áreas naturais totalizaram (38,47%), incluindo mata (15, 58%),
cerrado (12, 03%) e vegetação de encosta (10,83%). O uso do solo na área de influencia do Parque
Estadual Águas do Cuiabá apresenta incompatibilidades com conceitos e objetivos de uma Zona de
Amortecimento. Para que os objetivos da criação do Parque Estadual Águas do Cuiabá se cumpram é
necessária à elaboração do seu plano de manejo que delimite uma zona de amortecimento com normas
para o uso restrinjam os usos inadequados, além de recuperação das áreas degradadas e implantação
das estruturas físicas necessárias à gestão da unidade.
PALAVRAS-CHAVE: sensoriamento remoto, unidade de conservação, zona de amortecimento
INTRODUÇÃO: O processo de ocupação no Estado de Mato Grosso caracterizou-se pela falta de
planejamento e uma exploração inadequada dos recursos naturais, particularmente dos solos e florestas
(SILVA, 2008). Tal exploração leva a um conjunto de problemas ambientais, como mudanças
climáticas locais, erosão dos solos, assoreamento dos cursos d’água, redução da qualidade da água e
perda da conectividade da paisagem (MARTINS, 2001). As unidades de conservação (UC) são áreas
legalmente instituídas pelo poder público (Lei Federal nº 9.985, de 18 de julho de 2000), com o
objetivo de proteger os recursos naturais e a biodiversidade. Apesar da importância das UCs, elas
sofrem grandes pressões das áreas de entorno, predominantemente ocupadas por atividades agrícolas e
agroflorestais (SHIDA; PIVELLO 2002). Em função disso foi criado o Decreto nº 99.274, de 06 de
junho de 1990 e a resolução CONAMA n°13, de 06 de dezembro de 1990, tornando obrigatória a
definição de uma “Zona de Amortecimento” ou “Zona Tampão”. Esta deve compreender um raio de
10 km, a partir dos limites da UC, com a finalidade de filtrar os impactos negativos de atividades
externas, tais como: ruídos, poluição, espécies invasoras e o avanço da ocupação humana (MILLER,
1997). Considerando isso, estudos que caracterizem as formas de uso e ocupação do solo em zonas de
amortecimentos podem contribuir para a implementação de planos de manejo em UCs, garantindo que
estas exerçam as funções para as quais foram criadas. Desta forma, o objetivo desse estudo foi
caracterizar o uso e ocupação do solo na área de influencia direta (raio de 10 km) do Parque Estadual
Águas do Cuiabá (PEAC) e discutir aspectos relacionados à delimitação de sua zona de
amortecimento.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo: O Parque Estadual Águas do Cuiabá (PEAC) é uma UC de proteção integral, tem por
objetivo garantir a proteção dos recursos hídricos e a viabilidade da movimentação das espécies da
fauna nativa. Com uma área de 10.600,00 ha, localiza-se na região centro sul do Estado de Mato
Grosso, entre os municípios de Rosário Oeste e Nobres. Esta inserida no domínio do bioma Cerrado e
é banhada pelos rios Cuiabá do Bonito e Cuiabá da Larga, que juntos formam o rio Cuiabá
(ZEILHOFER et al., 2006). Os solos apresentam características de Neossolos, Latossolos e
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Cambissolo. A região é constituída por várias serras, geradas por desdobramentos antigos, formados
por rochas sedimentares. Antes da criação do PEAC, a região era utilizada para a atividade de
pecuária extensiva. As terras ainda não foram desapropriadas e o plano de manejo foi elaborado porém
não publicado. A área de estudo está sobreposta à área que deveria ser a Zona de Amortecimento do
PEAC e a outras áreas protegidas como a APA Cabeceiras do Cuiabá e também a Terra Indígena
Santana, Etnia Bakairi, área 34.963,78ha (Figura 1).
Figura 1 – Localização do Parque Estadual Águas do Cuiabá (PEAC) indicando os limites municipais
e outras unidades de conservação.
Procedimentos metodológicos: Consideramos como área de influencia Parque Estadual Águas do
Cuiabá (PEAC) um raio de 10 km a partir dos limites do parque, que de acordo com a legislação, é a
Zona de Amortecimento. Utilizamos a base cartográfica oficial (1: 250000), disponível no site da
Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Estado de Mato Grosso (SEMA), incluindo hidrografia,
memorial descritivo do PEAC. O sistema de referência utilizado foi o WGS84 fuso 21S e a projeção
UTM . O processo de identificação das principais formas de uso e ocupação do solo foi realizada a
partir da interpretação visual de imagem do sensor TM/ Lantsat 8, cena 226, ponto 70, data de
passagem 16/07/2013. Essa imagem foi composta utilizando as bandas 3, 4 e 5 no modelo RGB.
Considerando a escala adotada e a resolução espacial das imagens utilizadas, foi possível reconhecer
as seguintes classes da paisagem: 1. Mata - Composta basicamente por vegetação ripária e outras
formações florestais que margeiam corpos d’água.
2. Cerrado - Compreende diferentes
fitofisionomias savânicas, desde campos sujos até cerrado sentido restrito. 3. Áreas degradadas - Inclui
desmatamento em diferentes graus de regeneração, pastagens degradadas e abandonadas (Juquiras) e
outras formações abertas que apresentaram comportamento espectral semelhante. 4. Pastagens
manejadas - Áreas destinadas a atividade pecuária com uso de espécies exóticas como Braquiária
(Brachiaria sp), Brizantão (Brachiaria brizanta) e derruba- velho (Cynodon sp.). 5. Agricultura Áreas destinadas à plantação de milho, soja e girassol. 6. Encostas - Áreas de relevo acidentado com
declividade acentuada e cobertura vegetal diversa. Para validação das classes da paisagem utilizamos
magens de melhor resolução (Plataforma Google Earth) e visitas a campo.
Após a definição das classes de uso do solo, começamos o processo de vetorização de
polígonos utilizando o software QUANTUM GIS 2.0.1.Os principais critérios para delimitação das
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classes foram cor, textura e forma. A mensuração da área referente a cada categoria de uso do solo foi
realizada através da ferramenta geometria de colunas, do mesmo software.
RESULTADOS E DISCUSSÕES: A área estudada no entorno do Parque Estadual Águas do Cuiabá
(PEAC) possui uma área de 76.984, 98 ha. A análise da estrutura da paisagem mostrou que a área é
dominada por classes de origem antrópica (61,53%), entre estas estão as áreas degradadas (30,94%),
agricultura (17,11%) e pastagem (13,48%) (Tabela 1). Estudos com a mesma abordagem, como Nora,
et al (2009) e Tambosi (2008), ambos estudando o uso do solo em ZA de UCs no Estado de São Paulo,
encontraram uma estrutura da paisagem semelhante a do presente estudo, com predominância de áreas
agrícolas em relação às áreas naturais.
O padrão de uso e ocupação do solo encontrado nesse estudo, com predominância de áreas
degradadas, pode ser atribuído ao histórico de ocupação dessa região, onde as áreas originalmente
cobertas por vegetação típica do Cerrado foram substituídas por pastagens. Estas pastagens foram
intensamente utilizadas por décadas e abandonadas depois da criação do PEAC. O conjunto de áreas
degradadas do PEAC é heterogênea, pois inclui pastagens abandonadas em diferentes graus de
regeneração. Segundo Guariguata e Dupuy (1997), a velocidade de regeneração florestal depende da
intensidade da perturbação sofrida, da presença do banco de sementes (Araujo et al., 2004) e da
qualidade do solo (Ferreira et al., 2007). Devido a sua intensa atividade de pastoreio, a maioria das
áreas da área de influencia da PEAC não possui capacidade de auto- regeneração, necessitando de um
programa de recuperação ambiental.
Figura 2 – Mapa de uso do solo da área de influencia direta do Parque Estadual Águas do Cuiabá.
O fato da PEAC estar inserida nos limites de outras UC, a APA Cabeceiras do Cuiabá, uma
UC de uso sustentável, pode se tornar um fator complicador para o manejo do PEAC devido a
possibilidade da presença de pequenas propriedades, que podem utilizar de técnicas de manejo
incompatíveis com uma área de proteção, como uso de biocidas, fertilizantes e pastagens exóticas.
Considerando isso, o plano de manejo da APA Cabeceiras do Cuiabá deve dar um tratamento
diferenciado para a área de sobreposição com o PEAC, uma vez que esta é uma UC de proteção
integral e não admite a presença de pequenas propriedades rurais. As áreas agrícolas de soja e milho
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ficam praticamente restritas a porção norte da área de influencia do PEAC (Figura 1). Esse uso do solo
é totalmente incompatível com uma área de Zona de Amortecimento porque esse tipo de cultura utiliza
grande quantidade de insumos e defensivos que podem afetar a qualidade da água e a biodiversidade
no interior do PEAC.
As áreas de pastagem representam 13,48% e estas estão localizadas em sua maior parte na
porção sul do PEAC (Figura 2). Essas áreas utilizam basicamente pastagens exóticas como Braquiária
(Brachiaria sp), Brizantão (Brachiaria brizanta) e derruba- velho (Cynodon sp.) localizadas próximas
a unidade de conservação. Isso pode ocasionar problemas ambientais como a invasão de plantas
exóticas mediante o carreamento de sementes por agentes ativos ou passivos (BEGON, 2006). Esse
processo é reconhecido como invasão biológica, fato que pode também levar a consideráveis perdas de
biodiversidade nativa (PETENON, 2006).
O entorno do PEAC apresentou (38,47%) de sua área compostas por unidades de paisagem
naturais, incluindo mata (15, 58%), cerrado (12, 03%) e vegetação de encosta (10,83%). As áreas de
mata estiveram homogeneamente distribuídas ao longo da paisagem, recobrindo principalmente os rios
Cuiabá, Cuiabá do Bonito, Cuiabá da Larga e os seus principais afluentes. As áreas de encosta
ocorreram em duas faixas contínuas que cruzam toda área de estudo. A maior ao norte, limita a
distribuição das áreas agrícolas, com outra menor, no extremo sul. De acordo com Metzger (2010),
faixas contínuas de vegetação, também conhecidos como corredores ripários, são elementos que
facilitam o fluxo de organismos ao longo da paisagem e, em áreas intensamente desmatadas, podem
ter papel capital, pois interligam espacialmente os remanescentes de vegetação nativa promovendo a
conectividade da paisagem. Nesse estudo consideramos que a vegetação ripária e as encostas são os
principais elementos de conexão da paisagem, uma vez que são os únicos remanescentes nativos que
cruzam o entorno do PEAC. As áreas de cerrado ficaram concentradas na porção norte da área de
estudo, localizados no interior da Terra Indígena Santana, uma vez que na porção sul tais áreas foram
quase que totalmente convertidas em pastagens. Desta forma, consideramos que a sobreposição entre
da área de influencia direta do PEAC e a Terra Indígena é de fundamental importância para a
manutenção dos remanescentes de cerrado na área, pois apresenta uso controlado, evitando assim a
conversão dos remanescentes florestais em outras formas de uso do solo como agricultura e pecuária.
Tabela 1 – Estrutura da paisagem da área de influencia direta do Parque Estadual Águas do Cuiabá.
Km2
Hectares
%
Áreas degradadas
238266,59
23826,66
30,95
Agricultura
131783,13
13178,31
17,12
Mata
119946,44
11994,64
15,58
Pastagem
103788,79
10378,88
13,48
Cerrado
92673,37
9267,34
12,04
Encosta
83391,47
8339,15
10,83
Total
769849,79
76984,98
Classes
CONCLUSÕES
1 - O uso do solo no entorno do PEAC apresenta incompatibilidades com conceito e objetivos de uma
zona de amortecimento.
2 - A sobreposição do PEAC com a APA Cabeceiras do Cuiabá pode ser considerada um risco a
conservação da PEAC, caso o zoneamento do plano de manejo da APA não restrinja o uso do solo
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nessa área. A Terra Indígena Santana é de fundamental importância para a proteção da PEAC uma vez
que contem o maior fragmento de Cerrado da região.
3 - A presença de pastagem exóticas na área de influencia direta do PEAC representa um risco a
biodiversidade de plantas da UC e não é um uso apropriado para uma zona de amortecimento .
4 - Para que os objetivos da criação do PEAC se cumpram é necessária à elaboração do um plano de
manejo que delimite a zona de amortecimento com normas para o uso restrinjam os usos inadequados,
além de recuperação das áreas degradadas e implantação das estruturas físicas necessárias à gestão da
unidade.
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