AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM: REVENDO O PERCURSO HISTÓRICO NA EDUCAÇÃO Valéria da Silva Kuchenbecker1, Orientadoras: MSc. Vera Lúcia Catoto Dias2, MSc. Anamaria Gascón Oliveira3 1 Universidade do Vale do Paraíba – UNIVAP, Faculdade de Educação e Arte, FEA Rua: Tertuliano Delphin Jr., 181, Campus Aquarius, CEP 12246 -140 - São José dos Campos, SP. 2,3 Universidade do Vale do Paraíba, UNIVAP, Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento, IP&D Núcleo de Pesquisa Formação de Educadores, NUPEFE Avenida: Shishima Hifumi, 2911, Campus Urbanova, CEP 12244 000, São José dos Campos, SP [email protected];[email protected];[email protected] Resumo: Este trabalho tem como objetivo investigar a concepção de avaliação presente nas práticas pedagógicas de professores na educação básica, viabilizando reflexão sobre a função da avaliação no rendimento da aprendizagem escolar e, sobre a atuação do professor em relação a esta. O quadro teórico explicita-se em (LUCKESI, 1994), (HOFFAMMAN, 1995, 1996), (ROMÃO, 1998) e (VASCONCELOS, 1995), dentre outros. Por meio de suas teorias, o tema foi ricamente abordado, enfatizando a avaliação como um instrumento de aprendizagem, deixando de ser encarada como um instrumento de rotular os educandos. a metodologia centrou-se num primeiro momento em pesquisa de cunho histórico-bibliográfico fundamentada em autores, teóricos com produções científicas de relevância para a área da educação, seguida de pesquisa de campo desenvolvida pela aplicação de roteiro para entrevista, direcionado a professores da educação básica. Na análise dos resultados foi elaborado quadro comparativo o que ajudou a comprovar as teorias que fundamentam a concepção de avaliação e constatar concepção de avaliação praticada na prática pedagógica na sala de aula. Palavras-chave: Avaliação, aprendizagem, planejamento, prática e teoria. Área do Conhecimento: Ciências Humanas/Educação Introdução A avaliação é um processo presente em todos os aspectos da vida escolar. Para Mediano (1988), professores avaliam alunos, alunos avaliam professores, diretor avalia seus professores e estes o diretor, pais avaliam professores e escola. A autora alerta que parece valer somente a avaliação do aluno pelo professor. Outras avaliações em que os avaliados se tornam avaliadores não têm tido o devido valor. Segundo Luckesi (apud MEDIANO, 1988) "a avaliação é definida como um juízo de valor sobre dados relevantes, objetivando uma tomada de decisão". A vinculação da avaliação com a atual organização do trabalho pedagógico significa concebê-la como um dos elementos constitutivos do processo de ensino fundamentado na lógica do controle técnico e da fragmentação. “Nesse sentido, ela é um poderoso instrumento nas mãos do professor para selecionar, rotular, classificar e controlar”. Alertas têm sido feitos pelos diversos autores educacionais quanto ao uso da avaliação como instrumento coercitivo, para consecução da disciplina em sala de aula. A avaliação não pode se prestar a esse tipo de serviço, porque é um instrumento se assim a podemos chamar, que contribui para o conhecimento do nosso aluno real. Quando o professor se pergunta como quer avaliar, desvela sua concepção de escola, de homem, de mundo, e sociedade. O que ocorre na prática da avaliação educacional escolar é que dificilmente os professores definem com clareza, no ato do planejamento de ensino, qual é o padrão de qualidade que se espera da conduta do aluno, após ser submetido a uma determinada aprendizagem. E então, torna-se muito ampla a gama de possibilidades de julgamento. Como não há um padrão de expectativas estabelecido com certa clareza, à variabilidade de julgamento se dá conforme o estado de humor de quem esta julgando; e desse modo, a prática da avaliação se torna arbitraria, podendo, conforme interesses, tomar caracteres mais ou menos rigorosos. (LUCKESI, 1994) “Avaliar o processo e não apenas o produto, ou melhor, avaliar o produto no processo”. (VASCONCELLOS, 1998, p 57). A avaliação como parte integrante de um projeto pedagógico ou de qualquer outra atividade deve ser tão dinâmica quanto estes, pois elas fornecem as bases para as novas decisões que se fazem XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 1 necessárias ao longo do processo de realização. Um projeto, mesmo quando bem elaborado inicialmente está em permanente construção, demandando sensibilidade e disposição para a mudança de todos os que dele participam. Essa predisposição exige uma nova concepção de avaliação, que é a condição para o sucesso do projeto em desenvolvimento. A avaliação deve ser contínua e integrada ao fazer diário do professor: o que nos coloca que deve ser realizada sempre que possível em situações normais, evitando a exclusividade da rotina artificial das situações de provas, na qual o aluno é medido somente naquela situação específica, abandonando-se tudo aquilo que foi realizado em sala de aula antes da prova. A observação, registrada, é de grande ajuda para o professor na realização de um processo de avaliação contínua. A avaliação será global: quando se realiza tendo em vista as várias áreas de capacidades do aluno: cognitiva, motora, de relações interpessoais, de atuação etc. e, a situação do aluno nos variados componentes do currículo escolar. Avaliar é atitude que não condiz com atos desequilibrados do avaliador. Avaliar não é uma atitude repressora, coercitiva, mas é uma forma de diagnosticar falhas e deficiências no processo de ensino e aprendizagem. Antes de elaborar um planejamento é necessário verificar os conhecimentos prévios dos alunos, a partir do diagnostico realizado pelo professor o plano de aula terá uma base para se fundamentar. A partir desta avaliação serão traçados objetivos, e selecionados os conteúdos para a ampliação dos conhecimentos dos alunos. Sem uma avaliação diagnostica fica impossível fazer um planejamento adequado ao grau de conhecimento que os alunos possuem. “(...) Planejamento e avaliação são atos que estão a serviço da construção de resultados satisfatórios”. (LUCKESI, 1994, p 165). Metodologia Optou-se pela pesquisa quali-quantitativa em educação (André, 2001), alicerçada em pesquisa etnográfica do tipo estudo de caso, realizada em uma escola que desenvolve proposta de ensino sócio-interacionista, durante o ano letivo de 2007, localizada na região do Vale do Paraíba. A pesquisa de campo foi organizada pela aplicação de roteiro para entrevista constituído por seis questões abertas, direcionado à cinco professores(as), sendo que estas questões foram elaboradas como tentativa de identificar a concepção de avaliação presente em sua práticas pedagógicas. Resultados e discussão A estrutura do roteiro para entrevista com professor, foi constituída por seis questões abertas, entretanto para este trabalho serão consideradas as questões 2, 3 e 6, pelas características em relação a concepção de avaliação da aprendizagem para a proposta sóciointeracionista. As questões foram elaboradas tendo como objetivo estabelecer relação entre teoria e prática, sendo que a seguir serão apresentados os relatos mais significativos sobre o tema pesquisado. Questão 3- Identifique concepção de avaliação que fundamente sua prática pedagógica? P1- Acredito que a avaliação é muito mais que um processo de constatar o fracasso ou o sucesso. Para mim, a avaliação não deve ser vista como um produto final, ela deve permear todo o processo de ensino aprendizagem de maneira significativa. P2- Avaliar é acompanhar o processo de construção do conhecimento do aluno. O professor tem que estar atento, contribuindo para o desenvolvimento do aluno, compreendendo-o como um ser global. P3- Avaliações diárias feitas em sala de aula, como, participação e as provas mensais e bimestrais. P4- A avaliação contínua, levando sempre em consideração, o envolvimento, interesse e participação do aluno. P5- Na minha prática pedagógica, a avaliação se fundamenta de forma continua. Ao analisar a prática avaliativa dos professores, percebe-se que a avaliação contínua é muito enfatizada e valorizada dentro da sala de aula. No entanto é possível verificar pela colocação do P3, que apesar da avaliação contínua existir, o que prevalece é a prova mensal e bimestral, a qual irá garantir a nota do aluno no final do bimestre. Se a avaliação contínua fosse aplicada em sua essência não teria a necessidade de abordar uma prova mensal, pois esta seria dispensável, uma vez avaliadas as produções diárias dos alunos. Outro ponto relevante diz respeito ao conhecimento teórico sobre a concepção da avaliação formativa e é possível constatar as tentativas realizadas, pelos(as) professores(as) pelas prática desenvolvidas em sala de aula. Entretanto, pelo conteúdo dos relatos constatou-se que ainda estão presos à realização de provas, como instrumento referência do rendimento da aprendizagem dos alunos(as). Questão 6- Trace um paralelo entre a sua avaliação como aluna e atualmente como professora. P1- Quando era aluna, a avaliação se resumia em ‘’prova’’, por ela se constatava todo o aprendizado. Atualmente essa visão é posta em xeque e cada vez mais está se aprendendo que a avaliação tem que ser XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 2 continua, avaliar todo o processo, os meios e não somente o fim. P2-Como aluna o sistema avaliativo estava ligada a nota. Como professora deve ser contínua, de forma a verificar os vários momentos de desenvolvimento do aluno, garantindo um resultado significativo em relação à aprendizagem. P3-- Como aluna não conseguia enxergar claramente os fundamentos de uma avaliação. Atualmente, como professora, eu percebo os fundamentos essenciais e a importância de uma avaliação. P4- Quando eu era aluna me preocupava somente em tirar nota boa. Como professora, vejo a avaliação como processo e não como um ponto final deste processo. P5 Quando era aluna a avaliação se limitava somente as provas, agora como professora, avalio todo o aprendizado do aluno e não somente as provas. De acordo com o conteúdo dos relatos dos professores é possível constatar que a avaliação que predominava a formação básica, era a mesma adotada pelos jesuítas há muito tempo atrás no Brasil. Este fato comprova a resistência da mudança do país em relação à prática avaliativa, que na época já era combatida por muitos pesquisadores. As experiências avaliativas vividas por cada professor foram às mesmas, talvez seja este motivo que dificulta a mudança. No entanto pelos seus relatos, essas mudanças já aconteceram dentro de si mesmas, mas ao verificar o relato da P3, percebe-se que a importância e a compreensão que se dá à avaliação são referentes à sua experiência como aluna. Questão 2- Para você quais são os pontos relevantes presentes na avaliação da aprendizagem para a proposta sóciointeracionista? P1- A percepção dos detalhes, a nova visão do erro, as atividades auto-avaliativas e as atividades propostas pelos alunos. P2- Nova postura no relacionamento professor/aluno, mudança na postura pedagógica e aprendizagens significativas. P3- A interação com o outro dentro das atividades coletivas, o envolvimento na aula, e as produções construídas diariamente. P4- A interação com os colegas, questionamentos do cotidiano e participação. P5- Participação nas atividades diárias, a interação e as provas. Considerando que a escola pesquisada adota a tendência pedagógica sócio-interacionista, Vygotsky (1987), pretendeu-se por meio desta questão verificar se a prática avaliativa segue o mesmo parâmetro da abordagem. Segundo os relatos, os professores possuem conhecimento fundamentado sobre sócio-interacionismo, enfatizando a importância das interações entre alunos no processo de aprendizagem, da nova visão sobre o erro, da postura do professor referente ao aluno, das produções construídas diariamente. No entanto o produto final é ressaltado pelo P5, que não deixa de considerar a prova. A avaliação compreendida como prova, representa retrocesso na prática pedagógica, pois esta é muito mais intensa do que um roteiro de perguntas sobre conteúdos dados em sala de aula. Está relacionada às conquistas diárias de cada aluno. Não se pode usar um mesmo parâmetro para todos os alunos, uma vez que cada ser é único no seu desenvolvimento e compreensão de mundo. Conclusão Refletir sobre avaliação é refletir sobre o ensinar e o aprender. E a reflexão é garantida pela qualidade do planejamento de ensino, de seus objetivos, das metodologias adotadas e dos recursos oferecidos para o desenvolvimento dos trabalhos. Para que a avaliação seja resultado do ensino-aprendizagem, é preciso que a escola, o professor e o aluno, bem como os pais e a sociedade estejam realmente envolvidos para que o saber seja construído respeitando os espaços delineados culturalmente. Ou seja, são necessários que as famílias ajudem no processo educacional, bem como a sociedade, os políticos, a igreja, os meios de comunicação. A educação escolar de jovens se torna complicada porque os meios sociais externos têm uma compreensão diferente da compreensão da escola a respeito da ética, da política, dos bens públicos, do saber, do viver, do mundo do trabalho. Principalmente aquela escola que quer independente, que não aceita a exclusão como fator de sustentação das classes dominantes. E é preciso que a escola ensine conceitos envolventes e busque se inovar no dia-a-dia, para que a mesmice e a monotonia não venham a dominar seus alunos, seus professores e aqueles que procuram levar o conhecimento aos lugares dantes dominados pela ignorância, pelo nãosaber. Assim, de pouco ou nada adiantarão leis, decretos ou outras formas de controle educacional, se não partirmos para uma revolução da consciência, do coração, em que todos os envolvidos venham a atuar com maior ênfase em todos os sentidos, para a melhoria da educação, ou seja, do ensinar e do aprender. Nesse sentido, a avaliação é vista não como uma ferramenta, instrumento ou "coisa", mas, como um meio ou uma relação que levará a um melhor ensinar. Desse modo estaremos de fato preocupados com aquilo que o aluno aprendeu/apreendeu, e muito mais preocupados com o que não aprendeu/apreendeu, procurando suprir suas deficiências com o bom ensinar, para juntos caminharem rumo ao conhecimento XIII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica e IX Encontro Latino Americano de Pós-Graduação – Universidade do Vale do Paraíba 3 acumulado pela humanidade ao longo do tempo. E mais que isso, construindo o novo, pela revolução do velho, com o intuito transformá-lo. Esta relação entre professor e aluno é construída com base na contradição, no debate, na discórdia, na construção do texto, na síntese, (fruto do confronto tese-antítese), num movimento circulatório em que prevalecerão as idéias; a busca do saber, construído sempre passo-apasso, na longa trajetória que levará a construção e ampliação do conhecimento. Para avaliar não e mais preciso massacrar os alunos no dia-a-dia, com provas, testes, medidas diversas, mesmo porque o conhecimento não é algo que possa ser medido, como se mede tecido na loja, como se pesa a carne no açougue ou como se calcula o percurso de casa ao trabalho. O conhecimento não é palpável. É algo que não se toca. Sente-se no diálogo, no fazer, no construir, no demonstrar das habilidades manuais. Então, avaliar se torna um puro exercício de observar o aluno no seu fazer educacional, nas suas atividades cotidianas. As aulas práticas, os relatórios, os resumos, sínteses, tudo isso entra como material a ser observado, sem que se fale em provas, testes verificação, etc. A avaliação de alunos deve estar sempre voltada para o real. Para isso, é necessária que se apresente a ele, uma proposta atrativa dentro da sua realidade, facilitando o processo de apropriação do conteúdo. -LUCKESI, C.C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. 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