EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS: no “deserto” se esconde e se revela uma Presença (Peregrinação interior para um maior serviço) O pano de fundo deste exercício é a experiência bíblica do deserto como passagem constante da escravidão à liberdade, do lugar estreito no Egito à amplidão da Terra Prometida. O deserto é a experiência pela qual Javé faz passar Israel para que este se tornasse Povo de Deus, antes de entrar na Terra Nova. Deserto passa a ser tempo de purificação e de vida em marcha: povo peregrino apegado somente em Deus. No deserto Israel aprendeu a descobrir e a confiar em Javé. Longe da segurança do Egito emerge o que há no fundo do seu coração. Os profetas cantam o tempo do deserto como tempo das obras maravilhosas de Deus. Foi no deserto que o povo de Israel sentiu profundamente sua pequenez e total dependência de Deus. Na travessia do deserto aconteceu a provação e a intimidade com Javé. Não existiam caminhos prontos. Era preciso discutir, planejar, rezar, lutar e sonhar para fortalecer a caminhada. No fundo, o Êxodo era uma radical opção pela liberdade, porque um povo só é livre quando pode escolher o rumo de seu caminhar: DESERTO: lugar da Aliança, escola da intimidade com Deus; expressão que, mais do que um determinado lugar, indica uma experiência forte de Deus. Jesus, como todos os profetas, antes de entrar em missão é conduzido pelo Espírito ao deserto. Ele recorria a esta experiência em meio à sua vida ativa: afastava-se para lugares solitários, confrontava a sua missão com a Vontade do Pai. Todos os personagens bíblicos, todos os santos(as) passaram pela experiência de deserto: peregrinação interior, confronto com a própria vida, comunhão com o Senhor, descoberta da própria missão... Nós também somos chamados ao deserto: “Eu o(a) levarei ao deserto e falar-lhe-ei ao coração” (Os. 2,16). Ao tomar distância do viver cotidiano, temos a possibilidade de reconhecer a ação de Deus em nós com outra luz e com outra força A experiência de deserto passa a ser “tempo e lugar” de decisão, de orientação decisiva da vida, de enraizamento de nossos valores, de consciência maior da nossa identidade pessoal e da nossa missão... O mestre do deserto é o silêncio; o deserto tem valor porque revela o silêncio, e o silêncio tem valor porque nos revela Deus e a nós mesmos. O deserto é o grande auditório para ouvir Deus; “solidão” cheia de presença. Ainda que sozinhos, sentimo-nos solidários, em comunhão com todos. A proximidade de Deus vai ser sentida e percebida. “O deserto é fértil” (D. Helder) Com sua austeridade e simplicidade, o deserto não é lugar de experiências superficiais. A profundidade da identidade de uma pessoa é testada e experimentada no deserto. Quem anda no deserto sente profundamente o que é o “nada”; o deserto grita o nosso “nada”, nos coloca entre a areia e o céu, o nada e o Tudo, o eu e Deus. A prática do “deserto” é um fator sempre presente em toda procura séria de Deus. Portanto: o deserto é o lugar do encontro: * encontro consigo no despojamento, onde a pessoa reconhece sua radical pobreza; * encontro com os outros pela capacidade que se adquire de uma comunicação que brota de dentro; * encontro com Deus que se faz sentir em cada etapa do caminho, como o grande Peregrino. Nesse sentido, nosso Retiro torna-se um “estar com Jesus” no deserto, para, como Ele, dar a Deus o lugar central de nossa vida. Os Exercícios Espirituais são um tempo no qual damos maior liberdade a Deus para agir em nós; é abrir espaço, alargar o coração para a ação de Deus. É tempo de reconstrução de si (conversão), de retomada da opção fundamental por Deus e pelo seu Reino (maior serviço, mais compaixão, mais partilha, mais solidariedade...). Textos bíblicos: Deut. 8 Ex. 3,1-15 Ex. 13,17-22 Is. 55 Sl. 23(22); 27(26) Na oração: - qual é o seu estado de ânimo e disposição para viver esta experiência do Retiro? - Você está preparado para a travessia do deserto? Está disposto a “caminhar”, a “sair”? - Você está disposto a ser mais servidor, mais acolhedor, mais atento aos outros... após esta experiência? FONTE: CEI-JESUÍTAS - Centro de Espiritualidade Inaciana Rua Bambina, 115 - Botafogo – RJ – 22251-050 [email protected] / www.ceijesuitas.org.br