FUNDAMENTOS DA NOSSA CONFISSÃO
Este documento tem por base uma série de palestras proferidas pelo irmão Romeu Bornelli intitulada “Fundamentos da Nossa Confissão”
4. A ENCARNAÇÃO DO VERBO DE DEUS
i. Introdução
Jo 1:14‐18 14 E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós, e vimos a sua glória, como a glória do unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade. 15 João testificou dele, e clamou, dizendo: Este era aquele de quem eu dizia: O que vem após mim é antes de mim, porque foi primeiro do que eu. 16 E todos nós recebemos também da sua plenitude, e graça por graça. 17 Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo. 18 Deus nunca foi visto por alguém. O Filho unigênito, que está no seio do Pai, esse o revelou.
Neste capítulo estaremos enfatizando o verso 14 – “E o Verbo se fez carne”. Queremos estudar o significado bíblico da Encarnação do Verbo de Deus, a suprema importância desse fato e quais foram as dificuldades, durante a história da Igreja, que homens de Deus tiveram em lidar com a dupla natureza de Cristo, a divina e a humana.
Se a natureza divina de Cristo for enfatizada de uma forma desequilibrada nós cairemos numa heresia, pois deixaremos de ver que Jesus é homem. Da mesma forma, se Sua natureza humana for enfatizada em demasia, deixaremos de vê‐lo como Deus.
Não podemos abrir a janela e jogar dois mil anos de história da Igreja pela janela. Infelizmente é o que grande parte dos líderes cristãos têm feito; deixam de aprender com a história da Igreja e vão pisar nos mesmos erros que homens já pisaram no passado. Se nós não virmos bem a pessoa de Cristo nós vamos ver mal a obra de Cristo; se não virmos bem a pessoa, não vamos ver bem a cruz, a obra, o que Ele fez na cruz, porque a cruz, em si mesma, não é nada. Precisamos ver bem quem ali se entregou. O que dá valor à cruz de Cristo é o Cristo da cruz!
Assim como precisamos de uma visão do Ser de Deus, precisamos de uma visão do Ser de Cristo, da Sua dupla natureza, e das implicações da cruz. E essa verdade precisa ir muito além do nosso entendimento, ela precisa ganhar o nosso coração.
Durante os primeiros séculos da história da Igreja houve muitas controvérsias a respeito da Trindade e da pessoa de Cristo. Alguns pensavam que quando Jesus de Nazaré nasceu Ele era um homem como você e eu, só que um homem muito especial. Deus separou esse homem no seu plano e quando Ele chegou aos 30 anos de idade Ele se apresentou a João Batista, que era um profeta de Deus, para ser batizado. Quando Ele foi batizado, o Verbo eterno, o Logos, desceu sobre Ele e todo o ministério de Jesus foi executado no poder e graça do Logos. Quando Ele morreu na cruz, o Logos o abandonou de novo, porque Deus não pode morrer.
Não é isso o que a Bíblia ensina sobre a Pessoa de Cristo! Não são duas pessoas! É uma pessoa só. O Verbo não se uniu a uma pessoa chamada Jesus. O Verbo se fez carne (Jo 1:14) quando Jesus nasceu naquela manjedouro.
Havia também uma outra heresia que foi chamada de docetismo, que dizia que Jesus teve uma aparência humana, mas não foi um homem no real sentido da palavra, quase como um fantasma que se podia tocar. Na história da Igreja, somente no Concílio de Calcedônia, no século V, no ano de 451 é que foi firmada a doutrina a respeito da Pessoa de Cristo, doutrina esta que foi ganhando corpo, forma e, neste Concílio, ganhou uma definição. Para isso Deus usou, de um modo muito especial, um irmão, um homem de Deus chamado Leôncio.
ii. Jesus foi um homem verdadeiro, mas sem pecado
Será que temos que nos preocupar em entender essas coisas? Pode parecer coisa de menor importância, mas, de maneira nenhuma é assim, porque se Jesus não tivesse uma natureza humana idêntica à nossa Ele não teria uma alma, não poderia ser susceptível a tentações, Ele não teria emoções, não participaria da vida humana como ela é. Então, Ele não poderia ser um adequado intercessor e não poderia ser verdade o que o livro de Hebreus fala dele. Ele foi um homem idêntico a nós, mas sem pecado:
Hb 4:15 Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer‐se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado.
Ele tinha mente, vontade, escolhas, emoções. Os tres primeiros Evangelhos, chamados sinópticos (escritos na mesma ótica), cada um deles enfatiza um aspecto da humanidade de Cristo para mostrar que Ele foi homem. Mostram o Senhor caminhando, se cansando, tendo fome, chorando, enfim, um homem!
Hb 2:17‐18 17 Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. 18 Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados.
Por outro lado, apesar de Jesus ser uma única Pessoa, Ele manifestou duas naturezas, a divina e a humana, nesse aspecto sendo absolutamente único. Hoje, como cristãos, nós também temos duas naturezas, pois temos a natureza humana (ao nascermos da carne) e participamos da natureza divina (ao nascermos do Espírito ‐ Jo 3:6). Todavia, o Senhor Jesus teve essas duas naturezas num sentido diferente de nós. Por quê? Porque Sua natureza humana era sem pecado, e a nossa natureza humana é contaminada pelo pecado. Em nós a carne guerreia contra o Espírito e o Espírito contra a carne (Gl 5:17), mas em Jesus isso nunca aconteceu. Então, em Cristo, a mente do Verbo, do Filho de Deus, era expressada através da mente daquele homem; a vontade do Verbo era expressada através da vontade daquele homem; as emoções do Verbo eram expressas através das emoções daquele homem; as duas naturezas concorriam numa única Pessoa.
Se a base da nossa personalidade é um ego decaído, a base da personalidade de Jesus era o Verbo, o Logos, por isso Ele não podia pecar. Todos os desejos dele eram santos, todos os pensamentos dele eram santos, todas as emoções dele eram santas, todas as decisões e atitudes dele eram santas. Todas! Ele não tinha, nem ao menos, motivação para pecar.
Por outro lado, Jesus, de tal forma era um homem, que podia ser tentado. A Bíblia assevera as duas coisas: que Ele não tinha motivação para pecar, porque Ele era absolutamente Santo, porque Ele não tinha o ego decaído, porque Ele era o Filho de Deus; e que podia ser tentado como qualquer homem. Como pode ser isso? Nossa mente não consegue alcançar, é alto demais para nós. No entanto, podemos compreender que a tentação dele foi diferente da nossa. A nossa é de dentro para fora:
Tg 1:14‐15 14 Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. 15 Depois, havendo a concupiscência concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, sendo consumado, gera a morte.
Como Jesus foi tentado? De fora para dentro. A tentação foi apresentada a Ele naquelas diversas formas, especialmente ali no deserto pelo diabo (Mt 4 1:11). Mas foi uma tentação real, porque se fosse uma tentação ilusória, Ele não poderia ser o nosso intercessor, Ele não poderia socorrer‐nos.
iii. Ele conhece a Natureza Humana e Pode nos Socorrer
Jo 2:23‐25 23 E, estando ele em Jerusalém pela páscoa, durante a festa, muitos, vendo os sinais que fazia, creram no seu nome. 24 Mas o mesmo Jesus não confiava neles, porque a todos conhecia; 25 E não necessitava de que alguém testificasse do homem, porque ele bem sabia o que havia no homem.
Esse versículo é coerente com a visão de Hebreus:
Hb 2: 18 Pois, naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados.
Jesus conhecia o pecado como ninguém jamais conheceu. Sabe por quê? Porque trevas não têm muita capacidade de sondar trevas, mas a luz sonda as trevas e Jesus é a luz. João diz assim: Jo 1:9 Ali estava a luz verdadeira, que ilumina a todo o homem que vem ao mundo.
Jesus experimentou tentação de uma forma que eu e você nunca sonhamos experimentar. Por quê? Porque Ele é Santo. Ele conhece o mal até a sua profundidade, cem por cento, e a Bíblia diz que Ele foi tentado em todas as coisas. Eu e você não fomos e nunca seremos tentados em todas as coisas. Podemos gastar a vida inteira que nós nunca seremos tentados em todas as coisas, mas Ele foi. Jesus era absolutamente Santo e Ele sabe o poder do mal, das trevas, porque Ele é o extremo oposto, Ele é a luz.
Existe uma psicologia que é bíblica, mas a psicologia acadêmica, não bíblica, nunca pode chegar a nada, porque ela estimula o homem a se sondar, como a filosofia de Descartes ‐
“penso, logo existo”, ou dos filósofos gregos – “conhece‐te a ti mesmo”. O homem não é capaz de fazer isto porque ele não tem luz suficiente em si mesmo. “Conhece‐te a ti mesmo” é uma utopia. Nós só podemos conhecer a nós mesmos na luz de outro, na luz Santa de Deus, do contrário o nosso entendimento vai ser errado. Sempre acharemos que eu somos melhores do que na verdade somos. Então, o Salmo 36 diz: “na tua luz vemos a luz”.
Assim, Jesus conhece o poder e a ferocidade da tentação porque Ele nunca caiu. É o contrário do que nós pensamos. Por isso, quando chegamos ao trono da graça, como nos diz Hb 4:15, não precisamos explicar como é que funciona a tentação, pois estaremos falando com alguém que sabe tudo sobre a tentação, sobre a natureza humana, sobre o pecado, mas que nunca pecou, porque é santo. Ele é a luz que veio ao mundo e ilumina todo homem.
O Salvador se fez carne, habitou entre nós e conhece perfeitamente a natureza humana. Ele conhece a cobiça, a carne, o poder do Diabo, o poder do mundanismo, porque Ele foi
tentado com relação à glória deste mundo. Por isto, o livro de Hebreus diz: “Acheguemo‐
nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça” (Hebreus 4: 16). Que salvação nós temos! Que salvador!
Temos que saber quem foi esse que se encarnou para que saibamos qual o valor da morte expiatória de Cristo na cruz, porque, se Ele é só um homem, esta morte não pode ser expiatória. Agora, se Ele é só Deus, se Ele teve uma aparência humana, mas não é um homem real, esta morte também não pode ser expiatória, porque somente um homem poderia se oferecer em lugar dos homens, e um Homem Santo, puro, imaculado, sem defeito.
Portanto, as implicações da encarnação afetam todos os outros elementos. Afetam a vida humana de Cristo, afetam os sofrimentos de Cristo, afeta a tentação de Cristo, o fato de Ele ter sido tentado. Se Ele não é homem, Ele não pode nos socorrer na nossa tentação, porque Ele não conhece a alma humana, mas a Bíblia diz que Ele é homem e que Ele conhece a alma humana, que a encarnação de Cristo foi uma encarnação real. Ele foi um homem que tinha alma, vontade, mente, emoções. Ele foi afligido em todas essas esferas, foi tentado na Sua vontade (por exemplo, quando Pedro lhe: “não vai para cruz não, tem piedade de Ti”),
Ele foi tentando nas Suas escolhas, Ele foi tentado nas Suas emoções, Ele foi tentado na Sua mente, acima de tudo, já que a mente é a parte mais importante da nossa alma. Jesus foi tentado intelectualmente, em muitas ocasiões, para que a Sua mente se desviasse. Na mesma ocasião acima Ele disse a Pedro: “Arreda‐te de mim, Satanás! Porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens” (Marcos 8: 33). Então, Jesus foi tentando na Sua mente, e Ele venceu porque cogitava segundo a mente de Deus.
Outra ocasião em que Jesus foi tentado está em João 12, quando Filipe e André chegaram e disseram: “Mestre, os gregos estão aí e querem te ver”. Em outras palavras, o que eles queriam lhe dizer era: “Olha a chance que o Senhor tem! Até aqui só os judeus estavam interessados no Senhor, mas agora, os gregos querem Te ver, e os gregos são o peso da sabedoria”. É como se eles estivessem pedindo: “Vai lá, Senhor, e dá um nó na cabeça deles para eles verem quem que é a sabedoria real”. Mas o Senhor não fez isto. O Senhor respondeu duma forma que deve ter sido terrível para eles, desastrosa: “Se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, fica só; mas, se morrer, dá muito fruto”. Os irmãos já pensaram na profundidade do que o Senhor falou? Em outras palavras, Ele está dizendo o seguinte: “Filipe, André, Eu não vim aqui para ensinar filosofia para os filósofos, os gregos, Eu vim para morrer; e, se Eu não morrer, vocês vão ficar sós; mas, se Eu morrer, vou produzir muito fruto”.
Os irmãos podem ter certeza de que isto foi uma tentação para Ele, porque Ele foi tentado em todas as coisas. Ele foi tentado a ser o Mestre da sabedoria, Ele foi tentado, através de Pedro, a se desviar da cruz, Ele foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas, sem pecado. É por isso que Isaías diz que Ele é um Homem de dores e que sabe o que é padecer (Is 53:3).
Os Irmãos já pensaram em alguém perfeito como Ele, sendo Deus que se fez carne, e um homem perfeito, vivendo num mundo imperfeito, num mundo depravado, corrompido, degenerado. É por isto que Isaías diz que Ele foi um homem de dores. Até os mais íntimos, aqueles que Ele trouxera para mais perto de Si, um era traidor, outro queria desviá‐Lo da cruz, dois outros brigavam por causa de posição no trono.
O Logos, o Verbo, que é Deus, o Deus eterno, não se uniu a uma pessoa. Ele se uniu a uma natureza humana, e deu personalidade a esta natureza. Ele tornou esta natureza pessoa. O Logos eterno se uniu à natureza humana e, então, uma pessoa foi constituída: a Pessoa de Jesus. Esta pessoa é Deus e é homem. Por isso Mateus diz assim: Ele será chamado Emanuel. Que é Emanuel? Significa Deus conosco, ou seja, Deus se fez um homem. Não se transformou num homem, mas se encarnou, assumiu a natureza humana. Não deixou de ser Deus, Ele passou a se expressar na forma humana, na pessoa de um homem.
Ao compararmos os primeiros versículos de Mateus e João vemos algo maravilhoso:
Mt 1:1 Livro da geração de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.
Jo 1:1 No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Mateus, assim como Marcos e Lucas, enfatiza a humanidade de Jesus, enquanto que João enfatiza Sua divindade.
Mt 1:20‐21 20 E, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo; 21 E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. 22 Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta, que diz; 23 Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, E chamá‐
lo‐ão pelo nome de EMANUEL, Que traduzido é: Deus conosco. 24 E José, despertando do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu a sua mulher; 25 E não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs‐lhe por nome JESUS
Jesus, literalmente, significa Jeová Salvador. Ele é o Jeová. Ele não é menos do que Deus, Ele é Deus. Ele é o Deus salvador, o Verbo que se fez carne. Jesus, porque Ele salvará o Seu povo dos seus pecados. Esse texto refere‐se à profecia de Isaias,onde o Senhor disse que daria um sinal ao Seu povo, uma virgem haveria de conceber:
Is 7:14 Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.
Alguns teólogos, ainda hoje, consideram que o nascimento virginal não significa nada, mas esse fato é extremamente importante. Jesus foi concebido de uma forma absolutamente diferente. Ele veio a participar da essência da natureza humana, mas não do pecado da natureza humana. É por isso que Romanos 8 diz que Ele assumiu a semelhança de carne pecaminosa. A aparência dEle era como a nossa. Ele tinha corpo, sangue, osso, alma, mente, vontade, emoções, tudo o que nós temos, mas sem pecado.
Tem que ficar claro para nós que a pessoa de Cristo não está começando aqui. A pessoa de Cristo é eterna. Aqui, Ele está assumindo a natureza humana. É o mesmo Cristo e, como homem, Ele recebeu o nome de Jesus. Jesus, este é o Seu nome humano, mas este é o Cristo eterno. Então, o Cristo eterno se fez carne na pessoa de Jesus, recebeu o nome de Jesus. A pessoa do Logos, a Pessoa do Verbo Eterno se tornou composta na encarnação. Não duas pessoas, uma pessoa composta de duas naturezas, a natureza humana e natureza divina, de tal forma que a natureza divina, o Logos eterno, se constituía na base da personalidade de Jesus.
iv. Graça da União e Graça Habitual Tomás de Aquino, filósofo e teólogo do século XIII, definiu duas graças no tocante à Encarnação do Verbo, a graça da união e a graça habitual.
Que seria a graça da união? A graça da união é porque o Logos Eterno, se unindo à natureza humana, dignificou‐a ao seu ponto máximo. É claro que isso tem muita implicação para nós. O fato do Logos Eterno, o Deus Eterno, o Filho de Deus, ter se unido à natureza humana elevou a natureza humana até o seu clímax, até ao seu máximo, de tal forma que a natureza humana, nessa pessoa de Cristo, se tornou objeto de culto e até mesmo de adoração.
Quanto à nós, a Bíblia diz alguma coisa espantosa, maravilhosa! Diz que, a partir da nossa união com o Verbo eterno, ou seja, da nossa regeneração, ou novo nascimento, a nossa natureza humana também será dignificada. O nosso espírito estava morto e foi regenerado, isto é um fato. A nossa alma, que está maculada pelo pecado, está sendo transformada. Porém, Deus não está transformando o pecado; o pecado permanece pecado; o que é nascido da carne é carne; Deus não está transformando a carne; Deus está transformando a alma. Os irmãos vejam que os termos não são irrelevantes, são muito importantes. Carne é uma coisa e alma é outra. Na medida da nossa comunhão com o Senhor, do nosso relacionamento com Jesus, a nossa alma está sendo transformada, a nossa mente pode se tornar a mente de Cristo, a nossa vontade pode se tornar obediente a Cristo, conformada a Cristo, as nossas emoções podem responder a Cristo. Todo o nosso ser pode ser transformado. Por quê? Porque Jesus se fez homem e porque Ele dignificou, na Pessoa dEle, a natureza humana.
O livro de Hebreus diz que temos em Jesus uma âncora da nossa alma:
Hb 6:18‐20 18 Para que por duas coisas imutáveis, nas quais é impossível que Deus minta, tenhamos a firme consolação, nós, os que pomos o nosso refúgio em reter a esperança proposta; 19 A qual temos como âncora da alma, segura e firme, e que penetra até ao interior do véu, 20 Onde Jesus, nosso precursor, entrou por nós, feito eternamente sumo sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque.
O autor enfatiza o nome humano dEle, Jesus, homem, que penetrou o céu para tornar‐se o nosso eterno sumo sacerdote. Também, João afirma:
1Jo 3:2 Amados, agora somos filhos de Deus, e ainda não é manifestado o que havemos de ser. Mas sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos.
Portanto, a natureza humana foi dignificada em Jesus e nós podemos ser transformados na Sua imagem. Nossa mente, nossa vontade, nossas emoções, serão transformadas, na plena santificação, até a glória final da Sua imagem. Outro versículo:
Mt 14:33 Então aproximaram‐se os que estavam no barco, e adoraram‐no, dizendo: És verdadeiramente o Filho de Deus.
Se os irmãos examinarem o contexto dessa exclamação dos discípulos, verão que foi dada após Jesus ter andado sobre as águas e acalmado a tempestade. Quem está sendo adorado aqui é uma pessoa que é também um homem. Assim, na pessoa de Cristo, a natureza humana é objeto de culto e de adoração. Portanto, quando os discípulos adoraram Jesus, eles não adoraram só o Filho de Deus, eles adoraram o Filho do Homem.
Agora, vejamos Apocalipse 19: 10 para vermos um contraste impressionante. 10 E eu lancei‐me a seus pés para o adorar; mas ele disse‐me: Olha não faças tal; sou teu conservo, e de teus irmãos, que têm o testemunho de Jesus. Adora a Deus; porque o testemunho de Jesus é o espírito de profecia
João estava tão extasiado diante da revelação celestial, do Cordeiro, das Bodas do Cordeiro, que ele quiz adorar o anjo que lhe falava. Este, porém, lhe disse para não fazer isso. Jesus não falou assim quando recebeu adoração porque Ele é Deus, embora também fosse homem. Só Deus pode ser adorado.
Tomás de Aquino também se referiu a uma outra graça, que denominou de graça habitual. Ele queria dizer o seguinte: o fato de o Logos eterno ter se unido à natureza humana fez com que esta se tornasse a absoluta expressão do Verbo Eterno. À natureza humana, que é
frágil, pois Jesus se cansou, chorou, teve fome, foi concedido o privilégio de expressar quem Deus é. Então, o Verbo eterno, que é Deus, pôde ser expresso através de emoções humanas, de sentimentos humanos, mente humana, vontade humana. Que privilégio para a natureza humana!
A pessoa de Jesus nunca se separou de Deus, porque o Deus eterno é o próprio fundamento da Sua existência: Jo 7:16 Jesus lhes respondeu, e disse: A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou.
Jo 8:28‐29 28 Disse‐lhes, pois, Jesus: Quando levantardes o Filho do homem, então conhecereis quem EU SOU, e que nada faço por mim mesmo; mas isto falo como meu Pai me ensinou. 29 E aquele que me enviou está comigo. O Pai não me tem deixado só, porque eu faço sempre o que lhe agrada.
A nós, em Cristo, foi dada esta graça habitual:
2Pe 1:3‐4 3 Visto como o seu divino poder nos deu tudo o que diz respeito à vida e piedade, pelo conhecimento daquele que nos chamou pela sua glória e virtude; 4 Pelas quais ele nos tem dado grandíssimas e preciosas promessas, para que por elas fiqueis participantes da natureza divina, havendo escapado da corrupção, que pela concupiscência há no mundo.
O Verbo executou uma obra por nós, completa, absoluta. Ele nos chamou, simplesmente, para adorá‐lo por esta obra, para viver à luz dela, para crescermos na compreensão dela, e, quanto mais crescermos nessa compreensão, mais seremos transformados.
v. O Verbo antes da Encarnação
A palavra encarnação implica em pré‐existência. O Verbo não nasceu, mas o Verbo se fez carne (Jo 1.1). Encarnação implica que o Verbo é pré‐existente, é uma pessoa eterna. O que Ele fez? O Verbo se encarnou, assumiu uma natureza humana e deu personalidade a esta natureza. Estudemos um pouco da pré‐existência do Verbo:
Mq 5:2 E tu, Belém Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade.
É obviamente uma profecia a respeito de Cristo, tanto é que é citada novamente em Mateus: Mt 2:3‐6 3 E o rei Herodes, ouvindo isto, perturbou‐se, e toda Jerusalém com ele. 4 E, congregados todos os príncipes dos sacerdotes, e os escribas do povo, perguntou‐lhes onde havia de nascer o Cristo. 5 E eles lhe disseram: Em Belém de Judéia; porque assim está escrito pelo profeta: 6 E tu, Belém, terra de Judá, De modo nenhum és a menor entre as capitais de Judá; Porque de ti sairá o Guia Que há de apascentar o meu povo Israel.
Nesse texto de Mateus, a segunda parte de Mq 5:3, “e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade”, não é citada. Os escribas e os sacerdotes não disseram isso. Por quê? Porque eles tinham a maior dificuldade de ter essa compreensão de que esse Santo se faria carne e habitaria entre nós. Eles realmente esperavam um líder, um grande líder, mas de nenhuma forma esperavam Deus encarnado.
Pedro também se refere a Cristo agindo antes da Encarnação:
1Pe 1:10‐11 10 Da qual salvação inquiriram e trataram diligentemente os profetas que profetizaram da graça que vos foi dada, 11 Indagando que tempo ou que ocasião de tempo o Espírito de Cristo, que estava neles, indicava, anteriormente testificando os sofrimentos que a Cristo haviam de vir, e a glória que se lhes havia de seguir.
Pedro afirma que o Espírito de Cristo estava nos profetas que profetizaram antes de Jesus Cristo ter nascido. Cristo, o eterno Filho de Deus, a segunda Pessoa da Trindade, ainda não tinha se feito carne, mas os profetas anunciaram o evangelho pelo Espírito de Cristo, porque Cristo é eterno. Então, nós podemos dizer que Cristo é o profeta de Deus que falou através dos profetas. Cristo era a inspiração daqueles profetas. Ele é aquele que revela Deus, Ele é o Verbo de Deus. O ministério de Cristo como profeta, sacerdote e rei é eterno. Isso não teve inicio na Sua humanidade, na Sua encarnação, pois Cristo é eterno. Todos os profetas olharam para frente a respeito o Messias que viria: Ele será assim, Ele será servo, Ele será Rei, Ele será homem, Ele será Deus, o próprio Deus, como Isaías profetizou. E, depois da vinda de Cristo, olhamos para trás. A nossa fé tem fundamentos lá trás. Cristo é o profeta que veio, o Verbo que se fez carne. Cristo é o próprio Deus Filho encarnado. Ele revelou a nós as entranhas de Deus, coisas que anjos anelam perscrutar (1Pe 1:12).
vi. O Nascimento Virginal
Em Isaías também há uma profecia muito precisa sobre a encarnação: Is 7:14 Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.
O Senhor daria um sinal, que uma virgem haveria de conceber. Se Jesus fosse filho natural de José e Maria, então o Verbo teria que se unir a uma pessoa humana, se apropriar dela. Haveria duas pessoas se juntando, a pessoa do Verbo Eterno se unindo a uma pessoa humana chamada Jesus. Mas Jesus não nasceu assim. Uma virgem concebeu do Espírito Santo, de modo que a pessoa do Verbo e a pessoa de Jesus constituem a mesma pessoa. Daí a importância do nascimento virginal. Precisamos procurar compreender estas coisas, para entendermos melhor a redenção da cruz. Se nós dividíssemos Jesus em duas pessoas nós diríamos assim: quem morreu na cruz foi o homem Jesus, mas o Verbo não, o Verbo é Deus, o Verbo nunca morreu. Porém, o valor redentor de Sua morte é incomensurável, porrque quem morreu não foi um homem, quem morreu foi o Deus Homem. Porisso, a cruz é um grande mistério! Estaria errado nós falarmosque a cruz foi a morte de Deus, mas também estaria errado nós
dizermos que a cruz foi a morte de um homem. O correto é nós dizermos que a cruz foi a morte do Deus Homem e por isto a cruz pôde reconciliar Deus com o homem e o homem com Deus. Paulo diz assim:
1Tm 2:5 Porque há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo homem.
O Islamismo poderia existir sem Maomé, outro poderia ter feito tão bem quanto ele, pois Maomé é só um homem. O Budismo poderia existir sem Buda, outro poderia ter feito tão bem quanto ele. Mas o Cristianismo não pode existir sem Cristo, porque ninguém poderia ter feito o que Ele fez, porque Ele é Deus Homem.
Nós precisamos muito mais do que um guia espiritual, nós precisamos de uma purificação espiritual, nós precisamos de redenção espiritual, nós precisamos de perdão de pecados e ninguém pode fazer isso sobre nós a não ser Deus. E Deus não pode fazer isso por Ele mesmo, a não ser que Ele participe da natureza humana e possa ser o intercessor adequado pelo homem. Deus não pode tratar levianamente o pecado. O homem pecou, em Adão todos morreram. Deus não poderia dizer assim: “Vou usar de benevolência, pois sou um Deus bom. Então, a partir de hoje todos os homens estão perdoados”. Isto seria imoral! Deus não poderia fazer isto, assim como um juiz natural não pode simplesmente perdorar um criminoso.
Deus é santo, justo e glorioso! Ele tem que julgar o mal porque Ele é Deus. A Sua natureza o impele a isto. Ele é luz na qual não há treva nenhuma. Portanto, a nossa redenção tem um altíssimo preço. É por isso que Pedro diz: 1Pe 1:18‐20 18 Sabendo que não foi com coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que por tradição recebestes dos vossos pais, 19 Mas com o precioso sangue de Cristo, como de um cordeiro imaculado e incontaminado. 20 O qual, na verdade, em outro tempo foi conhecido, ainda antes da fundação do mundo, mas manifestado nestes últimos tempos por amor de vós.
Se Ele simplesmente pedoasse os pecadores, Ele não seria justo. Para Ele ser justo, o salário do pecado tinha que ser pago. Então, na cruz Deus pôde ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus. Se nós não entermos a Encarnação, como vamos entender a Justificação? Se nós estivermos crendo apenas homem morreu, que valor tem aquela morte? Mas se nós virmos quem Ele é, Deus Homem, então vamos ver melhor o significado dessa morte. Que tremenda é aquela cruz onde a santidade de Deus foi exigida. Nós entenderemos o que é a Propiciação, aquela substituição que aconteceu na cruz. Deus não deixou de julgar o pecado. Ele o julgou na vida do Seu Santo Filho para que nós pudéssemos ser perdoados. Isto não é imoral, isto é gracioso. O pecado não deixou de ser julgado, mas o pecado foi julgado na vida do Filho Santo para que aqueles que deviam ser julgados pudessem ser redimidos. A questão do pecado foi resolvida na pessoa do Santo Filho para que nós pudéssemos ser perdoados. Deus julgou o nosso pecado na pessoa do Seu filho. Isto é substituição, isto é o ensino do Novo Testamento sobre o valor redentor da cruz. Ele é um sacrifício substitutivo, propiciatório. Nunca entenderemos estas coisas sem ver a pessoa do Senhor. Por que Ele não poderia ser resultado de um nascimento natural? Porque qualquer pessoa nascida de um relacionamento natural é um pecador. O pecado é uma questão hereditária. Em Adão todos morreram. Davi, nos Salmos diz: Sl 51:5 Eis que em iniqüidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe. Sl 58:3‐4 3 Alienam‐se os ímpios desde a madre; andam errados desde que nasceram, falando mentiras. 4 O seu veneno é semelhante ao veneno da serpente;
Desde o ventre materno nós já somos desviados. Por isso é que, que, citando o Salmo 14, Paulo diz:
Rm 3:10‐18 10 Como está escrito: Não há um justo, nem um sequer. 11 Não há ninguém que entenda; Não há ninguém que busque a Deus. 12 Todos se extraviaram, e juntamente se fizeram inúteis. Não há quem faça o bem, não há nem um só. 13 A sua garganta é um sepulcro aberto; Com as suas línguas tratam enganosamente; Peçonha de áspides está debaixo de seus lábios; 14 Cuja boca está cheia de maldição e amargura. 15 Os seus pés são ligeiros para derramar sangue. 16 Em seus caminhos há destruição e miséria; 17 E não conheceram o caminho da paz. 18 Não há temor de Deus diante de seus olhos.
vii. Deus conosco
Is 7:14 Portanto o mesmo Senhor vos dará um sinal: Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, e chamará o seu nome Emanuel.
Esta palavra Emanuel resume a graça e a glória da encarnação: Deus conosco, Deus no meio
de pecadores, Deus no meio de condenados, Deus no meio de desgarrados. A história da redenção começou com um ato da parte de Deus. É por isto que é importante nós vermos o que a encarnação significa: não uma pessoa se unindo a outra pessoa, mas o Verbo assumindo a natureza humana, o Verbo se fazendo carne. O resultado de nós compreendermos bem esse fato é que vamos ver melhor a santidade da pessoa de Jesus, o porque dEle ser alguém que não podia pecar, porque Ele era como era. Ele foi concebido através do Espírito Santo, por isso ele é o Santo, como falado por Lucas: Lc 1:35 E, respondendo o anjo, disse à Maria: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus.
O ego de Jesus é o Verbo de Deus, o Logos Eterno. Nossos egos, herdados do ego de Adão, são pecadores, mesquinhos, corrompidos, mas o ego de Jesus é o Verbo. É por isso que Ele é Santo.
Já falamos que a palavra Encarnação implica em pré‐existência. Porém, os textos de Mateus e Lucas, abaixo, nos mostram que implica também em outra coisa: uma participação ativa. Quando usamos a palavra Encarnação estamos dizendo que o Filho de Deus tomou uma atitude para nos redimir. Então, Encarnação é uma palavra muito significativa por estes dois sentidos.
Mt 1:18‐25 18Ora, o nascimento de Jesus Cristo foi assim: Que estando Maria, sua mãe, desposada com José, antes de se ajuntarem, achou‐se ter concebido do Espírito Santo. 19Então José, seu marido, como era justo, e a não queria infamar, intentou deixá‐la secretamente. 20E, projetando ele isto, eis que em sonho lhe apareceu um anjo do Senhor, dizendo: José, filho de Davi, não temas receber a Maria, tua mulher, porque o que nela está gerado é do Espírito Santo; 21E dará à luz um filho e chamarás o seu nome JESUS; porque ele salvará o seu povo dos seus pecados. 22Tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito da parte do Senhor, pelo profeta, que diz; 23Eis que a virgem conceberá, e dará à luz um filho, E chamá‐lo‐ão pelo nome de EMANUEL, Que traduzido é: Deus conosco. 24E José, despertando do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu a sua mulher; 25E não a conheceu até que deu à luz seu filho, o primogênito; e pôs‐lhe por nome JESUS.
Lc 1:26‐35 26 E, no sexto mês, foi o anjo Gabriel enviado por Deus a uma cidade da Galiléia, chamada Nazaré, 27 A uma virgem desposada com um homem, cujo nome era José, da casa de Davi; e o nome da virgem era Maria. 28 E, entrando o anjo aonde ela estava, disse: Salve, agraciada; o Senhor é contigo; bendita és tu entre as mulheres. 29 E, vendo‐o ela, turbou‐se muito com aquelas palavras, e considerava que saudação seria esta. 30 Disse‐lhe, então, o anjo: Maria, não temas, porque achaste graça diante de Deus. 31 E eis que em teu ventre conceberás e darás à luz um filho, e pôr‐lhe‐ás o nome de Jesus. 32 Este será grande, e será chamado filho do Altíssimo; e o Senhor Deus lhe dará o trono de Davi, seu pai; 33 E reinará eternamente na casa de Jacó, e o seu reino não terá fim. 34 E disse Maria ao anjo: Como se fará isto, visto que não conheço homem algum? 35 E, respondendo o anjo, disse‐lhe: Descerá sobre ti o Espírito Santo, e a virtude do Altíssimo te cobrirá com a sua sombra; por isso também o Santo, que de ti há de nascer, será chamado Filho de Deus.
viii. Um Homem Redentor
1Tm 3:15‐16 15 Mas, se tardar, para que saibas como convém andar na casa de Deus, que é a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade. 16 E, sem dúvida alguma, grande é o mistério da piedade: Aquele que se manifestou em carne, foi justificado no Espírito, contemplado por anjos, pregado aos gentios, crido no mundo, recebido acima na glória.
A Igreja é coluna e baluarte da verdade. Qual verdade? Aquela expressa no versículo 16, sem dúvida alguma, o mistério da piedade. E, se continuarmos a ler o versículo, veremos com muita clareza que o mistério da piedade é o Verbo encarnado.
Aquele que se manifestou em carne ‐ Perceba a exatidão do Espírito Santo em colocar as coisas. O versículo não diz que o nosso Senhor nasceu no sentido dEle ter tido um começo ali no ventre de Maria. Paulo está dizendo que a Piedade é esse mistério eterno, Cristo. A partir dai o eterno Filho de Deus iria assumir a natureza humana, iria se expressar como homem, mas sempre sendo o que Ele realmente é, o eterno Filho de Deus.
Foi justificado em Espírito – foi plenamente, perfeitamente, aprovado como homem;
Contemplado por anjos – Ele foi um espetáculo para os anjos, o maior espetáculo que os anjos nunca puderam imaginar. Como esse Ser Glorioso, objeto de eterna adoração, o Filho de Deus, podia agora nascer de uma mulher, se tornar semelhante aos homens, experimentar a fraqueza humana, tentação, aflição, cansaço, fome, sede, dor? Isso foi algo que deixos os anjos pasmados. Os irmãos vejam a beleza deste versículo!
Pregado entre os gentios, crido no mundo, recebido na glória ‐ Paulo resume o mistério da vida humana de Cristo, do impacto sobre a humanidade, o mistério da Sua morte e o mistério da Sua ressurreição e glorificação. Hb 2:14‐18 14 E, visto como os filhos participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas, para que pela morte aniquilasse o que tinha o império da morte, isto é, o diabo; 15 E livrasse todos os que, com medo da morte, estavam por toda a vida sujeitos à servidão. 16 Porque, na verdade, ele não tomou os anjos, mas tomou a descendência de Abraão. 17 Por isso convinha que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo. 18 Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados.
Porque Cristo precisou participar das mesmas coisas que passamos? Por que precisou ser assim? Ele não podia ser apenas um ser fantasmagórico, como alguns achavam no início? Por que Ele não veio como uma Teofania, como as vemos no Antigo Testamento? Por exemplo, podemos ver Cristo entre os homens que tomaram refeição com Abraão em sua tenda (Gn 18:1‐16), mas a Bíblia jamais fala disso como encarnação. Era apenas a manifestação de Deus em forma humana.
Isto foi um ponto de conflito muito sério no início da história da Igreja. Se Ele não foi um homem real com uma alma real, com sentimentos reais, com uma mente real, tentado em todas as coisas, sujeito a fraquezas, a limitações, isso anula toda a glória da redenção. Jesus, como verdadeiro homem, estava sujeito a limitações. Quando Ele estava em Jerusalém, não podia estar na Galiléia; quando estava na Galiléia, não podia estar em Jerusalém. Quando Ele estava falando com o jovem rico, não podia estar falando com a mulher samaritana. Então, Ele experimentou limitação na Encarnação, para que em todas as coisas se tornasse semelhante aos irmãos. Para quê isso? Aí está explicado: para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote.
Filipenses 2:7 diz que Ele se esvaziou, se fez homem e, como homem, foi servo. Isaias diz sobre Ele: Is 53:3 ... homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum.
Para que isso tudo? Para ser misericordioso! Ele entende a nossa alma muito bem, Ele conhece as nossas debilidades, fraquezas, tentações, tribulações, pois, “naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados”
Mas, o texto acima não diz apenas de Cristo ser misericordioso. Diz: para ser misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para expiar os pecados do povo.
Muito mais do que se compadecer, Ele precisava reconduzir nossas almas à comunhão com Deus e, para isto, como homem Ele precisava ser fiel e não só misericordioso. Fiel nas coisas referentes a Deus, ao propósito de Deus, fiel na Sua vida humana, fiel no Seu caminhar, fiel no Seu falar, fiel no Seu agir, fiel em toda a verdade, fiel em todo o pensamento, fiel em toda a motivação. Deveria ser um homem sem pecados, perfeito, aprovado, senão não poderia ser o nosso Redentor, pois seria infiel nas coisas referentes a Deus. Precisamos ver a glória da pessoa humana de Jesus.
Se Ele não fosse misericordioso ou se não fosse fiel, se falhasse em qualquer dessas virtudes, Ele não poderia expiar os nossos pecados. Expiação, ou Propiciação, significa satisfação das exigências da santidade de Deus que foi violada.
A situação entre Deus e o homem pôde ser resolvida porque um homem atuou como representante dos homens. Não poderia ser um anjo, teria que ser um homem, porque foi um homem que pecou. Tudo começa com a Encarnação. Se Jesus não fosse um homem real em todas as coisas, semelhante aos Seus irmãos, mas, sem pecado, então nós não teríamos um Redentor. 
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1 - Seguindo a Cristo