Eis que se aproxima o tempo da esperança! Sua Santidade o Papa Bento XVI em sua Exortação Apostólica pós-sinodal Sacramentum Caritatis, n.37 afirma: "... a liturgia... é essencialmente ação de Deus (Actio Dei) que nos envolve em Jesus por meio do Espírito, o seu fundamento não está à mercê do nosso arbítrio e não pode suportar a chantagem das modas passageiras..." Com este ensinamento, Sua Santidade nos apresenta, a profundidade do Mistério do Amor de Deus que se faz presente, cada vez que, a Comunidade dos Díscipulos do Senhor se reúne, para fazer memória de seu Senhor, enquanto ansiosamente aguarda vinda gloriosa, no final dos tempos. Esta celebração memorial do Mistério da Fé que se realiza pela ação liturgíca, acontece no tempo. Para nós cristãos e cristãs o tempo, não é apenas a sucessão dos segundos, dos minutos, das horas ... na qual está inserida nossa vida mas, o tempo nos possibilita a compreensão da salvação em Cristo. No decorrer do tempo, a Igreja, pela Sagrada Liturgia, apresenta aos fieis o Mistério Pascal de Jesus Cristo, em seus diferentes aspectos. Eis o que nos apresenta a Constituição Sacrosanctum Concilium do Vaticano II sobre a Sagrada Liturgia, n. 102: "A Igreja no decorrer do ano, revela todo o Mistério do Cristo, desde a Encarnação e Natividade até a Ascensão, o dia de Pentecostes e a expectação da feliz espera e vinda do Senhor". Estamos muito próximo de um tempo litúrgico que, encerra em sua dinâmica celebrativa uma riqueza imensa, do Mistério Pascal de Jesus Cristo. É o Tempo do Advento. A compreensão da palavra Advento, palavra oriunda da lingua latina, significa o período de tempo que nos é concedido, para preparar a vinda de alguém que nos é muito importante, de alguém, cuja chegada vai nos fazer muito feliz. E quanto mais significativa é para nós, a pessoa esperada, tanto maior será nosso empenho na preparação de sua chegada, despertando em nós uma esperança do momento do encontro. Em seu sentido litúrgico, o tempo do advento, pela liturgia da Palavra e as orações litúrgicas, convida a comunidade dos discípulos do Senhor, a cultivar em seus corações, a esperança da feliz vinda gloriosa de seu Senhor. Este tempo a Igreja, pela sua liturgia, nos convida para o cultivo de três atitudes evangélicas de fundamental importância para a vidados discípulos do Senhor: A virtude teologal da esperança, a vigilância alegre na oração e a busca de uma verdadeira e autêntica conversão dos corações: O tempo litúrgico do Advento consta de quatro domingos que nos oferecem o sentido espiritual e pastoral das quatro semanas. Embora sempre conservando sua unidade celebrativa, este tempo está organizado em dois períodos: do primeiro domingo do advento até 16 de dezembro a liturgia focalizada de modo intenso a expectativa da sagunda vinda gloriosa do Senhor Jesus que, em sua Glória virá para o grande julgamento em que se cumprirá a sua obra redentora. Do dia 17 de dezembro ao dia 24, a liturgia busca levar os fieis a compreender que, este que esperamos sua vinda Gloriósa, não é outro senão o que já veio, o Verbo feito Carne, no seio purissímo da Virgem Maria. Os dois prefácios do Advento de um modo sintético mas de uma profundidade teológica imensa, nos afirma no prefácio I, focalizando "as duas vindas de Cristo": Revestindo da nossa fragilidade, ele veio a primeira vez para realizar seu eterno plano de amor e abrir-nos o caminho da Salvação. Revestindo de sua glória, ele virá uma segunda vez para conceder-nos em plenitude os bens prometidos que hoje, vigilantes, esperamos. O prefácio II destaca a "Dupla espera de Cristo: Predito por todos os profetas, esperado com amor de mãe pela Virgem Maria, Jesus foi anunciado e mostrado presente no mundo por São João Batista. O próprio Senhor nos dá a alegria de entrarmos agora no mistério de seu Natal, para que sua chegada nos encontre Vigilantes na oração e celebrando seus louvores. A Teologia do Advento A força teológica deste tempo litúrgico, focaliza todo o dinamismo da vinda do Senhor que se fez carne e que entra na história dos homens e mulheres. Este tempo nos faz compreender a dimensão histórica da salvação em Cristo. O Deus do advento e o Deus da história, que é o lugar da realização das promessas de Deus, na esperança de sua plena realização pelo anúncio do "Dia do Senhor". O advento leva a Igreja a tomar consciência da atenção que ela vive do já agora da salvação toda realizada em Cristo e o ainda não da sua realização entre nós e sua plena manifestação na volta gloriosa do Senhor Juíz e Salvador. A Espiritualidade do Advento Uma espiritualidade centrada na espera vigilante e jubilosa do Senhor, a esperança que gera vida e a conversão, são fontes dinamizadoras da vida em Cristo e do compromisso missionário da Igreja. Nós esperamos o advento do reino da vida que o Cristo veio inaugurar conosco. Mas, enquanto aguardamos este Reino da Vida, nos comprometemos com a história humana, a fim de que, este Reino da Vida, possa transformar a história sofrida de homens e mulheres de nosso tempo, vítimas das injustiças e das contradições do reiono da morte, herança do pecado. A Pastoral do Advento E o tempo propício para fazer acontecer o que nos propõe o Documento de Aparecida no n. 367: "A pastoral da Igreja não pode prescindir do contexto histórico onde vivem seus membros. Sua vida acontece em contextos sócio-culturais bem concretos. Essa transformação social e cultural representam naturalmente novos desafios para a Igreja em sua missão de construir o Reino de Deus. Dai nasce, na fidelidade ao Espírito Santo que a conduz, a necessidade de uma renovação eclesial que implica reformas espirituais, pastorais e também institucionais". Mas, para que se possa levar a cabo o que nos propõe o Documento de Aparecida, se faz necessária a conversão pessoal dos pastores e de todos os cristãos e cristãs, ao agir e atuar de Jesus Cristo num compromisso efetivo com a história dos homens e mulheres de nosso tempo. E o advento é o tempo propício para este chamado da Igreja para conversão. Sugestão para a Homilia do Tempo do Advento Neste tempo litúrgio emergem três figuras bíblicas: o profeta Isaias, o profeta que anuncia a esperança de um tempo novo de uma paz eterna pela presença do Reino, onde os humildes serão julgados com justiça. O anúncio de uma esperança do próprio Deus que vem para salvar. E este Reino será estável para sempre. O outro personagem bíblico e emerge no tempo de advento é o maior de todos os profetas, afirmação do próprio Jesus, João Batista. O profeta da coragem que propõe um novo modo de conversão não com exterioridades, mas uma conversão em espírito e verdade. E finalmente a figura de Maria, a Virgem que concebe em seu ventre o Autor da Vida, a mulher da humildade, da simplicidade e da plena confiança na promessa de seu Deus. A mulher de fé e plenamente entrege na mão de seu Deus "faça-se em mim segundo a tua vontade". O advento é um tempo mariológico por excelência. Para as Homilias no tempo de Advento Propomos: I Domingo: ressaltar fortemente a espera do cumprimento de uma promessa. Deus sempre cumpre sua promessa. E é a certeza do cumprimento da promessa de Deus que nos motiva continuar nossa caminhada de fé. Jesus é o príncipe da paz. A esperança é um dom, dinamismo que nos motiva a vencer as contradições da realidade do mundo em que vivemos. É o tempo forte, tempo propício para o esforço de uma conversão autêntica e verdadeira. II Domingo: A esperança deve ser sempre a força que motiva os discipulos e missionários de Jesus Cristo na sua caminhada de fé. Jesus é o primogênito de uma nova criação, de um mundo enfim liberto do poder das trevas. Esta esperança encontra sua fonte no Senhor Jesus morto e ressucitado. III Domingo: A esperança para nós cristãos tem um nome: Jesus Cristo que caminha conosco. Hoje, como no tempo de Jesus, através do deserto da vida, com seus tropeços e dificuldades, ele é o nosso companheiro de caminhada que nos motiva a seguir sempre em frente, a jamais desanimar em nossa caminhada de fé. IV Domingo: A esperança do inesperado: Um Deus que se faz carne e vem habitar no meio de nós. Há sempre uma luz que brilha nas trevas. A esperança nos é assegurada pela fé nos faz simplesmente acolher em nossos corações a palavra de Deus, a exemplo de Maria e de José. A coroa do advento, apesar de não ser litúrgico, mas sim, que nasceu da religiosidade popular, pode muito bem nos ajudar a viver este tempo de graça e de salvação. Com suas quatro velas, em que são acesas sucessivamente, a cada domingo do advento, nos indicando proximidade da esperança num Deus presente no meio de nós. Pe. Gilson Cezar de Camargo, cm Mestre em Liturgia e Teologia dos Sacramentos. Professor de Liturgia na Escola Diaconal São Filipe