Boletim do ES Professor PE CIA ES L UN TÁ CIO IVER DE SIDA SÁ DE www.sinpro-rio.org.br Sindicato dos Professores do Município do Rio de Janeiro e Região Filiado à FETEERJ • CONTEE • CUT Ano 14 • Nº 31 • Maio 2010 A Mercantilização do Ensino na Estácio de Sá O movimento de expansão da Educação Superior privada alcançou maior dimensão no ano de 2007, período marcado pela consolidação da tendência de realização de IPOs (oferta pública inicial de ações) pelas Instituições de Ensino Superior (IES) no Brasil. O processo de abertura de capital no setor educacional (atualmente, a sexta posição na economia nacional) foi realizado inicialmente pela Anhanguera Educacional. Em seguida, outras IES trilharam o mesmo caminho, como a Rede Pitágoras; e o Sistema COC. No Rio de Janeiro, a Universidade Estácio de Sá, maior do ranking das IES privadas no “mercado educacional”, foi a pioneira no ingresso do mercado de capitais, através do lançamento de ações na Bovespa, em 9 de fevereiro de 2007. Ressalte-se, neste aspecto, o fato relevante, amplamente anunciado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e ao mercado financeiro em 10 de abril de 2008, do ingresso do GP Investimentos S/A no quadro acionário da instituição através da compra de 20% das ações e com posição estratégi- ca no comando do Conselho de Administração, ditando os princípios do seu “planejamento estratégico”: demissões em massa, otimização dos custos e investimentos em tecnologia (especialmente na EAD) como fator de economia de escala. Desde então, o processo de “empresariamento” da educação tem adquirido contornos mais nítidos na instituição, com a sobreposição dos interesses mercantilistas de lucratividade máxima, em detrimento dos fins acadêmicos de investimento em pesquisa, ensino e extensão. A Estácio de Sá vem praticando uma “reestruturação” em seu quadro permanente de professores, visando a se adequar às exigências do capital, tornando-se mais agudas com a transformação da até então “entidade filantrópica” em “sociedade anônima” através da mencionada Oferta Pública de Ações. Uma “aberração jurídica” uma vez que se trata de uma empresa que usufruiu do status de entidade filantrópica durante décadas, e, por isso, beneficiária de uma política de desonerações tributárias concedida pelo Estado. Política de demissões em massa Dossiê Estácio e o MEC De 2006 até o presente semestre letivo, é assustador o montante de demissões dos professores da Universidade Estácio de Sá, uma comprovação material dos efeitos devastadores da abertura de capital e descompromisso dos gestores com a responsabilidade social e acadêmica que deve justificar a existência das IES: A expansão da Universidade Estácio de Sá e o sucessivo descumprimento da legislação trabalhista e educacional fundamentaram o “Dossiê Estácio”, construído pelo SinproRio e entregue em junho de 2007 na Representação Regional do MEC (Remec). 2006= 619 demissões 2007= 589 demissões 2009= 814 demissões 2010 (janeiro a março)= 26 Observe-se que, em regra, os professores mais antigos e com maior qualificação acadêmica - considerados mão de obra que onera a folha de pagamentos da empresa - foram os mais atingidos pela política de demissões em massa perpetrada pela Estácio Participações S/A. Na lógica mercantil que tomou de assalto a instituição, esses números estão inseridos num projeto de “enxugamento” e preparação da estrutura do quadro funcional para os propósitos da empresa, que deixa de seguir metas e objetivos educacionais em favor da maximização de lucros e diminuição de custos. Na verdade, um conglomerado educacional em expansão, com mais de 200 mil alunos espalhados pelo país com metas de expansão internacional. Tal fato se reflete nas graves implicações da abertura de capital na estrutura curricular dos cursos. O Dossiê contém várias denúncias: • Ausência de participação dos corpos docente e discente na gestão democrática da universidade; • Inexistência de Conselho Universitário; • Investimentos tímidos em pesquisa acadêmica e extensão universitária; • Não remuneração das horas-campo; • Não pagamento dos direitos autorais • Superlotação de salas de aula; • Educação a Distância (EAD) como fator de economia de escala; • Convênios e parcerias educacionais com mão de obra gratuita do corpo docente. 2 Boletim do Professor • Maio 2010 www.sinpro-rio.org.br ESTÁCIO DE SÁ Falso Tempo Integral Mais uma proposta de acordo São prerrogativas das universidades usufruírem de autonomia acadêmica para criar, extinguir e modificar cursos e alterar currículos sem autorização prévia do MEC. Em contrapartida, precisam ter um quadro docente permanente; plano de carreira próprio; órgãos colegiados; pelo menos, 1/3 de seus docentes com Mestrado ou Doutorado; e regime de trabalho de tempo contínuo com 40h semanais. A Estácio Participações S/A inventou uma forma de lesar os interesses dos professores e “enganar” (ou tentar) o MEC, com a adoção de tempos integrais (TIs), que não são verdadeiros. Em maio de 2008, foi implantado o chamado “Programa de Colaboradores de Tempo Integral”, caracterizando-o como um projeto de institucionalização de suas políticas acadêmicas. Nesse período, cerca de 600 professores e coordenadores foram “convidados” a assinar um termo aditivo ao seu contrato de trabalho pelo qual se sujeitariam a ganhar entre R$ 800 e R$ 1.400, conforme sua qualificação no quadro de docentes da Unesa, por 20h de trabalho semanais, para desenvolver diversas atividades que não fossem referentes às suas atividades como professor. A Estácio de Sá encaminhou ao sindicato mais uma proposta de acordo coletivo na tentativa de legitimar a política de redução de carga horária e proletarização do corpo docente. Nos propósitos do acordo há uma clara tentativa de redução de carga horária nas seguintes hipóteses: a) redução da base de alunos; b) compartilhamento de disciplinas entre cursos; c) readequação dos planos dos cursos às Diretrizes Curriculares Nacionais; d) avaliação funcional dos docentes. Além disso, a Estácio reitera a lógica da mercantilização do ensino transferindo aos professores os riscos da atividade empresarial; buscando o aval do Sindicato para legitimar as distorções pedagógicas, praticadas nos cursos, com vistas ao enxugamento da folha salarial e sob o falso pretexto de atendimento às exigências da legislação educacional. Ressalte-se o caráter inadequado da iniciativa à política de alta rotatividade das coordenações acadêmicas e gerências administrativas. Tal proposta de acordo coletivo foi prontamente repudiada pelo Sindicato. Ação civil pública Ações judiciais Além das ações individuais e coletivas, o Sinpro-Rio fez uma representação ao Ministério Público do Trabalho (MPT), denunciando o sistemático descumprimento da legislação trabalhista e da Convenção Coletiva de Trabalho (CCT). O número de ações individuais e coletivas contra a Estácio de Sá se multiplicam nas diversas instâncias da Justiça do Trabalho, caracterizando uma “gestão temerária” que pode causar sérios danos à imagem da instituição e comprometer sua continuidade enquanto status de Universidade. Nos últimos anos, a Estácio aumentou, de modo exponencial, o número de ações trabalhistas, com diversas irregularidades sendo cometidas contra os direitos trabalhistas básicos dos professores: redução de salários através de diminuição de carga horária e carga horária zerada; fracionamento das férias à revelia da legislação trabalhista; demissões arbitrárias, com pagamento incorreto das verbas rescisórias; desconsideração da cláusula de gratuidade para filhos de professores. O exemplo disso acontece nos cursos de Medicina e Odontologia. EAD: precarização do trabalho docente Reintegração de professor Apoiada no dispositivo legal (Artigo 80 da LDB) que permite a oferta de 20% da carga horária total do curso através de disciplinas semipresenciais, a Universidade Estácio de Sá desvirtua a concepção original da EAD, utilizando-a como ferramenta de redução de salários e desqualificação da figura do professor-tutor. O Sinpro-Rio obteve importante vitória judicial com a decisão do juízo da 7ª Vara do Trabalho de deferimento da ação de reintegração do professor Renato Brandão ao corpo docente da Universidade Estácio de Sá. O MPT instaurou a Ação Civil Pública (ACPU nº 00019-20008001-00-55), em trâmite na 80ª Vara do Trabalho, com fundamento nas denúncias de redução salarial, carga horária zerada, equiparação da horaaula diurna e noturna, assédio moral. Pólos irregulares No ano de 2010, a Secretaria de Educação a Distância do MEC determinou a suspensão de nove polos de Educação a Distância, operados irregularmente pela Universidade Estácio de Sá. A EAD operada pela Estácio tem-se revelado como fonte extraordinária de maximização de lucros através da banalização das disciplinas on-line e telepresenciais. Isso nos parece propaganda enganosa. Pode-se ver, no portal da Estácio de Sá, anúncios de que é possível aos alunos interessados frequentar cursos de EAD com as mesmas características dos cursos presenciais. SEDE CENTRO SUBSEDE • BARRA DA TIJUCA Rua Pedro Lessa, 35 • 2º, 3º, 5º e 6º andares Tel. (21) 3262-3400 • e-mail: [email protected] Av. das Américas, 5.777 • salas 202 e 208 a 211 Tels. (21) 2438-2457 • 2438-4109 • e-mail: [email protected] SUBSEDE • CAMPO GRANDE SUBSEDE • MADUREIRA Rua Manaí, 180 • Tels. (21) 2415-4686 • 3402-1768 e-mail: [email protected] Rua Carolina Machado, 530 • salas 210, 211 e 212 Tel. (21) 3350-6233 • e-mail: [email protected] Estácio na Alerj As ações do Sinpro-Rio na Educação Superior estenderam-se à esfera parlamentar através da participação nas audiências públicas das IES realizadas pela Comissão de Trabalho da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Em 2009, três instituições foram convocadas para prestarem esclarecimentos sobre as irregularidades. Em breve, a audiência pública da Estácio de Sá, reivindicada pelo Sinpro-Rio, será marcada pela Comissão de Trabalho.