Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 SUMÁRIO 1 GT 1: REFLEXÕES ÉTICAS: arquitetura da informação, competência/ética profissional. 2 GT 2: FORMAÇÃO POLÍTICA E A DISCUSSÃO DE GÊNERO 3 GT 3: PRÁTICAS DE TRANSFORMAÇÃO SOCIAL: o profissional da informação como agente transformador 4 GT 4: MÍDIAS DA INFORMAÇÃO: cidadania e Exclusão digital no contexto sociedade da informação 5 GT 5: PERFIL PROFISSIONAL: Cenário e perspectivas do profissional da informação 6 GT 6: Livre 3 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 GT 1 REFLEXÕES ÉTICAS: arquitetura da informação, competência/ética profissional. 4 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 SUMÁRIO UM DIAGNÓSTICO DAS NECESSIDADES INFORMACIONAIS DA COMUNIDADE DA GUABIRABA EM MARANGUAPE-CE 5 ACESSIBILIDADE E ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO: o papel do gestor da informação no processo de avaliação de repositório digital e sitio de museu GT1 - Reflexões éticas: arquitetura da informação, competência/ética profissional 18 BIBLIOTECONOMIA E ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO: Uma linha tênue entre duas ciências e a contribuição das 5 leis de Ranganathan 30 5 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 UM DIAGNÓSTICO DAS NECESSIDADES INFORMACIONAIS DA COMUNIDADE DA GUABIRABA EM MARANGUAPE-CE: região metropolitana de Fortaleza GT 1 - modalidade (oral) SILVA, Marciana Siqueira da1 COSTA, Rosiane da Silva2 RESUMO Este estudo tem por objetivo diagnosticar as necessidades de informação da comunidade da Guabiraba em Maranguape, região metropolitana de Fortaleza. Trata-se de uma pesquisa exploratória baseada no método observacional realizada por meio da aplicação de questionários que combinou perguntas abertas e fechadas. Foi realizada uma Revisão Bibliográfica para o levantamento teórico do tema em questão. Portanto, tendo a informação como parte integrante para o desenvolvimento da cidadania pode-se concluir que foram detectados diferentes necessidades de informação entre os participantes, isso autoriza concluir que a Biblioteca Pública da cidade deveria tornar-se, mas, atuante no sentido de entender as necessidades informacionais das comunidades situadas próximo a essa instituição. Tomando como base esses estudos, seus serviços, desenvolvimento de coleções, e a estrutura física teriam um maior conhecimento por parte da comunidade. Palavras-chave: Estudo de comunidade. Estudo de usuários. Necessidades de informação. Comunidade da Guabiraba. ABSTRACT This study aims to diagnose the information needs of the community Guabiraba in Maranguape, metropolitan region of Fortaleza. It is an exploratory research based on observational method performed through the use of questionnaires which combined open and closed questions. A literature review was conducted for the theoretical survey of the issue at hand. So having the information as integral to the development of citizenship can be concluded that have been detected different needs of information between participants, this allows conclude that the Public Library of the city should become, but acting in order to understand the information needs of the communities located near the institution. Based on these studies its services, collection development, and the physical structure would have a greater knowledge on the part of the community. Keywords: Community study. Study users. Information needs. Community Guabiraba. 1 2 Graduanda em Biblioteconomia pela (UFC). E-mail. [email protected] Graduanda em Biblioteconomia pela (UFC). E-mail. [email protected] 6 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 1 INTRODUÇÃO Nas últimas décadas os estudos de comunidades se apresentaram de extrema importância para as bibliotecas conhecerem seus usuários, e assim disponibilizarem informações que atendam à demanda da sua clientela. Os estudos de comunidade funcionam como um canal de comunicação que identificam a real necessidade informacional dos usuários. De certo, o estudo de comunidade permite avaliar as possíveis necessidades do usuário, quando aplicado a uma determinada comunidade proporciona conhecer os aspectos culturais e o perfil etnográfico dos usuários levando em consideração os aspectos econômicos e sociais da comunidade. De acordo com Figueiredo (1979, p. 45) o estudo de comunidade “É uma investigação de primeira mão, uma análise e coordenação dos aspectos econômicos, sociais e de outros aspectos interrelacionados de um grupo selecionado”, uma comunidade que mesmo convivendo em um determinado espaço apresentam características diferentes na qual preferimos entender pensadas a partir da necessidade informacional. Certamente, uma comunidade agrega relações por meio de vínculos diretos como no caso de uma família, ou mesmo indiretos. Similarmente, são pessoas, grupos que compartilham de forma coletiva de um determinado espaço, mas que possuem necessidades informacionais diferentes, Scchilling (1974, p. 53) afirma que a “Comunidade designa qualquer corpo social que apresentam relações, diferenças e semelhanças que tem seu lugar na sociedade, direitos e deveres tornando-se assim cidadãos”. Presume-se que, as necessidades informacionais dos cidadãos precisam ser identificadas, é sabido afirmar que as bibliotecas sejam elas Públicas, Comunitárias, não importando nesse primeiro momento a tipologia dessas Unidades de Informação, mas o conhecimento que essas unidades se debruçam acerca da comunidade a qual servem. Assim, no que diz respeito principalmente à aproximação dessas instituições para o desenvolvimento da comunidade, bem como do seu papel social buscando uma relação direta com o contexto social. Concordamos com Figueiredo (1979, p. 6). O completo entendimento da comunidade nas quais as nossas bibliotecas operam, sejam elas urbanas suburbanas ou rurais, envolve fatores demográficos e um entendimento dos indicadores sociais e físicos, bem como da complexidade da estrutura da comunidade [...] assim a análise da comunidade não é apenas um simples processo de determinar números de pessoas, as suas características gerais, níveis de educação, e de economia e composição racial. Entre os desafios enfrentados pelas bibliotecas além da falta de verbas e infraestrutura, é o reconhecimento da comunidade na qual a biblioteca se insere. Segundo Almeida Júnior (1997, p. 78), “O conhecimento da comunidade trará as bibliotecas indicações 7 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 real para a determinação do acesso, e dos serviços a serem prestados”. Em outras palavras as bibliotecas precisam antes de implantar qualquer serviço ou desenvolver coleções, visualizar de que forma esses aspectos vão ao encontro das necessidades informacionais daquela comunidade de usuários, precisam adapta-se a realidade, conhecer as mudanças sociais. Sobretudo, espera-se que esses serviços proporcionem acesso, que sejam direcionadas conforme ao que a comunidade deseja em matéria de informação. O acesso deve ser entendido também no que se refere ao acesso dos conteúdos, e a adequação dos sistemas visando sua utilização pelos usuários, como também a disponibilidade da informação que vão responder as necessidades do usuário em Bibliotecas (MORAIS, 1994). Percebe-se a grande carência informacional de comunidades, no que diz respeito à educação, problemas corriqueiros e a perda de sua própria cultura, e tendo em vista que a informação agrega desenvolvimento Carvalho (1991, p. 1176) considera a “Informação um direito, condição básica para o funcionamento de uma política que favorece o direito dos cidadãos”. Cavalcante (2012, p.118) afirma que o “Direito a informação é condição de vida social e econômica das pessoas, e seus pontos cruciais é qualidade como saúde, educação meio ambiente, moradia trabalho, renda, cultura, lazer”. Uma comunidade que não possui acesso à informação tem seu processo de cidadania fragmentado, impossibilitando os cidadãos a conhecerem seus direitos e deveres os excluindo cada vez mais do processo de desenvolvimento social indispensável para a sustentação da sociedade. Nesse sentido temos como questão problematizadora do estudo de comunidade a seguinte pergunta. Quais as necessidades informacionais da comunidade da Guabiraba em Maranguape região metropolitana de Fortaleza? É pertinente dizer que para realizarmos um estudo da comunidade é necessário abordamos alguns aspectos que envolvem a diferença significante existente entre essa comunidade, que identificam importantes critérios que podem ser utilizados para um estudo de comunidade alguns desses critérios são: Idade; Nível educacional; Renda; Ocupação e Fontes geradoras de emprego; Informação étnica e racial (FIGUEIREDO, 1979, p. 61). A informação constitui-se o principal insumo para o desenvolvimento da sociedade, vale salientar que a necessidade informacional por parte dos indivíduos acarretou nós últimos anos uma maior peculiaridade. A necessidade de informação varia de um indivíduo para outro e de grupo para grupo podendo ser transformada em demanda (NASCIMENTO; WESCHENFELDE, 2002). Nesse sentido se faz necessário uma maior apropriação por parte dos profissionais que pesquisam o comportamento informacional da comunidade de usuário. 8 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A escolha da temática abordada deu-se pelo interesse em identificar as necessidades informacionais da comunidade a seguir, tendo em vista que não há, ou não se tem conhecimento de trabalhos voltados para esta questão na referida comunidade pela atual Biblioteca Pública da cidade, e como estudantes do curso de Biblioteconomia, e corroborando para o entendimento das necessidades informacionais dos cidadãos presentes nessa comunidade despertou-nos o interesse em fazer um estudo sobre o assunto, bem como promover reflexões importantes que possam contribuir futuramente na implantação de uma Biblioteca Comunitária nesse espaço. Tendo como base a Problemática e Justificativa acima descrita estabelece-se como Objetivo Geral Realizar um estudo de comunidade e de usuários no bairro da Guabiraba, no município de Maranguape, a fim de se conhecer as necessidades informacionais dessa comunidade. Para se alcançar o objetivo geral temos os seguintes objetivos específicos: a) Investigar as necessidades informacionais da comunidade; b) Descrever o perfil dos moradores da comunidade. 2 ASPECTOS SÓCIO HISTÓRICOS DA COMUNIDADE A cidade de Maranguape esta localizada a vinte cinco quilômetros de Fortaleza, o Município conta com a Biblioteca Pública Capistrano de Abreu em homenagem ao primeiro bibliotecário da Fundação Biblioteca Nacional (FBN), situada no centro da cidade. A terra natal do ilustre Capistrano de Abreu situa-se no nordeste do Estado do Ceará. As comunidades ao entorno dessa Unidade de Informação apresentam necessidades informacionais diferenciadas, concordamos com Costa (1998, p. 1) “O estudo de comunidade encontra-se na falta de entendimento da importância do engajamento das pessoas em incumbência que, no mais das vezes, são considerados atividades modestas ou atividades rotineiras”, uma dessas comunidades próximas a Biblioteca Pública da cidade não possuem um espaço para orientação das suas necessidades informacionais, o estudo realizado na comunidade da Guabiraba em Maranguape buscou identificar as necessidades informacionais dessa comunidade. A comunidade da Guabiraba em Maranguape apresenta como principais características de seus ambientes, três escolas: a Escola de Ensino Profissionalizante Santa Rita, foi fundada em 1930 e já ofereceu diversas modalidades e formas de ensino, sendo palco de nostalgia para muitos de seus visitantes por ser historicamente um grande referencial na educação das famílias maranguapenses; a Escola de Ensino Fundamental estado do Rio 9 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Grande do Norte, e a Escola de Ensino Integral Manoel Severo Barbosa (ensino infantil). A comunidade se destaca na cidade por ser um ponto de saída para vários eventos na cidade. O bairro possui duas praças: Monsenhor Salazar; Praça Sarah Carvalho, nenhuma das três escolas do bairro possui Biblioteca Escolar direcionada para pesquisa e a necessidade informacional dos alunos. 3 UMA ABORDAGEM SOBRE O ESTUDO DE USUÁRIOS Como a própria terminologia explica o estudo de usuário são estudos realizados a fim de se conhecer sobre determinado grupo ou comunidade, de acordo com Figueiredo (1979, p. 79) o estudo de usuários são “Investigações que se fazem para saber o que os indivíduos precisam em matéria de informação, ou então, para saber se as necessidades de informação por parte do usuário de uma biblioteca ou de um centro de informação estão sendo satisfeita de maneira adequada”. Costa (2014, p. 46) conceitua o Estudo de Usuários como: Um conjunto de conhecimentos, ou disciplina, pertencente à área de Ciência da Informação para compreender, por meio da investigação, e detectar o que o usuário necessita em matéria de informação, relacionando à necessidade de busca e uso da informação. Inicialmente, as Bibliotecas e Centros de Informação buscam identificar com base no estudo de usuários o serviço e produtos informacionais a serem implantadas nesses espaços, existem várias maneiras de se realizar um estudo de usuário, ainda corroborando com Figueiredo (1979, p. 6), a maneira mais conveniente é dividir o estudo de usuário em dois pontos: estudos orientados ao uso de uma biblioteca ou centro de informação individual; estudos orientados ao usuário, isto é, investigação sobre um grupo particular de usuários, como este grupo obtém a informação necessária ao seu trabalho. O estudo de usuário define os serviços de informação proporcionando a qualidade na oferta da informação e promoção dos direitos do cidadão. Almeida Júnior (1997) explica que os serviços de informação são essenciais para o funcionamento das bibliotecas, o que se pode constatar é de fundamental importância, tendo em vista que busca beneficiar determinada comunidade. Para tanto, implica em conhecer as necessidades informacionais dos seus usuários, buscando atender a sua comunidade como um todo. Segundo Araújo (2010) durante a execução de um estudo de usuário surgem muitas dúvidas como realizar as pesquisas e principalmente como analisar os dados encontrados nós estudos de usuário conforme o paradigma da Ciência da Informação, que impulsiona pensar no estudo de usuário com base em suas necessidades e uso dessas informações. Na perspectiva de Silva (2012, p. 103) os estudos de usuários apresentam como principal marcos as “Reflexões e aplicações 10 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 concernentes às necessidades e uso de informação, além do processo de satisfação dos usuários como fundamentos para construção de sentidos”. É necessário levantar questões diferentes nesses estudos, com vista a entender como os usuários interagem no processo de investigação que corresponderão diretamente no levantamento de respostas norteadoras. 4 NECESSIDADE INFORMACIONAL Existem fatores determinantes para o sucesso de uma unidade de informação, a rigor o estudo de usuário concentra em sua função a razão de existir da Biblioteconomia. Nesse sentido, os estudos de usuário [...] assumem importância como instrumento de gestão porque fornecem subsídios para os bibliotecários para identificação do perfil dos seus usuários, apresentam como principal marcos as reflexões e aplicações concernentes às necessidades e usos de informação com objetivo de planejar serviços e produtos a serem desenvolvidos (SILVA, 2012, p. 103). Esses estudos objetivam conhecer a necessidade informacional dos usuários e devem ser pensados para a construção da informação. Ainda sobre a necessidade de informação Silva, (2012, p. 106-108) discorre sobre os distintos processos de necessidade do usuário: Processos históricos e cronológicos é aquela sentida pelo indivíduo/usuário em um momento específico que demanda uma satisfação pontual e rápida; Processos humanos é aquela necessidade sentida de uma reflexão do indivíduo/usuário em que muitas vezes não sabe precisamente de onde foi construída, mas simplesmente percebida e que precisa ser satisfeita [...] Necessidade coletiva da informação é aquela necessidade percebida por um grupo de pessoas (comunidade de usuários) simultaneamente ou não; Processos psicossociais Necessidade consciente- é aquela necessidade que o indivíduo/usuário sabe onde, quando, como e/ ou porque foi percebida, bem como onde, quando, como e/ou porque poderá/deverá supri-la; Necessidade inconsciente de informação- é aquela necessidade que o indivíduo/usuário não identifica de forma direta ou mesmo que sente, mas não contextualiza de forma efetiva onde, quando, como e/ ou porque ocorreu, que dificulta suas perspectivas de satisfação; Processos institucionais e pedagógicos Necessidade interativa entre centro de informação e comunidade- neste plano, considerado mais geral, podem-se apresentar duas necessidades que devem buscar uma adequação. A primeira necessidade reside em ser reconhecida perante a comunidade por meio de sua atuação (serviços propostos, planejamento desenvolvido, estratégias de marketing, estrutura física, aparato tecnológico, etc.) e a comunidade tem sua necessidade de construir informação a partir da atuação do centro de informação que, que em muitos casos, se configura como uma necessidade de inconsciente, haja vista que o usuário pode admitir a necessidade, mas não vislumbrar em um centro de informação a possibilidade de contribuição para resolver essa necessidade; Necessidade interativa entre usuário e profissional da informação- neste plano considerado mais específico e materializado no âmbito das relações/interações sociais, o papel do profissional da informação é crucial, pois é a partir dele que as ações do centro de informação permitirão aguçar e satisfazer as necessidades de informação dos indivíduos/usuários. O que se observa é que a necessidade de informação de um indivíduo possa ser desencadeada por diversos fatores, que demandam de busca, e ações cognitivas para a 11 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 resolução do problema sentido. Na compreensão de Costa e Almeida Júnior (2012, p. 60) o “Uso dos canais de informação, não significa dizer que o usuário alcançou seu objetivo, isto é, a informação não ter significado para ele, apesar de interagir com o sistema, na procura e no acesso, porém não atender a sua necessidade de informação naquele momento”. A necessidade de informação de um indivíduo é diretamente ligada a o seus aspectos psicológicos, comportamentais e ao uso que faz dessa informação. Os estudos orientados em compreender as necessidades de informação dos sujeitos são parte dos Estudos de Usuários, são etapas do conhecimento sobre uma demanda potencial dos usuários. Wilson (1981) destaca que a necessidade de informação é como um processo utilizado para tomada de decisões. De modo similar nesse processo são consideradas as características individuais que influenciam na formação dessa necessidade. 5 TEMATIZANDO O ESTUDO DE COMUNIDADE O estudo de comunidade é um estudo participativo dos indivíduos, que se faz necessário para conhecer as necessidades informacionais de um grupo ou comunidade, segundo Figueiredo o estudo de comunidade traz a seguinte definição: O estudo da comunidade é um estudo de primeira mão, uma análise e coordenação dos aspectos econômicos e sociais e de outros aspectos interrelacionados de um grupo selecionado [...] o estudo da comunidade envolve, portanto, o estudo de dois elementos as características da comunidade e os significados destas características (FIGUEIREDO, 1979, p. 45). O conhecimento da comunidade podem provocar mudanças em todos os setores de uma unidade de informação, o usuário é sensível a mudanças, uma vez que é preciso entender essas mudanças e buscar atrair essa comunidade. A Biblioteca Pública do município de Maranguape não age de forma intensa na comunidade em questão, dessa forma os moradores dessa comunidade se tornam não usuários dessa unidade de informação. De acordo com Silva e Sampaio (2013, p. 135), os não usuários comumente [...] são aqueles oriundos de comunidades carentes em que a biblioteca não volta um olhar mais intenso e continuado, além de sofrerem com as condições econômicas, culturais e educacionais desfavoráveis. Os estudos de comunidade funcionam como estratégias que apontam a necessidade informacional e esclarecem como as bibliotecas devem atuar buscando atingir os cidadãos. É possível notificar que uma das maneiras mais efetivas de se trabalhar com o cidadão é alcançando as comunidades, conhecendo suas necessidades, potencialidades com vista a conhecer suas afinidades de informação (SILVA; SAMPAIO, 2013, p. 109). 12 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Figueiredo (1979, p. 59) traz uma abordagem sobre um estudo de comunidade realizado em Bibliotecas da Pensilvânia que relata o desconforto encontrado pelos bibliotecários em sair da zona de conforto e buscar entender as necessidades informacionais da comunidade local no mesmo estudo foi possível detectar os processos cabíveis para um estudo de comunidade: a) Métodos formal e informal são essenciais para a análise da comunidade, para desenvolver uma imagem de quem está lá, e a compreensão do que desejam ou precisam; b) Não há substituto para o método direto, dinâmico de obtenção de informação; c) Abordagens diferentes devem ser utilizadas para a análise da comunidade. O estudo de comunidade é uma análise sobre os sujeitos que fazem uso da informação. Suaiden (1995, p. 29) define que tais estudos “São investigações feitas para saber se as necessidades de informação por parte dos usuários de uma biblioteca ou de um centro de informação estão sendo satisfeitas de maneira adequada”. Como foi dito os estudos de usuários versam entender, e diagnosticar aspectos do universo do usuário, ainda corroborando com o autor os estudos de usuários guiam as bibliotecas a atuarem de acordo com as necessidades dos usuários, apontando diretrizes para o serviço de referência e de disseminação da informação, sob todas as formas. 6 METODOLOGIA O Estudo de Comunidade busca identificar as possíveis necessidades informacionais do bairro da Guabiraba que esta localizada na cidade de Maranguape região metropolitana de Fortaleza, tendo em vista que o local possui uma Biblioteca Pública, mas que se apresenta incipiente junto à comunidade. Para o procedimento teórico foi realizada uma Pesquisa Bibliográfica. A pesquisa bibliográfica é o primeiro passo para a pesquisa científica, com base em leituras, análise e interpretação de livros, e artigos científicos sobre a temática abordada, em formato impresso ou digital (ECO, 2010). A Metodologia quanto à natureza da pesquisa se define como Exploratória porque visa explorar e apontar as necessidades de informacionais da comunidade pesquisada. A pesquisa exploratória é definida por Gil (2008, p. 48) como sendo a pesquisa que tem sua principal finalidade desenvolver e esclarecer ideias são desenvolvidas com objetivo aproximar visão acerca de determinado fato. Exploratória porque busca explorar por meio de técnicas e métodos o conhecimento das 13 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 necessidades informacionais dessa comunidade. O método norteador para essa pesquisa e o Observacional sobre os aspectos que envolvem o cotidiano da população a ser pesquisada. 6.1 Instrumentos de Coleta dos dados Para a coleta dos dados foi utilizado como técnica um questionário. Gil (2008, p. 123) define como técnica de investigação composta por um conjunto de questões que são submetidas a pessoas com o propósito de se obter informações, na maioria das vezes são propostos aos respondentes. Cunha (1982, p. 8) aponta que, uma das vantagens da metodologia para estudo de usuários baseada em questionários é que pode-se atingir uma população dispersa em uma determinada área geográfica. Os questionários aplicados continham perguntas formuladas pelos pesquisadores compostas de perguntas abertas e fechadas, levando em consideração a terminologia utilizada para maior entendimento dos participantes. 6.1.2 Universo da amostra O universo (população) da pesquisa de campo é representado pela comunidade que reside ao entorno da principal praça do bairro onde se apresenta um local propício para a implantação de uma Biblioteca comunitária. É preciso ressaltar que retiramos a amostra apenas de uma comunidade pertencente a essa cidade, foi utilizado uma amostra de quarenta pessoas que equivale a dez por cento da população que moram nesta comunidade. 6.3 Procedimentos para análise O estudo teve como procedimento aplicar um questionário estruturado com perguntas abertas e fechadas com os moradores que frequentam a praça, e no Posto de Saúde da comunidade com as pessoas que procuram atendimento no local. O questionário também foi aplicado em uma das escolas com estudantes que moram na comunidade. 7 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DOS RESULTADOS A pesquisa foi aplicada no período de 13/11/2014 a 15/11/2014 na praça principal da comunidade nos horários de maior fluxo de pessoas, na Escola de Ensino Fundamental Estado do Rio Grande do Norte, no Posto de Saúde da Família (PSF). Com relação às perguntas que identificaram a faixa etária, sexo, e escolaridade dos participantes, tomamos como base os 14 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 estudos de comunidade de Nice Figueiredo que apontam diferentes critérios para se realizar um estudo de comunidade. A população do estudo foram os moradores, que responderam aos questionários nos ambientes citados anterior. Como a análise da amostra deve apontar as necessidades informacionais da comunidade, a divisão da pesquisa ficou assim apresentada. Quadro 1- Perfil dos participantes Faixa etária Sexo Escolaridade 15-25 Fem Fundamental 26-35 Mas Médio 36-50 Superior Acima de 50 Outros Fonte: Dados da pesquisa, 2014. Entre os assuntos levantados na pesquisa os participantes apontaram diferentes dados. Para se atingir os resultados esperado cada participante teve a possibilidade de responder quantos assuntos consideravam importante, uma das informações, mas, apontadas como importante foi Saúde e Educação, obtendo empate pelo número de vezes que foi citada pelos participantes. O gráfico a seguir descreve os assuntos considerados importantes, e o número de vezes que foi citado pelos participantes. Gráfico 1: Categoria de Informações importantes Fonte: Dados da pesquisa, 2014. Quando perguntados quais as informações que os participantes têm, acesso em seu cotidiano, vinte e três (23) pessoas responderam educação, dezessete saúde (17), e dezesseis (16) violência. A grande maioria, quando indagados o porquê os mesmos tinham acesso a 15 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 informações sobre violência? os participantes responderam que tem acesso à televisão e diariamente o que a televisão, mas transmite são informações relacionadas à violência. Ainda perguntados sobre os meios como eles têm acesso a essas informações os participantes responderam que: a) A televisão ainda se apresenta como um dos meios de informação e comunicação mais frequente no cotidiano da população com 22%; b) A internet ocupa a segunda posição como meio de se obter informações perfazendo um valor na amostra de 18%; c) O rádio apresentou a terceira posição apontando 10% sobre o total da amostra; d) Jornais e Revistas foram citados por 8% dos participantes; e) Ainda perguntados sobre outras formas de se obter informação os participantes citaram: familiares; amigos; vizinhos com 6% da amostra. 8 CONCLUSÃO O estudo foi ao encontro do objetivo geral e dos objetivos específicos, algumas perguntas abertas puderam nós dar margem para compreendermos sobre a qualidade da informação que essa comunidade tem contato em seu cotidiano. É preciso direcionar projetos que mobilizem os moradores no sentido de esclarecer como a informação é importante para o exercício da cidadania, pois, a maioria dos participantes não souberam dar sentido ou definir acerca da importância da informação para o exercício da cidadania. Pode-se concluir que os participantes apresentam necessidades informacionais diferenciadas, a maioria que frequenta a Biblioteca Pública da Cidade são os alunos da Escola, um dos ambientes onde foram aplicados os questionários. Isso permite questionar sobre o papel da Biblioteca Pública em assumir a postura de acolhimento devido à falta de uma Biblioteca Escolar. Ainda no intuito de contribuir para o desenvolvimento local da comunidade buscamos saber dos participantes sugestões para melhorar o acesso à informação no bairro, a maioria foi unanime em afirmar que deveria ter um local onde os mesmos pudessem ter acesso às informações que julgaram necessárias entre os locais citados foram: a) Balcão de atendimento; b) Serviço por telefone; c) Biblioteca; d) Local para cursos. 16 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Dada à relevância desse Estudo realizado na comunidade da Guabiraba em Maranguape. Pode-se concluir que foram detectadas diferentes necessidades de informação entre os participantes assuntos ligados à educação, saúde, assistência familiar, defesa do consumidor, informação para a solução dos problemas corriqueiro do cotidiano desses moradores. Isso autoriza concluir que a Biblioteca Pública da cidade deveria tornar-se, mas, atuante no sentido de entender as necessidades informacionais das comunidades situadas próximo a essa instituição. Tomando como base nesses estudos seus serviços, desenvolvimento de coleções, e a estrutura física teriam um maior conhecimento por parte da comunidade. REFERÊNCIAS ALMEIDA JUNIOR, Oswaldo Francisco de. Bibliotecas públicas e bibliotecas alternativas. Londrina: Editora UEL, 1997. ARAUJO, Carlos Alberto Ávila. Estudos de usuários conforme o paradigma social da informação: desafios teóricos e práticos de pesquisa. Informação & Informação, Londrina, v. 15, n. 2, p.23-39, jul/dez, 2010. 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Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 ACESSIBILIDADE E ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO: o papel do gestor da informação no processo de avaliação de repositório digital e sitio de museu GT1 - Reflexões éticas: arquitetura da informação, competência/ética profissional Modalidade: Artigo - Oral SOUZA, Cristiane Gabriela Boesing de3 SANTANA, Marília Barreto de4 ALVES, Bruna Yasmin da Silva5 OLIVEIRA, Natália Amélia de6 CRAVO, Giovanna Moreira7 RESUMO Na medida em que os ambientes digitais se desenvolvem houve um crescimento do volume de informação, em contraponto a um esquecimento de deixá-la disponível e acessível ao maior número de pessoas possível. O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a importância do gestor da informação no processo de avaliação da acessibilidade e arquitetura da informação em espaços com conhecimento específico de sua formação. Para tanto, faz-se o reconhecimento dos conceitos da área e da avaliação de dois ambientes digitais, por meio das ferramentas DaSilva (2014) e Hera (beta 2.1) e os critérios de avaliação da arquitetura da informação. Como resultados foram identificados as falhas e a maior qualidade de um dos ambientes em relação ao outro. Assim, espera-se reconhecer as características do gestor que são essenciais para o desenvolvimento dessas avaliações. Palavras-chave: Acessibilidade. Arquitetura da informação. Gestor da informação. ABSTRACT To the extent that digital environments are developed there was an increase of the information volume, against an oversight makes it available and accessible to more people. This study aims to demonstrate the importance of the information manager in the evaluation process of accessibility and information architecture in spaces with specific knowledge of their training. Therefore, it is the recognition of the concepts of area and the evaluation of two digital environments, through DaSilva tools (2014) and Hera (beta 2.1) and the evaluation criteria of the information architecture. As a result, it was identified faults and most of the quality environments relative to each other. Thus, it is expected to recognize the manager of the features that are essential for the development of these assessments. Keywords: Accessibility. Information architecture. Manager information. 3 Graduanda em Gestão da Informação pela UFPR. E-mail: [email protected] Graduanda em Gestão da Informação pela UFPE. E-mail: [email protected] 5 Graduanda em Gestão da Informação pela UFPE. E-mail: [email protected] 6 Graduanda em Gestão da Informação pela UFPE. E-mail: [email protected] 7 Graduanda em Gestão da Informação pela UFPR. E-mail: [email protected] 4 19 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 1 INTRODUÇÃO À medida que as tecnologias da informação e da comunicação se desenvolvem no mundo, elas aumentam a proximidade entre as pessoas e as informações. Portanto, ter acesso à informação é critério essencial na atualidade, sendo necessário que os sistemas de informação digital estejam adequados à demanda e aptos a facilitar este acesso. A avaliação da acessibilidade e da arquitetura da informação surge para fornecer diretrizes ao gestor da informação de como estruturar e organizar a informação, para que os usuários satisfaçam suas necessidades e para adaptar os sistemas ao usuário, a fim de dar mais comodidade e acesso a todo o conteúdo disponível. Da mesma forma os repositórios digitais se multiplicam consideravelmente, existindo atualmente no mundo em torno de 12.301.750 repositórios, conforme representado na Figura 1. Os museus, por sua vez, que apenas no Brasil somam 3.025, em sua maioria possuem sítios. Assim, devido à grande quantidade de repositórios e sítios de museu, identifica-se a importância de qualificar os ambientes digitais, a fim de evitar a exclusão digital. Originalmente, o ergonomista é o profissional formado para compreender a interação do ser humano com outros elementos do ambiente e, portanto, está capacitado para realizar avaliações de arquitetura, usabilidade e acessibilidade. Ainda assim, é importante reconhecer que o profissional da informação (gestor da informação) tem uma visão mais especializada para a execução desse tipo de análise em ambientes digitais, possuindo as competências necessárias para o desenvolvimento destas funções, tornando a análise mais objetiva e eficaz. FIGURA 1 – MAPA DE REPOSITÓRIOS DIGITAIS NO MUNDO FONTE: http://maps.repository66.org/ O presente trabalho tem como objetivo demonstrar a importância do gestor da informação no processo de avaliação da acessibilidade e arquitetura da informação em espaços com conhecimento especifico de sua formação. Como objetivo específico, espera-se 20 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 identificar as falhas nestes processos através da avaliação executada por gestores da informação em ambientes digitais, e assim reconhecer as competências necessárias para o desenvolvimento dessa função. 2 O PAPEL DO GESTOR DA INFORMAÇÃO NO PROCESSO DE AVALIAÇÃO DA ACESSIBILIDADE E ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO Para que seja possível compreender a importância do gestor da informação para a acessibilidade e a arquitetura da informação é necessário fazer uma breve revisão de literatura, a fim de compreender os conceitos dos temas que serão abordados. 2.1 Acessibilidade e arquitetura da informação A acessibilidade, segundo a cartilha de Modelo de Acessibilidade do Departamento de Governo Eletrônico do Brasil, consiste em dar à maior variedade de pessoas (independendo de suas capacidades físicas e motoras) acesso a produtos, serviços, locais e informações, eliminando barreiras arquitetônicas. Para Souza (2013, p. 8): A acessibilidade significa não apenas permitir que pessoas com deficiências participem de atividades que incluem o uso de produtos, serviços e informação, mas a inclusão e extensão do uso desses por todas as parcelas presentes em uma determinada população. A acessibilidade é dividida pela Cartilha Técnica de Acessibilidade do governo em três níveis de prioridade: na primeira, são as exigências básicas de acessibilidade; na segunda, são as normas que garantem o acesso às informações do documento; e na terceira, são as normas que facilitam o acesso aos documentos armazenados na Web. Já a arquitetura da informação é considerada por Rosenfeld (1998) como “a arte e a ciência de organizar, estruturar e categorizar a informação para torná–la mais fácil de encontrar e de controlar”. Tendo quatros elementos como foco nos sistema: Organização, navegação, rotulação e recuperação da informação (busca). Rocha afirma que “dados disponíveis apontam que em 1998 cerca de três bilhões de dólares deixaram de ser ganhos na Web norte-americana por causa de design mal feito de páginas, que dificultava a compra em vez de facilitar”, demonstrando, a importância da acessibilidade e da arquitetura da informação. 2.2 As competências do gestor da informação 21 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O item 2612 da Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) refere-se aos Profissionais de Informação como: 2612-05 - Bibliotecário - Bibliógrafo, Biblioteconomista, Cientista de informação, Consultor de informação, Especialista de informação, Gerente de informação, Gestor de informação; 2612-10 - Documentalista - Analista de documentação, Especialista de documentação, Gerente de documentação, Supervisor de controle de processos documentais, Supervisor de controle documental, Técnico de documentação, Técnico em suporte de documentação; 2612-15 - Analista de informações - Pesquisador de informações de rede. * Negrito (nome da profissão), Itálico (sinônimos). (CBO, 2002) Zuanazzi (2007) afirma que apesar do gestor da informação ser colocado pela CBO como sinônimo de bibliotecário, o Conselho Federal de Biblioteconomia (CFB) não reconhece os profissionais não “bacharéis em biblioteconomia”, tornando a classificação da CBO um equívoco. Tarapanoff et al. (2002, p.5) cita ainda o perfil dos gestores da informação como profissionais emergentes, que são muito influenciados pelas tecnologias da informação e da comunicação e pelas redes: Os gestores da informação - são os “que mantêm sistemas de informação, sistemas de apoio à decisão e operações similares, no setor público e privado”, entretanto, segundo os autores, esses profissionais “nunca se viram como partícipes da mesma profissão que os bibliotecários, arquivistas ou cientistas da informação”; Assim, em um futuro próximo, os profissionais da informação terão uma ação diferenciada dos bibliotecários e analistas de sistemas. A condensação, contextualização e o conhecimento de como escolher os melhores estilos e meios para apresentação da informação serão atividades desses profissionais, que agregarão valor às informações disponibilizadas aos usuários e realizarão papéis diferentes nas organizações de diferentes portes. (DAVENPORT, 1998. p. 141 apud ZUANAZZI, 2007) Em sua formação acadêmica, o gestor da informação aprende a utilizar informações do design centrado no usuário, da visão da ciência da informação, conforme proposto por Reis (2007 apud Dervin e Nilan, 1986), que consiste em alguns elementos como: enxergar a informação como algo construído pelos seres humanos por meio de processos cognitivos internos do indivíduo; identificar os usuários como seres ativos e construtores constantes de significado para as informações que se deparam; permitir que os seres sejam livres, mesmo que dentro das limitações dos sistemas, para inovar; procurar compreender a forma que as pessoas estabelecem sentido e desenvolvem uma visão global de suas experiências, direcionando-se ao usuário e compreendendo suas particularidades anteriores, posteriores e no momento do uso da informação e da interação com o sistema; desenvolver 22 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 questões na pesquisa que surgem a partir da visão dos usuários, dos motivos e da forma que eles utilizam o sistema de informação; e usar técnicas qualitativas de pesquisa. Wurman (1997) caracteriza o arquiteto de informação como o individuo que é capaz de organizar padrões inerentes aos dados, tornando clara sua complexidade; é capaz de criar estruturas ou desenhos de informações que permitam aos outros encontrarem seus caminhos pessoais para o conhecimento; é também capaz de estabelecer princípios sistêmicos, estruturais e ordenados para fazer algo funcionar. Todas estas atribuições são características que se encaixam no perfil e nas competências do gestor da informação. 3 METODOLOGIA A presente pesquisa foi dividida em duas fases: levantamento e análise dos dados. Na primeira fase, através de uma pesquisa bibliográfica foram reconhecidos os conceitos envolvidos com o tema e os procedimentos para a realização da avaliação de acessibilidade e arquitetura da informação. Na segunda fase, os conceitos foram aplicados em dois ambientes e foram analisados os resultados. As ferramentas de avaliação utilizadas são o DaSilva e o Hera. DaSilva é uma ferramenta em língua portuguesa de avaliação de acessibilidade de sítios web que adota os princípios W3C/WAI (WCAG1 e WCAG2) e do E-mag – desenvolvido pelo Governo eletrônico Brasileiro. A ferramenta aponta erros e discrepâncias existentes no sítio avaliado. O Hera também é uma ferramenta de avaliação de acessibilidade; em seu site existe a informação de que a ferramenta realiza apenas uma avaliação prévia da acessibilidade, indicando os erros, mas que é imprescindível uma verificação manual. Ambos os sistemas utilizam as prioridades propostas na cartilha do E-mag do Governo. Como amostragem definiu-se o ambiente que seria avaliado e testado a fim de atingir os objetivos. Mais especificamente, fez-se a analise dos sítios do Museu Oscar Niemeyer e da Biblioteca Digital do Tribunal Superior do Trabalho. Nestes sites foram executadas, na página principal e em uma página secundária, uma avaliação de acessibilidade, realizada a partir das ferramentas supracitadas, e discutidas sobre a ótica da arquitetura da informação disponível. O Museu Oscar Niemeyer (MON) é um espaço dedicado à exposição de Artes Visuais, Arquitetura, Urbanismo e Design. Possui cerca de 35 mil metros quadrados de área construída e mais de 17 mil metros quadrados de área expositiva, considerada a maior da América Latina. O seu site contém informações sobre seu institucional, exposições, informações sobre a visitação (incluindo horários, valores, normas, como chegar, mapas do 23 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 museu, como fazer uma visita educativa para escolas e organizações, etc,) informações sobre eventos no MON, entre outros. Além disso, o site dispõe de notícias, contato e um cadastro para receber informações antecipadas de exposições, promoções e atividades culturais. No presente trabalho, foram analisadas sua página inicial e a tela de cadastro. O portal da Biblioteca Digital do Tribunal Superior do Trabalho (BDTST), dentre outras coleções, disponibiliza os Atos normativos/administrativos e suas alterações, publicados pelo Tribunal, Conselho Superior da Justiça do Trabalho (CSJT) e Escola Nacional de Formação e Aperfeiçoamento de Magistrados do Trabalho (ENAMAT). Foi idealizado visando reunir a legislação dispersa entre os vários links e homepages das diversas unidades do TST, além de proporcionar o acesso da sociedade às publicações oficiais da instituição. No presente trabalho foram consideradas as páginas Home e Acervos & Coleções. 4 RESULTADOS Nessa seção serão apresentados os resultados da aplicação das ferramentas de acessibilidade e a análise de arquitetura da informação realizada. 4.1 Acessibilidade Os resultados obtidos com a aplicação das ferramentas de acessibilidade estão representados na Tabela 1, e sua análise foi realizada com ênfase na Prioridade 1, visto que a mesma consiste nas exigências básicas de acessibilidade. Na avaliação de DaSilva, o problema mais ocorrente encontrado na Prioridade 1 foi em relação ao conteúdo não textual: “Todo o conteúdo não textual que é apresentado ao usuário tem uma alternativa em texto que serve um propósito equivalente.” Este erro ocorre nove vezes no site, pelo fato do site conter muitas imagens pra representar a informação. O mesmo problema foi encontrado na avaliação do Hera, porém em menor quantidade. TABELA 1 - AVALIAÇÃO DE ACESSIBILIDADE DO SÍTIO DO MON E DA BDTST ‘Quantidade de Erros / Prioridades Página Site do MON Ferramentas BDTST 1 2 3 1 2 3 Da Silva 10 9 - 92 12 1 Hera 1 4 3 2 9 4 Da Silva 4 1 - 77 10 - Inicial Secundária 24 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Hera - 4 3 3 8 4 FONTE: As autoras Os erros encontrados na página de cadastro do site do MON na avaliação da Prioridade 1 de DaSilva são referentes ao checkbox, que necessita ser marcado para que o usuário concorde em receber informações do site por email. Ao se referir ao erro, a ferramenta dá as seguintes informações: “as informações, a estrutura e as relações transmitidas através de apresentação podem ser determinadas de forma programática ou estão disponíveis no texto”; “etiquetas ou instruções são fornecidas quando o conteúdo exigir a entrada de dados por parte do usuário”; e “para todos os componentes de interface de usuário (incluindo, mas não se limitando a: elementos de formulário, links e componentes gerados por scripts), o nome e a função podem ser determinados de forma programática; os estados, as propriedades e os valores que podem ser definidos pelo usuário podem ser definidos de forma programática; e a notificação sobre alterações a estes itens está disponível para agentes de usuário, incluindo tecnologias assistivas.”, ou seja, os três erros são relativos à apresentação, etiquetas e instruções que não estão disponíveis para informar o significado da marcação daquele checkbox. Na avaliação do Hera não foi encontrado nenhum erro na Prioridade 1. Os resultados da BDTST, também representados na Tabela 1, são opostos aos resultados do site do MON, que revelam poucos erros. Podem-se essa diferença pro meio do Gráfico 1. GRÁFICO 1 – ERROS DE ACESSIBILIDADE NA PÁGINA INICIAL DO SÍTIO DO MON E BDTST FONTE: As autoras Dentre os erros de Prioridade 1 da página inicial da BDTST destacam-se as ocorrências de falhas quanto à funcionalidade do conteúdo através de uma interface de teclado, bem como os erros que se referem às informações, sua estrutura e apresentação, 25 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 quanto à opção de ignorar blocos de conteúdos repetidos e os referentes à equivalência textual para cada elemento não textual (imagens sem textos alternativos). Por ser uma página de natureza semelhante à Home, na qual também não há entrada de dados, a página secundária da BDTST, Acervo & Coleções, possui ocorrências de falhas semelhantes. Percebem-se problemas em relação às informações, sua estrutura e apresentação. Há disposição de mecanismos para ignorar blocos repetidos, a presença de imagens sem textos alternativos, e nem todas as funcionalidades são operáveis pelo teclado. Existem links que só são ativados por scripts, ao passo que nem todos os objetos programáveis são compatíveis com a tecnologia de apoio. 4.2 Arquitetura da informação Os resultados da avaliação de arquitetura da informação do sítio do MON e da BDTST estão representados na Tabela 2. Vale considerar que o carregamento de ambos os sítios foi rápido, porém, pode variar conforme a eficiência da internet utilizada para fazer a avaliação. Ao realizar uma avaliação geral do sítio do MON, identificam-se que os dados estão dispostos por toda a página, mantendo sempre um padrão de margem, alguns elementos fixos e um conjunto de cores definidas. A tela de cadastro é uma tela com poucas informações, que torna mais fácil o entendimento da função da página. Ela é composta dos elementos fixos do sítio, de um menu lateral esquerdo, e ao centro apenas o local para o cadastro. Possui uma falha de não apresentar nenhuma mensagem de erro ao realizar cadastros incorretos. Em seu Sistema de Organização foi verificado que o sítio possui um esquema de organização da informação ambíguo, ou seja, baseia-se na ambiguidade inerente da língua e na subjetividade humana. O sítio está agrupado em uma classificação facetada, onde a barra superior é categorizada por assunto e a barra inferior possui tarefas realizáveis, como por exemplo, o contato e o cadastro. Já em uma barra na lateral direita, existe uma classificação por tempo, mantendo as notícias mais recentes no topo do menu. Como elemento principal da página inicial, são alternadas informações ao centro da tela sobre as exposições em cartaz no museu. Apesar das classificações aplicadas serem adequadas e permitirem um bom funcionamento ao sítio, existe uma falha na barra de rodapé, que mistura assuntos diferentes como tarefas, patrocínios e setores do Museu. É Considerada ideal a separação dos mesmos 26 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 por suas classes. Para tal, não é necessária a retirada dos mesmos do rodapé, apenas a diferenciação por cor ou a colocação de um espaço maior entre as classes. TABELA 2 – AVALIAÇÃO DE ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO DO SÍTIO DO MON E DA BSTST Geral Identificação e Sistema de Organização Sistema de Navegação Sistema de Rotulação Sistema de Busca Site do MON - Interface amigável - Boa distribuição dos elementos. - Esquema de organização ambíguo - Conteúdo dividido por assuntos - Classificação facetada: *barra superior por assunto *barra inferior por tarefas *na tela de notícias, a barra lateral por tempo - Barra de rodapé com diferentes assuntos - Referencia de onde o usuário veio apenas por manter em todas as páginas o acesso ao link Home. - Navegação global - Navegação contextual - Navegação social - Site não fornece coloração diferenciada para as páginas já visitadas. - Não possui mapa do site ou índice remissivo - Referencia onde o usuário está a partir da logotipo presente em todas suas subpáginas - Os rótulos de ícones e menus, e as imagens são adequados ao contexto e ao conteúdo. - No rodapé, mistura de rótulos textuais e rótulos visuais. - Vocabulário claro e convencional. - Não inclui termos técnicos e nem de áreas específicas. - Não possui sistema de busca, BDTST - Interface amigável - Repetição de ícones desnecessária e ênfase em conteúdos não essenciais. (o link do Facebook aparece três vezes na página inical) - Carregamento rápido das páginas - Classificação facetada - Informação apresentada por tipo de acervo, por assunto (em ordem alfabética), por data, título, entre outros. - Os endereços (URL) das páginas não fazem referência satisfatória ao seu conteúdo. - A página inicial não possui título - Não há o recurso “voltar”. - Site não fornece coloração diferenciada para as páginas já visitadas. - Em seu sistema de navegação embutida utiliza logotipo, menu local e bread crumb. - Possibilidade de navegação contextual - Não possui mapa do site ou índice remissivo - Possui uma variedade de rótulos adequados a sua função, e outros que não condizem com sua representação. - Inclui alguns termos específicos da área jurídica, porém, condizentes com o conteúdo do sítio. - O link “dicas de pesquisa” não condiz com sua proposta. - Possui busca simples ou avançada: - Na busca avançada, possui as seguintes opções: restringir o resultado a um acervo ou coleção, filtrar campos, utilizar operadores booleanos, escolher o número de resultados por página, classificar os itens (por relevância, data de inclusão, data de publicação ou título), definir sua ordenação. - Informa o número de resultados obtidos - Informa a paginação dos resultados para facilitar a navegação entre eles, - Exibe os termos que foram recentemente pesquisados no campo de busca FONTE: Das Autoras Nielsen (2000) propõe três perguntas básicas para um bom sistema de navegação: “de onde vim?”, “onde estou” e “aonde posso ir?”, as quais são razoavelmente respondidas no 27 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 sítio do MON que possui Navegação Global, Local e Contextual. A Navegação Contextual acontece de forma assídua na página inicial, onde mostra tópicos específicos sobre as exposições disponíveis naquela temporada do museu. Nas demais páginas o conteúdo é, em maior parte, fixo. O sítio possui elementos de um Sistema de Navegação Embutido, composto do Logotipo, barra de navegação global e menu local. Outrossim, permite interligar o conteúdo a redes sociais, com a chamada navegação social. É considerado pertinente que o Sistema de Navegação contenha Bread Crumbers8, permitindo ao usuário compreender melhor os caminhos percorridos por ele. Além disso, um mapa do site facilitaria ao usuário a assimilação sobre a estrutura hierárquica do site e como se direcionar para as informações que está buscando. Quanto à rotulação, os ícones mais utilizados são os que representam o Museu Oscar Niemeyer, adicionados de uma imagem ou texto que revela para que categoria está direcionado. Como por exemplo, o acesso ao MON Café é caracterizado pela nomenclatura MON e uma xícara de café, sendo ícones claros e que não causam confusão ao usuário. Os ícones de redes sociais e patrocinadores utilizam os padrões retirados dos sítios de origem. Vale ressaltar que não há sistema de busca no site do MON. Para encontrar notícias, é possível acessar a aba Notícia, que mostra o Arquivo de notícias do sítio apenas em ordem cronológica. Apesar de ser uma estrutura organizada e clara, não permite filtros, dificultando a busca. O sítio do BDTST, por sua vez, apesar de possuir uma organização facetada, segue uma lógica pela qual seus principais usuários (advindos da área jurídica) já estão familiarizados, tendo em vista o tipo de conteúdo que ele disponibiliza. Porém ele não oferece caminhos alternativos para que o usuário encontre o conteúdo desejado (Mapa do Site ou Índice Remissivo). Na opção Visualizar, a categoria Atos Normativos se refere não apenas à disponibilização dos atos, mas a 43 diferentes espécies de normas. Essa nomenclatura pode confundir o usuário ou impulsioná-lo a desperdiçar seu tempo procurando dentre arquivos que não são especificamente um ato. Na rotulação, é possível perceber que o portal utiliza alguns ícones que decodificam a informação apropriadamente, como: a lupa ao lado do campo de pesquisa, o desenho de um usuário na caixa de login, uma casa para indicar a página inicial e uma carta para indicar a opção de email. No entanto, existem também elementos que não são intuitivos e Também conhecido como “migalhas de pão” ou “trilha de migalhas de pão”, em alusão à história de João e Maria, é um tipo de esquema de navegação auxiliar que revela a localização do usuário em um site ou aplicação web." 8 28 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 condizentes com a lógica, por exemplo: ao lado da opção “visualizar” há um ícone que remete à hierarquia, mas as informações não estão distribuídas dessa forma; o botão Like do Facebook na verdade abre uma caixa com opções de interação com diversas redes; a seta indicada para o lado esquerdo não significa voltar, mas sim acessar o campo de login. Apesar de possuir um bom sistema de busca, é pertinente realizar a correção do link “dicas de pesquisa”, que não condiz com sua proposta, pois na verdade o mesmo redireciona para a página de ajuda, que possui conteúdo mais abrangente. Além disso, seria interessante que o portal sugerisse novos termos a partir dos previamente pesquisados pelo usuário. 5 CONCLUSÃO Ao realizar a análise da acessibilidade e da arquitetura da informação nos dois ambientes selecionados foi possível perceber a responsabilidade do Gestor da Informação em identificar as necessidades do usuário, os tipos de documentos, objetos e estruturas existentes, e mesclar com os objetivos, exigências e expectativas da organização para o eficaz desenvolvimento da Arquitetura da Informação. As características de um arquiteto da informação propostas por Wurman (1997) se enquadram nas qualificações desenvolvidas pelo gestor da informação em sua formação. Assim, no ambiente digital, o gestor da informação se torna mais eficiente que o ergonomista, por possuir conhecimento especializado para avaliação deste local. Vale ainda ressaltar que as mais diversas profissões podem contribuir para uma melhora na arquitetura da informação, e que o gestor da informação é o profissional mais capacitado para fazer o direcionamento aos objetivos do cliente. REFERÊNCIAS BRASIL. Biblioteca Digital do Tribunal Superior do Trabalho. Disponível em: <http://goo.gl/nnlcts>Acesso em: 04 jul. 2014 BRASIL. Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. Modelo de Acessibilidade. Disponível em: <https://goo.gl/uTclH1 > Acesso em: 10 dez . 2014 DASILVA. Sobre o Avaliador. Disponível em: <http://www.dasilva.org.br/> Acesso em: 10 jul. 2014 HERA Beta 2.1. O que é o Hera? Disponível em: <http://goo.gl/Kb05BF> Acesso em: 10 jul. 2014 29 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 MAPA de Repositórios: Mapa Mundi. Escala indeterminável. Disponível em: <http://maps.repository66.org/> Acesso em: 10 mar. 2015 NIELSEN, Jakob. Projetando websites. Rio de Janeiro: Campus, 2000. 416 p. PARANÁ. Museu Oscar Niemeyer. Disponível em: <http://goo.gl/9Qflzk > Acesso em: 04 jul. 2014 REIS, G. A. Centrando a Arquitetura de Informação no Usuário. São Paulo: 2007. Dissertação (Mestrado) - Escola de Comunicações e Artes/USP, 2007. 250 p ROCHA, H. V.; BARANAUSKAS, M.C. Design e Avaliação de Interfaces HumanoComputador. Núcleo de Informática Aplicada à Educação Unicamp. Disponível em: <http://www.nied.unicamp.br/inicial.php> Acesso em mar. 2015. ROSENFELD, L.; MORVILLE, P. Information Architecture for the World Wide Web. Sebastopol, CA: O’Reilly, 1998. 202p. SOUZA, M. S. de.; et al. 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Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 BIBLIOTECONOMIA E ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO: Uma linha tênue entre duas ciências e a contribuição das 5 leis de Ranganathan GT 1, modalidade oral (artigo) LEITE, Catherine E. Lobato9 FERNANDES, Maria Cecília da Silva10 RESUMO O presente artigo tem como principal objetivo evidenciar as relações existentes entre as ciências Biblioteconomia e Arquitetura da Informação (AI) a partir de suas semelhanças. Salienta-se a contribuição das cinco leis da Biblioteconomia escritas por Ranganathan que acrescentam muito na Arquitetura da Informação, pois servem de suporte teórico para o seu trabalho. Esta pesquisa também apresenta conceitos, objetivos e a importância do status de ciência que a Arquitetura da Informação conquistou e como as cinco leis da Biblioteconomia escritas por Ranganathan vieram a contribuir para a concretização desta ciência, sendo a própria considerada também uma versão mais moderna das cinco leis. Esta pesquisa é um estudo exploratório realizado a partir do método de revisão de literatura. Este estudo priorizou a busca por informações, a análise das mesmas e a definição do campo da Arquitetura da Informação. A pesquisa obteve como resultado a compreensão que a Biblioteconomia e a Arquitetura da Informação são ciências complementares por possuírem o mesmo objetivo, que as cinco leis da Biblioteconomia servem de pilar para AI nos processos de busca e recuperação de informações. Palavras-chave: Biblioteconomia. Arquitetura da Biblioteconomia. Ranganathan. Informação. As cinco leis da ABSTRACT This article aims to highlight the relationship between the sciences Library Science and Information Architecture (IA) from their similarities. It highlights the contribution of the five laws of Library Science written by Ranganathan that add much in the Information Architecture as they provide a theoretical basis for their work. This reserach also presents concepts, objectives and the importance of science status that the Information Architecture won and how the five laws of Library Science written by Ranganathan can contribute to the achievement of this science, also considered a modern version of the five laws. This research is an exploratory study from the literature review method. This study prioritized the search for information, the evaluations and the definition of the field of Information Architecture. Search found as a result the understanding that the Library and Information Architecture are complementary sciences because they have the same goal, the five laws of Library Science serve as a pillar for IA in the search process and information retrieval. Keywords: Library Science. Information Architecture. The five laws of Library Science. Ranganathan. 1 INTRODUÇÃO Este artigo tem como foco apresentar o profissional bibliotecário e a sua possibilidade de atuação no processo de Arquitetura da Informação. A interação entre as duas 9 Graduanda em Bacharelado em Biblioteconomia pela UNIRIO. E-mail: [email protected] Graduanda em Bacharelado em Biblioteconomia pela UNIRIO. E-mail: [email protected] 10 31 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 áreas – Biblioteconomia e Arquitetura da Informação – é analisada e proposta sobre o ponto de vista das cinco leis da Biblioteconomia, propostas por Ranganathan. A elaboração de sites, seja para navegar em computadores pessoais, tablets ou smartphones é um desafio aos profissionais que lidam com a informação. Estes profissionais, sobretudo os bibliotecários, devem atuar em parceria com os profissionais ligados à informática para que o processo atinja melhor resultado. Nesse contexto, surgiu a ideia de buscar como o bibliotecário pode colaborar com a Arquitetura da Informação. As duas áreas se completam em diversas habilidades. Trabalhar com hierarquia, categorização, fluxo da informação, facilidade de uso e acesso à informação são atividades que estão relacionadas ao trabalho do bibliotecário e também da Arquitetura da Informação, assim como o processo focado no usuário focado no usuário, o que o torna as duas ciências ainda mais próximas. As cinco leis da Biblioteconomia são utilizadas para justificar a proximidade e as semelhanças entre as duas ciências, traçando um paralelo entre elas sugerindo evolução de acordo com os anos. A revisão de literatura foi escolhida como metodologia a fim de realizar um estudo exploratório sobre a área em prol do levantamento de conceitos, analisá-los e, por fim apontar as semelhanças e ampliação do mercado biblioteconômico. 2 ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO: origem, conceitos, estruturação, objetivos e o seu status de ciência Neste tópico serão abordados e comparados conceitos da Arquitetura da Informação, seus objetivos e o porquê de ser considerada ciência. Com o surgimento, crescimento e maceração da internet, a informação tornou-se essencial para a sociedade contemporânea. Apesar de sua importância, a internet não oferece informação tratada e selecionada para os usuários. É tamanha a quantidade de informações irrelevantes que ela nos despeja que contradiz a proposta de Agner (2009), sobre o fato de que mais informações deveriam representar mais oportunidades para compreensão do mundo. Segundo Almeida e Souza (2011), essas informações despejadas nos dias atuais desafiam os profissionais da informação no que diz respeito ao armazenamento e ao tratamento da informação. A Arquitetura da Informação surgiu como proposta a organizar as informações e apresentar aos usuários aquilo que está de acordo com suas necessidades. 32 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Segundo Paiva (2014), a Arquitetura da Informação surgiu mais precisamente na década de 70, através da expressão criada pelo arquiteto Richard Saul Wurman. Wurman queria descrever através deste termo como construções, transportes e trabalhadores poderiam interagir entre si em um ambiente urbano. Ele tinha o interesse de reunir, organizar e apresentar informações para o público das organizações. Mais a frente, na década de 90, Wurman lançou um livro que levantava a questão da não informação frente ao acúmulo de dados, que chamava de “ansiedade de informação”. O desafio era transformar toda essa avalanche de dados em compreensão. Para Wurman (1991), o arquiteto da informação, dentre outras atribuições, deveria se preocupar, principalmente, em tornar informações complexas em claras, de forma disponível a quem precise. Após o sucesso de Wurman, a dupla de bibliotecários Louis Rosenfeld e Peter Morville publicou, em 1998, o livro “Information Architecture for the World Wide Web” – livro famoso conhecido como “livro do urso polar”. O livro foi pensando, além de divulgar a Arquitetura da Informação, como uma maneira de fomentar as práticas da Biblioteconomia para fora dos ambientes das bibliotecas. Segundo Paiva (2012), no livro deles a arquitetura da informação é descrita como a combinação dos esquemas de organização, de rotulagem, de pesquisa e navegação dentro de sites. Além disso, a Arquitetura da Informação, para eles, visa atender a três elementos: usuários ou utilizadores, conteúdo e contexto. A Arquitetura da Informação seria, então, a arte e a ciência de organizar informações para auxiliar os indivíduos a satisfazerem as suas necessidades informacionais (EWING; MAGNUSON; SHANG apud PAIVA, 2012). Assim, com o desenvolvimento constante dos aportes tecnológicos e a evolução das maneiras de disseminar a informação no meio digital, a expressão Arquitetura da Informação adquiriu de vez seu espaço na web. Da mesma forma que Wurman utilizou inicialmente a AI para descrever as interações organizacionais, e posteriormente para organizar e difundir informações a qualquer tipo de público, hoje o arquiteto da informação baseia suas atividades na organização e apresentação da informação através de uma boa estrutura de navegação para obter êxito. Segundo Silva et al (2011), na terceira edição do referido livro de Rosenfeld e Morville11, os autores apresentam diversas definições para AI, e informam não apresentar uma definição única pois as pessoas têm diferentes opiniões sobre o design de websites, A terceira edição do livro “Information Architecture for the World Wide Web” de Louis Rosenfeld e Peter Morville foi publicada em 2006 pela editora O’Reilly Media. 11 33 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 opiniões estas, que dependem de vários fatores, que vão desde a formação acadêmica e profissional até questões culturais. Em contrapartida, alguns autores fornecem suas contribuições, buscando definir a AI. Straioto (2002, p. 20, apud, LAZZARIN et al, 2012, p. 237), por exemplo, interpretou a Arquitetura da Informação como aquela que refere-se ao desenho da estrutura das informações: como textos, imagens e sons são apresentados na tela do computador, a classificação dessas informações em agrupamentos de acordo com os objetivos do site e das necessidades do usuário, bem como a construção da estrutura de navegação e de busca de informações, isto é, os caminhos que o usuário poderá percorrer para chegar até a informação. Chiou também conceitua AI, e a analisa como “a arte de criar um conjunto de projetos para a informação, projetos estes relacionados com produtos e construídos por designers e programadores” (CHIOU, 2003, p. 1, apud SILVA et al, 2011, p. 14). A arquitetura da informação representa a maneira pela qual a informação é categorizada e classificada, armazenada, acessada e exibida determinando, assim, as formas como o usuário poderá encontrar a informação que necessita. A arquitetura da informação é a planta, o mapa para a organização virtual da informação, incluindo as formas como o usuário navegará e acessará a informação. (TOMS; BLADES, 1999, p. 247 apud CAMARGO, 2004, p. 30, apud FERREIRA; VECHIATO; VIDOTTI, 2008, p. 117) Camargo e Vidotti (2006, p. 106, apud PAIVA, 2012, p. 5) comentam que a AI é “uma estrutura ou mapa de informação que permite que as pessoas e/ou usuários encontrem seus caminhos pessoais para o conhecimento”. A Arquitetura da Informação é vista, então, “como uma importante metadisciplina, preocupada com o projeto, a implementação e a manutenção de espaços informacionais digitais para o acesso humano, a navegação e o uso” (AGNER, 2009, p. 89). Complementando esta linha de raciocínio, Rodrigues (2006) afirma que “a Arquitetura da Informação [...] é a tarefa de estruturar e distribuir as áreas, principais e secundárias, tornando as informações facilmente identificáveis, sua distribuição bem definida e, a navegação, intuitiva” (RODRIGUES, 2006, p. 97). Por conseguinte, a partir dessas definições, entende-se que a Arquitetura da Informação tem como foco principal atender os anseios informacionais dos usuários ajudando-os a encontrarem as informações que desejam. Conforme Ferreira, Vechiato e Vidotti (2008), o usuário possui atenção especial no processo da AI, já que o desenvolvimento do site é voltado para sua utilização. Além disso, segundo esses pesquisadores, vale lembrar que os sites permitem a integração efetiva do usuário no processo de seleção, busca, acesso, 34 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 criação e recuperação das informações em uma navegação hipertextual, de acordo com seu processo de aquisição de conhecimento. O processo da Arquitetura da Informação e toda a estruturação de um site são extremamente complexos, uma vez que não se estrutura um site para si mesmo, e sim para clientes que pensam completamente diferente um dos outros, do arquiteto propriamente dito e que embora os usuários apresentem muitas vezes necessidades iguais, reagem e interpretam de formas distintas quando obtém a informação. O processo de Arquitetura da Informação, de acordo com Rosenfeld e Morville (1998), é composto pelas seguintes sistemáticas: sistemas de organização, de rotulagem, de pesquisa e navegação dentro de sites, sendo que todas essas categorias reúnem elementos de interação do usuário com a informação apresentada pelo site. Segundo eles, esses sistemas são “a cola que une um website e permite que ele evolua sem problemas” (ROSENFELD; MORVILLE, 1998, p. 13, tradução nossa). O sistema de organização, primeiro apresentado na obra de Rosenfeld e Morville, é o que “agrupa e categoriza o conteúdo informacional e origina-se na ideia de que é necessário organizar o espaço em que a informação está inserida para assim recuperá-la” (SILVA et al, 2011, p, 14). Nesta etapa, a heterogeneidade, a ambiguidade e as diferenças de perspectiva requerem atenção da equipe de Arquitetura da Informação (SILVA et al, 2011). É preciso também tomar cuidado com os perfis de usuários pois, conforme Reis (2007, apud SILVA et al, 2011), quanto mais perfis mais complexo será elaborar os sistemas. “Nesta etapa destaca-se a importância de criar uma interface agradável, que proporcione prazer aos usuários, fazendo com que eles se sintam bem ao utilizar o website” (SILVA et al, 2011, p. 16). O sistema de navegação, para Agner (2009), especifica formas de se mover através do espaço informacional. Complementando esta definição, pode-se dizer que são usadas ferramentas que auxiliam o usuário de um determinado site a localizar-se em meio às diversas informações disponíveis nele, possibilitando ao usuário sabe onde ele está e para onde pode ir dentro da página (SILVA et al, 2011). Rosenfeld e Morville (1998) comentam que enquanto um esquema de organização bem concebido irá reduzir a probabilidade que os usuários se sintam perdidos, um sistema de navegação complementar é muitas vezes necessário para fornecer o contexto e permitir uma maior flexibilidade de movimento dentro do site. Outra sistemática, sobre rotulação, define os signos verbais e visuais para cada elemento informativo e de suporte à navegação do usuário (AGNER, 2009). 35 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Segundo Reis (2007, p. 99, apud SILVA et al, 2011, p. 17), “um rótulo é um símbolo linguístico utilizado para representar um conceito”. A partir disso, compreende-se melhor a definição de Sá (2013) sobre este sistema quando ela afirma que ele estabelece as formas de apresentação e de representação, da informação definindo rótulos para cada elemento informativo. Para Rosenfeld e Morville (2006, apud SILVA et al, 2011), etiquetar é uma forma de representação, assim, a meta de um rótulo é comunicar eficazmente uma informação, carregando significado sem levar muito do espaço de uma página. Os rótulos normalmente são “representados por links textuais através do uso de palavras, ou por links não-textuais quando formado principalmente por ícones ou imagens que representam conceitos” (SILVA et al, 2011, p. 18). A última sistemática apresentada, sobre a busca, determina as perguntas que o usuário pode fazer e o conjunto de respostas que irá obter no banco de dados (AGNER, 2009; SÁ, 2013). Vidotti e Sanches (2004, apud SILVA et al, 2011) afirmam que o sistema de busca permite ao usuário formular expressões de busca a fim de recuperar a informação desejada. Apesar de possuírem regras próprias, Sá convalida a opinião de Rosenfeld e Morville e afirma que “na prática, esses quatro sistemas estão tão intrinsecamente conectados que as regras de qualquer um sempre afetam os demais. O arquiteto precisa estar sempre atento às interdependências desses sistemas” (SÁ, 2013, p.8). Segundo (PAIVA, 2014 apud MORVILLE, 1998) [...] a Arquitetura da Informação serve para facilitar a realização de tarefas e o acesso intuitivo a contextos e conteúdos virtuais. PAIVA (2014) ainda salienta os objetivos da Arquitetura da Informação. São eles: a) Planejar a estrutura da interface de uma página na web; b) Definir a forma e as possibilidades de interação da interface; c) Permitir o acesso otimizando a informação por parte dos utilizadores; d) Permitir a anulação das ambiguidades na utilização da interface. A partir de seus objetivos, a AI consequentemente se encontra centrada em projetar estruturalmente um site onde seu objetivo central é disponibilizar informações que sejam facilmente visualizadas. Entretanto, para que sejam facilmente visualizadas e o mais importante, entendidas, essas informações precisam ser classificadas através da criação de categorias. Categorias essas que serão superiores aos assuntos que se enquadram nela em uma 36 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 espécie de hierarquia. Classificando os assuntos desta forma, a fim de que possam ser disponibilizados e entendidos, é que a Arquitetura da Informação recebe o status de ciência. É importante enfatizar que como em qualquer outra ciência, é de suma relevância elucidar que a Arquitetura da informação é uma ciência interdisciplinar e carrega isso como uma de suas principais características. Ela se conecta a diversas áreas do conhecimento para sua construção a fim de satisfazer o usuário. No diagrama a seguir, observa-se a conexão da Arquitetura da Informação com as demais disciplinas comprovando a sua interdisciplinaridade. Essa conexão tem como objetivo auxiliar a AI no apoio as suas teorias e modelos próprios. A Arquitetura da Informação neste desenho encontra-se em lugar de destaque, como um elo de comunicação entre esses diferentes campos do conhecimento. IMAGEM 1: Diagrama da Arquitetura da Informação e suas disciplinas. Fonte: Paiva, 2014 O que se deve pensar ao ver este desenho é que a arquitetura da informação é o elo entre as ciências e essas conexões serão de suma importância para melhor solucionar o problema informacional em websites. Essa ligação é de suma importância tanto para a criação como para a manutenção de um site que tem como principal objetivo informar. 37 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Nota-se então, uma linha tênue entre a Arquitetura da Informação e a Biblioteconomia, visto que são duas ciências que tem como objetivo principal atender da melhor forma possível o seu usuário e trabalhar com a organização de informações focada na ágil recuperação. Apesar de atual, a Arquitetura da Informação é fortemente fundamentada em conceitos e regras da Biblioteconomia elaboradas há muito tempo, mas que possuem interpretações e adaptações extremamente atuais, uma vez que a necessidade não muda, e sim o suporte. Dentro de tantas semelhanças, podemos citar as cinco leis da Biblioteconomia, elaboradas por Ranganathan, como uma das possíveis justificativas para o sucesso da ciência Arquitetura da Informação. As cinco leis da Biblioteconomia foram propostas por Shiyali Ramamrita Ranganathan, bibliotecário indiano, em 1931. Seu livro, As Cinco Leis da Biblioteconomia, é considerado clássico na área porque, conforme edição de Antônio Agenor Briquet de Lemos 12 permanece atual, trazendo lições sempre úteis mesmo quando a tecnologia da informação dá a impressão de os bibliotecários de hoje estarem muito à frente do mundo de Ranganathan. Além disso, apesar da distância geográfica e cultural, suas palavras encontram ressonância e parece refletir a realidade de nossas bibliotecas e a visão de muitas de nossas autoridades. As cinco leis passaram por modernizações, mas são eternizadas frente à necessidade informacional que é sempre latente, atual e universal. 3 AS CINCO LEIS DA BIBLIOTECONOMIA E SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A ARQUITETURA DA INFORMAÇÃO A informação sempre significou poder, estar à frente e status e a biblioteca era e ainda é considerada um dos locais onde se dissemina a informação. Muito antes do termo Arquitetura da Informação ser criado, o bibliotecário indiano Ranganathan propôs cinco leis relacionadas como papel das bibliotecas e as suas atividades. São elas, em ordem: os livros são para uso; para cada leitor o seu livro; para cada livro o seu leitor; poupe o tempo do leitor; a biblioteca é um organismo em crescimento. Abaixo segue uma breve explicação de cada lei e o que cada uma representava de acordo com concepções de Ranganathan: 1a Lei - Os livros são para uso: nesta primeira lei, são discutidas questões importantes sobre a democratização da informação, onde a instituição biblioteca entende que sua existência depende unicamente do interesse do usuário em utilizá-la para sanar suas 12 Informações retiradas da apresentação feita por Antonio Agenor Briquet de Lemos, nas páginas 14 e 15 do livro: RANGANATHAN, S. R. As Cinco Leis da Biblioteconomia. Brasília: Briquet de Lemos, 2009. 38 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 dúvidas, fazer descobertas e por consequência disseminá-las. A biblioteca então terá a função de organizar, tratar, preservar e disseminar as informações a fim de que gerações futuras possam ter acesso a esses registros. Cabe também salientar a importância do trabalho biblioteconômico e o perfil dinâmico que o bibliotecário necessita ter diante do caos informacional. Além disso, Ranganathan priorizava a criação de políticas e mecanismos para levar a informação para aqueles que não têm a oportunidade de por si só chegar até a informação. Isso seria a democratização da informação; 2ª Lei - Para cada leitor o seu livro: Aqui a instituição biblioteca teria como centro de seu trabalho o servir ao usuário não importando raça, credo, sexo ou poder aquisitivo. Ranganathan através desta lei afirmava que todo individuo tinha direito ao acesso ao livro e por consequência ao conhecimento; 3ª Lei - Para cada livro o seu leitor: Aqui o livro para Ranganathan tem a função de ser um transporte de comunicação. Os livros nesta lei são específicos a cada tipo de leitor e o bibliotecário será o mediador da informação, portanto, o responsável a transmitir de forma adequada ao usuário a informação correta. Para tanto, os livros deveriam estar catalogados corretamente e disponíveis de forma atrativa. Segundo Figueiredo (1992), esta lei nos leva a pensar em questões de acesso livre, arranjo coerente nas estantes e um bom serviço de referência. E o mais importante: o ponto chave desta lei é a individualidade de cada usuário. 4ª Lei - Poupe o tempo do leitor: Talvez a lei mais fácil de ser entendida, a quarta lei nos leva a refletir automaticamente o tempo de trabalho do bibliotecário perante o usuário. Além de dinâmico, o bibliotecário precisa ser ágil. O acervo deve estar devidamente catalogado e organizado a fim de uma rápida recuperação. Talvez Ranganathan já soubesse, ainda que muito precocemente, como seriam os tempos atuais e já afirmava que o profissional bibliotecário não deveria ser somente um repassador de informação e sim um inventor constante de formas de recuperação de informação mais eficazes do que as que utilizavam. Em curtas palavras, um trabalho rápido e eficiente. 5ª Lei - A biblioteca é um organismo em crescimento: A última lei de Ranganathan aborda a importância e a necessidade da renovação constante do serviço biblioteconômico. A biblioteca é depositária do conhecimento humano, portanto uma organização em constante crescimento devido à produção infinita de conhecimento. Mas porque as cinco leis de Ranganathan? No que elas seriam úteis para a Arquitetura da Informação? É muito simples. A explicação para a citação de Ranganathan neste trabalho é baseada na sua colaboração para a arquitetura da informação. Em 2004, Alireza Noruzi publicou um livro, 39 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 “Application of Ranganathan Law’s to the web”, onde apresenta relações entre as cinco leis da Biblioteconomia e a Arquitetura da Informação. A relação entre as duas áreas é baseada no fato de que tanto os bibliotecários como os arquitetos da informação trabalham com informação, fazem buscas em diversos recursos, apresentam informações relevantes e necessárias e, principalmente, analisam e baseiam suas atividades de acordo com os seus usuários. Para Noruzi (apud PAIVA, 2012), a Arquitetura da Informação é um exemplo prático e moderno das cinco leis da Biblioteconomia, propostas por Ranganathan. Mesmo com suas simplicidades, é possível realizar uma análise mais profunda das leis e estabelecer relações entre esses campos. Paiva (2012) apresenta um quadro da conversão das leis de Ranganathan para a web, e propõe uma combinação entre as “leis”. Quadro 1 - Comparação das Leis da Biblioteconomia com as Leis da Web. Leis da Biblioteconomia Leis da Web Livros são para uso. Recursos web são para uso. Para leitor, seu livro. Para cada usuário, seu recurso web. Para cada livro, seu leitor. Para cada recurso web, seu usuário. Poupe o tempo do leitor. Poupe o tempo do usuário. A biblioteca é um organismo em A web é um organismo em crescimento. crescimento. Fonte: PAIVA, 2012; adaptado de Noruzi, 2004. Através do quadro, podemos observar que, apesar as cinco leis da biblioteconomia parecerem simples e voltadas para o ambiente das bibliotecas, é possível haver uma análise visando atentar para suas transformações no ambiente web, que é o campo de trabalho da arquitetura da informação. De acordo com José Espantoso (2000), os sites normalmente são projetados a partir de diversos elementos relacionados com a apresentação visual que é, em muitos casos, confusa, e prejudica a compreensão, já que não fornece informações suficientes para a orientação do usuário. Acreditamos que, neste caso, a apresentação seja confusa devido ao 40 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 trabalho único do web designer na construção do web site. “A apresentação da informação é um dos principais fatores na concepção de um sítio. Ela deve ser simples e coerente com o assunto e a audiência.” (ESPANTOSO, 2000, p.3). A informação, além de ser clara, deve estar de acordo com o usuário do site (remete às ideias das segunda e terceira leis propostas por Ranganathan), procurando não haver “barreiras” para que este a encontre (poupando o tempo do usuário – quarta lei). Portanto, é possível interpretarmos a Arquitetura da Informação com base na Biblioteconomia e verificarmos influências entre as áreas. 4 CONCLUSÃO Com este estudo, pode-se observar que a Arquitetura da Informação é resultado do caos informacional e do surgimento constante de novas tecnologias de informação e comunicação (TICs). Além disso, ciências mais antigas que possuem o mesmo objetivo final também contribuíram para sua fundamentação teórica, que é o caso da Biblioteconomia. Como mencionado mais acima, a Biblioteconomia e a Arquitetura da Informação são ciências que se complementam e têm como centro de seus processos o bem-estar do usuário. Assim como a Biblioteconomia, a AI está fortemente preocupada em viabilizar mecanismos para a promoção do entendimento dos perfis e necessidades dos usuários, além de fornecer ferramentas de trabalho cada vez mais inovadoras e eficientes que possam melhorar o serviço. A partir deste artigo, conseguimos entender que a Arquitetura da Informação eficaz torna usuários comuns em cibercidadãos e os transporta para a realidade digital de forma simples, fazendo com que buscas, navegação e recuperação de informações em websites seja algo rotineiro e não complexo como na maioria dos casos. É justamente nesse ponto que as cinco leis de Ranganthan se encaixam. Ranganathan ao escrever as cinco leis da Biblioteconomia tinha uma preocupação extrema com o bem-estar do usuário na biblioteca. Era seu desejo que o usuário se sentisse bem atendido e que suas dúvidas fossem sanadas. Para Ranganathan, a busca e a recuperação da informação deveriam ser processos simples. O mesmo acontece na Arquitetura da Informação. O usuário deve encontrar rapidamente a informação e interpretá-la da forma correta. Por fim, afirma-se que existe uma linha tênue entre a Biblioteconomia e a Arquitetura da Informação, uma vez que as duas ciências são complementares e possuem o mesmo objetivo: atender o usuário de forma eficaz e eficiente. Já as cinco leis da Biblioteconomia são extremamente atuais e muito colabora para o todo o trabalho de 41 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 arquitetura de informação de websites, pois são princípios atuais fixados na necessidade de busca e recuperação de informação. REFERÊNCIAS AGNER, Luiz. Ergodesign e arquitetura da informação: trabalhando com o usuário. 2.ed. Rio de Janeiro: Quartet, 2009. ALMEIDA, Tatiana; SOUZA, Rosali F. O vocabulário controlado como instrumento de organização e representação da informação na FINEP. In.: XII ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO – ENANCIB, Brasília, 2011. Disponível em: <http://repositorio.ibict.br/bitstream/123456789/88/1/RosaliTatianaEnancib2011b.pdf>. Acesso em: 27 maio 2015. ESPANTOSO, José Juan P. O Arquiteto da Informação e o Bibliotecário do Futuro. Revista de Biblioteconomia de Brasília, v. 23/24, n.2, p. 135-146, especial 1999/2000. FERREIRA, Ana Maria J. 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Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 GT 2 FORMAÇÃO POLÍTICA E A DISCUSSÃO DE GÊNERO . 44 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 CENSURA NO BRASIL: um levantamento histórico sobre as consequências dessa política para as práticas de leitura GT 2 modalidade oral FERREIRA, Brenda ¹ LOPES, Fabiana ² RESUMO Censura no Brasil: um levantamento histórico dessa política para as práticas de leitura. Tem por objetivo refletir sobre a política da censura no decorrer da história e verificar as consequências para as práticas de leitura na sociedade brasileira. Caracterizou-se como pesquisa bibliográfica, constituída principalmente de livros e artigos científicos. O tema da pesquisa foi feito do modo qualitativo dentro de uma visão sobre a censura no Brasil e a ação da mesma na vida dos leitores. A censura no decorrer dos anos tem sido mecanismo de repressão tornando-se um instrumento nas mãos das autoridades que embora após sua abolição de fato ainda permanece presente no meio da sociedade apresentando-se não mais explicitamente mais de forma mais sutil e discreta. Palavras-chave: Censura. Sociedade brasileira. Liberdade de expressão. ABSTRACT Censorship in Brazil: a historical survey of the policy to practices reading. Has at reflection on the politics of censorship throughout history and check the consequences for reading practices in Brazilian society. Characterized as literature, consisting mainly of books and scientific articles. The theme of the research was done in a qualitative way within a vision about censorship in Brazil and in the same action in the lives of readers. A censorship over the years has been repression mechanism becoming an instrument in the hands of the authorities after that though its abolition remains present in the midst of society no longer presenting itself more explicitly in a more subtle and discreet. Keywords: Censorship. Brazilian society. Freedom of expression. 1 INTRODUÇÃO Censura é o uso pelo estado ou grupo de poder, no sentido de controlar e impedir a liberdade de expressão. A censura criminaliza certas ações de comunicação, ou até a tentativa de exercer essa comunicação. No sentido moderno, a censura consiste em qualquer tentativa de suprimir informação, opiniões e até formas de expressão, como certas facetas da arte. No âmbito do presente trabalho, interessa apenas verificar um dos meios de restrição: a censura, que, por sua vez, constitui o mais severo meio de restrição à liberdade de expressão. _________________________ 1 Graduanda em Biblioteconomia pela UFMA. E-mail: [email protected] ² Graduanda em Biblioteconomia pela UFMA. E-mail: [email protected] 45 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Vale ressaltar que a censura vem sendo, ao longo dos séculos, o meio de restrição mais constantemente utilizado pelo Estado. Descreve uma restrição que extingui completamente a manifestação do pensamento e que vem sendo imposta tanto pelo poder executivo quanto pelo poder judiciário. Trata-se de um acontecimento histórico, desta forma iremos conduzir cada seção em um corte cronológico tendo como base principal os séculos XVIII e XIX. O estudo histórico sobre as consequências que a política censória trouxe para a sociedade brasileira deixou marcas, nas quais o país luta para cicatrizar. Obras e periódicos foram vetados como forma a impedir os movimentos revolucionários, atrasando assim o processo de democratização da liberdade de expressão no Brasil. A observação dos dados deu-se através do procedimento de circulação das obras desde sua entrada no Brasil até a contemplação do leitor, processo burocrático e muito rigoroso, que demandava tempo e esforço redobrado para a liberação dos documentos. O controle da censura [...] quase sempre imposta por ações políticas e religiosas se conjugava na tentativa de exercer sobre a sociedade moderna uma força que se compunha às perspectivas dos homens do iluminismo, cujas ideias acerca do livro e de sua difusão eram vistas como meio de igualdade e de rejeição à ignorância das classes sociais. (BRAGA, 2012, p. 3). Dentro destas reflexões a censura tomou para si poder político e religioso e por muito tempo assombrou a sociedade com sua imposição e intolerância. Como perspectiva histórica tratou-se as lutas travadas pela sociedade em busca da democracia e liberdade de expressão. 2 O PODER POLÍTICO DA IGREJA Em um período onde a igreja exercia papel político de total controle sobre a sociedade, a igreja impõe a inquisição que se tratava de um tribunal católico utilizado para averiguar heresias, feitiçaria, bigamia, sodomia e apostasia, foi instruída em Portugal por volta de 1536. Através de uma lista de livros proibidos que se opusesse a doutrina católica e por fim prevenir a corrupção dos fiéis, foi estabelecida a censura literária. Entre as obras de cientistas e filósofos censurados pela igreja estão: Galileu Galilei, Nicolau Copérnico, Thomas Hobbes René Descartes, Rousseau etc. Dentre os romancistas e poetas estão: Alexandre Dumas, Voltaire, Daniel Defoe, Honoré de Balzac, Jean-Paul Sartre, Emile Zola, entre muitos outros. Qualquer livro a ser publicado tinha que ter autorização do bispo representado pela igreja. Por volta de 1547 “[...] o papa acabou finalmente permitindo que a Inquisição portuguesa sofresse forte influência do poder civil, sendo, então, instalados três tribunais, 46 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 entre os quais o de Lisboa, que estendia sua jurisdição até ao Brasil.” (MARTINO; SAPATERRA, 2006, p. 235). O trabalho e esforço aplicado pelos censores estavam no cuidar e não permitir a circulação de ideias que fossem contrárias ao que era imposto pela Igreja e pela Coroa. Portanto era necessário acompanhar de perto o que as pessoas estavam lendo. Dos livros proibidos em Portugal e consequentemente nas suas colônias, encontravam-se: 1) Os livros de autores ateus, 2) os de autores protestantes que combatessem o poder espiritual do Papa e dos bispos ou atacassem os artigos da Fé Católica, 3) os que negassem a obediência ao Papa, 4) os livros de feitiçaria, quiromancia, magia e astrologia, 5) os que, apoiados num falso fervor religioso, levassem à superstição ou fanatismo, 6) os livros obscenos, 7) os infamatórios, 8) os que contivessem “ sugestões de que se siga perturbação do estado político e civil e desprezando os justos e prudentes ditames dos direitos divinos, natural e das gentes, ou permitem ao Soberano tudo contra o bem comum do vassalo, ou vão na outra extremidade fomentar a abominável seita dos sacrilégios monarcomanos...que tudo concedem ao Povo contra as sagradas e invioláveis pessoas dos Príncipes, 9) os que utilizam os textos da sagradas escrituras em sentido diferente do usado pela Igreja, 10) dos autores que misturassem artigo de fé com os de mera disciplina, 11) os que impugnassem os Direitos, Leis, Costumes, Privilégios etc da Coroa e dos Vassalos, 12) as obras “dos pervertidos filósofos destes últimos tempos...”,13) os livros publicados na Holanda e na Suíça atribuídos a advogados do parlamento da França e que tratavam da separação entre o “Sacerdócio e o Império,” 14) todas as obras de autores jesuítas baseadas na “autoridade extrínseca da razão particular,” 15) os livros “compostos para o Ensino das Escolas menores que forem contrários ao sistema estabelecido por lei anterior”. (MARTINO; SAPATERRA, 2006, p. 237). As expressões vulgarizadas direcionadas aos filósofos como chamá-los de “pervertidos” era uma forma de desvalorização e de suas obras além da tentativa de gerar no leitor um desinteresse. Todo recurso que pudesse ser empregado para silenciar e reprimir era válido. De certa forma, a Inquisição possuiu certo caráter censurador, uma vez que ela investigava, punia e, em alguns casos, matava pessoas que fugissem do pensamento católico, seja por seus atos, seja por suas crenças. Destaca-se que a censura não era um órgão que utilizava métodos investigativos muito apurados para realizar seu trabalho. Bastaria que uma pessoa fizesse uma acusação sem maiores provas que o acusado seria submetido a torturas. Antes da Inquisição, durante e um pouco depois, os padres catequizadores, cuja grande maioria eram jesuítas, proibiam que os indígenas brasileiros mantivessem vários de seus hábitos, tais como, a antropofagia em algumas tribos, suas festividades religiosas e seus idiomas locais. Foram estabelecidas pelos catequizadores as línguas gerais, idiomas por eles criados com base nas línguas de diversas tribos de uma região que deveriam ser faladas por todos os indígenas, a fim de facilitar a comunicação comercial entre os diversos grupos e entre os europeus. 3 A CENSURA NO PERÍODO MONÁRQUICO 47 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Apesar do período monárquico brasileiro ser caracterizado por um regime liberal, as características específicas do mesmo fazem com que o período tenha certas particularidades. A história da censura em Portugal remete ao século XVI, quando era exercido por três instituições, o Conselho Geral do Santo Ofício, criado em 1536 e responsável pela censura papal, o Ordinário da Diocese, ao qual cabia a censura episcopal, e, a partir de 1576, o Desembargo do Paço, responsável pela censura régia. A atividade era feita de forma preventiva, seguindo as determinações do Index, a lista de publicações proibidas elaboradas pela Igreja, e incluía a circulação de livros, o que resultou no controle de entrada e saída nas alfândegas. (MARTINS, 1996). Associada até então à Reforma Católica, a prática da censura portuguesa foi modificada em 5 de abril de 1768, quando foi instituída, por Sebastião José de Carvalho e Melo, o futuro marquês de Pombal, a Real Mesa Censória para supervisionar o que se lia na época. Estava sob sua responsabilidade: Jurisdição privativa, e exclusiva em tudo o que pertence ao exame, aprovação, e reprovação dos Livros e Papéis, que já se acham introduzidos nestes Reinos, e seu Domínios; dos Livros e papéis, que nele entrarem de novo, ou seja pelos Portos do Mar, ou pelas Raias secas; dos Livros, e Papéis, que se pretenderem reimprimir, posto que antes fossem estampados com Licenças; dos Livros e Papéis de nova composição; de todas as Conclusões, que se houverem de defender publicamente em qualquer lugar destes Reinos; e de tudo o mais, que pertence a estampa, impressão, Oficinas, Vendas e Comércio dos sobreditos Livros e Papéis: Ordenando que nenhum Mercador de Livros, Impressor, Livreiro, ou vendedor dos referidos Livros, e Papéis, ouse vender, imprimir e encadernar os sobreditos Livros, ou Papéis volantes por mínimos, que sejam, sem aprovação, e licença da sobredita Mesa. (ABREU; SCHAPOCHNIK, 2005, p. 185). Composta por clérigos e leigos, a Real Mesa Censória representou uma tendência à secularização da censura, expressando os interesses específicos do reformismo ilustrado português, que conciliava a valorização da razão com a manutenção do absolutismo monárquico, da religião católica e do Império colonial. Em 21 de junho de 1787 a Real Mesa Censória foi substituída pela Real Mesa da Comissão Geral sobre o Exame e Censura dos Livros, o que representou um recuo no processo de secularização. Sua existência, no entanto, foi curta, pois em 17 de dezembro de 1794, a Mesa foi extinta, sendo restabelecido o sistema anterior que separava a censura papal, episcopal e régia. (MARTINS, 1992). Durante o período colonial a Coroa controlou a circulação de livros no Brasil “[...] Quando se tratava de controlar os súditos a coroa portuguesa não media esforços. Temendo a difusão de ideias perigosas, fazia com que seus órgãos controlassem não apenas o envio de livros para as colônias d’além-mar, mas também a movimentação livresca entre as cidades portuguesas, autorizando ou não a circulação de livros dentro do país [...]. (ABREU; SCHAPOCHNIK, 2005, p. 23). 48 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Mas com a transferência da Corte em 1808 para o Brasil foi instituída uma organização mais efetiva da censura, com a nomeação de censores régios na Mesa do Desembargo do Paço e da Consciência e Ordens. A eles cabiam o exame de todos os originais encaminhados para a Impressão Régia, a fiscalização da entrada de livros nas alfândegas brasileiras e a permissão para sua retirada, após deliberação final do próprio monarca. Além da atuação dos censores, a censura passou também a constar como atividade da Junta de Direção da Impressão Régia, criada em 24 de junho de 1808, e da secretaria da Intendência Geral de Polícia, que, segundo o edital de 30 de maio de 1809, deveria examinar obras e escritos estrangeiros impressos e não impressos, e punir aqueles que circulavam com material proibido. Não existe um ato de extinção dos censores régios, mas a censura prévia no Brasil foi abolida pelo decreto de 2 de março de 1821, atendendo às reivindicações das Cortes portuguesas, que proclamavam a liberdade da imprensa. No entanto, o decreto mandava todo impressor remeter, ao diretor dos estudos e a um dos censores, provas de cada folha impressa, para análise e liberação ou suspensão do trabalho de impressão. Do mesmo modo, estabeleceu o exame das listas de obras à venda pelos livreiros. A decisão n. 51, de 28 de agosto de 1821, complementou o decreto, orientando a Junta de Direção da Impressão Régia a não embaraçar, “por pretexto algum, a impressão que se quiser fazer de qualquer escrito, devendo unicamente servir de regra o que as mesmas Cortes têm determinado sobre este objeto”. (MARTINS, 1992). Posteriormente, o decreto de 18 de junho de 1822 criou juízes para o julgamento dos crimes e abusos de liberdade de imprensa, e obrigou as tipografias a lhes mandarem um exemplar de todos os papéis impressos. Finalmente, o decreto de 22 de novembro de 1823 mandou executar a primeira lei de imprensa do Brasil, declarando que nenhum escrito ficaria sujeito à censura, antes ou depois da impressão. Embora houvesse uma mudança dos órgãos censores, o propósito permanecia igual em barrar informações perigosas chegassem até o povo, tornando-se cada vez mais rígida, de certo que [...] em alguns períodos bastava uma autorização formal dos órgãos de censura, mas na maior parte do tempo era preciso obter 3 autorizações para poder levar uma obra ao prelo. Depois de impresso o livro voltava a ser examinado, para que se verificasse se o texto impresso coincidia exatamente com o manuscrito aprovado. Só então se obtinha a ‘licença’ de correr. (ABREU; SCHAPOCHNIK, 2005, p. 185). Apesar do controle e cuidados prestados pelos censores régios a serviço da Coroa portuguesa não impediu que fosse realizada a leitura de obras barradas pela censura, esses livros eram adquiridos na clandestinidade, não esquecendo também da influência gerada aos próprios censores, 49 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 pois estavam sujeito a todos os tipos de conteúdo. Ao analisar as obras de Rosseau, o censor Antônio Pereira de Figueiredo relata: Eu na verdade confesso que fazia muito diferente conceito das produções deste Filósofo; porém sendo obrigado a examinar algumas delas, para lhes fazer o Processo lhes achei tantas belezas, tantas reflexões novas , e sentimentos próprios a arrancar os prejuízos , e a superstição, que o lamentei justamente que ao mesmo tempo ele se tivesse servido dos seus grandes talentos, e de uma tão boa filosofia para atacar a Religião, e os principais fundamentos do governo naquelas suas Obras, que mais podiam servir à instituição pública.(ANTT.RMC. Censura e Pareceres. Caixa 3,s.d.,n.22 apud ABREU, 2005, p. 194) Independentemente da decisão tomada o pensamento desses homens não era mais igual ao que tinham antes de se submeterem a essas leituras, embora aceitassem as ideologias empregadas nos textos acabavam por proibi-los, porém em seus pensamentos os registros lidos permaneciam vivos. 4 A OUTRA FACE DA CENSURA A censura no decorrer dos séculos sempre foi visto como um objeto de controle e domínio sobre a sociedade para isso todo recurso necessário para paralisar a circulação de ideias era necessário de forma que a ideia a ser transmitida girava em torno dos cuidados com a sociedade. Escondendo assim os verdadeiros interesses das autoridades, maquiado por meio de um discurso sobre o que era saudável ou nocivo para se ler e o que se encaixava dentro dos padrões da sociedade de cada época. Após a lei de abolição a censura [...] A Constituição de 1824 declarou apenas “todos podem comunicar os seus pensamentos, por palavras, escritos e publicá-los pela imprensa sem dependência de censura”, porém deviam “responder pelos abusos que cometerem no exercício desse Direito, nos casos e pelas formas que a Lei determinar”. (MARTINO; SAPATERRA, 2006, grifo do autor). Observa-se que apesar da liberação da impressão e transmissão de pensamentos ainda assim havia um limite sobre o que se escrevia estando sujeito a avaliação da lei. Por meados do século XIX a forma de se pensar em censura não girava mais em torno da repressão, da proibição estampada e as claras em todo território Nacional, embora abolida os interesses políticos que moveram as sociedades anteriores são os mesmos que move a atual. Apresenta-se aqui com uma censura mascarada, manifestada em torno de propósitos particulares ou então o que posso te oferecer pelo seu silêncio? A negociação é feita pelos bastidores, as estratégias mudaram ao passar dos tempos, pois não cabia mais com os avanços e a modernidade práticas consideradas atrasadas ou pertencentes a séculos passados porém a censura esteve presente na vida do povo desde o início da civilização estando cada vez mais presente e se adequando a sociedade de cada época, como já dizia Martins (1996, p. 382): [...] imaginar que a censura é própria das sociedades atrasadas e que tende a desaparecer na medida em que as sociedades se modernizam. [...] é exatamente o contrário que acontece. A censura é um fenômeno de civilização. [...] a censura nos campos das atividades intelectuais é, realmente, um fenômeno que se desenvolveu exatamente na esma medida em que se desenvolveu a imprensa, em que se multiplicaram os livros, espetáculos teatrais e outros meios de comunicação. Tudo pode-se assim dizer é permitido desde que não esteja relacionado ao que motiva os interesses daqueles que estão no poder, na liderança da sociedade e mesmo em lugares onde considera-se que haja uma democracia e uma maior liberdade ali está ela a “censura com uma nova 50 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 roupagem” diferente da usada nos regimes autoritários, entretanto a sua essência permanece viva e atuante. O medo em torno da circulação de ideias e os impactos que as mesmas podem causar sempre estará presente nas salas dos representante e governantes. Portanto a censura [...] trata-se de uma interdição de conhecer o conteúdo de um modelo cultural, [...] uma proibição de ser informado a respeito do conteúdo de um livro que, segundo se presume, teria um efeito elocutório, suscetível de modificar o comportamento de um sujeito. [...] censura não é apenas interdição, atividade negativa de privação; atualmente transformada ela se torna uma instância que orienta, autoriza e canaliza em direção ao que é justo, digno e bom. (BIDIMA, 2003, p. 155-156). É proibido aquilo que não está de acordo com os padrões impostos pelas autoridades, a censura não se revela mais como algo aterrorizador, que reprime, mais sim apresenta, conduza sociedade os caminhos que ela deve seguir, sob quais padrões precisa estar aliançada. 5 METODOLOGIA O presente trabalho caracterizou-se como pesquisa bibliográfica, que, segundo Gil (1991, p. 48) [...] é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos [...] As pesquisas sobre ideologias, bem como aquelas que se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema, também costumam ser desenvolvidas quase exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. A abordagem do tema de pesquisa foi do modo qualitativo, pois se tratou da proposição de uma visão sobre a censura no Brasil e ação da mesma na vida dos leitores, William e Hatt (1973, p. 132) comentam que o modo qualitativo de pesquisa “[...] auxilia a esclarecer ideias e a refundir o conhecimento substantivo.” Quanto aos temas da pesquisa, foram utilizadas fontes bibliográficas das áreas de Biblioteconomia e Sociologia, incluindo livros e periódicos de História. Foram pesquisados materiais bibliográficos (livros) selecionados a partir da afinidade com o tema de pesquisa, foi adotado um corte cronológico tendo como base principal os séculos XVIII e XIX. Quanto aos artigos de periódicos científicos, a princípio, estabeleceu-se um corte cronológico entre os séculos citados, no entanto, no andamento da pesquisa, detectou-se a necessidade de aumentar esse universo, em função da historiografia vinculada ao tema dessa pesquisa no período proposto. Os periódicos pesquisados foram a INTERCOM – Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação. Na área específica: “A censura no Brasil: do século XVI ao século XIX”, de Agnaldo Martino e Ana Paula Sapaterra. Da Revista de História e Estudos Culturais foi acrescentado como contribuição “O controle à publicação de livros nos séculos XVIII e XIX: Uma outra visão da censura”, de Márcia Abreu. 51 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 No período de levantamento de dados houve uma necessidade de busca bibliográficas extensas, sendo cada material coletado – bibliografias e artigos – avaliado minuciosamente, tendo por classificação ordem cronológica dos fatos. Posteriormente, realizou-se uma análise desses dados de forma a iniciar a sua inclusão nos resultados da pesquisa. 6 CONCLUSÃO A censura foi um instrumento de repressão presente em toda a história deste país com objetivo de através dos seu métodos utilizados em cada período evitar os movimentos sociais proibindo assim a circulação de ideias que pudesse gerar um despertar que não estivesse de acordo com o discurso pregado pelas autoridades. A intensidade e a brutalidade da censura e de outras formas de controle de informação variam, e muito, mas a sua existência é universal. É possível perceber que embora tenha-se mudado os conceitos e órgãos fiscalizadores, a priori realizado pela igreja e depois ter sido controlada pela Coroa Portuguesa através dos seus organismos de fiscalização, mesmo após sua abolição de fato gerada mais por interesses econômicos a censura na atualidade apesar de não carregar mais o peso do seu nome atribuído a rigorosidade e severidade aplicada por leis passadas mantém-se presente e permanecerá caminhando lado a lado com o que se impõe a sociedade como um padrão de verdade ou de mentira, ou o que é correto ou não pensar. Hoje o que é proibido se manifesta com sutileza dentro de uma estratégia de negociação, um verdadeiro jogo de interesses ou porque não dizer troca de favores. Martins (1992, p. 83) ressalta que a censura permanece ligada com a imprensa para sempre. O presente artigo propôs discutir a forma como atuou a censura no Brasil e as consequências que a mesma trouxe para o país. Deixa-se um leque de oportunidades para vislumbrar se esta continua presente neste século, outra discursão que exala é sobre liberdade de expressão, onde ela não é um direito absoluto, podendo estar sujeita a restrições. As restrições à liberdade de expressão dependem do equilíbrio com os demais direitos humanos, sociais, econômicos e culturais. Com isso, cabe aos Estados além da obrigação negativa de não interferir na liberdade de expressão individual, também a obrigação positiva de garantir um ambiente que propicie sua concretização, inclusive com ações destinadas a coibir abusos. É necessário e urgente resgatar a história da censura brasileira, principalmente por ela ter sido a mais forte e intolerante, além da mais extensa de nossa história e mostrar o quanto toda censura por mais bem intencionada que inicie não tem como manter seus pareceres e critérios totalmente objetivos, visto que seus objetos são totalmente subjetivos. 52 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Conclui-se que a censura no Brasil ocorreu por praticamente todo o período posterior à colonização do país, seja ela cultural, seja ela política. De certa maneira, mas sob um aspecto diferenciado, o Brasil ainda sofreu muito com as cicatrizes deixadas por esta prática, muitos obstinados lutaram pelo fim desta prática opressora, se faz necessário reconhecer as lutas travadas por estes mártires, que a custo de seu próprio sangue escreveram a história deste país. REFERÊNCIAS ABREU, M. Em busca do leitor: estudos dos registros de leitura de censores. In:___. SCHAPOCHNIK, N. (org.). Cultura Letrada no Brasil: objetivos e práticas. CampinasSP: Mercado de Letras, 2005. p. 183-200. BIDIMA, J. O livro entre memórias e antecipações africanas. In: PORTELLA, E. (org.). Reflexões sobre os caminhos do livro. Tradução: Guilherme de Freitas. São Paulo: Moderna, 2003. p. 149-171. BRAGA, M. F. A. Desdobramentos sociais da cultura escrita na sociedade imperial maranhense ocasionados a partir da imprensa periódica. São Luís. 2012. EL FAR, A. O livro e a leitura no Brasil. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. GIL, A. C. 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GT 2 Formação política e a discussão de gênero (Pôster) SILVA, Jordeilson de Lana13 NUNES, Nayara Nalier14 RESUMO A partir de discussões oriundas de como o DAECI colabora nas várias facetas da vida de um estudante, este trabalho tem por objetivo a identificação da relevância, do papel e do impacto de tal diretório como local propicio para a fomentação de ideias políticas, acadêmicas, profissionais e filosóficas, utilizando o método advindo das ciências humanas, denominada história de vida ou memória oral para coletar dados informacionais qualitativos. Para analisar tais dados, o método utilizado foi análise de conteúdo de Bardin (1997) com o auxílio da analise de conteúdo de Moraes (1996). Os resultados a principio demonstraram que o DAECI é um local propício para o desenvolvimento da vida acadêmica e política, proporcionando o aparecimento de ideias inovadoras, concluiu-se que os diretórios acadêmicos tem parcela significativa no desenvolvimento dos alunos como pessoas perante a comunidade em que convivem, acadêmicos perante suas perspectivas intelectuais e cidadãos perante a sociedade em geral. Palavras-chave: História de vida. Formação Política. DAECI. ABSTRACT From discussions coming from as DAECI collaborates on various facets of the life of a student, this study aims to identify the relevance of the role and impact of such a directory as a place conducive to the fostering of political ideas, academic, professional and philosophical, using the method that result from human sciences, called life story or oral memory to collect qualitative informational data. To analyze such data, the method used was Bardin content analysis (1997) with the help of Moraes content analysis (1996). The results showed that at first the DAECI is a place conducive to the development of academic and political life, providing the appearance of innovative ideas, it was concluded that academic directories has significant part in the development of students as people in the community who live in , academics before their intellectual perspectives and citizens in society in general. Keywords: History of life. Political Education. DAECI. 1 INTRODUÇÃO 13 14 Graduando em Biblioteconomia pela UFMG. E-mail: [email protected] Graduando em Biblioteconomia pela UFMG. E-mail: [email protected] 54 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Esse trabalho é fruto das inquietações debatidas entre discentes da Escola de Ciência da Informação (ECI) sobre o papel do Diretório Acadêmico (DAECI) na vida acadêmica e política de seus diretores e frequentadores. Por tanto a problemática deste é qual a importância, o impacto e o papel do DAECI na vida acadêmica e política de seus diretores? Restringimos o foco do problema por acreditarmos que os diretores estão assiduamente envolvidos com o DAECI, proporcionando assim, uma visão global de tal importância, impacto e do seu papel. O objetivo central deste trabalho é a identificação da relevância do DAECI na vida dos seus diretores, como local fomentador de ideias políticas, acadêmicas, profissionais e filosóficas, culminando na atuação de tais indivíduos na sociedade por um todo. O método utilizado para coletar dados foi à técnica de história de vida que Chizzotti (2011, p. 101) entende como “um relato retrospectivo da experiência pessoal de um indivíduo, oral ou escrito, relativo a fatos e acontecimentos que foram significativos e constitutivos de sua experiência vivida”. Moita (1992, p. 116), assim se refere sobre este método: só uma história de vida permite captar o modo como cada pessoa, permanecendo ela própria se transforma. Só uma história de vida põe em evidência o modo como cada pessoa mobiliza os seus conhecimentos, os seus valores, as suas energias, para ir dando forma a sua identidade, num dialogo com os seus contextos. Sendo assim, a história de vida possibilita a identificação da realidade na qual determinado indivíduo se encontra. Através dela, se permite a identificação e percepção do mundo qual está inserido. Tal percepção dá margem para o pesquisador inferir sobre o contexto sociocultural do indivíduo. Assim como a identidade, as ideologias, as crenças, os conhecimentos e os valores. A história de vida tem como objetivo “a partir da totalidade sintética que é o discurso específico de um indivíduo – reconstruir uma experiência humana vivida em grupo e de tendência universal” (MARRE, 1991, p. 89). Esta opção metodológica apresenta também referenciais teóricos como Haguette (1990), Pujadas (1992) e Kramer e Souza (1996). Nesse trabalho a história de vida realizou-se a partir da narrativa, através de entrevista semiestruturada com ex-diretores do DAECI relacionado ao contexto sociopolítico em que se efetivou, para identifica os fatores que influenciaram e contribuíram para a formação de sua identidade pessoal e profissional. Para a análise e interpretação dos dados, as informações foram processadas através da técnica de análise de conteúdo. Embora se encontre diversas referências a respeito 55 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 desta metodologia de análise como Strauss (1987), Mucchielli (1988), Gil (1994) entre outros, utilizou-se como referencial metodológico Bardin (1997) auxiliado por Moraes (1999). Segundo Bardin (1979) e Moraes (1996), a técnica de análise de dados é empregada para descrever e interpretar o conteúdo de documentos e textos resultantes de uma investigação. Seu objetivo consiste em conduzir o pesquisador a uma descrição sistemática, qualitativa ou quantitativa das informações recolhidas, a fim de reinterpretar mensagens e compreender os seus significados. Nesse trabalho, se refere ao corpos de pesquisa que se consiste nos relatos dos ex-diretores do DAECI. 2 RESULTADOS E ANÁLISE PRELIMINAR A aplicação da entrevista preliminar se deu com dois15 ex-diretores do DAECI. Os resultados gerados foram estruturados com o objetivo de filtrar determinados aspectos dos relatos estabelecendo recortes no material. O que favoreceu a criação do corpos de pesquisa gerado a partir dos relatos dos ex-diretores. A análise dos relatos se dará através da análise de conteúdo (BARDIN, 1997) utilizando dentro desta a análise de discurso pela categorização dos relatos dos entrevistados. As categorias preliminares de análise foram classificadas em: 1 – impacto na vida acadêmica durante a gestão no DAECI; 2 – atuação política. Na categoria 1, os entrevistados enfatizaram que o convívio informal com a comunidade discente ajuda na criação e reestruturação de ideias e na concepção do funcionamento da comunidade acadêmica. “[...] o trabalho no diretório te permite ver o funcionamento do ambiente acadêmico com mais amplitude, [...] é um laboratório constante para colocar ideias em prática”. (entrevistado 01); “[...] o convívio no DA permite você visualizar como as coisas acontecem realmente dentro da ECI e da UFMG; um exemplo claro foi a minha dissertação de mestrado a ideia literalmente apareceu em uma socialização no DA, em uma conversa com outro membro da gestão” (entrevistado 02). O ambiente acadêmico na UFMG, quando se é aluno de graduação, é limitado no convívio em sala de aula, porém percebe-se na resposta “o trabalho no diretório te permite ver o funcionamento do ambiente acadêmico com mais amplitude” (entrevistado 01) que o desenvolvimento das atividades na gestão favorece a percepção dessa limitação, pois o 15 A proposta é ao fim da pesquisa ser entrevistados pelo menos 20 ex-diretores de diferentes gestões. 56 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 indivíduo compreende o contexto universitário a partir do primeiro contato com o DAECI, pois ele “é um laboratório constante para colocar ideias em prática”. (entrevistado 01). O papel do DA é unir a comunidade discente e fortalecer a representação, como podemos ver na resposta “um exemplo claro foi a minha dissertação de mestrado a ideia literalmente apareceu em uma socialização no DA, em uma conversa com outro membro da gestão” (entrevistado 02). Na resposta “o convívio no DA permite você visualizar como as coisas acontecem realmente dentro da ECI e da UFMG” (entrevistado 02) percebe-se que a convivência extra sala culmina na criação e troca de novas e antigas ideias, na ambientação com o papel do aluno como indivíduo na sociedade e a quebra de paradigmas. Na categoria 2, observa-se na resposta “estar à frente de um DA provoca abertura e ampliação das relações sociais e políticas do micro para o macro ambiente. Te coloca em diálogo com professores, diretores e funcionários da escola” (entrevistado 01). A comunicação entre as comunidades acadêmicas torna-se estreita quando se faz parte da gestão. Dentro da UFMG as disputas partidárias ganham frente aos movimentos estudantis e muitas das lutas discentes ficam esquecidas ou enfraquecidas. Essa comunicação é necessária para que o foco na graduação cresça e ganhe espaço notório no cotidiano do DAECI. “Na minha época, os valores estavam meio em crise. A última década tinha sido cheia de disputas de poder entre grupos ligados a partidos políticos e enfraquecia a atenção às reais necessidades da comunidade discente” (entrevistado 01); “A minha visão dos movimentos sociais, da política e ate mesmo do DA mudaram” (entrevistado 02). Os depoimentos acima demonstraram que o DAECI pode ser um local inovador e transformador para a mentalidade política, acadêmica e social, podendo mudar a percepção de mundo de um aluno, isso se deve pelo seu dinamismo social em abrigar, como todos os demais diretórios, os mais diversos grupos e movimentos sociais, requerendo dos seus diretores assim como frequentares o respeito mútuo. CONSIDERAÇÕES Consideramos que o caráter social dos diretórios em abrigar diferentes grupos e movimentos sociais proporciona uma ampliação da mentalidade acadêmica e política. A percepção da Universidade como um espaço de crescimento pessoal, social e acadêmico amplia-se com o convívio no diretório. Neste ponto queremos ressaltar a importância dos diretórios acadêmicos como um local que propicia o primeiro contato do individuo com a 57 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 politica, neste caso a percepção do gerenciamento da maquina publica. Tal importância se dá, pois na sua vida profissional terá que gerenciar um órgão publico (Biblioteca). REFERÊNCIA BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1997. CHIZZOTTI, Antonio. Pesquisa em ciências humanas e sociais. 4 ed. São Paulo: Vozes, 2011. GIL, J. Análisis de datos cualitativos. Aplicaciones a la investigación educativa. Barcelona: PPU, 1994. HAGUETTE, T. M. Metodologia qualitativa na sociologia. Petrópolis: Vozes, 1990. KRAMER, S. e SOUZA, S.J. História de professores. São Paulo: Ática, 1996. MARRE, J. L. História de Vida e Método Biográfico. Cadernos de Sociologia. Porto Alegre, v.3, nº 3, p. 89-141, jan/jul 1991. MOITA, Maria da Conceição. Percursos de Formação e de Transformação. In: NÓVOA, Antônio. Vidas de Professores. Portugal: Porto, 1992. MORAES, Roque. Análise de conteúdo. Revista Educação, Porto Alegre, v. 22, n. 37, p. 732, 1999. MUCCHIELLI, R. L'analyse de contenu des documents et des comnlunications. Paris: Modèrne d' Edition, 1988. PUJADAS, J.J. Método biográfico: el uso de las historias de vida en ciencias sociales. Madrid: Centro de Investigaciones Sociológicas, 1992. STRAUSS, A. Qualitative analysis for social scientists. Cambridge: University Press, 1987. 58 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A MODA COMO REPRESENTAÇÃO INFORMATIVA: um estudo de gênero do movimento feminista “Punk - riot grrrl” GT 2- Formação política e a discussão de gênero Modalidade: Comunicação oral CASTRO, Kedma16 CASTRO, Jetur17 OLIVEIRA, Alessandra18 RESUMO Trata da moda como uma representação informativa acompanhada da discussão de gênero do movimento feminista punk – riot grrrl e as suas relações com o modo de vestir, no contexto moda. O objetivo geral é apresentar as relações do movimento punk riot grrrl e sua representatividade com a moda. Quanto à natureza e de acordo com os objetivos propostos o caráter metodológico desse trabalho corresponde a uma pesquisa exploratória de caráter bibliográfico fundamentada em ideias de autores como, Ribeiro e Costa (2012), Coloni e Fernandes (2005) e Bivar (1982) sem dispensar as opiniões de outros pensadores sobre o assunto abordado no trabalho. Assim se faz discutir sobre o momento histórico deste movimento dentro do contexto punk, fazendo análise temática do feminismo, a discussão de gênero e suas relações com moda seguindo a indumentária das riots grrrls como forma de protesto e discurso político em seu contexto histórico-social. Conclui mostrando as releituras visuais do movimento feminista punk dentro e de seus ideários radicais, no universo da moda, a partir de sua representatividade em fazer com que indumentária possa ser discutida como forma emancipada no social, com bases no movimento das riots grrrls. Palavras-chave: Riot Grrrl. Discurso de Gênero. Moda. Informação. Feminismo. ABSTRACT His fashion as a representation accompanied informative discussion of gender feminist punk movement – riot grrrl and its relations with the mode of dress in the fashion context. The overall goal is to present the punk movement of the riot grrrl relations and their representation with fashion. The nature and according to the proposed objectives methodological character of this work corresponds to a bibliographical exploratory research based on authors of ideas as, Ribeiro and Costa (2012), Coloni and Fernandes (2005) and Bivar (1982) sparing the views of other thinkers on the subject matter at work. So you do discuss the historical moment of this movement within the punk context, making thematic analysis of feminism, the discussion of gender and its fashion relations following the clothing of grrrls riots in protest and political discourse in its social historical context. Concludes by showing the visual feminist punk movement in and reinterpretations of their radical ideals in the fashion world, from their representation in making clothing can be discussed as a way emancipated social, with bases in the movement of grrrls riots. Keywords: Riot Grrrl. Gender discourse. Fashion. Information. Feminism. 16 Graduanda em Design de Moda pela (UNAMA). E-mail: [email protected] Graduando em Biblioteconomia (UFPA). Pesquisador e Colaborador da Rede Cariniana – (IBICT/Brasília). Email: [email protected] 18 Graduanda em Biblioteconomia pela (UFPA). E-mail: [email protected] 17 59 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 1 INTRODUÇÃO Desde o início da civilização o homem buscou diversas formas para se comunicar e informar sobre acontecimentos, questões e aprendizagem, desde a escrita aos desenhos de representações de signos. Sendo perceptível que cada indivíduo encontre maneiras de transpor sua mensagem que logo é aceita por aqueles que se identificam. Segundo Miranda (2006, p.103), “Grupos distintos de pessoas têm diferentes necessidades e hábitos de busca de informação, bem como estilos diferentes de processar a informação. ” Esta abordagem compreende que a informação está inserida em diferentes suportes e diversas formas de utilizá-la, como também ressalta Oliveira (2005, p.19) que a informação “[...] é um fenômeno tão amplo que abrange todos os aspectos da vida em sociedade”. Então, houve a necessidade de se estudar a moda como uma representação informativa acompanhando a discussão de gênero do movimento feminista punk – riot grrrl e as suas relações com a moda, em que é dada por suas propostas, fazendo-se rupturas, evidenciando questionamentos na sociedade principalmente com a moda e sua a sua evidente representação, tendo a identidade feminina a partir de um discurso feminista, para compreender este campo social como um fenômeno de linguagem, com valores individuais, sociais e políticos. Assim, se analisa o modelo normativo da mulher como dona de um lar exaltando suas virtudes naturais sobre a barreira emancipatória feminina, à libertação feminina em que só seria possível através de uma tomada de consciência de que as mulheres eram oprimidas pela sua condição de sexo, retornando a esta análise de 1970 congregando novos discursos e reivindicações voltadas para as desigualdades econômicas e sociais. O discurso feminista se utiliza do conceito de “gênero” para desnaturalizar os papéis e identidades atribuídas às mulheres, foi atribuído a sua indumentária particular, de forma que a mulher que desempenhava o papel de submissão, restrição e obediência se vestida de forma conservadora, através disto surge um estereótipo de dona do lar, da mulher mais recatada e aprisionada nas suas roupas, ligado ao ideal de gênero. É exatamente essa imagem predefinida que o movimento feminista tencionava quebrar. Então traremos nesse contexto do movimento Riot Grrrl em que apresenta muitas influências para o nosso cotidiano, pois suas relações com a moda refletem às atitudes não somente pela forma de abordagem da indumentária, mas seguem uma linha de referência de libertação, com seus questionamentos sobre o que é imposto pela sociedade, a busca de uma 60 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 identidade própria e emancipada. Essa rebeldia manifestou-se em uma espécie de popularização na maneira de se vestir, de modo que a semelhança da roupa impedia classificar as diferentes classes sociais. Podemos considerar que a moda contribuiu para redefinir identidades sociais, desconfigurou algumas das fronteiras simbólicas entre o masculino e o feminino, sendo motor e reflexo das mudanças da condição feminina (JOAQUIM; MESQUITA, 2012, p. 99). O objetivo do estudo é apresentar as relações do movimento punk e o riot grrrl e sua representatividade com a moda. Assim se faz discutir sobre o momento histórico deste movimento dentro do contexto punk, fazendo análise temática do feminismo à discussão de gênero e as reações que se estabelecem na moda seguindo a indumentária das riot girrrls nos anos 90, verificando a relação do movimento riot com o contexto histórico sociopolítico, observando a indumentária como forma de protesto. O percurso metodológico adotado foi realizado através de uma pesquisa exploratória, de caráter bibliográfico fundamentada em ideias de autores como, Ribeiro e Costa (2012), Coloni e Fernandes (2005) e Bivar (1982) sem dispensar as opiniões de outros pensadores sobre o assunto abordado no trabalho. Assim Gil (2009) afirma que a pesquisa exploratória proporciona maior familiaridade com o problema (explicitá-lo). Pode envolver levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas experientes no problema pesquisado. A pesquisa exploratória apoia-se em determinados princípios bastante difundidos: 1) a aprendizagem melhor se realiza quando parte do conhecido; 2) deve-se buscar sempre ampliar o conhecimento e 3) esperar respostas racionais pressupõe formulação de perguntas também racionais (PIOVESAN, 1968). Em outras palavras, o estudo exploratório, tem por objetivo conhecer a variável de estudo tal como se apresenta, seu real significado e o contexto onde se insere. Pressupõe-se que o comportamento humano é mais bem compreendido no contexto social onde ocorrem (QUEIRÓZ, 1992). Logo, buscou-se maior conhecimento sobre o problema para torná-lo mais explícito. Marconi e Lakatos (2010, p. 171) afirmam que: São investigações de pesquisa empírica cujo objetivo é a formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno, para a realização de uma pesquisa futura mais precisa, ou modificar e clarificar conceitos. Assim sendo O riot grrrl sendo formado por um grupo de garotas que mediante a opressão sexista recorrente no movimento punk, usou a identidade 61 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 musical e a estética para abordar, contrariar e incentivar as mulheres a lutar pelos seus direitos, sendo assim sua indumentária, seu estilo, suas letras e estilistas que faziam parte deste movimento como Vivienne Woestwood que tem uma grande importância na divulgação do Riot Grrrl e junto aos seus fatores nas questões de representação. Finaliza mostrando as releituras visuais do movimento feminista punk dentro e de seus ideários radicais, no universo da moda, a partir de sua representatividade em fazer com que indumentária possa ser discutida como forma emancipada no social, com bases no movimento das riots grrrls. 2 O MOVIMENTO PUNK Surgido na década de 70 nos Estados Unidos e na Inglaterra o Movimento Punk foi um fenômeno social marcado por sua forte ideologia de contestar o sistema capitalista, foi um movimento de contracultura. O movimento foi questionador, em seu contexto histórico e social, ao observar que a Inglaterra estava em plena desordem social, o desemprego era muito grande, aumentando assim a violência e a diminuição da educação para as classes baixas, um grupo de jovens insatisfeitos com esta situação, perceberam que não havia um futuro para os mesmos, encontraram na música a sua expressão, como forma de revolta contra as condições em que viviam, assim motivando a aprovação do punk pela juventude. [...] atraindo a juventude identificada com o ritmo, às ideias anarquistas e revolucionarias das letras que tratam de problemas sociais como desemprego, as guerras, a violência, a contestação da ordem burguesa, o papel do Estado, alem de temas do cotidiano como relacionamentos, drogas, diversão e outras situações vivenciadas pela juventude. (RIBEIRO; COSTA, 2012, p.1). A juventude que representava o movimento punk era marginalizada e desaprovada pela sociedade por seus ideais de rebeldia e revoltas contra o sistema, ironizava a sociedade com suas músicas sarcásticas e criticava o movimento em que se seguia de acordo com a realidade socioeconômica dos jovens. Tendo como proposta a transgressão a ordem, ao sistema, libertando consumo as drogas, o total repudio ao consumismo, a palavra punk é uma espécie de gíria da língua inglesa cujo significado remete à sujeira, à imoralidade, desrespeito à ordem abordando o anarquismo no movimento e incorporando a estética do antifascismo, do antimilitarismo. (WEBER; GALLINA; ROSSINI, 2004, p.170). O movimento abrangeu tanto os meios sociopolíticos, arte, cultura e música, tendo em vista que neste momento o rock in roll não era já tão inovador, os jovens precisavam de 62 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 diversão, já era tudo em monotonia, então o conceito de punk começou a surgir com a chegada da Banda Ramones que veio revolucionar cada vez mais com o então chamado punk rock, com suas músicas de três minutos e letras de questões cotidianas, eram muito contagiantes e de rápida aceitação e absorção por parte do público. A partir deste momento surgiram os fanzines19, sendo composta pelo “faça você mesmo” lema do punk, que tratava de produções totalmente independentes, organizando seus próprios grupos musicais. Há, a significância que os sujeitos e bandas utilizam das suas próprias mãos para realizar variados trabalhos, desde fazer suas próprias roupas até a produção de um disco, uma guerra dos jovens contra o sistema, utilizavam os sons e as ideias punks, como armas, contra o capitalismo e o consumismo. A banda Sex Pistols, foi a grande disseminadora do movimento, trazia em suas letras a revolução da juventude, propostas anarquistas, contra toda forma de opressão e poder, seu primeiro sucesso Anarchy in the U.K (Anarquia no Reino Unido) de 1976 expõe as finalidades do movimento: Eu sou um anticristo, eu sou um anarquista. Não sei o que eu quero. Mas eu sei como chegar La. Eu quero destruir quem passa por mim. Porque eu quero ser anarquia – e não um cão. Eu quero ser a Anarquia - entenda o que eu digo. E eu quero ser um Anarquista - me defender e destruir (Anarchy in the U.K) 20 A partir da década de 80, o estilo se tornou mais notório, pois cedeu à mídia, foi difundido por todo o mundo, sendo relacionado à má reputação e o vandalismo, o estilo punk se transformou em produto de consumo, por outro lado foi mundialmente conhecido, entretanto sua base original foi esquecida tornando-se assim superficial, visando apenas fins lucrativos. Para Iori et al (2012) a sociedade industrial, a cultura massificada e os interesses voltados à globalização degradam toda a essência do punk. (...) de movimento contestador, furioso e agressivo, o punk tornou-se estilo inofensivo, passivo e padronizado. 2.1 O Punk e suas vertentes no Brasil De acordo com Bivar (1982), o movimento Punk começou em São Paulo, vindo da Inglaterra o movimento se alastrou pelo mundo. No Brasil não foi diferente, segundo o 19 […] Fanzine é a junção das palavras fan (de fã, em português) com magazine (revista, em inglês). Fanzine = uma revista feita pelo fã e para o fã. (BIVAR, 1982, p.51). 20 I'm an antichrist, I'm an anarchist. Don't know what I want. But I know how to get it. I wanna destroy the passerby. Cause I want to be anarchy. No dog's body (...) And I wanna be an anarchist. I get pissed, destroy (Anarchy in the U.K), PISTOLS, Sex, Anarchy in the U.K,Never Mind the Bollocks, Here's the Sex Pistols, Londres: Virgin,1977. 63 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 documentário “Botinada”! A origem do punk no Brasil”21 que foi produzido por Moreira em 2011, relata que o punk rock chegou ao Brasil na década de 1980 através de vinis trazidos de Londres pela juventude da classe alta de Brasília, que estudaram na Inglaterra. O contexto histórico do tempo da ditadura militar, os jovens eram atraídos pelos ideais anarquistas. Em 1990 ocorreram mudanças no movimento no Brasil diferentemente dos Estados Unidos e Inglaterra em que teve um atraso de 10 anos para acontecer. O punk rock se dividiu em outras vertentes como o Hardcore, surgindo muitas bandas de punk-hc como Ratos de Porão, Inocentes, Cólera, Garotos Podres, Olho Seco, Lixomania, considera-se o hardcore, no entanto, como uma segunda geração do punk. Apesar dos diferentes resultados estéticos de suas obras, muitos reivindicam o termo hardcore para garantir uma inserção cultural ou por um laço de identidade ou de pertencimento à cena. No meio do movimento punk percebem-se identidades e vertentes tais como o Punk-Hardcore, o Riot grrrl, que tem como bandas Dominatrix, Skizitas, Zona X e a Banda sem nome, manifestam um discurso alternativo ante a ordem e os valores estabelecidos, instituindo aí, mais que uma prática cultural, uma manifestação política. O movimento em São Paulo só crescia, logo então veio o ressurgimento do movimento, manifestando sua rebeldia com comportamentos agressivos, músicas contestadoras que falam da luta pela sobrevivência, usando a força da adolescência para exigir justiça a todos. De acordo com Bivar (1982) em São Paulo o movimento manifestava sua rebeldia a partir do uniforme (tudo preto: blusão de couro, o jeans, a camiseta, o tênis ou o coturno, os botões com emblemas dos grupos) do comportamento agressivo, da música contestadora e acelerada, seca e ensurdecedora. Os punks paulistanos tinham em média de idade de 18 a 27, muitos eram do proletariado, com o ressurgimento do movimento, foi lançado o primeiro disco independente do movimento punk rock no Brasil, O Grito Suburbano, das bandas Cólera, Inocentes e Olho Seco, que entusiasmou a juventude do movimento. 21 Documentário sobre o punk no Brasil, dirigido por Gastão Moreira, Botinada: A Origem do Punk no Brasil apresenta a história do movimento punk, que se formou em diversas regiões do Brasil, principalmente São Paulo e Brasília, no começo da década de 80, influenciado inicialmente pelos movimentos surgidos na Inglaterra e Estados Unidos durante o final da década de 70. Este documentário foi construído através de diversos relatos daqueles que participaram ativamente do movimento e o vivenciaram desde o seu início. Figuras que marcaram a cena musical punk paulista e brasiliense, além de outros que frequentaram os locais de encontro da juventude punk dão seu depoimento sobre este movimento de natureza controversa e rebelde, tentando definir seu objetivo e as suas origens, mostrando as suas peculiaridades em relação aos exemplos estrangeiros. - Ver mais em: https://www.youtube.com/watch?v=22lSR-o4n98 64 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Os punks Paulistanos começaram a editar seus fanzines, divulgando o movimento com manifestos, comentando sobre o social punk e os jovens reformistas que buscam em suas atitudes se rebelarem contra as opressões. O hardcore era retratado como cotidiano vivido pela juventude paulistana, o som se constituía importante para incentivá-los a ir na caminhada pela luta. Contudo o movimento ainda se mostra fechado para os ideais libertários feministas, o riot grrrl no Brasil se manifesta nesse contexto. 3 O MOVIMENTO “RIOT GRRRL” O Riot Grrrl é o movimento de cultura juvenil, que abrange a música, o feminismo, cultura, literatura, cinema e política. Surgiu em 1900 nos Estados Unidos formado por um grupo de garotas, que contestaram as relações de gênero dentro do movimento punk rock, os papéis sociais reservados as mulheres. O contexto do riot grrrl se deu no cenário do movimento punk rock, e em meio a uma globalização acelerada e com o surgimento de grupos articulados. O feminismo Riot Grrrl, partiu num primeiro momento de uma inquietação políticas: numa conjuntura em que se propaga o discurso de que “as mulheres conquistaram seu espaço” e de que o feminismo é algo ultrapassado, nos parece oportuno de que forma essas jovens feministas tem se constituído, remodelando e apropriando o feminismo pautado nas experiências e visão de mundo da juventude. (MELO, 2006, p.1) É nesse cenário que ocorreu o surgimento do riot grrrl, movimento de garotas feministas dentro da cena punk e hardcore, utilizando a música como maior expressão de contestação, com as mudanças ocorridas no movimento punk, dando nascimento a diversas vertentes, e tendo um maior número de garotos. As garotas começavam a contestar o domínio masculino e o androcentrismo ainda presentes dentro da cultura punk ocorrendo assim à manifestação feminista. A proposta do movimento era fazer com que as garotas participassem e se apropriassem do cenário de discussão dos papéis sociais reservados as mulheres, defendendo assim novas bandeiras do feminismo e a propagação das ideias das riots grrrls que eram as zines ou fanzines, (revistas), cheias de colagens e textos produzidos pelas próprias garotas. O Riot Grrrl surgia através de uma zine o Revolution Girl Style Now, que foi criado pelas punks feministas Ketheleen Hanna e Alison Wolfe, ambas da cidade de Olympia que nos Estados Unidos, já eram conhecidas pelas suas várias manifestações pelo fim da violência contra a mulher, era evidente a revolta pela ausência das garotas na cena punkhardcore, então criaram outra zine chamada Bikini Kill, junto com Katie Wilcox. Logo o 65 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 movimento conquistou visibilidade, organizando bandas só de meninas, Ketheleen Hanna foi à difusora, pioneira e ícone da cena riot. O termo riot grrrl aparece pela primeira vez em outro zine de Tobi Vail – baterista do Bikini Kill – e possui como significado literal ‘garotas amotinadas’ ou ‘motim de garotas’. O grrrl é onomatopeia usada para representar um rosnado de raiva. Uma fúria do movimento dando a entender que são garotas furiosas. (RIBEIRO; COSTA; SANTIAGO, 2012.p.7). Apresentavam-se elementos do feminismo como estilo de vida para a cena hardcore Hanna e Wolfe, influenciaram outras garotas que passaram a serem difusoras do feminismo riot como June Jordan e Bell Hooks – Escritoras feministas, que foram de suprema importância para espalhar o movimento riot com seus ideais, como analisar e romper com as políticas excludentes da comunidade negra, sempre voltando seu olhar contra o racismo, assim vinculando bandas riot em seus ativismos. No Brasil Elisa Gargiulo, caracteriza-se como maior ícone de expressão do movimento, em 1995 não havia uma cena segundo o que ela diz no documentário “Bella Donnas” – “as meninas da cena punk, com a internet bandas como Bikini Kill, Bratmobile, chegam aos ouvidos das brasileiras, com a faixa etária entre treze a vinte anos, estudantes de classe média que se identificavam com o som e as letras já que o punk e hardcore já tomavam conta dos subúrbios brasileiros” (LEITE, 2012, p.24). Havia mais homens na cena punk, criando assim um ambiente hostil que intimidavam as garotas, mas este cenário mudou com a criação da banda Dominatrix – primeira banda punk feminista brasileira – criada pelas irmãs Elisa e Isabella Gargiulo, usavam a internet e mídias como Orkut e MSN (Mensseger) como elementos indispensáveis para a propagação e divulgação das suas músicas, letras e shows. Depois do surgimento da Dominatrix, outras bandas começaram a se difundir dentro do movimento riot dentre eles estão: Kaos Klitoriano, Bulimia, No Steriotypes, Cosmogonia, As Mercenárias e Menstruaçao Anárquica, nesse cenário começaram a surgir outras vertentes como o Queercore, que tem ligações e embasamento com o movimento LGBT e o Straight Edge, ideologia dentro do punk que é a defesa total de álcool, drogas e incentivam o veganismo. Outro elemento de difusão do movimento riot foi o Ladyfest, festival que começou na cidade de Olympia, Estados Unidos, e depois se espalhou por vários países, festival independente e de forma voluntária que reúne bandas, oficinas, debates, músicas, expressões do feminismo, vegetarianismo/veganismo, tudo voltado para as relações de gênero. 66 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Elisa Gargiulo estabeleceu contatos com bandas estrangeiras que também faziam parte do movimento riot, e foi convidada a tocar no Ladyfest Holanda. A banda Dominatrix fez turnê em 14 cidades, tornando-se referência do movimento em termos mundiais, construiu o Ladyfest Brasil, na cidade de São Paulo em 2004, e outras zines fazendo com que as garotas cada vez mais se identificassem com o riot. Mostrar o cotidiano em suas letras e zines é a principal fonte de inspiração, muito se fala sobre escola, família, amigos, relacionamento (RIBEIRO; COSTA; SANTIAGO, 2012). As atitudes radicais tanto de estilo e comportamento resumem às garotas riots, a cultura riot grrrl é bastante farta devido o ambiente libertário, através das letras, músicas e zines, todas as garotas são incentivadas e convidadas a produzirem e se expressarem. Com seu estilo de rebeldia, estimulando a libertação do corpo da mulher, fazendo produções independentes, a fala é bem direcionada para as garotas. O movimento contesta o ideal de beleza que as revistas teens passam, como dicas de emagrecer para se tornar uma jovem bonita, para atrair rapazes mais bonitos, as garotas contestavam toda e qualquer opressão do corpo, se vestiam como gostavam. Se tratando de estilo, podemos citar signos de feminilidade como a lingerie, por exemplo. Algumas riots possuíam piercing, tatuagens, usando seu corpo como discurso político, muitas delas se vestiam com vestimentas masculinas, como bermudas, bonés, sem maquiagem, em suas letras falam essa proposta como a da banda Bulimia, em suas música Publicidade, relatando a desconstrução do gênero: Lutando pra ser mais bonitinha. Lutando pra ser o que a TV mostrou. Pensar não vai te deixar com rugas.Saia da vitrine à espera de seu par. Ser mulher não é ser uma boneca em carros à enfeitar. Como a publicidade insiste em mostrar. Use a cabeça que você tem. Não aceite ser objeto de ninguém. Não se submeta! Questione sempre neste mundo feito só pra homens. (Publicidade)22 O Riot é a disseminação de ideias e ideais, é uma desconstrução da sociedade através do gênero, em que produziu grande propagação de novas formas de fazer políticas, a exemplo como as riots fazem o seu corpo como um discurso político, a liberdade do que fazer questionando o porquê do estado, querendo reprimir e oprimir o corpo da mulher, como relata a letra da banda Dominatrix, “Puta é aquela que se dá para quem se dá sem o seu aval misógino, mas meu corpo é meu”. (Meu Corpo é Meu) 23 22 BULIMIA, Se Julgar Incapaz Foi O Maior Erro Que Cometeu. São Paulo: Tratore, 2005. 23 DOMINATRIX. Quem Defende Pra Calar. São Paulo: Dykon Records, 2009. 67 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 4 A MODA PUNK E SUA REPRESENTATIVIDADE Pensar em moda punk é lembrar que sua indumentária traz à tona a revolta da juventude, assim focar na estética do belo e feio, rompendo com a imagem conservadora e os costumes da sociedade, criticando o sistema político, vendo o corpo como meio de contestação, manifestação e rebeldia. A vestimenta dos jovens punks é agressiva, roupas rasgadas de segunda mão incluindo elementos como tachas, correntes, alfinetes, seus complementos (cabelo, maquiagem e calçado entre outras coisas), estão como marco do estilo. Segundo Coloni e Fernandes (2005) destaca que as garotas começam a exagerar na maquilagem carregando os olhos de preto, vestindo minivestidos, ou apenas uma camisa de homem bem larga e complementando com uma gravata. No universo da moda existem várias marcas em que grandes estilistas buscam ou buscaram inspirações do movimento punk, entrando em cena a indumentária juvenil extremista e rebelde, principalmente as garotas. Contudo na cena musical não somente existia o foco nas roupas femininas, os garotos também se vestiam de um modo específico. Os garotos não ficavam para trás e compravam peças de roupas de segunda mão, paletós, calças, camisas, gravatas que eles usavam do jeito que eram encontradas ou dando-lhe um retoque pessoal nelas ou arrancando pedaços aqui e ali e acrescentando manchas, mensagens e símbolos, colocando alfinetes e correntes e até mesmo rasgando as peças mostrando um efeito de que foram resgatadas de uma guerra. Este aspecto visual do movimento punk casou um forte impacto na época onde a Inglaterra vinha de uma imagem de tradição conversadora gerando assim um ataque frontal a sociedade. (COLONI; FERNANDES, 2005, p.126). Sendo assim a moda é uma ferramenta ideológica no meio social cada indivíduo a traduz de um modo diferente assim como o meio de informação gera em todos os indivíduos conceitos e amplitudes diferentes, sendo a moda a propagadora de ideais procura comunicar conceitos, a exemplo o punk usa a roupa para provocar, para desafiar a ideologia dominante e contestar a política, a distribuição do poder na ordem social e revelar sua indignação e insatisfação contra o sistema. Influências marcantes no mundo da moda como Vivienne Westwood, nascida em 1941, numa pequena localidade da Inglaterra, é considerada a rainha do punk, pois em análise ela se caracterizava como o universo feminista libertário através de seus desfiles seus estilos, e foi uma das difusoras da moda punk feminista. No início de sua carreira, com sua primeira loja, Let it Rock, criada em 1971, começou a criar roupas visando o público mais radical das periferias de Londres, sendo ela totalmente excêntrica, provocadora e irreverente. 68 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Criava roupas com ideais políticos, críticas no social, como temas eróticos, com muita cor preta, vermelho, cores fortes, couro, correntes e rasgos, camisetas com estampas pornográficas, de influência fetichista, como forma de crítica, logo no início de sua carreira fazia suas roupas no estilo “do it yourself” já que a regra do punk é não existir regras, sua loja inspirava muito isso. Em 1965, já vivendo em Londres, Vivienne conheceu Malcolm McLaren, juntos criaram roupas alternativas, a estética punk mostravam revolta através de cabelos espetados e coloridos, roupas velhas que simbolizavam o anticonsumismo proposto pelo grupo e jaquetas com frases de rejeição as injustiças de um estado repressor, o social invadindo o estético, a moda se apropriou do extinto selvagem da juventude, a “alta moda” já não era mais tendência, e sim estar diferente, individual, criar um look único, fazer o seu estilo. Logo Vivienne tomou para si a estética da revolta. [...] o movimento punk e o trabalho da estilista Vivienne Westwood, resta claro que os traços desse movimento, mesmo que às vezes mais apagados, estão visivelmente presentes no trabalho dela. Também fica evidente que os indivíduos que pertencem a esse movimento expressam sua revolta e seus ideais a partir da sua indumentária, e que Vivienne tem imensa contribuição nisso. (BORTHOLUZZI, 2012, p.10). Outros estilistas e marcas famosas também se inspiraram na estética punk, desde as grifes mais inovadoras, como Rodarte e Alexander McQueen, até as mais clássicas, como Chanel e Givenchy, as caveiras, que se tornaram símbolo do estilista brasileiro Alexandre Herchcovitch, por exemplo, os spikes, invadiram a moda clássica, e as caveiras se proliferaram apesar do punk se opor ao mundo fashion como movimento, a moda se apropria da estética punk, capturando a rebeldia juvenil. Outro exemplo seria em 1915, Chanel que por sua vez quebrou a barreira do feminino e masculino, não remodelando o corpo feminino, mas sim libertando, desprendendo, e transmutando como forma de protesto, inovando a estética do seu tempo, desatrelando a imagem da mulher que viviam em roupas opressoras, usando roupas brancas, envoltas em frufrus, golas altas e cinturas marcadas pelo sufocante espartilho. Para Braga (2009) a Chanel, inovou a moda ao fazer taileurs de jérsei, uma malha de toque macio e com aspecto elástico [...] começando a surgir certo estilo andrógino, o que parecia estar bem de acordo com os tempos, uma vez que a mulher havia se emancipado, o fato de ganhar dinheiro contribuiu para essa verdadeira libertação da dependência da figura masculina. Segundo Ciquini (2010, p.14) “A partir da década de 90, pipocam butiques nos grandes centros urbanos vendendo acessórios e roupas características dos punks. O que antes era vil e de extremo mau gosto agora é vendido quase como item indispensável no guarda- 69 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 roupa”. Será que essas impressões do vestuário punk feminista fazem os indivíduos incorporarem o espírito do estilo pelas peças que o vestem? Seria possível a roupa, por si só, suficiente para conduzir esta estética? As pessoas que usam as peças, sabem o cunho histórico que vestem, e quais sensações causam na juventude contemporânea do séc. XXI mesmo em épocas diferentes é possível vivenciar impressões parecidas? Apesar das épocas serem bem distintas notaram impressões cotidianas tanto no espaço urbano quanto na relação música e moda, as influências tanto da estética do punk feminista nas ruas pelo “faça você mesmo” quanto pelas peças inspiradas nos grandes estilistas do estilo, um revival de sensações está estampado nas lojas para quem quiser “ter sua rebeldia” exibida a todos. Com essas novas formas de se ver o punk, como de início foi perdido, hoje é amplamente aberto para todas as pessoas que adeptas do estilo, não somente aqueles que se identificam com a ideologia que o movimento retrata, mas, o “Bonito Estético”. A moda por si adora flertar com elementos da rebeldia, tem seus pés nas passarelas assim como nas coleções de Alexander Mcqueen em paris, verão 2014. Ilustração 1 – Coleção com elementos do movimento punk, como couro e fivelas. Fonte: http://ffw.com.br/desfiles/paris/verao-2014-rtw/alexander-mcqueen/810582/colecao/1/. Acesso em:19.jan.2015. Identificando o antes e depois da moda punk vemos que em suas releituras existem muitos elementos do punk como couro, Spike, rebites, Alexander McQueen representava bem essas ideias do conceito da rebeldia do punk, a própria Rainha do Punk traz elementos na moda contemporânea, com seu visual chocante a feminista traz elementos para a coleção de Verão 2012 em Paris, o rasgado vem à tona, o visual extravagante. Ilustração 2 – Vivienne e sua coleção sobre rasgados (Verão 2012 Paris) 70 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Fonte: http://ffw.com.br/desfiles/paris/verao-2012-rtw/vivienne-westwood/3761/. Acesso em: Acesso em:19 jan.2015. As grandes fast-fashions pegam o que foi exibido nas passarelas para seus editoriais, fast-fashions como C&A, Riachuelo que em suas novas coleções têm influências de rebeldia punk, querendo propor a juventude formas de “esteticamente ver o novo punk, entre esses o editorial que a C&A fez para sua coleção de 2014, totalmente inspirada na rebeldia punk”. Roupas em xadrez, rasgadas, desfiadas com estampas de bandas, ou até mesmo, proclamando o feminismo, são o que vemos nos editoriais, acessórios pesados, de couro, e rebites, além do mais tem a estética do “faça você mesmo”. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa teve como finalidade relatar a identidade do movimento feminista punk Riot Grrrl, com foco no seu histórico e na diversidade de lutas alcançadas. Assim, podese dizer que o movimento proporciona a representatividade como forma de informação através do discurso de desconstrução do gênero através da indumentária particular usada pelas garotas que faziam parte do Riot grrrl. Entendendo que o movimento é um informativo para os diversos métodos de ativismo sociopolítico, como a pesquisa relata que esta indumentária particular fomentava as discussões de gênero, daquilo é feminino ou masculino, desempenhando o papel de convidar as moças a se libertarem do que a sociedade patriarcal estipulava. Visto que diante desta análise, é importante ressaltar que a moda é um instrumento informativo, visual e histórico, pois contém em seus fios a marca do que foi o movimento, a particularidade do seu visual destruidor e contestador, confirmando que o corpo e a roupa são formas de discurso e revolta. Neste sentido, o estudo em questão vale-se, no 71 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 sentido até trazer um confronto verbal sobre a questão do gênero como um desenvolvimento social em que se baseia em diversos fatores. Sendo assim é importante tanto para o universo da moda e da Biblioteconomia e Ciência da Informação entrarem em diálogo considerando os debates para uma revisão crítica, dimensionando assim seu papel alvo como profissional que cuida da dignidade da pessoa humana, para tratarem dos movimentos que estão a vinco no social, apresentando as relações tanto do movimento punk e o riot grrrl quanto a sua representatividade informativa nos diversos grupos sociais. Portanto, podemos assim concluir que o estilo riot é uma grande ferramenta para transmitir o espaço feminino, seja na cena underground, punk ou hardcore, em qualquer lugar, disseminando a informação através da indumentária tecida com revoluções, é importante dizer que o estudo de gênero no movimento é discutido na música das bandas que eram magníficas, seguiam a quebra de estereótipos e a estética movida pelo segmento patriarcal. REFERÊNCIAS BIVAR, Antonio. O que é punk. São Paulo: Brasiliense, 1982. BORTHOLUZZI, Juliana. A relação entre a moda, o movimento punk e sua rainha, Vivienne Westwood. In: 8º Colóquio de Moda, 2012. Anais... Rio de Janeiro: Senai, 2012. Disponível em: <http://www.coloquiomoda.com.br/anais/anais/8-Coloquio-de Moda_2012/GT06/COMUNICACAOORAL/102634_A_relacao_entre_a_moda_o_movimento_ punk_e_sua_rainha_Vivienne_Westwood.pdf>. Acesso em: 28 jan. 2015. BRAGA, João. História da moda: uma narrativa. São Paulo: Anhembi Morumbi, 2004. CIQUINI, Fabio Henrique. 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Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 ENFOQUES DA REVOLUÇÃO FRANCESA, NAZISMO E DITADURA MILITAR NO BRASIL: Reflexos da repressão, informação e censura GT 2- Formação política e a discussão de gênero Modalidade: Comunicação oral OLIVEIRA, Alessandra24 CASTRO, Jetur25 RESUMO Trata da censura na informação a partir de três acontecimentos históricos mundiais como a Revolução Francesa da qual remete as “atitudes dos iluministas”, “Bücherverbrennung” no Nazismo e “opressão na literatura” na Ditadura Militar no Brasil. O objetivo do trabalho é dá o enfoque nas variadas formas de censura nos documentos que foram censurados nesses períodos, a começar das revoluções e de seus idealizadores na busca do conhecimento. O percurso metodológico adotado foi realizado através de uma pesquisa exploratória, de caráter bibliográfico fundamentada em ideias de autores como Chaffe, (2009), Cornelsen (2009), Fioratti (2012) e Darnton (1992), em que falam sobre os registros históricos, pois tem a importância que a censura faz parte de fatores históricos. Logo, na visão de Barreto (2005) e Guedes (1995), leva como reconhecimento da Biblioteconomia e Ciência da Informação como área interdisciplinar que estuda a informação e seus caminhos, sobre as diversas áreas do conhecimento. Finaliza integrando os períodos históricos e relacionando a instigação da informação, considerada perigosa para nesses fatores históricos. Assim sendo imprescindíveis estes apontamentos sobre esses períodos, abrindo um novo o caminho o da democracia. De este modo tornar-se viável o acesso ao direito intelectual do conhecimento através da liberdade na busca e utilização de informações para a história e da ciência da informação e de seu campo interdisciplinaridade na condição de que a informação possa ser necessária para a compreensão de acontecimentos históricos. Palavras-chave: Censura-Hístória. Revolução Francesa, 1789-1799. Ditadura Militar- Brasil. ABSTRACT This censorship on information from three world historical events like the French Revolution which brings the "attitudes of Enlightenment", "Bücherverbrennung" in Nazism and "oppression in the literature" on the military dictatorship in Brazil. The objective is the focus on the various forms dede censorship will documents that were censored data in the periods, beginning with the revolutions of the oppressed and their creators in search of knowledge. The methodological approach adopted was accomplished through an exploratory research, bibliographic based on ideas of authors and authors as Chaffe, (2009), Cornelsen (2009), Fioratti (2012) and Darnton (1992), in which talk about the historical records, it is important that censorship is part of historical factors. Therefore, in view Barreto (2005) and Guedes (1995), takes in recognition of Library and Information Science as an interdisciplinary field that studies the information and his ways, on different areas of knowledge. Finish integrating the historical periods and relating instigation of information, considered dangerous to those historical factors. Therefore these essential notes on these periods, opening a new the way the democracy. In this way become viable access to the intellectual property right of knowledge 24 Graduanda em Biblioteconomia pela (UFPA). E-mail: [email protected] Graduando em Biblioteconomia (UFPA). Pesquisador e Colaborador da Rede Cariniana – (IBICT/Brasília). Email: [email protected] 25 75 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 through freedom in the pursuit and use of information for the history and information science and its interdisciplinary field provided that the information may be required for the understanding of events Historic. Keywords: Censorship-history. French Revolution, 1789-1799. Dictatorship-Brazil. 1 INTRODUÇÃO A formação social de um indivíduo sobre o meio em que vive, é ocasionado a partir das informações, em que a humanidade adquiriu ao longo do tempo. Tornando-se, perceptível para que os que possuíam a capacidade de desenvolver o pensamento crítico, independente sobre os fatos em que se conduzia a sociedade. Deste modo, certificamos que “a informação, quando adequadamente assimilada modifica o estoque mental de informações do indivíduo e traz benefícios ao seu desenvolvimento e ao desenvolvimento da sociedade em que ele vive” (BARRETO, 2005, p.2). A informação também é vista como uma ferramenta na união de grupos e povos sobre, ideias, concepção de fatos e compartilhamento de conhecimento. Visto por outro ângulo, a não utilização da informação ocasiona uma sociedade de pouco entendimento e perecível de conhecimento. Conforme Le Coadic (1996, p.27) “sem a informação, a ciência não pode se desenvolver e viver. Sem informação a pesquisa seria inútil e o conhecimento não existiria”. Com esses apontamentos, surgem os vários questionamentos a exemplo, quais seriam as consequências de uma sociedade ausente de informação? Será que no passado existiu o interesse de restrição de informação? Qual o poder da busca do conhecimento em uma sociedade? O que a história tem a dizer sobre a informação? Com base nisto partiu o interesse pela investigação sobre a história da informação na humanidade a respeito dos momentos que a informação não foi bem-aceita e censurada. No qual, através das pesquisas pode se encontrar algumas situações que a humanidade vivenciou, contra as diferentes formas de expressões e informações, a começar da Europa até o Brasil. O estudo localizou uma palavra simples, mas que se tornou muita praticada por aqueles que objetivavam ocultar e evitar a disseminação da informação, do qual julgamos como a Censura. Em que se constituiu uma forma de manter a sociedade, sobre os interesses pessoais dos poderes que os governavam. Ocasionando o veto de todos os tipos de informações e conhecimentos livres, em que ia contra os princípios dos Governos e Estados, dentre eles, os Livros que se tornaram um dos grandes alvos perseguidos, assim como, os seus escritores e leitores. 76 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Portanto, a presente pesquisa objetiva, mostrar a censura na informação no contexto histórico e as formas de perseguições e pressão dos censores sobre os livros, autores, e leitores que foram contra a ideologia pregada pelos regimes. Logo mostrará os períodos históricos e relacionando a instigação da informação, considerada perigosa para nesses fatores históricos. Assim sendo imprescindíveis estes apontamentos sobre esses períodos, abrindo um novo o caminho o da democracia. De este modo, se torna viável o acesso ao direito intelectual do conhecimento através da liberdade na busca e utilização de informações para a história e da ciência da informação e de seu campo interdisciplinaridade na condição de que a informação possa ser necessária para a compreensão de acontecimentos históricos. 1.1 Metodologia A metodologia utilizada no estudo é exploratória, assim Gil (2009) afirma que a pesquisa exploratória proporciona maior familiaridade com o problema (explicitá-lo). Pode envolver levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas experientes no problema pesquisado. A pesquisa exploratória apoia-se em determinados princípios bastante difundidos: 1) a aprendizagem melhor se realiza quando parte do conhecido; 2) deve-se buscar sempre ampliar o conhecimento e 3) esperar respostas racionais pressupõe formulação de perguntas também racionais (PIOVESAN, 1968). Em outras palavras, o estudo exploratório, tem por objetivo conhecer a variável de estudo tal como se apresenta, seu real significado e o contexto onde se insere. Logo, buscouse maior conhecimento sobre o problema para torná-lo mais explícito. Diante dessa afirmação de Babbie (1983), mostra-se então que a presente pesquisa é determinada como um estudo exploratório, mostrando-se também em características de um estudo bibliográfico. No intuito de levantar informações relevantes para a fundamentação teórica do presente estudo, abordou os autores Chaffe, (2009), Cornelsen (2009), Fioratti (2012) e Darnton (1992), para os registros históricos, pois obteve a importância que a censura faz parte de fatores históricos. Logo, na visão de Barreto (2005) e Guedes (1995), leva em consideração a Biblioteconomia e a Ciência da Informação, como área interdisciplinar que estuda a informação e seus caminhos, sobre as diversas áreas do conhecimento. Conforme Correa e Spudeit (2013, p.366) ressaltam que “a Biblioteconomia brasileira, enquanto disciplina, pertence à subárea Ciência da Informação (...) o ensino dessa disciplina, tanto na graduação quanto na pós-graduação, tem sido orientado por conexões com diferentes áreas do conhecimento”. Partindo desses pressupostos, resultou-se na organização do estudo envolvendo parâmetros históricos, sociais e informacionais, observando eventos 77 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 históricos vinculados à informação, como a censura- especificamente dos livros e as revoluções da sociedade em busca do conhecimento. 2 APORTES SOBRE A CENSURA De acordo com a história o mundo sempre vivenciou a opressão de hierarquias sobre as camadas menos favorecida, restringindo-os de seus direitos tanto materiais, quanto intelectuais. Sendo este último, reconhecido como censura, no qual, se estabelece como uma das formas opressoras de impor a terceiros, uma única visão de ideologias e conhecimentos. Ocasionada por interesses pessoais de quem detém o poder ou domínio sobre uma situação. Segundo a Enciclopédia Mirador Internacional (1987, p.2237) salienta que: A censura é o controle exercido por autoridade civil ou religiosa, a publicação, distribuição ou a leitura de livros, com finalidade de impedir a divulgação de críticas ou ideias contrárias aos interesses de tais poderes, ou capazes em seu julgamento de perturbar a vida moral, social, política ou religiosa da comunidade. Censurar a informação era a forma de vetar os indivíduos da independência do intelecto. A perseguição contra a informação revela o quanto ela é poderosa, chegando ao ponto de líderes influente se sentirem ameaçados com obras e expressões de artistas. A censura age como ponto terminal na retenção da livre circulação das ideias. A existência da censura à informação prova por vias travessas que não há informação neutra. Caso existisse, a censura não teria razão de existência (TRAGTENBERG, 2009, p.190). Se analisarmos o histórico da censura e os seus causadores, é perceptível que dentre os que impuseram, estavam os de ordem religiosa ou do Estado. Guedes (1995, p. 68) ressalta que “a censura é um instrumento ideológico de controle tanto político quanto religioso de uma sociedade”. A religião sempre esteve envolvida na história da humanidade e junto a ela, a repreensão imposta por religiosos, no qual pregavam que as obras consideradas contra o cunho cristão, mais conhecido como pagãos, não deveriam ser lidas. Deste modo Guedes (1995, p.70), exemplifica “(...) o “Concílio de Latrão” que só permitia a publicação de obras com a autorização do bispo, e a Santa Inquisição da qual estavam alertas e prontos a acender fogueiras para queimar autores, leitores desautorizados, insistiam em contrariar o clero”. A censura não foi vivenciada apenas no cristianismo, isto é bem notável no incêndio da biblioteca de Alexandria no Egito. A história conta que a invasão desta biblioteca se deu por Emir amr Ibn por ordem de Omar, no qual determinou queimar os livros. Conforme Canfora (1989) na conversa entre Omar e Amr, “(...) se os livros estavam de acordo com o livro de Alá então poderia ser dispensado, caso contrário não haveria necessidade de 78 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 conservá-los, deste modo, a biblioteca foi destruída e o acervo queimado (...)”. Assim como a religião, a censura política é bem antiga, e em muitos casos estão acopladas. De um lado os religiosos impõem a censura, com o pretexto de cuidar para “manter a fé” dos devotos, de outro usam a política como pretexto de manter a ordem do Estado. Podendo ocorrer eventualmente à censura real em que os membros de uma sociedade acabam achando normal censurar, ocorrendo o caso de uma censura natural, a partir da cultura real implantada na sociedade. Segundo Guedes (1995, p.68): A censura natural parte da censura real (...), pois provém dos conhecimentos e pensamentos dos membros de uma comunidade. Deste modo, estão voltadas aos valores concebidos que as mesmas acham que são bons, segundo suas normas apreendidas e acumuladas por seus membros através da endoculturação. Caso este, que ocorreu em algumas das situações históricas da humanidade em que os membros da sociedade já estavam aceitando a censura, se não fosse o fato de pensadores que buscaram o conhecimento para levar a luz da razão. Com base nos exemplos, podemos analisar que a censura parte de um poder que possui total autoridade na sociedade, e que esta, torna-se mais fácil de ser influenciada quando não buscam o conhecimento. Todavia atitudes contrárias podem causar verdadeiras revoluções, chegando às situações como a censura ao conhecimento – especificamente dos livros, e a revolução do povo através das informações adquiridas em três revoluções mundiais. 3 REVOLUÇÃO FRANCESA: DA REPRESSÃO PARA A LUZ DA RAZÃO Europa século XVIII formada pelo regime absolutista, das classes clero e nobreza, compostas pelo primeiro e segundo estado, perfaziam o abuso do poder, com a intenção de manter o povo submisso as suas vontades, tornando-se evidente a forma de manter um povo servil aos poderes e restringindo-os do conhecimento. Para isso era necessário, deixá-los sem os conhecimentos e propício a ignorância. O que se tornou notável no regime absolutista Francês, na influência de pensamentos que a igreja detinha sobre o povo. A igreja proclamava que o poder é dado aos homens por Deus, uma vez que todas as honrarias deveriam se estimadas aos nobres e ao clero, sendo estes escolhidos pela divindade, segundo a visão absolutista. Causando através da ideia, o perecer do terceiro Estado (o povo), no qual detinha a obrigação de pagar impostos e servi-los. Ao contrário da igreja e da nobreza, que eram isentas dos tributos e que desfrutavam dos prestígios. Em decorrência dessa realidade surgiram os pensadores racionais, intitulado de iluministas. No qual, acreditavam que a razão e o conhecimento eram as luzes para mudar a história humana. Seus membros criticavam a influência política e cultural da igreja, pois 79 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 detinham os privilégios da nobreza, a servidão no campo, os monopólios comerciais do Estado e a censura às ideias “perigosas” (FALCON, 1986). Desde então, surgiu o iluminismo movimento que revolucionou a Europa. A ideologia iluminista queria que o livro fosse capaz de reformar a sociedade, que a vulgarização escolar transformasse os hábitos e costumes, que uma elite tivesse com seus produtos, se a sua difusão cobrisse todo o território, o poder de remodelar toda uma geração (CERTEAU, 1998, p. 261). Considerando o conhecimento a única maneira de acabar com a ignorância, levando em consideração a informações. A ideologia iluminista esforçou-se para levar o conhecimento ao povo através dos livros. “Essa preocupação os levou a produzir a enciclopédia, uma grande obra de 35 volumes, impressa entre 1751 e 1780, que continham um resumo todo o saber existente até então” (FALCON, 1986). A comercialização destes livros na Europa tornou-se uma grande barreira, pois eles foram proibidos, e a leitura de quem as tinha era feita às escondidas, por levar em seu interior o despertar do saber e a luz da razão. A censura existia para modificar (ou proibir) o material escrito antes de sua publicação. Os oficiais da polícia do livro e os representantes da indústria editorial tinham a tarefa de detectar obras perigosas, clandestinas e proibidas, e para este objetivo supervisionavam os impressores, livreiros, trabalhadores e vendedores ambulantes (...) A influência crescente das ideias do iluminismo nos círculos governamentais tornava a vida dos audaciosos mais fácil e dos censores mais difícil (DARNTON; ROCHE, 1996, p.22). Tudo o que o clero e a nobreza não queriam, era o despertar do povo e os mesmos lutassem pelos seus direitos. Algo que se torna inevitável, quando o ser humano possui as informações e consequentemente os conhecimentos corretos. Como consequência, é notável a refutação da situação em que vive. O que incidiu com a França ocasionando a sua revolução. “A censura clerical não deixa passar nada que possa ofender os valores religiosos-éticos-morais (...) a censura estatal, sob o absolutismo europeu, não deixava passar nada que ofendesse sua Majestade” (TRAGTENBERG, 2009, p.190). As filosofias de Voltaire, Montesquieu, Rousseau e Diderot passaram a serem consideradas pela igreja, literaturas adversas a sociedade. Pois, faziam o terceiro estado (povo) despertar para as ideologias da razão, criticando o absolutismo e defendendo a liberdade do homem. Ocorrências que o clero e nobreza não esperavam. Foram então, tachadas como leitura clandestina e começou a enfrentar altas fiscalizações, os vendedores de livros utilizavam de altas estratégias para que os livros chegassem a seus destinos. “Dentre os muitos truques para burlar a fiscalização estava o hábito de casar o livro, isto é entremear uma obra com folhas de outra. Como são enviadas quase sempre soltas pode-se esconder os livros ‘maus’ no interior dos bons” (DARNTON, 1992, p.34). 80 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A respeito do que era bom e ruim isso cabia ao clero e ao Rei distinguir. Obras que censuravam a igreja, nobreza e a servidão e que revelavam a verdade e razão, tais obras eram chamadas de as “más” literaturas. Sendo preocupação das autoridades obras como: Encyclopédie, Thérèse philosophe e L´an 2440 (CAVALCANTE, 2009) da qual traz críticas as autoridades aos estados e a política. Todavia essa censura não impediu que muitas pessoas aprendessem sobre os pensamentos iluministas. Através de conversas com pessoas bem informadas o povo obtinha os ensinamentos e as informações. Freitas (2013, p.5) salienta a busca pela informação iluminista “Desta forma, as pessoas passaram a fazer reuniões em locais públicos (...) onde sempre havia um inflamado orador lendo algum artigo de jornal ou panfleto em voz alta com o intuito de atiçar os ânimos contra a monarquia”. Alguns livros passaram a ter a linguagem de fácil compreensão para as pessoas de poucos estudos, assim como os folhetins e jornais. Nota-se que a informação encontrou barreiras, porém isto não a impediu de que fosse disseminada e encontrasse outras maneiras para que o conhecimento chegasse aos que dela necessitavam. A partir dos pensamentos iluministas o povo passou obter o conhecimento, como consequência rebelou-se contra o poder absolutista do clero e a nobreza que os atormentavam. Tal qual a decorrente crise que a França passava, a nobreza passou a elevar os impostos e aumentar o preço do pão. O povo colando-se em realização seus conhecimentos adquiridos e baseados nos princípios iluministas causou a grande revolução com o slogan: Liberdade, igualdade e fraternidade. Assim ocasionando à revolução Francesa, conduzindo o Rei Luiz XVI e sua esposa Maria Antonieta a guilhotina, a derrubarem o absolutismo e o antigo regime. A informação quando adquirida, estudada e praticada, promove mudanças significativas na sociedade visto que ocorreu a partir dos princípios iluministas, de maneira que não apenas revolucionou a França, como também originou a conquista universal através da declaração dos direitos do homem e cidadão no qual “afirmava os princípios de igualdade e liberdade individual, a igualdade civil e fiscal, a isenção de prisão arbitrária, a liberdade de expressão e de impressa e o direito à liberdade privada” (POZZOLI, 2001, p.125). Atitude que reflete até os dias atuais nas diversas áreas do conhecimento, entre eles a biblioteconomia sendo reflexionada através das bibliotecas e do disseminar da informação. A Revolução Francesa também se constituiu em um evento importante para a área de Biblioteconomia visto que levanta, como uma de suas bandeiras, a da igualdade entre os homens, fazendo com que as grandes bibliotecas particulares fossem abertas para consulta do povo, levando ao surgimento das bibliotecas públicas (RUSSO, 2010, p.46). 81 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A democracia da informação que vemos é um resultado dos princípios iluministas que defendem a igualdade, liberdade e fraternidade na sociedade, relações humanas e no conhecimento. 4 A ASCENSÃO DO NAZISMO A Alemanha após a primeira guerra mundial encontrava-se em estado de decadência, sua economia fortemente abalada, territórios perdidos e o desemprego contribui para a desvalorização do País. Com a chegada do Nacionalismo-Socialismo, isto é, o Nazismo do qual foi consolidado em 1933 este cenário de decadência passou a ser mudado através de seu líder, “Adolf Hitler”. O nazismo passou a buscar a extrema valorização germânica, não só na política como na cultura. A literatura, artes, música e o rádio, ou seja, toda forma de entretenimento informacional e comunicativo começaria a passar pelo rigoroso regimento do estado totalitário. “Os nazistas tomaram medidas que visavam impedir tantos os processos de formação de opinião pública como as discussões públicas sobre decisões políticas antidemocráticas” (CORNELSEN, 2009, p.22). Com a sua ascensão, o nazismo buscou censurar informações que confrontava suas ideologias, pois um dos seus princípios era que a sociedade se voltasse para os objetivos do poder. “Começando a partir disto, uma grande perseguição intelectual aos que abordavam suas obras contra os pensamentos nacionalistas alemães. Sendo elaborada uma “lista negra” de obras consideradas nocivas ao regime, para facilitar a remoção de livros "inaceitáveis" das bibliotecas pública” (CULTURE..., 2013). A perseguição contra informações literárias não ocorreu apenas com os livros, mas sim com todos aqueles das quais eram mentores e usuários, ou seja, tanto para autores quanto leitores, o que se tornou realmente um retrato dos princípios de censura como descreve Tragtenberg (2009, p.190) “a censura atinge a todos; atinge o que escreve e o que lê”. Por meio destas atitudes, autores tiveram seus livros censurados e se, não quisessem que suas obras fossem proibidas teriam que adaptar ao sistema imposto. O relato do escritor Thomas Mann demonstra esta realidade de opressão, em que diz: Quando eu passava uma temporada às margens do Ostsee, no verão de 1932, recebi um pacote pelo correio do qual, quando o abri, saíram cinzas pretas, papel carbonizado. O conteúdo era um exemplar queimado, apenas reconhecível, de um livro meu, o romance Os Bunddenbrooks – mandado a mim pelo proprietário como punição por eu ter expressado publicamente meu horror diante do infortúnio nazista que se aproximava (MANN, 2009 p.139). A corrida contra a literatura teve o seu grande dia de perseguição em 10 de maio de 1933 no mesmo ano que o nazismo chegou ao poder. Quando livros foram jogados em 82 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 fogueiras para serem queimados em praça pública com a definição de bücherverbrennung (queime os livros). Ato que o nazismo utilizou para ofuscar o conhecimento e manter a sociedade em seus padrões e dependente de intelecto. O ritual da queima de livros em praça pública, ato que remonta à queima das “bruxas” na Idade Média, é uma expressão simbólica da barbárie. A partir da iniciativa da organização estudantil ligada ao partido nazista, o ministério da propaganda, sob a liderança do ministro Joseph Goebbels, instrumentalizou tal ato como meio de divulgação da campanha intitulada “Aktion wider den undeutschen Geist” (“Ação contra o espírito não-alemão”). Listas com nomes de escritores e obras a serem proibidas foram distribuídas, e a Gestapo, a polícia política, incumbiuse de controlar e confiscar as obras proibidas junto a livrarias e bibliotecas (CORNELSEN, 2009, p.23). A partir do nacionalismo extremista, os meios de informação precisaram ser fiscalizados e vigiados, pensando nisto, foi criado a Câmara de cultura do Reich. Tendo como responsável o ministro da propaganda Joseph Goebbels. A partir da câmara toda forma de expressão artística e intelectual deveria ter o consentimento do respectivo órgão para ir a público. “Aqueles que não procedessem de acordo com as normas impostas sofreriam proibições profissionais. (...) em outras palavras, a arte deveria apoiar a ideologia do estado, e não ser representante de heterogeneidades sociais” (ANDREUCCI, 2006, p.60). O que veio a se tornar a forma de censurar obras artísticas e comunicacionais que não correspondiam com o regimento da Alemanha nazista. Segundo Varela (2013, online) a câmara tinha como funções: Extirpar a literatura nociva e indesejável de todas as bibliotecas alemãs; Libertar a classe profissional de escritores e autores alemães de toda influência estranha, organizando-a de acordo com a política cultural nacional-socialista; Prestar toda ajuda possível à literatura valiosa e favorecer ao máximo o caminho para que livros bons chegassem às mãos do público. Diferente do que ocorre em países ditadores que implantam a censura, a sociedade da Alemanha nazista não ficou sem leitura, pelo contrário, a produção de literaturas aumentou em massa. “Durante o período nazista foi posta em prática uma política de popularização literária como parte das estratégias de “indoutrinação” da população alemã (...) obras foram editadas e distribuídas, com números de edições elevadas, como é o caso de obras editadas pelas organizações vinculadas ao partido nazista” (CORNELSEN, 2009, p.24). Tendo em vista a repressão da qual é umas das formas de censurar a informação, visto que ela é dominada pelo poder, restringindo-se ao público e os valores morais. Conforme Kehl (1987), ao abordar a psicanálise e o domínio das paixões, faz um julgamento sobre a repressão. Segundo a autora: A repressão é um mecanismo insuficiente para dar contado excesso de energia que não encontra meios de descarga. A repressão dissocia, aliena, faz da pessoa uma cega para seus desejos, ignorante sobre o que é bom para ela. Uma presa fácil de líderes totalitários, dos grandes pais 83 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 autoritários que prometem alívio para angústias de prazer que acompanham todas as tentativas de retorno do reprimido, em troca da obediência, da adesão total à sua liderança. A repressão é a condição da obediência: quem não sabe o que quer, quer aquilo que dizem que ele deve querer. É tão simples assim, e é partindo desse raciocínio simples que Reich veio a entender a adesão do pobre povo alemão ao nazismo (KEHL, 1987, p. 481). Visando influenciar o povo aos interesses pessoais tiranos, as obras possuíam uma mensagem com intuito de influenciar o povo germânico a guerra, propagando a supremacia da raça ariana, o repúdio aos judeus e ao extremo nacionalismo. Sendo forma de causar o desvio intelectual. A consequência destes acontecimentos formou uma Alemanha que idolatrava seu líder acreditando nos seus atos como verdade. Em contrapartida, o preconceito triunfava para com as diferentes raças e ideologias. O nazismo deixou uma dívida cultural com judeus devido ao saqueamento de obras que correspondiam a ideias de autores judeus. Muitas informações foram perdidas decorridas da queima de livros, dentre os grandes perseguidos do nazismo, corresponde aos judeus que possuíam livros de conhecimentos de sua raça e religião. Porém em recente ocasião a biblioteca de Berlim devolveu obras que foram roubadas dos diversos lugares que detinham o conhecimento judaico. “A biblioteca pública de Berlim devolveu nesta quarta-feira 13 livros roubados pelos nazistas à comunidade judaica, como parte dos esforços do governo alemão de restituir os tesouros culturais saqueados” (VEJA, 13 abr. 2011). Percorrendo toda história da censura nazista, paira um pensamento de pêsames sobre os muitos conhecimentos e informações que foram extinguidas da humanidade por causa das recriminações e consequência de atos individualistas. 5 DITADURA MILITAR NO BRASIL Teve seu início em 1964 até 1985 com duração de 21 anos quando os militares assumiram o poder derrubando, o Presidente da época, João Goulart. Marcado como tempos de dureza e opressão. Conforme Nascimento et al (2013, p.3) afirma um “sistema centralista e autoritário, rompendo assim o regime democrático”. Que proibia as formas de expressão e ideias independentes que iriam contra os objetivos do governo. Criando no governo militar de Castello Branco, a partir dos Atos Institucionais o Serviço Nacional de Informação (SNI) que vigiava informações no território Brasileiro. Porém foi a partir do segundo Presidente Militar que o abuso do poder se tornou visível, quando as informações mostravam realmente ameaça a supremacia. “Com a edição do Ato Institucional n. 5, no governo do presidente Costa e Silva em 1968, tornou-se possível 84 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 (...) criar condições para a censura à divulgação da informação, à manifestação de opiniões e às produções culturais e artísticas” (RODRIGUES, 2013, p.32). A partir disto a música, o cinema, as novelas, a literatura e as artes e as formas de expressões em geral, foram alvos de perseguições pela influência na sociedade que elas conquistavam. Os livros de início não foram tão perseguidos, porém a partir de 1970 com o Governo de Médici, viriam então acontecer à censura de obras e periódicos com a desculpa de proteger a moral e os bons costumes. Conforme o (DECRETO-LEI N. 1.077, de 26/01/1970): Considerando que esta norma visa a proteger a instituição da família preservar-lhe os valores éticos e assegurar a formação sadia e digna da mocidade; considerando que se tem generalizado a divulgação de livros que ofendem frontalmente à moral comum: Art. 1 – não serão toleradas as publicações e exteriorizações contrárias à moral e aos bons costumes, quaisquer que sejam os meios de comunicação; Art. 2 – caberá ao Ministro da Justiça, através do Departamento de Polícia Federal verificar quando julgar necessário, antes da divulgação de livros e periódicos, a existência de matéria infringente da proibição enunciada no artigo anterior. Após este decreto o estado passou ter total domínio de censurar livros e periódicos, pelo órgão de Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP). Ficando estabelecido, que toda obra produzida deveria ser averiguada para não serem disseminadas informações que fossem contra os interesses do Estado. “(...) Eram vetadas aquelas que fizessem elogio ao comunismo ou criticassem o sistema político vigente; no campo da moral religiosa, eram vetados os temas do ateísmo e da pornografia (...)” (LEITE; LEITÃO, 2009, p.11). A pesquisa encontrou evidências de algumas bibliotecas que possuíam livros suspeitos, bibliotecas essas que foram invadidas como da Faculdade de Filosofia de Rio Preto, conforme é relatado em “O controle Ideológico” na USP (2004, p.16), “Porque houve a denúncia de que, na biblioteca da Faculdade, havia obras de Karl Marx e professores comunistas, escolhidos à cadeia e dois mais precavidos tiveram que desaparecer. ” O caso da biblioteca da universidade de Brasília que foi interditada e investigada “Circularam várias histórias jocosas a respeito de obras consideradas suspeitas: tábuas de logaritmos teriam sido tomadas como códigos secretos, livros teriam sido julgados subversivos porque suas capas eram vermelhas” (SALMERON, 1997 p.177). Assim como o relato descrito da Bibliotecária da UFRGS, “O caso de alguns livros encadernados em vermelho da Faculdade de Arquitetura, que foram, por ordem da direção, recolhidos do acervo, pois se tinha de que relacionassem essas obras ao comunismo” (CHAFFE, 2009, p.34). Livrarias também passaram a ser invadidas e livros recolhidos, as editoras se preocupavam por investir em obras e o medo de acabarem não sendo aceitas pela censura. 85 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Alguns dos livros censurados foram: “Feliz Ano Novo, de Rubem Fonseca; Zero, de Ignácio de Loyola Brandão; Dez Estórias Imorais, de Aguinaldo Silva e Carniça, de Adelaide Carraro” (FIORATTI, 2012, p.83). Complementando, as obras da escritora Cassandra Rios, que também foi o alvo dos censores por abordar em suas obras o erotismo e temas homossexuais. Livros ou revistas lançadas teriam que enviar cópia para serem analisados, até as capas dos escritos eram avaliados pelos censores, ficando cada vez mais difícil ter uma obra lançada e aprovada. “A revista Veja também foi informada, em dezembro de 1969, que semanalmente, deveria submeter um exemplar impresso para exame por um determinado militar, que liberaria ou suspenderia a circulação daquela edição” (GASPARI, 2002, p. 169). Alguns tipos de livros tornaram-se isentos da censura como os didáticos, técnicos, os que não falavam de pornografias e os que não afligiam a moralidade pública. Conforme a Portaria 11-B, em 6 de fevereiro n.1-70 que dizia: “estão isentas de verificação prévia as publicações e exteriorização de caráter estritamente filosófico, científico, técnico e didático, bem como as que não versem sobre temas referentes ao sexo, moralidade pública e bons costumes”. Todavia o governo utilizou estratégias para que os ataques a obras literárias não fossem visivelmente percebidos, passando a investir em grande demanda de livros de ensino e autores para a valorização da leitura brasileira, através do Instituto Nacional do Livro (INL). “Fornecendo aos autores incentivos econômicos para a publicação de obras, diminuição ou extinção dos ônus fiscais sobre a atividade cultural (...)” (PEREIRA, 1967). Em 5 de outubro de 1988 com a frase de Ulysses Guimarães “Declaro promulgado o documento da liberdade, da democracia e da justiça social do Brasil” e ainda dizia: “Temos ódio a ditadura, ódio e nojo”. Era o País triunfando contra os 21 anos de opressão, sendo então estabelecida à constituição Federal que aprova a liberdade de aprender, ensinar e pesquisar e o apoio do estado às manifestações culturais e diferentes formas de expressões. Um verdadeiro passe contra os anos de chumbos que o conhecimento e informações passaram. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS A pesquisa analisou o quanto, os conhecimentos provenientes das informações adquiridas são capazes de mudar uma situação provocando verdadeiras revoluções na humanidade e tornando-se uma verdadeira arma contra a ignorância. Sabendo disso foi perceptível que possuidores do poder, sempre souberam desde a antiguidade, a influência da 86 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 informação. Por meio disto, criaram uma forma de evitar o fluir destas, ocasionando a censura. A partir destas reflexões foram notados que a informação se tornou ameaçadora para aqueles que desejavam centralizar seus interesses pessoais, e que por meio destas atitudes de poder, muitas informações foram extintas da humanidade, pois sabiam que os indivíduos que buscassem conhecimento não seriam mais os mesmos. É notável que a grande gama de informações e os direitos que temos de acesso aos dias atuais foram conquistados a partir de atitudes e revoluções de indivíduos que lutaram para que todos tivessem a liberdade para a busca e a utilização do conhecimento. O exemplo da declaração do direito do homem e do cidadão e com a revolução francesa relacionaram esse novo direito. Deste modo devemos entender os acontecimentos e os processos históricos que a informação se sucedeu, para não tomamos como exemplos os erros cometidos por aqueles que um dia tinham total domínio da informação em suas mãos, em que buscaram repassar apenas suas próprias verdades e ideologias. Pois, na medida em que foram ocorrendo os estudos deste artigo sobre censura, foram analisadas as atitudes insensatas dos poderes que restringiam as informações, porém a reflexão pairou sobre as posições atuais, remetendo aos casos dos profissionais da informação dentro das unidades de informação. Torna-se viável que o bibliotecário e os profissionais da informação reflitam sobre suas atitudes, se estão para um censor, profissional restringe as informações pensando muitas vezes em si, crendo que determinados tipos de obras não “convém” aos seus acervos porque seus princípios não agem de acordo com as informações ali inseridas, tendo também aqueles que utilizam “Censura técnica” a chamada burocracia, sobre os livros para com os seus usuários/clientes ou para um profissional que realmente defende o cunho liberal e humanista da profissão, no qual, têm por objetivo disseminar a informação sem preconceito com credos, opiniões e atitudes. REFERÊNCIAS ANDRADE, Auro Moura. Um congresso contra o arbítrio. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1985. ANDREUCCI, Álvaro Gonçalves Antunes. O risco das ideias: intelectuais e a polícia política (1930-1945). São Paulo: FAPESP, 2006. ARAÚJO, Eliany Alvarenga de. A palavra e o silêncio: biblioteca pública e estado autoritário no Brasil. 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Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 EU DIGO NÃO AO NÃO: o movimento Tropicália e a censura no Brasil. GT 2: Formação política e a discussão de gênero, modalidade oral SILVA, Fernando Santos da1 SOEIRO, Gabrielly P. L.2 VASCONCELOS, Camila Silva3 RESUMO A partir do momento em que se contesta a cultura dominante, o pensamento, além dos costumes, crenças e convenções que se formam podem ser chamados de contracultura. Buscamos então mostrar um dos principais representantes dos movimentos contraculturais no Brasil e o modo como ele resistiu à censura durante o regime militar no Brasil. Como método utilizou-se a pesquisa documental em diversos documentos, visando buscar a relação entre a censura exercida na época da ditadura militar brasileira e suas consequências sobre a produção do movimento Tropicália. Chegou-se à conclusão de que mesmo surgindo em um período conturbado houve sim, no Brasil, influências de movimentos contraculturais, principalmente no movimento Tropicália, que mesmo tendo acontecido em um período relativamente curto, deixou um legado bastante promissor na cultura brasileira. Palavras-chave: Movimentos contraculturais. Contracultura no Brasil. Tropicalismo. Censura no Brasil. ABSTRACT From the moment that challenges the dominant culture, the thought that form, beyond the customs, beliefs and conventions that form around can be called counterculture. So we tried to show the main of the countercultural movements in Brazil and how he resisted the censorship during the military regime. As a method used to document research in various documents, in order to pursue the relationship between censorship exercised at the time of Brazil's military dictatorship and its consequences on the production of tropicália movement. Reached the conclusion that even appearing in a troubled period, there was, in the Brazil influences of countercultural movements, especially in tropicália movement that has even happened in a relatively short period, left a promising legacy in Brazilian culture. Keywords: Countercultural movements. Counterculture in Brazil. Tropicalism. Censorship in Brazil. 1 INTRODUÇÃO 91 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A Tropicália foi um movimento que influenciou a cultura brasileira dos anos 1960 e durou por um breve período. Com suas experimentações artísticas e sua postura política sobre o que acontecia na sociedade da época, ela ainda faz-se presente em nosso cotidiano, sendo um dos fatores que contribuíram para que alguns aspectos da sociedade chegassem ao que são atualmente. Também foi um dos representantes dos movimentos contraculturais na sociedade brasileira. Assim, por conta de sua relevância na história cultural brasileira resolvemos mostrar como a Tropicália atuava, mesmo com toda a censura durante a ditadura militar. Em um primeiro momento mostraremos algumas ideias sobre contracultura. Pretendemos com este tópico contribuir para a melhor compreensão da atmosfera desse período histórico, trazendo questões para o enriquecimento da discussão, mas sem pretender estabelecer conclusões ou abordar todos os grandes nomes, mas sim os autores que recentemente expuseram novos olhares sobre a área. Alguns pontos da cultura hippie também serão abordados de forma sucinta, assim como a identificação de alguns dos aspectos vividos na época para sinalizar de que forma estes podem ter contribuído para o nascimento das contraculturas. Logo após voltamos nosso olhar para o Brasil, onde buscamos mostrar o que poderia haver de contracultura no país na década de 1960, onde falamos sobre o surgimento do movimento tropicália e de suas características principais. Dentro dessa sessão é feita uma breve contextualização, enfatizando a forma de governo do Brasil na época e alguns métodos utilizados para a manutenção do governo, focando em como era executada a censura dentro do regime militar. 2 CONTRACULTURA: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES A Guerra do Vietnã foi um dos principais alvos dos grupos que surgiam com postura crítica ao comportamento do governo americano. Feijó (2009) destaca bem essa relação entre a guerra e a contracultura, que foi o nome que recebeu a rebelião de jovens na segunda metade da década de 1960, formada principalmente jovens universitários norteamericanos de classe média que se recusavam a cumprir serviço militar em função da Guerra do Vietnã. Buscando uma vida alternativa, também criavam uma nova música e negavam uma sociedade de alta tecnologia e sociedade de consumo correspondente (FEIJÓ, 2009, p. 4). Assim, a contracultura pode ser definida com uma forma de ver e de viver o mundo diferente 92 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 da cultura tradicional, ou cultura dominante ou cultura vigente, “é uma inversão de formas e de valores culturais” (MAIA, [s. d.], p. 29). Porém, vale lembrar que esses grupos criticavam não só essa postura dos governantes americanos, mas todo e qualquer costume da sociedade capitalista, como o consumo, o trabalho, as instituições, as relações, o comportamento diante do sexo e das drogas, etc. “Variando entre o desbunde e formas mais especificamente politizadas, criticavam de uma maneira geral o autoritarismo e os valores burgueses” (CARVALHO, 2009, p. 36). Em síntese, era contra o establishment, que designa as classes dominantes que exercem poder sobre as relações políticas, econômicas e culturais presentes numa sociedade. A contracultura também foi um movimento sociocultural, que tinha como objetivo um estilo de vida antimaterialista questionando os valores vigentes e propondo um abandono as tradições do capitalismo (SOSSMEIER, PARIZOTTO, 2013, p. 2-3). O movimento hippie foi um dos principais expoentes desse comportamento contestador diante da cultura ocidental. Um dos marcos desse movimento foi o festival de Woodstock, de 1969, onde durante três dias ocorreram diversos shows de rock e muitas das ideias pregadas pelo movimento eram seguidas. A forma como o evento apresentou músicas, drogas, sexo livre, cenas de nudismo e rock'n'roll o caracterizou como um confronto ao establishment, afinal opositores ao movimento eram conservadores, com costumes e valores tradicionais (SOSSMEIER, PARIZOTTO, 2013, p. 6). Observando esse comportamento hippie podemos trazer outra característica dos movimentos contraculturais dessa época. A contracultura se apresentava como uma nova forma de ver o mundo, de uma forma diferente de qualquer visão predominante na época, onde tanto as ideias cotidianas individuais quanto as ideias coletivas eram criticadas de forma direta. Finalizando, podemos notar isso no pensamento de Lungaretti ao dizer que o amor livre, a convivência harmoniosa, o culto à natureza, o visual desarrumado, a substituição de laços familiares por comunidades e o desprezo às regras e aos valores da sociedade são características da contracultura, características essas que os jovens da época absorveram e tornaram estilo de vida (LUNGARETTI, 2009). Esse estilo contestador e diferenciado dos movimentos contraculturais chegou ao Brasil durante um período ímpar da história do país, que vivia um de seus momentos mais obscuros. Nesse contexto, a censura foi um dos principais “adversários” da contracultura do Brasil. 93 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 3 A CENSURA NO BRASIL DURANTE O REGIME MILITAR “Censura (…) é o instrumento utilizado para a manutenção de uma ideologia e, consequentemente, do próprio regime em vigor, o que explica o fato de a censura investir contra o que ‘não está politicamente correto’” (OTAVIANO et al., 2000, p. 60). Assim podemos notar que em um regime de governo de caráter claramente autoritário a censura é um dos instrumentos mais utilizados para sua continuidade. A censura foi um instrumento bastante utilizado durante o governo militar que ocorreu no Brasil na década entre os anos de 1964 e 1985, sendo mais intenso no início, onde “os militares precisavam garantir sua legalidade e a imagem de um bom governo, que não tortura, nem tampouco aplica medidas repressivas” (SAMWAYS, p. 3). Como afirma Chartier (1990), era uma “luta de representações” onde há a vontade de impor, mesmo que usando a força, uma concepção do mundo social. No início do regime, com a implantação de medidas ditatoriais, o novo governo buscou suprimir a liberdade de seus opositores políticos, quando ao implantar o Ato Institucional nº1 (AI-1) que dava ao presidente amplos direitos, dentre os quais estava o de cassar direitos políticos. Dessa forma o regime podia governar sem que oposição política fosse contra suas decisões. Além disso, com o Ato Institucional nº 5 (AI-5), - considerado um golpe dentro do golpe - as produções culturais e da imprensa passaram a sofrer censura prévia e muitos produtores, jornalistas, intelectuais e artistas em geral passaram a sofrer perseguição, dentre outros tipos de coerção. A justificativa dos militares era a de que estavam zelando pela moral e pelos bons costumes da família brasileira. E assim o governo veiculava notícias de acordo com seus interesses, mostrando propagandas que objetivavam criar a imagem de um país que estava se desenvolvendo com um povo que o apoiava incondicionalmente. Um dos órgãos que realizavam ou que presidiam essas ações de censura era a Divisão de Censura de Diversões Públicas (DCDP), responsável pela regulamentação da produção de livros, peças, músicas entre outras expressões artísticas. Aliado a ele também existia o Serviço Nacional de Informações (SNI). Criado em 13 de junho de 1964 tinha sedes em vários estados do país e tinhas como objetivo produzir e controlar todo e qualquer tipo de informação sobre o país. Ela foi criada dentro do contexto da Doutrina de Segurança Nacional que visava salvaguardar o país das ameaças internas. Para combater um inimigo desconhecido, porque se disfarçava de cidadão comum, e localização não definida, porque se espalhava em todos os lugares, tornou-se fundamental erigir uma estrutura de informação e repressão que permitisse alcançar 94 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 os objetivos nacionais definidos por quem governava o Estado de Segurança Nacional. (ANGELO, 2012, p. 4). 4 O MOVIMENTO TROPICÁLIA O tropicalismo ou movimento tropicália foi uma maneira nova de se abordar determinados aspectos culturais no Brasil. Tendo início na segunda metade dos anos 1960 “foi um movimento cultural (...) que, usando deboche, irreverência e improvisação, revolucionou a música popular brasileira, que antes se restringia basicamente à bossa nova” (DUARTE e FIALHO, 2012, p.11). “O nome foi extraído por Caetano Veloso de uma instalação do artista plástico Hélio Oiticica, participante ativo da consolidação do movimento, (...) que foi inspirada na tese antropofágica da Semana de Arte Moderna de 1922” (VINIL, 2008, p. 86). Segundo Dunn (2009, p.18) “o movimento fazia referência ao clima tropical do Brasil que, ao longo da história, tem sido exaltado por gerar uma exuberante abundância, ou deplorado por impedir o desenvolvimento econômico na linha das sociedades de climas temperados”. Nesse sentido, o mesmo autor fala do modo provocador como o movimento abordava essa característica do clima brasileiro, sendo exagerada até certo ponto, de modo a relacioná-lo ao clima de violência política e miséria social (p.19). Situando de forma breve o tropicalismo, os anos 1960 foram marcados, no campo político, pelo início de um governo ditatorial após a tomada do poder por meio de um golpe organizado pelos militares em 1964. Esse golpe trouxe mudanças drásticas em vários aspectos da vida dos brasileiros. Através do controle dos meios de comunicação, os governantes passaram a controlar toda e qualquer produção cultural da época, impedindo a divulgação e a comercialização de músicas, filmes, peças de teatro, livros, etc. O governo viu surgir muitos movimentos de oposição, principalmente da esquerda, que se contrapunham ao regime. Dentre as formas pelas quais esse movimento de esquerda mostrava seu descontentamento estavam as produções culturais. Toda e qualquer produção, de acordo com os movimentos culturais de esquerda, deveria ser feita de forma que criticasse o regime de forma direta, o que fazia com que os próprios grupos que compartilhassem essa ideia apresentassem comportamento ofensvo em relação a produções desvinculadas de críticas ao regime. O movimento da Jovem Guarda, do mesmo período, era um dos alvos das críticas do movimento de esquerda, já que, tendo influências do rock angloamericano que vinha se desenvolvendo na época, retratava em suas músicas coisas do cotidiano, sem qualquer engajamento político. 95 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Nesse contexto, com a repressão do governo em todos os aspectos da vida cotidiana de um lado e a pressão dos movimentos de esquerda para que se faça arte com a crítica direta de outro, surge o tropicalismo. Cláudio Coelho nos dá uma noção desse campo ao afirmar que “O tropicalismo construiu uma versão alternativa das relações entre cultura e política, disputando com a esquerda no seu próprio terreno; o que explica a reação explosiva da esquerda frente à produção tropicalista, e a não menos explosiva resposta a essa reação” (COELHO, 1989, p. 163). Vemos então que o movimento tropicália já surgiu em um ambiente conturbado, onde “discussões sobre o papel que cabia ao artista em relação a movimentos políticos e sociais progressistas orientaram grande parte da produção cultural durante esse período” (DUNN, 2009, p. 58). Heloísa Buarque de Holanda (1992) cita a diferença em relação ao modo crítico do movimento, já que este, indo no sentido contrário ao dos movimentos de esquerda, atuava em atitudes e comportamento individuais, de forma semelhante aos discursos da contracultura. Tendo como principais nomes Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Gal Costa, entre outros, o movimento teve grande visibilidade no III Festival de Música Popular Brasileira, em 1967. Nesse festival Caetano Veloso apresentou a música “Alegria, alegria”, onde, fazendo relações entre elementos da globalização com elementos locais, nos mostra um pouco a percepção da época e um dos objetivos do movimento, que buscava trazer um “som universal”. Caetano classificou sua música em quarto lugar. Contra as tendências da Bossa Nova, cada vez mais dominada pela esquerda nacionalista, “o grupo baiano e seus colaboradores procuram universalizar a linguagem da MPB, incorporando elementos da cultura jovem mundial, como o rock, a psicodelia” (OLIVEIRA). Ainda no III Festival de MPB, Gilberto Gil apresentou a música “Domingo no parque”, que foi a vice-campeã, ficando atrás de “Ponteio” de Edu Lobo. O tropicalismo surgiu como um movimento que buscava a inovação na estética e na concepção de arte na década de 1960. Através da relação entre o moderno e o arcaico “o tropicalismo apreendeu uma dimensão fundamental da sociedade brasileira, (...) retomando, assim, um caminho aberto pelos modernistas da década de 20 (Mário de Andrade e Oswald de Andrade, principalmente).” (COELHO, 1989, p. 166), sendo essa uma das principais características e diferenças do movimento tropicalista em relação ao movimento cultural da época, já que este era nacionalista, enquanto que o tropicalismo afirmava que não se pode fazer cultura sem que se leve em conta as influências da sociedade. Nesse caso, já que a sociedade brasileira era influenciada pela cultura internacional, a produção cultural também 96 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 teria de ter essa influência: “Para os artistas tropicalistas uma produção cultural que pretenda representar no plano artístico a sociedade brasileira não pode deixar de incorporar os elementos estrangeiros que esta mesma sociedade incorpora” (COELHO, p. 1989, p. 162). Assim trazendo instrumentos como a guitarra elétrica – novidade aqui no Brasil na época – e unindo-os com instrumentos “nacionais” houve uma verdadeira revolução na música brasileira. Tomando emprestado um dos princípios do Modernismo, a Tropicália também considerava que o país “deixaria de apenas importar e passivamente consumir a cultura dos países dominantes; passaria a ser um exportador de cultura” (DUNN, 2009, p. 30). A mudança não ocorreu somente na forma, mas também no conteúdo, já que foram criadas composições com elementos até então pouco populares, onde as letras eram bem diferentes, com palavras em outros idiomas e assuntos nem tão abordados - pelo menos não da mesma maneira. “As canções tropicalistas falavam da ‘realidade brasileira’, tão reclamada pela esquerda, mas ofereciam uma visão diferente dessa realidade, utilizando, como a jovem guarda, formas artísticas consideradas descaracterizadoras da cultura brasileira” (COELHO, 1989 p. 161). Outro ponto era o modo como eram dispostas as palavras nas letras de algumas composições. Aqui fica clara influência da poesia concretista onde mais do que o conteúdo das letras, a forma, o desenho que a disposição das palavras formava era importante. É possível perceber também que o movimento Tropicália, assim como a cultura hippie, “dariam ímpeto a atitudes, estilos e discursos da contracultura emergente no que se referia a raça, sexo, sexualidade e liberdade pessoal” (DUNN, 2009, p. 20) contrastando com a esquerda tradicional que sempre trazia a bandeira da coletividade. No tropicalismo – e na cultura hippie - até mesmo a família era tida como uma instituição repressora. “A Nova Esquerda aliava-se aos hippies e palmilhava um estilo de revolução que não buscava o confronto, mas novos padrões de vida” (SHCMIDT, 2001, p. 25). Segundo Fialho e Duarte o tropicalismo foi o movimento mais relacionado aos hippies que ocorreu no Brasil. Dentre os pontos em comum entre os dois movimentos podemos abordar alguns como a música e a política, mas também o comportamento (como, por exemplo, os mais variados movimentos estudantis), a moral, o sexo e o modo de se vestir (FIALHO e DUARTE 2012, p. 11). Mesmo assim, todos esses aspectos não encobriam a postura crítica do movimento, que mostrava nas suas letras a insatisfação com o que o Brasil vivia na época. De acordo com Dunn (2009, p. 190), “os tropicalistas foram relativamente menos afetados pela censura, em grande parte porque sua música em geral não era associada ao protesto político. 97 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Mesmo assim, tanto Gil como Caetano compuseram músicas que criticavam o regime, depois de voltar do exílio no início dos anos 70”. Mas ainda que não tenha sido o principal alvo da censura na época, houve, por parte dos participantes do movimento, atuação no sentido de mostrar que deveria haver sim o mínimo de lucidez pra perceber as mudanças pelas quais o Brasil passava na época. O fato de haver certa preferência pelas questões culturais - mais do que as políticas - não fez o movimento se tornar apenas um grito alienado dentro do contexto repressor do país. 5 METODOLOGIA Para a realização deste trabalho usou-se a pesquisa bibliográfica em artigos, livros, jornais da época, na discografia dos artistas citados – Caetano Veloso, Chico Buarque, Os mutantes, Tom Zé – para a elaboração de uma revisão de literatura que abrangesse o escopo do objetivo apresentado no início do trabalho. Para tal fim buscou-se o auxílio de autores renomados dentro do campo de pesquisa que corroborassem com a visão apresentada, em especial autores que tratam das relações entre censores, censura e livre expressão na época da ditadura. 6 CONCLUSÃO Assim podemos ver que, apesar de parecer distante no tempo, os movimentos contraculturais continuam a estender suas sombras sobre o pensamento atual, aparecendo em citações sobre o período ou como influência artística em composições de artistas da atualidade. E mesmo sendo algo pontual, que não foi nem é divulgado pelas mídias não se pode negar a importância que tais movimentos e ideias tiveram para que se formasse o pensamento vigente com seus ideais de liberdade e experimentação, além da vontade de inovar e do pensamento criativo que foi elevado a um novo patamar. Mesmo que o tropicalismo não tenha sido um movimento tão sólido no início e nem tenha perdurado firmemente por um período longo, durou o suficiente para marcar sua presença na música nacional e internacional como um movimento singular, original e único. Nascido durante um período bastante conturbado da história nacional, como foi citado anteriormente, vemos o quão resistente à perseguição e a repressão foram as ideias, o quão importante foram seus expoentes como um veículo de antirepressão, porta-vozes da sociedade 98 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 e também arautos de um novo dia que chegaria, o dia em que a ditadura não mais existiria e poder-se-ia ter voz, não uma meia voz ou uma voz enviesada como era concedida a eles através da censura. Apesar do movimento não ter continuado com a sua produção intrínseca depois da abertura política, o tropicalismo foi e a ainda é um dos marcos da cultura e da contracultura brasileira, marcando não somente uma geração mas deixando um legado e uma cultura que nunca será esquecida, tendo como principal herança a coragem para falar sobre temas que não agradam ao status quo. Através da análise das origens da ideologia que regia o movimento tropicalismo e a cultura hippie notamos que eles ainda continuam presente através de sua ideologia e valores no mundo atual. REFERÊNCIAS ANGELO, Vitor Amorim de. Ditadura militar, esquerda armada e memória social do Brasil. In: Brasa Congress, 11., Illinois. Anais... Illinois: University of Illinois at Urbana-Champaign, 2012. Disponível em: <http://www.brasa.org/wordpress/Documents/BRASA_XI/VitorAngelo.pdf> Acesso em: 11 abr. 2015. BUARQUE DE HOLANDA, Heloísa. Impressões de viagem: CPC, vanguarda e desbunde 1960/70 . 5. ed. 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Philips 829498, s.d. 100 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 ______. Mutantes (1968). Philips 835886, s.d. TROPICÁLIA, ou panis et circensis (1968). Philips 512089, 1993. TROPICÁLIA 30 anos. Natasha 289122, 1997. VELOSO, C. Caetano Veloso (1968) Philips 838557, 1990. ______. Caetano Veloso (1969) Philips 838556, 1990. VELOSO, C. e GIL, G. Tropicália 2. Philips 518187, 1993. ZÉ, T. Tom Zé (1968). Sony 495712, 2000. ______. Tom Zé (1970). KGB 34760007, 1994. 101 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 POLÍTICAS PÚBLICAS: uma reflexão sobre os equipamentos de apoio às mulheres vítimas de violência GT 2 modalidade (oral) SILVA, Maria de Fátima Sales Moreira26 LIMA, Priscila Correia de27 SILVA, Marciana Siqueira da28 SILVA, Joselina da29 RESUMO As vítimas de violência doméstica e familiar contam hoje com o apoio do Estado constituindo uma rede de proteção que contribui com a representação de seus direitos e garantias. Muitas dessas ações têm permitido que este tema deixe de ser invisível. Assim, políticas públicas voltam-se a buscar erradicar este problema que já toma ares de epidemia, em diferentes pontos do país, seja nas áreas rurais ou urbanas. Considerando o número crescente de mulheres vitimadas, anunciadas na mídia e pelos órgãos competentes, vimos desenvolvendo entre 2012 a 2013, a pesquisa Os equipamentos públicos de apoio às mulheres vítimas de violência no Cariri cearense, cujo objetivo principal é constituir um mapeamento dos equipamentos jurídicos e institucionais que atuem no apoio às mulheres vítimas de violência, no sul do Estado do Ceará. Este trabalho norteia-se por uma revisão bibliográfica, análise dos dados relativos à violência na região, bem como de entrevistas com gestores (as), nos órgãos pesquisados. Até o momento, visitamos o Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Juazeiro do Norte, Centro Regional de Referência da Mulher – CRRM, Centro de Referência Especializada da Assistência Social - CREAS, Conselho Municipal de Defesa da Mulher – COMDEM. Esta é uma pesquisa em andamento no âmbito do N’BLAC (Núcleo Brasileiro, Latino Americano e Caribenho de Estudos em Relações Raciais, Gênero e Movimentos Sociais), da Universidade Federal do Cariri- UFCA. Palavras-chave: Políticas Públicas. Equipamentos públicos. Violência Doméstica e familiar. ABSTRACT Considering that the victims of domestic and family violence today rely on state support constitutes a safety net that contribute to the representation of their rights and guarantees. Many of these actions have allowed this problem no longer invisible. Thus, public policies are turning to search eradicate this problem already takes epidemic of air in different parts of the country, whether in rural or urban areas. Considering the increasing number of female Graduanda em Biblioteconomia (UFCA). E-mail: [email protected] Graduanda em Biblioteconomia (UFCA). E-mail: [email protected] 28 Graduanda em Biblioteconomia (UFC). E-mail: [email protected] 29 Socióloga, Professora adjunta da (UFCA). E-mail: [email protected] 26 27 102 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 victims, announced in the media and by the relevant authorities, we have been developing, research Public support facilities for women victims of violence in Ceará Cariri, whose main objective is to provide a mapping of legal and institutional equipment operating in support to women victims of violence in the south of Ceará. This work is guided by a literature review, analysis of data on violence in the region, as well as interviews granted by (the) managers (as), in the studied organs. Yet visited the Juvenile Court of Domestic and Family Violence Against Juazeiro woman, Regional Center for Women's Reference - CRRM, Specialized Reference Center for Social Assistance - CREAS, Municipal Council for the Defense of Women - COMDEM. This is an ongoing research within the N'BLAC (Brazilian Center, Latin American and Caribbean Studies in Race Relations, Gender and Social Movements), the Federal University of Cariri- UFCA. Keywords: Public politics. Public facilities. Domestic violence and family. 1 INTRODUÇÃO Além do medo, da vergonha, a falta de informação é um dos fatores que afeta o cotidiano das mulheres que compartilham do seu espaço de convivência com seus agressores, que na maioria das vezes são pessoas muito próximas. No entanto a luta pelos direitos da mulher é marcada por trajetórias de discriminação e intensas mobilizações, em 1993 em Viena com a realização da Conferência Mundial de Direitos, os direitos humanos das mulheres foram reconhecidos. O documento produzido naquela Conferência, a Declaração de Direitos Humanos de Viena reconheceu as formas de violência contra mulher. A falta de informação esta entre as dúvidas mas, frequentes na qual as vítimas se deparam tais como: quais os procedimentos feito para procurar a delegacia; quais as medidas que protegem as vítima de seu agressor; assistência financeira a vítima quando depende financeiramente do agressor; orientação sexual; necessidade de informação clara após a denúncia no caso de estrupo ou quando envolve menores. O acesso a informação é um direito que não pode ser negado a nenhum ser humano, tendo em vista que também é um direito resguardado pela Constituição Federal de 1988. O capítulo I da Constituição em se artigo 5 estabelece que: [...] todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. Nesse contexto, o acesso e uso da informação é a viga mestra que sustenta a esfera social. Há de convir que, as mulheres vítimas de algum tipo de violência possam não ter acesso à informação, as excluindo cada vez mais do processo de cidadania, tendo assim seus 103 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 direitos fragmentados, por outro lado a falta de informação contribui com que as vitimas não procurem atendimento nesses equipamentos. A Lei Maria da Penha, promulgada em 2006 colaborou para a criação de uma rede para o enfrentamento da violência contra mulher, na qual fazem parte as delegacias, Centros de Referência de Atendimento as mulheres, Institutos Médicos Legais, e as Varas da Mulher. No entanto, esses serviços prestados por esses equipamentos são passíveis ao despreparo das pessoas frente ao atendimento dessas mulheres, pela falta de humanização e entendimento dos tramites legais da Lei. Conforme Santos e Vieira (2011, p. 94) “Há necessidade de investigações que focalizem aspectos específicos do problema, como a disponibilidade de equipamentos sociais de apoio às mulheres em situação de violência”. Conhecer a organização e o funcionamento dos serviços disponíveis favorece a avaliação e monitoramento das políticas públicas e permite seu aprimoramento. Esse estudo tem como delimitação observar as ações e atribuições dos diversos aparatos oficiais de apoio às mulheres vitimadas por violências e residentes na Região do Cariri Cearense, mais precisamente nas cidades de Juazeiro do Norte. Nosso campo de observação se estrutura a partir da análise dos dados relativos à violência na região, disponibilizados pelos setores públicos de apoio às vitimadas. Voltamos-nos também para entrevistas cedidas pelos gestores em posições hierárquicas nos órgãos pesquisados. O Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher de Juazeiro do Norte, Centro Regional de Referência da Mulher – CRRM, Centro de Referência Especializada da Assistência Social - CREAS, Conselho Municipal de Defesa da Mulher – COMDEM. Esta é uma pesquisa em andamento no âmbito do N’BLAC (Núcleo Brasileiro, Latino Americano e Caribenho de Estudos em Relações Raciais, Gênero e Movimentos Sociais), da Universidade Federal do Cariri- UFCA. O Núcleo foi formado no segundo semestre de 2006, no âmbito do Curso de Biblioteconomia no campus da UFC no Cariri, hoje Universidade Federal do Cariri (UFCA). O N’BLAC refere-se a um espaço acadêmico que estuda as relações raciais e suas interações com gênero, educação, culturas, identidades, desigualdades sociais, políticas públicas e movimentos sociais. Visando promover e estimular pesquisas e produções acadêmicas ampliadas sobre a população afro descendente e sua participação social, política e cultural. Contribuindo com a formação de pesquisadores nos diversos níveis. Conta com colaboração dos alunos do curso de Biblioteconomia, Administração e Filosofia e tem desenvolvido estudos a partir das seguintes linhas de pesquisas: a) Relações Raciais; 104 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 b) Gênero; c) Movimentos Sociais; d) Religiões Afro- Brasileira. Nas áreas de pesquisa, capacitação, comunicação, documentação, publicação e monitoramento e avaliação de políticas públicas sobre a coordenação geral da Dra. Joselina da Silva e a Vice coordenadora Maria Cleide Rodrigues Bernardino. Nesse contexto o N’BLAC desenvolve as seguintes pesquisas: a) A construção da identidade: um olhar sobre os estudantes negros do curso de Biblioteconomia (UFC -campus cariri): nesta pesquisa tem sido abordadas as questões pertinentes à construção da identidade etnicorracial no âmbito do curso de graduação em Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará, Campus do Cariri. A análise da pesquisa permiti constatar como se desenvolve o cotidiano das relações raciais, desse contingente de alunos o tratamento adotado pela universidade com relação aos mesmos; b) Preservação e conservação: arquivo dos Jornais da Imprensa Negra do N'BLAC (Núcleo Brasileiro, Latino Americano e Caribenho de Estudos em Relações Raciais, Gênero e Movimentos Sociais): nesta pesquisa é analisado a preservação documental dos jornais, ressaltando os temas memória e identidade. Análise é realizada através do acervo em tela que compõe-se, até o momento, de dois mil e cem exemplares de jornais publicados entre a primeira década do século XX (Jornal O Menelick/1916 e Jornal A Pérola/ 1916) e os anos noventa do mesmo século (Jornal dos Cultos AfroBrasileiros / 1994); c) As falas das mulheres negras do Cariri Cearense: um olhar voltado para a preservação de suas memórias: vem sendo realizada uma pesquisa com mulheres negras cearenses com o objetivo de mostrar que diferente da frase do senso comum “no Ceará não tem negro” as entrevistadas traçam, através de suas memórias, a instituição de histórias e culturas de bases africanas no Estado, nos permitindo buscar o reencontro de uma memória coletiva afrodescendente; d) Os equipamentos públicos de apoio às mulheres vítimas de violência, no Cariri que consiste no mapeamento dos equipamentos jurídicos e institucionais que atuem no apoio às mulheres vítimas de violência. Este artigo é produto de discussões sobre esses equipamentos, especificamente em Juazeiro do Norte. O processo de construção da pesquisa tem nos guiado em perguntas iniciais tais como: Quando foram criados estes aparatos públicos? O que deflagrou seu surgimento? Que ações 105 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 vêm desenvolvendo? Qual a estatística de casos atendidos? Qual o perfil de violências mais recorrentes, na região? Qual o perfil das mulheres atendidas? O órgão conta com estrutura apropriada para o desempenho de suas funções precípuas? Há um treinamento e formação específica dos seus agentes quanto ao atendimento ao público? Diante destes e outros indicadores estabelecidos a partir destas formulações, vimos desenvolvendo quadros analíticos que possibilitam perceber o âmago daquelas instituições e o seu desempenho mediante ao público para o qual foi criado. Referimo-nos às mulheres vítimas de violência. A escolha da temática em questão se da justamente na aproximação do Curso de Biblioteconomia com a pesquisa desenvolvida no espaço do NBLAC. Para tanto se faz necessário compreender às temáticas sociais no curso, pois, é preciso perceber as mudanças, e lançar olhares sob o contexto da informação na sociedade, buscando relacionar de que maneira ela contribui para o entendimento e fortalecimento do cidadão, e como possa estimula a cidadania da mulher. Com base na problemática se estabelece como Objetivo Geral discutir sobre Políticas Públicas para mulheres vítimas de violência. Com base no objetivo geral temos os seguintes Objetivos específicos. a) Descrever o histórico de funcionamento Órgãos Públicos da cidade de Juazeiro do Norte responsável pelo acolhimento de mulheres vítimas de violência; b) Realizar entrevista com os responsáveis por esses aparatos. 2 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER: ANALISE SOBRE O TEMA Em 1994 a Assembleia geral da convenção de Belém do Pará define o conceito de violência contra a mulher, adotado pelo OEA como sendo “Qualquer ato ou conduta baseada no gênero, que cause morte, dano ou sofrimento físico, sexual ou psicológico à mulher, tanto na esfera pública ou privada” (art. 1º, parágrafo único). Segundo Teles e Melo (2003), a violência contra a mulher é pouco comovente porque é por demais banalizados, tratado como algo que faz parte da vida, tão natural que se pode imaginar a vida sem sua existência. Por acreditar-se que a violência é um fenômeno natural, algumas mulheres ainda permanecem silenciadas perante o ato de violência dos seus companheiros. Os filhos, situação econômica, ameaças partidas do agressor e a ausência de uma rede de apoio eficaz no que se refere à saúde, moradia, escola e equipamento de justiça e policial. Também são fatores que contribuem ou muitas vezes justificar a razão pelas quais as mulheres permanecem em violência. 106 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Dia a dia se tem visto falar em violência contra a mulher como algo comum. Ainda se ouve falar em cultura machista, como se a violência fosse apenas pratica cultural. Mulheres brasileiras de classes sociais diferentes estão sendo mortas. A falta de políticas publicas tem ajudado o número de casos de mulheres violentadas. O que influencia na sensibilização dessas mulheres. Porém o que ocorre, é a falta de informação para essas mulheres. Elas não sabem como agir e nem aonde ir caso precisem de ajuda. O Fato mostra claro quando o número de mulheres violentadas aumentou, em todos os tipos de violência que causam danos físico, sofrimento psicológico, morte e abuso sexual. Salientamos ser necessário apresentar os tipos de violências e identificar cada uma. a) Violência psicológica: É todo dano que causa a autoestima, ou mesmo o poder de desenvolvimento psicológico da vítima; - Isolamento de amigos e parentes; - Ameaças; - Humilhação; - Exploração; b) Violência física: Ocorre quando um dos membros do relacionamento tenta ter posse do outro e pra isso age de violência física; - Empurrões; - Tapas; - Castigo severo; - Beliscões; - Puxão de cabelo; c) Violência sexual: Todo e qualquer ato físico forçado, sejam mesmo o beijos, caricias, toques ou mesmo o ato sexual. - Estupro dentro do casamento ou mesmo no namoro; - Estupro cometido por estranhos; - Investidas indesejadas, assédio sexual; - Abusos com crianças, idosos, ou pessoas incapazes mental e fisicamente; - Prostituição forçada e trafico com fins de prostituição. 107 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 3 POLÍTICAS PÚBLICAS: UM BREVE RECORTE SOBRE OS EQUIPAMENTOS PÚBLICOS DE APOIO ÀS VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA EM JUAZEIRO DO NORTE CRRM A equipe de atendimento do Centro Regional de Referência da Mulher – CRRM consta com a psicóloga, advogada, assistente social, guarda municipal, recepcionista, um motorista e a coordenadora que é responsável pela administração do local. Antes o CRRM estava localizado no bairro Tiradentes e recentemente com a troca dos membros do governo, é inaugurada a nova sede do Equipamento na Rua Santa Luzia. De acordo com a psicóloga, na entrevista realizada no dia 24 de maio de 2013, o processo de pesquisa da escolha do local segue uma norma técnica sendo feita e estabelecida pela secretaria de políticas públicas para mulheres, vinculadas ao governo federal, nessa norma está presente à política de manter o sigilo no atendimento e também da proibição da entrada de homens no local. Os meios de encaminhamento das vítimas até o centro ocorrem através do CRAS, CREAS, DEAM, Núcleo Pró-mulher, delegacia, postos de saúde, indicação de amigas ou por conta própria. O equipamento é destinado às mulheres em situação de violência, seja ela psicológica, física, sexual, patrimonial e moral, com um atendimento em pleno sigilo. São objetivos específicos desse Centro: a) Prevenir e informar a mulher sobre todos seus direitos, para que reflita sobre sua atitude de denunciar o agressor; b) Desenvolver atividades que auxilie na busca reconstruir a autoestima das vítimas, reavivando nessas mulheres a condição de ser protagonistas de sua própria estória; c) Encaminhamento da vítima até os serviços, sendo assim assistente social menciona que o primeiro passo é identificar a necessidade da mulher. Se vítima está desempregada, não tem nenhuma renda e a escolaridade; d) Fortalecer a rede de atendimento às mulheres vítimas de violência seja ela física, psicológica, sexual, patrimonial ou moral. Contudo, para se alcançar esses objetivos, a equipe do CRRM ainda tem certas dificuldades para desenvolver a oficina. Muitas vezes, falta material e espaço para os filhos menores da vítima. E segundo a assistente social, os serviços não conseguem atender a mulher de forma integral, pois depende muitas vezes da vontade da vítima. Tal exemplo, citado pela entrevistada fala que às vezes encaminha a vítima à delegacia e ela não quer ir ou nem 108 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 procura o serviço. Ela confirma isso porque o centro possui o contra retorno que identifica se a mulher foi realmente procurar o serviço encaminhado. Tem casos de mulheres que desistem. Destacamos que o processo da escolha da equipe do CRRM é realizado pela diretora do departamento. Elas ainda revelam que não tiveram nenhuma capacitação de imediato, foram se aperfeiçoando ao longo do trabalho. 4 JUIZADO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA A MULHER Criado a partir do ano de 2007 o Juizado de Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher atende a princípio as três maiores cidades do Cariri: Barbalha, Crato, e Juazeiro. A equipe de atendimento para competências legais é composta de um Juiz, um defensor público e um promotor de justiça que atuam nas medidas legais e penais do direito, visam garantir e assegurar o direito da mulher apoiados na lei Maria da Penha disponibilizam orientação jurídica as vítimas. De acordo com o chefe de secretaria o atendimento e os tramites legais só podem ser efetivados depois que a vítima prestar depoimento na delegacia. Em seguida são tomadas as providências cabíveis e medidas protetivas legais. Muitas das vítimas que Juizado recebe, apresentam um estado emocional abalado. Muitas falam que o maior medo é de acabar sendo morta, pois muitos desses agressores são usuários de droga. A equipe multidisciplinar também trabalha no sentido lúdico, para isso o Juizado conta com uma área reservada (sala lúdica) mais está permanece desativada. Segundo a psicóloga, já foram enviados vários ofícios à secretaria da justiça, visando equipar a sala para o acolhimento das crianças vítimas da violência, mais ainda permanece sem prazo estipulado para funcionamento. O juizado recebe muitos casos de violência sexual ocorridas entre o companheiro, como também infantil. Casos delicados necessitam de uma abordagem diferente, uma maior dedicação no sentido em que a vítima possa discorrer o ocorrido sem maiores traumas, sem causar grande transtorno psicológico. Os casos mais graves são encaminhados para o setor de psicologia da Faculdade Leão Sampaio e o CRRM (Centro Regional de Referência da Mulher). Mas, não acontece o acompanhamento da vítima até esses locais. A equipe multidisciplinar também trabalha no sentido de conhecer o ambiente familiar que se encontra a vítima. Logo após essas abordagens, que consistem na verificação do espaço de convívio, é elaborado um parecer do perfil da vítima e do agressor que será anexado junto ao processo. O trabalho da equipe baseia-se no estudo social do caso. 109 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Vale ressaltar que nem todos os casos que chegam ao Juizado são acompanhados. Esses variam de acordo com a demanda acatada pelo Juiz. 4.1 Creas Centro de Referência Especializada da Assistência Social- CREAS, consta com equipe multidisciplinar, formada por três assistentes sociais, psicopedagoga, quatro educadores, duas psicólogas, auxiliar de serviços gerais, recepcionista, motorista e o advogado. No âmbito doméstico, os filhos também passam junto com a vítima pela situação de violência, sendo assim necessita-se de uma atenção especializada. O foco principal desse equipamento é o acesso da família a direitos sócio assistenciais, por meio de recursos e capacidade de proteção. O CREAS desenvolve o sistema de acompanhamento toda semana com essas vítima. Assim, tal como o CRRM, também é feita a visita domiciliar junto com os integrantes do equipamento. Também desenvolve projetos no sentido de ofertar curso com auxílio do instrutor. O CREAS atende à mulheres da zona urbana e zona rural. Houve meses que o CREAS já atendeu mais de 400 famílias. O publico alvo geralmente é de Famílias extremamente pobres. Mais isso não implica que as outras mulheres de classe média ou alta estejam fora do problema. Os Bairros: Frei Damião, Triângulo e João Cabral, são os que o CREAS recebe com frequência famílias que estão passando por violência Doméstica. 4.2 Condem De acordo com a coordenadora do Conselho de Defesa da Mulher (CONDEM) se viu a necessidade de instalação desse conselho devido ao grande número de mulheres que são violentadas na cidade de Juazeiro do Norte. Afirma que o CONDEM surge através da visão de defender os direitos da mulher e servir como referência aos outros municípios da região. São objetivos específicos desse Conselho: a) Discutir, elaborar, reivindicar e fiscalizar políticas públicas relativas aos direitos da mulher; b) Fiscalizar o cumprimento de leis federais, estaduais e municipais que atendam aos interesses das mulheres; c) Promover a defesa dos direitos da mulher, eliminar as discriminações e promover a plena integração na vida socioeconômica, política e cultural. 110 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Dentre esses objetivos, salientamos que para tentar diminuir a incidência de violência. A entrevistada afirma que a implantação de uma casa de apoio às mulheres vitima de violência no município de Juazeiro do Norte, seria um grande avanço para a redes que oferecem apoio essas mulheres vítimas de violência doméstica e familiar. Contudo, ainda existem barreiras na instalação dessa casa de apoio. Uma vez que se pensa é que a casa de apoio não pode ser Município, a mesma precisaria a ser Regionalizada. Explica-nos que Juazeiro do Norte é uma cidade Polo. E ainda acrescenta que há uma dificuldade muito grande por parte dos gestores. 5 METODOLOGIA Através da Pesquisa Bibliográfica buscamos contextualizar o tema sobre violência de gênero e violência doméstica. Foi realizada uma Pesquisa Explicativa que têm como preocupação identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos. Assim, a pesquisa sobre os equipamentos de apoio as mulheres vítimas de violência no Cariri buscou explicar por meio do Núcleo Brasileiro, Latino Americano e Caribenho de Estudos em Relações Raciais, Gênero e Movimentos Sociais, da Universidade Federal do Cariri- UFCA, como esses equipamentos estão constituídos na cidade de Juazeiro do Norte. 5.1 Métodos de coleta Paralelamente temos voltado nossos analises para os novos aspectos legais que circundam a temática analisada na pesquisa em tela. Para se conhecer esses aparatos realizamos entrevistas nos órgãos públicos voltados à defesa e proteção às mulheres vitimadas, localizados na cidade de Juazeiro do Norte Ceará. Gil (2008, p. 116) afirma que a entrevista é uma das técnicas, mas utilizadas no âmbito das ciências sociais. Esse método foi fundamental para nossa investigação, pois, possibilitou maior aproximação com o objeto que estávamos pesquisando, como também flexibilidade nas perguntas caracterizando a entrevista como focalizada. A entrevista focalizada requer grande habilidade do pesquisador, que deve respeitar o foco de interesse temático (GIL, 2008), para que se atingisse um desempenho satisfatório do respondente, permitíamos que o entrevistado falasse livremente sobre o assunto. 6 CONCLUSÃO Dessa forma, a análise sobre esses equipamentos nos permite perceber que as Políticas Públicas só alcançaram seus objetivos mediante planejamento e diagnóstico do problema a ser 111 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 enfrentado, nesse caso, a Violência Contra Mulher. Assim, faz-se necessário discutir sobre essa temática tão presente em nossa sociedade, seja nas áreas rurais ou urbanas. Dada à complexidade da temática abordada salientamos ainda ser preciso a reestruturação, e o fortalecimento da rede de amparo a essas mulheres, porque além da violência, ainda prevalece à falta de informação, a maioria desses equipamentos de proteção à mulher são de difícil localização, as linhas de ônibus não passam próximos a esses locais, e a grande maioria se encontra com os contatos telefônicos desatualizados. O problema, que ainda ressaltamos ser preocupante, é a ausência em nosso município de iniciativas públicas na construção de casa de apoio às vitimadas. Bem como questões que ainda prevalecem, como o escasso número de funcionários habilitados ao desenvolvimento das funções às quais foram designados. Percebemos também ausência de estrutura física adequada e infraestrutura de equipamentos (móveis, computadores, arquivos, entre outros) para o efetivo desempenho da função a que se destina. Porém, cada uma destas ausências estruturais não se aplica a todos os órgãos. 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TELES, Maria Amélia de Almeida; MELO, Mônica de. O que é Violência contra a Mulher. São Paulo: Brasiliense, 2003. Núcleo Brasileiro, Latino Americano e Caribenho de estudos em relações raciais, gênero e movimentos sociais. Juazeiro do Norte: [2009?]. Disponível em: 112 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 < http://admpublica.cariri.ufc.br/index.php?option=com_content&view=article&id=48&Itemi d=61> acesso em 8 de abril de 2015. 113 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A ATUAÇÃO PROFISSIONAL DO BIBLIOTECÁRIO DURANTE A DITADURA MILITAR: Uma reflexão sobre o ambiente político do período ditatorial (1964-1985) e sua influência no fazer desse profissional. GT 2 (ARTIGO) MATOS, Laiana Abreu30 RESUMO O presente artigo visou abordar a aplicação do regime ditatorial de 1964-1985, a atuação desta prática no contexto histórico nacional e o perfil do bibliotecário durante esse período. Salientou os objetivos da censura, a sua aplicabilidade no ambiente da biblioteca e centros de informação, o caráter repressor e faccioso que repercutiu em todas as federações nacionais. O controle da liberdade fomentou uma série de fatores prejudiciais para a sociedade, bem como o prejuízo a formação intelectual do civil e a disseminação da informação na sua totalidade. A especificidade do trabalho foi analisar como o ambiente político da ditadura militar influenciou no fazer profissional do bibliotecário no período 1964-1985. A abordagem da função do bibliotecário apresentou características relevantes do fazer profissional desse e trouxe uma reflexão sobre o papel social do bibliotecário. Focalizaram-se ainda as mudanças que ocorreram na área da informação, nesse período, decorrentes da militância dos ditadores. Foi constatada por autores diversos que a ditadura interferiu na produção intelectual e no acesso a informação, assim o bibliotecário teve que reconstruir uma nova política para a biblioteca, no intuito de reintegrar a sociedade e a informação sem atingir os princípios que regiam a política nacional da época. Palavras-chave: Ditadura militar. Censura. Biblioteconomia. Profissional bibliotecário. ABSTRACT The present article aims to approach the application of the dictatorial regime of 1964-1985, its performance in the nation's historical context and the profile of the librarian during that time. Moreove r, it also seeks to point out the goals of the censorship, its applicability to the library environment and information centres and its oppressiveness and factitious character, which reverberated in all the states of the nation. The control of liberty fomented a series of harmful factors to our society, as well as hindered the process of the citizen's intellectual growth and the dissemination of information in its totality. The specificity of this article is, therefore, to assess how the the dictatorship political environment influenced the work of the librarian from 1964 to 1985. The approach of the librarian's function presented relevant information about such professional and serves to raise reflections about their role to society. In addition, the changes that occurred in information sectors at the above mentioned period of time as consequence of the dictatorship have also been brought into focus. It has been noted by various authors that the dictatorial regime interfered with the intellectual production 30 Graduanda de Bacharelado em Biblioteconomia pela UESPI. E-mail: [email protected] 114 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 and, also, with the access to information itself, which led the librarian to rebuild a new policy system to the the library, in order to reintegrate society and information without hindering the principles that ruled national policy at the time. Keywords: Dictatorship. Censorship. Librarian. 1 INTRODUÇÃO Para a produção do presente artigo, inicialmente, houve a preocupação e a curiosidade de entender como atuou o bibliotecário durante a ditadura militar, esse momento de grande significância para a história da nação brasileira. Igualmente, essa pesquisa desejou complementar as fontes de informação para usuários e comunidade que buscam conhecer a história da biblioteca num passado recente. Coube oportunizar, assim, como instigou aos interessados de que esta é uma relevante oportunidade de contemplar a riqueza do tema, pois – na medida em que isso acontece – existem possibilidades de (re)pensar sobre aquilo que o homem já fez, mas também se tem uma maneira curiosa, mesmo que seja pela completa diferença: debater os valores sociopolíticos e questionar as inquietações que perpetuaram durante o período ditatorial no Brasil. Cabe lembrar que em março de 2014 completaram-se 50 anos do fim da ditadura militar no Brasil e diante dos trabalhos e livros estudados, congressos, espaços de debate e simpósios surgiu, então, o interesse para a execução da pesquisa no campo da biblioteconomia brasileira e sua relação com a ditadura, no que se refere a atuação do profissional bibliotecário durante o período militar no país, tendo em vista a amplitude do assunto. 2 A DITADURA NO BRASIL Tratando-se da história do Brasil, em 1964 ocorreu um golpe militar que inicialmente trouxe a derrubada do governo de João Goulart e, a partir disso, instaurou-se, em solo brasileiro, uma ditadura que teria duração de aproximadamente vinte e um anos, ou seja, de 1964 a 1985. De acordo com Wasserman (2004, p. 27) “[...] a despeito de ter sido desfechado em nome da segurança nacional e da promessa de defesa e respeito às normas democráticas, o golpe militar de 1964 inaugurou um período de insegurança e arbítrio”. Os três primeiros anos da gestão de João Goulart, quer dizer, de 1962 a 1964, foram marcados por um veloz crescimento das lutas de camadas populares. 115 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Por intermédio dessa ação golpista de meados da década de 1960, um regime de autoritarismo foi estabelecido objetivando a contenção do avanço das forças sociais que, por sua vez, representavam uma ameaça à reprodução do sistema econômico da época. “[...]Tal regime desejava promover as condições necessárias para uma nova e extensa expansão econômica e capitalista[...]”(WASSERMAN, 2004). Em todo o tempo em que a ditadura esteve à frente da administração do país, cinco generais – com nomeação recebida pelo alto comando dos militares – se alternaram no governo da nação brasileira. Esse período iniciou-se com o general Humberto de Alencar Castello Branco e, com o general João Baptista de Figueiredo, ocorreu sua finalização. Segundo Silva (1985, p. 6), [...] durante todo esse tempo os comandos militares executaram as tarefas preconizadas pela doutrina que seguiam. “Houve a limpeza da área” com a cassação de mandatos parlamentares e, depois a dissolução dos partidos políticos, ensejando uma reformulação partidária sob medida com o calçado manietante dos antigos chineses, no bipartidarismo bifurcado na Arena e no MDB; no expurgo, nas Forças Armadas, afastando sem condenação, desde os soldados e marinheiros até generais, almirantes e brigadeiros que não concordaram com o golpe; na edição dos Atos Institucionais (os AIs) e Atos Complementares (os ACs) constituindo uma legislação de emergência casuística, de acordo com a conveniência do momento de quem mandava. Tumultuada a política interna, a política econômica geraria o caos. Aos fatos mencionados por Silva (1985), somam-se ainda os crimes executados pela ditadura, tais como: as violências e as torturas (física, verbal, emocional e institucional) e os múltiplos assassinatos. Ao longo dos vinte anos de regime, muito da criatividade humana brasileira se perdeu, a saber: a contribuição da intelectualidade, assim como a produção cultural, a produção no campo artístico, o movimento estudantil e, por último, a possibilidade de levar a sociedade a uma profunda transformação identitária, em outras palavras, uma sociedade mais desenvolvida. Enfim, todas as tentativas de melhoramento foram totalmente reprimidas com o aparelho estatal. A ditadura, em pouco mais de duas décadas, acertou em cheio no projeto de reforma, silenciou boa parte da intelectualidade brasileira, levou o movimento estudantil à desmoralização, sufocou as tentativas de uma nova estética artística na área teatral, cinematográfica e noutras esferas da cultura tupiniquim, suplantou a imprensa politicamente engajada e, de modo grave, oprimiu o projeto educacional e de alfabetização denominado “pedagogia do oprimido” e “[...] atingiu com a morte certos movimentos – como o operário e o camponês[...]” (WASSERMAN, 2006, p. 60). 116 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O período militar legou uma herança de numerosos problemas para o país, tais problemas ainda refletem na atualidade, marcaram profundamente o cenário nacional. Soares (2004, p. 33) indica que, dentre os problemas primários, é possível visualizar: 1) o atraso no desenvolvimento das instituições democráticas; 2) o agravamento das desigualdades sociais decorrente do modelo de desenvolvimento posto em prática pela ditadura, fundado no arrocho salarial e na repressão em geral aos movimentos populares reivindicatórios; 3) a postergação do encaminhamento da solução dos problemas sociais básicos; 4) a colossal e aparentemente impagável dívida externa do país e a contrapartida desta, ou seja, a elevada dívida pública interna; e 5) duas “décadas perdidas” para o desenvolvimento da economia nacional, como resultado, em grande medida, desse endividamento. Assim, a ditadura militar no Brasil encerrou a sua participação de modo negativo em praticamente todos os setores da sociedade, principalmente o das massas trabalhadoras, cujas sequelas dos grandes sacrifícios políticos, sociais e econômicos estão presentes até hoje. 2.1 A Censura no país e na biblioteca. Durante o regime militar as bibliotecas foram alvos de inúmeros atos de censura, seus acervos foram radical e diretamente atingidos. Por vezes, determinados tipos de livros tornaram-se impedidos de circular nas sociedades, as editoras sofreram represálias diretas do regime militar. Segundo Vergueiro (1987, p. 21), “[...] as publicações de editoras consideradas de ‘esquerda’ pelo regime militar não eram adquiridas, no período de ditadura, por diversas bibliotecas municipais”. Ele ainda observa que: “[...] mesmo após o término ‘oficial’ da ditadura, pressões governamentais têm sido exercidas sobre bibliotecas para que as mesmas deixem de adquirir determinadas publicações” (VERGUEIRO, 1987, p. 21). Diante dos problemas que a nação brasileira enfrentou na década de 60, 70 e 80 do século XX e as vastas censuras impostas para todos os setores do conhecimento, surgiu então uma problemática que se tornou vetor de tal pesquisa. A partir desse questionamento, o presente estudo analisou como o ambiente político da ditadura militar influenciou no fazer profissional do bibliotecário no período 1964-1985. Assim: a) situou-se nas bibliografias existentes a relação entre biblioteconomia e a Ditadura Militar; b) investigou-se a influência do ambiente político para o profissional bibliotecário; c) ponderou-se sobre as implicações da relação golpe militar X biblioteconomia no período 1964- 1985. Alguns trabalhos já existentes contemplaram a intervenção militar nos setores políticos, culturais, educacionais, assim como a censura às editoras, bibliotecas e livros. Na investigação do material disponível, observou-se o escasso relato (ou mesmo uma lacuna) da atuação do bibliotecário na ditadura. Portanto, tal linha de pesquisa pretendeu construir uma análise destes protagonistas sobre olhos críticos, visando compreender como se deu o 117 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 processo histórico e político do profissional bibliotecário, bem como forneceu material relevante para acadêmicos e estudiosos em geral. A decisão de mesclar dois temas como ditadura e biblioteconomia, foi de suma contribuição para a consolidação da história da atuação do profissional bibliotecário, por fim oportunizou a realização de um trabalho capaz de condensar detalhes que por vezes não são enfatizados nos centros acadêmicos, mídia, livros e será uma fonte de informação de extrema dimensão. Durante esse regime, as bibliotecas foram alvos de inúmeros atos de censura, seus acervos foram radical e diretamente atingidos. Contextos sobre a restrição do acesso à informação, a liberdade do pensamento, trazem à tona, mais uma vez, a missão do bibliotecário na época do regime. O controle da liberdade fomentou uma série de fatores prejudiciais para a sociedade, bem como o prejuízo a formação intelectual do civil e a disseminação da informação na sua totalidade. A maioria dos ditadores autoritários utilizava a censura como forma de coibir a liberdade de expressão, opinião, limitação ou eliminação da sociedade opositora ao regime. Para Martins (2002, p. 384), “[...] o início da censura em nosso mundo é datado do ano de 399 a.C., isto é, com a condenação de Sócrates por haver negado a divindade dos deuses reconhecidos pelo estado”. Restrições eram feitas às publicações de caráter filosófico, científico, técnico ou didático, as que, naturalmente, excluídas à finalidade visada por lei: “Além destas, ficavam livres de verificação as que não versarem sobre assunto como sexo, moralidade, política e bons costumes”, (BRASIL, 1970, p. 212). O Bibliotecário teve que refazer a seleção das suas coleções devido ao medo. Na época um pequeno grupo militar controlava o político, social, econômico e cultural de toda uma sociedade. Portanto, as instituições que lidam com a cultura e a educação, como a biblioteca, por exemplo, são diretamente atingidas e os profissionais que nelas atuam, assumem uma atitude de “condescendência” com os modos de transmissão do saber ou censurar o que deve ser posto à mão do leitor. Conforme Leitão (2010), a atuação do profissional bibliotecário deve-se, entre outros fatores, a ser considerá-lo como guardião da memória documental do país. Durante o período ditatorial, os bibliotecários tiveram que tomar algumas decisões sobre o acervo da Biblioteca, em função da necessidade da informação de sua democratização. 3 METODOLOGIA Com a preocupação de compreender o tema em questão foi adotado como procedimento metodológico o método dedutivo, porque admite hipoteticamente que as 118 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 conclusões procedem necessariamente às premissas. Noutras palavras, sendo verdadeiras as premissas e o raciocínio dedutivo válido, resta à conclusão ser verdadeira. Portanto, inferimos que a abordagem dedutiva “parte de teorias e leis mais gerais para a ocorrência de fenômenos particulares” (HEERDT, 2014, p. 5). O presente artigo também teve como método a pesquisa histórica, porque “como vértice da pesquisa documental, têm como pressuposto de análise, a compreensão dos fenômenos históricos através dos acontecimentos passados” (MAIA et al., 2011, p. 141). Somente com uma análise acurada e imparcial sobre fatos registrados pela história é possível conhecer a essência, o contexto, os personagens, os sentimentos, as ideologias e os objetivos de eventos registrados bibliograficamente. Por tal motivo, essa pesquisa teve: Caráter exploratório, visto que envolve levantamento bibliográfico – objetivando maior familiaridade com o problema, ou seja, entre pesquisador e tema pesquisado. Para tanto, será preciso aperfeiçoar ideias, descobrir intuições e, seguidamente, construir hipóteses – dada a necessidade de conhecer um assunto pouco conhecido e/ou pouco explorado; Abordagem qualitativa que intenciona decodificar e revelar o significado dos fenômenos do mundo social, reduzindo – nessa perspectiva – a distância entre teoria e dados. Nesta abordagem a descrição tem um papel primordial, “pois é por meio dele que os dados são coletados” (MANNING apud NEVES, 1996, p.1). Os instrumentos de coletas de dados que foram utilizados: 1) levantamento bibliográfico – consiste numa relação das bibliografias existentes nos acervos das bibliotecas do sistema (livros, artigos de periódicos, dissertações, teses, folhetos) “que visa recolher informações baseando-se, geralmente, na inquisição de um grupo representativo da população em estudo” (AMARO, 2004, p.3). 119 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 3.1 CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO A pesquisa foi realizada de setembro de 2014 a abril de 2015 de acordo com o cronograma abaixo: ATIVIDADES MESES/ANO 2014/2015 Set. Out/ Nov. Dez. Jan. Abr. Formulação e escolha do tema Elaboração do projeto Levantamento bibliográfico Leitura das fontes Conclusão da pesquisa 4 CONCLUSÃO O trabalho foi elaborado a fim de esclarecer o controle do regime militar, as sérias sanções impostas pelos militares nas mais diversas camadas da sociedade e abordou como a censura fora imposta aos diversos ambientes informacionais em especial à biblioteca. Tratou como o bibliotecário estruturou suas ações ainda que de modo discreto e neutro, tendo em vista o receio, medo das implicações do regime imposto na época. O fato histórico, ditadura militar, não modificou tanto a rotina da biblioteca, mas o profissional bibliotecário, assim como qualquer outro profissional e civil que protagonizaram o golpe militar, e não se esquecendo do terror contextualizado pelo momento da ‘revolução’, 120 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 mantiveram algumas obras sigilosamente guardadas, escondidas assumindo assim um papel de guardião da memória. Não obstante, os ideais ditatoriais trouxeram prejuízos a sociedade e o processo da disseminação da informação, educação, arte e os respectivos profissionais tiveram que tomar medidas que não afetassem os militantes da ditadura, REFERÊNCIAS AMARO, Ana; PÓVOA, Andreia; MACEDO, Lúcia. A arte de fazer questionários. Disponível em:<http://www.unisc.br/portal/upload/com_arquivo/a_arte_de_fazer_questionario.pdf >. Acesso em: 12 nov. 2014. BRASIL. Ministério da Justiça. Decreto 1077. Revista do Livro, Rio de Janeiro, v.13, n.40, Enc. BIBLI: R. eletrônica de Bibl.Ci.Inform., Florianópolis, n. 20, jul/dez 2005, p.212, jan. 1970. HEERDT, Mauri Luiz. Procedimentos metodológicos. 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Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A BIBLIOTECA ESCOLAR COMO AGENTE INCENTIVADOR DA LEITURA: o caso dos alunos do Ensino Médio da Escola Pública Estadual Centro Profissionalizante Deputado Antonio Cabral (CPDAC) e a analise de seus hábitos de leitura GT 3 Práticas de transformação social: o profissional da informação como agente transformador Modalidade: Comunicação oral DUTRA, Andreza Rimar31 FERREIRA, Roselaine Gomes32 GUIMARÃES, Ana Cecília de Brito Valença33 LACERDA, Maria de Fátima Gomes34 RESUMO Ler proporciona ao indivíduo novas descobertas. Com a leitura o indivíduo passa a adquirir práticas e conhecimentos, modificando a sua percepção do mundo. A leitura é uma porta que abre passagem para diversos universos diferentes. Além da informação inicial a visão pessoal do leitor irá determinar novos pensamentos, irá criar diferentes interpretações, recriará ideias, ela dá significado à vida e ao papel de cada um diante a sociedade em que está inserido. A capacidade de ler do aluno, quando ele é ainda criança, está veiculada com a biblioteca e o bibliotecário escolar, fortalecendo o ensino do professor em sala de aula oferecendo ao estudante novas informações de forma dinâmica e criativa. O bibliotecário escolar tem um papel fundamental na formação intelectual do aluno. Para que se tenham resultados satisfatórios, quando se trata da formação de leitores na escola, é preciso que se tenha uma biblioteca escolar bem estruturada e um profissional bibliotecário capacitado. A biblioteca precisa sempre esta com o seu acervo atualizado para oferecer condições de trabalho para o profissional bibliotecário, fazendo com que ele cative e estimule os alunos a irem mais vezes na biblioteca, pois lá é o espaço de aquisição dos conhecimentos. O presente artigo apresentou a relação e o hábito de leitura desses estudantes do 1° e 3° ano do ensino médio da escola pública estadual CPDAC. Palavras-chave: Biblioteca Escolar. Leitura. Lei 12.244/10. Hábitos de leitura. CPDAC. ABSTRACT Read provides the individual with new discoveries. After reading the individual takes on practices and knowledge, changing its perception of the world. Reading is a door that opens through to the various different universes. In addition to the initial information of the reader's personal vision will determine new thoughts, will create different interpretations, re-create ideas, it gives meaning to life and the role of each on the society in which it appears. The ability to read the student when he is young, is conveyed with the library and the school librarian, strengthening education teacher in the classroom to the student offering new information dynamically and creatively. The school librarian has a key role in the intellectual 31 Graduanda em Biblioteconomia-UFPB - [email protected] Graduanda em Biblioteconomia - UFPB - [email protected] 33 Graduanda em Biblioteconomia - UFPB - [email protected] 34 Graduanda em Biblioteconomia - UFPB - [email protected] 32 124 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 formation of the student. In order to have satisfactory results when it comes to the formation of readers in school, it is necessary to have a well-structured school library and a trained librarian. The library must always this with your updated collection to offer working conditions for the professional librarian, causing it to captivate and encourage students to go more often in the library, for there is space for the acquisition of knowledge. This paper presents the relationship and the reading habits of the students of the 1st and 3rd year of high school the state school CPDAC. Keywords: School Library. Reading. Law 12,244 / 10. Reading habits. CPDAC. 1 INTRODUÇÃO A leitura é o que liga o indivíduo a educação de maneira eficiente, de forma integral. Os sistemas educacionais tem muita influência no que se refere aos hábitos de leitura e a forma de como esses hábitos são ampliados, a mesma deve ser independente do contexto escolar, como é citado por Martins, (1982, p. 27) "sem dúvida, a concepção que liga ao hábito de leitura apenas aos livros deve muita influência, persistente ao nosso sistema educacional." As formas de aprendizagem estão ligadas ao processo de globalização de cada individuo. O leitor conhece a si mesmo através do que ele ler e a forma de como ele faz suas leituras. Esse conhecimento só começa a ser observado quando forem estabelecidas relações de sua forma de leitura, que é complementado por Martins (1982, p. 30): O ato de ler se refere tanto a algo escrito quanto a outros tipos de expressões do fazer humano, caracterizando-se também como acontecimento histórico e estabelecendo uma relação igualmente histórica entre o leitor e o que é lido. O presente artigo tem por objetivo analisar os hábitos de leitura dos alunos do 1° e 3° ano do ensino médio no turno da manhã, que frequentam a biblioteca da escola do Centro Profissionalizante Deputado Antônio Cabral (CPDAC). E a partir dos dados a ser recolhido observar o hábito desses estudantes e sua percepção sobre a leitura. Além de demostrar alguns pontos sobre a leitura, sua pratica, a biblioteca escolar e o profissional bibliotecário, através da revisão de literatura. Justifica-se o trabalho com esse tema, devido sua importância na formação do cidadão e a necessidade de se trabalhar uma temática tão urgente. 2 A LEITURA E A PRÁTICA SOCIAL A definição de leitura de acordo com Silva (apud, ROSA, 2005) é “um ato de conhecimento, pois ler significa perceber e compreender as relações existentes no mundo.” A leitura é porta para a comunicação, dessa forma, se adquire novos conhecimentos, já que o mesmo é gerador de informações. De acordo com Martins (1982) o ato de ler está relacionado com a escrita, e o leitor em decodificar a leitura. 125 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O hábito de ler proporciona ao individuo novas descobertas, desenvolvendo assim, sua capacidade intelectual. O primeiro contato com a leitura é de fundamental importância para o futuro. Para Baptista, (2009, p. 19) “um país se faz com cidadãos e conhecimento”. O hábito é o suporte para a valorização do livro e consequentemente da biblioteca. Ainda sobre o hábito de ler Martins, (1982, p.33), nos relata que: "a leitura se realiza a partir do diálogo do leitor com o objeto lido - seja escrito, seja um gesto, uma imagem, um acontecimento." Com a leitura o indivíduo passa a adquirir práticas e conhecimentos, modificando a sua percepção do mundo e atuando com mudanças no seu meio. De acordo com Baptista, (2009, p.25) o hábito de leitura dá “condição ao aprimoramento intelectual do indivíduo, como também para o desenvolvimento coletivo da sociedade”. O ato de ler, não se resume apenas na decodificação de signos linguísticos, ele envolve toda a capacidade do individuo de compreender e criar novas informações a partir da primeira mensagem. Pela leitura é possível adquirir nova personalidade a partir da nova forma de interpretar o mundo. Freire (1989, p.9), nos revela que, a insistência na quantidade de leituras sem o devido adentramento nos textos a serem compreendidos, e não mecanicamente memorizados, revela uma visão mágica da palavra escrita. A leitura é um processo dinâmico, à medida que desenvolvemos nossas capacidades, acaba existindo uma interação entre o leitor e o objeto lido. Cada leitor tem suas técnicas de aprimorar seus conhecimentos. A releitura é uma técnica que a autora indica. Não se deve ficar limitado a um único formato de textos, é essencial a leitura de gêneros diversificados. Para os/as adolescentes o acesso à informação e a leitura se tornam essenciais para a formação do caráter desses indivíduos que transbordam curiosidade. Essa característica normal para a faixa etária é quem irá determinar as decisões a serem tomadas na vida adulta. Segundo Blank (2009, p.44): É fato para todos que a adolescência é uma fase caracterizada pelas transformações biológicas e comportamentais, e que é nesse período que o futuro adulto inicia suas escolhas: personalidade, desejos, profissão, matrimônio. Ainda sobre o processo do ato de ler Freire, (1989, p.11) nos revela que: Mas, é importante dizer, a “leitura” do meu mundo, que me foi sempre fundamental, não fez de mim um menino antecipado em homem, um racionalista de calças curtas. A curiosidade do menino não iria distorcer-se pelo simples fato de ser exercida, no que fui mais ajudado do que desajudado por meus pais. Dessa forma é preciso dar maior atenção e incentivo a leitura nas escolas e nas bibliotecas escolares. Principalmente nas fases posteriores a infância, onde os projetos ligados 126 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 à literatura diminuem sua constância. Descobrir possíveis equívocos das práticas de atividade de leitura na biblioteca escolar e propor novas práticas é aumentar, e dissipar, o acesso à informação e ao conhecimento. Martins (1982, p. 28) complementa que: [...] temos então mais um motivo para ampliar a noção de leitura. Vista num sentido amplo, independente do contexto escolar, e para além do texto escrito, permite compreender e valorizar melhor cada passo do aprendizado das coisas, da experiência. A leitura é um portal que abre passagem para diversos universos diferentes. Mas como abordado anteriormente, a percepção retirada de cada leitura vai depender da leitura mundo de cada individuo (FREIRE, 1989). Essa percepção vai variar de acordo com a visão global do mundo que o leitor está inserido. A partir da vivência pessoal a leitura irá adquirir uma função diferente do primeiro papel que ela indica. Além da informação inicial a visão pessoal do leitor irá determinar novos pensamentos, irá criar diferentes interpretações, recriará ideias. A escola, principal referência na alfabetização, tem um papel importante de gerar as primeiras tomadas de consciência perante o ato de ler. Porém, mesmo que o papel do educador seja imprescindível, é necessário desvencilhar a aprendizagem de um ato político, já que o papel desses é apenas de mediação (FREIRE, 1989). 3 A BIBLIOTECA ESCOLAR FORMANDO LEITORES É interessante saber que a palavra biblioteca tem sua origem nos termos gregos biblíon (livro) e theka(caixa), significando o móvel ou lugar onde se guardam livros. Foi no Egito que existiu, desde o século IV a.C., a mais célebre e grandiosa biblioteca da Antiguidade, a de Alexandria, que tinha como ambição reunir em um só lugar todo o conhecimento humano. Seu acervo era constituído de rolos de papiro manuscritos – aproximadamente 60 mil, contendo literatura grega, egípcia, assírias e babilônicas (PIMENTEL et al., 2007). No entanto, o conceito e as explicações para a palavra biblioteca vêm se transformando e se ajustando por meio da própria história das bibliotecas. Para Fonseca (1992, p. 60), um novo conceito “é o de biblioteca menos como coleção de livros e outros documentos, devidamente classificados e catalogados do que como assembléia de usuários da informação”. Isso quer dizer que as bibliotecas não devem ser vistas como simples depósitos de livros. Elas devem ter seu foco voltado para as pessoas no uso que essas fazem da informação oferecendo meios para que esta circule da forma mais dinâmica possível. A tipologia da biblioteca será de acordo com as funções que por elas serão desempenhadas, deste modo teremos bibliotecas infantis, especializadas, públicas, nacionais, 127 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 comunitárias, bibliotecas de centro cultural entre outras demais. Aqui nos aprofundaremos em especial nas bibliotecas escolares. Para Pimentel et al (2007, p. 23) a biblioteca escolar: Localiza-se em escolas e é organizada para integrar-se com a sala de aula e no desenvolvimento do currículo escolar. Funciona como um centro de recursos educativos, integrado ao processo de ensino-aprendizagem, tendo como objetivo primordial desenvolver e fomentar a leitura e a informação. Poderá servir também como suporte para a comunidade em suas necessidades. Uma boa história alimenta a imaginação da criança, ajudando no seu desenvolvimento emocional, tornando-a mais criativa. O estímulo à leitura deve ter início ao longo de todas as etapas da escolaridade, e não apenas no ensino fundamental, onde há uma maior acomodação na realização exclusivamente da leitura de textos pedagógicos. Aprendendo a ler se aprende a escrever com menos dificuldades e aprimora o entendimento simples. A biblioteca da escola é um lugar ideal para se conhecer melhor os livros, tendo cesso há vários tipos de literatura poderão construir ideias e interagir com os colegas e professores. Existem vários tipos de leituras que devem ser utilizados no ambiente escolar, como a leitura em silêncio, em voz alta, individual, em dupla, para estudar, para memorizar, entre outras. Elas servem como exercício de aprendizado individual ou coletivo (VALLEJO; RIBEIRO, 2012). Para garantir uma boa leitura, o texto tem que ser algo interessante, que dê prazer, sem cobrança, pois alguns professores usam muito a literatura para discutir problemas e conflitos da obra, e ainda exige que o aluno faça ficha, resumo e depois de ler. O professor tem que garantir que os alunos sintam-se motivados a aprender com prazer e proporcionando conhecimento, aumento do vocabulário, abrindo horizontes e o entendimento da própria vida. A cobrança os dispersará, e tornará o processo de aprendizagem através da leitura difícil e massacrante. A leitura deve ser estimulada de modo positivo e prazeroso, no momento em que esse jovem já não se assustar mais com a quantidade de páginas do livro, ai pode-se afirmar que ele começa a adquirir ou adquiriu o hábito da leitura e é a partir desta percepção, que devem começar a surgir às cobranças em torno de seu aprendizado. A biblioteca escolar é um espaço social e proporciona mudanças na formação dos alunos quando se refere ao hábito de ler. Para Sousa (et al, 2011, p. 2) A leitura enquanto conceito ultrapassa a concepção estruturalista da linguagem e se apodera das condições sociais do homem, produto e produtor da cultura letrada. Dessa forma, ler vai além da decodificação dos signos escritos e se transforma em produto da interação entre o sujeito leitor e o texto. 128 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A leitura nos oferece uma série de possibilidades, desde busca de informações determinadas que possibilitem a solução de pequenos problemas do cotidiano até com teorias mirabolantes que podem mudar por completo o nosso entendimento sobre as coisas do mundo. Os profissionais da informação que atuam em bibliotecas escolares são coadjuvantes no processo de ensino - aprendizagem. Segundo, Silva et al, (2011, p. 1) "a biblioteca escolar foi criada para desenvolver o ensino formal, sendo de sua competência, grande parcela no desenvolvimento da capacidade de ler". O profissional bibliotecário precisa está sempre interagindo com os alunos e deixando um pouco de lado suas atividades técnicas, mostrando o seu papel de educador para seus usuários enriquecendo a cultura dos alunos. Trabalhando dessa forma alcançarão resultados satisfatórios para o crescimento intelectual dos estudantes, aplicando suas ideias de como ver o mundo incentivando ainda mais o gosto pela leitura no ambiente escolar. Por isso é preciso que se tenham bibliotecários escolares capacitados para desenvolver essas atividades de incentivo. A capacidade de ler do aluno quando ele é ainda criança está veiculada com a biblioteca e o bibliotecário escolar, fortalecendo o ensino do professor em sala de aula oferecendo ao estudante novas informações de forma dinâmica e criativa. O bibliotecário escolar tem um papel fundamental na formação intelectual do aluno, também precisam trabalhar em conjunto com pais e professores que podem incentivar os estudantes a frequentarem mais a biblioteca vendo a mesma como meio de acesso a cultura e lazer. 4 O BIBLIOTECÁRIO ESCOLAR E A PRÁTICA DA LEITURA Para que se tenham resultados satisfatórios quando se trata da formação de leitores na escola é preciso que se tenha uma biblioteca escolar bem estruturada e um profissional bibliotecário capacitado para disseminar as informações de forma correta e também ser dinâmico para o incentivo a leitura tornando a mesma prazerosa levando o aluno a ter um senso crítico. Outras formas de incentivo é proporcionar ao aluno recursos fazendo com que ele se adapte as diversas formas de leitura não se prendendo apenas aos livros. Para SOUSA (et al, 2011, p.2) Uma biblioteca escolar bem estruturada e um profissional bibliotecário capacitado a direcionar o trabalho de disseminação da informação, de forma dinâmica e criativa, certamente favorecerão a obtenção de resultados satisfatórios quanto aos objetivos almejados para o desenvolvimento das práticas leitoras. A biblioteca escolar deve existir como um órgão de ação dinamizadora, de acordo com (SOUSA et al, 2011, p. 4) 129 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A biblioteca escolar tem grande responsabilidade e influencia quando oferece aos alunos novas atividades no incentivo a leitura, podemos citar, por exemplo, a hora do conto, que estabelece uma nova maneira de despertar a imaginação das crianças desenvolvendo sua criticidade e criatividade, auxiliando na inserção ao universo da literatura. As atividades de contação de histórias oferecem aos alunos momentos prazerosos, chamando a atenção para o interesse de novas leituras, além de proporcionar uma ocupação sadia das horas vagas, enriquecimento do vocabulário, facilidade de expressão, aperfeiçoamento da linguagem e da capacidade de atenção, adquirindo novos conhecimentos e orientação do pensamento. A biblioteca precisa sempre esta com o seu acervo atualizado para oferecer condições de trabalho para o profissional bibliotecário, fazendo com que ele cative e estimule os alunos a irem mais vezes na biblioteca, pois lá é o espaço de aquisição dos conhecimentos. Sousa (et al, 2011, p.7) nos relata que "a biblioteca escolar aliada ao bibliotecário estabelece meios que guiam no processo educacional e no enriquecimento cultural dos alunos, transformando suas vidas em diferentes aspectos junto a sociedade." A presença da família junto a sociedade é de extrema importância para a formação de crianças e jovens leitores e para o crescimento da leitura em diferentes aspectos, mesmo assim a biblioteca e a escola tem por obrigação despertar a educação produtiva na vida intelectual do aluno. 5 METODOLOGIA A metodologia segundo Demo (1980, p. 7) "significa, etimologicamente, o estudo de caminhos, dos instrumentos usados para fazer ciência. É uma disciplina instrumental, a serviço da pesquisa". Subtende-se, portanto, que os processos metodológicos utilizados no presente artigo se direcionam ao hábito de leitura dos estudantes de uma biblioteca escolar, tendo como finalidade um modelo DESCRITIVO para obter resultados. Foram aplicados questionários coletando algumas informações dos alunos sendo estes 7 do 1° ano do ensino médio e 13 do 3° ano do ensino médio, totalizando 20 estudantes. Tratando-se de uma abordagem QUALITATIVA, onde foi aplicado um questionário com 8 questões, sendo 7 fechadas e 1 aberta. Em seguida está o modelo do questionário. APLICAÇÃO DE QUESTIONÁRIO 1) Idade 2) Sexo 3) Qual tipo de publicação você utiliza para leitura? [ ] jornais [ ] revistas [ ] livros [ ] gibis [ ] internet 4) Com que frequência você lê? [ ] todos os dias [ ] uma vez por semana [ ] uma vez por mês [ ] raramente [ ] nunca 5) Que tipo de assunto gosta de ler? 130 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 [ ] educação [ ] notícias [ ] músicas [ ] esportes [ ] novelas [ ] informática [ ] festas [ ] sexualidade [ ] outros 6) Quantas vezes visita a biblioteca? [ ] quase todos os dias [ ] uma vez por semana [ ] uma vez por mês [ ] raramente [ ] nunca 7) Quantos livros você lê por mês? [ ] nenhum [ ] 1 [ ] 2 a 5 [ ] mais de 5 8) O que a leitura significa pra você? 5.1 Campo da pesquisa O campo da pesquisa foram às salas de aula do Centro Profissionalizante Deputado Antonio Cabral CPDAC, que fica localizada na Rua Maria Ângela, No bairro do Valentina Figueiredo I. Situada na cidade de João Pessoa no estado da Paraíba, e os sujeitos da pesquisa os alunos do 1° e 3° ano do ensino médio, no turno da manhã. A escola, fundada em 1989, teve três anos depois, em 1992, a inauguração da biblioteca que tem por nome, até hoje, de biblioteca Augusto dos Anjos. Buscamos atentar para os dois extremos do ensino médio, para obter dados mais comparativos. 6 RESULTADOS Responderam ao questionário jovens estudantes da faixa etária entre 14 a 18 anos, que cursam o 1° e o 3° ano do ensino médio. Foram 4 alunos, de 18 anos (20%), 4 alunos, de 17 anos (20%), 6 alunos, de 16 anos (30%), 5 alunos, de 15 anos(25%) e 1 aluno, de 14 anos (5%), sendo desses 7 alunos, do 1º ano (35%) e 13 alunos, do 3° ano (65%), sendo o total dos entrevistados; 13 meninas (65%) e 7 meninos (35%), totalizando 20 estudantes (100%), identificamos, assim, os resultados das questoês 1 e 2. A terceira pergunta do questionário aplicado, foi relacionada ao tipo de publicação utilizado frequentemente pelos estudantes para ler. Foi verificado que os estudantes costumam utilizar a internet, seguido dos livros para praticar o hábito da leitura. A terceira publicação mais utilizada é o jornal. Como podemos observar no gráfico 1, a seguir: GRÁFICO 1 - Tipo de publicação utilizada para leitura 131 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Fonte: Dados da Pesquisa, 2015. Apesar do grande número de preferência pela plataforma da internet, os estudantes também admitiram utilizar o livro como meio de publicação para praticar a leitura. Observa-se então, que mesmo estando sobre a suposta difusão da internet e maior acessibilidade diante o século, os estudantes ainda praticam e cultivam o costume de utilizar os livros para ler. A quarta pergunta do questionário dirigi-se ao aluno questionando a frequência, que o mesmo pratica a leitura. Foi verificado que a maioria dos alunos costuma ler todos os dias, correspondendo a 60% dos entrevistados. Também foi observado, que, os alunos do 3° ano leem mais, com 40% do total que leem todos os dias, do que os alunos do 1° ano, com apenas 20%. Teoricamente aumenta-se o hábito da leitura com a proximidade do vestibular. GRÁFICO 2 – Frequência de Leitura Fonte: Dados da Pesquisa, 2015. Relacionado com a quinta questão, foi observado que o tipo de assunto preferido dos estudantes é músicas seguido de notícias. Tanto no público feminino quanto no masculino, a música é o assunto preferido. Como todos os entrevistados se encontram na adolescência, fica clara a forte influência que a música exerce nos hábitos destes. GRÁFICO 3 – Tipo de Leitura 132 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Fonte: Dados da Pesquisa, 2015. Na segunda e a terceira posições, as preferências dos alunos estão em notícias e educação, o que demonstra o interesse pela atualização e o conhecimento que a leitura desses assuntos, teoricamente, proporciona. O sexto questionamento foi relacionado ao hábito dos alunos em frequentar a biblioteca Augusto dos Anjos. Constatamos que os alunos, na maioria dos entrevistados, frequentam a biblioteca raramente. Em segundo, a opção de nunca visitar a biblioteca. Isso demonstra o papel secundário que a biblioteca escolar tem exercido no incentivo a leitura desses alunos. As práticas realizadas pela mesma não oferecem atrativos aos jovens usuários, afastando a utilização e o incentivo ao uso da biblioteca, que é de fundamental importância para a adesão do hábito de leitura frequente e perdurável. Esse fator, também nos atenta ao fato do espaço da biblioteca, não ser um local que atenda aos interesses dos estudantes, ferindo a real responsabilidade da biblioteca escolar e do bibliotecário escolar em fomentar o hábito de leitura, interagir com os estudantes e ser coadjuvante no papel de ensinoaprendizagem na formação desses jovens. GRÁFICO 4 – Frequência de visitas à biblioteca Augusto dos Anjos Fonte: Dados da Pesquisa, 2015. 133 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A sétima questão, foi sobre a quantidade de leitura praticada pelos alunos, utilizamos o periodo mensal para medir as suas práticas. Em sua maioria, os estudantes admitem ler apenas 1 livro por mês. Em empate está a leitura de nenhum livro, e, de 2 a 5 livros lidos por mês. O 3º ano apresenta mais estudantes que leem, de 2 a 5 livros por mês (20%) comparado ao 1° ano (5%). Isso iguala com o dado apresentado anteriormente em que os alunos do 3º ano leem mais que os alunos do 1° ano. Comparado também ao sexo, as meninas costumam ler mais (25%) que os meninos (15%), no dado de 1 livro por mês. E isso se confirma no dado de 2 a 5 livros por mês, onde as meninas também transpõem lendo mais (20%) que os meninos (5%). GRÁFICO 5 – Frequência de visitas à biblioteca Augusto dos Anjos Fonte: Dados da Pesquisa, 2015. A análise da última questão, baseada no significado da leitura para esses estudantes, teve como resultado a ligação do hábito com a aprendizagem, 50% dos entrevistados disseram ter a leitura como principal agente para o aprendizado, sociabilizando o ato de aprender com o acesso ao conhecimento e a informação. Não houve em nenhum dos casos a associação de leitura a algum aspecto negativo, como algo sem significado produtivo. Porém apenas 20% dos entrevistados associaram a leitura como hobby ou diversão. Mesmo reconhecendo a importância de ler, muitos citaram no questionário o fato de “não ler muito”. Mais uma vez observa-se a falta de incentivos ao hábito. 7 CONSIDERAÇÕES A CERCA DESTE ESTUDO A referente pesquisa permitiu a análise superficial dos estudantes do ensino médio da escola CPDAC. Aceitamos como satisfatório a metodologia utilizada para a pesquisa e obtenção dos dados. Como resultado, observou-se que a maioria dos estudantes possui o hábito de leitura diário. Costumam ler no formato oferecido pela internet, preferem assuntos 134 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 relacionados à música, raramente frequentam a biblioteca e leem 1 livro por mês. Quanto ao hábito de leitura, para 10 dos 20 alunos entrevistados a leitura é sinônimo de aprendizagem. Citando várias vezes a necessidade da mesma para o acesso ao conhecimento e a informação. Observou-se também, que alunos do 3° ano e entrevistados do sexo feminino, desenvolvem mais o hábito de ler. O presente artigo possibilitou o conhecimento dos hábitos de leitura dos alunos da escola CPDAC que tem como referencial a biblioteca escolar Augusto dos Anjos situada no bairro de Valentina Figueiredo I, na cidade de João Pessoa, no estado da Paraíba, apresentando a realidade desse limite. REFERÊNCIAS BAPTISTA, Dulce Maria. Entre a informação e o sonho: o espaço da biblioteca contemporânea. Informação e Sociedade: Est., João Pessoa, v.19, n.1, p. 19-27, jan./abr. 2009. Disponível em: <http://repositorio.unb.br/bitstream/10482/13193/1/ARTIGO_ EntreInformacaoSonho.pdf > Acesso em: 13 jan. 2015. BEZERRA, Fabiana de Oliveira; SILVA, Alzira Karla Araújo da. 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Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 BIBLIOTECA ESCOLAR, PRESENTE! : o bibliotecário como agente de transformação social GT 03: Práticas de transformação social: o profissional da informação como agente transformador. Modalidade de trabalho: Comunicação oral. SILVA, Patrícia Santos35 LOUREIRO, Andressa Maria Rodrigues36 RESUMO Destaca a importância da biblioteca escolar enquanto suporte didático pedagógico, com enfoque no papel do bibliotecário dentro do contexto educacional. Apresenta um relato das rotinas e projetos realizados pela biblioteca Luzbel Pretti. Mostra como a biblioteca pode se transformar em espaço de aprendizagem e formação do usuário. Considera o bibliotecário um agente de transformação social. Defende a importância da execução de atividades que integrem o bibliotecário com a equipe docente. Propõe uma reflexão sobre a atuação educadora do bibliotecário. Conclui que a biblioteca escolar é um local que possibilita a ampliação de conhecimentos e o despertar do desenvolvimento intelectual tanto para alunos, como para toda a comunidade escolar. Palavras-chave: Biblioteca escolar. Práticas bibliotecárias. Papel do bibliotecário. ABSTRACT Highlights the importance of the school library as a pedagogical educational support, focusing on the librarian's role within the educational context. Gives an account of the routines and projects undertaken by the library Luzbel Pretti. Shows how the library can become learning space and user training. Does the librarian a social change agent. Advocates the importance of implementation of activities that include the librarian with the teaching staff. Proposes a reflection on the educational role of the librarian. Concludes that the school library is a place that allows the expansion of knowledge and the awakening of intellectual development for both students and for the whole school community. Keywords: School library. Library practices. Role of the librarian. 1 INTRODUÇÃO Dentre as funções que a biblioteca escolar possui, uma delas é a função educativa, que atua como um instrumento de motivação ao conhecimento, à leitura, auxiliando na formação de hábitos e atitudes de manuseio do livro de demais produtos da informação. Também é um apoio fundamental ao corpo docente, possibilitando formar uma parceria de modo atender as necessidades do planejamento curricular. 35 36 Graduando (a) em Biblioteconomia pela UFES. E-mail: [email protected] Graduando (a) em Biblioteconomia pela UFES. E-mail: [email protected] 138 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Para Martucci (2005, p.185) “[...] a sociedade da informação é um fenômeno global com marcante dimensão social, em virtude do seu elevado potencial em promover a integração, reduzindo distâncias entre as pessoas e aumentando o seu nível de informação”. O artigo propõe destacar a importância da biblioteca escolar enquanto suporte didático pedagógico, com enfoque no papel do bibliotecário dentro do contexto escolar. Além de apresentar um relato das rotinas e projetos realizados no espaço da biblioteca. O artigo faz uma reflexão sobre como a biblioteca pode se integrar nas atividades da escola. 2 A BIBLIOTECA ESCOLAR Quando surgiram as primeiras bibliotecas, a preocupação inicial era a guarda, o armazenamento da informação e a preservação do acervo. Porém Moro (2011) relata que assim como a Pedagogia modificou seu foco e projetou o educando como o centro no processo de aprendizagem, a biblioteca escolar, que antes era voltada para o acervo, passou a centrar a sua ação no usuário. Sob este aspecto, a biblioteca deixa de atender a um público restrito e abre suas portas para a democratização do saber. De acordo com o Manifesto da UNESCO/IFLA (2005) sobre as bibliotecas escolares, a biblioteca escolar propicia informação e ideias que são fundamentais para o sucesso de seu funcionamento na sociedade atual, cada vez mais baseada na informação e no conhecimento. Desse modo, confirma-se a relevância da biblioteca no ambiente de ensino-aprendizagem, como beneficiadora da formação intelectual e cívica do aluno. A biblioteca anseia proporcionar novos conhecimentos aos alunos, auxiliando a equipe pedagógica e os professores, contribuindo assim para o aprendizado contínuo na relação sala de aula- biblioteca. 2.1 O papel do bibliotecário escolar O bibliotecário ao ingressar em uma biblioteca escolar assume uma grande responsabilidade, pois dependerá dele o sucesso ou não das ações realizadas dentro da biblioteca. Pois se ele tiver uma visão limitada sobre o conceito da educação, ele será um mero técnico administrativo a serviço da escola. Discordando disso, Caldin (2005, p.164) nos diz que O bibliotecário tem de largar seu papel passivo, de mero processador técnico de livros e desempenhar um papel ativo: agente de mudanças sociais. Tem de lembrar que é um educador, que uma das funções da biblioteca escolar é ensinar o aluno a pensar e, portanto, é sua função também ensinar os usuários a pensar, refletir e questionar os saberes registrados. Dudziak (2001) considera que o bibliotecário tem vivenciado o desafio de transformar a imagem da biblioteca escolar antes vista repositório de informações em espaços aprendestes, tornando-se assim um agente provocador de mudanças. Portanto, os profissionais não devem 139 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 ficar restritos somente aos conteúdos curriculares tradicionais, mas procurar praticar ações que contribuam para o processo educativo do educando. 2.2 A biblioteca Luzbel Pretti e o surgimento do profissional bibliotecário Segundo Fragoso (1994, p. 21) “[...] o processo educacional só acontece quando o sujeito da ação, o aluno, é trabalhado de maneira integral, sem divisões ou departamentos, e a biblioteca como organismo dinâmico é capaz de possibilitar esta integração [...]’’. Após realização de concurso público em Cariacica município do estado do Espírito Santo, a escola Luzbel Pretti recebeu pela primeira vez, em quase trinta anos de seu funcionamento, o primeiro profissional bibliotecário primeiro. Tal acontecimento proporcionou uma visão diferente do ambiente da biblioteca, antes vista somente como uma sala de guarda de livros. De acordo com o Projeto Político Pedagógico (PPP) da escola, o setor da biblioteca constituise para fins de: a) Realizar atividades de incentivo à leitura; b) Apoiar o processo de ensino-aprendizagem dos discentes; c) Estabelecer um vínculo com os alunos, na questão da utilização da biblioteca. Além destes serviços prestados, a bibliotecária elabora projetos de incentivo à leitura, sempre utilizando o espaço da biblioteca com a finalidade de transformá-lo em um ambiente de convivência social. Com a inserção das atividades da biblioteca no projeto pedagógico da escola, foi proporcionado um novo olhar sob o ambiente/espaço da biblioteca, caindo por terra o estigma de depósito de livros. A biblioteca tornou-se uma “biblioteca viva”. 2.3 Uma biblioteca viva: a participação da biblioteca no processo de aprendizagem Além de semanas de leitura, onde foram trabalhados alguns escritores brasileiros renomados como Monteiro Lobato e Vinícius de Moraes, a biblioteca também realizou outros projetos, como: a) Projeto “Dia do Livro Infanto-Juvenil” e “Dia Nacional da Literatura Infantil” Ressaltou a importância da data de 18 de abril para literatura brasileira e da literatura infanto juvenil internacional na vida escolar. Conhecer a mais famosa obra de Monteiro Lobato, o Sítio do Pica-Pau Amarelo e seus personagens, apresentar aos alunos o mundo maravilhoso desse nosso escritor e consequentemente despertar nos alunos a paixão pela leitura. O projeto teve a duração de uma semana com várias atividades como contação de histórias do Sítio do Pica-Pau Amarelo, sessão cinema, encenação teatral, recreio musical com Emília e confecção de máscaras. Toda a equipe escolar foi envolvida no projeto. 140 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 FOTOGRAFIA 1 – Dia do Livro Infanto-Juvenil Fonte: OLIVEIRA, 2014. Projeto “O meio ambiente e você tudo a ver” - O projeto teve como objetivo formar uma consciência cidadã junto aos alunos sobre a preservação e o cuidado com o meio ambiente. b) Projeto “Li e Gostei e Indico” - O projeto tinha como foco promover a leitura e incentivar a divulgação do acervo da biblioteca através dos livros lidos pelos alunos. Após ler um livro, o aluno deixava sua opinião sobre a obra e indicava a outros leitores. Esse projeto foi muito interessante, pois os alunos se tornaram verdadeiros críticos literários. Fotografia 2 – Projeto Li e Gostei e Indico Fonte: OLIVEIRA, 2014. c) Projeto “As borboletas” - O presente projeto foi promovido em parceria entre a biblioteca e a sala de aula, colaborando diretamente com o desenvolvimento de projetos dos professores. O projeto em questão foi trabalhado pela professora do 1º ano, onde a mesma trabalha a poesia “As Borboletas” de Vinicius de Moraes através da escrita, leitura, declamação, dramatização e da música. Fotografia 3-Projeto As borboletas 141 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Fonte: OLIVEIRA, 2014. Já na realização do projeto em comemoração ao “Dia da Emancipação do Município de Cariacica”, os alunos tiveram atividades relacionadas à história do município, assistiram vídeos na biblioteca e ouviram a história do personagem “João Bananeira”. Além disso, fizeram leitura do livro “Cariacica: nosso município” de Luiz Guilherme Santos Neves. E ao final confeccionaram máscaras e bonecos “João Bananeira”, personagem do carnaval de Congo de Roda D´água (localizada na região rural do município). Atualmente a bibliotecária está trabalhando com o projeto “Lendo na biblioteca”, que tem enfoque no letramento informacional. Ele consiste em aulas de leitura com data e horários pré-agendados na biblioteca. O material de apoio (fichas de leitura e livros) está ligado diretamente ao assunto o que o professor trabalha em sala de aula. O projeto “Lendo na biblioteca” é uma verdadeira ação no mais restrito uso da palavra, ele de fato ocasiona a verdadeira ação cultural descrita por Coelho (2001), pois interfere diretamente no modo de vida do indivíduo que vive a ação, neste caso o aluno, que apreende e exercita o ato de ler, confirmando o que Kuhlthau (2006, p. 19) defende: O programa de desenvolvimento de habilidades para usar a biblioteca e a informação deve integrar-se à proposta curricular da escola. A sequência de habilidades deve estar intimamente ligada aos conteúdos programáticos. É importante que as atividades desenvolvidas em sala de aula exijam que os alunos utilizem as habilidades para usar a biblioteca e a informação que estão adquirindo. A temática da ação cultural é de extrema importância porque ela é um tipo de iniciativa que pode mudar a realidade de um determinado lugar. Assim, “[...] define-se a ação cultural como o processo de criação ou organização das condições necessárias para que as pessoas e grupos inventem seus próprios fins no universo da cultura.” (COELHO, 1999, p.33). A ação cultural também pode gerar a transformação no processo educativo, o que possibilita uma troca de informações de interesse coletivo. Almeida (1987, p.33) diz que a ação cultural 142 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 [...] busca a expressão e a criatividade dos indivíduos no grupo e na comunidade. Está ligada à ideia de transformação, de emancipação a partir da expressão. Diz respeito não apenas a produtos culturais acabados, como também às condições que levam à capacidade criativa, à produção cultural. Relaciona-se por outro lado, ao processo de educação coletiva, no momento em que desenvolve atividades práticas e abre espaço para a troca de informações e a discussão sobre temas de interesse do grupo. O projeto surtiu um efeito maravilhoso, que ficou evidente quando a bibliotecária se dirigia até sala de aula para convidar um aluno para participar da “hora da leitura”, acontecia uma grande “disputa” entre os alunos para irem até a biblioteca. 3 METODOLOGIA Quanto aos objetivos propõe-se realizar um estudo exploratório. Para Gil (2009) a pesquisa exploratória visa proporcionar maior intimidade com o problema auxiliando na construção de hipóteses e no aprimoramento de ideias. Como técnica de pesquisa foi utilizada a observação, Marconi e Lakatos (2002) descrevem a observação como uma técnica que visa buscar informações através da utilização dos sentidos para examinar determinados aspectos da realidade. A modalidade de observação adotada foi a não participativa ou passiva, que de acordo com Marconi e Lakatos (2002, p.90) é onde “[...] o pesquisador toma contato com a comunidade, grupo ou realidade estudada, mas sem integrar-se a ela: permanece de fora. Presencia o fato, mas não participa dele; não se deixa envolver pelas situações; faz mais o papel de espectador [...]”. 4 CONCLUSÃO A parceria entre a biblioteca e a equipe pedagógica tem caminhado de modo positivo. A chegada de um profissional com formação especifica provocou um novo olhar para a biblioteca. A opinião dos alunos, professores e demais componentes da comunidade escolar acerca de como está o funcionamento da biblioteca demonstra que a leitura o acesso à informação passaram a ser uma realidade presente no cotidiano da EMEF Luzbel Pretti. Aquele conceito tradicional de que a biblioteca escolar é um depósito de livros ou participa apenas como apoio complementar ao programa de estudos está superado. Sua função passou a ser um centro de informação e cultura. É necessário que haja harmonia entre a biblioteca e a escola, para que juntas consigam alcançar objetivos reais. O aluno deve ser incentivado desde cedo a utilizar a biblioteca, na busca por fontes de informação que irão auxiliar na construção de conhecimentos. 143 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Conclui-se que as atividades possibilitaram aos alunos uma aquisição de conhecimentos interdisciplinares que contribuíram para sua formação educacional e sociocultural. Estas ações também contribuíram para uma mudança de paradigmas em relação à biblioteca e a imagem do bibliotecário. A biblioteca em um ambiente escolar é um local que possibilita a ampliação de conhecimentos e o despertar do desenvolvimento intelectual tanto para alunos, como para toda a comunidade escolar. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Maria Christina Barbosa. A ação cultural do bibliotecário: grandezas de um papel e limitações da prática. Revista Brasileira de Biblioteconomia e Documentação, São Paulo, v. 20, n. 1-4, p. 31-38, jan./dez. 1987. Disponível em: <http://www.brapci.ufpr.br/documento. php?dd0=0000002137&dd1=0e78e> Acesso em: 16 out. 2014. CALDIN, Clarice Fortkamp. Reflexões acerca do papel do bibliotecário de biblioteca escolar. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, v.10, n.2, p.163-168, 2005. Disponível em:< http://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/431>Acesso em: 20 mar.2015. COELHO, Francisco Teixeira. Dicionário crítico de política cultural: cultura e imaginário. 2. ed. São Paulo: Iluminuras, 1999. COELHO, Francisco Teixeira. O que é ação cultural. 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Álbum Vcoliver: Projetos Luzbel Pretti. 2014.1 álbum (80 fotos).color;formato JPEG. 145 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O ATO DA LEITURA NA COMPOSIÇÃO DA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO GT 3: Práticas de transformação social: o profissional da informação como agente transformador Modalidade: comunicação oral SILVA, Aderlou Oliveira da37 CARDOZO, Eliel Silva38 NEVES, Fernanda Fonseca39 NUNES, Maria Cléa40 RESUMO O ato da leitura na composição da sociedade da informação. Descreve como a literatura aborda a leitura de crianças, jovens e idosos na perspectiva de contribuir no incentivo, mediação e desenvolvimento desta habilidade tão significativa, encantadora, inquietante e às vezes dolorosa gerando adultos não leitores e alheios ao mundo. Ler e escrever são imprescindíveis a fim de garantir às gerações futuras o conhecimento do passado para o entendimento do futuro, a sua leitura do real não pode ser a repetição mecanicamente memorizada da nossa maneira de ler o real. A fundamentação da compreensão da leitura de mundo que todos nós construímos e carregamos conosco permanentemente, é testada e modificada constantemente em todas as interações com o mundo. É a fonte das previsões que nos possibilita encontrar sentido nos acontecimentos e na linguagem oral ou escrita. Palavras-chave: Leitura. Sociedade. Informação. ABSTRACT The act of reading the composition of the information society. Describes how the literature addresses the reading of children, young people and the elderly in order to contribute in encouraging, mediation and development of this skill so significant, charming, unsettling and sometimes painful not generating adult readers and oblivious to the world. Reading and writing are essential to ensure future generations the knowledge of the past to understand the future, his reading of the real can’t be repeated mechanically memorized the way we read the real. The basis of the reading comprehension of the world that we all carry with us constantly build and is constantly tested and modified in all interactions with the world. It is the source of predictions that enables us to find meaning in the events and in oral or written language. Keywords: Reading. Society. Information. 1 INTRODUÇÃO Os avanços tecnológicos têm modificado as relações sociais e em consequência colaborado para o acesso cada vez maior de informações. A sociedade em que vivemos 37 Graduando em Biblioteconomia pela UFMA. E-mail: [email protected] Graduando em Biblioteconomia pela UFMA. E-mail: [email protected] 39 Graduanda em Biblioteconomia pela UFMA. E-mail: [email protected] 40 Docente do curso de em Biblioteconomia da UFMA. E-mail: [email protected] 38 146 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 atualmente não admite mais a existência de leitores que visam uma interpretação limitada dos textos que leem, manifesta-se indispensável interesse que o indivíduo seja capacitado para compreender as mais variadas linguagens que o envolvem na sociedade, seja ela em forma de texto ou em forma de símbolos e códigos. A leitura é um importante mecanismo para o desenvolvimento de reconstrução da sociedade, sabendo que, para a criança saber ler, é essencial conhecer a língua pátria, já que desde o instante do seu nascimento participamos do grupo de aprendizado, como: o familiar, social, cultural, por meio do qual agrega conhecimentos que se processam. Assim como a escola, a família tem seu papel crucial na formação de filhos leitores, preparando assim os valores morais, sociais e éticos. Temos fundamentos que a influência da família na intermediação, formação e conscientização dos futuros leitores é algo imprescindível e inquestionável. Analisando como a literatura aborda a leitura de crianças, jovens e idosos na perspectiva de contribuir no incentivo, mediação e desenvolvimento dessa realidade, identificar o comportamento do leitor no ato da leitura, examinar as diversas técnicas utilizadas pelos pais e professores na alfabetização e práticas de leitura. Por se tratar de um processo que exige interação entre texto e leitor através de concordância ou não de ideias, a leitura pode ser compreendida como elemento civilizatório na medida em que aproxima as pessoas, convidando-as para o diálogo, através da oferta de “provisões, palavras e mais palavras, instigações, sentidos novos e cambiantes promovendo interação” (MARIA, 2009, p. 65). O ato de ler foi de tal maneira retirada da prática pessoal que hoje estão buscando ajudas de profissionais da área da leitura, como professores, bibliotecários, para retirar o risco de alienação. Silva (2002, p. 75), descreve a leitura e esclarece que “[...] ler é um direito de todos e, ao mesmo tempo, um instrumento de combate à alienação e à ignorância [...]”. A leitura como uma atividade social deve relacionar-se com a liberdade na leitura, obtendo o prazer, a compreensão e a capacidade de criticar. O profissional que trabalha na educação precisa ter conhecimento no processo de leitura para descobrir e aumentar as sua atuação no mundo da leitura. O tema foi motivado pela importância da leitura, como indispensável para a compreensão e atuação no meio social. Através do exercício da leitura, o individuo enriquece seu vocabulário, obtém novos conhecimentos, desafia sua imaginação e descobre o prazer de pensar e sonhar. Através da leitura, desenvolve-se a inteligência, a capacidade de associar ideias e se reorganiza a criatividade. 147 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O propósito deste trabalho é evidenciar as diversas maneiras e processos que o leitor em determinado momento da vida é convidado, incentivado a ter um contato primeiro com textos, livros e o ideal é quando criança. A família seguida da escola desempenham papéis relevantes na construção e comportamento leitor crítico das pessoas dentro do convívio social. O estudo caracteriza-se como investigação de natureza qualitativa e será realizada por meio da pesquisa bibliográfica, com o levantamento de fontes bibliográficas e no meio virtual de autores nacionais que abordam os temas: atos de leitura; leitura para crianças, para jovens e para idosos; Sociedade da Informação e sua composição; programas do governo. A técnica do fichamento, análise e interpretação fornecerão subsídios para textos e debates. A divisão dos capítulos apresenta-se inicialmente com uma breve explanação sobre os conceitos e a história dos termos “Sociedade da Informação” e “Sociedade do Conhecimento”, onde serão detalhadas as formas de leitura nessa sociedade; no capítulo seguinte será tratado sobre a contribuição governamental através dos programas de incentivo à leitura no Brasil, como o Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), o Programa Nacional de Incentivo à Leitura (PROLER), o Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE), entre outros. 2 A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO No final do século XX, mais especificamente em sua última década, o termo “sociedade da informação” foi, sem dúvida, a expressão que se consagrou como influente, isso devido à nomenclatura que recebeu nas políticas oficiais dos países mais desenvolvidos, onde surgiu até uma “Cúpula Mundial” para se dedicar à estudos voltados para esse tema. Mas o histórico enumera outros fatos antecedentes em relação ao termo em décadas anteriores. Em 1973, um sociólogo dos Estados Unidos da América chamado Daniel Bell introduziu a noção da “sociedade de informação” em seu livro “O advento da sociedade pós-industrial”. No conteúdo de seu livro, ele expressa que o eixo principal desta nova sociedade será o conhecimento teórico. Ele também adverte que os futuros serviços baseados no conhecimento serão a matéria-prima da estrutura da nova economia e de uma sociedade sustentada na informação. Esta expressão reaparece novamente com força nos anos 90, no contexto do desenvolvimento da Internet e das TIC. A partir do ano de 1995, ela foi incluída na agenda das reuniões de vários encontros internacionais, foi adotada pelo governo dos Estados Unidos, 148 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 por várias representações das Nações Unidas (ONU) e pelo Banco Mundial. Tudo isso com uma grande repercussão na mídia. No entanto, esta realidade e o papel-chave que as tecnologias da comunicação desempenharam na aceleração da globalização econômica, sua imagem pública, está mais associada aos aspectos mais “amigáveis” da globalização como a Internet, a telefonia celular e internacional, a TV via satélite, etc. Assim, a sociedade da informação assumiu a função de “embaixadora da boa vontade” da globalização, cujos “benefícios” poderiam estar ao alcance de todos, se pelo menos fosse possível diminuir o “abismo digital.” 2.1 Sociedade do conhecimento A noção de “sociedade do conhecimento” (knowledge society) surgiu no final da década de 90. A expressão é empregada, particularmente, nos meios acadêmicos como uma alternativa que alguns preferem à “sociedade da informação”, principalmente nos cursos da área das Ciências da Comunicação e informação. Em seus trabalhos, textos e manifestos, a Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO), adotou o termo “sociedade do conhecimento” ou sua variante “sociedades do saber” dentro de suas políticas institucionais. Essa organização desenvolveu debates em torno do assunto que buscou incorporar uma construção mais completa e que englobasse outras áreas e não apenas a dimensão econômica. O conceito de “sociedade da informação” pode estar ligado à ideia de “inovação tecnológica”, enquanto o conceito de “sociedades do conhecimento” inclui dimensões mais abrangentes, incluindo itens como transformação social, cultural, econômica, política e institucional. O conceito de “sociedades do conhecimento” é preferível ao da “sociedade da informação” já que expressa melhor a complexidade e o dinamismo das mudanças que estão ocorrendo. O conhecimento em questão não só é importante para o crescimento econômico, mas também para fortalecer e desenvolver todos os setores da sociedade. Em todo caso, o termo adotado nesse artigo é “sociedade da informação”. 2.2 Leitura, processos de aquisição Desde que nascemos, distintas situações são colocadas para termos contato com as palavras, são ensinadas progressivamente para que possamos nomear e reconhecer a necessidade de aprender e desvendar o mundo onde vivemos. Acreditando que a leitura é uma atividade dialógica que ocorre no meio social. Freire (1987, p. 11) descreve que “[...] buscamos analisar os fatores envolvidos no processo de leitura, as diferentes formas de leitura 149 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 abrangendo a diversidade textual e as estratégias de leitura no processo de compreensão do texto [...]” As pesquisas desenvolvidas ao longo dos anos sobre como conseguir alunos leitores competentes têm sido unânimes, afirmando que o ato de ler está baseado na capacidade do indivíduo de compreender e interpretar o mundo. Se considerarmos que a função da escola não é apenas ensinar a ler e escrever, mas levar a pessoa a fazer aplicação da leitura e da escrita, incluindo em trabalhos sociais que dependem e as relações de seus grupos sociais, culturais e econômicos, portanto é preciso, que haja liberdade de material para leituras como jornais, revistas, livraria etc. É fundamental que as pessoas estejam ligadas em um ambiente de letramento a fim de que a leitura se transforme em necessidade e uma maneira de lazer. A sedução para gostar de ler deve começar na escola; o primeiro passo consiste em assegurar a correta adaptação no processo de iniciação à leitura. Pode-se observar três motivos para o reconhecimento da leitura: informação, conhecimento e prazer, isso é uma ajuda para o leitor, que o leva para uma compreensão profunda e objetiva do contexto. Portanto, considerando que, qualquer linguagem sempre possui um referencial de mundo, o leitor é capaz de aprender os sinais inscritos em qualquer mensagem e os existentes no texto, que significa compreender a dinâmica do real e compreender-se como um ser que participa dessa dinâmica. Vetter (2009, p. 121) descreve através de entrevistas realizadas com alunos e alunas da UNITI (Universidade da Terceira Idade) que “[...] a história de cada sujeito revela uma parte de suas experiências [...] diversificadas pela própria caminhada e leitura do mundo [...]”. Qual o primeiro livro ou cartilha apresentado, se o mesmo foi com gravuras facilitando a aprendizagem, verifica-se que hoje não diferente do passado adquire-se conteúdo quando um livro ou texto é escrito e confeccionado com desenhos, figuras e outros a leitura transforma-se em prazer e não dever. A alfabetização que notadamente é tardia e laborosa evidencia-se com o contato da criança com o material de leitura, contação de histórias na varanda das residências feitas por pais ou avós mostra-nos que o incentivo e as habilidades de ler e escrever são imprescindíveis na sociedade atual, assim só se torna leitor aquele que tem a oportunidade de ler e tem acesso ao objeto de leitura seja ele físico ou imaterial. Freire (1993, p. 15) relata “[...] fui alfabetizado no chão do quintal de minha casa, à sombra das mangueiras, com palavras do meu mundo e não do mundo maior dos meus pais. O chão foi o meu quadro-negro; gravetos, o meu giz [...]”. Seus pais foram peças ímpares na 150 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 construção, decifração da palavra que fluía naturalmente da leitura do mundo particular do alfabetizando. Jolibert (1994, p. 12) enfatiza “[...] é na medida em que se vive num meio sobre o qual é possível agir, com os outros, discutir, decidir, realizar, avaliar... que são criadas as condições mais favoráveis ao aprendizado [...]”. O homem é um ser social, a educação envolve três esferas pedagógicas que são: o aluno, o professor e o material empregado no desenvolvimento, eficiência e eficácia. 3 CONTRIBUIÇÃO GOVERNAMENTAL PARA A LEITURA - PROGRAMAS 3.1 O PNLL – Plano Nacional do Livro e Leitura O acesso de todo cidadão ao livro e à leitura é o objetivo principal do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), um conjunto de projetos, programas, atividades e eventos na área do livro, leitura, literatura e bibliotecas em desenvolvimento no país. O PNLL implanta e moderniza bibliotecas, concede bolsas e prêmios literários a escritores e cria Pontos de Leitura. Estes últimos são iniciativas e projetos de incentivo à leitura em vários locais, como bibliotecas comunitárias, hospitais, sindicatos, presídios e associações comunitárias. Cidadãos com deficiência têm o acesso à leitura facilitado pela coedição, por parte do PNLL, de livros em braile, livros digitais e audiolivros. Campanhas de doação de livros e feiras literárias também são promovidas, além da distribuição de livros a alunos nas escolas e a outros segmentos da população em cestas básicas, estádios e ginásios, por exemplo. Entre algumas ações desse programa, destaca-se: a campanha ‘Leia Mais, Seja Mais’ é um dos destaques das 40 ações do Plano Nacional do Livro e Leitura (PNLL), coordenada pelo Ministério da Cultura (MinC) e a Fundação Biblioteca Nacional (FBN). Esse programa é dividido em primeira e segunda etapa. Na primeira foram veiculados anúncios em 74 revistas e jornais, e a segunda etapa da campanha foi veiculada, em todo País, por emissoras de rádio e televisão e pela internet. Esta etapa mostra a leitura como atividade prazerosa. O programa tem meta de estimular a leitura principalmente, entre as famílias das classes C, D e E, que concentram cerca de 40% da população e a maioria dos não leitores no país, segundo levantamento do Instituto Pró-Livro, divulgado em 2012. Segundo a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil, o País tem hoje 50% de leitores (pessoas que leram pelo menos um livro nos últimos três meses, inteiro ou em partes). 151 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Para o ano 2012, o PNLL destinou R$ 254,6 milhões para ações de democratização do acesso à leitura, beneficiando duas mil bibliotecas em todo o país. Incluindo também a construção de 400 novas bibliotecas. Esse programa realizado no ano de 2012 previu também R$ 56,1 milhões para as ações de fomento à leitura e formação de mediadores de leitura, para a formação de 4 mil agentes de leitura. O fomento à cadeia criativa e produtiva do livro recebeu R$ 54,9 milhões. No ano de 2012, o PNLL ajudou a promover a realização de 200 feiras e festivais do livro em todo o país, o que representou um crescimento de cerca de 170% em relação a anos anteriores, quando foram realizados 75 eventos. Haverá também ações de apoio a livreiros independentes. O PNLL é desenvolvido pelo Ministério da Cultura (MinC) e pelo Ministério da Educação (MEC). As ações são realizadas pela Fundação Biblioteca Nacional (FBN) e pela Coordenadoria Geral de Livro e Leitura (CGLL). 3.2 O PROLER – Programa Nacional De Incentivo à Leitura. Saber ler é uma exigência das sociedades modernas. Há, contudo, uma importante diferença entre saber ler e a prática efetiva da leitura. Se a habilidade de leitura é uma necessidade pragmática e permite a realização inclusive de atividades básicas, como deslocarse de um ponto a outro, fazer compras e realizar tarefas cotidianas, entre outras ações, a prática da leitura é importante instrumento para o exercício da cidadania e para a participação social. Foi para estimular isso que, em 13 de maio de 1992, através do Decreto Presidencial nº 519, instituiu-se o PROLER (Programa Nacional de Incentivo à Leitura), vinculado à Fundação Biblioteca Nacional, órgão do Ministério da Cultura. O Decreto nº 4.819, de 16 de agosto de 2003, que aprovou o novo Estatuto da FBN, veio fortalecer os objetivos do Programa. O PROLER tem sua sede na Casa de Leitura situada no bairro de Laranjeiras, Rio de Janeiro. O PROLER foi instalado na Casa da Leitura, no Rio de Janeiro, com o compromisso de promover ações de valorização da leitura, criando parcerias com comitês que promovem a leitura espalhados pelo país. O PROLER é constituído por pessoas profundamente dedicadas à causa da literatura, uma relação horizontal de parceria e aprendizado mútuo, onde ambas as partes saem ganhando, em seu objetivo comum de incentivar a leitura. Os Comitês do PROLER: Nacionalmente o PROLER desenvolve ações em parceria com secretarias de cultura e de educação (municipais ou estaduais), universidades, bibliotecas, ONG´s e outras instituições, estabelecendo convênios e constituindo os Comitês. Em todas as Unidades Federadas atuam Comitês do PROLER, promovendo ações de práticas 152 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 leitoras. A promoção da leitura tem efeito multiplicador, fazendo com que novos parceiros se integrem ao Programa. Objetivos do Programa do PROLER é de promover o interesse nacional pela leitura e pela escrita, considerando a sua importância para o fortalecimento da cidadania; promover políticas públicas que garantam o acesso ao livro e à leitura, contribuindo para a formulação de uma Política Nacional de Leitura; Articular ações de incentivo à Leitura entre diversos setores da sociedade; Viabilizar a realização de pesquisas sobre livro, leitura e escrita e Incrementar o Centro de Referência sobre leitura. As diretrizes do PROLER são: 1) Diversidade de ações e de modos de leitura manifestados: nas práticas de leituras promovidas; nos locais e instituições abrangidos; nos gêneros textuais considerados; nas atividades organizadas; 2) Especificidade do ato de ler, entendendo-se que atos de leitura exigem modos próprios e competências específicas; 3) Articulação entre leitura e cultura, não se compreendendo a leitura fora dos contextos nos quais se expressam a riqueza da vida humana e as suas produções; 4) Prioridade da esfera pública, concretizando-se ações voltadas aos interesses da maioria da população leitora e não-leitora. Como é ela que, de modo geral, concentra a maioria das ações e dos agentes de leitura -- professores das redes públicas, deve-se pensá-la como irradiadora das práticas leitoras; 5) Publicidade da leitura, enfatizando-se que ela precisa ser tema na cena social; 6) Democratização do acesso à leitura, pela disponibilização de material de leitura em bibliotecas escolares e públicas, em salas de aula e em salas de leitura em locais públicos. As Vertentes do PROLER: Para viabilizar tais diretrizes o PROLER estabeleceu 3 eixos de ação: Fomento e divulgação, Formação Continuada de Promotores de Leitura, Pesquisa e Documentação. Ações: O PROLER quer contribuir, por meio de ações afirmativas, para que se criem condições de exercício da leitura, respeitando-se as diversidades culturais e sociais de um país como o Brasil. Para isso, foram definidas as seguintes ações estratégicas: Formação de uma rede nacional de incentivo à leitura; Cursos de formação de promotores de leitura; Assessoria para implementação de projetos de promoção da leitura; Implementação da política de incentivo à leitura na Casa da Leitura, com cursos, palestras e outras atividades; Criação da rede de referência e documentação em leitura; Assessoria para Implantação de bibliotecas para crianças, e para jovens e adultos e Sistema de acompanhamento e avaliação. 153 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 3.3 O PNBE – Programa Nacional Biblioteca da Escola O Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) tem como objetivo prover as escolas de ensino público das redes federal, estadual, municipal e do Distrito Federal, no âmbito da educação infantil (creches e pré-escolas), do ensino fundamental, do ensino médio e educação de jovens e adultos (EJA), com o fornecimento de obras e demais materiais de apoio à prática da educação básica com vista à democratização do acesso às fontes de informação, ao fomento à leitura e à formação de alunos e professores leitores e ao apoio à atualização e ao desenvolvimento profissional do professor. A distribuição dos acervos de literatura ocorre da seguinte forma: Nos anos pares são distribuídos livros para as escolas de educação Infantil (creche e pré-escola), anos iniciais do ensino fundamental e educação de jovens e adultos. Já nos anos ímpares a distribuição ocorre para as escolas dos anos finais do ensino fundamental e ensino médio. (BRASIL, 2009). 4 CONCLUSÃO Após examinar os conceitos ligados ao tema leitura e revisar literaturas sobre o mesmo para crianças, para jovens e para idosos e sobre “Sociedade da Informação” e sua composição; e sobre os programas do governo voltados para o incentivo à leitura, depreendeu-se que a leitura se constitui em um importante instrumento para alavancar o desenvolvimento e a reconstrução educativa da sociedade, oportunidade na qual se enfatizou que é essencial a criança saber ler e conhecer a língua pátria para se desenvolver em seus grupos de aprendizado, como o familiar, o social e o cultural. No decorrer da escrita deste artigo, os teóricos como Joliber, Maria, Silva, Freire, Oliveira e Vetter, dentre outros, contribuíram muito no sentido de conduzir as discussões, evidenciando a importância da leitura como atividade fundamental para entender e interpretar o mundo, bem como, deixando explícita a relevância da intervenção governamental no processo de seleção de atividades para sistematização da leitura. Dessa forma, o contato constante das crianças, dos jovens e dos idosos com as mais variadas formas de incentivo à leitura, bem como a adaptação desses programas à realidade sociocultural desses grupos de leitores como um momento de construção e manutenção de habilidades e estratégias, possibilitará avanços positivos no processo de desenvolvimento da leitura em seu sentido pleno em todo o país. Através deste trabalho, tivemos a oportunidade de expressar um julgamento de valor sobre alguns aspectos que envolvem a leitura e o seu desenvolvimento. Entendemos que 154 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 o tema trabalhado é de grande complexidade porque não depende somente dos esforços do governo e que a aprendizagem para a realização dela não se limita somente ao exercício de grafias, mas que se perpetua como caminho para novas reflexões sobre a própria linguagem por práticas sociais de leitura. Entendeu-se que, apesar da existência de muitos programas e campanhas de incentivo à leitura, ainda há muitas iniciativas que devem ser melhor trabalhadas, fiscalizadas e administradas para gerar melhores resultados. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Cultura. PROLER: concepções e diretrizes. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2009. 44 p. Disponível em:< http://www.bn.br/proler/images/PDF/cursos3.pdf>. Acesso em: 10 nov. 2014. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 35. ed. São Paulo: Cortez, 1987. JOLIBERT, Josette. Formando crianças leitoras. Porto Alegre: ARTMED, 1994. v. 1. p. 0917. MARIA, Luiza de. O clube do livro: ser leitor – que diferença faz?. São Paulo: Globo, 2009. 331p. SILVA, Ezequiel Theodoro da. A produção da leitura na escola: Pesquisas x propostas. 2. ed. São Paulo: Editora Ática, 2002. SMITH, Frank. Leitura significativa. 3. ed. Porto Alegre: ARTMED, 1999. VETTER, Silvana Maria de Jesus. Memórias de leitura de pessoas idosas. São Luís: EDUFMA, 2009. 191 p. 155 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 156 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 AÇÃO CULTURAL NO CENTRO CULTURA PAMPULHA GT 3: Práticas de transformação social: o profissional da informação como agente transformador Modalidade: Comunicação Oral SILVA, Jordeilson de Lana41 RESUMO Oriundo das diversas atividades desenvolvidas durante a disciplina de Cultura e Informação do Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal de Minas Gerais, tendo como uma de suas atividades, uma visita técnica a um Centro Cultural que norteia todo este trabalho, tendo como problemática os impactos que a ação cultural exercer na comunidade de tal Centro Cultural, objetivando uma discussão das ações culturais da Unidade de Informação do CCP identificando seu impacto na comunidade, e o papel do profissional da informação como possível agente cultural. Como metodologia para levantamento de dados, foram adotadas duas metodologias, a primeira foi o estudo de comunidade através da aplicação de um questionário, e aplicação de uma entrevista semiestruturada nos usuários da Unidade de Informação, para analise dos dados quantitativo foi utilizada o método de estatística descritiva, e para a análise dos dados qualitativos o método de analise de conteúdo. Os resultados apontaram que a comunidade frequenta relativamente a UI e participa ativamente das ações culturais desenvolvidas pelo CCP. Concluiu-se que a UI deve ter mais autonomia para desenvolver as ações culturais que um Bibliotecário, poderia desenvolver e não meramente escoltar, pois poderá passar de agente cultural para animador cultural. Palavras-chave: Ação Cultural. Agente Cultural. Centro Cultural Pampulha. ABSTRACT Originally the various activities during the course of Culture and Library Science Information at the Universidade Federal de Minas Gerais, having as one of its activities, a technical visit to a cultural center that guides all this work, with the problematic impacts that cultural action play in the community in such a cultural center, aiming a discussion of the cultural activities of the CCP's Intelligence Unit identifying its impact on the community, and the role of the information professional as possible cultural agent. How paw data collection methodology, two approaches were adopted, the first was the community of study through a questionnaire, and application of a semi-structured interview on users of the Information Unit, for analysis of quantitative data was used the statistical method descriptive, and for the analysis of qualitative data content analysis method. The results showed that the community attends for UI and actively participates in cultural activities developed by the CCP. It was concluded that the UI should have more autonomy to develop cultural actions a Librarian, could develop and not merely escort, it may move from Culture agent for animator. Keywords: Culture Action. Cultural agent. Culture Center. 1 INTRODUÇÃO Este trabalho é oriundo das diversas atividades desenvolvidas durante a disciplina de Cultura e Informação do Curso de Biblioteconomia da Universidade Federal de Minas 41 Graduando em Biblioteconomia pela UFMG. E-mail: [email protected] 157 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Gerais (UFMG). Que busca desenvolver a competências dos alunos em compreender os processos de produção de cultura e informação, percebendo a importância das políticas culturais como fator de promoção da cidadania, e elabora e desenvolver ações educacionais e culturais em bibliotecas, arquivos e museus. A fim de compreender o processo de ação cultural em uma Unidade de Informação e o papel do profissional da informação no âmbito das práticas culturais, foi realizada uma visita técnica ao Centro Cultural da Pampulha (CCP), com o intuito de observar as ações culturais deste espaço. Por tanto a problemática deste é quais os impactos que a ação cultural exerce na comunidade que é desenvolvida? O objetivo deste trabalho é discutir as ações culturais da Unidade de Informação do CCP identificando seu impacto na comunidade, e o papel do profissional da informação como possível agente cultural. Em primeiro momento será abordado às praticas culturais da Unidade de Informação do CCP. Em segundo momento será discutido os impactos de tais ações culturais na comunidade pertencentes ao entorno do CCP. E por fim será debatido o perfil do bibliotecário como agente cultural, e sua contribuição no desenvolvimento de ações culturais. Como metodologia para levantamento de dados, foram adotadas duas metodologias, a primeira foi o estudo de comunidade através da aplicação de um questionário que segundo Gil (1999, p.128), pode ser definido “como a técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado de questões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo o conhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas, situações vivenciadas etc.”. O segundo método de coleta foi à aplicação de uma entrevista semiestruturada nos usuários da Unidade de Informação do CCP, a qual Ribeiro (2008, p.141) trata tal técnica como sendo a “mais pertinente para obter informações [...] sobre atitudes, sentimentos e valores subjacentes ao comportamento, o que significa que se pode ir além das descrições das ações, incorporando novas fontes para a interpretação dos resultados pelos próprios entrevistadores”. Para analise dos dados quantitativos gerados a partir do estudo de comunidade, se deu através da estatística descritiva que se da através de apresentação de dados de observação por meio de tabelas, gráficos e medidas (PIANA; MACHADO; SELAU, 2009). A parte qualitativa gerada pela aplicação da entrevista nos usuários do Centro de Informação se dará através da analise de conteúdo de Bardin (1997). 2 AÇÃO CULTURAL 158 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Antes de entramos na discussão sobre ação cultural no CCP, é importante salientar primeiramente o conceito de cultura, que para Santos (2006, p. 22-23) deriva de “um conjunto comum de preocupações que podemos localizar em duas concepções básicas” sendo a “primeira concepção de cultura remete a todos os aspectos de uma realidade social e a segunda refere-se mais especificamente ao conhecimento, às ideias e crenças de um povo”. Blumer (1980, p. 123) define cultura como “costume, tradição, norma, valor, regras ou conceitos afins, equivalem nitidamente a uma derivação dos atos humanos” que “atribuem à realidade significações novas por meio das quais são capazes de se relacionar com o ausente” (CHAUI, 2000 p. 374). Bem semelhante à definição de Blumer (1980) é a de Johnson (1997, p. 59) que define cultura como sendo “o conjunto acumulado de símbolos, ideias e produtos materiais associados a um sistema social, seja uma sociedade inteira ou uma família”. De acordo com Coelho (1987, p. 108) "[...] ação cultural significa fornecer os meios de produção com os quais as pessoas possam encontrar seus próprios fins" o autor amplia seu conceito em outro texto, afirmando que "[...] ação cultural, além de definir-se como área específica de trabalho, ensino e pesquisa, começaram a constituir-se num conjunto de conhecimento e técnicas com o objetivo de administrar o processo cultural" (COELHO, 2001, p.10). Coelho (1999, p.33) define ação cultural como o “processo de criação ou organização das condições necessárias para que as pessoas e grupos inventem seus próprios fins no universo cultural”. Coelho (2001, p. 88) diz que a “ação cultural não pode perder de vista seu propósito de atuar em favor da construção do discernimento, da liberdade e da capacidade de significação do mundo pelos indivíduos, distinguindo-se frontalmente da fabricação”. Ao discutir ação cultural Cunha (2010) discorre sobre os pressupostos socioculturais que privilegiam uma ação voltada ao desenvolvimento da cidadania na perspectiva do desenvolvimento humano. Segundo Milanesi (1997, p. 95) a ação cultural é a “denominação que se aplica a diferentes tipos de atividades e meramente associada à biblioteca. De um modo geral giram em torno de práticas ligadas às artes: música, teatro, literatura, ópera”. Outra conceituação de ação cultural está presente no trabalho de Almeida (1987, p. 33), a saber: Busca a expressão e a criatividade dos indivíduos no grupo e na comunidade. Está ligada à ideia de transformação, de emancipação a partir da expressão. Diz respeito 159 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 não apenas a produtos culturais acabados, como também às condições que levam à capacidade criativa, à produção cultural. Relaciona-se por outro lado, ao processo de educação coletiva, no momento em que desenvolve atividades práticas e abre espaço para a troca de informações e a discussão sobre temas de interesse do grupo. Queremos enfatizar neste, a ação cultural, que colabora para a construção dos atos de reflexões política, democrática, social e cultural, como sendo base direta da concepção simbólica de um grupo, como meio despertador da valorização e transformação do espaço sociocultural, proporcionando o efeito de superação mediada por um processo contínuo de emancipação intelectual. 2.1 Discussão sobre o papel do Bibliotecário encanto agente cultural Segundo Cabral (1999, p. 39) “ao fazer sua opção para atuar como agente cultural, o bibliotecário deve dar início a um processo de ação cultural emancipadorá, de conteúdo ideológico, que propicie a emergência das manifestações culturais do público infantil e adulto”. Neste sentido Rosa (2009, p. 374) afirma que os bibliotecários “deverão ter clareza a respeito dos vários conceitos culturais e ao público a quem se destina”. Para Coelho (2001) na ação cultural, o agente apenas dá início ao processo cujo fim ele não pode prever e nem controlar. Tal agente deve fazer a escolha sobre qual ação ele deve fazer. Deste modo o Bibliotecário ao se posicionar como um agente cultural terá que canalizar ações culturais para proporcionar a formação dos indivíduos, enquanto seres sociais e culturais. Almeida (1987, p. 32-33) distingue agente cultural de animador a saber: O trabalho do agente cultural implica mais que animar agir sobre, transformar a partir da existência de uma intenção e de um alvo. A expressão "ação cultural" ou mesmo, "ação sociocultural", é muito mais carregada de poder transformador do que "animação cultural", que muitas vezes se refere até à animação institucionalizada, voltada para o consumo, utilitária e alienante. Deste modo a autora coloca que a execução da ação cultural é quando o agente enfatiza a criação, a expressão das pessoas, valorizando o individuo e estimulando sua criatividade e reflexão da sua realidade enquanto o animador ênfase o consumo e a alienação dos indivíduos. Almeida (1987, p. 32) afirma ainda que “o trabalho do agente está na dependência de três fatores: sua relação com o ambiente, o domínio da técnica e a clareza de seus objetivos”. Cabral (1999, p. 43) diz que “o agente deve recorrer às possíveis fontes de recursos a fim de viabilizar a implementação dos projetos, seja através de órgãos governamentais ou entidades privadas, valendo-se das leis de incentivo à cultura”. 160 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 2.2 A ação cultural no CCP O CCP norteia suas ações culturais para possibilitar e ampliar o acesso à informação e à produção cultural, apoiar as manifestações culturais presentes em sua comunidade, possibilitar a reflexão e o debate acerca do fazer cultural, além de contribuir para o levantamento e preservação da memória e da história da região da Pampulha. Desta forma, o CCP tem por objetivos formar e capacitar os moradores do bairro e adjacências, despertando neles a noção de cidadania, por meio de programas que permitam a reflexão e a memória dos cidadãos da região. Além disso, difunde a produção cultural e incentiva o hábito da leitura, visando atingir o maior número de pessoas. Entre as ações culturais do CCP, destacam-se a realização de sessões de vídeo, conotação de histórias, saraus de poesia, oficinas culturais e apresentações artísticas. O projeto “Ponto de Leitura Avançado” executado pelo Unidade de Informação do CCP pertence à Fundação Municipal de Cultura, tem como objetivo a estimulação da leitura da comunidade da Região da Pampulha, consiste em uma biblioteca montada na praça em frente ao Centro Cultural. Tal espaço disponibiliza à comunidade livros e jornais para leitura local e empréstimos, além de reunir títulos diversos para todas as idades. Juntamente ao projeto referido acima é desenvolvido a Rádio CCP, que é a execução de gravações de trechos de poemas e canções relacionados com o universo literário e são exibidos durante a ação no espaço externo da UI. 3 DADOS E ANALISE A população alvo da parte quantitativa foi toda a comunidade do CCP congregados no bairro Urca e adjacências, sendo que a amostragem abarcou cem indivíduos selecionados de forma aleatória e não probabilística, proporcionando e possibilitando extrair elementos totalmente aleatórios e não específicos. A população alvo da parte qualitativa foram os usuários da UI do CCP e sendo a amostragem uma total de dez indivíduos. 3.1 Parte quantitativa A aplicação dos questionários foi relativamente fácil, pois houve uma colaboração muito grande por parte da comunidade do CCP. O primeiro agrupamento de perguntas foi construído para identificar a predominância da faixa etária, gênero e escolaridade da comunidade do CCP, é importante que a direção dos centros culturais, bem como o Bibliotecário conheçam tais dados 161 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 demográficos, pois ambos influenciam diretamente a demanda por informação (FERREIRA, 1997) alem de subsidiar a elaboração de ações culturais que iram impactar a comunidade como um todo, levando aos gestores dos centros culturais e das UI a pensando não somente na predominância demográfica de sua comunida, mas também ações que vão agregar valor à minoria de tal comunidade, desta forma serão pensadas e planejadas ações culturais mais relevante e impactantes podendo assim, alcançar o maximo de indivíduos possível. Os resultados geraram a tabela 01 abaixo, demonstrando que não há um gênero predominante na amostra, visto que a diferenciação entre um e outro é de 4%, sendo 52% do gênero masculino e 48% do gênero feminino. Outro ponto demonstrado por ela é o nível de escolaridade sendo a maioria dos respondentes 32% possuem o nível médio completo, seguido de 21% com o ensino fundamental incompleto, 17% com o nível médio incompleto, 13% com o nível superior completo, 10% com o nível superior incompleto e sendo a minoria 7% com o nível fundamental completo. A tabela ainda demonstra a idade dos respondentes sendo 30% está situado na faixa etária entre 21 a 30 anos, 26% situa-se entre 11 a 20 anos, 16% possuem de 31 a 40 anos, 14% está acima de 50 anos, 8% tem menos de 10 e por fim 6% está entre 41 a 50 anos. Todos estes resultados demonstram que a comunidade do CCP é heterogenia, e com um gral de escolaridade excelente, devendo assim a UI bem como o CCP planejar ações culturais para tal publico heterogenia, visando alcançar o maximo de indivíduos para que estes possam ser sujeitos de criação cultural. Quadro 1 – Perfil Comunitário 162 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Fonte: Do Autor Tabela Perfil comunitário Nível Fundamental Incompleto Nível Fundamental Completo Nível Médio Incompleto Nível Médio completo Nível Superior Incompleto Nível Superior completo Total Menos de 10 anos 8% Entre 11 e 20 anos 11% Entre 21 e 30 anos - Entre 31 e 40 anos - Entre 41 e 50 anos - Acima de 50 anos 2% Masculino Feminino Total 17% 4% 21% - - - - - 7% 2% 5% 7% - 13% 4% - - - 9% 8% 17% - - 18% 7% 4% 3% 15% 17% 32% - 2% 5% - 2% 1% 3% 7% 10% - - 3% 9% - 1% 6% 7% 13% 8% 26% 30% 16% 6% 14% 52% 48% 100% O segundo agrupamento de questões foi elaborado para identificar o período e a permanência no CCP e na UI pela comunidade, tais resultado estão expostos no gráfico 01 abaixo. Tal gráfico demonstra que os 18 indivíduos que frequentam somente a UI, permanecendo no recinto ate trinta minutos, o período mais frequentado é o da tarde com cerca de 46 indivíduos, 13 dos 16 indivíduos que frequentam apenas o CCP permanecem também trinta minutos no CCP. O período mais amplo de permanência aparece apenas nas respostas dos indivíduos que frequentam ambos os espaços cerca de 14 que permanecem mais de uma hora. Cerca de 36 respondentes responderam não frequentar o UI ou o CCP. Gráfico 1 - Permanência e Período Fonte: Do Autor Neste caso o item mais importante são os indivíduos que responderam que não frequentam o CCP ou a UI, pois devera ter uma nova pesquisa, para poder compreender os reais motivos que levam a tais indivíduos a não frequentarem um ou outro ambiente. Assim 163 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 CCP e sua UI poder-se-á atacar tais falhas para que possibilitem a realização de ações culturais pautadas nestes fatos, proporcionando o alcance de tais indivíduos. Sendo assim o terceiro agrupamento de perguntas foi constituído para verificar quais os motivos que os 36 indivíduos que responderam que não frequentam o UI ou o CCP. Os resultados apontaram que 29 indivíduos não frequentam pelo horário de funcionamento do CCP e do CI que é de 09h00min as 18h00min e aos sábados de 09h00min as 13h00min, 18 responderam que estudam, 13 que trabalham e 8 que não tem atividade interessantes e 2 responderam fatos distintas. Nesta perspectiva devera-se pensar em ações culturais noturnas e que chamem a atenção da comunidade, lembrando-se da diferença entre ação cultural e animação cultural, que geralmente os centros de cultura executam. O quarto grupo de perguntas foi constituído para identificar primeiro os itens informacionais consultados pelos indivíduos no UI e em segundo lugar quais atividades do CCP eles participam. Tabela 2 - Itens informacionais consultados Fonte: Do Autor A tabela 02 acima demonstra que o item informacional mais consultado pelos Itens informacionais consultados Respondentes que frequentam somente CI 32 18 16 12 Livro Revistas Jornais Quadrinhos Respondentes que frequentam ambos 22 12 23 3 respondentes tanto pelos indivíduos que frequenta somente o CI como pelos indivíduos que frequenta ambos os espaços cerca de 54, os jornais aparecem em segundo lugar com 39 indivíduos, a revista em terceiro lugar sendo 30 indivíduos e os quadrinhos na quarta posição com 15 indivíduos. Tal agrupamento de perguntas favoreceram alem da construção da tabela 02, a exposição de dados a saber, 36 respondentes afirmaram que participam do projeto Ponto de Leitura Avançado, 28 frequentam as oficinas culturais, 27 frequentam as exposições, 17 participam dos saraus de poesia, 13 da contação de histórias e 12 da exposição de sessões de vídeos. 3.2 Parte qualitativa 164 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A aplicação da entrevista se deu da mesma forma que o questionário sem problemas, pois todos os indivíduos responderam as perguntas da entrevista de bom grado. As perguntas objetivava identificar os motivos que os indivíduos frequentavam a UI, a percepção dos usuários com relação às ações culturais da UI como do CCP e a importância das ações culturais do CCP bem como da UI para a comunidade. Para análise da parte qualitativa foi utilizado o método de análise de conteúdo, para tanto foi realizada categorização do discurso (BARDIN,1997), onde o discurso foi dividido em unidades analisáveis e estas foram classificadas em quatro categorias: 1 – divulgação das ações culturais; 2 – utilização dos serviços da UI; 3 – participação nas ações culturais; 4 – relevância e importância do CCP. Na categoria um, os usuários que participaram da pesquisa apontaram a falta de divulgação da UI e a importância de divulgar as ações culturais. “Deveriam fazer a divulgação nas escolas, postos de saúde e comercio sobre as ações culturais elas são pouco conhecidas.” (USUÁRIO 1) “Acho também que as ações culturais são pouco conhecidas. Não há divulgação nem encorajamento para a participação da comunidade. Tem que haver mais divulgação.” (USUÁRIA 2) “As ações culturais merece uma melhor divulgação. Até muito pouco tempo não tinha conhecimento de sua existência.” (USUÁRIO 3) “Não vejo as divulgações das ações culturais, o maximo que vejo é um folhetinho que disponibilizam aqui na biblioteca, tirando isso não saberíamos de absolutamente nada” (USUÁRIA 7) “Se por um acaso tivesse mais divulgação, teria muita gente vindo para participar” (USUÁRIO 8) Observou-se que os usuários acreditam que a comunicação da ocorrência das ações culturais promovidas pelo CCP e sua UI são pouquíssimo divulgadas. Nas falas dos usuários 1, 2, 3, 7 e 8 foi possível inferir que a as ações culturais são pouco divulgadas e que é necessária uma maior e melhor divulgação de seus serviços, “a troca de informações internas e externas é essencial para fornecer subsídios” (CABRAL, 1999, p. 43). Para Milanesi (1988, p. 93) a UI “não pode ser algo distante da população como um posto médico que ele procura quando tem dor. Ela deve ser um local de encontro e discussão, um espaço onde é possível aproximar-se do conhecimento registrado e onde se discute criticamente esse conhecimento”, para que se alcance esta interação devi-se ter uma alta divulgação de suas atividades. 165 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Na categoria 2 as respostas dos usuários relacionadas a respeito da utilização dos serviços desenvolvidos pela UI demonstraram que há variedade de serviços prestados. “Pego um livro ou dois e levo para casa para ler” (USUÁRIA 1) “Hoje é dia que a revista que eu leio chega, é a Veja”. (USUÁRIA 2) “Na minha escola não tem um livro, eu vim aqui ver se a biblioteca tem e vou aproveitar para ler um gibi”. (USUÁRIO 4) “Venho ler os jornais do dia na minha hora do almoço”. (USUÁRIO 5) “Estou aqui pelos quadrinhos e gibis, a biblioteca tem muitos e eles são bons”. (USUÁRIO 6) “Bem normalmente eu leio os livros que ficam na parti de fora da biblioteca quando fico esperando o meu ônibus para ir trabalhar”. (USUÁRIO 7) “Gosto muito de estudar aqui, o ambiente é confortável e geralmente tem os livros que preciso, como atlas, dicionários e revistas em geral” (USUARIA 9) Verificou-se que os usuários encontram a informação desejada como se pode observar nos trechos das falas dos usuários 1, 2, 5, 6 e 9. Percebe-se que a UI desenvolve seus serviços a partir das necessidades de sua comunidade, exemplos como a assinatura de revista, jornais, compra de gibis etc. demonstraram que a UI possui um local agradável onde os usuários podem realizar atividades. Podemos dizer que UI cumpre seu papel social em ser um espaço fomentador de incentivo a leitura da sociedade. Percebe-se também que com a execução do projeto Ponto de Leitura Avançado (PLA) a UI amplia o incentivo a leitura aos usuários potenciais “Bem normalmente eu leio os livros que ficam na parti de fora da biblioteca quando fico esperando o meu ônibus para ir trabalhar” (USUÁRIO 7). Na categoria 3, com relação à participação dos usuários nas ações culturais desenvolvidas tanto pelo CCP como pela UI percebe-se que os usuários participam das atividades no momento em que acreditam ser voltadas para eles e que agreguem valor. “Meu filho ama as oficinas [...] sempre que eu posso trago ele”. (USUÁRIA 2) “Eu não participo das atividades, pois elas não me agradam”. (USUÁRIO 5) “Faz bastante tempo que não participo, atualmente não são para mim”. (USUÁRIO 7) “Vim trazer a minha filha para a contação de historio, ela gosta muito de historias”. (USUÁRIA 8) “Eu participo ativamente dos sarais de poesias e da contação de história e percebo que faz muito bem para as crianças e para os outros também, mas as crianças você ver um fogo saindo dos olhinhos deles”. (USUÁRIA 10) 166 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Os usuários 2 e 8 afirmam que seus filhos participam das ações culturais, em outra resposta a usuária 10 afirma que “[...] percebo que faz muito bem para as crianças [...] você ver um fogo saindo dos olhinhos deles”, neste ponto deduzimos que com a questão das ações culturais serem voltadas paras as crianças como a oficina Brincando para Contar Histórias, acarretam a não participação do restante da comunidade o que se observa nas respostas dos usuários 5 e 7 “Eu não participo das atividades, pois elas não me agradam” (USUÁRIO 5), “Faz bastante tempo que não participo, atualmente não são para mim” (USUÁRIO 7), neste caso as ações culturais não refletem os interesses de tal parcela da comunidade. Cabral defende que “facilitar a utilização de instrumentos adequados ao desenvolvimento da capacidade criadora dos indivíduos” (CABRAL, 1999, p. 42), o que a mesma autora afirma ser uma das proposta de ação cultural libertadora. Na categoria 4, as respostas demonstram a importância do CCP e da UI para a comunidade. “Melhorou muito nos últimos anos. Adorei a recepção da equipe e as oficinas. Está faltando pintar, mas a alma desse já está colorida, ate mudei de ideia sobre aqui vira um Centro de Saúde”. (USUÁRIO 01) “Local bom que promove a cidadania dentro da comunidade [...] Trazer cultura para os adolescentes muito bom”. (USUÁRIO 3) “Eu penso que uma grande fonte de oportunidades para mostrar a arte criatividade e talentos de todas as pessoas independente de qualquer coisa”. (USUÁRIA 4) “É um espaço que promove a arte então acho muito legal porque arte e interessante para mudar muitas vidas das pessoas”. (USUÁRIA 6) “Estava aqui em 2000 me lembro de que eu era uma das pessoas que queria um Centro de saúde e não um Centro Cultural, mas fiquei satisfeito com este centro à criançada adora”. (USUÁRIO 8) Um ótimo lugar para quem quer conviver com pessoas maravilhosas [...] Lugar de aprender, se divertir, crescer, ser importante e ser feliz! (USUÁRIA 10). Nas respostas os usuários afirmam que a chegada do Centro Cultural no ano de 2000 foi má aceita, “Estava aqui em 2000 me lembro de que eu era uma das pessoas que queria um Centro de saúde e não um Centro Cultural” (USUÁRIO 8), mas com o passar do tempo e a integração do CCP com a comunidade através de suas ações culturais, mudou e está mudando esta visão da comunidade em geral, “Melhorou muito nos últimos anos. Adorei a recepção da equipe e as oficinas. Está faltando pintar, mas a alma desse já está colorida, ate mudei de ideia sobre aqui vira um Centro de Saúde” (USUÁRIO 01), sendo assim é 167 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 importante alcançar as necessidades e desejos dos usuários, melhorando a satisfação do público em relação ao centro cultural bem como a UI para que a comunidade possa-se apropriar do espaço fortalecendo assim a sua relação, se tornando um local de interação transformador como pode-se perceber nas respostas dos usuários 6, 4 e 3. 4 CONCLUSÃO Considera-se que a realização da ação cultural em Centros Culturais, bem como Unidades de Informação, não se pode limitar à mera disponibilização de informação, ela de proporcionar aos indivíduos a capacidade de serem sujeitos que iniciaram reflexões criticamente sobre a sociedade e sobre si mesmo. Neste ponto percebe-se o papel fundamental do profissional da informação onde ele dever trabalhar tal ação para que ela propicie a geração de conclusões gerando assim, conhecimentos novos para tal individuo, alem de proporcionar angariação de novos valores e a emancipação de sua visão de mundo. A atuação pelo bibliotecário no desenvolvimento de ações culturais deve ser pautado nesta perspectiva, onde ele ira passar da condição de organizador e consumidor de informação para produtor, e principalmente, é ele que terá a função social de atuar como agente cultural desenvolvendo atividades que despertem nos indivíduos de sua comunidade o senso critico. Na UI do CCP a ações culturais são desenvolvidos com o intuito de incentivo a leitura como contações de histórias, sarais de poesia, projetos inovadores de divulgação de autores de renome, e com praticas culturais voltados para que os indivíduos possam ser autônomos na interpretação de mundo e que tais ações culturais possam promover a criticidade deles. Um ponto percebido é a importância do marketing da ação cultural e principalmente a promoção desta para a comunidade salientando a sua importância, seus objetivos, assim a comunidade irar através desta promoção e adequação dos intuitos apropriase destes espaços públicos. Um dos pontos fundamentais observados durante a analise de dados é a importância de o bibliotecário conhecer sua comunidade, em todos os aspectos sejam eles culturais, sociais, econômico, histórico, demográficos entre outros. Assim as ações serão pautadas nestas diretrizes para a promoção dos indivíduos pertencentes a tal realidade. 168 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Maria Christina Barbosa de. A Ação Cultural do Bibliotecário: Grandeza de um Papel e Limitações da Prática. R. bras. Bibliotecon. e Doe., São Paulo,v. 20, n. 1/4 p. 3138, jan. /dez. 1987. BARDIN, L. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 1997. BLUMER, Herberte. A Natureza do Interacionismo Simbólico. In: MORTENSEN, C.D. Teoria da comunicação: textos básicos. São Paulo: Mosaico, 1980. p. 119 – 138. CABRAL, Ana Maria Rezende. Ação cultural: possibilidades de atuação do bibliotecário. In: VIANNA, Márcia Milton; CAMPELLO, Bernadete; MOURA, Victor Hugo Vieira. 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Evidência: olhares e pesquisa em saberes educacionais, Araxá, n. 04, p.129-148, maio 2008. ROSA, Anelise Jesus Silva da. A prática de ação cultural em bibliotecas. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.14, n.2, p. 372-381, jul./dez., 2009. SANTOS, José Luiz dos. O que é cultura. São Paulo: Brasiliense, 2006. 91 p. (Coleção primeiros passos; 110). 170 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 PAIS, PROFESSORES E BIBLIOTECÁRIOS: mediadores da leitura no processo da formação do leitor. GT 03: Práticas de transformação social: o profissional da informação como agente transformador. Modalidade de trabalho: Comunicação oral LOPES, Fabiana Laurena da Silva42 RODRIGUES, Josilane Costa43 BARROS, Dáina Carvalho44 PINHEIRO, Kiane de Jesus Aroucha45 RESUMO Uma reflexão acerca da formação do leitor no âmbito da família, escola e biblioteca. Discute a princípio a contribuição da família nesse processo e posteriormente o papel da escola e das bibliotecas. Objetiva explanar sobre os principais fatores que contribuem na determinação do gosto pela leitura nessas três agências responsáveis pela formação do leitor. Reflete sobre a importância da leitura nesses espaços. Esta pesquisa é de caráter exploratório e bibliográfico, como pressuposto para revisão de literatura a luz de autores como Vigotskii (1988), Martins (1982), Freire (2006) Magnani (2001), Ortega y Gaset (2006), entre outros. Conclui que a família, escola e biblioteca são ambientes principais onde a mediação deve estar presente, cada um, portanto tem sua contribuição nesse processo de formação de leitores. Logo a metodologia e estratégia usada para se alcançar esse resultado deve estar focada em despertar o pensamento crítico e reflexivo. Palavras- chave: Mediação da Leitura. Família. Escola. Biblioteca. ABSTRACT A reflection on the reader's formation within the family, school and library. Discusses the principle family contribution in this process and later the role of schools and libraries. Aims to explain about the main factors that contribute in determining the taste for reading these three agencies responsible for player training. Reflects on the importance of reading in these spaces. This research is exploratory and bibliographical, as a prerequisite for literature review the authors light as Vigotskii (1988), Martins (1982), Freire (2006) Magnani (2001), Ortega y Gaset (2006), among others. We conclude that the family, school and library are major environments where mediation must be present, each one, so has its contribution in this readers formation process. Soon the methodology and strategy used to achieve this result should be focused on awakening the critical and reflective thinking. 42 Graduanda em Biblioteconomia pela UFMA, E-mail:[email protected] Graduanda em Biblioteconomia pela UFMA, E-mail:[email protected] 44 Graduanda em Biblioteconomia pela UFMA E-mail:[email protected] 45 Graduanda em Biblioteconomia pela UFMA E-mail:[email protected] 43 171 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Keywords: Mediation of Reading. Family. School. Library. 1 INTRODUÇÃO A leitura está presente em todas as etapas da vida do indivíduo. A mediação inicia-se, portanto a partir do momento da gestação nas conversas dos pais com a criança ainda no ventre e perpassa ao longo da sua história em que família, escola e biblioteca têm funções fundamentais nesse processo de formação de leitores. Mas, esse é um fator que depende da estrutura política, econômica e cultural de cada família e como se manifesta a mediação da leitura em cada ambiente. Este estudo nasceu a partir das discussões feitas em sala de aula na apresentação do seminário sobre a temática mediadores da leitura na bibliodiversidade. Dentro do tema apresentado foram levantadas várias questões a cerca do gosto pela leitura e como ele se processa na família, escola e biblioteca. Com base nessas discussões, nosso interesse foi despertado para conhecer mais sobre a mediação da leitura nesses espaços e sua importância na formação do leitor, partindo do pressuposto que o Brasil é visto como um país de não leitores. Soma-se a isto a dificuldade vivenciada pelos universitários em contextualizar os textos científicos. Daí o interesse em aprofundar leituras para compreender algumas indagações que surgiram: Como se dá de fato o processo da leitura na educação básica? Como esse processo está estruturado na família, na escola e biblioteca? Como o bibliotecário pode contribuir para essa formação? O artigo tem como objetivo refletir sobre a importância da leitura na família, escola e biblioteca com o intuito de enfatizar a prática da mediação nesses ambientes e sua contribuição para formação de leitores críticos e reflexivos. A metodologia aplicada na pesquisa trata-se de uma revisão de literatura que segundo Gil (1998, p. 48) é desenvolvida com base em literatura já existente. O estudo aborda sequencialmente leitura na família, leitura na escola: processos e retrocessos, leitura na biblioteca escolar. Portanto, nota-se que, cada etapa no processo de formação do leitor é de grande importância a formação do indivíduo para a vida e sociedade em que atua. Sendo assim, cabe a família, escola e biblioteca dispor de atividades que desperte o interesse da criança pela leitura. 2 LEITURA NA FAMÍLIA: pais mediadores de leitura É através do convívio familiar, que deve ser atribuído o berço da educação, pois é neste espaço que a criança aprende através dos ensinamentos dos pais e até se espelham neles 172 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 para construir uma primeira identidade, principalmente no que refere ao seu modo de vida, na sua forma de agir, de pensar e de sentir. Perante a realidade do contexto familiar, cabe aos pais a responsabilidade de despertar nos seus filhos em primeira instância o interesse na leitura de mundo, ou seja, o seu mundo familiar manifestado nas suas vivencias e experiências dentro deste ambiente de aconchego e carinho. E, para que isto ocorra, é necessário que se aproveite ao máximo esta fase de tamanha imaginação e curiosidade das crianças para realizar práticas de incentivo e interesse educacional na longa caminhada que envolve o processo da formação do leitor. Desta maneira, é imprescindível a figura dos pais ou familiares como principais mediadores da leitura para os seus filhos, pois é através deles que a criança irá se envolver com o mundo da leitura, a princípio através do lúdico, pois é este contato com as pequenas atividades do dia a dia que fará com que a criança sinta interesse pelo gosto de aprender a ler posteriormente na escola e assim em qualquer fase da sua vida. Diante disso Vigotskii (1988, p.109) afirma que: [...] a aprendizagem da criança começa muito antes da aprendizagem escolar. A aprendizagem escolar nunca parte do zero. Toda a aprendizagem da criança na escola tem uma pré-história. Por exemplo, a criança começar a estudar aritmética, portanto, a criança teve uma pré-história da aritmética, e o psicólogo que ignorar isso está cego, mas já muito antes de ir à escola adquiriu determinada experiência referente à quantidade, encontrou já várias operações de divisão e adição, complexas e simples; portanto, a criança teve uma pré-escola de aritmética, e o psicólogo que ignora este fato está cego. Para que isto ocorra, é necessário em primeiro momento que os pais criem estratégias ou formas de incentivo para que os seus filhos estejam familiarizados com o mundo da leitura antes da sua vida escolar. É preciso levar em consideração como parte desse processo de desenvolvimento da leitura na criança, suas vivências e práticas no ambiente familiar. Esta primeira estratégia de formar crianças leitoras, não se refere ao ensino da leitura e escrita da palavra, mas sim, a outras formas lúdicas de estimular e exercitar a imaginação das crianças através de atividades, que de acordo com Barbosa (1994, p. 25) incluem o contato dos signos através dos pais, seja pela estória contada na hora de dormir ou canções ensinadas às crianças. Para Martins (1982, p. 27) “[...] a leitura não é somente o impresso, mas a música, os desenhos, as histórias contadas, todos são modos de leituras que podem ser trabalhadas em família no aconchego do lar.”. Desta maneira, é necessário que os pais sejam contadores de histórias para os seus filhos, presenteie a criança com livros adequados a sua idade, que podem incluir gibis e livros ilustrativos de estórias infantis, e a partir daí, incentivar os filhos a contarem do seu modo as 173 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 histórias contadas. São pequenos gestos como estes, que irão preparar a criança para a sua vida escolar, pois é através dessas vivencias simples de incentivo no lar que fará com que a criança antes de aprender a ler e escrever desenvolva o gosto pela leitura. 3 LEITURA NA ESCOLA: formação do leitores críticos e reflexivo Na escola a criança desenvolve o gosto pela leitura da palavra escrita, pois é neste ambiente que em primeiro momento aprendemos a ler e escrever. Neste sentido, deve-se pensar qual o papel dos professores enquanto mediadores de leitura. Mas, não somente de forma codificada mais sim decodificada, pois é extremamente importante a formação de leitores letrados e não somente alfabetizados, que gostem e tenham o hábito de ler e saber interpretar de acordo com suas vivencias de mundo. Há tempos discute-se a leitura na escola, muitas perguntas norteiam os processos e os métodos utilizados para se aprender a ler. A mediação da leitura nesse ambiente é crucial para formação do indivíduo crítico-reflexivo, pois a escola é a intermediária desse processo, que tem família e biblioteca como aliadas nessa questão. Na infância somos induzidos a reconhecer o código, o importante é ler o que está escrito mesmo sem entender o significado da leitura para nossas vidas. Silva (2003, p. 53) reforça sobre a importância de se ter uma leitura crítica, destaca que; A leitura se efetuada dentro de modelos críticos, sempre leva à produção ou construção de outro texto: o texto do próprio leitor. Em outras palavras, a leitura crítica sempre é geradora de expressão: o desvelamento do próprio ser do leitor, levando-o a participar do destino da sociedade o qual pertence. A realidade das escolas brasileiras e a dificuldade de produção dos alunos na universidade comprovam as lacunas do processo de leitura desde sua educação básica, o aluno não tem o envolvimento necessário com a leitura, pois, acredita que é apenas uma etapa da sua vida, ou seja, não compreende que faz parte do desenvolvimento do país. Diante disso, Ferreira (2001, p. 10) enfatiza que “[...] a rotina é tão mecanizada, que não há mais o olhar crítico sobre ela.”. O processo de leitura que deveria levar em conta na prática a leitura de mundo com base na realidade de cada um atrela-se a valores culturais de uma época que às vezes bem diferente da vivenciada pelo estudante, que na maioria das vezes não consegue identificar e compreender o que leu. Sobre esse aspecto Freire (2006, p. 17) retrata que: A memorização mecânica da descrição do objeto não se constitui em conhecimento do objeto. Por isso é que a leitura de um texto, tomado como pura descrição de um objeto é feita no sentido de memorizá-la, nem é real leitura, nem dela portanto resulta o conhecimento do objeto de que o texto fala. 174 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Falar de leitura nos remete a buscar um pouco sobre a nossa história para tentar compreender algumas questões tão presente na nossa realidade hoje, porém presente na sociedade a muito tempo. A leitura no Brasil tem sua origem na colonização. Durante muitos anos apenas os nobres tinham acesso à leitura, com o decorrer dos anos após a abolição da escravatura e a miscigenação dos povos, começou-se a pensar na difusão escolar, agora a população pobre, negra e mulheres passariam a ter acesso à leitura. Segundo Veiga (2007, p. 13): A difusão da necessidade da escola se fez na ampla ênfase dada à formação de uma sociedade brasileira civilizada; entretanto [...] por diferentes motivos houve uma significativa distância entre os discursos anunciadores da urgência da escola e a concretização efetiva da escolarização da sociedade. Nesse contexto, o processo de leitura, que deveria iniciar na família passou a ser somente da escola, logo o caminho para formação de leitores perdeu um grande degrau: a família. Assim, na medida em que para algumas famílias a leitura não era importante para compreensão do mundo o país ia perdendo seus leitores que agora só estavam preocupados em seguir o sistema de ensino para passar de ano, chegar à universidade e ter uma formação profissional, a questão principal é a sobrevivência diária. Veiga (2007, p. 220) argumenta que: Uma importante mudança foi a percepção definitiva de que a escola é o espaço privilegiado para instruir e educar os futuros cidadãos e membros da sociedade. A escolarização obrigatória e generalizada passa a representar um aspecto decisivo tanto para o progresso individual quanto para o progresso social. A escola trabalha com a palavra, e os estudantes aprendem pela mediação dos professores os códigos da leitura e escrita, desse modo para formalizar essa relação adotam modelos metodológicos, que preparam o perfil leitor, ou seja, a escola tem a responsabilidade de ensinar a ler e escrever, porém ela faz parte de um sistema que orienta os indivíduos de acordo com os interesses da classe dominante. Segundo Magnani (2001, p.8) nessa perspectiva, a escola se torna um dos agentes centrais da atuação das ideologias, concretizando a concepção de mundo de uma classe, através da legislação, programas de ensino, conteúdos, metodologias e avaliação, de forma tal a inculcá-la de maneira natural e indolor, como padrão a orientar o comportamento de todos os indivíduos. Os professores devem reavaliar os processos de leitura, ouvir a opinião dos alunos, incentivá-los a se posicionarem sobre diferentes assuntos, motivá-los a terem posicionamento político. Magnani (2001, p.137) ressalta que: [...] cabe ao educador romper com estabelecido, propor a busca e apontar o avanço, para além da dicotomia valorativa entre quantidade e qualidade. Para isso é preciso problematizar o conhecido transformando-o num desafio que propicie a mobilidade. A leitura entre processos e retrocessos, é a forma de problematizar se o processo aplicado está ajudando a formar leitores ou causando um retrocesso formando apenas decodificadores. Neste contexto, coloca-se o professor como mediador da leitura, logo, valorizá-lo é indispensável, porque faz parte da sua atividade profissional, ensinar a ler, escolher o tema que melhor atenda as necessidades dos alunos, para compartilhar 175 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 conhecimento por meio da leitura. Ferreira (2001, p. 20) diz “Ao colocar o ‘professor’ de leitura como intermediário do ato de ler a leitura passa do processo natural ao processo cultural”. O prazer que a leitura propicia deve ser lembrando pelos professores, que agora exercem a bela função de agentes transformadores da sociedade. Mingues (2007, p. 22) destaca alguns princípios para essa relação se tornar ainda mais proveitosa: a) a ideia de que qualquer acervo deve priorizar várias visões de mundo e, portanto envolver a todos com a possibilidade de analisar questões, avaliá-las por conta própria e, assim, tomar posições imprescindíveis na formação de leitores competentes; b) livros não são bens duráveis e, portanto, é possível que acabem. Isto pode indicar, ainda, que foram de fato lidos, explorados e, portanto cumpriram seu objetivo; c) principalmente em relação aos pequenos acervos, é preferível que estes tenham exemplares variados de muitos livros do que muitos exemplares de um único livro; d) sempre que possível apoiar a seleção e compra dos acervos a partir de várias consultas, pois a produção editorial atual oferece, para os itens levantados no item diversidade, especificidades e prioridades que não devem escapar dos olhos atentos de quem seleciona e compra livros; e) ideias, gostos e preferências, entre outras coisas, são culturais e aprendidos, portanto é determinante pensar que o que for oferecido nas nossas escolas nos responsabiliza em relação ao repertório que será construído pelos alunos. Diante do exposto, para a formação de leitores é importante ter como critério, entre tantas opções, reunir, em cada acervo, as obras mais representativas do real e do imaginário dos grupos a que se destinam tanto os textos informativos quanto os literários. O papel do professor é de fundamental, pois, ele é o porta-voz da linguagem dos livros para os alunos. É ele que empresta sua voz para que o que está escrito nos livros se transforme em comédia, em tragédia, em diálogos, em curiosidades e em poesia. Por fim, o processo de leitura na escola ainda precisa de alguns ajustes, principalmente no que diz respeito a leituras predeterminadas, como procedimento rigoroso, com intuito apenas avaliativo, deixando a importância da leitura em ultimo lugar. E importante ressaltar que, a escola tem um papel social importantíssimo na sociedade, que é formar pessoas capazes de refletir, discutir e se posicionar. 4 LEITURA NA BIBLIOTECA ESCOLAR A biblioteca em grande parte é vista por seus usuários apenas como um lugar onde se armazenam livros, um lugar sem vida. Este conceito deve ser mudado através de iniciativas criadas por bibliotecários e professores. Para que isso aconteça, é necessário que dentro dos 176 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 projetos pedagógicos ações que exaltem o verdadeiro existir das bibliotecas sejam desenvolvidas, para que assim, se tenha maior número de usuários neste espaço de leitura e produção de conhecimentos. O bibliotecário é principal agente mediador nesse espaço, pois compete a ele: [...] orientar o leitor não especializado na selva selvaggia dos livros e ser o médico, o higienista de suas leituras [...], a comodidade de poder receber com pouco ou nenhum esforço inumeráveis ideias armazenadas nos livros e periódicos vai habituando o homem, já acostumou o homem comum, a não pensar por sua conta e a não pensar o que lê, única maneira de se apropriar verdadeiramente do que leu. (ORTEGA Y GASET, 2006, p. 45). Logo, é indispensável à atuação desse profissional nas bibliotecas escolares, que além de auxiliar na pesquisa pode e deve contribuir para o estimulo a leitura crítica e reflexiva, ajudando para que de fato a biblioteca possa alcançar seu objetivo. Dessa forma, “O papel da biblioteca escolar é incentivar a leitura reflexiva, pois através dela o aluno terá outra concepção do texto, não como estático, desprovido de sentido e de valor, mas como algo vivo, repleto de significados e informações interessantes”. (SANTANA FILHO, 2010, não paginado). Leahy (2006, p. 18-19) aponta alguns fatores contribuintes que minimizam o interesse dos alunos em frequentar as bibliotecas, entre os principais encontram-se: O acervo é antiquado e desinteressante para a clientela, em precárias condições de manuseio; [...] o despreparo dos profissionais que atuam na biblioteca escolar, quase sempre professores em final de carreira, ou afastados de sala de aula; [...] falta entrosamento entre sala de aula e sala de leitura / biblioteca; [...] falta verba para a aquisição de acervo adequado à clientela; [...] havendo verba, não é raro que falte autonomia para que cada biblioteca escolar possa decidir de forma independente os títulos que interessam à sua comunidade. A tutela do Estado como único responsável pela cultura escolar ou letrada não só é prejudicial, posto que uniformizadora, mas também ineficaz, deixando a desejar por não fornecer materiais adequados e suficientes, e por não estimular a busca independente [...]; a leitura costuma ser obrigatória e uniforme para toda uma turma, prática opressora – ainda frequente nas salas de aula escolares [...] Percebe-se diante disso, o grande desafio do bibliotecário que precisa usar da criatividade para buscar estratégias que despertem o desejo nos alunos de se tornarem íntimos da biblioteca e a frequentarem voluntariamente. Destaca-se também que “Na biblioteca escolar o bibliotecário é como se fosse um professor e sua disciplina é ensinar a aprender.” (CÔRTE; BANDEIRA, 2011, p. 8). Portanto, deve estar claro para esse profissional qual é sua missão, ou seja, não corresponde apenas a ajudar na busca pela informação, mas contribuir para que essa informação gere conhecimento, tarefa essa de grande desafio, porém que pode ser suavizada quando se cria oportunidades que permita tornar conhecida a importância da biblioteca na 177 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 escola, tornando-a visível para aluno e professor. Para o aluno também tem que estar claro que a biblioteca é esse espaço que ele pode expandir sua imaginação, lugar de resolver problema, dúvidas, e que é uma parceira nas tarefas de sala de aula, além de ambiente também de entretenimento. Diante disso bibliotecários e professores só têm a ganhar nessa parceria. Um dos grandes problemas para que a biblioteca torne-se visível dentro das escolas, é que em sua maioria os profissionais que atuam não são bibliotecários e sim funcionários em desvio de funções. Côrte e Bandeira (2011, p. 12-13) destacam que; O profissional para trabalhar na biblioteca escolar deve ter as seguintes competências: possuir curso de biblioteconomia, conforme a lei nº 4084/62; ser um investigador permanente; possuir atitudes gerenciais proativas; possuir espírito crítico e bom senso; ser participativo flexível, inovador, criativo [...] saber que a informação é imprescindível a formação do aluno; dominar moderna tecnologias da informação [...]; saber que a informação é imprescindível à formação do cidadão [...]; ser um leitor crítico, que distingue, no momento da seleção e da indicação de livro, a literatura infantil e juvenil que é de qualidade. Complementa as autoras que para a biblioteca alcançar seu objetivo no processo de formação de leitores entre outros fatores é preciso que bibliotecários e professores caminhem juntos no sentido de somarem esforços e trocarem conhecimento. O bibliotecário deve envolver o professor a participar da formação do acervo e seleção de novos materiais assim como o professor deve incentivar os alunos a prática da pesquisa, a desenvolverem o hábito em frequentar a biblioteca e o gosto pela leitura nesse espaço. Côrte e Bandeira (2011, p.127-131) destacam as estratégias mais utilizadas como estímulo à leitura na biblioteca: a) Hora do conto, atividade que desperta o imaginário das crianças, sua aplicação fica a critério de quem a desenvolve podendo utilizar como recurso a dramatização; b) Sarau literário e poético, onde é realizada a leitura de textos conhecidos ou não pelos alunos com foco na reflexão sobre o texto. Os livros do próprio acervo podem ser usados; c) Sarau musical. Aqui a habilidade de cada aluno quanto ao instrumento, canto, dança e outros são levados em consideração. Os livros que falam sobre os temas abordados pelo sarau musical devem ficar expostos para os alunos; d) Roda de leitura, atividade que estimula o debate por meio de um texto; e) Gosto pela leitura. Os próprios alunos escolhem os textos que serão lidos em tempo determinado pelo mediador, no término perguntas são feitas sobre o assunto 178 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 lido com o intuito de mostrar que de um mesmo texto pode haver várias interpretações; f) Encontro com o escritor. O encontro é marcado com escritor de alguma obra que falará a respeito dela para os alunos, esclarecendo qualquer curiosidade; g) Dia do vídeo. Relacionar o filme com algum livro; h) Feira do livro; i) Uso de palestras bordando temas do dia a dia dos alunos. Com base nos temas trabalhados levar livros, periódicos, documentários que tratem a respeito do assunto; j) Grupo teatral e grupo coral; k) Os dez mais. Faz referência aos dez livros da biblioteca mais lidos, deve estar exposto livros com seus respectivos resumos; l) Leitura em debate; m) Concursos; n) Premiações para os alunos que mais leram no semestre. As estratégias podem ser as mais variadas possíveis, portanto o bibliotecário deve usar da criatividade e inovação para escolher e aplicar as que mais se adéqua a realidade da escola e corpo discente. Independente das condições físicas, materiais, financeira e humana há sempre algo que pode ser executado com a finalidade de despertar o gosto pela leitura. 5 CONDERAÇÕES FINAIS A mediação da leitura pode ser exercitada através de três ambientes principais, sendo na sua primeira fase, ainda na infância com a família, em segundo momento na escola com os professores incluindo as bibliotecas escolares. Pais, professores e bibliotecários, dentro do contexto da educação devem ser os principais atores no que se refere à formação de leitores. Dentro deste contexto, de acordo com o Plano Nacional do Livro e da Leitura (PNLL), o acesso ao livro e a leitura deveria ser estimulado na família, na escola e na biblioteca e em todos os ciclos de desenvolvimento humano, propiciando assim, o acesso universalizado para todos e propondo ações de inclusão digital, social e informacional, por meio da leitura e do acesso a informação por pessoas e instituições. Portanto, é extremamente importante que os pais sejam leitores para os seus filhos, e que os mesmos tomem consciência do seu papel no processo da educação infantil, processo este que deve envolver a principio o despertar das crianças para o mundo lúdico e posteriormente para o mundo da escrita e da leitura. 179 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Dentro do contexto das escolas, cabe aos professores darem continuidade a este processo, de ensinar a escrever e ler, mas não de forma codificada e sim de maneira que o aluno saiba produzir o conhecimento através das suas inquietações e reflexões a cerca de qualquer assunto. Para que isto aconteça, é necessário que se formem pessoas letradas e não somente alfabetizadas, pois é através do letramento informacional que é possível se formar alunos preparados para a vida, no sentido de terem habilidades cognitivas a partir de um ensino voltado para a pesquisa e produção do conhecimento. Portanto, faz-se necessário a integração entre professor e aluno. A conclusão inevitável que se pode chegar após o estudo é que se tenha dentro das escolas uma Biblioteca que supra as necessidades informacionais dos alunos, este ambiente deve fazer parte dos projetos pedagógicos da escola e seu acervo deve ser montado de acordo com as necessidades dos seus usuários, deve ser um espaço dinâmico e atrativo. No entanto, é necessária a atuação do bibliotecário, que execute as tarefas de maneira satisfatória, e que contribua para mudar o conceito de que a biblioteca é apenas uma sala onde os livros são armazenados. A família, escola e biblioteca podem ser esse espaço dinâmico de formação do leitor para a vida e para a sociedade na qual esta inserida. REFERÊNCIAS BARBOSA, J.J. Alfabetização e leitura. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1994. CASTELLS, Manuel. A sociedade em redes: a era da informação: economia, sociedade e cultura. 6. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2002. CÔRTE, Adelaide Ramos; BANDEIRA, Suelena Pinto. Biblioteca escolar. Prefácio de Iara Conceição Bitencourt Neves. Brasília, DF: Briquet de Lemos / Livros, 2011. DEMO, Pedro. Leitores para sempre. Porto Alegre: Mediação, 2006. FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 48. ed. São Paulo: Cortez, 2006. GIL, A.C. Como elaborar projeto de pesquisa. 3. ed. São Paulo: Atlas, 1991. LEAHY, Cyana. A leitura e o leitor integral: lendo na biblioteca da escola. Belo Horizonte: Autêntica, 2006. MAGNANI, Maria do Rosário Mortatti. Leitura, literatura e escola: sobre a formação do gosto. 2. ed. 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Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O BIBLIOTECÁRIO COMO DISSEMINADOR SOCIAL NO CENÁRIO INFORMACIONAL DO VÍRUS HIV/AIDS GT 3- Práticas de transformação social: o profissional da informação como agente transformador Modalidade: Comunicação oral OLIVEIRA, Alessandra46 CASTRO, Jetur47 RESUMO Trata da importância que o profissional bibliotecário possui como o disseminador da informação, frente à realidade dos casos sociais, no que se refere aos conceitos sobre o HIV/AIDS. E a sua seriedade em grupo, para levar assistência através das informações, como alicerces contra as crendices e equívocos a respeito do vírus HIV. O objetivo deste artigo é abordar a formação social dos próprios profissionais da informação diante de ações sociais referentes ao contexto e a disseminação do vírus HIV, para então mostrar sua real importância como ser humano, diante das percepções que vem átona na camada social. Também, versa o filme “Cazuza o tempo não para”, na busca de entender como a AIDS era vista nos anos 80, quando um dos primeiros casos no Brasil veio à tona pelo referente artista, e como o vírus era definido naquele tempo, em comparação com as mudanças e ideias que continuam presente na mentalidade do social. A metodologia utilizada foi exploratória de caráter bibliográfico fundamentada em ideias de autores como, Almeida Júnior (1997), Barreto (2005), Cunha (2003), Marques (2002) e Grangeiro (2009), e sem dispensar as opiniões de outros pensadores sobre o assunto abordado no trabalho. Finaliza discutindo, o preconceito e formas de contaminações, no qual ainda persistem na imaginação dos indivíduos, uma vez que o bibliotecário pode contribuir, para tirar as dúvidas dos próprios portadores do vírus e da sociedade. Deste modo, tornando-se fatores importantes, para que o bibliotecário faça juramento e exercício da profissão da qual, profere a liberdade de investigação científica na dignidade do ser humano. Palavras-chave: Mediação da informação. Conhecimento. Ação social. Bibliotecário. ABSTRACT It is of importance that the professional librarian has as the disseminator of information, visà-vis the reality of social cases, with regard to concepts about the HIVAIDS. And their seriousness in group, to bring assistance through the information, as foundations against the superstitions and misconceptions regarding HIV/AIDS. The purpose of this article is to address the social formation of own information professionals on social actions pertaining to the context and the spread of the HIV virus, to then show their real importance as a human being, on perceptions that comes social layer unstressed. Also, versa the movie Cazuza time to ", in the quest to understand how AIDS was seen in 80 years, when one of the first cases in Brazil has surfaced by referring artist, and how the virus was set at that time, compared to the changes and ideas that are still present in social mentality. The methodology used was exploratory bibliographical character based on ideas from authors such as Almeida Júnior 46 Graduanda em Biblioteconomia pela (UFPA). E-mail: [email protected] Graduando em Biblioteconomia (UFPA). Pesquisador e Colaborador da Rede Cariniana – (IBICT/Brasília). Email: [email protected] 47 182 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 (1997), Barreto (2005), wedge (2003), Marques (2002) and Geta (2009), and without dismissing the opinions of other thinkers on the subject addressed at work. Finalizes arguing, prejudice and forms of contamination, in which still exist in the imagination of individuals, once the librarian can contribute, to remove the doubts of virus carriers themselves and society. In this way, becoming important factors, so that a librarian make oath and exercise of the profession of which gives the freedom of scientific research on human dignity. Keywords: Mediation of information. Knowledge. Social action. Librarian. 1 INTRODUÇÃO O presente artigo aborda a importância que o profissional bibliotecário possui como disseminador da informação frente a realidade dos casos sociais, no que se refere aos conceitos sobre o HIV/AIDS. A sua importância na sociedade para levar assistência através das informações como alicerces contra os preconceitos e equívocos a respeito do vírus. Na utilização de sua ferramenta de trabalho e competências no auxílio das questões sociais como disseminador de informações para aqueles que carecem de informações e como apoio. Sabendo que o bibliotecário tem acesso as diferentes fontes de informações, para disseminar de maneira correta para aqueles que necessitam. Este profissional da informação possui competências necessárias em contribuir para amenizar as dúvidas e consequentemente os preconceitos dos próprios portadores e da sociedade a respeito do vírus HIV. Visto que a informação legítima quando repassada, torna-se ferramenta primordial contra a ignorância podendo vir até mesmo a mudar o pensamento social a respeito de determinado assunto. “A informação é qualificada como um instrumento modificador da consciência do indivíduo e da sociedade como um todo” (BARRETO, 2005, p.2). Visto que o bibliotecário não é apenas aquele que está inserido nas suas unidades de informações e processamentos, ele também pode ser considerado, como o profissional que atua em conjunto nas causas sociais levando ao individuo a clareza e o refletir sobre determinados assuntos. Para Campello (2003, p.30) o bibliotecário é profissional que está “envolvido no desenvolvimento de habilidades de pensar criticamente, ler, ouvir e ver, enfim ensinando a aprender a aprender”. Sendo que a raiz dos preconceitos e medos ainda existentes, é decorrente das inúmeras informações falsas que ainda envolvem o vírus HIV e a falta de leituras e o pensar criticamente da sociedade. Decorrido das inúmeras informações falsas que ainda envolvem o assunto, o bibliotecário entra em ação na sua missão em “facilitar aos indivíduos o acesso à informação e possibilitar, desta forma, o desejo de aprender, de discutir (...) desta forma, 183 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 nossa missão como agentes de transformação social é plenamente realizada” (CUNHA, 2003, p.46). É por estas realidades que o objetivo deste artigo é abordar a responsabilidade social do bibliotecário e a sua importância referente à disseminação da informação acerca do vírus HIV/AIDS. E de como ele tem a contribuir para as informações chegarem a indivíduos de forma correta, ajudando na diminuição do preconceito agregando mais conhecimento e senso crítico sobre a constituição do vírus HIV. A presente pesquisa conclui analisando o sensacionalismo midiático sobre o vírus HIV/AIDS, expondo como exemplo o cantor e compositor Cazuza, o primeiro artista brasileiro a confessar publicamente ser portador do vírus HIV. Abordando sua luta em sociedade como exemplo de portador que recebeu preconceito pelas falsas informações que a mídia repassava nos primeiros anos que o vírus se tornou conhecido no Brasil. 2 METODOLOGIA A metodologia utilizada no estudo é exploratória, assim Gil (2009) afirma que a pesquisa exploratória proporciona maior familiaridade com o problema (explicitá-lo). Pode envolver levantamento bibliográfico, entrevistas com pessoas experientes no problema pesquisado. A pesquisa exploratória apoia-se em determinados princípios bastante difundidos: 1) a aprendizagem melhor se realiza quando parte do conhecido; 2) deve-se buscar sempre ampliar o conhecimento e 3) esperar respostas racionais pressupõe formulação de perguntas também racionais (PIOVESAN, 1968). Em outras palavras, o estudo exploratório, tem por objetivo conhecer a variável de estudo tal como se apresenta, seu real significado e o contexto onde se insere. Pressupõe-se que o comportamento humano é mais bem compreendido no contexto social onde ocorrem (QUEIRÓZ, 1992). Logo, buscou-se maior conhecimento sobre o problema para torná-lo mais explícito. Ainda sobre caráter exploratório, Marconi e Lakatos (2010, p. 171) afirmam que: São investigações de pesquisa empírica cujo objetivo é a formulação de questões ou de um problema, com tripla finalidade: desenvolver hipóteses, aumentar a familiaridade do pesquisador com um ambiente, fato ou fenômeno, para a realização de uma pesquisa futura mais precisa, ou modificar e clarificar conceitos. A função da metodologia segundo Tomanik (2004, p. 184) “[...] é o de avaliar a adequação dos procedimentos adotados, analisando desde a relação destes procedimentos com os conceitos teóricos, até a importância de ambos para a formação das conclusões apetecidas e 184 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 apresentadas”. Diante dessa afirmação Babbie (1983), mostra-se então que a presente pesquisa é determinada como um estudo exploratório, mostrando-se características de um estudo bibliográfico. O estudo enfatiza o bibliotecário e a sua real importância através do seu profissionalismo, e a responsabilidade social do bibliotecário referente à disseminação da informação acerca do vírus HIV/AIDS. E de como venha a contribuir para as informações chegarem a indivíduos de forma apropriada as pessoas e usuários. Assim, ajudando na diminuição do preconceito agregando mais conhecimento e senso crítico sobre o vírus HIV. Diante da fundamentação teórica foram utilizadas pesquisas bibliográficas de autores da área de Ciência da informação como Almeida Junior (1997), que aborda o bibliotecário como importante agente social na informação sobre a AIDS. Assim como Cunha (2003), no qual retrata o papel social do bibliotecário e Barreto (2005) no qual defende a informação como processo modificado da sociedade. E autores que abordam o vírus HIV em seus estudos como Grangeiro (2009) e Marques (2002). 3 UMA SINTESE DO HIV/AIDS NO BRASIL A medicina estava confiante com a chegada das tecnologias para o aprimoramento de suas novas pesquisas achando que estavam no controle das epidemias. Quando o choque de um vírus veio à tona encontrando médicos e cientistas surpresos deixando dúvidas e mistérios sobre sua origem, tratamento e forma de cura. Surgi então o vírus no qual se tornou conhecido como o mal do século. A AIDS/HIV, epidemia que surgiu numa época em que as autoridades sanitárias mundiais acreditavam que as doenças infecciosas estavam controladas pela tecnologia e saber médicos modernos, suscitou comportamentos e respostas coletivos, nos quais estão inseridas as estratégias políticas oficiais em seus diversos contextos (MARQUES, 2002, p. 43). A sigla HIV procedente do nome científico inglês Human Immunodeficiency Virus (vírus da imunodeficiência humana) é o agente causador da AIDS Acquired Immunological Deficience Syndrome (síndrome de imunodeficiência adquirida). Os primeiros históricos no Brasil do vírus da imunodeficiência humana conhecida como HIV, causador da AIDS, teve seu reconhecimento em 1982, no estado de São Paulo (MARQUES, 2002). “Na primeira metade da década de 80, a identificação de novos casos manteve-se restrita aos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, nos grandes centros urbanos” (SADALA; MARQUES, 2006, p.2369). No início da pandemia, os casos se restringiam a um determinado grupo, sendo por isso adotado temporariamente o termo Doença dos 5 H - Homossexuais, Hemofílicos, 185 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Haitianos, Heroinômanos (usuários de heroína injetável), Hookers (profissionais do sexo em inglês), ou seja, foram conhecidos os possíveis fatores de transmissão (SOUSA, et al., 2012, p. 63). Pela falta de informações e os estudos ainda recentes sobre o vírus HIV, desencadeou preconceitos da sociedade sobre diferentes grupos. Os homossexuais foram alvos das primeiras discriminações, atribuindo a aids como consequência de costumes promíscuos. A AIDS ganhou a mídia no Brasil no dia 3 de Junho de 1983 quando o jornal Folha de S. São Paulo publicava matéria com o título congresso debate doença comum entre homossexuais. Alguns dias depois, em 12 de junho, foi à vez do Jornal do Brasil: Brasil registra dois casos de câncer gay; enquanto o hoje extinto jornal Noticias populares estampava na edição 116 de Junho a manchete Aids: doença de gays (MINISTERIO DA SAUDE, 2005, p. 18). O preconceito não se subsidiou apenas nos grupos discriminados, mas também nas relações sociais com os portadores chegando a pensar em não poder apertar a mão do portador pela crença que poderia ocorrer o contágio. Assim como “o termo ‘aidético’ passou a ser amplamente utilizado, simbolizando a forma pela qual a sociedade reconhecia a doença e o doente” (GRANGEIRO, et al., 2009, p.90). Os equívocos eram tomados em proporções amplas, a partir do diagnóstico detectado era sinônimo de passaporte para a morte. Já que os portadores perdiam a luta contra o vírus em pouco tempo devido às infecções oportunistas. Ocasionando muitas dúvidas e aflições aos portadores, no qual muitas das vezes se isolavam da vida em sociedade para evitar preconceitos. Entretanto o primeiro tratamento iniciou com a droga zidovudina mais conhecido como o AZT em 1987 (MINISTERIO DA SAUDE, 2005), ocasionando as primeiras chances de tratamentos para tornar o vírus controlado. Sendo assim “O Brasil foi um dos primeiros países em desenvolvimento a garantir o acesso universal e gratuito aos medicamentos antirretrovirais no Sistema Único de Saúde (SUS), a partir de 1996” (DOURADO, et al. , 2006, p. 2). O Brasil, atualmente, apresenta uma das políticas de enfrentamento à AIDS mais moderna do mundo, destacando-se a forte organização social para a formulação desta, o acesso às drogas terapêuticas, a mobilização da comunidade internacional e o movimento de reforma sanitária (SOUSA, et al.,2012, p.63). Diante dos avanços sobre o vírus HIV e suas formas de tratamento, muito ainda precisa ser feito, no que diz respeito não apenas no desempenho dos medicamentos antirretrovirais, mas também na informação sobre o vírus. Pois o preconceito ainda se subsidia na sociedade. 186 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O conhecimento do HIV/AIDS também ocorreu através de alguns artistas que eram portadores e vieram à tona na mídia. A década de 80 ocasionada por diversas transformações políticas, artísticas, musicais e econômicas, trás consigo, o estado alarmante na saúde. Dando destaque à frase “a década perdida” em que se tornou consagrada. 4 SENSACIONALISMO x SOCIEDADE Na sociedade atual o governo tem investido em coquetéis, anúncios para prevenções e exames. Pessoas que possuem o vírus conseguem viver melhor em comparação aos portadores do início da década de 80. As formas de tratamentos evoluíram, mas a forma que está sendo repassada a notícia sobre o vírus, tem muito a ser feito em sua caminhada para chegar mais longe na sociedade. O preconceito ainda vem subsistindo na mente da sociedade e até dos indivíduos que têm o medo de efetuar o teste para saber seu resultado. A falta de informação de como encarar a realidade, é o que ocasiona o medo de modo que o indivíduo não faça o exame, seja por medo de enfrentar a sociedade diante dos preconceitos ou por não saber ao certo como será sua vida após o diagnóstico de seu quadro clínico. Conforme Meneghin (1996, p. 400) “em meio a este cenário de confusão e divergências, a ignorância e a desinformação sobre a AIDS foram um legado prejudicial à comunidade [...]”. O vírus HIV/AIDS por certo tempo foi visto como a doença maligna, devido à mídia focalizar constantemente sobre o assunto ocasionando aos portadores perderem a luta contra o vírus e se privando da sociedade. As informações falaciosas que eram disseminadas nos meios de comunicação trouxeram como consequência, o preconceito e o medo que a sociedade possuía a respeito. Em 1981, as notícias sobre AIDS eram alarmantes e sensacionalistas causavam pânico, medo e discriminação entre a população (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 1998). A partir de 1983, a AIDS se transformou em notícia quase cotidiana na grande imprensa e também na imprensa sensacionalista. Algumas dessas matérias semearam pânico na população e cristalizaram imagens moralistas e discriminatórias que pouco correspondia ao perfil da epidemia que se iniciava (GRANGEIRO, et al., 2009, p.90). Em contribuição às informações sensacionalistas à revista VEJA de 1989, edição 1.077, estampou em sua capa a reportagem “Cazuza uma vítima da AIDS agoniza em praça pública” na qual, trazia a foto do cantor com pouco cabelo, visivelmente abatido. Para quem conhecia o artista, a foto deixava a entender que Cazuza já não era o mesmo fisicamente. Em uma década que ainda desconhecia o vírus HIV, a revista VEJA já possuía grande circulação, 187 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 impressionou a sociedade com sua imagem e texto sensacionalista na capa. Tendo incomodado o próprio cantor vítima da apelação feita. No qual em resposta pela atitude, Cazuza redigiu uma carta criticando a matéria e a revista. Tristeza por ver essa revista ceder à tentação de descer ao sensacionalismo, para me sentenciar à morte em troca da venda de alguns exemplares a mais. Se os seus repórteres e editores tinham de antemão determinado que estou em agonia, deviam, quando nada, ter tido a lealdade e fraqueza de o anunciar para mim mesmo, quando foram recebidos cordialmente em minha casa (ARAÚJO, 2000, p.111). Para uma sociedade que não conhecia ao certo do que se tratava o vírus, uma matéria em que coloca como referencial um artista popular com AIDS e o estado em que se encontrava por possuir o vírus, causou um choque tanto para os portadores, quanto para a sociedade, por se tratar de uma revista de grande circulação trazendo à tona um ícone nacional, acentuando ainda mais o preconceito. Segundo Grangeiro, et al., (2009, p. 90) “essas notícias foram os primeiros contatos que a sociedade Brasileira teve com a AIDS e contribuíram para reforçar a imagem do doente (...) do preconceito associado a grupos sociais e do sofrimento do paciente”. Através do sensacionalismo midiático não só visto pela revista VEJA, mas por outros meios de comunicação que encandeavam ainda mais as incógnitas do vírus. Conforme Pereira e Nichiata (2011, p.3), “(...) as publicações na imprensa sobre a AIDS tinham como marcas o preconceito e o moralismo”. A sociedade passou a conviver com o estado de pânico acreditando em equívocos no qual entendiam que não poderiam emprestar roupa, abraçar e compartilhar o mesmo prato e talheres na concepção que tudo seria formas de infecção. O filme “cazuza o tempo não para” em uma das suas cenas relata esta realidade, quando o cantor descobre que estar infectado com o vírus fica evidente quando ele diz: “o médico disse que eu fui tocado pela AIDS, não posso emprestar roupa para ninguém, que eu não posso beijar e tudo que é meu deve ser separado” (CAZUZA..., 2004). O pai do cantor João Araújo, em um depoimento ao livro só as mães são felizes, confirma esta ideia que a sociedade e os médicos possuíam na época “só para se ter uma ideia, as primeiras recomendações foram no sentido de não se comer no mesmo prato que o doente, não usar as mesmas roupas, não beijar. Todos os seus objetos de uso pessoal deveriam ser esterilizados” (ARAÚJO, 2000, p.80). Hoje, a sociedade evoluiu a respeito da convivência com seus portadores. O governo passou a investir nas campanhas preventivas e informações sobre as formas de contágios, no entanto o preconceito ainda está ativo na mente do corpo social, não tanto 188 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 quanto as barreiras da década de 80, mas ainda prevalece. “Várias empresas hoje possuem nos seus quadros, funcionários soropositivos e/ou que vivem com AIDS. O preconceito e discriminação diminuíram muito, mas ainda existem” (SANTANA, 2012, sem paginação). Pois, os estereótipos criados sobre os portadores é o que ocasiona a resistência para o entendimento e continuidade com o preconceito. A imagem de um portador da AIDS que nos salta dos arquivos da memória é sempre a de uma pessoa magra, debilitada, com o corpo coberto de manchas, deitada sobre uma cama definhando, sofrendo solitária e abandonada. Esta imagem foi verdadeira um dia, é bem verdade, mas já faz muito tempo. Hoje com o advento de novas e potentes drogas e os avanços terapêuticos, na maioria das vezes é muito difícil, reconhecer um portador do HIV, principalmente quando em estado assintomático, simplesmente olhando-se para ele. No cotidiano o que diferencia uma pessoa soropositiva das outras é o preconceito (FERREIRA, 2001, p. 21). 5 O BIBLIOTECÁRIO COMO DISSEMINADOR DE INFORMAÇÃO SOBRE O VÍRUS HIV/AIDS O bibliotecário, profissional que trabalha com a organização, pesquisa e disseminação da informação no âmbito interdisciplinar. Tem real importância social em mediar às informações para que os seus usuários venham ter o conhecimento ao seu alcance de forma coerente e satisfatória. Para isto no que diz respeito a contribuir na disseminação da informação sobre o vírus HIV/AIDS, no qual ainda é abordado, sobre as formas de preconceito e medo devido às faltas de informações sobre o vírus. Gostaríamos que você nos corrigisse caso estejamos errados-que o principal trabalho do nosso querido profissional bibliotecário é, exatamente, a informação. Correto? Ora, por que é então, que o bibliotecário (o tal profissional da informação vale enfatizar) nada faz para informar a população sobre a AIDS, contribuindo para diminuir o número de contágios? (ALMEIDA JUNIOR, 1997, p.87). Disseminar a informação não está ligado apenas às técnicas e o ambiente de acervos para que cheguem aos usuários. Muitas das vezes o bibliotecário se limita nas suas unidades de informação com o pensamento que está contribuindo na propagação da informação, mas nesses ambientes existe o público no qual vem em busca de suas próprias ciências e que não estão excluídos das informações. Inúmeras campanhas sobre as doenças sexualmente transmissíveis estão à disposição da população. Porém, é preciso ressalvar que ainda existem cidadãos desprovidos de informações verídicas sobre o assunto das doenças sexualmente transmissíveis (DST´s), especificamente sobre o vírus HIV. Populações que não possuem a cultura, condições ou o alfabetismo de frequentar uma biblioteca, buscar informações ou de levar a sério as 189 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 campanhas nacionais. No qual obtêm informações apenas através do rádio, televisão ou jornal, sendo que estes meios, muitas vezes, transmitem informações superficiais ou não tão confiáveis. A vida atual exige que os indivíduos sejam informados o tempo todo: necessitam conhecer notícias, fatos, instruções, padrões, regras de procedimentos, normas, estatísticas, etc. Mas, é necessário não esquecer que o mais importante não é a quantidade de informação disponível, e sim a sua qualidade (CUNHA, 2003 p.4). Decorrido da falta ou o excesso de informações que a sociedade obtém, o profissional bibliotecário tem fundamental importância em levar seu profissionalismo no papel social como disseminador da informação para aqueles que ainda estão carentes de informação. Conforme Castro e Ribeiro afirmam (1997, p.21) “ao lado da sociedade da informação, há, sem dúvida, outra – a sociedade da desinformação (...)”. Como uma de suas responsabilidades profissionais, o bibliotecário possui a importância de prestar informação a diferentes usuários sem deixar nenhum desprovido do saber. Porém é preciso prestar assistencialismo a camada social menos favorecida de informações no qual, muitas das vezes é esquecida, ou achar que não precisa levar tão a sério a questão do vírus, HIV/AIDS. Nós precisamos atingir a população carente, a população carente de informações. Não será com essa postura apática, passiva e reacionária da biblioteca de hoje que o conseguiremos. Não basta espalharmos bibliotecas em cada quarteirão, em cada esquina. É preciso que ele seja consciente da sua real função social; é preciso que ele saiba que seu trabalho pode e deve alterar pensamentos e comportamentos; é preciso que ele vá até a população, que ele trabalhe com a comunidade (ALMEIDA JUNIOR, 1997, p. 92). Levar a informação aos que necessitam, torna-se fator importantíssimo para acrescentá-la tanto ao seu conhecimento social quanto ao profissional. Visto que, “é necessário não esquecer que o trabalho de informação é um trabalho de troca – é através desta troca que crescemos que obtemos mais informações” (CUNHA, 2003, p.42). O bibliotecário que acomoda sua formação em técnica, isolando-se em paredes de bibliotecas no qual, fica esperando os usuários virem em buscas da informação achando que a disseminação está sendo repassada democraticamente será visto dessa forma como o profissional cômodo no qual, não será é visível perceber a sua contribuição em sociedade. A população não nos conhece como úteis socialmente. E sabem por quê? Porque insistimos em não reconhecer a nossa verdadeira função social que não é apenas incentivar a leitura, mas trabalhar com a informação, levá-la àqueles que dela necessitam (ALMEIDA JUNIOR, 1997, p. 92). O bibliotecário tem muito a contribuir na sociedade, pois ele possui uma das ferramentas imprescindíveis para agregar valor na educação social, no que se refere à 190 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 informação atuando agregado a sua competência profissional em fazer o uso da mediação nos diferentes setores, ambientes e aspectos sociais. Conforme aborda Liston e Santos (2008, p.2) “o bibliotecário é capaz de trabalhar a informação de modo a atender as necessidades da sociedade em seus aspectos: políticos, econômicos, educacionais, sociais, de saúde, culturais, recreativas e tecnológicas (...)”. Miranda (2004, p.118) enfatiza que “o acesso à informação ou a facilitação desse acesso é o objetivo desses profissionais, que atendem a usuários (...) divididos em grupos com características e demandas de informação diferenciadas”. Com a prática destas atitudes, este profissional conquistará tanto a sua função em utilidade pública, quanto sua prática de disseminador multidisciplinar na sociedade. Uma vez que a camada social passará a levar mais a sério as orientações quando as mesmas forem mais assistenciais. O governo vem investindo nas divulgações no que diz respeito às prevenções, testes rápidos e medicamentos novos sobre o vírus, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulga dados sobre os respectivos portadores, cientistas buscam vacinas cada vez mais eficazes. Valendo-se dessas informações o bibliotecário tem muito a contribuir na organização destas informações, na forma de levar as atualizações sobre o assunto, ou seja, no apoio onde as informações governamentais não consigam ser alcançáveis. Disseminando assim seu papel social junto as ONGs, com os profissionais da área médica, ou seja, na prestação de seus serviços em contribuição com as diferentes áreas. Pois, “a biblioteconomia é reconhecida como uma área interdisciplinar sendo assim precisa da contribuição de outras áreas” (ALMEIDA JUNIOR, 1997, p.94). Dessa forma, a busca de disseminar e alcançar a sociedade serão papel do bibliotecário. Deste modo, sendo criativo e dinâmico procurando sempre maneiras de se inserir mais em sociedade e buscando de contínuo refletir criticamente sobre o estado social em que vive (LISTON; SANTOS, 2008). Tendo em vista que sua função é contribuir para o desempenho do papel social, frente às informações do HIV/AIDS, em bases de dados na área medicina, no qual o profissional bibliotecário tem conhecimento, como a medline, bvs, web of science, das quais apresentam informações e a atualizações sobre o assunto. Em exemplo a Medline, na qual possui a introdução do termo AIDS desde 1983, disponibilizando diferentes filtros de buscas desde sexo, idade até textos completos gratuitos. Com o alcance de informações não tem o porquê de não promover o exercício da informação nas comunidades sociais. Para trabalhar nos fatores em que a população realmente tenha suas dúvidas a respeito do vírus, as suas reais formas de transmissões em questões muitas das vezes incógnitas na mente das pessoas. E ajudando o País a alavancar ainda mais 191 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 nas respostas da informação certa e assistência no combate a AIDS, uma vez que para a ONU o Brasil vem obtendo bons índices sobre o combate a AIDS chegando a tornar-se líder. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS Esta pesquisa mostrou a capacidade do profissional bibliotecário de disseminar a informação sobre um assunto, muitas das vezes, visto como polêmico pela sociedade, no que se refere ao Vírus HIV/AIDS. Visto que, diante dos estudos que abordam o papel social do bibliotecário, a pesquisa obteve características imprescindíveis no qual, este profissional é capaz de desenvolver diante das causas sociais. No que dizem em respeito, a pesquisar em fontes verídicas, organização e disseminação da informação sobre o público-alvo e sua interdisciplinaridade nos estudos em relação a diversas áreas. A abordagem na sociedade sobre HIV/AIDS, ainda é um tema que precisa ser debatido com mais aprofundamento, pois muitos cidadãos ainda acreditam em falácias sobre o assunto, o que consequentemente ocasiona o preconceito ainda existente na sociedade. Por tanto, não podemos negligenciar a existência de pessoas que ainda não possuem acesso a informações a respeito do vírus, no que diz respeito, suas reais transmissões, maneiras de prevenção, e as atualidades que envolvem as pesquisas sobre o vírus HIV. A pesquisa entendeu que uma das causas para o pouco reconhecimento e valorização do bibliotecário na sociedade, ocorre pelo fato deste profissional não está muito inserido em causas sociais, ou seja, partindo em busca de usuários para que estes recebam suas informações, e consequentemente entendendo a importância deste profissional em suas vidas. Como disseminador da informação o bibliotecário precisa demonstrar sua importância e comprometimento social além de quatro paredes e unidades de informações. Conclui-se que o bibliotecário precisa desenvolver seu papel social de acordo com suas especialidades e estudos no qual se identifica. Não apenas no que se refere ao assunto tratado nesta pesquisa. Pois, cada profissional tem aptidão para um determinado assunto. Porém, é necessário que independente de suas preferências não seja esquecido a sua importância na contribuição social, sendo cada vez mais um bibliotecário com sinônimo de ação social e progressista e deixando de lado o autoritarismo relevante dos séculos passados. Uma vez que, sempre existirá muito a fazer quando envolver as questões sociais da informação na sociedade. 192 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 REFERÊNCIAS ALMEIDA JÚNIOR, Oswaldo Francisco de. Sociedade e Biblioteconomia. São Paulo: Polis, 1997. ARAÚJO, Lucinha. Cazuza: só as mães são felizes. São Paulo: Globo, 2000. BABBIE, Earl. The practice of Social Research. California: Wadsworth Publishing Company, 1983. BARRETO, Aldo de Albuquerque. A estrutura do texto e a transferência da informação. Data grama zero - Revista de Ciência da Informação, v.6, n.3, jun. 2005. Disponível em: <http://eprints.rclis.org/17638/1/DataGramaZero%20%20Revista%20de%20Ci%C3%AAncia %20da%20Informa%C3%A7%C3%A3o%20-%20Artigo%2001-2005.pdf>. Acesso em: 20 nov. 2014. CAMPELLO, Bernadete. O movimento da competência informacional: uma perspectiva para o letramento informacional. Ciência da informação, Brasília, v. 32, n. 3, set./dez. 2003. 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Através da contextualização destas temáticas, apresenta-se o exemplo da biblioteca comunitária Companheiro Leão “CL” Prof. Leônidas Magalhães, que possui a prática da mediação de leitura como um de seus principais serviços. Mostrando ainda a importância da Biblioteca Comunitária, que através de serviços como a mediação de leitura traz a possibilidade de democratização do acesso à informação, à leitura e ao livro, sendo estes necessários para que os indivíduos possam entender seus direitos e deveres do cidadão e exercer de fato sua cidadania. Palavras-chave: Mediação de Leitura. Biblioteca Comunitária. Cidadania. ABSTRACT This article approaches the relations between community libraries and citizenship, through the practice of mediation reading. Presenting the concepts of community library, citizenship and mediation as discussing its concepts and intrinsic matters in society. In the context of these subjects, was choose to present as an example of community library the Biblioteca Comunitária Companheiro Leão “CL” Prof. Leônidas Magalhães, which has activities involving mediation reading as one of its major service. Besides, intends to show the value of community libraries, which through services as mediation reading stands out possibilities on democratization of information access, on books and reading, that is essential for people to understand their rights and duties and practice their roles as citizens. 1 Graduanda do curso de Biblioteconomia pela UFC. E-mail: [email protected] . 2 Graduanda do curso de Biblioteconomia pela UFC. E-mail: [email protected]. 3 Graduanda do curso de Biblioteconomia pela UFC. E-mail: [email protected]. 4 Graduanda do curso de Biblioteconomia pela UFC. E-mail: [email protected]. 5 Graduanda do curso de Biblioteconomia pela UFC. E-mail: [email protected]. 196 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Keywords: Mediation reading. Community library. Citizenship. 1 INTRODUÇÃO O presente artigo aborda ações sociais desenvolvidas pela biblioteca comunitária, através de suas práticas e atuação no seio na comunidade. Historicamente, no início as bibliotecas comunitárias foram concebidas com o objetivo de suprir uma lacuna que foi deixada pelas que estava sendo deixada pelas Bibliotecas públicas. E as comunidades começaram a sentir uma carência de espaços como esses estarem mais próximos delas. Por isso a biblioteca comunitária de maneira própria e sempre se adaptando ao local em que se encontra instalada, busca esse contato por meio de ações que intervenham no âmbito social e com as ações que promove no meio em que atua, ou seja, o papel ou o aspecto de cidadania desenvolvido por essas instituições. onde suas atividades se apresentam como instrumentos para estabelecer esse vínculo com a comunidade a que ela pertence, se ela supre e desenvolve a função designada. Este é um relato de experiência de estágio que busca discutir questões relacionadas à mediação de leitura em bibliotecas comunitárias, uma ação que é desenvolvida por muitas dessas instituições. A motivação para realizar a pesquisa se apresenta pela relevância do tema mediação de leitura nas bibliotecas de comunidades da periferia e para tratar da sua importância do ponto de vista social, educacional e cultural. Nessa perspectiva, entendemos que a pesquisa se justifica pelas contribuições da teoria e das práticas que pode proporcionar, bem como pelos aspectos de relevância que a envolvem. Assim, os objetivos deste trabalho são: identificar na literatura os conceitos e elementos relacionados à biblioteca comunitária, mediação de leitura e cidadania; apresentar as ações desenvolvidas pela biblioteca comunitária, em especial a mediação de leitura na biblioteca Prof. Leônidas Magalhães; apresentar as problemáticas que envolvem a temática e a instituição responsável. A pesquisa se caracteriza como de cunho exploratório, para investigar a influência da mediação de leitura como atividade-meio da instituição. O local escolhido foi a Biblioteca Professor Leônidas Magalhães, localizada no bairro Álvaro Weyne em Fortaleza onde também ocorrem as atividades. com isso, buscamos atender aos objetivos propostos além de gerar novos questionamentos acerca do assunto em questão. 2 BIBLIOTECA COMUNITÁRIA 197 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 No Brasil algumas bibliotecas públicas passaram a oferecer serviços de extensão, como carro-biblioteca e caixa-estante, que levavam livros às localidades pobres e periféricas, onde não existiam bibliotecas, ampliando assim o alcance de atendimento da biblioteca pública. Com estas iniciativas as comunidades que receberam as ações de extensão, passaram a sentir a necessidade de pequenas bibliotecas ou mesmo espaços de leitura em sua localidade, levando assim ao surgimento da biblioteca comunitária. (ALMEIDA JÚNIOR, 1997) Cavalcante e Feitosa (2011), afirmam que o surgimento da biblioteca comunitária está ligado também ao fato da inexistência ou a ineficácia das bibliotecas públicas no país, o que proporciona a falta de acesso à informação e a leitura. De acordo com Machado (2008, p. 49), podemos entender a biblioteca comunitária como: Bibliotecas que surgem como práticas espontâneas idealizadas e implementadas por agentes individuais e coletivos; cidadãos comuns, com ou sem instrução formal, com ou sem apoio institucional. Surgem normalmente em lugares periféricos, em função da dificuldade de acesso aos bens culturais e da total ausência do Estado. Estes espaços são constituídos por indivíduos da comunidade, que almejam que estes possam ter a cara de sua comunidade. As Bibliotecas comunitárias devem também estar voltadas a possibilitar a emancipação, a autonomia da comunidade (MACHADO, 2008). Assim o papel da biblioteca comunitária vai além do serviço de informação, como também atinge os aspectos sociais. As bibliotecas comunitárias provêm também de movimentos de inovação social, que visam à inclusão social. Os projetos que visam a criação de bibliotecas em comunidades devem oferecer metodologias que permitam a continuidade dessas ações por meio dos indivíduos da comunidade. (CAVALCANTE; FEITOSA, 2011) Paulo Freire (1984) apresenta o papel social da biblioteca popular, como promotora de mudanças, através de práticas que estimulem a leitura, não apenas de forma técnica, mas de forma que os leitores entendam o real significado do texto, e faça ligações com sua realidade. Acerca das funções e possibilidades das bibliotecas comunitárias, chamadas também por ele de bibliotecas populares, vemos: A biblioteca popular, como centro cultural e não como um depósito silencioso de livros, é vista como um fator fundamental para o aperfeiçoamento e a intensificação de uma forma correta de ler o texto em relação ao contexto. Daí a necessidade de uma biblioteca popular centrada nesta linha de estimular a criação de horas de trabalho em grupos, em que se façam verdadeiros seminários de leitura, ora buscando o adentramento crítico no texto, procurando aprender a sua significação mais profunda, ora propondo aos leitores uma experiência estética, de que a linguagem popular é intensamente rica. ( FREIRE, 1984, p.38) 198 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Entende-se assim que, através das bibliotecas comunitárias amplia-se a possibilidade de democratização do acesso à informação, a leitura e ao livro. E fica a cargo do Estado, definir regulamentações, diretrizes, e ações de estimulo para a criação destes projetos. (MACHADO, 2008). 2.1 Biblioteca comunitária e cidadania Cidadania é um estado de ação onde os atores do processo têm consciência de seus deveres e direitos para serem sujeitos atuantes dentro da sociedade, segundo Demo (1992, p.17) podemos compreender a cidadania como: o processo histórico de conquista popular, através do qual a sociedade adquire, progressivamente, condições de tornar-se [..] sujeito histórico consciente e organizado, com capacidade de conceber e efetivar projeto próprio. O contrário significa a condição de massa de manobra, de periferia, de marginalização. É válido salientar que o autor procura mostrar a cidadania como um processo histórico de conquista popular que engloba os indivíduos da sociedade que agem como um coletivo consciente em busca de um ideal, tornando o ato de ser cidadão um processo emancipatório e mostra também que quando não há essa consciência o que sobra é uma massa amorfa totalmente moldável, pronta a ser dominada por quem quer que seja. Nesse viés de tomada de consciência a educação é um fator fundamental para que esse processo ocorra, pois sem conhecimento não há alternativa de mudança. Como afirma Rocha (2000), “o direito à educação afeta o status da cidadania, se entendermos o direito à educação como o direito do cidadão adulto ter sido educado e informado”. Sem isso, pode ocorrer que o indivíduo fique estagnado, contente com aquilo que tem a frente por não conseguir enxergar nada além, ou até mesmo sem desenvolvimento de seu senso crítico. Consideraremos neste trabalho a educação com uma perspectiva ampla que difere do sistema educacional vigente para construirmos uma noção que o ato de educar não deve se restringir apenas ao letramento e ao desenvolvimento de algumas habilidades básicas à vida em sociedade, mas a uma formação que capacite a pessoa a imaginar, a ter o controle sobre seus pensamentos, formando um sujeito consciente, já que: o termo educação não se restringe ao preparo do indivíduo para o previsto, o que estaria mais próximo do adestramento. Prepara-o para o imprevisto, profetiza e projeta. Tudo isto dentro de um processo global de desenvolvimento da capacidade física, intelectual e moral do ser humano, com vistas a sua melhor integração individual e social, o que pressupõe de imediato o acesso à informação. (TARGINO, 1991. p 155). A biblioteca deve estar cada vez mais em contato com seu papel educador (preferencialmente em conjunto com as demais instituições responsáveis pela educação da comunidade) para atingir o maior número possível de usuários pelos mais diversos meios de 199 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 informação possíveis. Assim a democratização da informação seria efetiva, pois democratizar implica em tornar acessível e por vezes um livro que seria importante na luta da comunidade por seus direitos como, por exemplo, o código de defesa do consumidor, pode ser um documento insondável para a maioria, então deve-se valorizar a “tradução” desse documento seja através de debates verbais, cartilhas ou até mesmo documentários. Deve ser valorizado igualmente seu papel como centro gerador de discussões, espaço aberto a todos igualmente, onde a igualdade seja real, pois: A biblioteca deve ser valorizada por fornecer conhecimentos e ser espaço para a população falar sem medo de seus problemas e ser ouvida. As pessoas podem recuperar o sentimento de valorização e diginidade humana, pelo fato de serem chamadas a participar, levando-as a perceber que a mobilização em torno da biblioteca pode levá-las a uma união visando às lutas diárias da comunidade. (GUEDES, 1989. p 51). Como um catalizador, a biblioteca deve fornecer oportunidades para aqueles que querem desenvolver-se, cabe à ela disponibilizar os meios para que seus usuários exerçam sua cidadania, e como enfatizado por Ortega y Gasset (2006) deve estar atenta às urgências que a situação social apresenta no decorrer do processo, pois essa necessidade muda de acordo com o movimento da comunidade, já que a sociedade está sempre em processo dinâmico. 3 MEDIAÇÃO DE LEITURA O processo de mediação foi uma das teorias descritas por Lev S. Vygotsky na década de 20 que escreveu textos na área da psicologia interessantes para a questão da dimensão social do desenvolvimento humano e para a aprendizagem onde um indivíduo progride através da cultura e do convívio social no ambiente em que está inserido, em relações de interdependência. É exposto na mediação que nós não temos um acesso direto ao objeto do conhecimento e sim um acesso mediado por sistemas simbólicos. Isso se dá especialmente pela linguagem, a expressão de possibilidades é associada a representações mentais, que por sua vez, se internaliza no indivíduo em forma de conhecimento. Enquanto sujeito de conhecimento o homem não tem acesso direto aos objetos, mas um acesso mediado, isto é, feito através dos recortes do real operados pelos sistemas simbólicos de que dispõe. O conceito de mediação inclui dois aspectos complementares. Por um lado refere-se ao processo de representação mental (...). Essa capacidade de lidar com representações que substituem o real é que possibilita que o ser humano faça relações mentais na ausência dos referentes concretos, imagine coisas jamais vivenciadas, faça planos para um tempo futuro, enfim, transcenda o espaço e o tempo presentes, libertando-se dos limites dados pelo mundo fisicamente perceptível e pelas ações motoras abertas. (OLIVEIRA, 1992, p. 26) 200 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Vivemos em uma sociedade onde a informação tem papel de destaque nas relações sociais, políticas, econômicas, culturais, pessoais, entre outras. Com isso, podemos perceber que a leitura é uma fonte de informação e prática determinante na construção de conhecimentos, sendo referência tanto no desenvolvimento da capacidade intelectual do sujeito ao fazê-lo refletir e formar ideias e opiniões, quanto uma forma de lazer. Na pesquisa Retratos do Brasil 2011, realizada pelo Instituto Pró-Livro e IBOPE com o objetivo de revelar os hábitos de leitura dos brasileiros, em um dos resultados foi visto que 64% dos entrevistados concordam totalmente com uma afirmação que relaciona a leitura à “vencer na vida”, expressão que implica melhorar sua situação no meio social em que vive. Como caráter de lazer, a leitura encanta, permite compreender melhor o mundo e expandir pensamentos. Quando falamos em mediação de leitura observamos ainda outro aspecto, que a leitura também adquire a característica de necessidade, se tornando um valor que permite aos indivíduos a inclusão social transformando os mesmos em cidadãos leitores. Podemos conceber a mediação de leitura como um vasto campo ainda a ser explorado, em uma concepção formal acredita-se que seja competência privilegiada à área da educação, uma prática delegada aos professores. Entretanto, de um ponto de vista mais inovador, as figuras da família, amigos ou bibliotecários possuem um grande potencial de influenciar na formação de leitores desde as fases iniciais de aprendizado, ao incentivar a experiência da leitura estimulando o senso crítico e criativo, afinal percebemos que as crianças ficam muito satisfeitas ao ouvir histórias isso sem entrar em detalhes a respeito do aguçar a imaginação e sobre o desenvolvimento da criatividade. O agente que se propõe a realizar uma mediação de leitura quando seleciona textos a serem apresentados oralmente, interpretados e discutidos para aproximar o leitor do livro. Através de um clima que preza a coletividade e a colaboração, os sujeitos podem ampliar seus conhecimentos individuais, e assim auxiliando na transmissão da prática de leitura e no exercício de socialização entre os participantes. 4.1 O perfil da comunidade O bairro Álvaro Weyne está localizado na área da Secretaria Executiva Regional I e possui uma população total de 23.690 habitantes, desses 10. 834 são homens e 12. 856 são mulheres (IBGE, 2010). Ainda segundo o IBGE (2010) o bairro apresenta o índice de Desenvolvimento Humano municipal por bairro IDHM-B médio (entre 0,500 e 0,799). A principal atividade econômica do bairro é o comércio. 201 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 4.2 A mediação de leitura na biblioteca comunitária c.l. PROF. Leônidas magalhães Neste ponto do trabalho será apresentado o relato de experiência de estágio na Biblioteca Comunitária CL Prof. Leônidas Magalhães com a mediação de leitura, desenvolvido pela mediadora Mayara Cintya do Nascimento Vasconcelos, em conjunto com o Polo de Leitura Jangada Literária. As atividades foram desenvolvidas com um grupo de crianças de 6 a 10 anos de idade, usuários da biblioteca. O relato será dividido em três etapas: planejamento das atividades, desenvolvimento das atividades e Resultados. 4.2.1 Planejamento das atividades As atividades desenvolvidas pela biblioteca são planejadas mensalmente. Os grupos de mediação são separados por idade em horários nos períodos da manhã e tarde. Alguns aspectos devem ser observados antes da decisão do livro que será mediado, o primeiro deles é a faixa etária do grupo, o segundo é a observação dos vários níveis de dificuldade de leitura apresentados pelo grupo (nesse momento é decidido que abordagem de mediação será feita: leitura compartilhada, roda de leitura, etc.). Aspectos da comunidade na qual a biblioteca está inserida também são observados. Depois do levantamento de todas essas informações, um documento é elaborado para que o mediador possa fazer o acompanhamento das atividades. 4.2.2 Desenvolvimento das atividades A atividade é iniciada com uma cantiga de roda ou dança para fazer o grupo interagir. Depois as crianças sentam em roda e o mediador apresenta o livro, fala do autor e ilustrador e pergunta às crianças se elas já o conhecem. Quando o mediador inicia a leitura é importante que ele mantenha o contato visual com as crianças para evitar que elas se dispersem, durante a mediação o espaço para intervenção das crianças é aberto. Após a leitura a interpretação do texto é livre, cabendo às crianças criar seus próprios significados. 4.2.3 Resultados Ao longo do ano de 2014, com a realização das mediações de leitura, foi possível perceber no grupo acompanhado um interesse crescente pela literatura. As crianças passaram a ter mais autonomia. Segundo Oliveira, “O leitor autônomo é aquele que processa e examina o texto, construindo significado para ele, isto é, não faz apenas uma tradução ou uma réplica do significado que o autor quis lhe dar.”(2007, p.28). As crianças também adquiriram liberdade para escolher os livros que desejavam levar no empréstimo domiciliar, sem a 202 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 interferência de terceiros. Outro ponto interessante nesse processo foi que as próprias crianças despertaram o interesse de mediar para outras crianças. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste trabalho podemos analisar o papel da biblioteca comunitária e os instrumentos, ferramentas que ela se apropria para cada vez mais estar de acordo com a identidade local e mais próxima da sociedade. A proposta realizada foi a de observação e do relato de experiência da mediação como um desses instrumentos e como maneira de ser trabalhada a relação das necessidades informacionais e os seus leitores. 203 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A necessidade de leitura é um fator, uma questão evidente e que adquire um valor social e daí também vale destacar a importância do papel do mediador na construção do valor simbólico deste produto. Mediar no sentido de criar pontes, onde o individuo realize uma troca com o mediador e porque não em outros momentos torna-se ele mesmo mediador na construção de um conhecimento de forma coletiva em outras palavras, que é comunitário. Existem muitas questões a serem tratadas sobre o assunto desde que o seu conceito inicial seja sempre lembrado, a questão é o entendimento do poder de transformação que a leitura pode causar o de modificar num ato de produção, de criação. E nesses parâmetros podemos pensar que a leitura é uma ação de riqueza e abrangência e que quanto mais se torna comum muito melhor será para aqueles que podem desfrutar, por exemplo, de qualquer iniciativa ou ação em favor dela. E nessa constituição primeiramente baseada em uma unidade coletiva, as energias e as aspirações de todos que trabalham pela mesma causa. REFERENCIAS CAVALCANTE, Ligia Eugenia; FEITOSA, Luiz Tadeu. Bibliotecas comunitárias: mediações, sociabilidades e cidadania. Liinc em revista, Rio de Janeiro, v. 7, n. 1, p.121-130, mar. 2011. Disponível em: < http://revista.ibict.br/liinc/index.php/liinc/article/viewFile/406/269>. Acesso em: 13.03.2015. DEMO, Pedro. Cidadania menor: algumas indicações quantitativas de nossa pobreza política. Petrópolis: Vozes, 1992. FREIRE, Paulo. A Importância do Ato de Ler. São Paulo: Cortez, 1984. FUNDAÇÃO Biblioteca Nacional. O PROLER e a mediação da leitura. 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Para isso aborda rapidamente a emancipação da Biblioteconomia da área da Documentação, assim como suas diferenciações no mundo atual. Comentando o conceito de Gramsci, utilizando exemplos de atividade na qual o bibliotecário age para melhoria social. A pesquisa foi realizada por meio de discussões de textos, leituras em sala de aula e individuais, bem como pesquisas em internet. A conclusão é que muito ainda precisa ser realizado pelos bibliotecários enquanto seres políticos e categoria profissional para este despertar crítico. Palavras-chave: Biblioteca. Bibliotecário. Intelectual orgânico. Social ABSTRACT: This article deals with the role of the librarian as a social and political from the organic intellectual concept of Gramsci. Its goal is to encourage the professional to expand its operations outside of libraries. To address this rapidly emancipating the Documentation area of librarianship, as well as their differences in today's world. Commenting on the concept of Gramsci, using examples of activity in which the librarian acts to social improvement. The survey was conducted through texts discussions, readings in class and individual as well as research on internet. The conclusion is that much remains to be done by librarians as political beings and professional category for this critical awakening. Keywords: Library. Librarian. Organic intellectual. Social 1 INTRODUÇÃO A Biblioteconomia é (Ortega, 2004, p.1) uma “área que realiza a organização, gestão e disponibilização de acervos de bibliotecas.” Esta definição abarca a atuação da Biblioteconomia de seu surgimento desde a antiguidade quando houve as primeiras tentativas de organização de documentos até final do século XIX, quando a Biblioteconomia se separa da Documentação, ampliando sua atuação para fins educacionais. Atualmente a Biblioteconomia não apenas organiza e disponibiliza a informação, mas passa a transmitir o conteúdo arquivado. O bibliotecário, profissional responsável por 48 Graduando (a) em Biblioteconomia pela UFMA. E-mail: [email protected]. 206 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 organizar e disponibilizar, agora precisa se capacitar para transmitir os conteúdos de seus livros, possibilitando a produção do conhecimento. Não adianta construir prédios bonitos e enche-los de livros catalogados e bem organizados se não é possível ter acesso aos conteúdos. Então a biblioteca e o bibliotecário se complementam; a primeira é uma instituição que como tal é construída e atua conforme a concepção da sociedade na qual existe; o segundo é um agente social, portanto suas ações e pensamentos são um reflexo da sociedade e este vai agir na biblioteca nos moldes com a sociedade enxergar esta instituição. Mas o objetivo deste artigo é emancipar o bibliotecário da submissão cega às contradições sociais. A questão é como retrata Castro (Figueiredo apud Castro, 2000, p. 117), apesar de o bibliotecário ampliar sua área de atuação e valorização do mercado como pesquisador ainda é visto como “... um policial a ditar normas para cercear o uso da biblioteca, nada mais.” Ou seja, um organizador de estantes, contudo o bibliotecário é e precisa manter-se como um fomentador do conhecimento. Esta produção de conhecimento não é somente para “servir” as demais áreas em suas pesquisas, ou para catalogar os materiais, mas para atuar como agente transformador e construir a representação social da biblioteca como uma instituição transformadora. Por exemplo, conforme dados da UNESCO, no Brasil ainda existem 13 milhões de pessoas não alfabetizadas e o país ocupa a oitava posição mundial com maior número de adultos analfabetos. A quantidade de bibliotecas no país é “retrato” desse baixo nível, pois se não há leitores não tem porque ter centros que possibilitem o acesso à leitura. Os bibliotecários não podem ficar passivos quanto a esta situação, por exemplo. Mas, contribuir para uma consciência crítica da sociedade, afinal continua sendo tarefa do bibliotecário organizar o conhecimento e para fazer isso é necessário primeiro entender a importância da sua atuação, assim formar uma analise de sua realidade e meios de transforma-la. 2 O BIBLIOTECÁRIO COMO UM INTELECTUAL ORGÂNICO Para analisar o papel do bibliotecário como um agente transformador abordo o conceito de intelectual orgânico de Gramsci. Para Gramsci não deveria existir critérios para definir um intelectual. Ele atribui valor a todo tipo de conhecimento, mas cada um com suas “vantagens e limites”. Um conhecimento deve ser para toda vida e não somente para o trabalho. O saber deve ser utilizado para a construção de uma nova sociedade; assim os intelectuais devem ser os primeiros a começar a revolução por meio da cultura de sua 207 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 formação e questionamentos. Não se pode ficar apenas na cultura, ela é apenas o inicio depois se deve partir para economia, política, etc., pois os intelectuais ou os denominados intelectuais estão sujeitos não somente aos recursos financeiros, mas também ideológicos desse sistema. Como Gramsci (1979) fala, os intelectuais tradicionais trabalham para os capitalistas, por isso para fazer uma revolução é necessário começar pela cultura, ela é fundamental. São os intelectuais que auxiliam na construção de uma ideologia de dominação, que aparentemente, muitas vezes, representam o consenso, mas é objetivado nas leis e forçado a submissão por meio das armas. Portanto, o intelectual orgânico pode começar defendendo que as classes baixas também possuem ideias próprias e devem ser levadas em consideração. O intelectual deve ter esse caráter político e não só de reprodução da ideologia dominante, mas de representante dos dominados e desenvolver propostas para o ensino amplo e igualitário, não se tornando elitista ou especializado. Os bibliotecários trabalham com os fundamentos do conhecimento de várias áreas. Como foi dito anteriormente se emancipou da Documentação por seguir um caminho educacional e isso ocorreu no contexto da democratização do ensino. O campo de conhecimento da Biblioteconomia alimenta e é alimentado pela educação, pela pesquisa e produção de conhecimento ou informação. Então, a classe dos bibliotecários pode atuar como intelectuais tradicionais, distante dos conflitos sociais, culturais, políticas, etc, que afetam a sociedade, apenas legitimando uma classe dominante, nos tornando acessórios burocráticos e administrativos ou utilizar o conhecimento acadêmico e as experiências tácitas para auxiliar usuários de bibliotecas e aqueles que buscam informações a desenvolver um pensamento e ação critica de sociedade onde vive. Realizar atividades sociais muitas vezes pode significar vencer obstáculos como: falta de recursos financeiros ou matérias, nenhuma preocupação governamental, etc. Contudo, é possível realizar. Um exemplo é a atividade realizada na Faculdade São Francisco de Assis em Porto Alegre - RS, relatada no artigo da Bibliotecária Josiane Fonseca da Cunha, publicado na Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina em 2009. Neste trabalho a profissional relata a participação da biblioteca e do bibliotecário em ações com crianças carentes, por meio de peças teatrais, leituras de livros, doações de alimentos, etc., pois como acreditava Gramsci a revolução começa pela cultura, esta não se dissocia da educação e os bibliotecários são os intelectuais (assim como demais categorias profissionais) que gerenciam as informações e possuem capacidade e autonomia para iniciar 208 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 campanhas sociais. Claro para isso também precisam se compreender enquanto seres sociais e políticos, não somente catalogadores. Como explica Josiane Fonseca Cunha (2009, p.5) “para auxiliar no direito à cidadania de algumas pessoas, o bibliotecário precisa ir além das paredes de sua biblioteca e colaborar com os demais setores da instituição na qual trabalha”. A biblioteca deve ser um meio, mas não o fim do bibliotecário. Outro exemplo são as bibliotecas itinerantes que transportam conhecimento para lugares onde não há um lugar especifico, ou seja, uma biblioteca. 3 METODOLOGIA Para realizar este trabalho fui impulsionada pelos questionados de uma professora em sala de aula inconformada pela apatia dos atuais bibliotecários. A fundamentação foi feita através da pesquisa bibliográfica intercalada por discussões em sala de aula e pesquisa na internet. Aproduçãotextual foi realizada durante os p rimeiros meses do primeiro período, sob a inquietação enquanto estudante, desejosa de atuar a lém dos muros das bibliotecas e instigar outros alunos a partilharem da ideia. 4 CONCLUSÃO As bibliotecas e os bibliotecários foram construídos inicialmente como instrumentos para organizar o conhecimento de um povo. Esta continua sendo uma das suas atividades, mas com as transformações sociais o bibliotecário não pode e não deve se limitar a isso. As contradições exigem e a sociedade espera muito mais. A biblioteca e o bibliotecário são mantenedores da “memória” de uma sociedade ou comunidade. Para transmitir a informação o profissional busca conhecer os conteúdos das mais diferentes áreas, porém esperar que o usuário venha até um centro de documentação ou uma biblioteca para ter acesso a essa informação é se tornar apenas, como tratamos em Gramsci, um intelectual tradicional. Há pessoas sedentas de conhecimento e que nem se dão conta. Se verificarmos as taxas de analfabetismo no Brasil vemos que há muito que o bibliotecário pode fazer. A partir de uma consciência e ação políticas a classe de bibliotecários pode instigar o Estado a expandir a educação e com isso a população tomar ciência de si mesmo e do mundo ao seu redor. A lei 12.244/10 é um exemplo do empenho da categoria bibliotecária, possibilitando uma valorização e melhor qualificação profissional e um exemplo da força do vínculo do grupo. Mas este grupo deve sair do tradicionalismo. Tornou-se consciente 209 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 enquanto classe para si, agora precisamos partir de uma consciência de classe em beneficio da sociedade, principalmente para as menos favorecidas. REFERÊNCIAS CASTRO, César Augusto. História da biblioteconomia brasileira: perspectiva história. Brasília: Thesaurus, 2000. CUNHA, Josiane Fonseca da. Bibliotecário, um empreendedor social: atividades desenvolvidas na faculdade São Francisco de Assis. Revista ACB: biblioteconomia em Santa Catarina. Florianópolis, v. 14, n.1, p. 114, jan/jun. 2009. Disponível em: < http://revista.acbsc.org.br/racb/article/view/652>. Acessad o em: 09 abr. 2015. GRAMSCI, Antonio. Para a investigação do principio educativo. In: Os intelectuais e a organização da cultura. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979. OLIVEIRA, Lucia Carvalho; CRESPO, Maria Rosa. Fundamentos teóricos e estatuto científico da Biblioteconomia e Ciência da Informação. CRB 8 Digital. São Paulo, v.1 n.5, p. 66 - 85, 2012. ORTEGA, Cristina Dotta. Relações históricas entre Biblioteconomia, Documentação e Ciência da Informação. DataGRamaZero- Revista de Ciência da Informação,v.5, n.5, p. 1,out. 2004. Disponível em: <http://dgz.org.br/out04/Art_03.htm>. Acesso em: 9 jun. 2015. SOUZA, Francisco das Chagas. Biblioteconomia, educação e sociedade. Florianopolis: UFSC, 1998. UNESCO: Brasil tem quase 13 mi de analfabetos adultos e é 8º no mundo. Disponível em:< http://noticias.terra.com.br/educacao/unesco-brasil-tem-quase-13-mi-de-analfabetos-adultose-e-8-no-mundo,5c15a2a6cb3d3410VgnCLD2000000ec6eb0aRCRD.html>. Acesso em 10 jun. 2015. 210 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 GT 4 MÍDIAS DA INFORMAÇÃO: cidadania e Exclusão digital no contexto sociedade da informação 211 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA DO CENTRO DE MEMÓRIA DA MEDICINA: “o corredor da memória” GT 4 Mídias da informação: cidadania e Exclusão digital no contexto sociedade da informação. (Apresentação oral) CAROBA, Marcilea de Moura49 OLIVEIRA, Carla Cristina Vieira de50 SILVA, Ana Luisa Moreira51 CUPERSCHMID, Ethel Mizrahy52 BERGMANN, Kaiser53 RESUMO O projeto “Corredor da Memória”, do Centro de Memória da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais - CEMEMOR, objetiva externar imagens do acervo científico e temas da área da saúde para a comunidade. Utilizando cinco telões são divulgadas mostras de pesquisadores, celebram datas importantes da Faculdade, evidenciam personalidades científicas e abordam assuntos relevantes para o corpo social que abriga. Após o encerramento da exposição presencial, o material é disponibilizado no banco de dados do novo site da instituição, sendo acessado livremente através de palavras-chave. A visitação virtual poderá ser quantificada por relatórios automáticos do sistema, sendo possível a melhoria do conteúdo das exposições e da divulgação científica do acervo. Portanto, esse projeto é fundamental, pois ao divulgar suas pesquisas para a sociedade sem o uso da internet contribui para a derrubada da “muralha digital”. Palavras-Chave: Divulgação Científica. Acervo Científico Universitário. Exposições Temporárias. Acesso à Informação. Recursos Digitais. ABSTRACT The "Memory Runner", the Center for Memory of the Faculty of Medicine of the Federal University of Minas Gerais - CEMEMOR, objective images express the scientific collection and issues of health care to the community. Using five screens of researchers shows are disclosed, celebrate important dates of the Faculty, show scientific personalities and address issues relevant to the social body that is home. After the close of face exposure, the material is made available in the database of the new site of the institution being accessed freely through keywords. A virtual visit can be quantified by automated reporting system, it is possible to improve the content of exhibitions and scientific collections of the disclosure. Therefore, this project is critical because to disclose their research to society without using the internet contributes to the overthrow of the "digital wall". 49 Graduanda de Biblioteconomia na ECI da UFMG, estagiária no CEMEMOR, [email protected] Graduada em Biblioteconomia na ECI da UFMG, Mestre e doutoranda em Ciências da Informação pela mesma instituição, bibliotecária do CEMEMOR, [email protected] Graduanda de História na Fafich da UFMG e estagiária no CEMEMOR, [email protected] 52 Graduada em Relações Públicas pela Newton Paiva, Mestre e Doutora em História pelo Departamento de Pós Graduação de História da FAFICH da UFMG, Coordenadora Acadêmica do CEMEMOR da Faculdade de Medicina da UFMG, [email protected] 53 Graduado em História pela UNI-BH, analista de sistema do CEMEMOR, [email protected] 50 51 212 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Keywords: Science Communication. University Scientific Acquis. Temporary Exhibitions. Access to Information. Digital Resources. 1 INTRODUÇÃO A modernidade, com seu ritmo frenético e o constante bombardeamento de informações, fazem, cada vez mais, da administração do tempo, um fator primordial para a vida das pessoas. A seleção do que é ou não relevante, do que faz ou não sentido é fruto de decisão pessoal e também das demandas culturais e sociais de nosso tempo. O Centro de Memória da Medicina - CEMEMOR, criado em 1979, ocupa cerca de 600 m² do térreo da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). De acordo com seu Regimento, o CEMEMOR deve “constituir acervos documentais e bibliográficos, cuidando de sua restauração, organização, conservação, divulgação e permuta” (REGIMENTO INTERNO, capítulo 1, artigo 1, § II). É o centro de memória mais antigo da UFMG e possui rico acervo e variado em várias tipologias: bibliográfico, documental, tridimensional, sonoro, artístico e iconográfico na área da Saúde. Este acervo encontra-se em uma área de destaque, logo à esquerda do hall de entrada e do Salão Nobre da Instituição. É um espaço de amplo potencial de divulgação, onde, na década de 1960, ficavam os salões de festa. Este espaço nobre atualmente está a serviço da democratização do conhecimento científico. Por ocupar um espaço público bastante visível, é imperativo que este acervo científico universitário seja compartilhado e exposto ao público, pois: Se entendemos a importância dos conhecimentos produzidos pela Ciência como algo inquestionável para o mundo moderno, a importância da comunicação destes conhecimentos não deve ser menor, pois ela será o canal que possibilitará ao público leigo a integração do conhecimento científico à sua cultura. (SÃO TIAGO, 2010, p.9) O acervo é dinâmico e, frequentemente, recebe contribuições que são incorporadas, ou não, ao seu patrimônio, obedecendo à nova Política de Acervo redigida e aprovada no início de 2013. Sendo assim, há atividade constante de seleção, identificação, pesquisa e higienização das doações. Uma demanda da Pró-Reitoria de Extensão da UFMG é a Divulgação Científica dos acervos universitários. Nesse sentido, foi pensado um projeto de externalização do patrimônio cultural científico do CEMEMOR, cujo título “Corredor da Memória” é alusivo ao local onde se encontra. 213 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Assim, o público que diariamente circula nas dependências da Faculdade de Medicina – alunos, funcionários, professores, visitantes e pesquisadores – pode contemplar pequenas amostras de parte do acervo através de imagens dinâmicas com alta definição. Desta forma, somente com imagens, sem o recurso de áudio, pretende-se que o público tenha acesso a imagens selecionadas e leia legendas curtas estrategicamente colocadas ao lado de cada monitor. O motivo da escolha do espaço deste corredor foi a proximidade com o Centro da Memória e o grande fluxo de pessoas – cerca de 3.900 pessoas por dia circulam no edifício da Faculdade de Medicina. Este público era atraído pelos objetos expostos numa pequena vitrine e também para a leitura de placas comemorativas de turmas de formandos da Faculdade, fixadas na parede ao longo do corredor. Junto com a arquiteta da Faculdade de Medicina, Eneida Ferreira Ricardo, a equipe pensou em formas de requalificar o espaço do corredor de maneira moderna, funcional e elegante. No final de 2012 foi elaborado o projeto e em meados do ano seguinte, foi finalizada a instalação do painel e dos telões de 42. O conceito do projeto baseou-se na transformação de um espaço de passagem em um espaço de fruição e apropriação pelo público, como uma extensão do Centro da Memória, através da projeção de imagens do acervo existente em sua vasta reserva técnica e um convite à visitação às suas dependências. O projeto arquitetônico diagnosticou a necessidade de uma nova iluminação e do rebaixamento de teto com gesso nesse trecho do corredor, além da instalação de persianas nas janelas opostas aos painéis, propiciando um melhor conforto visual para apreciação das imagens e também configurando um espaço diferenciado para o público. Os painéis prestam-se, tanto a proteger os televisores e suas respectivas instalações, quanto a servir de base para fixação de informações sobre a exposição corrente e legendas, propiciando a informação sem quaisquer fronteiras. Sua altura foi definida de forma a proporcionar boa visibilidade a todos, incluindo pessoas com mobilidade reduzida. O “Corredor da Memória”, graças à sua localização e seu dinamismo, permite a realização de exposições temporárias e temáticas, amplia a capacidade de divulgação de grande parte do material inédito do acervo e garante a integridade física e a segurança do mesmo. As exposições temáticas são fruto de pesquisas, realizadas por professores, alunos e pesquisadores da Faculdade, com documentação interna como fotografias, ilustrações, livros e instrumentos médicos que compõem o acervo tridimensional. 214 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 As coleções do Centro de Memória são complexos legados da memória cultural que permitem conexões capazes de ampliar seus efeitos em termos de comunicação, educação, participação e fruição. Elas ultrapassam as fronteiras do Campus Saúde, pois algumas são anteriores à criação da Faculdade (fundada em 1911); outras são oriundas de áreas do conhecimento como a Química e a Física, e várias foram introduzidas de outros países e culturas. A história da Faculdade de Medicina, seus professores, suas turmas, suas disciplinas e o desenvolvimento da Ciência Médica aparecem também no contexto maior da história da cidade de Belo Horizonte e do Brasil. É fundamental notar que, num século voltado para a modernização tecnológica, as novas gerações também se interessem pelos fundamentos e pela história do desenvolvimento do fazer profissional. Então, justifica-se a montagem da exposição em um espaço propriamente acadêmico que contribui para a reflexão sobre o presente e sua relação com os acontecimentos do passado, além de agregar valor ao patrimônio. O projeto é primordial porque ao divulgar suas pesquisas para a sociedade sem o uso da internet auxilia para a derrubada da “muralha digital”. O objetivo do “Corredor da Memória” é divulgar o acervo do CEMEMOR e instigar a curiosidade do público que circula dentro da Faculdade de Medicina em relação à profissão, às práticas médicas e científicas, aos aspectos da saúde, da história das doenças, das personalidades e da contribuição da instituição para a humanidade. 2 DISSEMINAÇÃO CIENTÍFICA NO ESPAÇO EXPOSITIVO Difícil pensar em divulgação científica sem refletir um pouco sobre o processo de comunicação científica. Distinção entre a divulgação científica e comunicação científica: A comunicação científica visa, basicamente, à disseminação de informações especializadas entre os pares, com o intuito de tornar conhecidos, na comunidade científica, os avanços obtidos (resultados de pesquisas, relatos de experiências, etc.) em áreas específicas ou à elaboração de novas teorias ou refinamento das existentes. A divulgação científica cumpre função primordial: democratizar o acesso ao conhecimento científico e estabelecer condições para a chamada alfabetização científica. Contribui, portanto, para incluir os cidadãos no debate sobre temas especializados e que podem impactar sua vida e seu trabalho, a exemplo de transgênicos, células tronco, mudanças climáticas, energias renováveis e outros itens (BUENO, 2010, p.5). A divulgação científica ocorre entre cientista e o grande público, visando atender um público mais amplo. Segundo Albagli (1996) a divulgação científica é um conceito mais restrito que difusão científica e é considerado mais amplo do que comunicação científica. Fernandes (2011) destaca que a divulgação científica está associada à missão de educação social. A autora ainda expressa que a divulgação científica “transforma o saber num 215 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 sistema de representações sociais” sendo um discurso sobre a ciência, tornando-a acessível ao senso comum. A divulgação científica tem múltiplos objetivos, entre eles, auxiliar as atividades educacionais com artigos que sejam de interesse dos estudantes. Ela pode ser realizada de muitas formas diferentes, em parceria com os cientistas para que a informação tenha conteúdo e credibilidade. As formas mais tradicionais de divulgação são textos, vídeos, feiras, palestras e museus, mas também se pode disseminar o conhecimento científico através das novas tecnologias como blogs, twitter, portais, facebook, entre outros (TORRESI; PARDINI; FERREIRA, 2012). Nos últimos anos os museus alargaram seu potencial educacional com o desenvolvimento de técnicas educativas e de exposição (ALBAGLI, 1996). Um dos objetivos do Centro de Memória da Medicina é prover informação histórica da área da Saúde para a comunidade acadêmica especificamente, e para o público em geral, possibilitando a mudança de percepção e a produção de questionamentos sobre o avanço da ciência e da tecnologia. Nesse sentido, a partir de 2015, o CEMEMOR desenvolve uma nova plataforma que será também um banco de dados onde serão disponibilizados documentos, obras, imagens digitalizadas, com recursos capazes de facilitar a busca da informação e também a produção de estatísticas e gráficos sobre os usuários, como a contagem de visitantes, o tempo de navegação e o local. Esta plataforma, baseada no Centro de História e Novas Mídias da Fundação Roy Rosenzweig da Universidade George Mason está em desenvolvimento. O responsável pela mudança é o historiador, membro do CEMEMOR e analista de sistema da Faculdade de Medicina, Kaiser Bergman. A nova plataforma pode ser acessada em: www.cememor.medicina.ufmg.br/sistema. Nela, o internauta já encontra as listas de formandos desde 1917, exposições feitas no “Corredor da Memória”, acervo, coleções, documentos, médicos notáveis e um pouco de história. Serão desenvolvidos aparatos para a digitalização de obras raras e teses, banco de dados de imagens e links direcionados ao Sistema Pergamum para pesquisa bibliográfica e Rede de Museus e Espaços de Ciência e Cultura da UFMG. Ainda em fase experimental no CEMEMOR, a plataforma de dados Omeka para publicação na rede permite museus, centros de memória e sociedades culturais, estudiosos da história e, principalmente, permite a educadores democratizar o conhecimento, publicar coleções e criar atrativos como exposições online. 216 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A plataforma Omeka é projetada para instituições que não possuem equipe especializada e grandes orçamentos para existir virtualmente. Esta é a aposta da modernização do CEMEMOR: o próprio setor irá gerenciar conteúdos e atualizá-los com agilidade. A informação científica nos espaços expositivos museológicos cumpre o papel ideológico de criação de subsídios simbólicos e contribui para a construção de valores específicos referentes à ciência: A exposição é o meio pelo qual o museu estabelece sua inter-relação com a sociedade, através da operacionalização do objeto musealizado e do emprego de aparatos infocomunicacionais, teóricos e técnicos. Mais do que uma dentre as muitas faces da atividade museológica, a prática de expor é a que determina a própria essência de todo e qualquer museu como tal (SOUZA, 2011, p.262). As exposições propostas são um incentivo para o público, uma vez que instigam a curiosidade, implementam possibilidades de identificação, reforçam a interdisciplinaridade, ampliam a interpretação de temas e conceitos e exercitam a apropriação cultural. Neste sentido não há limites, apenas fronteiras que se abrem a novas temáticas, referências, saberes, práticas, dúvidas, silêncios, personagens, discursos e emoções. Tudo isto faz com que modelos de museologia sejam revitalizados. 3 PROJETOS EDUCACIONAIS PARA A DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA O “Corredor da Memória” é mais um espaço de cultura e aprendizado sobre a Arte Médica e sua história dentro do ambiente acadêmico. A divulgação para o público interno e externo composto de visitantes espontâneos será a meta prioritária. A gratuidade da exposição permite, também, a inclusão planejada, em suas programações, de atividades para o público em geral e/ou para públicos especiais. Este é o caso da palestra promovida por ocasião da exposição “Ilustração Científica: arte a serviço da ciência”, onde a professora Ana Cecília Rocha Veiga, da UFMG, abordou aspectos relacionados ao tema (fonte: http://lavgraft.com.br/2015/02/23/palestra-ilustracao-cientifica-aarte-a-servico-da-ciencia/ Acesso em: 25 fev. 2015). Deverá incluir oportunamente projetos voltados para segmentos específicos e grupos especiais (estudantes, professores, cidadãos idosos, comunidades carentes, entre outros) e outros mecanismos que promovam oportunidades de acesso, participação e inclusão real desses segmentos, como por exemplo, legendas em Braille e áudio nos telões. O painel do “Corredor da Memória” é um espaço privilegiado para a divulgação do conhecimento científico e oferece aos seus visitantes a possibilidade de conhecer e participar dessa produção e, ao mesmo tempo, de ter acesso aos diferentes aspectos da área da saúde. 217 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A metodologia é variada, uma vez que o acervo, temáticas e fontes também são de naturezas diversas. Na primeira exposição, por exemplo, foram fotografadas amostras de objetos que compõe o acervo. Então, em primeiro lugar, foi feita uma seleção baseada em critérios de história, beleza e importância desses objetos. Em seguida, após higienização do acervo, eles foram fotografados, tendo como pano de fundo um aparato de feltro que serviu como base e fundo para as fotografias, de autoria de Bruna Carvalho de Oliveira. As imagens foram feitas num equipamento Canon EOS 60D com lentes 24-70mm e macro 100mm. Todas as imagens, em alta definição, foram pensadas para serem exibidas evidenciando detalhes. Num universo de 200 imagens, foram selecionadas apenas as que ilustravam melhor a variedade e riqueza do acervo. Então elas foram distribuídas em pen drives em conjunto que seguiram ordem de alternância entre tipologias de acervo. Na exposição inaugural do “Corredor da Memória” foram utilizadas 110 imagens, expostas alternadamente em cada monitor: fotos de antigos professores, imagens do prédio original - primeiro edifício da Faculdade, medalhas, bustos, quadros, material cirúrgico, documentos, livros, medicamentos, esculturas, placas, entre outros. Todas passaram pelo tratamento de imagem no Adobe Photoshop. O fundo foi variado nas cores preto, verde, vermelho e branco, para que as imagens ficassem realçadas na rotatividade das fotos no monitor. As imagens gravadas nos pen drives são veiculadas nos televisores fixados nos painéis de madeira, conforme o projeto elaborado pela arquiteta Eneida Lopes Ferreira Guimarães Ricardo, do Departamento de Projetos da UFMG. Esta foi uma exposição piloto, já que foi criado um padrão de qualidade de imagem e disposição de legendas (ver figura 1). Figura 1 - Perspectiva contida no projeto para o “Corredor da Memória”. Fonte: Bruna Carvalho, 2014. 218 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 4 RESULTADOS O público que circula diariamente nas dependências da Faculdade de Medicina foi estimado em 3.991 pessoas, dentre professores efetivos e substitutos, funcionários efetivos e contratados, funcionários do Hospital das Clínicas, estagiários e jovens aprendizes da Cruz Vermelha, alunos de graduação e de pós-graduação. Além disso, a Faculdade oferece, semestralmente, cursos de extensão abertos à comunidade externa e de duração variável, para aperfeiçoamento técnico em assuntos da Saúde. Assim, existe ainda uma “população flutuante”, variável, na faixa de 250 pessoas externas por dia. Quadro 1 - Exposições no “Corredor da Memória” Data Título Características 12 de março a 10 Acervo do Centro de Memória 110 imagens. (Ver figura 2) de maio de 2014 da Medicina 12 de maio a 10 de Engajamento junho 2014 político e 26 imagens inéditas do álbum do resistência à Ditadura Militar na inquérito policial (Ver figura 7) Faculdade de Medicina 12 de junho a 13 de A Medicina na Copa 31 imagens de alunos e professores julho de 2014 da Faculdade que atuaram em diversos times de futebol (Ver figura 4) 06 de agosto a 08 Formas de nascer no Ocidente de setembro 92 imagens (Ver figura 3) de 2014 09 de setembro de Hanseníase em Minas Gerais na 50 imagens do álbum de fotografias 2014 a 30 de década de 1930 novembro de 2014 da Colônia Santa Izabel do professor Antônio Aleixo. 15 de dezembro de Horto Medicinal Frei Veloso: Imagens 2014 a 31 do de espaço de ensino, pesquisa e inauguração janeiro de 2015 acervo do Horto, sobre a imagens extensão do Campus Saúde da recentes dos projetos lá realizados UFMG (Ver figura 5). 06 de fevereiro a Ilustração Científica: a arte a Fruto de edital junto ao LavGRAFT 06 de abril de 2015 serviço da Ciência. e coordenada pela professora Ana Cecília Rocha Veiga. Fonte: Centro de Memória da Faculdade de Medicina da UFMG, 2015. 219 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Figura 2 - Estrutura já pronta e primeira exposição sendo exibida. Fonte: Bruna Carvalho, 2014. Figura 3 – Exposição “Formas de Nascer no Ocidente”. Fonte: Bruna Carvalho, 2014. Figura 4 – Uma das imagens exibidas na exposição “Medicina na Copa”. Fonte: Bruna Carvalho, 2014. 220 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Com a implantação do “Corredor da Memória” o CEMEMOR teve sua visitação aumentada em 20%, tanto de visitantes espontâneos como de pesquisadores da área da Saúde, da História, da Museologia e da Arquivologia. Figura 6 – Público visitando o Corredor da Memória. Fonte: Bruna Carvalho, 2014. Vale ressaltar que o CEMEMOR encontra-se incluído na Rede de Museus e Espaços de Ciência e Cultura e vem desenvolvendo projetos e atividades em comum. Além disso, o acervo bibliográfico de obras raras e preciosas está sendo incluído no Sistema Pergamum da Biblioteca Universitária, tornando o acervo visível. A programação das exposições do Centro de Memória faz parte das atividades do Instituto Brasileiro de Museus, que promove semestralmente eventos em todos os museus do Brasil. Desta forma, a programação do Corredor da Memória, fez parte da 12ª Semana de Museus, “Museus, coleções criam conexões”, de 12 a 18 de maio de 2014 e pretende participar com duas exposições no evento de 2015, de 18 a 24 de maio: “Almanaque do Médico de Província: o Erário Mineral de Luís Gomes Ferreyra” e “O primeiro microscópio eletrônico da América do Sul e o pioneirismo científico da Faculdade de Medicina da UFMG”. Já foram divulgadas duas coleções existentes no acervo do CEMEMOR. A primeira delas consistiu em expor imagens dos livros raros, equipamentos médicos, vidraria e documentos manuscritos inéditos. Na segunda exposição, ao ensejo dos 50 anos da implantação do regime Militar no Brasil, foram expostas as imagens da invasão da Faculdade de Medicina pelo exército e a depredação resultante dessa violação da autonomia universitária. Nesta exposição foram 221 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 utilizadas fotografias do inquérito policial, parte do acervo do CEMEMOR e demandou pesquisa documental. Figura 7 - Página do álbum feito na perícia referente às depreciações no Edifício Central da Faculdade de Medicina, aos 3 e 4 de maio de 1968, exibidas nos televisores. Fonte: Bruna Carvalho, 2014. Como a experiência de curadoria de exposições no “Corredor da Memória” revelou-se promissora, no decorrer de 2014 foram elaboradas outras exposições (ver Figuras 3, 4, 5 e 7): a. “Medicina no Futebol”, homenageando ex-alunos que atuaram em times profissionais ou em times da Faculdade de Medicina; b. “Formas de Nascer no Ocidente” (curadora professora Anayansi Brenes) com imagens sobre História da Medicina, Parto Natural, Parto Cesariano, Parto Normal e Símbolos associados ao Parto; c. “Hanseníase em Minas Gerais: Colônia Santa Izabel na década de 1930” com fotos inéditas de álbum comemorativo de 5 anos da Colônia, acervo do professor Antônio Aleixo; d. “Horto Medicinal Frei Veloso: espaço de Ensino, Pesquisa e Extensão no Campus Saúde UFMG” (curadoria dos professores José Lucas Aleixo e José Divino Lopes) sobre a Fitoterapia no mundo, no Brasil e em Minas Gerais e as plantas que são aprovadas pela Organização Mundial da Saúde, bem como imagens de projetos em andamento no Horto Medicinal que fica dentro do Campus Saúde e ocupa cerca de 200 m²; 222 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 e. “Ilustrações Científicas na área Médica” (curadoria Professora Ana Cecília Rocha Veiga) com edital específico para seleção de imagens com palestra sobre o tema. Para 2015, com apoio da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pró-Reitoria de Extensão da UFMG, através de edital 10/2014, estão em planejamento as seguintes exposições: a. Evolução de disciplina de ciência Médica na Faculdade de Medicina. b. Almanaque do Médico de Província: o Erário Mineral de Luis Gomes Ferreyra (já inscrito na 13ª Semana de Museus do IBRAM) c. Imagens de professores da Faculdade: fundadores, professores eméritos e exdiretores, representados em telas de artistas plásticos. d. Juscelino Kubitschek – Acervo fotográfico digitalizado: Ex-aluno e estadista. e. Professor Baeta Viana – Digitalização das fotos de álbum. f. Obras Raras do acervo do Centro de Memória da Medicina. g. Teses Médicas do acervo do Centro de Memória da Medicina. h. Arquitetura do Campus Saúde – fotos das edificações e sua história. i. Equipamentos médicos - passado e presente. j. Imagens do Museu de Ciências Morfológicas – “Conexão homem natureza: modelos que se repetem”. Imagens de estruturas celulares similares em seres vivos de reinos diversos que mantém padrão semelhante. k. Imagens de Ilustrações de doenças dermatológicas de autoria de Cazenave: “Maladies de La peau” (1856). l. Doenças na Arte: imagens de pinturas e gravuras de artistas consagrados que retratam pessoas portadoras de moléstias e deficiências. m. Exibição das capas da Revista Médica de Minas Gerais. 5 CONCLUSÃO O profissional da Informação atualmente transita por várias áreas, conciliando a interdisciplinaridade o que o capacita a ser muito mais profissional e também um cidadão com responsabilidade social. A criação do “Corredor da Memória” foi fundamental para divulgar o CEMEMOR e incentivar a visitação do público, seja ele composto de pesquisadores ou de curiosos. Tem sido muito gratificante receber comentários do tipo: “aqui deparamos com materiais não disponíveis em outros acervos”. Outro recurso fundamental é a mídia digital 223 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 capaz de democratizar a história, ou seja, incorporar múltiplas personagens e atingir diversos públicos. Por último, mas não menos importante, as imagens projetadas nos telões, e as informações do site, certamente irão instigar a busca pelo conhecimento e incentivar a visitação de outros espaços do Centro de Memória, como as vitrines internas com peças de anatomia patológica e a Galeria Luis Gomes Ferreyra, que abriga a exposição “Nas Veias da Memória: alguma história da Medicina”. Lugar de produção do conhecimento por excelência, a universidade, ao se abrir para o público por meio de seus museus e recursos digitais, pode facilitar a comunicação entre visitantes e a ciência, mediada por aparatos científicos e metodologias educacionais, possibilitando a ação do indivíduo em sua própria aprendizagem. REFERÊNCIAS ALBAGLI, Sarita. Divulgação científica: divulgação para a cidadania. Ciência da Informação, Brasília, v. 25, n. 3, p. 396-404, set./dez. 1996. Disponível em: <http://revista.ibict.br/cienciadainformacao/index.php/ciinf/article/view/465/424>. Acesso em: 07 mai. 2014. BUENO, Wilson. 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Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010040422012000300001&lang=pt>. Acesso em: Acesso 09 mai. 2014. 224 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 AS REDES SOCIAIS E O BIBLIOTECÁRIO NA DISSEMINAÇÃO DA INFORMAÇÃO EM REDE: a organização da informação no Facebook GT 4 Mídias da informação: cidadania e Exclusão digital no contexto sociedade da informação. (Apresentação oral) MUNIZ, Djalda Maracira Castelo Branco54 VIANA, Joyce Mirella dos Anjos55 RESUMO Estudo sobre a aplicabilidade da rede social Facebook as técnicas de organização da informação pelo bibliotecário. Apresenta uma reflexão de como a rede social é constituída a partir de uma discussão referente aos mecanismos de organização de informação. Realiza uma observação participante no Facebook visando entender como as informações são disseminadas, conceituadas e organizadas na rede social por Bibliotecários e como estes a divulgam. Observa os fluxos de informações, onde há divulgação de informações extremamente relevantes pelos bibliotecários pesquisados. Constatamos que a disseminação da informação acaba se beneficiando do acesso fácil às ferramentas de interação, na medida em que os bibliotecários podem usar a rede para obter as benesses da informação atingir uma quantidade grande de outros usuários para a rede dos próprios bibliotecários, observamos que o mecanismo de organização de informações com o uso de tags e outros parecem configurar novos valores também na própria rede. Palavras-chave: Redes sociais. Disseminação de informações. Organização da informação. Linguagem documentária. ABSTRACT Study of the applicability of the social network Facebook the organization of technical information by the librarian. Presents a reflection of how the social network is made from a discussion regarding the mechanisms for organizing information. Performs a participant observation in Facebook in order to understand how information is disseminated, conceptualized and organized the social network for Librarians and like these to disclose. Observes the information flows, where there is disclosure of highly relevant information by librarians surveyed. Notes that the dissemination of information ends up benefiting from easy access to interactive tools, in that librarians can use the network to get the blessings of information reach a lot of other users to the network of librarians themselves, we found that information organization mechanism with the use of tags and others seem to set new values also in its network. Keywords: Social Networks. Dissemination of information. Organization of information. indexing language 1 INTRODUÇÃO As redes sociais ganharam destaque na rede mundial de computadores e na vida das pessoas, afinal referem-se a interação ocorrida por esse meio entre elas. Para Tomael e 54 55 Graduanda em Biblioteconomia pela UFMA E-mail:[email protected] Graduanda em Biblioteconomia pela UFMA. E-mail: [email protected] 225 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Marteleto (2006), as redes sociais são ligações formadas por pessoas, organizações sociais e corporações com interesse em comum ou por amizade para a interação de sua vida pessoal e o compartilhamento de informações ou conteúdos que constroem e reconstroem a estrutura social. Processo de modelagem do conhecimento que visa a construção de representações do conhecimento. Para Recuero (2010), a rede social é a aplicação da metáfora da rede (estrutura composta de nós ou modos e suas conexões) para os grupos sociais, onde atores constituem os nós e laços sociais, as conexões. Segundo a autora, redes sociais não são estatísticas e sua estrutura de conexões pode ser alterada por meio das dinâmicas que são promovidas pelos indivíduos dentro do contexto dos seus relacionamentos pessoais e sociais, focados nas relações de colaboração, competição, conflito, movimentos de ruptura, agregação, adaptação e auto-organização. Na rede internacional de computadores, conhecida com web, rede social é entendido sites de relacionamento. Como uma ferramenta em plataforma digital sua utilidade se dá ao fazer a interação das redes sociais e são uma subdivisão da mídia social, que são ferramentas que permitem a interação das redes sociais. A horizontalização trazida na própria estrutura dessa mídia é a principal mudança em relação à verticalização da mídia de massa. Para Boyd e Ellison (2007), os sites das redes sociais são como serviços aos indivíduos para construir um perfil público ou semi-público num sistema limitado, articular uma lista dos usuários com quem compartilham uma conexão e ver o cruzar de suas listas de conexões e a dos demais dentro do sistema. A natureza e a nomenclatura dessas conexões podem variar de site para site. Na atualidade, são várias redes sociais, que reúnem pessoas com interesse em um assunto ou tema, ou ainda de caráter geral. Na coleta dos dados verificamos que as redes sociais mais comumente utilizadas pelas unidades de informação brasileiras que possuem perfis nessas plataformas são: Facebook, G+, Twitter e Instagram, (SPADARO, 2013). A rede que abordaremos é o Facebook, criado em 2004, o website direcionado ao público universitário norte americano, e logo se tornou popular mundialmente. É possível criar um perfil como pessoa ou uma página como empresa, figura pública, marca, comunidade, etc., elaborar enquetes, usar aplicativos entre outros serviços. Os perfis possuem fotos, mural de mensagens, listas de amigos, interesses pessoais e podem ser enviadas mensagens públicas, privadas e para grupos criados e selecionados pelos próprios utilizadores. Há vários níveis de privacidade a serem configurados. 226 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Tal rede social foi selecionada por ser, atualmente, um dos mais utilizadas tanto no meio acadêmico da Universidade Federal do Maranhão, quanto pelos profissionais atuantes da área. O caráter agregador de dados, documentos e informações e a disponibilização dos mesmos, característico de uma unidade informacional, é um dos pontos em comum com a troca de informações e conhecimentos promovida pelas redes sociais. Maness (2007) acredita no potencial do uso das redes sociais por uma unidade de informação: Redes sociais permitiriam que bibliotecários e usuários não somente interagissem, mas compartilhassem e transformassem recursos dinamicamente em um meio eletrônico. Usuários podem criar vínculos com a rede da biblioteca, ver o que os outros usuários têm em comum com suas necessidades de informação, baseado em perfis similares, demografias, fontes previamente acessadas, e um grande número de dados que os usuários fornecem. (MANESS, 2007, p. 48). Participar de redes sociais implica em adaptações, constante atualização e monitoramento. Garcia Giménez (2010), afirma que é preciso escolher em que rede posicionar a biblioteca e fazer uma avaliação prévia das possibilidades de dedicação, tempo e recursos suficientes para adicionar conteúdo ao seu perfil. O autor aponta que um bom planejamento que inclua as redes sociais no conjunto de processos de trabalho da biblioteca pode oferecer as vantagens tangíveis da utilização dessas ferramentas por causa da transmissão viral e exponencial da informação nas redes sociais. Não basta criar perfis nas redes sociais, é preciso monitorá-las para saber o que as pessoas comentam sobre a instituição, o que causa dúvidas, insatisfações, assim como aquilo que está sendo valorizado e disseminado para os demais porque são ferramentas de comunicação, canais de diálogo 24 horas por dia. Para atuar nas redes sociais é preciso fazer um planejamento considerando alguns pontos, como: Quem são os usuários reais e potenciais?; o que se pretende divulgar nessas plataformas?; De que forma será feita a alimentação dessas mídias?; Qual tipo de conteúdo será postado?; Como registrar e disseminar conteúdos informacionais de qualidade na rede social?. Uma vez criado um perfil em uma rede social para Spadoro (2013), é preciso publicar conteúdo com regularidade, a periodicidade é definida pela própria instituição; é importante ter rapidez na resposta a dúvidas, sugestões ou comentários postados pelo público; não é possível controlar as informações publicadas pelos contatos, por isso a importância de monitorar o que se fala sobre a instituição para reduzir impactos negativos; como toda e 227 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 qualquer tecnologia, mudanças acontecem a todo o momento. É preciso estar atento às alterações de interface, de funcionamento, à adição de funcionalidades, às atualizações, etc. Publicar qualquer notícia, curtir, comentar e compartilhar, é mais, é torna-la acessível posteriormente para que as outras pessoas que ficaram interessadas naquela informação possam acessá-la e que a mesma não se perca em um emaranhado de outras informações. Tem que ter responsabilidade por que o que postamos também pode ser interpretado de diferentes maneiras, pois são variadas as diversidades de público que atendemos e fazemos parte da rede de amigos de diferentes eixos da sociedade. A metodologia aplicada foi a observação das publicações postadas por três Bibliotecários na rede social mais utilizada no momento o Facebook e dele tirarmos as nossas conclusões sobre a taxonomia e as ontologias criadas a partir dos mecanismos informacionais disseminados pelos Bibliotecários para assim compreendermos com estes a utilizam no ambiente da web 2.0. 2 A REDE SOCIAL O uso cada vez crescente da Internet e seus diversos produtos e serviços tecnológicos modernizaram de modo notável os padrões de agregação social nas últimas décadas. A relativização das noções de tempo e espaço e a redução dos rituais sincrônicos abriram espaço para a mobilidade e o estabelecimento de comunidades não constrangidas pela dimensão geográfica e ocasionou também a implementação de novos padrões de cooperação. A disseminação em caráter mundial de informações obteve um alto padrão de agregações que se constituem em torno do interesse informacional, criando um fluxo contínuo e cada vez mais veloz. Assim surgiram as comunidades virtuais, uma modalidade de agregação de sujeitos dispersos geograficamente em torno de interesses comuns. Nesse ambiente de cooperação abrem-se também espaço para a articulação das comunidades de prática. As comunidades de prática são, de acordo com McDermott (1999). Agrupamentos de pessoas que compartilham e aprendem uns com os outros por contato físico ou virtual, com um objetivo de resolver problemas, trocar experiências, desvelamentos, a construção de modelos padrões, técnicas ou metodologias, tudo isso com previsão considerar as melhores práticas. Segundo Moura ( 2009, p. 67); As redes sociais seriam como “[...] territórios neutros das pressões sociais e da demanda por produtividade, devem possuir um domínio de atuação partilhado de forma colaborativa ou comunitária e compartilharem práticas comuns (experiências, problemas e soluções, ferramentas, vocabulários e metodologias).”. 228 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Em sua origem, o termo foi proposto nos estudos de Jean Lave e de Etienne Wenger baseado em trabalhos desenvolvidos no final dos anos oitenta, quando investigaram a aprendizagem em diversos tipos de comunidades e o papel da participação periférica no fortalecimento das práticas partilhadas. De acordo com Lueg (2008), em comunidades de prática a integração a partir da periferia dos processos não implica em subalternização da participação, mas pode auxiliar ao novo membro na compreensão das formas e as dinâmicas de funcionamento do grupo. Segundo Moura (2009, p. 5): As ações dessas comunidades envolvem simultaneamente o compartilhamento dos conhecimentos explícitos e tácitos. O conhecimento explícito constitui-se em um saber que pode ser formalizado em procedimentos comuns tais como vocabulários, conceitos e bases de conhecimento. O conhecimento tácito por outro lado, é um conhecimento pessoal, de mais difícil formalização na medida em que agregam crenças, savoir-faire, histórias, anedotas e linguagens corporais, elementos esses que passam por sistemas difusos de codificação em explicitação. Identificamos dois tipos de comunidades: as autorreguladas e as patrocinadas. As autorreguladas são as que possuem alto grau de informalidade e descentralização, cujos principais focos de atenção são os interesses comuns de seus membros. As trocas geralmente são realizadas e podem agregar valor às ações profissionais e intelectuais de seus participantes. Com caráter resiliente essas comunidades se conduzem pela dinâmica de interesse de seus membros e podem no curso de suas ações alterarem seus objetivos iniciais ou mesmo assumirem a forma de uma comunidade patrocinada. As comunidades patrocinadas são iniciativas mantidas ou apoiadas por organizações. Por receberem apoios institucionais o curso das ações é orientado a resultados mensuráveis, as responsabilidades são partilhadas e seus membros ocupam papéis específicos. Os principais dispositivos adotados na condução e formalização das comunidades de prática são os groupwares, os repositórios de dados e conhecimento, a gestão de documentos, os motores de busca, os agentes inteligentes, as intranets e os websites.(MOURA, 2009, p. 5) Moura (2009), ressalta que o universo das comunidades virtuais de prática (CoPS) “[...] são movimentos colaborativos na WEB que através de tecnologias síncronas e assíncronas ampliaram a comunicação, interação e a produção e o compartilhamento de informações entre sujeitos dispersos geograficamente [...]”. Moura (2009), elenca ainda as dificuldades enfrentadas pela comunidade virtual: a) o nível de disciplina exigido; b) a natureza do conhecimento partilhado; 229 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 c) a fluidez das relações que se estabelecem pelo meio digital; d) o estabelecimento da confiança mútua e o e) respeito aos acordos pactuados na comunidade. Dado que a intensificação da comunicação é o principal elemento agregador desse tipo de comunidade, a linguagem exerce uma função central nesses contextos. A linguagem no âmbito desse trabalho é compreendida como mediações compartilhadas e tacitamente construídas com vistas a efetivar a expressão do pensamento humano. Segundo Moura (2009, p. 6): As redes sociais, são agregações sociais organizadas em torno de temáticas e interesses específicos que partilham, produzem e disseminam conhecimento e informações. Essas redes atuam aos moldes dos colégios invisíveis e utilizam intensamente as tecnologias digitais em rede como um mecanismo de agregação e produção coletivas. Elas possuem uma lógica de agregação patada pela horizontalidade das relações sociais e, de acordo com Dias e Silveira (2007), caracterizadas por processos produtivos e de experiência, poder e cultura, dinamismo e descentralização na tomada de decisão, autonomia dos membros, horizontalidade das relações e desconcentração do poder. Incorporam-se conforme Marteleto (2005), em três dimensões fundamentais: a dimensão sócio-comunicacional, a linguístico-discursiva e a de produção de sentidos. A dimensão sócio-comunicacional envolve os elos, motivações e interações entre os atores sociais. A dimensão linguística e discursiva incorpora os aspectos cognitivos e informacionais envolvidos no compartilhamento social. Finalmente, a dimensão de produção de sentidos explicita o fluxo e a dinâmica da ação colaborativa partilhada. No ambiente digital os provedores de soluções colaborativas em rede logo trataram de programar funcionalidades aos softwares para que eles pudessem facilitar o nível de cooperação já, a partir do pacto de linguagem. Em decorrência disso, os membros das comunidades virtuais puderam constituir e instanciar no nível computacional os principais eixos temáticos desenvolvidos e expressos em linguagem. O movimento exponencial das redes sociais sobre a organização da informação em ambientes digitais, sobretudo, porque se criou uma grande expectativa de que as redes e seus membros seriam eles próprios capazes de coordenar os fluxos informacionais e o aprovisionamento de soluções no âmbito da gestão dos sistemas de informação. 230 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Assim nesse contexto, as Folksonomia tem status de instrumento de representação da informação, mesmo elevando a complexidade do tratamento da linguagem verbal em contextos de representação da informação. Ambientado na crescente presença de usuários, em rede que estão em fase de pesquisa, e de muitos autores que disponibilizam conteúdos on-line sem a intervenção de mediadores, tornou-se evidente que o campo da organização da informação precisar rever seus métodos com vistas a compreender esse movimento de transformação intelectual inevitável. A tessitura apresentada mostra que redes sociais têm funcionado em torno das trocas informacionais que se realizam em ambientes dotados de Folksonomia que permitem através da etiquetagem dos interesses informacionais, o compartilhamento e a validação de uma linguagem de referência. O controle desse léxico ainda encontra-se atravessado pela intensificação das redes de significação que se estruturam no uso social da linguagem, mas acredita-se que a dinâmica estabelecida pode oferecer pistas, rumo à atualização da linguagem de representação informacional de modo mais ágil, conforme já salientado. 3 ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO A organização do conhecimento envolve a análise do conceito e de suas características para o estabelecimento da posição que cada conceito ocupa num determinado domínio, bem como das suas relações com os demais conceitos que compõem um sistema conceitual Sistemas de Organização do Conhecimento (SOC). O termo Knowledge Organization Systems (KOS) foi proposto em 1998 pelo Networked Knowledge Organization Systems Working Group para englobar sistemas de classificação, tesauros, cabeçalhos de assunto, arquivos de autoridade, taxonomias, redes semânticas e ontologias. Sistemas conceituais que representam determinado domínio por meio da sistematização dos conceitos e das relações que se estabelecem entre eles. O Tesauro e está ligado a Linguística e a Lexicografia, a Taxonomia vem da Biologia, da Classificação dos seres vivos, a Ontologia vem da Filosofia e em grego ontos e logoi, significa "conhecimento do ser" e a Ciência da Informação está ligada a organização e a recuperação da informação. As construções mentais que servem para classificar os objetos individuais do mundo exterior ou interior através de um processo de abstração mais ou menos arbitrário. Uma classificação não é evidente em si mesma. A classificação é um processo arbitrário, um sistema de classificação seleciona os relacionamentos a serem apresentados. Ao analisar um assunto, identificamos diferentes 231 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 facetas e podemos agrupar os conceitos de diferentes maneiras. A característica de divisão é um atributo ou propriedade do conceito. Uma relação é uma associação entre duas ou mais entidades ou classes de entidades (considerando entidade como elemento básico da realidade.) Relação conceitual: entre os conceitos que representam essas entidades, no contexto de um SOC (Sistemas de Organização do Conhecimento). Conceitos são os tijolos de uma estrutura conceitual, as relações entre eles são o cimento que os mantêm juntos (BEAN; GREEN; MYAENG, 2002). Tesauro é um instrumento de controle terminológico, utilizado em sistemas de informação para traduzir a linguagem dos documentos, dos indexadores e dos pesquisadores numa linguagem controlada, usada na indexação e na recuperação de informações. As Ontologias definem conceitos e relações de alguma área do conhecimento, de forma compartilhada e consensual. Esta conceitualização deve ser representada de maneira formal, legível e utilizável por computadores. Compostas de taxonomia e regras de inferência. Ontologia explicita o conhecimento de um domínio, promove a padronização e a reutilização de representações do conhecimento, compartilha um entendimento comum da estrutura da informação (pessoas e sistemas), possibilita a criação de novo conhecimento a partir do existente. Os que possuem em comum, a taxonomias e tesauros são diferentes abordagens para ajudar a estruturar, classificar, modelar e/ou representar conceitos e relações de uma área de interesse de uma comunidade; Há um conjunto de termos que a comunidade concorda em usar para referir-se a estes conceitos e relações, de uma mesma maneira; O significado dos termos é especificado de alguma maneira e em algum nível; São noções não muito bem definidas e de diferentes maneiras por diferentes indivíduos e comunidades. 4 OS BIBLIOTECÁRIOS NA REDE E A ORGANIZAÇÃO DA INFORMAÇÃO NA REDE Analisamos três perfis na rede sociais de Bibliotecários atuantes em Bibliotecas e que mantêm com regularidade a postagem em seus respectivos perfis. Escolhemos e pedimos autorização para análise de seus perfis dos que são proativos e criativos pois: Algumas características são fundamentais no profissional da informação, podendo ser nato ou não, como: criativo, investigativo, de senso crítico, empreendedor, proativo, político, entre outras. No caso de o profissional não possuí-las, será necessário desenvolvê-las durante a sua formação ou atualização, buscando uma melhor atuação profissional no mercado de trabalho. (ABEBD, 1998 apud VALENTIM, 2000, p. 140) E estes nos são os mais adequados para a nossa análise. O 1º Bibliotecário é graduado em Biblioteconomia pala Universidade Federal do Maranhão e Especialista em Leitura e 232 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Formação de Leitores. Criou sua conta no Facebook, no dia 22 de novembro de 2010 e têm postado com bastante regularidade, principalmente notícias relacionadas à biblioteca em que atua, nos eventos e serviços, comumente em outros estados em outras instituições. Como nos pautamos em analisar os primeiros meses do ano de 2014, elencamos as postagens ligadas disseminação da informação como notícias, eventos, assuntos políticos, sociais, educacionais, profissionais e econômicos que por ventura tenha sido utilizado pela bibliotecária. Foram publicadas notícias sobre as reuniões com os vinte escritores maranhenses do primeiro decênio do século XXI homenageados pela Secretaria de Estado da Cultura e pela Biblioteca Pública Benedito Leite. A atividade em ocasião da morte do escritor Gabriel Garcia Marquez na Unidade de Informação. O da XXI Quinzena do Livro Infantil. A divulgação aprovação de trabalhos em eventos como no VIII Seminário Nacional de Bibliotecas Braille. As atividades que são apresentadas durante a semana e o dia do Bibliotecário, VII edição do Lançamento Coletivo de Obras Maranhenses, no encontro do Programa Nacional de Incentivo à Leitura regional (PROLER/MA) entre tantos outros. Consideramos que bibliotecário 1 utiliza mais que um perfil pessoal, utiliza a página nessa rede social para divulgar as atividades desenvolvidas na biblioteca e que o marca em vários momentos em suas postagens é o foco sempre direcionado ao seu lado profissional. O Bibliotecário 2 é assessor de gabinete do Núcleo Integrado de Bibliotecas da Universidade Federal do Maranhão, é graduado em Biblioteconomia, especialista em gestão pública e possui mestrado em Desenvolvimento Sócio-espacial e Regional pela Universidade Estadual do Maranhão, possui conta na rede social desde 2010. As suas postagens quase diárias, no período estudado, é principalmente focado em notícias relacionadas à pesquisa, literatura, eventos científicos e culturais, direitos humanos, treinamentos de portais de periódicos, apresentação de cursos, apresentação de trabalhos em eventos, indicação de leituras, participação em eventos da Biblioteconomia e Científicos em outros estados, participação em mesas redondas, convidando para eventos locais, estaduais e nacionais, compondo mesa de abertura em eventos, disseminando informações das mais diversas áreas, incentivando a leitura, comunicando abertura de seletivos de pós-graduação, nas atividades ligadas ao Conselho da classe Bibliotecária, divulgando serviços e produtos da Biblioteca Central e das Setoriais da UFMA. 233 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Percebemos neste período de tempo um perfil mais voltado para a divulgação do profissional Bibliotecário chamando a atenção para as suas atividades e as suas participações em variados eventos e principalmente incentivando a leitura. Neste perfil percebemos o uso intensivo de classificação e organização do que está sendo divulgado além da simples informação marcando-as com tags ou hastag e palavras ou com frase explicando a informação que auxiliam na busca posterior da postagem pelo bibliotecário ou por algum interessado pela informação que na maioria das vezes que foi nos percebido foi utilizada a linguagem natural como forma de ‘catalogar’ a informação veiculada. O Bibliotecário 3 é graduado pela Universidade Federal do Maranhão, exerce a profissão na Biblioteca do Mestrado em Direito-UFMA. Possui conta no Facebook, desde setembro de 2010. Do mês de janeiro até maio suas postagens, não são tão frequentes, mas se voltam na divulgação bases de dados conveniadas ao portal da Capes, treinamento e uso das bases, eventos científicos e culturais de Biblioteconomia e de outras áreas, divulgação ebooks e gratuitos cursos de várias áreas, atividades relacionadas a atividades acadêmicas, notícias sobre leitura e literatura, atividades relacionadas aos bibliotecários, apresentação de cursos, apresentação de trabalhos em eventos locais, estaduais e nacionais, indicação de leituras, participação em eventos de Biblioteconomia e Científicos em outros estados, informações de atividades culturais, poesias, disseminação dos produtos e serviços. Seu enfoque nas postagens é menos pessoal e mais voltado para as que têm ligação com a profissão, pois se lança mais a publicar atividades da área do que divulgar a que desenvolve nesse período que foi analisado. Não deixando de se utilizar alguns mecanismos da linguagem documentária para divulgar os eventos científicos nas frases de chamada. Constatamos-nos 3 (três) casos estudados que a atuação destes personagens na rede social analisada é uma iniciativa que merece destaque e serve de exemplo de como um profissional pode ser mais atuante no ambiente da Web, por meio das redes sociais. Não existe um modelo pronto para um perfil nessa plataforma, pois cada um publica o que considera ser relevante. Consideramos que é possível administrar suas contas pessoais e ao mesmo tempo publicar sobre atividades ligadas à Biblioteconomia, usando informações de alguns sites e aplicativos eles podem e devem escolher qual conteúdo mais adequado pode ser publicado ao seu perfil na rede e deve utilizar a linguagem natural ou a artificial a que mais se adequar ao 234 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 público que o segue na rede, ou seja, no ambiente de hipertexto. Outra questão ser resolvida pelo bibliotecário é definir a periodicidade das atualizações, pois uns publicam mais outros menos e com pouca regularidade. Mas há a possibilidade de manterem post’s, dada a variedade de suportes que dão acesso à postagem direta na rede social, para garantir que os seus perfis tenham constância e mantenham informações relevantes ao perfil que pretendem manter na rede. 5 CONCLUSÃO Percebemos que as buscas são diferentes e as maneiras para localizar a informação, são feitas de formas diferentes indivíduos e comunidades. Podem utilizar bases teóricas e metodológicas comuns a determinado ponto acesso. A decisão sobre uma ou outra linguagem depende da aplicação escolhida pelo bibliotecário e pelo usuário. As ferramentas verbais de representação da informação permanecem como excelentes instrumentos de mediação no acesso à informação em contextos digitais devido à perenidade do conjunto de regras adotadas no seu estabelecimento. Assim, acredita-se que ao incorporarmos criticamente o discurso e as práticas das redes sociais, poderemos aprimorar as formas de acesso à informação e à representação das informações disponíveis em contextos digitais. O caráter onipresente que o documento eletrônico se tornou e devido ao processo da grande demanda por informação, é necessário transformar radicalmente o nosso modo de pensar o aspecto material, a cognição e a percepção empregadas pelos usuários num contexto de interações hipertextuais, perceber o que o usuário utilizaria para localizar uma informação postada anteriormente é o maior dos desafios para os bibliotecários. Acredita-se, pois, que na consideração, explicitação e formalização dos mecanismos de significação, presentes nos percursos e contratos de leituras realizadas pelas redes sociais, repousa as possibilidades de alterarmos as lógicas de organização da informação e privilegiar, como foco, a circulação social do saber. Finalmente concluímos bibliotecário tem que ter responsabilidade por que a forma como classificamos, inserimos tag’s ou hastag’s para localizar a informação, também podem ser interpretadas de diferentes maneiras, pois são variadas as diversidades de público que atendemos e fazemos parte da rede de amigos de diferentes eixos da sociedade. 235 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 REFERÊNCIAS BOYD, D. M., & ELLISON, N. B. 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VALENTIM, M. L. P. (org.) O profissional da informação: formação, perfil e atuação profissional. São Paulo: Polis, 2000. 156 p. 237 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 REDES SOCIAIS E A DISSEMINAÇÃO DE INFORMAÇÕES PÚBLICAS NO BRASIL. GT 4 Mídias da informação: cidadania e Exclusão digital no contexto sociedade da informação. (Apresentação oral) ARAÚJO. Elani Regis de Oliveira¹ SOUZA. Claudia Barbosa dos Santos² RESUMO Este trabalho objetiva apresentar, através da abordagem qualitativa e baseado na revisão de literatura, o uso das tecnologias da informação, em especial, das redes sociais por instituições publicas no Brasil para a publicidade de informações pertinentes a sociedade e que estejam ligadas a estas instituições. Mostra a revolução causada com os meios utilizados pelas instituições na publicidade de informações publicas e como o cidadão foi beneficiado. Explana sobre o que diz a constituição brasileira a cerca da obrigatoriedade dos órgãos públicos divulgarem as informações em sua responsabilidade. Concluiu-se que há normas para a publicidade de informações publicas e que as instituições públicas estão cada vez mais engajadas, não só na divulgação de informações, como nos meios de aumentar as chances dessa informação chegar ao cidadão, e o meio mais popular e eficaz para esse fim atualmente são as redes sociais. Palavras-chave: redes sociais. Informações públicas. Publicidade de informações. ABSTRACT This work presents , through a qualitative approach and based on the literature review , the use of information technology , in particular social networks for public institutions in Brazil for advertising information relevant to society and which are connected to these institutions . Shows the revolution caused by the means used by the institutions in advertising and public information to citizens benefited . Explains what the Brazilian constitution says about the obligation of public bodies to disclose information in their responsibility . It was concluded that there are standards for advertising of public information and public institutions are increasingly engaged not only in the dissemination of information, as the means to increase the chances that information get to the citizen, and the most popular and effective means for this purpose today are social networks. keyword: social networking. public information. advertising information ______________________________ ¹ Elani Regis de Oliveira Araujo, graduanda de bacharelado em biblioteconomia– UESPI, email: [email protected]. ² Claudia Barbosa dos Santos de Souza, graduanda de bacharelado em biblioteconomia –UNIRIO, email: [email protected]. 238 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 1 INTRODUÇÃO A comunicação entre governo e cidadão é questão crucial para que a cidadania seja exercida e defendida por ambas as partes, a transparência dos atos executados pelos órgãos dos governos são pressupostos para o bom relacionamento, ou seja, enquanto o governo exerce sua função, o cidadão fiscaliza. Tendo em vista uma maior participação e interação da sociedade nos rumos que o governo dá para o país, nos últimos anos algumas iniciativas foram tomadas pelo governo para garantir esse direito. E esse direito foi descrito na Constituição promulgada em 1988, porém ainda havia algumas barreiras e falta de informação por parte do cidadão, ou seja, muitas vezes o cidadão não sabia que teria direito a determinadas informações, ao mesmo tempo que, quando sabia que tinha direito, não conseguia obtê-las por obstáculos burocráticos nos órgãos. Muitas são as instituições que tem em sua função a guarda temporária ou permanente de informações publicas, são órgãos federais, estaduais, municipais, autarquias dentre outros, estas instituições podem não só fazer a guarda de informações de terceiros, como também pode ser um órgão que precisa, com base na lei 12.527 de 2011 da Constituição brasileira, manter a publicidade de suas ações perante a sociedade. Para conseguir, de fato, cumprir com o principio da publicidade, algumas ferramentas estão sendo utilizadas pelas instituições publicas, as tecnologias da informação e comunicação (TIC’s), por exemplo, estando presente em grande parte dos lares brasileiros, sendo através de celular, tablet’s e computadores, se tornaram uma “arma eficaz” a favor da publicidade de informações publicas. Com a finalidade de tornar fácil o acesso às informações públicas, e o crescente uso das redes sociais, gerou uma fonte bastante barata e eficaz para as instituições, já que precisa-se basicamente só de um computador e uma pessoa especializada para expor as informações e auxiliar os cidadãos na busca por cidadania através de dados. Este estudo com abordagem qualitativa, através de revisão de literatura, utilizando redes sociais, sites de instituições públicas governamentais e estudos publicados a cerca do assunto, visa explanar sobre a evolução da pratica do principio da publicidade de informações publicas nas instituições governamentais através de seus meios de comunicação, em especial, das redes sociais. 2 LEI 12.527/11 239 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O caminho percorrido para a aprovação da hoje conhecida Lei de Acesso a Informação, segundo o site “Fórum de direito de acesso a informações públicas”, foi em 2009 quando o executivo federal envia ao congresso o projeto de lei 5228/09 para regulamentar o acesso a informações publicas, essa proposta surgira após provocação da ONG Transparência Brasil, no mesmo mês a câmara forma uma comissão especial para avaliar o projeto de lei, após modificações feitas pela comissão, em 2010 o texto é aprovado e enviado ao Senado, após tramitação, em 2011 a lei é aprovada. A lei 12.527 regulamenta o direito de acesso a informações publicas que está previsto no inciso XXXIII do art. 5º no inciso II do §3º do art. 37 e no § 2º do art. 216 da Constituição Federal. A LAI foi promulgada em 18 de novembro, e após seis meses entrou em vigor através do Decreto nº 7.724, de 16 de maio de 2012. Partindo do precedente de trazer mais transparência ao Governo e disponibilizar para a sociedade informações publicas. A Controladoria Geral da União é o órgão responsável por fiscalizar a aplicação da LAI, bem como atua como instancia recursal no Poder Executivo Federal. Está sujeito a lei: a União, Estados, Distrito Federal e Municípios, que segundo o Artigo 37 da LAI devem obedecer aos princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade, eficiência e etc. bem como no Artigo 216 que estabelece que, cabe a administração publica a gestão da documentação governamental e as providencias para disponibilidade da sua consulta para os que dela necessita. Para facilitar ao busca por informações, o Governo Federal, o Congresso e os Tribunais criaram unidades de atendimento, chamadas de Unidades Informação ao Cidadão. O serviço é gratuito e os pedidos de informação podem ser feitos apenas com o nome do cidadão (TAMARIM, 2012). Assim, informações publicas que não contrariem qualquer outra norma, podem e devem, ser disponibilizadas imediatamente, ou o mais breve possível ao solicitante, que conta com locais cada vez mais bem orientados para essa solicitação de forma rápida, pratica e gratuita na medida do possível. 3 INFORMAÇÃO PUBLICA E A IMPORTANCIA DA PUBLICIDADE Tendo em vista que toda informação publica está sujeita a publicidade, Segundo Batista (2010, p.40) a informação pública é um bem público, tangível ou intangível, que consiste num patrimônio cultural de uso comum da sociedade e de propriedade das entidades/instituições públicas da administração centralizada, das autarquias e das fundações públicas. Assim a informação pública pode ser produzida pela administração pública ou, simplesmente, estar em poder dela, sem o status de sigilo para que esteja disponível ao 240 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 interesse público/coletivo da sociedade. Quando acessível à sociedade, a informação pública tem o poder de afetar elementos do ambiente, reconfigurando a estrutura social. Assim podese dizer que a publicidade está associada ao compromisso do governo de manter suas ações transparentes perante a sociedade. Bobbio (2000, p.42) enfatiza que A exigência de publicidade dos atos de governo é importante não apenas, como se costuma dizer, para permitir ao cidadão conhecer os atos de quem detém o poder e assim controla-los, mas também porque a publicidade é por si mesma uma forma de controle. Para se tornar cidadão de fato e direito, o cidadão precisará estar informado e atualizado em relação aos seus direitos, deveres e principalmente fiscalizar os órgãos públicos, que são responsáveis pela formalização e garantia desses. Durante algum tempo, não muito distante, esse direito não era adquirido com tanta facilidade como nos dias atuais. Ao longo de sua história, o Estado brasileiro tem pautado sua atuação pelo sigilo das informações. No império só imperador e pessoas de sua inteira confiança tinham acesso aos arquivos. Durante a Republica até o advento da Lei de arquivos, em 1991, o acesso aos documentos era regulamentado por normas institucionais, ou seja, cada instituição tinha sua norma ou regulamento, deixando a critério dos responsáveis pelos arquivos a tarefa de liberá-los ou não ao publico (FICO et al., 2008, p. 20). Então como haver fiscalização por parte da sociedade se não há como ter acesso a certas informações pertinentes? Como haverá aprovação do “detentor do poder”: o cidadão? Muitos esforços foram feitos para que essa realidade fosse modificada, Goerch (2014, p.111) aponta que a promulgação da Constituição de 1988 juntamente com a reforma do Estado, trouxe à discussão a transparência dos atos estatais, Já que a democracia tem um de seus alicerces no controle dos atos políticos pela sociedade. No Brasil o direito ao acesso à informação, já era previsto na Constituição Federal brasileira promulgada em 1988 como, por exemplo, em seu inciso XXIII Artigo 5º, que trata dos direitos e deveres individuais e coletivos, dispõem que: Todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado (BRASIL, 1988). Assim, nem todas as informações podem de fato ser divulgadas, como informações que, por exemplo, podem afetar a privacidade e/ou intimidade de pessoas envolvidas, violando alguns direitos constitucionais. Cunha Filho e Xavier (2014, p.214) explicam que a lei de Acesso à informação impõe restrições, especificamente, três principais hipóteses: informações classificadas, informações restritas devido o sigilo legal especial e informações pessoais. Segundo analise dos autores supracitados, o ato de classificar uma 241 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 informação, atribui a esta, a qualidade de informação reservada, secreta ou ultrassecreta, e permanecerão sob acesso restrito pelo prazo de cinco, quinze e vinte e cinco anos respectivamente. O procedimento de classificação é regulado pelos Decretos 7.724/12 e 7.845/12, o primeiro estabelece critérios para a elaboração do Termo de Classificação da Informação, enquanto a segunda, regulamenta procedimentos para credenciamento de segurança e tratamento de informações classificada em qualquer grau de sigilo, dispondo também sobre o Núcleo de Segurança e Credenciamento (CUNHA FILHO; XAVIER 2014, p.215). Tendo em vista que, segundo o Ministério da Justiça, a principal diretriz que rege a disponibilidade de informações é: a publicidade e a transparência das informações é regra e o sigilo é a exceção. Ou seja, há procedimentos que existem, e devem sim existir para que ações importantes para a segurança do cidadão sejam realizadas sem que pessoas sejam prejudicadas injustamente e pessoas que devem à justiça sejam punidas. Para ter acesso a informações alguns caminhos devem ser percorridos pelo cidadão, como, por exemplo, solicitar formalmente a informação desejada de forma gratuita, mas não precisando informar os motivos desta solicitação, ação essa respaldada no art. 10 do inciso 8º da LAI. Assim como o Estado, não tendo nenhuma razão contraria ao pedido, deverá entrega-lo prontamente ao solicitante, ou em até 20 dias prorrogáveis por mais 10, dependendo do motivo. Por outro lado, o Estado, através da LAI, atualmente já se utiliza de várias formas de manter o cidadão bem informado como em sites das próprias instituições. Essas informações são publicas de interesse coletivo ou geral, definidas no art. 8º da LAI. Segundo o e-SIC - Serviço de informação ao Cidadão – desde o vigor da LAI, em 16 de maio de 2012 até 2015, os pedidos de informações publicas tem crescido gradativamente: em 2012 era menos de 60 mil pedidos, enquanto em 2014 ultrapassou a casa dos 80 mil. Dados estes, disponíveis e atualizados constantemente, na pagina da Lei de acesso á informação no site do Governo Federal. Pode-se concluir que já havia uma intenção do governo em garantir a liberação e publicidade de informações pertinentes aos cidadãos e seus interesses na primeira constituição, porém na pratica pouco era feito em prol desta transparência. Com a aprovação da Lei de acesso á informação e os princípios de publicidade e disponibilização já regulamentados e melhorados constantemente, esta se tornou uma ferramenta social para o cidadão fiscalizar o que é feito por seus representantes. 4 AS TIC’s COMO ALIADA NA PROPAGANDA DE INFORMAÇÕES PUBLICAS 242 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A tecnologia vem sendo grande aliada do governo no quesito publicidade, o motivo é bem nítido, o mundo está cada vez se tornando mais tecnológico e conectado, e várias são as tecnologias de informação e comunicação que podem ser usadas para receber e publicar informações. O Centro Regional de Estudos para o desenvolvimento da sociedade Informação sob os auspícios da UNESCO (CETIC.br) órgão ligado ao Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.br) e ao Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br), apresenta os resultados da nona edição da pesquisa TIC Domicílios. O estudo foi realizado em mais de 16 mil domicílios brasileiros, entre setembro de 2013 e fevereiro de 2014. E aponta que mais da metade da população é usuária de internet e que os celulares estão cada vez mais presentes na forma de acesso á rede. A pesquisa aponta também o aumento de tablet’s e notebooks nas residências brasileiras. Torres (2004, p. 27) acredita que há uma relação muito estreita e direta entre o nível de desenvolvimento da tecnologia da informação e os patamares transparência na administração publica. Afinal, quanto melhor e mais rápido chega a informação até o receptor, mais eficaz se torna o fluxo informacional. O autor complementa que o investimento em tecnologia da informação representa uma ótima relação custo/beneficio, haja vista que os ganhos quanto a transparência dos negócios públicos no Brasil são notáveis. Goerch (2014, p. 110) afirma que por meio de portais de transparência na internet, a população pode acompanhar informações atualizadas sobre recursos publico e a atuação da administração direta e indireta e de todos os Poderes e Entes federativos. O que se torna um grande ganho para a sociedade, que se vê mais convidada a conhecer e participar da democracia. Quando a sociedade se torna consumidora deste tipo de informação, ela se torna gradativamente conhecedora de sua politica e por intermédio das tecnologias de informação ela passa também a ser disseminadora destas informações tão pertinentes a comunidade de forma geral. Com o conhecimento adquirido ela passa a ser participativa, uma vez que poderá utilizar esses conhecimentos em seus argumentos e debates a cerca de assuntos pertinentes a sociedade, em seu meio de convívio ou usando alguma tecnologia de comunicação, A internet se tornou com toda a facilidade de acesso remoto, um meio privilegiado dessa divulgação seja pelos sites, seja por paginas em redes sociais mantidas pelas próprias instituições governamentais. 5 REDES SOCIAIS E A PUBLICIDADE 243 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Os acessos às redes sociais continuam a crescer cada vez mais no Brasil e no mundo, não é absurdo imaginar que elas constituem uma das estratégias mais utilizadas pela sociedade para o compartilhamento de informação e conhecimento. De modo bem rustico, podemos dizer que as redes sociais são meios de comunicação, utilizados por pessoas, em diferentes localizações geográficas no mundo através da internet. Segundo a Pesquisa Brasileira de Mídia 2015 coordenada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da Republica, 48% dos brasileiros utilizam a internet, e 67% costumam utiliza-la para se informar. Entre esses internautas 92% estão conectados em redes sociais, Sendo que a rede social mais utilizada é o Facebook com 83%. O governo está presente nas redes sociais, somente no Portal Brasil (pagina no site do Governo Federal), contam-se 38 paginas oficiais em redes sociais diversas, entre Ministérios, Secretarias especiais e presidência da republica. A utilização da web pelo governo brasileiro é um fato, e um desafio para o Estado que precisa saber como se comportar e aprender a lidar com esses canais. Dessa Forma, a conduta recomendada pelo governo federal é a de que os perfis governamentais promovam a interação, reconhecendo que esses instrumentos de propagação são formas que o Estado tem para quebrar barreiras e buscar o dialogo e a aproximação do cidadão. Os administradores dos perfis nas redes sociais devem buscar sugestões para as politicas do governo, utilizar estratégias para estimular a interação com os usuários, disseminar boas praticas e promover respostas ágeis aos questionamentos feitos pelos usuários (BRASIL, 200?). Como supracitado, o Governo vem tomando medidas normalizadas para que haja um cuidado na hora de disseminar informações referentes às ações do governo, afinal qualquer erro, pode ser disseminado por sua vez, pelos interlocutores desta, o que pode acarretar em problemas para o cidadão e para o próprio governo. Assim, segundo o Decreto nº 7.675, de 20 de janeiro de 2012, o Departamento do Governo Eletrônico da SLTI é responsável por definir e publicar padrões e melhores práticas de uso da internet, inclusive as redes sociais. No site governoeletronico.gov.brque, mais precisamente na página que trata das redes sociais, podemos encontrar algumas dessas normas: O Manual de Orientação para Atuação em Redes Sociais lançado pela secom, em 26 de outubro de 2012, tem como objetivo estipular melhores praticas e guiar os agentes da comunidade Sicom no uso de redes sociais, incluindo a geração do conteúdo, interação com o usuário e atuação em casos de crise. A Portaria Nº 38, de 11 de junho de 2012, homologa a Norma Complementar nº 15/IN 01/DSIC/GSIPR, que estabelece as Diretrizes para o uso seguro das redes sociais na Administração Pública Federal (APF) 244 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A Cartilha de Redação para Web do e-PWG (Padrões Web em Governo Eletrônico), disponibilizada pela secretaria de Logistica e Tecnologia da informação- SLTI/MP, tem um capitulo voltado para a redação e publicação de conteúdo em mídias sociais. O Manual de Conduta em mídias Sociais elaborado pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária – EMPRAPA, contém orientações sobre as condutas, comportamentos e atitudes que a empresa espera de seus empregados, bolsistas, estagiários e prestadores de serviços no ambiente digital. Quanto à infraestrutura, nota-se que, é sobretudo humana, já que não há gastos relevantes referentes a estrutura física, já que atualmente pode-se abrir uma conta em uma rede social com o uso até de um celular com acesso a internet. No entanto, deve haver um cuidado com a relação governo/usuário, já que uma vez representante de um órgão aquela comunicação deve respeitar não só a impessoalidade como deve haver o gerenciamento de informações como atualização e interação. Assim deve-se considerar a capacitação daqueles que são responsáveis pela publicação das informações publicas. Uma vez que esses humanos que alimentam os sistemas são os porta-vozes do governo para com o cidadão. 6 METODOLOGIA Esta pesquisa foi feita com uma abordagem qualitativa e descritiva, utilizando o levantamento bibliográfico (livros e artigos) e documental (Leis e Decretos) de forma a dialogar entre si sobre a Lei de acesso a informação e utilização das redes sociais com a finalidade de praticar o principio da publicidade governamental. As fontes de informação pesquisadas foram divididas entre livros físicos, leis consultadas em sites do senado/câmara e sites governamentais que são especializados no assunto. A análise e exposição dos dados foram feitas através da organização por período cronológico e dividido em tópicos dependendo do assunto, as citações aqui expostas de forma direta e indireta evidenciam o posicionamento da autora, através das autoridades consultadas em relação ao assunto. 7 CONCLUSÃO Concluiu-se a priori, que as redes sociais tem sido sim, uma ferramenta importante e eficaz na divulgação de informações públicas, partindo do pressuposto que a população de modo geral está cada vez mais se utilizando desta ferramenta no qual se obtém e se expõe todo tipo de informação, seja informação pessoal, comercial ou de utilidade pública. O governo então tendo em vista o grande uso e o poder de disseminação das redes sociais, tem usado esta, como aliada na consolidação da divulgação de informações públicas, como prevê e obriga e lei de acesso à informação e seu princípio de publicidade, 245 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 disseminando informações importantes ao cidadão de forma criativa e eficaz, uma vez que a mão de obra é especializada, fornecendo informação de fácil entendimento, mesmo para os mais leigos em alguns assuntos. Assim sendo, a informação que antes somente era encontrada na própria sede física da instituição ou em seu sitio online, que muitas vezes, fazia com que o cidadão, por não conhecer o órgão e sua especialidade, poderia não ter conhecimento de informações que em um determinado momento poderia lhe ser totalmente útil, como por exemplo, a obrigatoriedade do uso de novo extintor de incêndio automobilístico a partir de determinado mês, porém, se este cidadão possuir rede social, possivelmente alguém de seu círculo de amizade ou ele próprio pode obter esta informação mais facilmente, seja através da própria página do órgão ou através de link da página oficial do órgão compartilhado nesta rede social. É verdade que pode haver problemas com falsas informações, por isso a necessidade de se utilizar a página oficial do órgão, no Brasil atualmente pode ser consultado uma lista com todos os órgãos públicos no site do governo federal, exatamente para inibir certas ações maliciosas. A internet por tanto, tem sido e continuará por muito tempo, uma importante fonte para dissolução de duvidas do cidadão, tornando-o mais participativo e bem informado das ações e informações pertinentes a este, uma vez que este tem, com o uso da rede social um canal direto com órgãos públicos que tem (provavelmente) pessoas capacitadas para fazer o feedback com o cidadão, servindo como um tipo de ouvidoria online. Conclui-se por fim que o cidadão está ajudando na disseminação de seus direitos em comum com os demais, em grande parte, motivado por essa transparência e publicidade que as redes sociais estimulam, e que o governo vem desenvolvendo normas para cuidar da qualidade das informações transmitidas pelas mídias e vem instigando o cidadão para que se torne informado e saiba como e onde encontrar informações pertinentes a ele e a sociedade de modo geral, tornando todos os cidadãos usuários de uma rede social, agentes informacionais. REFERÊNCIAS BATISTA, C. L. 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(Apresentação oral) BARRETO, Rayara Bastos 56 FURTADO, Maria Tatiane Liberato 57 TAVARES, Thailana Lima 58 SILVA, Philipe dos Santos Saldanha da 59 RESUMO O presente trabalho foi realizado para obtenção da nota final da disciplina de Informação e Sociedade do curso de Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará. Apresenta uma discussão acerca das formas de ativismo: o tradicional, feito nas ruas e geralmente em grupos, e o ciberativismo, promovido pelas novas tecnologias da comunicação e da informação tendo a Internet e as redes sociais como principal meio de interação entre os envolvidos. O trabalho foi dividido em dois momentos. No primeiro, foi realizada uma revisão bibliográfica, cuja finalidade foi explorar o conteúdo do tema em estudo, e no segundo, foi feita uma pesquisa quantitativa e qualitativa por meio de aplicação de questionário, com o objetivo de descobrir o que pensam os estudantes do Centro de Humanidades da UFC acerca do ativismo tradicional e em Rede. Como resultado, percebemos que a maioria não se considera um ciberativista, no entanto, grande parte tem participação ativa grupos de redes sociais que defendem alguma causa. Palavras-chave: Movimentos sociais. Ciberativismo. Ativismo em rede. ABSTRAC The present study was performed to obtain the final subject grade of Information and Society, in the Library Science course at Universidade Federal do Ceará. This study presents a discussion about the forms of activism: the traditional activism which are the streets protest usually made in groups and the cyber activism which is promoted through new technologies of communication and information with the Internet and social networks as their primary means of interaction among activists. The study was divided in two moments. In the first one, a literature review was conducted to explore the topic of study. In the second one, a quantitative and qualitative research was conducted in order to find out what the students of Centro de Humanidades of UFC think about the traditional activism and the cyber activism. The data collection instrument used was the questionnaire. The results of data analysis identified that most of those students don’t considered themselves as a cyber-activist. However, most of them actively participate in social networking groups that defend any minority cause. Keys: Streets protest. Cyber ativism. Networked activism. 56 Graduanda em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará. Graduanda em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará. 58 Graduanda em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará. 59 Graduando em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará. 57 248 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 1 INTRODUÇÃO A sociedade marcada pelo imediatismo tecnológico mudou alguns conceitos e formas de comunicação. Com o avanço da internet, o fazer ativista de ir as ruas tem mudado de rumo e se mostrado na rede com algo que pode ser tão, ou mais eficiente que as manifestações das ruas que mudaram nossa história. O termo Ativismo nunca esteve tão em evidência, não só em seu significado literal, como as diversas formas de mobilizações e expressões sociais que se auto intitulam ou são intituladas pelos meios de comunicação em massa de Ativismo, o que pluraliza e subjetiva a busca por um conceito que englobe todas as características desse movimento. Para Barros (2013), o ciberativismo se confunde ou se mescla com a evolução das formas de comunicação em massa e do valor que a informação tem na sociedade contemporânea. Com essa mudança na sociedade, isso nos leva a repensar o conceito de ativismo, visto que, antes de se perceber uma atuação expressiva de ativismo em rede, já havia outras manifestações que adotavam o termo - ativismo ambiental, ativismo de gênero, ativismo político - e que migraram para as redes, ou tiveram nas redes uma alternativa para se propagarem. Então, o que é ativismo e ciberativismo? Quais suas formas de atuação e que resultados apresentam? Partindo dessa problemática, na primeira parte desse trabalho, analisaram-se os conceitos de ativismo utilizado por alguns autores e investigou-se o posicionamento de alguns indivíduos a respeito dessa prática, tendo em vista que, citando Machado (2007), a complexidade e diversidade desse tema fazem com que ele seja muito difícil de ser abordado. Uma pesquisa foi feita no Centro de Humanidades da Universidade Federal do Ceará, com a aplicação do questionário, tendo como objetivo coletar informações a respeito da opinião dessa comunidade a respeito de Ativismo e Ciberativismo, a fim de analisar a coleta dos dados e observar a relevância desse tema no ambiente acadêmico - marcado, historicamente, por movimentos estudantis em prol a democracia - e que expressões significativas o ativismo, com suas novas formas de atuação, tem, hoje, nesse ambiente. 2 CONCEITUANDO ATIVISMO O termo ativismo tem sido utilizado em grandes proporções nas mídias tradicionais e digitais atualmente. O termo, geralmente, vem associado a alguns movimentos sociais em prol causas minoritárias ou em relação a um bem coletivo. Por conta dessa 249 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 associação simplória de movimento social e ativismo, tem-se, em senso comum, acreditado que o ativismo é, apenas, grandes atos populares visando revoluções. Não que a associação esteja errada, aliás, há autores que defendem que o ativismo é uma manifestação essencialmente política, e que o termo “ativismo político” pode ser redundante (BATISTA, 2012, p. 29). Porém, através dos estudos acerca do termo, pode-se perceber que a sua abrangência de significados e utilizações dificultam uma conceptualização objetiva do termo, de modo que não só as manifestações populares são pouco para o caracterizarem. Batista (2012) apresenta em seu trabalho a dificuldade de conceitualização do termo ativismo devido à possibilidade de subclassificações do termo - hacktivismo, ativismo ambiental, ativismo político, ativismo jurídico, etc.- e isso permitir a subjetividade de observações acerca de tal objeto. Isso porque cada subclassificação do termo adota uma causa, um objetivo, uma ideologia, e apresentam diferentes formas de atuação. Segundo o dicionário on-line de língua portuguesa Priberam (2013), ativismo é: “1 – atitude moral que insiste mais nas necessidades da vida e da ação que nos princípios teóricos; 2 – propaganda ativa do serviço de uma doutrina ou ideologia”. Observando a primeira variação de significância do termo, percebe-se que uma das propostas do ativismo é ir de encontro com estruturas sociais estabelecidas (princípios teóricos) que seja desvantajosa para alguém. Pode-se citar aqui, por exemplo, a luta feminista pela igualdade de gênero, numa estrutura social machista onde as mulheres, apesar de serem maiorias em termos de quantidade, sofrem opressões de uma minoria hegemônica que se sobrepõe em questão de status social e direitos, usando como justificativa a “desigualdade natural” entre homens e mulheres. Pode-se perceber que a luta feminista promove uma discussão acerca dos princípios teóricos vigentes na sociedade, no caso o machismo, a fim de revê-los frente às necessidades de uma maioria oprimida, e reestruturá-los, promovendo a ideologia de igualdade entre gêneros, anulando as desvantagens dentro do coletivo. Para que ocorra essa ação de ir de encontro às estruturas estabelecidas socialmente, é preciso que exista a ideologia ou doutrina que entre em divergência. Aqui, entra a interpretação da segunda variação do termo no dicionário. A defesa de uma ideologia que vá de encontro com os princípios teóricos que estruturam um comportamento social, que promova uma mudança significativa nessa estrutura. Pode-se citar, também, o modelo de ativismo judicial: 250 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O ativismo judicial ocorre quando o julgamento não se limita à risca ao que se expressa no texto legal. Sendo a lei uma construção artificial sobre uma realidade imaginada, a norma seria passível de se afastar, com o passar do tempo, da realidade que visa reger. O Ativismo Judicial seria [...] uma legitimação da autonomia do judiciário em expandir os limites da interpretação do texto legal (BATISTA, 2012, p. 24). Levando em consideração as produções literárias a respeito do termo, observa-se uma grande proximidade do ativismo com ideologias políticas de esquerda. O rompimento com a estrutura social estabelecida, a quebra do individualismo para a partilha com o coletivo aproxima o termo ativismo do termo política. Apesar de ambos os termos terem conceitos incertos, suas formas de atuação na sociedade são convergentes, na busca pelo bem comum no espaço público em sociedade. O autor reforça sua defesa quando caracteriza as ações ativistas como ações que demandam transgressão. “Por ‘transgressão’ se entende a prática de oposição a certa condição social, com vistas a sua transformação.” (BATISTA, 2012, p. 33). Entretanto, é válido lembrar que, como Batista (2012, p. 28) expõe: [...] um exemplo divergente, note-se a rede de webloggers em Cuba, opositora ao regime castrista. Mais conhecido pelo papel desempenhado pela ativista Yoani Sanchez no weblog Generación Y [...] o grupo estaria mais caracterizado como um ativismo alinhado à direita. Amparada por uma rede de apoio internacional, a ativista, desde 2007, publica críticas contundentes ao regime comunista cubano em seu weblog. A repercussão comenta a autora, foi tanta a ponto de possibilitar a publicação de diversos livros e de conquistar vários prêmios internacionais. Yoani define a sua prática como “exercício de covardia” que a possibilita “dizer o que lhe é impedido no seu acionar cívico”. Atualmente, a bitácora Generación Y está traduzida para mais de 15 línguas a partir do esforço de uma rede de solidariedade internacional. Observando o contexto citado junto às observações feitas na literatura, apesar da proximidade com ideologias de esquerda, é possível desassociar o ativismo desta, pois o que vai caracterizar o ativismo é o seu confronto ideológico com o modelo social estruturado e hegemônico, promovido por um coletivo insatisfeito ou em desvantagem com este, independente da vertente política. Com essas considerações, o conceito mais próximo de ativismo que será adotado nesse trabalho é a união coletiva com marcas ideológicas identitárias que buscam confrontar e contradizer princípios sociais, frente às divergências e desvantagens sociais promovidas por estes, com o propósito de mudanças de paradigmas para o bem comum em coletividade. 2.1 O ciberativismo (ativismo digital) O ciberativismo é uma subclasse do ativismo. O ciberativismo consiste, basicamente, no uso da tecnologia de rede (internet e equipamentos de informática) como meio para a manifestação do ativismo propriamente dito. 251 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A prática do ciberativismo é relativamente nova. Pode-se considerar que, um dos motivos para surgir adeptos do ciberativismo foi a revolução do processo de comunicação mundial. O avanço tecnológico, a mudança dos modelos políticos – a queda de ditaduras e a implementação do regime democrático – além das mudanças do modelo econômico, que deixou de lado o paradigma industrial que agregava valor na quantidade da produção, e passou a adotar valor informacional nos bens e serviços produzidos, são alguns fatores que colaboraram para a produção, compartilhamento e consumo de informação em massa (SERRA, 2007). Com a facilidade de acesso à informação, e consequentemente, a facilidade de atingir um grande número de consumidores desta, o baixo custo pelo acesso, pelo perfil bilateral que a internet assume, a web serviu como alternativa aos meios de comunicação tradicionais, pois a informação que circula em rede não é centralizada, além de permitir a dinamização com o consumidor daquela informação (que, agora, também passa a ser produtor de informação), permitindo o compartilhamento e disseminação da informação de maneira efetiva (DINIZ; CALEIRO, 2011). Sandor Vegh (2003, apud BARROS, 2013, p. 16) conceitua ciberativismo por “um movimento politicamente motivado que ocorre na internet”. Para o autor, o ciberativismo ocorre de três maneiras: em primeiro, a conscientização e promoção de ideologias, tornando públicas informações relevantes de determinada causa. Geralmente através de comunidades virtuais, fóruns, comunidades, etc.; em segundo, a organização e mobilização: [...] os ativistas se organizam online para uma ação off-line, em determinado local e data. [...] podem organizar uma ação a ser realizada off-line, porém é mais eficiente se realizada online, como um abaixo-assinado ou contato com congressistas ou representantes políticos através de e-mail. (VEGH, 2003, apud BARROS, 2013, p. 17). Pode-se observar como exemplo, os movimentos sociais de Junho de 2013, no Brasil, onde milhares de pessoas foram às ruas em vários os lugares do país para protestar contra supostos gastos abusivos referentes à realização da Copa do Mundo. O movimento foi organizado, exclusivamente, pela internet, em especial pela rede social Facebook, a partir da insatisfação do aumento da tarifa do transporte público e pela falta de qualidade do mesmo, assim como os altos investimentos para a realização do evento mundial, em contra partida a decadência dos sistemas de necessidades básicas para a população – educação, saúde e segurança (BARROS, 2013). A terceira maneira de ocorrência, segundo Vegh (2003, apud BARROS, 2013, p. 17), é a de “ação e reação”, que a ação não pode ocorrer de forma off-line: os ciberativistas 252 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 promovem uma série de ataques online a servidores e websites como forma de resistência política. Nessa categoria se engloba outra subclassificação de ativismo: o hacktivismo. 3 O CIBERATIVISMO E SEUS DESAFIOS Apesar de a prática do ciberativismo ter exemplos fortes de eficácia, como as já citadas manifestações de Junho de 2013 no Brasil, e a Primavera Árabe de 2011, que teve como principais ferramentas para mobilização social as redes sociais Facebook, Twitter e Flickr (PUNTEL, 2013, p. 575), ainda é desafiante tornar concreto no mundo real as reivindicações disseminadas no mundo virtual60. Isto se dá, principalmente, pela perda de controle do compartilhamento de informações em rede, de forma que não se pode mensurar as dimensões atingidas por essas informações e de que forma elas podem ser alteradas a favor ou contra determinada ideologia. Como as redes sociais estão se tornando fortes ferramentas para a democratização da informação, no que tange o compartilhamento de informações, o acesso a estas e o direito à liberdade de expressão, elas se apresentam como meios facilitadores para a organização de movimentos ativistas. Contudo, o comportamento do usuário receptor (e também autor) das informações compartilhadas podem influenciar os objetivos do movimento: Dentre os maiores problemas da rede social, está sua exploração para práticas socialmente ou mesmo legalmente condenáveis na legislação de certos países, dentre eles o Brasil. A rede enfrenta problemas terríveis, como por exemplo, à criação de comunidades preconceituosas, pregando xenofobia, neonazismo, homofobia, racismo, tortura e violência contra os animais e apoiando o consumo e venda de drogas e pedofilia. Esse incitamento ou apologia ao crime é um ato ilegal e sujeita a penalidades (MATA, 2012, p. 52). É pertinente citar aqui, comportamentos homofóbicos dos usuários das redes sociais frente a movimentos LGBTS ou o relacionamento da situação política atual do Brasil com a Região Nordeste (a onda xenofóbica nas redes sociais no país no período pós-eleitoral de 2010 e 2014). Pessoas que utilizam a liberdade de compartilhamento de informações na rede para reforçar ideologias que ferem direitos constitucionais, geralmente utilizando-se do termo “liberdade de expressão” para justificar seus atos. Outro desafio do ciberativismo é o seu divisor de águas: ativismo x terrorismo. Já foi dito que se pode usar o ativismo não só para causas esquerdistas, mas também para defender estruturas sociais conservadoras, na iminência de uma desordem social. Contudo, “por terrorismo entendem-se as práticas políticas, individuais ou coletivas, balizadas pela 60 COMUNICAÇÃO Millenium. Da web para as ruas: ativismo digital muda paradigma dos movimentos sociais. Instituto Millenium. 05 fev 2013. Disponível em: < http://www.imil.org.br/blog/da-web-para-ruas-ativismodigital-muda-paradigma-dos-movimentos-sociais/> Acesso em: 08 de junho de 2015, às 23:11. 253 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 violência e geradoras de terror” (MAZUOLLI, 2008, apud BATISTA, 2012, p. 30). Pode-se sugerir a diferença entre as duas práticas políticas por suas ações: As práticas terroristas e as formas de ações coletivas políticas (não extremistas) encontraram um separador de águas pelo termo “ativismo”. O primeiro carrega a ideia de extremismo, radicalismo, crime, assassinato, enquanto que, cada vez mais, o ativismo passa a ideia de “protesto criativo”, “consciência social”, “solidariedade” (BATISTA, 2012, p. 31). Além da questão da disseminação da informação e as possíveis interpretações dessas, o ciberativismo também enfrenta outra questão: a identidade de quem consume a ideologia proposta. Esse é, talvez, um dos fatores que mais dificultam a migração das reivindicações virtuais para o espaço real. Observe a seguinte tirinha do cartunista Pedro Leite: Fonte: https://www.quadrinhosacidos.com.br Embora nem todas as situações acima reflitam uma forma de ciberativismo, elas representam alguns comportamentos comumente verificados nas redes sociais. Porém, não é porque apontou e tomou a iniciativa de publicar tal tirinha que de forma alguma seu autor está isento de também ser um possível “hipócrita online”, nem aqueles que compartilharam o conteúdo. Ao apontar a hipocrisia online das redes sociais pode-se dizer que o desenhista trouxe para si uma espécie de capa de proteção que o resguarda da crítica que ele mesmo faz aos outros. 254 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Se afirmar-se que a Internet e as comunidades virtuais especificamente dão maior liberdade de interação entre os usuários e não se constituem modelos fixos de identidade e participação contínua, um indivíduo pode sem nenhum problema fazer parte de um grupo online voltado para a preservação de locais antigos da cidade em que mora, e ao mesmo tempo estar inserido em outro grupo que tem como objetivo a ocupação de prédios abandonados, por exemplo, embora estas duas comunidades digitais não dialoguem entre si e não tenham a mesma ideologia. A liberdade do compartilhamento de informações e todas as outras facilidades e flexibilidades que as redes sociais e a internet em geral apresentam como ponto positivo para a articulação de movimentos ativistas digitais, também podem ser consideradas uma fragilidade deste, de modo que o torna abrangente demais e isso acarrete na falta de critérios para seu fortalecimento teórico e autenticidade, podendo-se tornar causas superficiais. 4 METODOLOGIA O tipo de pesquisa realizado foi a pesquisa exploratória, que geralmente usa levantamento bibliográfico e entrevistas não padronizadas para explorar um conteúdo. De acordo com GIL (2008, p. 27) pesquisas exploratórias, Tem como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e ideias, tendo em vista a formulação de problemas mais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores. [...] são desenvolvidas com o objetivo de proporcionar visão geral do tipo aproximativo, acerca de determinado fato. [...] constituem a primeira etapa de uma investigação mais ampla. Quando o tema escolhido é bastante genérico, tornam-se necessários seu esclarecimento e delimitação. O produto final deste processo passa a ser um problema mais esclarecido, passível de investigação mediante procedimentos mais sistematizados. Foi realizada a revisão de literatura, mas não foram realizadas entrevistas e sim, questionários misto com perguntas abertas e fechadas. A pesquisa teve uma abordagem qualitativa e quantitativa em sua aplicação. Como método de coleta de dados foi escolhido o questionário, que “tem como proposito obter informações sobre conhecimentos, crenças, sentimentos, valores, interesses etc. [...] Consiste basicamente em traduzir objetivos da pesquisa em questões específicas”. (GIL, 2008, p. 121). O questionário ficou disponível na internet durante três dias e foi divulgado nos grupos online na rede social Facebook, apenas para aquelas comunidades que fazem parte do Centro de Humanidades da Universidade Federal do Ceará. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 255 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Com base na pesquisa online divulgada em alguns grupos no Facebook e pelo levantamento dos dados acerca do "ciberativismo", 59% das pessoas que responderam ao questionário não se consideraram "ciberativistas", no conceito adotado no presente trabalho. Porém, 86% afirmaram que as causas defendidas no ativismo em rede têm reflexos no mundo “real”. Observou-se também que 59% dos indagados consideraram o ciberativismo tão eficaz quanto o ativismo político tradicional, contra 36% que pensam o contrário. Quanto à participação em grupos, fóruns ou comunidades nas redes sociais voltados para algum tipo de ativismo, 55% responderam que participam, e 36% que não. Quanto à pergunta sobre questões como a homofobia, machismo ser considerado ativismo, a maioria das pessoas responderam que sim, embora não entendam isso como um ativismo que visa o bem comum entre as pessoas. Como disse um dos respondentes: “Sim, da mesma forma que as pessoas tentam mudar o mundo para melhor fazendo, além dos movimentos em rua, o ciberativismo, outras pessoas usam ele para disseminar preconceitos, juntando assim, outras pessoas que concordam com seus atos sem ter pensamento crítico sobre aquilo que estão. Toda arma pode ser usada para bem, quanto para o mal.”. Pelo conteúdo analisado pôde-se verificar, portanto, que muitos apoiam ou até participam de comunidades em redes sociais voltadas para a discussão das questões de gênero, de combate ao racismo, à homofobia, de preservação do meio-ambiente, conscientização política etc. Mas não se reconhecem por ciberativista por considerarem o que fazem em rede são apenas reflexos de comportamentos individuais, e que é insignificante na frente daquilo que se constitui, de fato, os movimentos ativistas. REFERÊNCIAS ATIVISMO. In: DICIONÁRIO da língua portuguesa. [Portugal]: Priberam, c2013. Disponível em <http://www.priberam.pt/DLPO/ativismo>. Acesso em 18 de novembro de 2014, às 15:09. BARROS, Laura Santos de. As manifestações de junho no Brasil e o hacktivismo: uma análise das referências ao anonymous nos portais folha.com e G1. Porto Alegre: UFRS, 2013. Disponível em: <https://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/88898/000912694.pdf?sequence=>.Aces so em 17 de Novembro de 2014, às 17:53. 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Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 GT5 PERFIL PROFISSIONAL: Cenário e perspectivas do profissional da informação 258 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 DESAFIOS E PERSPECTIVAS DO BIBLIOTECÁRIO LUDOVICENSE COMO PROFESSOR NA DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR GT 5: modalidade oral LAGO, Iomar Lima61 MAIA, Erika de Jesus Coutinho62 OLIVEIRA, Adriana Gomes de63 RESUMO Desafios e perspectivas do profissional bibliotecário como professor na docência do ensino superior. A pesquisa teve como objetivo identificar as principais dificuldades didáticas metodológicas que o bibliotecário encontra como professor no ensino superior. A pesquisa de caráter analítico descritiva foi necessária por permitir analisar os desafios metodológicos do bibliotecário como professor. Os dados foram coletados através de aplicação de um questionário com perguntas abertas e fechadas para os profissionais bibliotecários docentes no ensino superior. Os resultados da pesquisa revelaram que um dos principais desafios do bibliotecário professor é o domínio da didática, bem como despertar no aluno o interesse pelos conhecimentos que são disseminados a partir das disciplinas ministradas. Finalizando, apresentam-se algumas recomendações para uma melhor atuação desse profissional na docência do ensino superior. Palavras-chave: Didática. Docência no Ensino Superior. Bibliotecário no Ensino Superior. ABSTRACT Challenges and prospects of professional librarian as teacher in teaching in higher education. The objective of this research was to identify the main difficulties didactic methodology that the librarian is as a teacher in higher education. The search of character descriptive analytical was required to enable it to assess the methodological challenges of the librarian as teacher. The data were collected through a questionnaire with open and closed questions for librarians teachers in higher education. The results of the survey revealed that one of the main challenges of the librarian professor is the field of didactics, as well as awakening in student interest in the knowledge that they are dispensed in the disciplines. Finally, it presents some recommendations for a better performance of this professional in teaching in higher education. Keywords: Didactically. Teaching Higher Education. Librarian Higher Education. Bibliotecário Documentalista do Instituto Federal de Ciência e Tecnologia do Tocantins – IFTO. Especialista em Docência do Ensino Superior. Email: [email protected] 62 Bibliotecária escolar do Colégio Adventista em São Luis MA. Especialista em Docência do Ensino Superior. Email: [email protected] 63 Bibliotecária. Professora da disciplina Metodologia da Pesquisa da Escola de Enfermagem Anna Nery em São Luis - MA. Especialista em Docência do Ensino Superior. Email: [email protected] 61 259 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 1 INTRODUÇÃO Para Gil (2013, p. 13) “a preparação do professor universitário ainda é bastante precária. Seguramente, a maioria dos professores brasileiros que lecionam em estabelecimentos de ensino superior não passou por qualquer processo de formação pedagógica”. Para o referido autor, esta realidade vem mudando, já que, é cada vez maior a quantidade de professores universitários que reconhecem a necessidades de conhecimentos pedagógicos para o desenvolvimento de seu trabalho em sala de aula. Nesse sentido, Benedito (1995 apud PIMENTA; ANASTASIOU, 2002, p. 36) colabora ao considerar que “[...] o professor universitário aprende a sê-lo mediante um processo de socialização em parte intuitiva, autodidata, ou [...] seguindo a rotina dos outros. Isso se explica devido à inexistência de uma formação específica como professor”. Nesse sentido, Pimenta e Anastasiou (2002) colaboram ao considerar que os professores universitários geralmente ingressam nas salas de aulas, recebem ementas prontas, planejam individualmente e solidariamente, assumindo a responsabilidade pela docência. Não recebem nenhuma orientação sobre processos de planejamento, metodológicos ou avaliatórios e nem como se dá um processo de ensino e aprendizagem. Gil (2009, p. 1), tecendo comentários sobre a problemática das deficiências na formação e qualificação do professor universitário, afirma: O professor universitário, como o de qualquer outro nível, necessita não apenas de sólidos conhecimentos na área em que pretende lecionar, mas também de habilidades pedagógicas suficientes para tornar o aprendizado mais eficaz. Além disso, o professor universitário precisa ter uma visão de mundo, de ser humano, de ciência e de educação compatível com as características de sua função. Assim, o papel de um professor na docência do ensino superior deve ir muito além de apenas transmitir conhecimentos pré-definidos aos seus alunos, numa relação unilateral e autoritária. Este profissional deve ter consciência da importância de seu papel na formação de profissionais críticos e cientes de seu papel ativo na sociedade. A partir desse quadro de referência teórica, o problema de pesquisa, que justifica e norteia a investigação cientifica do objeto a ser analisado, consiste na elaboração de alguns questionamentos: quais as principais dificuldades didáticas metodológicas que o profissional bibliotecário encontra no desenvolvimento de seu trabalho como professor na docência do ensino superior? E de que forma os professores bibliotecários se relacionam com os demais profissionais da Instituição de Ensino Superior na qual mantêm vínculos. Assim, e em função dos fatores contextuais acima mencionados, o objetivo da presente pesquisa centra-se em identificar as perspectivas e desafios didáticos metodológicos do bibliotecário professor na docência do ensino superior. 260 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O passo inicial para a definição da trajetória metodológica deste artigo aconteceu, necessariamente, por uma abordagem de uma pesquisa bibliográfica nos campos teóricos da Educação, sobretudo, em relação à Didática e à Docência no Ensino Superior, e ainda, nos referencias teóricos da Biblioteconomia, utilizando-se de fontes de informação na Internet, livros e artigos científicos da área, com vista a fundamentar os argumentos expostos no presente artigo. O universo da pesquisa foi composto pela totalidade dos profissionais bibliotecários com registro ativo no Conselho Regional de Biblioteconomia do Maranhão – 13ª Região (CRB – 13), no período de 2007 a 2012. Este universo correspondeu a 100 profissionais registrados no CRB – 13. O quadro amostral correspondeu, de acordo com critérios estatísticos, utilizando-se o método de amostragem aleatória, a 25% desse universo. A coleta de dados, a princípio, consistiu na realização da pesquisa documental, tendo como fonte as fichas cadastrais; base de dados e sistemas automatizados dos bibliotecários cadastrados, com a finalidade de levantar dados como nome, telefone, e-mail, experiência na área de docência do ensino superior. Utilizou-se o seguinte instrumento de levantamento de dados: questionário, estruturado de forma objetiva, contento 10 questões com perguntas abertas e fechadas de múltipla escolha. 2 A DIDÁTICA NO ENSINO SUPERIOR Segundo Gil (2009, p. 2) “o termo didática deriva do grego didaktiké, que tem o significado de arte de ensinar. Seu uso difundiu-se com o aparecimento da bora de Jan Amos Comenius em 1592-1670”. Modernamente, o conceito de didática evoluiu e hoje existe um conjunto de definições diferentes de didática, contudo, todos convergem para o sentido de que a didática é ciência, técnica ou arte de ensinar. Para Masseto (1997 apud GIL, 2009, p. 2) “didática é estudo do processo de ensino aprendizagem em sala de aula e de seus resultados”. Ou seja, segundo a concepção deste autor, a didática não se ocupa apenas em ensinar, mas num processo muito amplo que é estabelecido a partir da relação professor aluno e de como os resultados são obtidos em sala de aula. No final do século XIX, a Didática encontrou seus fundamentos na Filosofia. Isso é constado não somente pelos trabalhos de Comenius, mas, sobretudo, nos estudos de Jean Jacques Rousseau, Johann Heinrich Pestalozzi, Johann Friedrich Herbart e de outros pedagogos daquele referido período histórico (GIL, 2009). 261 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Em meados do final do século XIX, a Didática passou a buscar fundamentos também nas ciências, em especial na Biologia e na Psicologia, em função do desenvolvimento de pesquisas de cunho experimental. Segundo Gil (2009), no final do século XX surgiram numerosos movimentos de reforma escolar tanto no continente Europeu, quanto na América. Estes movimentos reconheciam as limitações da didática tradicional e aspiravam a uma educação que levasse mais em conta as questões psicológicas envolvidas no processo de ensino. Nesse contexto histórico, surge o movimento Escola Nova com uma maneira de tratar os problemas da educação, no sentido de fornecer um arcabouço teórico metodológico que tendesse a reverter as tradicionais formas de ensino. Segundo Coutinho (2013), no Brasil, as ideias da Escola Nova foram introduzidas em 1882 por Rui Barbosa. Contudo, já no século XX, outros educadores se destacaram, em especial, após a divulgação do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, de 1932. Dentre eles, pode-se destacar: Anísio Teixeira, Lourenço Filho e Fernando de Azevedo, considerados grandes humanistas e expoentes da história pedagógica brasileira. 3 DOCÊNCIA NO ENSINO SUPERIOR A Universidade é voltada para o ensino, pesquisa e extensão, ressaltando que os futuros profissionais que estão sendo preparados para o mercado de trabalho também têm a experiência docente como opção de carreira. No caso da formação do profissional de Biblioteconomia, é necessário fazer uma análise da trajetória da produção e transmissão de conhecimento no nosso país que levou à gênesis da profissão. Essa análise busca aporte em questões de caráter histórico e político de construção da formação bibliotecária, que segundo Castro (2007, p. 98), é fruto de uma formação tecnicista e pouco humanística, pautadas nas constantes reformas curriculares ao longo da academia. Nessa perspectiva, Cavalcante (2007, p. 95) afirma: [...] baseada na prática sem maiores compromissos com a teoria, com a política e com a cidadania, voltada para o acervo e processamento técnico. Eram, pois, os bibliotecários considerados ‘os servos dos servos da ciência,’ [...] era seu mister propiciar aos pesquisadores o acesso ao documento, feitos meros intermediários, sujeitos praticamente inexistentes, sendo marca da profissão o seu caráter servil. Na concepção de Diniz (et al., 2007), [...] é preciso que o bibliotecário vença o marasmo que ronda as tarefas meramente tecnicista e assuma um perfil inovador, com novas competências e qualificações técnicas, além de atributos de caráter pessoal e interpessoal; conhecimentos de informática e de idiomas estrangeiros; conhecimentos da teoria da informação e etc. 262 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O advento da sociedade da informação veio modificar esse quadro, caracterizado por um processo contínuo de renovação de conhecimento. Chegou o momento em que os profissionais tiveram que sair dos limites da sala de aula e das bibliotecas para assumir seu papel político no contexto dinâmico da sociedade. Após conflitos de concepções voltadas para uma dicotomia entre teoria e prática, ainda presentes em algumas situações, o Bibliotecário passou a atuar em outras frentes, fazendo ciência e produzindo conhecimento. A partir disso, podemos visualizar ampliação em seus campos de atuação, sabe-se que há os ditos “ambientes tradicionais” de atuação do bibliotecário, mas, nos últimos anos, um novo campo tem crescido de forma promissora. Na docência do ensino superior é fundamental que o docente priorize o seu trabalho na busca por diferentes estratégias metodológicas a fim de tornar as aulas mais atrativas e, consequentemente, proporcionar aos alunos uma formação significativa, consistente e, sobretudo, coerente com os objetivos propostos para cada área de atuação. É importante destacar que, dependendo da instituição a qual o professor está vinculado, um tipo específico de produção será exigido dele, como a própria docência, uma atividade de pesquisa ou extensão. Porém a atividade de docência será a mais comum em todas as instituições. Possolli (2009 apud COELHO; SILVEIRA 2013, p. 23) complementa que “a relação teoria-prática constitui-se como pano de fundo dos recursos entendidos como estratégia de ensino-aprendizagem em uma perspectiva educacional significativa e articulada com o mundo do trabalho”. Dessa forma, infere-se que o desenho pedagógico é de grande relevância na escolha de abordagens metodológicas para o ensino de qualquer disciplina, pois pressupõe que o discente interage de maneira direta com os objetivos investigados, o que pode ampliar o acesso ao tipo de aprendizagem defendida. No cenário da educação superior, o processo de ensino aprendizagem possui especial relevância, devendo configurar-se como uma relação dinâmica e dialógica, já que a universidade tem papel de destaque na formação do profissional requerido pela sociedade contemporânea. Nesse sentido, a prática metodológica também deve ser repensada e aperfeiçoada, de modo que possa acompanhar as transformações ocorridas no cenário da sociedade, de modo geral; e no campo da educação, de modo específico, visto que os novos paradigmas educacionais apontam para a necessidade de um rompimento com posturas tradicionais de 263 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 ensino, rumo a uma compreensão ampla do processo educativo que envolve aspectos cognitivos, sociais, culturais, econômicos e políticos. Ressalta-se a importância das trajetórias construídas pelo professor para mediar os conhecimentos entre os alunos, levando em conta abordagens diversificadas, com aspectos requeridos pela dinamicidade das demandas sociais, acadêmicas e dos sujeitos envolvidos no processo de construção dos conhecimentos. Nessa perspectiva, constata-se que a formação de professores vem sendo percebida como uma questão fulcral nas redes, nos sistemas, nas licenciaturas, nas universidades e também nas iniciativas individuais, que apontam uma nova vertente de preocupação que é a formação do professor no Bacharelado. Com uma formação continuada, geralmente desenvolvida em modelos de cursos intensivos em breves períodos que se anunciam como preparação profissional, ou em cursos de Lato Sensu ou ainda Stricto Sensu, os professores adentram o magistério, em muitos casos, sem a formação específica, como acontece com os professores bacharelados que somam um grande número de profissionais liberais lecionando. A preocupação com a formação do professor para o ensino universitário, em muitos casos, se dá com relação à questão da docência, com grande foco nas licenciaturas nos cursos que formam professores, pela necessidade de que sejam implementadas mais pesquisas de forma a investigar, precipuamente, as problemáticas voltadas para a construção da identidade dos futuros professores. A preocupação maior se volta para a formação do professor bacharel que se encontra atuando na docência nas universidades, apresentando grandes dificuldades profissionais, resultando na má qualidade do trabalho que desempenha. Formados em cursos que não contemplam em sua matriz curricular os conteúdos e metodologias voltados às atividades de ensinar e aprender, os bacharéis professores não conta com a formação mínima para a docência, além de serem ausentes as políticas de formação continuada para sua categoria. Resulta de tais condições de formação deficitária para a profissão docente, uma prática que muito pouco contribui para a formação profissional dos alunos que lhes são destinados. Conhecer e dominar os conteúdos nesse cenário se sobrepõe às formas e metodologias de desenvolvê-lo nas atividades de docência. A preparação do profissional da educação para sua inserção no ensino, especificamente no ensino superior, consiste não apenas de planejar e sim em dotá-lo das 264 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 condições de gerir o conhecimento e o ensino, o que significa formar uma concepção reflexiva da formação a que se oportuniza a um determinado grupo. O mais agravante é quando o professor que assume o compromisso se ensinar nesse contexto tem sua formação de bacharel, nos moldes da educação brasileira que visa formar cidadãos voltados para a formação técnica e desenvolvimento dos setores econômicos e sociais da sociedade, sem compromisso com uma formação crítica e flexiva (ANASTASIOU; CAVALLET, 2003, p. 270). Essas dificuldades passam a ser geridas numa perspectiva de superação, inicialmente pela necessidade de superar as deficiências no ensino, posteriormente pela obrigatoriedade social de se desenvolver enquanto profissional. Essa demanda passa a ser mais problematizadora quando este profissional está em sala de aula, sendo este o primeiro desafio para o profissional bacharel, que de um momento para outro, se vê num contexto escolar, na perspectiva de formar outros indivíduos na sua profissão. Assim sendo, surge neste contexto, um fenômeno educacional que tem como característica a experiência vivida no processo de ensino, tendo como base o desenvolvimento profissional da docência, ou seja, o professor bacharel aprende a ensinar quando o mesmo ingressa em sala de aula na função de professor. 4 ANÁLISE DOS DESAFIOS E PERSPECTIVAS DO BIBLIOTECÁRIO COMO DOCENTE NO ENSINO SUPERIOR Com relação ao tempo em que desenvolvem as atividades como docentes, os resultados da pesquisa revelaram que 33,33 % dos profissionais entrevistados possuem 1 ou 3 anos de experiência. Por outro lado, 16,66% desses possuem 4 ou 12 anos de experiência em sala de aula (ver gráfico 1). Gráfico 1 – Percentual dos bibliotecários quanto ao tempo em que desenvolvem suas atividades como docentes. Fonte: Autores da pesquisa, 2013. O fato de a maior parte dos bibliotecários professores ter ainda pouco tempo de experiência em sala de aula é reflexo do crescimento recente dos vários cursos de graduação, 265 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 especialização e pós-graduação, bem como do número cada vez maior de um mercado de faculdades, universidades e cursos técnicos especializados na ilha de São Luís. Isso se dá, sobretudo, pela valorização do conhecimento, bem como qualificação dos profissionais para o mercado de trabalho. Na maior parte destas instituições, o bibliotecário tem a preferência para ministrar as aulas de metodologia da pesquisa, bem como o ensino relacionado à normalização de trabalhos acadêmicos. Quando questionados se desenvolvem ou não outras atividades profissionais, além de ministrar aula na docência do ensino superior, todos responderam positivamente, ou seja, além de lecionar, o exercício das atividades relacionadas aos fazeres biblioteconômicos constitui-se na principal atividade de trabalho dos bibliotecários ludovicense. Este resultado tem relação direta com o próprio bibliotecário que está vinculado na instituição de ensino superior, no qual oferece seus serviços na direção da biblioteca em que atua, onde, por iniciativa própria ou por uma oportunidade oferecida, o bibliotecário procura aumentar sua fonte de renda, oferecendo seus serviços na própria instituição onde trabalha como bibliotecário. Ao serem questionados sobre as dificuldades de conciliar as atividades docentes com as demais atividades profissionais que desenvolvem, constataram-se os seguintes resultados: 33,33% dos bibliotecários afirmaram que têm dificuldades. Contudo, a grande maioria, ou seja, 66,66% não tem nenhuma dificuldade em conciliar as suas práticas profissionais como docente com as demais atividades profissionais. (ver gráfico 2). Este resultado parece ser contraditório, já que a maior parte dos profissionais entrevistados exerce, concomitantemente, a profissão de professor com a de bibliotecário. Contudo, ressalta-se que quando estão em sala de aula, esta atividade é uma atividade secundária e que ocupa pouco espaço de tempo do profissional. Além do que, uma atividade que a maioria dos bibliotecários professores executa de uma maneira prazerosa. Assim, o resultado do trabalho é menos exaustivo. Gráfico 2 – Percentual dos bibliotecários quanto às dificuldades de conciliar as atividades de docentes com as demais atividades profissionais. Fonte: Autores da pesquisa, 2013. 266 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 No que se referem aos motivos que foram determinantes para ingressarem na carreira de professor universitário, os resultados da pesquisa revelaram que a grande maioria, ou seja, 66,66% dos profissionais entrevistados ingressaram por ter sido uma oportunidade oferecida a eles. Apenas 16,66% destes profissionais afirmaram que ingressaram na docência do ensino superior por ter sido uma necessidade financeira ou vocação pela profissão de professor (ver gráfico 3). Este resultado tem relação direta com o crescimento de um grande número de curso de graduação nas várias faculdades e cursos oferecidos nas universidades, tanto particulares como nas públicas (estadual e federal), o que, consequentemente, tem levado muitos bibliotecários a procurar cursos especializados em docência do ensino superior, como forma de estar mais qualificado para o mercado de trabalho. Gráfico 3 – Principais motivos que levaram os bibliotecários a ingressarem na carreira de professor universitário. Fonte: Autores da pesquisa, 2013. Ao ser questionada sobre os principais desafios que o profissional bibliotecário enfrenta no desenvolvimento de seu trabalho em sala, uma parte significativa dos profissionais afirmaram que os principais desafios é convencer o aluno da importância da disciplina que é ministrada para a sua formação acadêmica e profissional. Conforme se destaca nas palavras da bibliotecária 1. (2013) “na minha opinião, despertar no aluno o gosto pela disciplina MTP, sem dúvida, é um grande desafio no meu trabalho como professora. Eles [os alunos] não têm interesse pela disciplina, já que ela é bastante técnica e cheia de regras e normas”. Todavia, o bibliotecário 2 (2013) ressalta que “aprender a didática é um grande desafio para o profissional bibliotecário na sala de aula. Temos que aprender com o tempo, buscando experiência. Mas no início pesa muito não ter as ferramentas pedagógicas necessárias que auxiliam numa boa didática.” Nesse sentido, os principais desafios do bibliotecário professor na sala de aula são as limitações didáticas, bem como o despertar pela disciplina que é ministrada. Todavia, se este profissional buscar conhecimentos através de cursos especializados, revistas ou livros da área sobre como funciona o processo de ensino e 267 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 aprendizagem e a relação entre o professor e o aluno na sala de aula, este desafio será superado e, consequentemente, haverá êxito no seu trabalho como professor. Sobre a importância que a formação acadêmica do profissional bibliotecário teve durante o curso de graduação para o desenvolvimento do trabalho didático em sala de aula, obtiveram-se os seguintes resultados: 50% dos profissionais entrevistados afirmaram positivamente. Ou seja, os conhecimentos e as informações obtidas durante o curso na graduação teve grande importância para o trabalho desenvolvido em sala de aula. Nas palavras do bibliotecário 2, “as aulas de metodologia, projeto e normalização nos tornam profissionais técnicos e seguros, visto que, ao meu ver, temos mais facilidades de dominar matérias desse nível” . Segundo a bibliotecária 3, a formação na graduação foi suficientes para o desenvolvimento do meu trabalho porque possibilitou a ela um melhor entendimento dos assuntos e uma melhor forma de passá-los. Por outro lado, 50% dos bibliotecários entrevistados afirmaram que a sua formação na graduação não foi suficiente para o desenvolvimento de seu trabalho em sala de aula, uma vez que: “enquanto profissional, há uma necessidade de aprimoramento contínuo. A teoria é bastante diferente da prática” (BIBLIOTECÁRIA 4, 2013). De fato, a formação dos professores na docência do ensino superior é uma das principais críticas apontadas pelos autores na literatura da área, já que grande parte dos profissionais que atuam na docência do ensino superior são profissionais técnicos com formação em bacharelado. Sabe-se que ninguém nasce professor e que muito menos se aprende a ser sem uma preparação adequada. Nesse sentido, Santos Neto (2013, p. 3) faz uma ressalva: As falhas na formação do professor universitário ficam bem óbvias nos levantamentos que se realizam com o corpo discente ao longo do curso. Assim, é comum verificar que a maioria dos julgamentos negativos direcionados aos professores concerne-se a falta de didática. Nesse aspecto, é que muitos educadores universitários vem realizando cursos de Didática do Ensino Superior, que são oferecidos em nível de pós-graduação com uma frequência cada vez maior por instituições de Ensino Superior. Contudo, na prática e com os conhecimentos que podem ser construídos numa relação recíproca entre o professor e o aluno, o bibliotecário constrói a sua identidade profissional e adquire experiências que consequentemente serão fundamentais para o seu êxito com os alunos e como docente no ensino superior. Gráfico 4 – Opinião dos profissionais bibliotecários quanto à importância de sua formação acadêmica no desenvolvimento de seu trabalho em sala de aula. 268 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Fonte: Autores da pesquisa, 2013. Sobre este questionamento e segundo a concepção da bibliotecária 5 (2013): a minha formação na graduação não foi suficiente para o desenvolvimento do meu trabalho em sala porque existe uma carência de conhecimentos relacionados às práticas pedagógicas, conceito de didática, entendimento da importância do processo de ensino e aprendizagem. É notório que a arte de ensinar não significa apenas transmitir o conhecimento. Este processo deve ser contínuo e recíproco entre o professor e o aluno, numa relação de construção do conhecimento. Assim, não basta apenas dizer-se professor, o bibliotecário enquanto professor necessita de capacidades para ensinar, ou melhor, fazer com que o aluno aprenda e perceba que os conhecimentos de uma determinada disciplina acadêmica é fundamental para a sua qualificação profissional. Todavia, para ensinar, não basta saber pensar bem, é preciso ter um vasto conjunto de saberes e competências, que pode ser designado por conhecimento profissional ou competências individuais do professor. Na visão de Ponte (1999 apud FARINELLI; VASCONCELOS, 2013, p. 23), é necessário aos professores um conjunto básico de conhecimentos e capacidades profissionais orientados para a sua prática letiva para que eles exerçam seu papel com competência e qualidade, mas além da formação adequada, ainda é imprescindível a valorização da didática. Ponte (1999 apud FARINELLI; VASCONCELOS, 2013, p. 23) discute sobre a necessidade que o professor tem de conhecer bem os conteúdos que ensina. Segundo ele, o professor não tem que conhecer estes conteúdos do mesmo modo que o cientista, mas tem que conhecer maneiras de torná-los compreensíveis e relevantes para os alunos. Tendo em vista a formação do bibliotecário como bacharelado, questionou-se sobre a relação deste profissional com os demais professores, parceiros de trabalho. Nesse sentido, a bibliotecária 6 (2013) respondeu da seguinte forma: “eu tenho uma relação muito boa, uma relação de troca de experiências, interdisciplinaridade. Há uma correlação entre as diversas área do conhecimento.” Nesse mesmo, sentido a bibliotecária 7 (2003) responde: “tenho uma excelente relação. Não vejo diferença quanto aos professores que têm 269 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 licenciatura, salvo nos casos de organização de aulas, planilhas, planejamentos. Eles são mais experientes nisso. Mas na sala de aula, a química é a mesma. Quando questionados sobre quais os principais recursos didáticos que utilizam para ministrar as aulas, as respostas convergiram para um mesmo sentido, ou seja, os principais recursos são técnicas de leitura dinâmica e memorização; dinâmicas de grupo; seminários; Datashow; exercícios práticos no quadro com o aluno. Na opinião dos profissionais entrevistados, a preparação do professor bibliotecário deve levar em conta, no mínimo, um “[...] curso de pós-graduação em docência do ensino superior, seguido de um estágio curricular (BIBLIOTECÁRIO 8, 2013). Em se tratando do conhecimento, o bibliotecário 7 respondeu da seguinte forma: “é preciso saber passar a informação aos discentes. Portanto, a didática é importante, mas seria necessário sempre buscar inovações, do tipo: incentivar pesquisa em todos os âmbitos, mas, para isso, o professor deve ser um exímio conhecedor de ferramentas de pesquisa”. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente pesquisa não pretendeu esgotar todos os questionamentos sobre o estudo em questão, mas é apenas um pequeno passo para futuras investigações científicas interessadas em analisar os principais desafios didáticos e metodológicos, bem como as perspectivas mercadológicas do bibliotecário como professor na docência do ensino superior. Tendo em vista os objetivos estabelecidos no presente estudo e, com base na revisão de literatura realizada e na pesquisa de campo desenvolvida, infere-se que um dos principais desafios do bibliotecário professor na docência do ensino superior é o domínio da didática, bem como o despertar no aluno para os conhecimentos que são ministrados em sala de aula. A formação do bibliotecário professor durante o curso de graduação também pode ser apontado como um aspecto negativo para o desenvolvimento de seu trabalho em sala de aula. Porém, parte significativa dos profissionais entrevistados afirmou que a sua formação acadêmica foi importante para o seu trabalho em sala de aula, destacando-se os conhecimentos assimilados nas disciplinas de metodologia e de projeto de pesquisa. É importante que o bibliotecário como professor docente no ensino superior busque seus conhecimentos pedagógicos, didáticos e metodológicos necessários ao bom desempenho de seu trabalho em sala de aula. Tais conhecimentos não podem ser encontrados apenas em sala de aula, durante a sua formação acadêmica, mas por inciativa própria e através 270 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 de livros, artigos científicos ou até mesmo por meios de seus colegas professores parceiros de trabalho nos cursos onde ministram suas aulas. REFERÊNCIAS CASTRO, Cesar Augusto. Conhecimento, pesquisa e práticas sociais em Ciência da Informação. São Luis: EDUFMA, 2007. p. 98. CAVALCANTE, Lídia Eugênia. História e política: reflexões para pensar e fundamentação teórica em Biblioteconomia e Ciência da Informação. In: CASTRO, Cesar Augusto. (Org.). Conhecimento, pesquisa e práticas sociais em Ciência da Informação. São Luis: EDUFMA, 2007. p. 49. 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Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 SANTOS NETO, Julio Moreira dos. A eficácia da didática do ensino superior. Instituto Brasileiro de Educação Virtual. Disponível em: <http://pt.scribd.com/doc/38649911/Didaticado-Ensino-Superior>. Acesso em: 05 set. 2013. TARAPANOFF, Kira. O profissional da informação e a sociedade do conhecimento: desafios e oportunidades. Transinformação, Campinas, v. 11, n. 1. p. 21-38, jan/abr. 2005. 272 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 OS CURRÍCULOS DOS CURSOS DE BIBLIOTECONOMIA: um enfoque no âmbito tecnológico, administrativo e social GT5: modalidade oral LAMAS, Thaís de Almeida64 NEVES, Raquel Dinelis65 OLIVEIRA, Kevin Silveira66 PAULA, Jenifer Geruza Moraes de67 SOUZA, Jéssica Oliveira de68 RESUMO O presente trabalho apresenta dois currículos de cursos de Biblioteconomia do Rio de Janeiro com o objetivo de os analisar demonstrando a evolução e o desenvolvimento da formação do profissional bibliotecário ao longo do tempo, apresentando críticas quanto ao atual perfil do bibliotecário dentro das necessidades do mercado, observando a partir de três focos: tecnológico, administrativo e social. O primeiro currículo analisado é aquele do curso de Biblioteconomia da Biblioteca Nacional de 1911, primeiro curso de Biblioteconomia do Brasil. E o segundo currículo pertence ao curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), de 2005, o mais recente no estado do Rio de Janeiro. Para este trabalho foram realizadas pesquisas de levantamento bibliográfico de artigos que dissertam sobre temas afins, além da utilização dos próprios currículos dos cursos. Palavras-chave: Biblioteconomia. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Biblioteca Nacional. ABSTRACT The following project presents two programs of the Library Science courses from Rio de Janeiro with the goal in this project is to analyze the programs, showing the evolution and development of the librarian professional through time, presenting critics about the current librarian profile along with the necessities of the market, analyzing from three focuses: technological, administrative and social. Being the first program the antique course of the National Library in 1911, which was the first Library Science course in Brazil. And the second program belongs to the Library Science and Information Unit Management course of UFRJ from 2005, the most recent in the Rio de Janeiro state. For this project researches were accomplished based in articles that discourse about similar themes, besides of the utilization of the courses’ programs themselves. 64 Discente do Curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidade de Informação (CBG) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). E-mail: [email protected]. 65 Discente do CBG pela UFRJ. E-mail: [email protected]. 66 Discente do CBG pela UFRJ. E-mail: [email protected]. 67 Discente do CBG pela UFRJ. E-mail: [email protected]. 68 Discente do CBG pela UFRJ. E-mail: [email protected]. 273 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Keywords: Library Science. Federal University of Rio de Janeiro. National Library. 1 INTRODUÇÃO A sociedade está em constante modificação, seja pelo desenvolvimento das tecnologias de informação e comunicação ou por acontecimentos históricos em nível econômico e social, e é nesse contexto que se pode evidenciar que os rumos das profissões acompanham tais transformações e podem ser observadas. Dentre as modificações ocorridas nas profissionais contemporâneas está a formação do profissional bibliotecário. Esta formação tem seu lastro, no Brasil, no primeiro curso de Biblioteconomia no Brasil, oferecido pela Biblioteca Nacional (BN) no ano de 1911 e possui 40 cursos na atualidade, dos quais o mais recente na forma presencial em nível de bacharelado é aquele da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Os dois cursos evidenciam as mudanças significativas aconteceram nos últimos anos e são utilizados como norteadores na observação das transformações da formação profissional. Antes de prosseguir com a análise proposta cabe ressaltar que o bibliotecário é o profissional responsável por organizar, tratar e disseminar a informação, ou seja, preservar as condições físicas dos materiais armazenados, mediando e facilitando o acesso dos usuários (WALTER; BAPTISTA, 2008). Sob essa perspectiva, além das competências técnicas (catalogação, indexação, formação de acervos, entre outros), o bibliotecário organiza e armazena as informações, além de oferecer sob os mais diversos suportes a disponibilização das informações para a resolução das necessidades informacionais. Da mesma forma, realiza estudos e pesquisas, elabora e auxilia na elaboração de recursos informacionais, além de prestar serviços de assessoria e consultoria nos mais diversos ambientes com vistas à gestão da informação, por exemplo. Por atuar em uma área que possui a informação como objeto norteador, o profissional precisa estar voltado essencialmente para o social, pois é no espaço social que acontecem as informações (WALTER; BAPTISTA, 2008). Neste contexto percebe-se que o perfil do bibliotecário alterou-se devido às demandas da sociedade, que cada vez mais necessita de informação rápida e precisa. Sob essa perspectiva acompanharam também as propostas curriculares dos cursos de Biblioteconomia em todo o mundo, tendo que ser adaptadas a fim de atender as necessidades específicas sociais no que tange ao trabalho informacional. De forma geral, na sua formação o bibliotecário terá disciplinas que possam lhe dar o conhecimento para suprir as principais necessidades informacionais da sua comunidade e de seus usuários no mundo contemporâneo. Contudo, é emergente que esse profissional seja 274 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 competente em informação e possua habilidades que lhe forneçam mais background no atendimento dessa maior exigência. [...] O objetivo da biblioteconomia seja qual for o nível intelectual em que deve operar é aumentar a utilidade social dos registros gráficos, seja para atender à criança analfabeta absorta em seu primeiro livro de gravuras, ou um erudito absorvido em alguma indagação esotérica. Portanto, se a biblioteconomia deve servir à sociedade em toda extensão de suas potencialidades, deve ser muito mais do que um monte de truques para encontrar um determinado livro numa estante particular, para um consulente particular. Certamente é isso também, mas fundamentalmente biblioteconomia é a gerência do conhecimento. Por isso, estes novos mecanismos projetadas para manipular conhecimentos a fim de que o homem possa alcançar melhor compreensão do universo no qual se encontra, são de especial interesse para o bibliotecário. Pois o bibliotecário fará mal sua tarefa se não compreender todo o papel do conhecimento na sociedade que ele serve e a parte que as máquinas podem realizar no processo da "ligação do tempo". O bibliotecário é o supremo "ligador do tempo", e a sua disciplina é a mais interdisciplinar de todas, pois é a ordenação, relação e estruturação do conhecimento e dos conceitos. (SHERA, 1977, p. 11). Assim, o objetivo do seguinte trabalho é analisar as propostas das grades curriculares dos cursos de Biblioteconomia do Brasil. A primeira proposta do ano de 1911, de responsabilidade do curso de Biblioteconomia da Biblioteca Nacional (o primeiro curso de Biblioteconomia do Brasil). E o segundo do ano de 2005, de responsabilidade do curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidade de Informação da UFRJ (curso de Biblioteconomia mais recente do Estado do Rio de Janeiro) (PROPOSTA..., 2008). Espera-se com isso evidenciar o desenvolvimento do perfil do profissional bibliotecário no Brasil no desenvolvimento da sociedade e suas necessidades, além de apresentar críticas quanto à formação moderna do profissional bibliotecário, constatando-se a mudança do perfil do bibliotecário ao longo do tempo. 2 FORMAÇÃO DO BIBLIOTECÁRIO Desde o seu surgimento até a atualidade a Biblioteconomia sofreu uma transformação significativa ao longo dos anos, adequando-se para atender às necessidades específicas da sociedade de uma forma geral. As alterações que ocorreram na sociedade ao longo do tempo, resultaram na formação do profissional contemporâneo, desde a criação do curso de Biblioteconomia na Biblioteca Nacional até aqueles em andamento dos dias de hoje. Várias foram as diretrizes que serviram parar embasar esse processo, na medida que define critérios para a formação desse profissional, visando as demandas que a sociedade necessita. Na atualidade remonta ao número total de 39 cursos em atividade no Brasil, em nível de bacharelado em Biblioteconomia (CONSELHO REGIONAL DE 275 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 BIBLIOTECONOMIA 10ª REGIÃO, 2013). E como o objetivo é empreender uma análise das mudanças apresentadas nas propostas das grades curriculares do curso para a formação profissional nas diferentes datas, foram selecionados o primeiro do curso em atividade no Brasil e o curso mais recente, resguardando as particularidades e oportunidades das épocas. 2.1 Currículo do curso da Biblioteca Nacional Criado em 11 de julho de 1911 no Rio de Janeiro a partir do Decreto 8.835 na Biblioteca Nacional, o curso de Biblioteconomia da Biblioteca Nacional visava formar um profissional com capacidade de atender as deficiências em que a BN possuía (CASTRO, 2002). Sua estrutura foi baseada no modelo da École de Chartres, sob influência humanista francesa com o objetivo de formar um profissional humanista e guardião. “[...] De início o curso contemplava apenas quatro disciplinas, as quais: Bibliografia, Paleografia e Diplomática, Iconografia e Numismática”. (CASTRO, 2002, p. 26). De acordo com o programa das disciplinas as aulas ministradas mesclavam noções preliminares que abordavam uma introdução do assunto e as aulas práticas. Na disciplina de Bibliografia era ensinado sobre a fabricação dos suportes, conservação e restauração, história do papel, direitos autorais, etc. As aulas de Paleografia e Diplomática eram divididas em teórica e prática. Na teórica eram ensinados separadamente e na prática era cobrado à organização dos registros e inventários, classificação e catalogação de documentos manuscritos. A disciplina de Numismática os alunos tinham a possibilidade de conhecer e reconhecer os processos de elaboração, tipos, formas, valores e diferentes moedas. A disciplina de Iconografia era voltada para a definição de conceitos, conhecimento de técnicas de iconografia, sua catalogação e classificação, entre outros conteúdos (WEITZEL, 2009). O curso de Biblioteconomia teve sua primeira turma em abril de 1915, por conta de recursos, e pela falta de pessoas interessadas em participar do curso (CASTRO, 2000) e para ingressar no curso, era necessário realizar “[...] uma prova escrita de português e provas orais de geografia, literatura, história universal e de línguas: francês, inglês e latim” (CASTRO, 2000, p. 54). Uma influência de destaque nesse processo é o surgimento em São Paulo, no ano de 1929, do curso de Biblioteconomia no Instituto Mackenzie. Este curso baseava-se no modelo dos cursos técnicos norte-americanos, pois se mantinha em disciplinas como Catalogação e Classificação, ou seja, orientava-se para a organização técnica da biblioteca curso (CASTRO, 2000). Esse processo que aconteceu em São Paulo teve reflexo na Biblioteca Nacional por volta de 1940, na medida em que seu currículo foi modificado. Nesse 276 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 sentido, afirma Castro (2000), “Essa reforma muda a ênfase curricular de preparação humanista para a de ordem técnica, uniformizando os saberes bibliotecários e consolidando, no Brasil, o modelo pragmático americano”. Por sua vez, o currículo da BN passou a agregar disciplinas como: Organização de Bibliotecas, Catalogação, Classificação, Bibliografia, Referência e História do Livro e das Bibliotecas, contando também com algumas optativas. 2.2 Currículo do curso da UFRJ Com o surgimento de outros cursos, ilustra-se uma crise diante de bibliotecários que defendiam a necessidade técnica e aqueles que queriam um currículo que atendesse também a formação cultural e humanista do bibliotecário. Portanto, em 1962 é criado um currículo mínimo que determina uma sistematização do ensino. Com isso regula o exercício da profissão de bibliotecário pela Lei 4.084 de 1962, que dispõe sobre profissão de bibliotecário e regula seu exercício (ALMEIDA; BAPTISTA, 2013); a saber: Do Exercício da Profissão de Bibliotecário e das suas atribuições Art 1º A designação profissional de Bibliotecário [...] é privativa dos bacharéis em Biblioteconomia, de conformidade com as leis em vigor. Art 2º O exercício da profissão de Bibliotecário, em qualquer de seus ramos, só será permitido: a) aos Bacharéis em Biblioteconomia, portadores de diplomas expedidos por Escolas de Biblioteconomia de nível superior, oficiais, equiparadas, ou oficialmente reconhecidas; b) aos Bibliotecários portadores de diplomas de instituições estrangeiras que apresentem os seus diplomas revalidados no Brasil, de acordo com a legislação vigente. (BRASIL, 1962). “Com a padronização dos conteúdos pelo Currículo Mínimo de 1962 e o de 1982, surgiu entre os acadêmicos, descontentamentos com a quantidade de disciplinas e com o caráter ora muito técnico e ora demasiadamente humanístico dos conteúdos estabelecidos (RUSSO, 1966; MACEDO, 1963; SOUZA, 1990 apud ALMEIDA; BAPTISTA, 2013)”. Parte das alterações em âmbito profissional teve como base as leis que regulamentam a profissão e também que abordam o ensino, como a Lei 9.394 de 1996, o Parecer CNE/CES 492/2001, que estabeleceu as diretrizes e bases da educação nacional (ALMEIDA; BAPTISTA, 2013). As diretrizes curriculares nacionais específicas para o ensino de Biblioteconomia foram estabelecidas em 2001 por meio do Parecer CNE/CES492/2001 do Conselho Nacional de Educação/Câmara Superior de Educação (ALMEIDA; BAPTISTA, 2013). Para Almeida e Baptista (2013, p. 8), “Esse documento definiu o perfil dos formandos da área, enumerou as competências e habilidades necessárias ao egresso direcionando o conteúdo curricular”. Neste contexto, as instituições tiveram mais liberdade para implementar novas atividades da graduação, que, portanto, propiciaram a 277 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 formação de um indivíduo com capacidade de responder às necessidades atuais do mercado. De acordo com as Diretrizes Curriculares para os Cursos de Biblioteconomia (BRASIL, 2001, p. 26), a formação do bibliotecário deve proporcionar ao aluno: [...] o desenvolvimento de determinadas competências e habilidades e o domínio dos conteúdos da Biblioteconomia. Além de preparados para enfrentar com proficiência e criatividade os problemas de sua prática profissional, produzir e difundir conhecimentos, refletir criticamente sobre a realidade que os envolve, buscar aprimoramento contínuo e observar padrões éticos de conduta [...]. No ano seguinte, o Conselho Nacional de Educação, por meio de Resolução CNE/CES 19, de 13 de março de 2002, estabelece uma atualização nas diretrizes curriculares para os Cursos de Graduação, na área de Biblioteconomia (PROPOSTA..., 2008). Nesta mesma época é formulada a proposta do Curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação (CBG) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Nesse sentido o curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação é elaborado e em 2003 é criada a proposta pedagógica para o curso. Esta proposta foi encaminhada às instâncias competentes da UFRJ, para fins de análise e aprovação. Com a aprovação no ano de 2005 o curso foi agregado a Faculdade de Administração e Ciências Contábeis (FACC), em virtude do seu foco na área de gestão. Sua primeira turma teve o ingresso no ano de 2006 (PROPOSTA..., 2008). O curso de natureza multidisciplinar aborda no seu currículo, com diferentes disciplinas que possuem como objetivo formar bibliotecários aptos a atuarem técnica e gerencialmente no mercado de trabalho nos mais diversos tipos de unidade de informação (seja em uma biblioteca, centros de documentação, centros culturais, serviços ou redes de informações etc.). (PROPOSTA..., 2008). Assim sendo, o aluno é estimulado no curso a desenvolver habilidades diante dos novos paradigmas impostos. Como é o caso das tomadas de decisões gerenciais e observação dos padrões éticos e legais da profissão exercida em diferentes âmbitos e dimensões. Este curso “[...] foi planejado para atender as necessidades do bibliotecário do século 21 sendo elas a de administrar os recursos que integram as Unidades de Informação [...]” (RUSSO, 2011). 2.3 Análise dos currículos De forma a sistematizar a análise comparativa empreendida é que se apresenta no quadro 1 as propostas das grades curriculares do primeiro curso de Biblioteconomia na Biblioteca Nacional e a do Curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Quadro 1 – Grade curriculares. 278 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Currículo da Biblioteca Nacional (1915) Currículo da UFRJ (2005) Representação Descritiva I Língua Portuguesa Bibliografia Fundamentos de Biblioteconomia e Ciência da Informação Paleografia Comunicação e História do Registro da Lógica Clássica Realidade Brasileira Informação Introdução à Sociologia Tecnologia da Informação Bibliotecas, Informação e e Comunicação Sociedade Teoria das Inglês Instrumental Introdução à Economia Organizações Serviço de Referência Administração de Representação Temática I Unidades de Informação I Representação Planejamento de Unidades Introdução à Contabilidade Descritiva II de Informação Automação em Estágio Supervisionado Normalização da Unidades de em Biblioteconomia Documentação Informação Recursos Análise da Informação Marketing em Unidades de Informacionais I Informação Representação Gestão da Informação e do Estágio Supervisionado em Temática II Conhecimento Gestão de Unidades de Informação Administração de Recursos Informacionais II Indexação e Resumo Unidades de Informação II Processo Decisório Extensão Cultural em Fundamentos de Recursos Unidades de Informação Humanos Formação e História da Tecnologia Finanças em Unidades de Desenvolvimento de Informação Coleções Competência em Psicologia das Metodologia da Pesquisa Informação Organizações Planejamento e Gestão Conservação e Análise e Modelagem de de Projetos Preservação de Suportes Processos Informacionais Sistema de Ética da Administração Comunicação Científica Recuperação da Informação Arquitetura da Filosofia da Gerenciamento Eletrônico de Informação Administração Documentos Diplomática Numismática Fonte: Elaborado a partir de Biblioteca Nacional (2015) e Universidade Federal do Rio de Janeiro (2015). Após a realização da pesquisa e observação dos currículos acima analisados, conclui-se que os cursos atualizaram os seus currículos conforme as diferentes expectativas da sociedade. Para uma compreensão mais aprofundada sobre essas mudanças pode-se analisar essas modificações curriculares em três focos: tecnológicas, administrativas e sociais. O primeiro foco das atualizações dos currículos evidencia quanto o desenvolvimento tecnológico influência nas profissões. Ao longo do tempo, os programas, os 279 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 equipamentos, as máquinas (ou em outras palavras os softwares e os hardwares) evoluem na sociedade, desenvolvendo-se e modificando-se juntos. E as profissões, que não poderiam ficar aquém das mudanças ocorridas, passam a serem “atualizadas”. No caso da profissão do bibliotecário não poderia ser diferente, novas matérias de tecnologias foram inseridas no currículo desse profissional para que pudessem acompanhar as transformações. Numa área em que as tecnologias de informação e comunicação revolucionaram de forma profunda os fazeres bibliotecários, ainda se observa que em algumas atividades, como, por exemplo, o de análise de informação, o trabalho continua sendo efetuado, em muitos casos e a despeito de todas as possibilidades existentes nas redes e nos bancos de dados locais e remotos, de forma muito semelhante ao que se fazia quando o suporte para registro e recuperação de informação eram as famosas fichas 12,5x7,5cm. (WALTER; BAPTISTA, 2008, p. 95). O trabalho do bibliotecário precisa atender as necessidades de seus usuários, que estão cada vez específicas e com pouco tempo de espera. A partir disso, precisa-se poupar o tempo de seu usuário, a resposta deve ser rápida, precisa e eficiente. Com os avanços tecnológicos e a explosão informacional, há cada vez um maior volume de informações circulando, porém, uma grande quantidade dessa informação pode não ser confiável, dificultando e aumentando o tempo de procura dos usuários que não possuem o conhecimento necessário de fontes de informação para obter a informação que deseja. Sendo assim, o bibliotecário precisa estar atualizado quanto as novas tecnologias, para otimizar o tempo do usuário e garantir para que encontre a informação que supra a sua necessidade. O segundo foco de análise é o administrativo. Ao observar os currículos acima apresentados tem-se a percepção que no primeiro curso de Biblioteconomia do Brasil,o aspecto do bibliotecário/gestor não era tão evidente, o foco nos primeiros currículos era a parte mais técnica de catalogação, indexação e formação de acervos. Atualmente, esse perfil do bibliotecário mudou bastante, pois está mais claro tanto para a sociedade como para os próprios profissionais, que o bibliotecário é também o profissional administrador da biblioteca e das unidades de informação. Recentemente, os cursos já incluíram diversas matérias do âmbito da administração nos currículos dos cursos. No caso específico do curso da UFRJ, como descriminado acima, tem muitas matérias voltadas para a gestão, visando abarcar também a formação do bibliotecário como gestor da unidade de informação, preservando aquela formação técnica anteriormente citada. Ao todo existem na UFRJ quatorze disciplinas com essa abordagem. Percebe-se que a inclusão de matérias administrativas no currículo dos cursos de Biblioteconomia é de vital importância para o bibliotecário na promoção de competências necessárias para gerir uma unidade de informação, pois o perfil gestor do bibliotecário é 280 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 crucial para a sobrevivência das bibliotecas nos dias de hoje. Saber definir metas, elaborar objetivos, gerenciar os materiais e os recursos da biblioteca são essenciais para o futuro das unidades de informação e biblioteca, especialmente em uma difícil realidade, onde a biblioteca é o setor mais frágil de qualquer empresa e instituição, e a primeira a ser fechada se surgir um problema financeiro. Porém, esse cenário vem mudando na atualidade, cada vez mais os profissionais compreendem a importância desse conhecimento administrativo e os departamentos responsáveis pelos cursos de Biblioteconomia estão atualizando seus currículos para poderem suprir essa necessidade tanto do mercado de trabalho, como da profissão bibliotecária. O terceiro e último foco de análise é a questão social. Esta discussão da profissão bibliotecária e o seu papel social, ainda é pouco discutida, embora seja cara e essencial. No primeiro curso de Biblioteconomia do Brasil, o aspecto social não era tão evidente, conforme exposto o foco nos primeiros currículos era a parte mais técnica de catalogação, indexação e formação de acervos. Neste aspecto observa-se que, por exemplo, no curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidade de Informação da UFRJ, tem-se como exemplo a disciplina obrigatória sobre “Competência em Informação” quem tem como objetivo compreender o papel social do bibliotecário como educador. O bibliotecário não está somente na biblioteca para organizar, catalogar, indexar, juntamente para dar assistência aos seus usuários, e esse tipo de assistência é discutidos nas matérias mais sociais. Portanto, o papel do bibliotecário não está pautado exclusivamente na busca e na entrega da informação que o usuário deseja, mas também, e principalmente, nas atividades que envolvem a aprendizagem no ciclo completo e complexo que considera desde a necessidade de informação até a resolução do problema. Neste contexto nota-se que o bibliotecário tem um papel de educador dentro e fora da biblioteca, de ensinar o usuário as competências necessárias para buscar a informação no meio desse grande volume de informações que estão circulando nos dias de hoje. Assim, o bibliotecário tem um papel fundamental na sociedade atual, quem melhor do que um bibliotecário para saber lidar com essa massa de informação? Desta forma, uma das maiores responsabilidades do profissional bibliotecário, é ensinar aos seus usuários como encontrar a informação certa, confiável e do jeito menos complicado, para que essa ação se torne rotineira no cotidiano de seus usuários. O papel do bibliotecário vai além da biblioteca, entrando nas questões políticas, culturais e sociais. A partir da análise empreendidas nas propostas dos currículos, percebe-se que o perfil do profissional mudará junto com as necessidades da sociedade, pois o profissional 281 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 precisa se adaptar à sociedade em que está inserido para oferecer um serviço atualizado, eficaz e que supra as necessidades dos usuários, além de cumprir o seu papel social perante a sociedade, mas é importante frisar que cabe ao profissional escolher qual caminho seguirá. 3 METODOLOGIA Nesta pesquisa foram analisadas duas propostas de grades curriculares de cursos de Biblioteconomia em diferentes períodos. A partir da técnica de observação não estruturada, utiliza-se bibliografias, fontes de informações comercial, os quais são: o site da BN, do curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação da UFRJ e o próprio site da UFRJ e uma visita à Biblioteca Nacional. Nessa pesquisa, buscou-se analisar e estabelecer a diferença do enfoque dos currículos dos cursos de Biblioteconomia no Brasil, do primeiro currículo da Biblioteca Nacional, com o do curso de Biblioteconomia e Gestão de Unidades de Informação da UFRJ, curso mais recente curso do Rio de Janeiro. Na pesquisa bibliográfica, utilizou-se artigos para embasar e aprimorar entendimentos referentes ao assunto e temática escolhida. Nas fontes de informações comerciais foram coletados dados referentes aos currículos, entre outros tipos de informação para completar o trabalho apresentado. A visita à Biblioteca Nacional (BN) embasou a pesquisa com dados precisos que não estavam explícitos e de fácil acesso nas fontes de informações formais da instituição e foram adquiridas quando estabelecidos contatos com a sessão de obras raras. Tendo então dois objetos semelhantes como pesquisa, o currículo antigo e o atual, mas distintos em termos de conteúdo, buscou-se explicitar ao máximo o desenvolvimento do perfil do bibliotecário com base nas necessidades da sociedade, que é o foco do estudo, mostrando suas finalidades e objetivos no antes e no agora, principalmente sua importância, tendo em vista as novas atribuições à profissão. Para tal foram considerados os três parâmetros norteados: tecnológicos, administrativos e sociais. Estes parâmetros foram escolhidos porquê percebe-se que na atualidade estão sendo bastante requeridos tanto no mercado, como na sociedade em geral, são três fatores que os profissionais bibliotecários precisam adquirir para suprir a necessidade desse mercado. 4 CONCLUSÃO A discussão apresentada discorre sobre pontos cruciais no desenvolvimento da grade curricular do curso de Biblioteconomia a partir de dois currículos e perceber-se que o perfil do profissional Bibliotecário se modificou ao longo dos anos de acordo com as demandas que lhe foram impostas (social, tecnológica e administrativo). 282 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O foco no desenvolvimento ocorre pela discrepância entre as grades curriculares da Biblioteca Nacional (1911) e da UFRJ (2005), mostrando assim, as diferenças de necessidades de cada época da sociedade. O surgimento das demandas também proporciona uma influência de uma instituição para outra, como o impacto que o Instituto Mackenzie causou, ocasionando a inserção de novos conteúdos e disciplinas na grade curricular da Biblioteca Nacional. Uma proposta de grade curricular nada mais é que a construção cultural do futuro profissional, consequentemente deve sofrer atualizações ao longo dos anos, assim como os profissionais precisam se manterem atualizados após a formação básica. Assim, tendo então dois objetos semelhantes como pesquisa (o currículo antigo e o atual), mas distintos em termos de conteúdo, foram explicitados ao máximo o desenvolver do perfil do bibliotecário, que é o foco do estudo. Além disso, mostrando suas finalidades e objetivos no antes e no agora, principalmente sua importância e as novas atribuições à profissão. Concluindo a análise dos currículos, vê-se a importância da atualização e da modificação do currículo dos cursos de Biblioteconomia sempre que forem necessários. A sociedade tem expectativas quanto ao profissional que sai da universidade, deseja um profissional atualizado nas tecnologias, com capacidade de administração e com o papel social ativo. O profissional deve buscar o aperfeiçoamento em suas práticas, e os cursos de biblioteconomia devem fazer com que os seus alunos terminem a universidade mais completos possíveis para a inserção no mercado de trabalho e ativos no seu papel social com a sociedade. Nesta oportunidade encaminham-se também como propostas futuras de pesquisas as abordagens tecnológicas, administrativas e sociais. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Neila; BAPTISTA, Sofia. Breve histórico da Biblioteconomia Brasileira: formação do profissional. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BIBLIOTECONOMIA, DOCUMENTO E CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 25., 2013. Anais... Florianópolis, 2013. Disponível em: <http://portal.febab.org.br/anais/article/view/1508/1509>. Acesso em: 10 mar. 2015. BRASIL. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, v. 134, n. 248, 23 dez. 1996. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seed/arquivos/pdf/tvescola/leis/lein9394.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2015. 283 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 ______. Lei n. 4.084/1962, de 30 de Junho de 1962. Dispõe sobre a profissão de bibliotecário e regula seu exercício. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2 Jul. 1962. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/19501969/L4084.htm>. Acesso em: 10 mar. 2015. ______. Ministério da Educação. CNE/CES 492/2001. Diretrizes Curriculares Nacionais dos cursos de Filosofia, História, Geografia, Serviço Social, Comunicação Social, Ciências Sociais, Letras, Biblioteconomia, Arquivologia e Museologia. Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília, 9 jul. 2001, Seção 1e, p. 50. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES0492.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2015. CASTRO, César Augusto. História da Biblioteconomia Brasileira: perspectiva histórica. 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Origem e fundamentos do processo de desenvolvimento de coleções no Brasil: estudo de caso da Biblioteca Nacional. In: ENCONTRO NACIONAL DE 284 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 PESQUISA EM CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO, 10., 2009. Anais... João Pessoa, 2009. Disponível em: <http://enancib.ibict.br/index.php/enancib/xenancib/paper/viewFile/3285/2411>. Acesso em: 10 mar. 2015. 285 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O GERENCIAMENTO DE UM ACERVO ESPECIAL FRENTE À PRESERVAÇÃO DIGITAL: a prática da digitalização do projeto biodiversity heritage library (BHL) no Museu Paraense Emílio Goeldi GT 5: modalidade oral OLIVEIRA, Alessandra69 CASTRO, Jetur70 RESUMO Trata da gestão de acervos bibliográficos especiais frente a utilização da preservação digital em unidades de informação, questão fundamental no que se refere à salvaguarda e a difusão de um acervo para ampliar o acesso de usuários à informação científica. O trabalho tem como objetivo geral estudar o papel da preservação digital na gestão de um acervo bibliográfico especial. Especificamente objetiva mostrar o caso do projeto de digitalização e publicação online da coleção de Obras Raras Essenciais em Biodiversidade do Museu Paraense Emílio Goeldi de iniciativa da Biodiversity Heritage Library. Quanto à natureza e de acordo com os objetivos propostos o caráter metodológico desse trabalho corresponde a uma pesquisa explicativo-descritiva. O método de abordagem utilizado foi o hipotético-dedutivo e o método operacional o monográfico. Para a revisão de literatura, realizou-se a pesquisa em livros, periódicos, dissertações, teses e artigos científicos já publicados abordando a temática. Portanto, são analisadas as questões mais relevantes no estudo, com relação aos métodos relacionados com a preservação de um acervo bibliográfico em formatos digitais. Neste sentido, a gestão desse acervo aliado à preservação na coleção em biodiversidade, trará enorme contribuição à biblioteca do MPEG, tornando as informações cientificas mais acessíveis, dando continuidade à memória e certificando a absoluta excelência dos suportes digitais, abarcada pelas inovações tecnológicas que remediarão suas perdas futuras. Palavras-chave: Gerência de acervos bibliográficos. Preservação digital. Coleções bibliográficas especiais. Digitalização de Documentos. ABSTRACT Deals with the management of bibliographic special collections front the use of digital preservation in information units, fundamental question with regard to safeguarding and dissemination of a collection to expand user access to scientific information. The work has as main objective to study the role of digital preservation in the management of a special library collections. Specifically aims to show the case of online digitization and publication design Collection of Essential Rare Works Biodiversity of the Goeldi Museum of initiative of the Biodiversity Heritage Library. The nature and according to the proposed objectives methodological character of this work corresponds to an explanatory descriptive research. The approach method was the hypothetical-deductive and the operating method the monographic. For the literature review, we carried out the research in books, journals, dissertations, theses and scientific articles published already addressing the issue. Therefore, 69 Graduanda em Biblioteconomia pela (UFPA). E-mail: [email protected] Graduando em Biblioteconomia (UFPA). Pesquisador e Colaborador da Rede Cariniana – (IBICT/Brasília). Email: [email protected] 70 286 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 we analyze the most important issues in the study, with the methods related to the preservation of a collection of books in digital formats. In this sense, the management of this collection together with the preservation of biodiversity in the collection, will bring enormous contribution to MPEG library, making more accessible scientific information, continuing the memory and ensuring the absolute excellence of digital media, embraced the technological innovations that remediarão their future losses. Keywords: Management of library collections. Digital preservation. Special library collection. Document Scanning. 1 INTRODUÇÃO O estudo realizado teve como objeto a gestão de acervos bibliográficos especiais. Partiu-se do pressuposto de que a humanidade em seu transcurso histórico sempre teve a necessidade intrínseca de conservar conhecimentos, pensamentos e ações, objetivando difundir estas questões para as gerações vindouras. Nesse contexto, observa-se o papel da memória nas bibliotecas, pois esta é tida como um patrimônio, haja vista que uma sociedade sem memória é uma civilização sem identidade. A memória preservada nas bibliotecas é o que pode identificar a natureza de uma nação, solidificando-a e caracterizando de forma a olhar e identificar a sociedade. Foi selecionado o acervo bibliográfico de obras raras essenciais em biodiversidade do Museu Paraense Emílio Goeldi, para ser o campo de estudo do presente trabalho, pois este representa um importante tesouro para a memória da ciência na Amazônia. Como objetivo geral pretendeu-se estudar o papel da preservação digital na gestão de um acervo bibliográfico especial. Seguindo essa linha o objetivo específico é o de mostrar o caso do projeto de digitalização e publicação online da coleção de Obras Raras Essenciais em Biodiversidade do Museu Paraense Emílio Goeldi de iniciativa da Biodiversity Heritage Library. Quanto à natureza e de acordo com os objetivos propostos o caráter metodológico deste trabalho corresponde a uma pesquisa exploratório-descritiva. O método de abordagem utilizado foi o hipotético-dedutivo e o método operacional o monográfico. O exemplo usado é o da coleção de obras raras do MPEG. Inicialmente, foi realizada uma pesquisa bibliográfica ou de fontes primárias e secundárias com o objetivo de localizar conteúdos em livros, periódicos, dissertações, teses e artigos científicos já publicados abordando a temática onde se terá como Trujillo Ferrari (1974, p. 230) menciona, “[...] o reforço paralelo na análise de suas pesquisas ou manipulação de suas informações”. 287 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O referencial teórico é formado a partir da produção de uma breve revisão de literatura construída a partir dos objetivos elencados anteriormente, onde a bibliografia relevante sobre o assunto “[...] oferece meios para definir, resolver, não somente problemas já conhecidos, como também explorar novas áreas, onde os problemas ainda não se cristalizaram suficientemente” (MANZO, 1971, p. 32, tradução nossa). Dessa forma, a pesquisa bibliográfica busca levantar informações sobre gestão de acervos, acervos raros e especiais, bibliotecas, preservação digital e o Museu Paraense Emílio Goeldi. Estudar a memória bibliográfica e as suas formas de gestão e preservação são de vital importância para a salvaguarda da história, fato este em voga nos últimos anos com maior espaço para discussões no cenário atual, mostrando como é perceptível e sensível o assunto, posto que os acervos bibliográficos especiais preservam e tornam disponível uma parcela da memória humana, enraizada como um patrimônio, através da criação de valores e conhecimentos descritos em um momento, utilizado para o entendimento de um fato no presente e preservado para a prática de sociedades futuras. 2 O GERENCIAMENTO EM ACERVOS BIBLIOGRÁFICOS O contexto das unidades de informação apresenta peculiaridades quanto à gestão de seus acervos, características representadas nos recursos para o compartilhamento da informação, principalmente, com a tentativa de facilitar o acesso ao conteúdo dos materiais por elas gerenciados. Assim, entende-se que o ato de administrar/gerenciar também pode ser desenvolvido em bibliotecas, objetivando organizar fontes de riquezas atuais, nesse caso o conhecimento, que deve ser administrado por profissionais que busquem organizá-los fisicamente, assim como forma de recuperá-los, em ambientes híbridos a partir de alto grau de eficiência e eficácia, para desse modo tornar disponíveis as coleções bibliográficas ali colocadas à disposição dos usuários. Essas ações incumbidas da gestão de acervo podem servir como soluções para antigos problemas, tal como da busca incansável de pesquisadores atrás de fontes de informação. Sem essa gestão as fontes se perdem, por não estarem organizadas, catalogadas ou até mesmo com condições físicas de manuseio. Foi objetivando minimizar este problema que as bibliotecas buscam novas saídas para gerenciar seus acervos bibliográficos, onde o uso de Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC’s) se tornaram mecanismos que podem levar informações a mais usuários, muitas vezes remotos a esses acervos. 288 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O ato de gerenciar um acervo bibliográfico, que segundo Faria e Pericão (2008, p. 30) é o “conjunto de livros, folhetos, etc. que uma biblioteca possui para uso dos leitores; é também designado de fundo bibliográfico”. Pois, parte do princípio que todo documento, quando é produzido, possui suas finalidades específicas e entre elas aparece a de servir como testemunha histórica. Logo um acervo bibliográfico possui valor histórico quando este serve para responder as perguntas de um objeto de pesquisa. Exemplo são as coleções especiais de obras raras, que de acordo com Faria e Pericão (2008, p. 469) obra rara pode ser entendida como: Livro assim designado por ser detentor de alguma peculiaridade especial (antiguidade, autor celebre, conteúdo polêmico, papel, ilustrações). Consideram-se geralmente livros raros os incunábulos, as publicações anteriores a 1800, as primeiras edições de obras literárias, científicas e artísticas, as obras com encadernações primorosas, as obras que pertencem a personalidades celebres e que apresentam a sua assinatura ou notas e sobretudo os exemplares únicos. Diante das TIC’s a gestão dos acervos nas bibliotecas, e até mesmo as coleções especiais, ficam intensamente ligadas aos mecanismos de acesso à informação de forma livre. O cenário em que se vive tem uma tendência maior em relação ao acesso de documentos em formato digital, com toda essa gama de informações. 3 O MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI O MPEG é uma instituição de pesquisa científica fundada no final do século XIX na cidade de Belém, estado do Pará. Conforme relata Cavalcante (2006, p. 23): A origem do atual Museu Paraense Emílio Goeldi data de 1866, quando o cientista Domingos Soares Ferreira Penna, por iniciativa própria, encabeçou um grupo de intelectuais para reunir materiais com os quais instalou um pequeno Museu, denominando-o Sociedade Filomática e, em 1871, oficializando com o nome de Museu Paraense. Nesse viés histórico, Sanjad (2010, p. 16) mostra o valor científico impregnado ao papel desempenhado por esse museu em seu início e importância para a dinamização da pesquisa científica em um Brasil imperial, ao discorrer que essa instituição “[...] ocupou no final do século XIX e início do XX particularmente na administração do zoólogo suíço Emilio Goeldi (1859-1917), entre 1894 e 1907, um lugar de destaque no cenário científico brasileiro”. Ligado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), hoje o MPEG é considerado no cenário da ciência brasileira como a mais antiga instituição dessa natureza na Amazônia, além de ser um dos mais relevantes museus de história natural e antropologia no Brasil. Dentre diversas características, para justificar essa relevância destacam-se o fato dela atuar incansavelmente na coleta, análises, sistematização e disseminação de estudos em fauna, 289 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 flora, arqueologia, línguas, modos de vida e ecossistemas amazônicos, desde suas origens. Esse cenário foi propício para a formação, durante décadas, de coleções científicas responsáveis por dar reconhecimento mundial para a instituição, por seus valores históricocientificas. A esse respeito, vale destacar que a instituição possui atualmente um total de 20 coleções científicas nas áreas de arqueologia, etnografia, linguística, Botânica (Herbário, xiloteca, carpoteca, histoteca e palinoteca), Zoologia (Ictiologia, herpetologia, ornitologia, mastozoologia, entomologia e aracnologia), paleontologia, minerais e rochas. Além disso, conta com uma rica coleção bibliográfica e documental. Cabe ressaltar que a atual infra-estrutura do MPEG encontra-se dividida em três bases físicas, o Parque Zoobotânico e o Campus de pesquisa em Belém e a Estação científica Ferreira Penna (ECFP) como base avançada de pesquisa na Floresta nacional de Caxiuanã em Melgaço-Pará. Dessas elencadas a mais relevante na memória e cotidiano dos paraenses é o Parque, assim como demonstra Van Velthem (2006, p. 9) quando fala que o valor simbólico que essa instituição representa é visto quando: “‘O Museu’, como simplesmente a chama os belenenses, é a única instituição científica brasileira que conta com imediata identificação, reconhecimento e carinho da comunidade onde está instalada”. Do exposto nos parágrafos anteriores, nota-se a representatividade do Museu Goeldi para o desenvolvimento da ciência na região amazônica, característica essa emblemática em sua história e importante para o avanço da conservação da biodiversidade, solidificação da cidadania e resgate/preservação das ações culturais regionais. 4 A BIBLIOTECA DO MUSEU PARAENSE EMÍLIO GOELDI A origem da biblioteca do MPEG remonta ao ano de 1895 quando o zoólogo suíço Emilio Goeldi, trabalhou na organização e formação de uma pequena coleção de livros, periódicos e documentos sobre a Amazônia que servissem de subsídio científico para os trabalhos realizados no então recente Museu Paraense. Sob o ponto de vista histórico, Romeiro (2006) relata que a ideia de uma biblioteca no Museu Paraense já tinha sido planejada por Domingos Soares Ferreira Penna em 1866, ainda nos Estatutos da Sociedade Philomatica, quando ele menciona a biblioteca e a hipótese de se conceder um título de membro honorário a quem doasse dez livros. Fundamentando essa origem, Goeldi (1896, p. 17) relata em 1894 no primeiro número do Boletim do Museu, sobre uma biblioteca para sua novel organização: 290 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Uma biblioteca própria do Museu não existe e isto constitui certamente um dos melhores critérios para julgar do seu estado atual. Como há de se determinar objetos de história natural sem obras sistemáticas? O Museu Paraense deve ter sua biblioteca e até uma muito boa sobre ciências naturais e etnologia, especialmente em relação a tudo que diz respeito à Amazônia. Com efeito, esse apelo de Emílio Goeldi teve repercussão mundial, e em 1895, o governador Lauro Sodré, então diretor do Museu Paraense, em um relatório complementar oficializa a criação da biblioteca (COELHO, 1949). Diante desse contexto, Coelho (1949) discorre sobre a formação do acervo bibliográfico da biblioteca e diz como Goeldi buscou de modo empolgado livros para formar uma coleção cada vez mais completa nas áreas de atuação da instituição. Nesse amor que Goeldi mantinha pelo Museu, ele conseguiu convencer grandes personalidades pelo mundo para ajudar na formação da mesma. Recebendo, por exemplo, doações importantes do Príncipe Alberto I, de Mônaco; do Professor Branner, da Universidade de Stanford, da Califórnia e do Príncipe Fernando I, da Bulgária. Como tendência histórica, nas décadas que se seguiram, mudanças na direção da instituição e outros modos tomados para a formação do acervo influenciaram na completeza da coleção dessa biblioteca. Aumentando consideravelmente a sua literatura nas áreas de botânica, zoologia e etnografia, além das parcerias institucionais firmadas, por exemplo, com a estadunidense Smithsonian Institution. Sob o ponto de vista dos recursos humanos, diversas personalidades estrangeiras passaram pela biblioteca, assumindo a função de bibliotecário, dentre esses vale salientar, o coronel Magalhães Barata, Rodolf Schüller, Erich Rost, Godofredo Hagmann, Bernard Maimann, entre outros. Sobre essa questão, vale-se aqui destacar duas situações curiosas explicitadas por Coelho (1949, p. 418): Em 1945, dez vezes maior que no tempo de Goeldi, derramando-se por toda parte, sem um local nem instalações apropriadas para alojá-la convenientemente, a Biblioteca era nada mais nada menos que um desordenado depósito de livros [...] Não havia ordem, catálogo, fichário ou qualquer coisa parecida. O seu ultimo bibliotecário, um sueco inteligentíssimo, era um homem de extraordinário merecimento intelectual, falando com fluência e escrevendo com perfeição uma dezena de idiomas, como se fôra um novo cardeal Mezzzofante. Outra situação interessante mencionada pelo autor sobre as questões de recursos humanos da biblioteca é a seguinte: Cito um exemplo apenas para elucidar o fato e ilustrar o conto: um dia, lembro-me bem, uma tarde, Erich Rost, Godofredo Hagmann, Bernard Maimann e eu, os quatro somando os esforços, com capacidade para compreender doze línguas, ficamos com um livro na mão muito tempo sem saber onde colocá-lo por não decifrar o idioma em que era escrito e assim a matéria de que se compunha. Salvou-nos um polaco “globe-troffer”, visitante ocasional: o livro era um manual de zoologia, escrito em finlandês (COELHO, 149, p. 419). 291 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Inicialmente, a biblioteca científica do Museu funcionou no Parque Zoobotânico desta instituição. Atualmente, recebe o nome de Domingos Soares Ferreira Penna, em homenagem a um dos ex-diretores da instituição. Ela está localizada, desde a década de 1980, no Campus de pesquisa. Sendo especializada nas áreas de atuação do Museu e em assuntos relacionados à Amazônia. A missão dessa biblioteca é a de reunir, selecionar, tratar, armazenar, preservar, e divulgar material bibliográfico e conhecimento nas áreas de especialidade do Museu Goeldi e sobre a Amazônia. Ela desempenha atividades com o objetivo de tratar os materiais bibliográficos quando adquiridos pela instituição até sua disponibilização ao usuário final, que pode ser um pesquisador, estudante de pós-graduação, bolsistas de pesquisa, etc. Os conhecimentos produzidos pelo Museu Goeldi são transformados em livros e revistas científicas, que levam informações para o mundo através da Coordenação de Informação e Documentação (CID), extrato administrativo do MPEG onde a Biblioteca está inserida junto ao Arquivo administrativo e histórico Guilherme de La Penha. Na atual composição dos setores e atividades da biblioteca, podem ser destacadas oito atividades, realizadas por Analistas, Tecnólogos e Técnicos com formação em Biblioteconomia, Direito, História e Antropologia e Assistentes em Ciência e Tecnologia. As atividades são as seguintes aqui elencadas: a) Seleção e Aquisição; b) Preparação técnica; c) Distribuição de publicações; d) Referência; e) Digitalização de acervos BHL/SCIELO; f) Acesso à informação científica e documentos online – Repositório Institucional; g) Programa de Comutação Bibliográfica (COMUT); h) Projetos de pesquisa PCI. Da sua formação original, observa-se a importante coleção de periódicos e livros que representam uma significativa produção científica em diversos idiomas. Destacando-se obras em: Inglês, alemão, francês, português, espanhol, checo, holandês, sueco, latim, italiano, polonês, russo, dinamarquês, norueguês, húngaro, finlandês e japonês. O acervo bibliográfico, atualmente, é dividido em um acervo geral com aproximadamente 300.000 mil exemplares e uma coleção especial e essencial em biodiversidade de livros raros, possuindo um acervo estimado em 3.000 mil livros, infólios, periódicos. Dentre esses podem ser destacados: o Delle Navigationi, et Viaggi, em três volumes de Battistita Ramusio, com impressão de 1554 em Veneza; o An Impartial Description of Surinan upon the Continent of Guiana in America, publicado em 1667 em Londres, a Relacion del ultimo viagem al Estrecho de Magallanes de la Fragata Santa Maria, publicado em 1788 em Madrid; a Monograph of the Ramphastidae or Family, de Londres em 292 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 1854; A Flora Brasiliensis em 56 volumes; Obras de Humboldt e Bmpland – Voyages aux régions équinoctiales, dentre outros. 5 PRESERVAÇÃO DIGITAL E SEUS EFEITOS NA GERÊNCIA DE ACERVOS BIBLIOGRÁFICOS Com o início da revolução tecnológica e científica, que adveio após a Segunda Guerra Mundial, o conhecimento sofreu um processo de crescimento, versado como explosão informacional, acarretando apreciáveis mudanças no processo de registro, armazenamento, transmissão e acesso da informação (SARACEVIC, 1996). Apesar dos processos de desenvolvimento das formas de difusão da informação nasce um paradigma, sobretudo na importância dos novos suportes em que se aloca a informação. A informação digital é uma dessas grandezas e atualmente é usada para apresentar a informação em um novo espaço. Para a preservação de documentos, independentes de seus suportes, são geralmente levantados critérios e criadas ferramentas que proporcionem proteção e garantia para a sua manutenção, visando prevenir danos e minimizar riscos, assim como, restituir documentos que já tenham sido comprometidos (MÁRDERO ARELLANO, 2004). As bibliotecas institucionais são peças centrais para o provimento da preservação digital. “Desde o início e meados da década de 1990, a coleta de informações entre as instituições gerou novas práticas de preservação, restauração, estratégias e colaboração institucional” (FINO-RADIN, 2011, p. 6, tradução nossa). A preservação digital em seu real sentido usa visibilidades que se constituem em um novo paradigma. A preservação digital é composta de: [...] todas as atividades que são necessárias para manter o acesso à materiais digitais além dos limites da falha de mídia ou mudança tecnológica. Esses materiais podem ser registros digitais criados durante o dia-a-dia de negócios de uma organização, ou seja, materiais "born-digitais" criadas com um fim específico (por exemplo, recursos de ensino), ou os produtos de projetos de digitalização. (DIGITAL PRESERVATION COALITION, 2012, tradução nossa). Com o advento das tecnologias da informação e comunicação, a natureza ligada à essa tecnologia coorporativa e institucional comprometem diretamente a capacidade de processamento das informações pelo insumo de segurança. “A Web é o maior documento já escrito, com mais de 4 bilhões de páginas públicas e uma 550.000.000.000 documentos conectados na Web” ( LYMAN; VARIAN, 2000). Conforme Cunha (1999), nos últimos anos duas das funções básicas na gestão dos acervos bibliográficos das bibliotecas estão sofrendo “perigo de extinção: a provisão de acesso à informação e a preservação do conhecimento para futuras gerações”. Com o aumento 293 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 da informação digital, este tema tem sido alvo de questionamentos. Esta implicação está sobre o domínio dos órgãos e unidades em que se localizam essas informações, para a garantia e disponibilização em períodos de tempos (MÁRDERO ARELLANO, 2004, p. 16). No Brasil a preservação digital tem sido peça fundamental, nos repositórios das instituições de ensino das universidades e de institutos de pesquisa como IBICT, FBN e CONARQ da qual promovem programas e projetos que se voltam para a preservação do conhecimento, tais projetos pode ser mencionados como SEER, a Rede Cariniana e uma tentativa da Biblioteca Nacional e da CONARQ que tem por objetivo conscientizar as conformidades que possuem arquivos de documentos digitais a adotar técnicas padronizadas de preservação digital. Em princípio, concerne a preservação de documentos digitais uma preocupação nos formatos desses arquivos, visando isto a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) publicou uma carta sobre a preservação de documentos digitais a partir disto a CONARQ constituiu critérios para assegurar o acesso posterior dos documentos digitais. Deste modo, As organizações públicas e privadas e os cidadãos vêm cada vez mais transformando ou produzindo documentos [...] exclusivamente em formato digital, como textos, bases de dados, planilhas, mensagens eletrônicas, imagens fixas ou em movimento, gravações sonoras, material gráfico, sítios da internet, dentre muitos outros formatos e apresentações possíveis de um vasto repertório de diversidade crescente. (BRASIL, 2006, p. 2). As políticas de preservação digital nas instituições públicas têm em seu percurso, a aplicabilidade de procedimentos da qual implica nas estratégias de preservação de documentos. Os institutos brasileiros já se organizam para dar início à operabilidade de digitalização. O Instituto de Brasileiro de Informação Ciência e Tecnologia (IBICT), na tentativa de salvaguardar registros da informação científica, e do patrimônio cultural no Brasil, buscaram várias parcerias com diversas instituições a fora em busca de softwares que melhor preservassem a informação em longo prazo. Desses sistemas como LOCKSS, DAITSS, Fedora, Dspace, ICA-ATOM, Archivematica. 6 O CASO DA BIODIVERSITY HERITAGE LIBRARY NO MUSEU GOELDI Biodiversity Heritage Library, é uma associação internacional formada por museus de história natural, jardins botânicos, biblioteca e centros de pesquisa biológica. Da qual tem como objetivo, contribuir para digitalização e publicação de acesso aberto de obras ricas em biodiversidade realizada em suas respectivas coleções sendo o acesso e a publicação como partes de um “Universo Comum em Biodiversidade”. 294 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Segundo Kasperek (2010, p. 448, tradução nossa) a BHL foi “Fundado em 2005, e tornou-se o terceiro maior projeto de digitalização para literatura sobre biodiversidade [...] atualmente a BHL é o maior projeto de digitalização na sua temática”. A BHL trabalha com a comunidade internacional taxonômica, os detentores de direitos e outras partes interessadas para garantir que este patrimônio de biodiversidade é disponibilizado para uma audiência global através de princípios de acesso aberto. A BHL obteve permissão de editores para digitalizar e tornar disponíveis materiais de biodiversidade significativos que ainda estão sob os direitos autorais [...]. Em parceria com a Internet Archive e através de esforços de digitalização locais, a BHL digitalizou milhões de páginas de literatura taxonômica, o que representa dezenas de milhares de títulos e mais de 100.000 volumes. Para adquirir conteúdo adicional e promover o livre acesso à informação. (BIODIVERSITY HERITAGE LIBRARY, 2014, não paginado, tradução nossa). A rede BHL tem sua preocupação com a preservação do meio ambiente nas coleções bibliográficas, já datada as informações em seu repositório. Ela faz com que preserve uma herança histórica na natureza e da vida. Destaca Biodiversity Heritage Library (2014, não paginado, tradução nossa) que o Portal BHL permite aos usuários pesquisar a coleção em biodiversidade por vários pontos de acesso, podendo ler os textos on-line, ou baixar páginas selecionadas ou volumes inteiros como arquivos com formato TIF, JP2, OCR, ALL e PDF. Sob essa ótica, ela tem como intuito colaborar para a competência, relação inclusão, divulgação, obtenção e interoperabilidade da informação científica em Biodiversidade no universo estudado. De forma resumida, a mesma disponibiliza documentos com informações sobre mais de 150 milhões de designações de espécies. Usando a Global Names Recognition and Discovery (GNRD) e os nomes de taxionomias para encontrá-las. Nessa linha, os pesquisadores podem reunir publicações sobre as espécies e os links para o conteúdo relacionado funcionando com uma verdadeira enciclopédia de ciências naturais. Desde 2009, a BHL se expandiu globalmente. EContentPlus programa da Comissão Europeia financiou o projeto BHL- Europa, com 28 instituições , para montar a literatura de língua Europeia. Além disso, a Academia Chinesa de Ciências (BHLChina), a Atlas of Living Australia (BHL- Austrália), Brasil (através BHL- SciELO) e da Biblioteca Alexandrina criaram laços nacionais ou regionais com a BHL. Além disso, em abril de 2013, o nó mundial BHL- África foi lançada oficialmente. Nós globais são estruturas organizacionais que podem ou não podem desenvolver seus próprios portais BHL. O objetivo da BHL é compartilhar e servir conteúdo por meio do Portal BHL desenvolvido e mantido no Missouri Botanical Garden. Todas essas parcerias vão trabalhar juntos para compartilhar conteúdo, protocolos, serviços e práticas de preservação digital (BIODIVERSITY HERITAGE LIBRARY, 2014, online, tradução nossa). Ademais, é importante mencionar que ela busca então a conservação de um grande domínio natural, e a expansão da informação científica. Visto que tem muita importância no seu credo, pois além da informação em biodiversidade faz com que preserve a 295 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 informação e a torne possível, disponível a todos. Sendo no impresso ao modo digital em operações de acesso aberto e das redes coorporativas nesse enorme patrimônio que se chama de biodiversidade. Contudo, a mesma segue em rumo aos vários continentes, a America Latina é umas das escolhidas para projeto em parceria com SCIELO, Projeto BHL Brasil. Com 7 instituições participantes. O projeto prevê a interoperabilidade internacional de sistemas, produtos e serviços de informação e comunicação científica em biodiversidade, particularmente na Biodiversity Heritage Library, onde serão publicadas para acesso aberto. Colocará 2.000 obras em acesso pelo portal BHL Brasil conduzido pela SCIELO, preservando obras do século XVIII e XIX. O foco é mostrar o projeto de digitalização no Museu Goeldi e seus processos das obras bibliográficas. Atingindo, até o momento a análise da digitalização dos periódicos antigos do Museu Goeldi, bem como os Boletins do Museu Paraense datado de 1880 até 1911 e recolhidos para a coleção especial. O Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi é a principal publicação da instituição. Concebido por Emílio Goeldi, em 1894, seu primeiro volume foi lançado em 1896 com o nome de Boletim do Museu Paraense de História Natural e Ethnografia. O volume 4, fascículo 1 (1904), foi publicado como Boletim do Museu Goeldi de História Natural e Ethnografia e, desde o volume 10 (1949), como Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi, em homenagem a seu idealizador. A nova série foi iniciada em 1957 e continuada até 1984, quando uma nova numeração dos volumes foi adotada. O atual Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi é editado em quatro séries: Antropologia, Botânica, Zoologia (semestral) e Ciências da Terra (anual) (VARELA; BAIÃO NETO, 2012, p. 6). Partindo dessa perspectiva a digitalização dos boletins foi analisada a partir de uma amostra do processo de digitalização limitando a pesquisa. A Tabela 1 mostra a fase inicial da digitalização no Museu Goeldi, quais os Boletins que já foram digitalizados, assim como a quantidades de páginas. Tabela 1- Boletins Digitalizados. Fonte: Os autores do trabalho, 2014. Boletim do Museu Goeldi História Natural e Ethinographia 1 – 10 1–4 1896 -1949 Nº de Páginas aproximado 3.782 Zoologia 1 – 20 1 – 124 1964 -2002 2.798 Botânica 1 – 20 1 – 59 1954 -2002 4.864 Total de páginas digitalizada Volume Número Ano 11.444 296 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Como perspectiva, partindo do início do projeto em 12 meses na biblioteca do Museu Goeldi, onde as publicações periódicas já foram digitalizadas. O próximo passo pelos próximos 12 meses se resume a digitalização da maior parte da coleção, referente aos livros raros de obras essenciais em biodiversidade. Enfim, com o visto pelo desempenho e objetivos do projeto BHL no Museu Goeldi, observa-se como as tecnologias se tornaram ferramentas poderosas para a preservação da memória e transmissão de informações. Hoje a gestão de coleções bibliográficas em bibliotecas tem colocado em ação, por exemplo, a digitalização de suas coleções mais antigas e raras com a finalidade de salvaguardar as informações contidas nelas uma vez que o papel, sem cuidados e ausências de políticas de conservação, tem uma tendência natural a se degenerar. Além disso, esse cenário representa um avanço enorme na tentativa de diminuir as barreiras entre o pesquisador e o material o qual ele precisa. A consulta on-line de verdadeiros tesouros históricos já é uma realidade que caminha nos planos e ações dos gestores de unidades de informação. 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho teve como objetivo relatar a experiência na gerência dos acervos bibliográficos especiais frente a preservação digital em uma Unidade de Informação de quase 150 anos, sendo o caso da Biblioteca Domingos Soares Ferreira Penna, no Museu Paraense Emílio Goeldi. Relata as atividades regidas das etapas da digitalização do das Obras Raras em Biodiversidade, assim sendo tem por finalidade descrever as ações práticas do processo de gerenciamento da digitalização no Museu Goeldi dirigido pela Coordenadora da Coordenação de Informação e Documentação Maria Astrogilda Ribeiro. Tendo como base a iniciativa da Biodiversity Heritage Library – BHL, em reunir as obras essenciais em Biodiversidade, faz-se necessário explicitar que este estudo ainda vem sendo realizado e operacionalizado na Unidade de Informação do MPEG, atingindo até o momento 11.444 páginas digitalizadas a continuação está sobre processo sobre a digitalização de infólios e as coleções raras sobre biodiversidade do Museu Goeldi. Acredita-se que a realização deste trabalho trouxe contribuições significativas quanto à disponibilização e conhecimento do objetivo proposto, já que sua finalidade é dar continuidade na preservação da memória na Amazônia. 297 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Assim, verifica-se que o próximo passo a ser dado estará relacionado à excelência no serviço da preservação digital e na capacitação dos profissionais que estão atuando na digitalização dos objetos digitais. REFERÊNCIAS BIODIVERSITY HERITERAGE LIBRARY. Wiki: tips and information for our users, 2014. Disponível em: <http://biodivlib.wikispaces.com>. Acesso em: 12 de janeiro de 2014. BRASIL. Conselho Nacional de Arquivos. Modelo de Requisitos para Sistemas Informatizados de Gestão Arquivística de Documentos: e-ARQ. Rio de Janeiro: CONARQ, 2006. Disponível em: <http://www.arquivonacional.gov.br/conarq/cam_tec_doc_ele/gestao/e-ARQ%20%20v%200.pdf>. Acesso em: 10 jan. 2014. CAVALCANTE, Paulo. Parque zoobotânico. In: REENCONTROS: Emílio Goeldi e o Museu Paraense. Belém: Museu Paraense Emílio Goeldi, 2006. p. 23-25. 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GT 5: modalidade oral NUNES, Luiz Felipe Pereira 71 RESUMO Análise entre ficção e realidade sobre o bibliotecário, profissional da informação, dentro do universo da série televisiva The Librarians. Utilizando revisão de literatura como metodologia, levando em consideração artigos e monografias nesse segmento de pesquisa e levantando a questão da reafirmação do estereótipo ou rejeição dentro do universo ficcional criado por John Roger. O objetivo deste trabalho é responder à seguinte questão: a série reafirma ou rejeita o estereótipo do bibliotecário? A conclusão que se chegou foi: ainda falta bastante para a total desconstrução de uma ideia tão fixada no imaginário dos telespectadores como o perfil profissional vigente. Entretanto a série caminha para uma evolução no imaginário da população em relação ao bibliotecário. Palavras-chave: Bibliotecário. Estereótipo. Perfil. Série. ABSTRACT Review about librarian´s occupation between fiction and real life inside the TV serie “The Librarians”. Using reviews of written pieces as methodology, talking articles and monographic work in consideration and reaching the question about reassurance of stereotypes or rejection inside John Roger´s fictional universe. The main point of this work is try to answer the following question: does the TV show reassert or denies the librarian stereotype? Conclusion shows that still there a lot to do úntil the total desconstruction of that rooted idea in viewers´minds as current professional profile. However, the TV show is helping to develop people´s imaginary about librarians. Keywords: Librarians. Stereotype. Serie. Profile. 1 INTRODUÇÃO A proposta apresentada no presente artigo é analisar a quebra ou confirmação dos estereótipos em “The Librarians”, série televisiva baseada em cinematografia de mesma nomenclatura, produzida pela emissora Turner Network Television (TNT). Produzida por John Rogers, o seriado tem dez episódios, cada um com quarenta e dois minutos de duração, e está prevista uma segunda temporada. Esta produção acadêmica tem como metodologia a revisão bibliográfica, que consiste na observação da produção intelectual de outros autores, assim como reproduzir um diálogo entre os mesmos voltado a construção de estereótipos e 71 Graduando em Biblioteconomia pela UFG. E-mail: [email protected] 300 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 posteriormente uma análise sobre os personagens que detêm o título de bibliotecário na trama. Ainda será abordada a importância de se entrar em contato com a motivação da reprodução dessa produção. Sabendo-se que profissional da informação engloba várias áreas, dentre elas arquivistas, cientistas da informação, gestores da informação e bibliotecários, reservamos o termo profissional da informação apenas para bibliotecário, que se torna o foco desta produção. “Por que os estereótipos no contexto da biblioteconomia, afetam o profissional?” será um dos questionamentos que serão debatidos dentro do desenvolvimento dessa produção, assim como, o posicionamento de diferentes autores sobre o mesmo artigo. Uma representação do questionamento acima pode-se ser levada em conta pela seguinte argumentação: [...] antes o bibliotecário era tido como um homem erudito, sem formação técnica, amante dos livros, agora a profissão é tida como um trabalho tecnicista, majoritariamente feminino. Visão esta que está se transformando novamente com o “moderno” profissional da informação. (ROCHO, 2007, p. 1). A profissão vem evoluindo, se constituído e se solidificando desde a tipografia a disseminação da internet, a cada dia o profissional da informação busca métodos de se manter atualizado aos novos instrumentos de trabalho, sejam elas as novas regras e métodos de catalogação ou os novos softwares produzidos, sendo assim há uma modificação de papeis do profissional, assim como de perfis. Como foi apresentado na produção de Rocho, os estereótipos também sofrem constantes mudanças, tornando o bibliotecário(a) um profissional mutável assim como sua visão pela sociedade e pela mídia. 2 ESTEREÓTIPO Previamente foi apresentado que o bibliotecário como profissional está em constante mudança profissional, e que o mesmo detém um perfil carregado de singularidades e características próprias, características que podem ser denominadas por alguns autores como estereótipos, para abordarmos o nosso objeto de estudo que são essas características singulares dentro do seriado The Librarian precisamos identificar o que é estereótipo e sua diferença entre representações sociais, comumente utilizadas como sinônimos. estereótipos são categorias de atributos específicos que são caracterizadas por sua rigidez, enquanto as representações sociais são distinguidos pelo seu dinamismo. Eles são, no entanto, aspectos substanciais comuns: a construção de estereótipos como formas de conhecimento não-científico, o uso de estereótipos como categorias para classificar indivíduos e circunstâncias, o papel que os sistemas construídos de referência a partir de experiências e modelos transmitidos pelo tradição ou comunicação Social. (MORA, 2002, p. 18). 301 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Estereótipos são rígidos e não-científicos, servem para aproximação, reconhecimento, de um indivíduo, é uma seleção natural feita e peristáltica, nata do ser humano. “No processo de estereotipia, os padrões correntes interceptam as informações no trajeto rumo à consciência”. (BOSI, 1992, p. 113). Para Bosi, a estereotipia é relacionada com informações pré-fixadas, tornando o ato interligado a produção midiática, sendo a mesma referência de padrões de uma sociedade. Ao analisarmos a palavra “[...] estereótipo, derivado do gregostereós (“sólido”) +týpos (“molde”, “marca”, “sinal”). (FREIRE FILHO, 2004, p. 46), podemos perceber que estereótipo nada mais é que um molde sólido no qual se baseia a sociedade para um reforço e construção de algo ou alguém, neste caso, esse alguém é o bibliotecário, Ainda visando a construção do estereótipo segue-se a construção de um perfil profissional. Entendo a expressão perfil profissional como o conjunto de conhecimentos, qualidades e competências próprias dos integrantes de uma profissão. O conceito assim entendido está intimamente ligado à idéia da função profissional – o perfil é delineado pelas habilidades, competências e atitudes necessárias para o desempenho da função profissional. (MUELLER, 1989, p. 63). Muller produz uma significação sobre a construção do perfil profissional, um perfil que se liga intimamente sobre suas habilidades, competências e funções, delineando um personagem característico. Todavia, os estereótipos não são emoldurados por um perfil rico e caracterizado por funções e sim por uma caracterização criada pela mídia. Muito simples percebermos essa construção, utilizando a base de dados Google, inserindo as palavras chave: Librariansfashion ou Librariansdresscode, e por fim selecionando a opção imagens, grande parte do resultado das imagens no banco de dados são de profissionais utilizando vestimentas de cores frias, ligadas a óculos, ou se não, a uma visão fetichista do profissional, a imagem seletiva do senso comum remete ao extremismo, de um lado temos uma senhora aparentando seus oitenta anos com um coque fixo em seus cabelos já platinados pelo tempo, com uma camisa social muitas vezes cinzenta atrás de uma mesa. Segue a imagem. IMAGEM 1: Bibliotecária idosa. 302 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Fonte: BIBLIOTECÁRIAOLD, 2015. Em contra partida, na busca se localiza facilmente bibliotecários, principalmente bibliotecárias, com uma visão fetichista, uma mulher jovem que apresenta seus vinte anos, vestida com uma saia social acima dos joelhos ou um vestido, de cores fortes, subindo uma escada, relembrando as ilustrações Pin ups reproduzidas na década de vinte como nos é apresentada na imagem 2. IMAGEM 2: Bibliotecária Pin up. Fonte: BIBLIOTECÁRIAPINUP, 2015. Levando a imagem iconográfica do bibliotecário de sexo masculino, aumenta-se a precariedade da representatividade, incluindo a pesquisa acima na base de dados, uma vez que a imagem do bibliotecário é quase nula, por esta razão dentre várias outras, cria-se ainda a importância de uma análise crítica em relação ao perfil do profissional. 3 A IMAGEM E A CARACTERÍSTICA A representação do bibliotecário é extremamente incomum, entretanto em alguns casos ela é excêntrica e inesperada, podemos encontrá-la em animações, um forte exemplo se 303 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 passa no clássico das produções Disney, A bela e a Fera, onde temos um senhor que atende a personagem principal, seu nome não é mencionado relembrando a representação que é atribuída ao bibliotecário, mas podemos perceber algumas características: O personagem apresenta ter mais de sessenta anos, utiliza vestes simples, tem um grau de calvície razoável e utiliza óculos, o personagem demonstra satisfação no exercer de sua profissão em seus poucos momentos em cena, assim como uma gentileza extrema para com a protagonista. Segue a imagem do senhor: IMAGEM 3: Bibliotecário A bela e a fera. Fonte: BELA, 2015. 4 APRESENTAÇÃO DOS OBJETOS DE ESTUDO A série “The Librarians” baseia-se na cinematografia de mesma nomenclatura, os filmes são ao todo, três produções: The librarian, quest for the spear; The librarian return to king Salomon’s mines e The librarian curse of the Judas chalice. Em todas as três produções, o protagonista é o renomado bibliotecário Flynn Carsen, interpretado pelo ator Noah Wyle. O seriado em questão que é o objeto de estudo teve a sua estreia em dezembro de 2014. A trama gira em torno de uma biblioteca que recruta os mais célebres intelectuais de sua época que tem conhecimento em diversas áreas, para fazer um exame admissional e com isto, adquirir o cargo de bibliotecário que tem como dever salvar o mundo de influências mágicas, caçando objetos perdidos e enfrentando alguns antagonistas. Os personagens abordados no nosso estudo de caso são Flyn Casen, Jake Stone (Christian Kane), Cassandra (LindyBooth) e Ezekiel Jones (John Kim). Dentre esses quatro personagens faremos uma análise baseada nas atitudes, vestimentas e especialidades. Começando pelo personagem principal Flyn Casen. 4.1 PERSONAGEM FLYN CASEN IMAGEM 4: FlynCasen. 304 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Fonte: FLYN, 2015. Utilizando traje social, gravata, colete, cores opacas, óculos e relógio de bolso, Flyn Casen se demonstra um personagem extremamente caracterizado, sendo o mesmo, o protagonista da franquia The Librarians. O bibliotecário chefe, em sua personalidade exprime um orgulho exacerbado de seu título profissional assim como de seu intelecto altamente desenvolvido para diferentes áreas do conhecimento demonstrando que para permanecer no cargo de bibliotecário, há uma necessidade de uma desenvoltura interdisciplinar. Encontrando barreiras em suas relações interpessoais o personagem prefere se reter ao âmbito de sua carreira. Flyn Casen, observado pela visão social, nos mostra que podemos encontrar diversos estereótipos se reafirmando, com o desenrolar da trama, algumas dessas características vão se suavizando enquanto outras permanecem intactas. Comparando Flyn Casen o bibliotecário Michael Hanlon, do filme It baseado no livro de autoria de Stephen King, ambos em seu âmbito são considerados heróis, uma vez que ambas as tramas mesclam características fantásticas dentro de um universo real e ambos seguem o estereotipo da vestimenta, com coloração fria e a seriedade profissional. Michael, em contrapartida tem uma boa relação interpessoal durante a trama desde a infância, que já se apresenta no começo da trama, um diferencial em personagens normalmente caracterizados como bibliotecários é que Michael é um homem negro, o que é raramente caracterizado na profissão, levando em conta os exemplos disponíveis na mídia, mas não é só no caso dos bibliotecários que a representatividade do homem negro é baixa, em inúmeras profissões principalmente as que exigem ensino superior o homem negro é excluído. IMAGEM 5: Michael Hanlon IT. 305 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Fonte: MICHAELIT, 2015. 4.2 PERSONAGEM JAKE STONE Jacob Stone ou Jake como costuma ser tratado dentro do seriado por seus companheiros, deve ser considerado o personagem com a maior quebra de estereótipos da trama, poucos modelos se encaixam nesse personagem, seu elevado QI(Quociente de inteligência) que atinge cento e noventa, e sua incrível abrangência intelectual na área de história da arte, o aproximam do ideal de bibliotecário dentro da série, sendo esses conhecimentos se mostrando úteis durante os episódios que se seguem. Jake fisicamente se difere completamente do primeiro bibliotecário apresentando Flyn Casen, Jake tem um corpo robusto, com a musculatura mais desenvolvida, seu estilo de vestimenta se aproxima muito com o de um cowboy, entretanto permanece a característica da coloração “padrão”, cores frias em predominância, o que o torna visualmente desassociado do imaginário pré-construído sobre o profissional, com um corpo forte e alto, idade que estimada entre trinta anos. Assim como Flyn Casen, Jake se demonstra extremamente corajoso além de um exímio combatente corpo a corpo, atributos normalmente desassociados a bibliotecários. IMAGEM 6: Jake Stone. 306 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Fonte: JAKE, 2015. Jake em muitas cenas demonstra não confiar em seus companheiros escolhendo tarefas solitárias, essa característica individualista se mantem em todos os personagens com o título de bibliotecários dentro do seriado, algo que é explorado e trabalhado no episódio final da primeira temporada, onde os mesmos tem a escolha de trabalhar individualmente ou em conjunto, podemos comparar essa preferência em atividades com menor contato com outros indivíduos com os bibliotecários que preferem a área do processamento técnico, para assim, evitar o contato com o usuário, sendo este fator que se fixa ao imaginário da população de que o bibliotecário é um profissional “tímido” e reservado, o estilo despojado do personagem e sua natureza tranquila se contrapõe criando um misto de confirmações e rejeições de estereótipos. 4.3 PERSONAGEM EZEKIEL JONES Ezekiel Jones, dentro do universo fantástico criado por John Rogers foi aderido ao papel de bibliotecário, assim como os outros personagens por suas características e peculiaridades que os tornavam únicos. As habilidades deste personagem, dentre todos os outros são as que mais se aproximam e ao mesmo tempo as que mais se diferem do contexto profissional, Ezekiel Jones antes de conseguir o cargo na “biblioteca” detinha o título de estelionatário multinacional, utilizando de seus conhecimentos dentro da área tecnológica para executar furtos em museus com obras de alto valor, suas características marcantes como egoísmo, avareza são diversas vezes trabalhadas durante os episódios. Atualmente com a evolução da profissão, nos encontramos cada vez mais emersos a tecnologia, novas bases de dados, novos softwares, tornando a inserção do bibliotecário nesse ramo tecnológico indispensável para a evolução profissional. Comumente os bibliotecários são associados ao papel de guardiões do conhecimento, figuras metódicas e de trabalho clássico e enraizado a uma tradição, tradição que em nada se liga ao meio tecnológico. 307 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O bibliotecário, enquanto mediador da informação, também deve atuar nos ambientes virtuais, ampliando as atividades desenvolvidas nos ambientes físicos das bibliotecas, facilitando o acesso e uso da informação nesses ambientes. Esse profissional da informação além de permitir a inclusão social dos sujeitos, também deve atuar na inclusão digital, permitindo o acesso às tecnologias, como também favorecendo o desenvolvimento de habilidades e competências associadas ao uso dessas. (SANTOS, 2014, p. 40) Como foi apresentado por Santos, o bibliotecário está emerso ao meio virtual, e ter um personagem que representa a classe, e que detém meios de conhecimento dentro da área virtual ajuda a desmistificar o papel do bibliotecário na sociedade. Ezekiel Jones assim como os outros personagens utiliza roupas de coloração fria, entretanto seu estilo de vestimenta informal e sua idade reforçam a quebra de estereótipos, como a senilidade e o traje padrão do profissional do sexo masculino. IMAGEM 7: Ezekiel Jones. Fonte: EZEKIEL, 2015. 4.4 PERSONAGEM CASSANDRA A construção dos estereótipos femininos dentro da profissão são inúmeras tal como suas referências, tanto na literatura erótica de Belle Logan, A bibliotecária, como em séries, como Ingrid Beauchamp do seriado Witches os eastend, entretanto Cassandra é um personagem que foge dos extremos e se aproxima da realidade, ela não carrega características de idade avançada assim como características explicitamente sensuais, não possui habilidades de combate como Jake assim como capacidades com tecnologia avançada como Ezekiel, entretanto Cassandra demonstra conter uma exímia capacidade matemática. Em suas vestes utiliza novamente as cores frias, mais especificamente o branco e o azul, entretanto buscando estampas chamativas, com pré-disposição para estampas florais, seu cabelo ruivo é uma característica marcante e diferencial assim como os traços asiáticos de Ezekiel, os únicos pontos que podem ser associados à construção do profissional no imaginário comum seria a sua personalidade: Pacífica e tímida, evitando liderar em diversas situações, reforçando assim 308 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 a ideia do bibliotecário como um profissional introspectivo, a característica solitária do profissional se mantém nessa personagem. IMAGEM 8: Cassandra. Fonte: CASSANDRA, 2015. 5 METODOLOGIA Neste trabalho, utilizamos como metodologia a revisão teórica, buscando debater o seguinte questionamento: Os personagens do seriado The Librarians, reforçam ou rejeito o estereótipo do bibliotecário? Observamos a produção intelectual voltada para o tema estereótipo, assim como revisão e analise dos episódios da primeira temporada do seriado The Librarians, este trabalho tem com público alvo alunos e professores do curso de biblioteconomia, tal como estudiosos das áreas de semiótica e ciências sociais que abordam o tema estereótipo dentro de sua área de estudo. O processo de revisão de episódios da série The librarians, ao todo dez episódios, cada qual com estimativa de tempo de quarenta e dois minutos, totalizando quatrocentos e vinte minutos, foi utilizado também uma pesquisa dentro de monografias e artigos sobre personagens caricatos possuidores do cargo de bibliotecários, seja em longa metragens, livros, seriados e Hq´s. 6 CONCLUSÃO Se tratando da imagem, Satre nos passa uma mensagem: “Um trabalho sobre a imagem deve se constituir como uma eidética da imagem, isto é, fixar e descrever a essência dessa estrutura psicológica tal como aparece à intuição reflexiva” Sartre (1978) Sendo assim, 309 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 para constituir uma ideia de imagem, a mesma deve ser reflexiva e fixa, para o bibliotecário chegar ao atual índice de representatividade, foram décadas de uma ideia se reafirmando socialmente, para que essa imagem seja refutada necessita-se de uma fixação e uma reafirmação do profissional da informação inserido dentro do mercado atual, revelando seu carácter como administrador, pesquisador, gestor e profissional inserido no âmbito tecnológico. Salientar que, o bibliotecário não se prende a localização de livros na estante é um começo necessário, assim como uma atitude mais positivista deve partir do bibliotecário, muitos profissionais temem o serviço de referência que é se refere ao contato direto com o usuário sendo assim, se recolhem ao processamento técnico, o tornando um refúgio, talvez seja esse um motivo para o reforço de um dos estereótipos da profissão: Timidez. A série The Librarians, simplesmente pelo seu enredo já desconstrói o imaginário, bibliotecários em aventuras, enfrentando contra antagonistas, caçando relíquias e salvando o mundo. Construir a imagem de bibliotecários salvando o mundo, sobre o olhar dos usuários se mostra uma situação abstrata, mas o seriado vai além, com a construção de seus personagens cada qual com uma personalidade e habilidades únicas, sejam elas desassociadas ou associadas dentro da profissão, entretanto, ainda estamos longe da dissociação completa. Mesmo com um bibliotecário com vestes tão desassociadas como Jake, e outro bibliotecário com hobbies ilegais como Ezekiel, ainda necessitamos trabalhar muitos aspectos que nos puxam para a ligação ao profissional estereotipado, para isso, necessita-se de uma reafirmação diária, assim como um trabalho sobre o marketing do profissional melhor aplicado, produzindo-se um elo entre a realidade e o imaginário mais condizente com a realidade profissional do bibliotecário. REFERÊNCIAS A MUMIA. Direção de Stephen Sommers. Produção de Sean Daniel; James Jacks. Roteiro: Stephen Sommers. [s.i]: Alphaville Films, 1999. (57 min.), son., color. A BELA e a fera. Direção de Gary Trousdale. Produção de Don Hahn. Roteiro: Linda Woolverton. [s.i]: Disney, 1991. (84 min.), son., color. BATMAN: A piada mortal. São Paulo: Dc Comics, v. 1, n. 1, 1988. Mensal. BOSI, Ecléa. Entre a opinião e o estereótipo. Novos Estudos: São Paulo, n. 32, p. 111-118, mar. 1992. 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Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A COMPETÊNCIA DO BIBLIOTECÁRIO NAS UNIDADES DE INFORMAÇÕES MILITARES: um relato de experiência na biblioteca Patrão-Mor Aguiar da Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará GT 5: modalidade oral SILVA, Sara Jaqueline Santos72 RESUMO O advento das tecnologias da informação, o uso crescente da internet e a sociedade do conhecimento proporcionaram uma nova postura do usuário e, consequentemente, nas bibliotecas, exigindo novas competências e habilidades a serem desenvolvidas pelo bibliotecário. O principal objetivo da biblioteca, agora, está em função do usuário. Portanto, com a crescente demanda de mercado e públicos com diferentes necessidades de informação, abordamos em nosso estudo como são desenvolvidas as funções e competências do bibliotecário em uma instituição militar, mediante a conciliação de duas funções, bibliotecário e militar. O objetivo é abordar a atuação desse profissional através de um relato de experiência na Biblioteca Patrão – Mor Aguiar da Escola de aprendizes Marinheiros do Ceará. Utilizamos como técnica de coleta dados a observação participativa, levantamento bibliográfico para embasamento teórico e classificamos a pesquisa do tipo exploratória. Concluímos que no ambiente militar o bibliotecário não se dispõe de tempo para dedicar-se a sua função. Porém, mesmo com as dificuldades a Biblioteca Patrão-Mor Aguiar realiza suas ações. Palavras-chave: Bibliotecário Militar. Biblioteca Patrão Mor-Aguiar. Escola Aprendizes de Marinheiros do Ceará. ABSTRACT The advent of information technology, the increasing use of the Internet and the knowledge society provided a new user posture and, consequently, libraries, requiring new skills and abilities to be developed by the librarian. The main purpose of the Library now is due to the user. So, with the increasing market demand and public with different information needs, we address in this study as they are developed functions and librarian skills in a military institution, by conciliation two functions, librarian and military. The goal is to address the performance of this professional through an experience report on the Boss Library - Mor Aguiar School of Seamen Apprentices of Ceará. We used as data collection technique the participant observation, literature for theoretical and classify research of the exploratory type. We conclude that the military environment the librarian does not have the time to dedicate to their function. But even with the difficulties the Boss-Mor Library Aguiar conducts its actions. Keywords: Librarian Military. Boss Mor- Aguiar library. School Apprentice Sailors of Ceará. 1 INTRODUÇÃO 72 Graduanda em Biblioteconomia pela UFC. Email: [email protected]. 312 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O campo de atuação do bibliotecário atualmente é muito crescente. E, os motivos, além de a Biblioteconomia ser uma área multidisciplinar, estão relacionados às habilidades e competências desse profissional em se adaptar as mudanças e demandas impostas pelo mercado. O advento das tecnologias da informação e a internet permitiram um avanço significativo para os profissionais da informação, a recuperação da informação através de sistemas automatizados, disponibilização de serviços online, entre outros. As mudanças não estão relacionadas somente com a introdução das novas tecnologias, mas também com a nova postura dos usuários frente a uma gama de informações disponíveis. Desse modo, o usuário passou a ser a principal prioridade das bibliotecas, tudo deve ser feito e pensado em prol da satisfação do mesmo. No entanto, o bibliotecário deve acompanhar os avanços tecnológicos para manter-se atualizado, estudar o perfil de público para atender suas demandas informacionais e promover serviços e ações que vão ao encontro do mesmo. Essas competências são adquiridas mediante ao constante aprendizado, requerendo que esses profissionais se qualifiquem e estejam sempre atentos as novidades referentes ao ambiente de trabalho ao qual está inserido. Mediante a esse contexto, abordaremos a atuação do bibliotecário na Marinha do Brasil (MB) através de um relato vivenciado na biblioteca Patrão – Mor Aguiar da Escola de Aprendizes Marinheiros do Ceará (EAMCE). A escola possui uma biblioteca especializada e também com características de uma biblioteca escolar, possui um público diferenciado, em sua maioria do sexo masculino, o qual possui o objetivo de oferecer suporte aos cursos de formação dos militares, além de possuir uma variedade de livros, CDs e DVDs de diversas áreas do conhecimento e entretenimento. O bibliotecário na instituição militar, assim como os demais profissionais que atuam na mesma, não possui somente a obrigação com os fazeres referentes à sua área de formação, mas também com outras funções que lhe são designadas pelo seu superior. Dessa forma, quais são as competências que o bibliotecário deve possuir nas instituições militares para atender as demandas do seu público e promover ações que vão ao encontro de seus usuários, haja vista que o mesmo possui outras funções colaterais específicas do militarismo? Objetivo da pesquisa é abordar a atuação do bibliotecário na biblioteca da EAMCE e como são desenvolvidas suas ações para um público diferenciado. No entanto, iremos falar um pouco sobre as tendências do perfil e atitudes do bibliotecário na contemporaneidade, na questão do saber e do fazer frente às novas demandas de mercado. 313 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Classificamos a pesquisa do tipo exploratória, o qual nos permite a aproximação e conhecimento sobre o assunto, o relato de experiência deu-se pela observação participativa, na condição de estagiária da Biblioteca, e para o embasamento teórico das ideias apresentadas realizamos o levantamento bibliográfico. 2 O PERFIL DO BIBLIOTECÁRIO DA ATUALIDADE O Bibliotecário possui a função de organizar a informação, em qualquer suporte, para que a mesma possa ser recuperada. As demais funções que também são de sua competência, como gerenciar uma unidade de informação, desenvolver projetos culturais e educativos, normalização de trabalhos acadêmicos, pesquisas bibliográficas, entre outros, irá depender do local onde o mesmo irá atuar. No entanto, as mudanças sociais e tecnológicas requer que esse profissional esteja em constante aperfeiçoamento e aprendizado. À medida que as bibliotecas evoluem-se, os profissionais bibliotecários que as conduzem também sofrem diversas transformações, adentrando-se a novos perfis que requerem competências e habilidades contínuas, com vistas a adaptarem-se a essas transformações, aprimorando suas capacidades de gerenciamento em fase dos novos desafios instituídos no bojo dessas unidades de informação (SANTA ANNA, 2015, p. 143). As funções desempenhadas pelo bibliotecário há algum tempo atrás estavam voltadas para o acervo físico da biblioteca, ou seja, apenas organização e cuidado com os livros e não havia outra preocupação. Esta organização era de forma manual através de fichas catolográficas e catálogos. Atualmente com o crescente aumento da produção científica e o advento da internet, possibilitou que uma gama de conhecimentos fosse disponibilizada em meio eletrônico. A sociedade passa a possuir novos meios alternativos para a obtenção da informação. A informação passa a ser a moeda de troca, onde é através dela que o indivíduo torna-se crítico, toma suas decisões e desenvolvem suas tecnologias. Contudo a informação adquiriu valor significativo tanto para as organizações quanto para as pessoas que de modo geral necessitam desse recurso para transformar sua realidade e tornarem-se cidadãos mais críticos. No setor industrial a informação tornou-se a base das pesquisas sendo fundamental para o desenvolvimento das tecnologias e da ciência (COELHO, 2010, p. 3). Desse modo, o usuário não quer mais perder tempo, pois a internet lhe proporciona informações em segundos, não quer dizer que sempre é de qualidade, mas, sim, em quantidade. As mudanças advindas com a tecnologia exigiram novas habilidades para os profissionais que lidam com a informação, em especialmente o bibliotecário. Nessa expectativa, as bibliotecas, por sua vez, devem se mobilizar dentro das expectativas profissionais e dos seus usuários alterando de forma expressiva os sistemas, de forma a facilitar o acesso e uso, para que se realize tal intento de 314 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 maneira que haja aptidões para o desenvolvimento do profissional (COSTA; ALMEIDA JÚNIOR, 2012, p. 60). As funções, agora, competentes do bibliotecário estão voltadas primeiramente ao usuário, onde esse profissional terá de conhecê-lo primeiramente para atender as suas necessidades informacionais e possuir o domínio e acompanhamento das tecnologias da informação para o melhor gerenciamento do conhecimento e habilidades na recuperação da informação. As mudanças que serão exigidas no decorrer do trabalho do bibliotecário deverão constar de muita valorização do usuário na utilização de tecnologias para atingir o grande público e em razão de estabelecer uma relação confiável, em parceria com o usuário (COSTA; ALMEIDA JÚNIOR, 2012, p. 83). Entretanto, para que haja uma relação de parceria tem que haver uma relação recíproca, a biblioteca deve oferecer meios para que o usuário possa se sentir parte dela e para que o mesmo possa vê-la como um local que lhe oferece recursos e suportes informacionais, não somente como um local puramente intelectual, mas também como um espaço agradável de estudos, sociabilidade e entretenimento. Todavia, o desenvolvimento de ações em unidades informação e as formas de abordagens para a divulgação de seus serviços devem ser elaborados correspondendo o perfil de sua comunidade ao qual está inserida. [...] entende-se que esses profissionais, devido à capacidade de transformação e adaptação que possuem, adequam-se a diferentes ambiências, ampliando seu campo de atuação ao exercer atividades variadas, seja no âmbito das bibliotecas convencionais quanto nas digitais, seja em centros de documentação, no gerenciamento da informação organizacional, podendo atuar também, na prestação de serviços informacionais, com uma postura autônoma e empreendedora. (SANTA ANNA, 2015, p. 139). Mediante a esse contexto, abordaremos a atuação do bibliotecário em Biblioteca da Marinha, um local que possui um regime de trabalho caracterizado por hierarquia e obediência, onde as atitudes de cada membro da instituição devem ser de acordo com suas normas de comportamento. 3 BIBLIOTECA PATRÃO MOR-AGUIAR DA ESCOLA DE APRENDIZES MARINHEIROS DO CEARÁ A Escola de Aprendizes de Marinheiros do Ceará (EAMCE) foi criada em 26 de novembro de 1864, seu objetivo é formar marinheiros para o Corpo de Praças da Armada (CPA), proporcionar aos seus alunos preparo intelectual, físico, psicológico, moral e militarnaval e habilitação básica ao exercício de atribuições destinadas aos marinheiros dos Quadros Suplementares (QS). O curso de formação de marinheiros é ministrado por uma equipe de professores formados em licenciaturas, para o ensino das disciplinas básicas de aprendizado 315 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 dos alunos, como, português, matemática, história, física e inglesa, e as disciplinas específicas, como, marinharia, código penal militar, e de assuntos relacionados à Marinha do Brasil (MB) são ministrados pelos militares. A escola forma em média 600 alunos por ano que após sua formação irão servir a Marinha em diversos estados do Brasil. O ensino na Marinha possui características próprias e obedece a um processo contínuo e progressivo de educação, constantemente aprimorado e atualizado, estendendo-se desde afirmação inicial até os níveis elevados de qualificação, visando a prover o conhecimento básico, profissional e militar-naval necessário ao cumprimento da missão constitucional da Marinha. (BRASIL, 2009, online). A escola não possui, somente, o interesse de formar militares especialistas nos assuntos relacionados às suas futuras profissões, mas, sim, para uma maior agregação de conhecimentos e valores através das disciplinas voltadas as outras áreas do conhecimento. 3.1 A Biblioteca Patrão – Mor Aguiar A Biblioteca Patrão Mor - Aguiar foi fundada em meados de 1972. O prédio em que está situada atualmente foi inaugurado em 2008. O seu nome é uma homenagem ao militar, cearense, José Maria Aguiar, nasceu em 25 de maio de 1886 na cidade Ipaguasú Mirim, distrito de Massapê (CE). Iniciou sua carreira como Aprendiz-Marinheiro em 1901, promovido a Capitão-Tenente Patrão- Mor em 1949. Serviu a MB durante 62 anos e faleceu em 19 de junho de 1963 no Rio de Janeiro. O acervo da Biblioteca é constituído por livros, periódicos CDs e DVD’s de assuntos técnicos da Ciência Militar e de diversos assuntos relacionados ao militarismo; outras áreas do conhecimento e entretenimento. O sistema utilizado é o Pergamum, o qual está interligado a Rede de Bibliotecas da Marinha (Rede BIM), gerenciada e coordenada pela Diretoria do Patrimônio Histórico e Documentação da Marinha (DPHDM). Os objetivos da Rede BIM, segundo o seu manual de catalogação (2010), pontuam: integrar as bibliotecas das diversas organizações militares (OM) em uma única base de dados; disponibilizar a consulta na base pela Internet/Intranet, promover a cooperação de dados e itens bibliográficos e a padronização das Bibliotecas da Marinha em um só sistema, visando os seguintes resultados: sistema único, consulta online, menos custos e empréstimo entre bibliotecas. A equipe da biblioteca, na época em que estava estagiando (agosto de 2013 a agosto de 2014), era composta por uma bibliotecária, uma professora de história e um assistente (militar não especializado), duas estagiárias de Biblioteconomia, uma estagiária de administração e os alunos da instituição que prestam serviço na Biblioteca. A EAMCE possui 14 pelotões de alunos o qual são selecionados 14, um de cada pelotão, para dar serviço na 316 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 biblioteca, ou seja, cada dia um aluno de um pelotão cumpri uma carga horária de trabalho na Biblioteca, sendo estes denominados de “bibliotecários” (termo utilizado pela instituição). Vale ressaltar que os trabalhos específicos da Biblioteca são realizados somente pela bibliotecária e as estagiárias de Biblioteconomia, o restante da equipe apenas utilizam o espaço para a realização de seus trabalhos referentes às suas respectivas áreas de atuação. Todavia, os mesmos realizam o atendimento dos usuários ocasionalmente quando preciso. 4 RELATO DE EXPERIÊNCIA A vivência como estagiária no ambiente militar possibilitou o acompanhamento da rotina da bibliotecária, responsável pela biblioteca, na instituição. No militarismo todo o profissional é primeiramente militar, devendo cumprir o que lhe for consignado. Ao responsável pelo setor da Biblioteca cabe à administração, preparo técnico, serviço de referência. Porém, como todos os militares, possuem suas funções principais e também lhe é designado outras funções colaterais. O profissional exerce suas habilidades dentro da sua área e deve desenvolver competências para as devidas necessidades e ocasionalidade da instituição. Embora a Biblioteca possua uma equipe aparentemente grande para sua estrutura física, as funções desempenhadas por cada um dos seus membros não vão ao encontro de suas necessidades, em relação ao fornecimento de serviços para os seus usuários. A bibliotecária realiza a gestão de todos os processos de tratamento técnico, serviços e divulgação, e é também a mentora das atividades desenvolvidas. A execução dos serviços são realizadas pelas estagiárias, cabendo a gestora a supervisão dos trabalhos o qual lhe permite o conhecimento sobre os títulos inseridos no sistema, o fluxo de usuários, o quantitativo de empréstimos, as sugestões de aquisições, entre outros. Permitindo a conciliação entre as suas funções colaterais. Os métodos utilizados para o treinamento dos pelotões dos alunos que fazem parte do curso de formação de marinheiros é realizado através de palestras (educação do usuário), visitas orientadas (localização da obra no acervo); orientação à pesquisa no sistema Pergamun e distribuição de folders. As instruções para a tripulação acontecem individualmente na medida das suas necessidades. A rotina no ambiente militar é corrida e ao mesmo tempo tensa, devido as responsabilidades em que cada militar possui com seu superior. Portanto, é importante sempre lembrar que a biblioteca não possui somente a função de oferecer suportes informacionais, mas também um espaço agradável de entretenimento e prazer. 317 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Todavia, observamos que mesmo mediante a falta de tempo a Bibliotecária procura lembrar-se dos seus usuários de uma maneira especial, provendo ações nas datas comemorativas para ao mesmo tempo valorizar seus usuários e divulgar seu acervo e serviços. Essas ações promovem a interação entre os membros de vários setores da instituição, proporcionado a oportunidade de conhecer melhor a Biblioteca e o que a mesma tem a oferecer. Nesses encontros a troca de ideias de leituras é muito comum entre os participantes. Vale ressaltar que nesses encontros é sempre destacado, pela bibliotecária, a importância e utilização da Biblioteca. No convívio de trabalho na biblioteca Patrão – Mor Aguiar foi notado que o bibliotecário possui sua função principal de responsável pela biblioteca, como falamos anteriormente, mas por fazer parte do Corpo de Oficiais da Armada73, deve participar de reuniões, denominada de “parada”, que são muito frequentes na organização. As funções colaterais às vezes são realizadas em outros setores, o qual eram um dos motivos da ausência da bibliotecária na biblioteca. Dificultando, de certo modo, que haja um contato maior desse profissional com seus usuários. Os usuários da biblioteca, em sua maioria, eram os alunos do curso de formação de marinheiros, o qual é o objetivo da escola, os quais possuíam muita frequência na biblioteca. Alguns utilizavam materiais referentes às disciplinas do curso, mas a maioria eram livros de entretenimento. Fato observado empiricamente e através do livro de empréstimos. Os demais militares e civis que trabalhavam na instituição procuravam, em grande parte, livros relacionados a alguma área de formação realizada fora do ambiente militar, entretenimento, e para algum membro da família. No entanto, esses eram um dos critérios pensados no planejamento das atividades realizadas. Não havia muito tempo para pensar em projetos de grande porte para biblioteca e oferecimento de serviços contínuos, devido à falta de pessoal como mencionamos a cima. Portanto, a biblioteca não apenas funcionava como um local de empréstimos e devoluções. A responsável pelo setor buscava oferecer promoções para os usuários nas datas comemorativas, realização de exposição de livros de interesse do seu público, eventos de interação e sociabilidade na biblioteca. Dentre as ações desenvolvidas estão: o sorteio de prêmios para os usuários que efetivaram empréstimos; o “natal da biblioteca”, onde ocorre uma reunião com toda a equipe de trabalho da instituição (militares, civis, alunos) para um momento de reflexão através de 73 Os Oficiais do Quadro de Oficiais da Armada são ordenados em uma escala hierárquica, constituída pelos postos de Segundo-Tenente a Almirante de Esquadra (MARINHA DO BRASIL). 318 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 leituras relacionadas, música, troca de mensagens, sorteio de brindes e exposição de clássicos literários. Vale destacar que a biblioteca não disponha de recursos financeiros para a realização das atividades o qual eram feitas através da contribuição da bibliotecária e de outros militares que trabalham no setor da biblioteca. Portanto, apesar da presença da bibliotecária no setor da biblioteca possuir uma frequência certa, a biblioteca era assistida pela mesma através da administração e delegação de tarefas o qual permitiam um bom funcionamento da biblioteca e a disponibilização de serviços. 5 METODOLOGIA O estudo principal desse trabalho é demonstrar as competências realizadas pelo bibliotecário na Biblioteca Patrão Mor-Aguiar da EAMCE através de um relato vivenciado na instituição e pertencente do setor da biblioteca. Desse modo, classificamos a pesquisa do tipo exploratória de abordagem qualitativa que, segundo Gil (1999, p. 43) “as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver, esclarecer e modificar conceitos e “ideias”, proporcionando uma maior familiaridade com o problema, com vista a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses [...]”. “Habitualmente, esse tipo de pesquisa, envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistas não padronizadas e estudos de casos” (GIL, 1995, p. 44). Portanto, analisamos alguns sites da marinha para tomarmos como base, sobretudo para fala sobre a rede BIM, e revisão de literatura em artigos científicos e livro para nos apoiar em um maior embasamento teórico. A pesquisa bibliográfica ou de fontes secundárias trata de levantamento de toda a bibliografia já publicada, em forma de livros, revistas, publicações avulsas e imprensa escrita. Sua finalidade e colocar o pesquisador em contato direto com tudo aquilo que foi escrito sobre determinado assunto (MARCONI; LAKATOS, 2012, p. 44). O relato de experiência deu-se através da observação participativa, onde “o observador não é apenas um espectador do fato que está sendo estudado, ele se coloca na posição e ao nível dos outros elementos humanos que compõem o fenômeno a ser observado” (PERES, 1999, p. 261). No entanto, no período em que trabalhei na instituição na função de estagiária, agosto de 2013 a agosto de 2014, foram observados as competências da bibliotecária na instituição e participação nos trabalhos na biblioteca. 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 319 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 No entanto, podemos perceber que a atuação do bibliotecário na instituição militar requer desse profissional competências que vão além da sua formação, considerando que o mesmo irá desempenhar outras funções de acordo com as necessidades da instituição. A bibliotecária possuía grandes obstáculos para a realização de serviços referentes à sua área de atuação, como a falta de tempo e recursos. Podemos perceber que a competência do bibliotecário, para que o mesmo possa atuar em várias funções e torna-se presente na vida de seus usuários está no planejamento, gerenciamento e delegação das atividades e instrução da equipe de trabalho. Notamos que biblioteca Patrão-Mor Aguiar não deixa de assistir seus usuários e realiza ações que fazem parte de seus interesses. REFERÊNCIAS BRASIL. 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Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 GT 6 Livre 322 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 ANÁLISE INFOMÉTRICA: UMA VISÃO DIFERENCIADA SOBRE A ÓTICA DO PROFISSIONAL DA INFORMAÇÃO Grupo Temático 6: Livre; Modalidade: Artigo – oral CRAVO, Giovanna Moreira74 RADI, Willian Wronski75 GUERRA NETO, Leonardo Jeremias76 BOESING, Cristiane Gabriela77 RESUMO Tendo como premissa o volume de publicação de artigos em diversos campos do conhecimento e necessidade de métodos que permitam medir a produtividade dos pesquisadores, grupos ou instituições de pesquisa torna-se necessário o uso de técnicas específicas de avaliação aliada a profissionais que saibam analisar os resultados obtidos nas métricas. Este artigo tem como objetivo unir a teoria ao método quantitativo de análise infométrica e demonstra quais os artigos, autores e revistas mais relevantes dentro do tema estabelecido, apresentando analises a partir dos resultados obtidos em forma de gráficos e tabelas. Selecionou-se a base de coleção da Web of Science com o tema rede social (Facebook), nas seguintes categorias: Computer Science Information Systems, Communication, Psychology Multidisciplinary, entre 2012 e 2014, totalizando 500 (quinhentos) artigos. Foi utilizado na pesquisa o método de fundamentação teórica para conceituar os diferentes termos utilizados na pesquisa e análise infométrica. Como resultados, obteve-se: a produtividade de artigos por ano; as palavras-chaves mais utilizadas; a frequência de artigos por numero de autores; os periódicos que mais publicaram e autores que mais escreveram. Por fim, conclui-se a importância do profissional da informação para análises infométricas nos diferentes campos do conhecimento. Palavras-chave Web of Science, Infometria, Facebook, Midia social, Profissional da Informação. ABSTRACT Premised on the number of published articles in various fields of knowledge and the increasing need for methods to measure the productivity of researchers, groups and research institutions making it necessary to use specific evaluation techniques, this article describe the theory and the quantitative method of infometrics analysis. Presenting the, more relevant authors and magazines with the established theme, presenting the results in graphs and tables. For this we selected the collection of basic Web of Science themed social network (Facebook), in the following categories: Computer Science Information Systems, Communication, Psychology Multidisciplinary between 2012 and 2014, totaling 500 (five 74 Graduanda em Gestão da Informação pela UFPR. E-mail:[email protected] Graduando em Gestão da Informação pela UFPR. E-mail: [email protected] 76 Graduando em Gestão da Informação pela UFPR. E-mail:[email protected] 77 Graduanda em Gestão da Informação pela UFPR. E-mail: [email protected] 75 323 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 hundred) items. Was used to search the theoretical foundation method to conceptualize the different terms used in infometrics research and analysis. As a result of research infometrics was obtained: articles productivity per year; the most used keywords; the frequency of articles by number of authors; journals that have published more and more authors wrote. Finally, it is identified, the importance of professional information for infometrics analyzes in different fields of knowledge. Keywords: Web of Science, Infometrics, Facebook, Social Media, Professional Information. 1 INTRODUÇÃO Tendo como premissa a quantidade de publicação de artigos em diversos campos do conhecimento, aumentou a necessidade de métodos que permitam medir a produtividade dos pesquisadores, grupos ou instituições de pesquisa tornando assim imprescindível o uso de técnicas específicas de avaliação que podem ser quantitativas ou qualitativas. Com isso, foram criadas técnicas de avaliação métricas para suprir necessidades e este artigo pretende mostrar uma técnica quantitativa conhecida como análise infométrica. Polanco(1995) afirma que a “infometria comporta uma síntese da bibliometria e da cientometria, mas também como Brookes destacou, [...] ela significa uma abertura ao estudo matemático da informação e sobre suas formas documentárias seja eletrônica ou física”. O artigo aprofunda-se na análise de referencial do tema mídia social Facebook, devido à ascendência do uso das redes sociais de acordo com pesquisa feita pela Serasa Experian, em que é possível notar o forte interesse pelas mesmas nos últimos anos. Acreditase, então, que esse meio tende a crescer nos próximos anos. Com isso, foi analisado o aumento de publicações entre 2012 e 2014 nas categorias consideradas relevantes para a área de informação, como: Communication, Psychology Multidisciplinary, Computer Science Information Systems da base de coleção da Web of Science refletindo na estima do profissional da informação para análise infométrica de diferentes áreas do conhecimento. Para compreender a importância do tema abordado o artigo buscou fundamentação teórica de diferentes autores, além de especificar a metodologia, os objetivos, os resultados obtidos e a importância do profissional da informação para análise infométrica. 2 OBJETIVO 324 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O objetivo do trabalho foi unir a teoria ao método quantitativo de análise infométrica demonstrando os artigos, autores e revistas mais relevantes dentro do tema estabelecido, apresentando os resultados em forma de gráficos e tabelas. Além disso, a análise infométrica tem como objetivo refletir sobre a importância do profissional da informação para os diferentes campos de pesquisa. Em termos específicos buscou-se fundamentar palavras e expressões relevantes na área da infometria, como: as aderências das leis bibliometricas de Lotka e Bradford, e os meios utilizados, como: a plataforma Web of Science e a mídia social: Facebook. 3 BIBLIOMETRIA, CIENCIOMETRIA E INFOMETRIA: fundamentação teórica Para que seja possível compreender o presente artigo acerca da análise infometrica será apresentado uma breve fundamentação teórica em relação ao assunto. A infometria para o dicionário de Biblioteconomia e Arquivologia apud TAR (p.313) é o termo adotado “em 1987, pela Federação internacional de Documentação(FID) para designar o conjunto de atividade métricas relativas a infomação”. O dicionário também informa que o termo Cientometria ou Cienciometria é a disciplina que tem por objetivo medir as atividades da pesquisa científica tecnológica mediante insumos e produtos. Já a Bibliometria é a analise a quantitativa da comunicação escrita, e é possível aplicar métodos matemáticos e estatísticos a livros e outros veículos de comunicação. Outra contextualização na Bibliometria, segundo Guedes e Borschiver (sd.,p.2) é que o termo é “é um conjunto de leis e princípios empíricos que contribuem para estabelecer os fundamentos teóricos da Ciência da Informação. O termo statistical bibliography – hoje Bibliometria – foi usado pela primeira vez em 1922[...], antecedendo à data a qual se atribui a formação da área de Ciência da Informação, com a conotação de esclarecimento dos processos científicos e tecnológicos, por meio da contagem de documentos.” Polanco (1995) ao abordar infometria afirma que ela se comporta como “uma síntese da bibliometria e da cientometria, mas também como Brookes destacou, [...] ela significa uma abertura ao estudo matemático da informação e sobre suas formas documentárias seja eletrônica ou física”. Ao discorrer sobre o fundamental uso de técnicas específicas de avaliação de produtividade dos autores pode-se citar Vanti (2002) que afirma que: uma das possibilidades consiste na utilização de métodos que permitam medir a produtividade dos pesquisadores, grupos ou instituições de pesquisa. Para tanto, 325 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 torna-se fundamental o uso de técnicas específicas de avaliação que podem ser quantitativas ou qualitativas, ou mesmo uma combinação entre ambas. As técnicas quantitativas de avaliação podem ser subdivididas em bibliometria, cienciometria, informetria e, mais recentemente, webometria. A autora acima continua ainda que “nas últimas décadas [...] tornou-se cada vez mais evidente a necessidade de avaliar tais avanços e de determinar os desenvolvimentos alcançados pelas diversas disciplinas do conhecimento. Neste sentido, apontou-se para a medição das taxas de produtividade dos centros de pesquisa e dos investigadores individuais”. Sobre análise de citações dento da Bibliometria é possível citar Vanz e Caregnato (2003) que afirmam que a bibliometria, enquanto método quantitativo de investigação da ciência utiliza a análise de citações como uma de suas ferramentas, a fim de medir o impacto e a visibilidade de determinados autores dentro de uma comunidade científica, verificando quais “escolas” do pensamento vigoram dentro das mesmas. Além disso, a análise de citações possibilita a mensuração das fontes de informação utilizadas, como o tipo de documento, o idioma e os periódicos mais citados. Utilizando estes indicadores, é possível saber como se dá a comunicação científica de uma área do conhecimento, obtendo-se, assim, um ‘mapeamento’ da mesma, descobrindo teorias e metodologias consolidada. Segundo Vanz e Caragnato (2003) “a bibliometria tem como premissa o fato de que os cientistas constroem seu trabalho a partir de obras anteriores e mostram isso mencionando-as em seus textos, em uma lista de referências.” Na infometria destacam-se importantes autores com suas leis, neste artigo serão analisadas as descobertas de Lotka e Bradford. Cada um destes pesquisadores pode ser identificado com uma “lei” específica. A Lei de Lotka, ou Lei do Quadrado Inverso, aponta para a medição da produtividade dos autores, mediante um modelo de distribuição tamanho-freqüência dos diversos autores em um conjunto de documentos. [...] a Lei de Bradford, ou Lei de Dispersão, permite, mediante a medição da produtividade das revistas, estabelecer o núcleo e as áreas de dispersão sobre um determinado assunto em um mesmo conjunto de revistas. (VANTI, 2002, p.153) Guedes e Borschiver verificam que a Lei de Bradford “permite estimar o grau de relevância de periódicos em dada área do conhecimento, que os periódicos que produzem o maior número de artigos sobre dado assunto formam um núcleo de periódicos, supostamente de maior qualidade ou relevância para aquela área”. Os autores descrevem também que a Lei de Lotka “considera que alguns pesquisadores, supostamente de maior prestígio em uma determinada área do conhecimento, produzem muito e muitos pesquisadores, supostamente de menor prestígio, produzem pouco”. Após identificar a importância e os conceitos da área acima será apresentado o tema que foi selecionado para análise infometrica: mídias sociais, Facebook. 326 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 3.1 Fundamentação teórica ao tema selecionado: mídias sociais (Facebook) Devido ascendência do uso das redes sociais de acordo com pesquisa feita pela Serasa Experian, é possível notar o forte interesse, principalmente, dos brasileiros pelas mesmas nos últimos anos. Acredita-se, então, que esse meio tende a crescer ainda mais com os novos aplicativos de mensagens, como WhatsApp e Line. Segundo a pesquisa “O Facebook foi o primeiro colocado entre as redes sociais mais visitadas em maio no Brasil, de acordo com dados da Hitwise, ferramenta líder global de inteligência em marketing digital da Serasa Experian. A rede atingiu 63,19% de participação de visitas no quinto mês de 2014”. Tendo isto em vista, decidiu-se analisar a consequência do aumento de artigos científicos realizados no período já descrito com a temática Facebook . Castro (2011) comenta que o Facebook é uma rede “que permite conversar com amigos e compartilhar mensagens, links, vídeos e fotografias. A ferramenta criada em 2004 pelos americanos Mark Zuckerberg, Dustin Moskovitz, Chris Hufghes e pelo brasileiro Eduardo Saverin também permite que você receba as novidades das páginas comerciais das quais gostar, como veículos de comunicação ou empresas.” O Facebook Brasil informa que A missão do mesmo “é dar às pessoas o poder de compartilhar informações e fazer do mundo um lugar mais aberto e conectado.”. A empresa afirma que milhões de pessoas usam a rede para compartilhar fotos, links, vídeos e conhecer mais as pessoas com quem se relacionam. Após introduzir o tema abordado é possível selecionar uma base de periódicos para a realização do trabalho, a sessão abaixo fará uma breve fundamentação teórica da base selecionada. 3.2 Fundamentação teórica à plataforma selecionada: Web of Science Há diversas plataformas on-line de pesquisa cientifica, como: Portal de periódicos da CAPES, Plataforma Lattes, SciELO - Scientific Electronic Library Online, entre outros, porém para esta análise buscou apenas a base de coleção da Web of Science, pois segundo a Biblioteca da Escola de Engenharia da UFRGS (sd, p.2) a plataforma Web of Science “é uma base de dados que disponibiliza acesso a mais de 9.200 títulos de periódicos”. A Biblioteca descreve ainda que a base possibilita a identificação de artigos de periódicos em diversas áreas do conhecimento[...]Pode ser utilizado para uma pesquisa de alta qualidade, associando registros, buscando por autores relevantes na área de interesse, por referência citada, recebendo alertas de publicação para assuntos, publicações ou autores, processando os resultados de uma busca e salvando-os ou enviando-os por email, salvando o histórico de buscas, entre outras possibilidades. 327 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 De acordo como a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa “A Web of Science, nome da Web of Knowledge desde Janeiro de 2014 [...] é uma plataforma que permite o acesso integrado a bases de dados referenciais, como a Web of ScienceTM Core Collection, a Current Contents Connect, Derwent innovations Index, MEDLINEe SciELO Citation Index[...]Journal Citation Reports e Essential Science Indicators”. 3 METODOLOGIA O trabalho foi dividido em duas fases: a primeira buscou o levantamento e análise dos dados através de uma pesquisa bibliográfica de referencial teórico, conceituando o tema abordado. Na segunda fase, os conceitos foram aplicados ao método quantitativo de análise infométrica e efetivados nos resultados da pesquisa. Como exemplo de fundamentação teórica apresenta-se Santos(2009, p.156) Apud, Le Coadiac(2004) que afirmam que aqueles que necessitam reunir informações sobre o desenvolvimento da ciência enfrentam, por vezes, enormes desafios para localizar os itens mais pertinentes para subsidiar determinada tarefa. Os desafios se tornaram ainda mais agudos, na sociedade contemporânea, provocados pela progressiva informatização dos métodos de trabalho e a crescente ampliação das formas de armazenamento e de circulação do texto escrito. A análise foi construída apartir da temática Facebook, publicados entre 2012 e 2014, nas seguintes categorias consideradas relevantes para a área de informação: Communication, Psychology Multidisciplinary, Computer Science Information Systems da base de coleção da Web of Science, logo, totalizou 500 (quinhentos) artigos. Tendo como ponto de partida a pesquisa descrita acima foram exportados os dados da base Web of Science para uma planilha no Microsoft Excel, no qual os dados foram tratados, padronizados e empilhados resultando em uma tabela com 6(seis) atributos (registro, autor, título do artigo, periódico publicado, ano publicado, palavra chave) e 500(quinhentos) registros. Para a análise utilizou-se os seguintes indicadores como pertinentes ao estudo: aderência à leis bibliométricas de Lotka e Bradford; produtividade de artigos por ano; palavras-chaves mais utilizadas; frequência de artigos por número de autores; periódicos que mais publicaram e autores que mais publicaram. 4 RESULTADOS OBTIDOS Nesta seção apresenta-se os resultados obtidos na análise feita com os dados, objeto e período já descritos acima. 328 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O gráfico 1 abaixo mostra a produtividade de artigos por ano. Nele é possível observar que a produtividade dos mesmos com a temática Facebook dobrou desde 2012 passando de cento e doze(112) no primeiro ano pesquisado a duzentos e trinta e sete(237) no ultimo ano. Isto manifesta a tendência que é continuar aumentando a produção nos próximos anos. GRÁFICO 1 – PRODUTIVIDADE DE ARTIGOS POR ANO FONTE: WEB OF SCIENCE. Tendo em vista a importância da recuperação de informação em artigos científicos, o gráfico 2 mostra que os termos “Facebook”, “Social Media” e “Social Networking” foram as palavras-chaves utilizadas com maior frequência pelos autores nos últimos anos. Isto corrobora para pesquisas mais precisas e especificas na área desejada. GRÁFICO 2 – FREQUÊNCIA DE PALAVRAS-CHAVES FONTE: WEB OF SCIENCE. Analisando o gráfico 3 a seguir de frequência de artigos por número de autores é possível afirmar que os artigos desse tema possuem em sua maioria de 1 a 3 autores. E conforme aumenta a quantidade de autores diminui a quantidade de publicações. GRÁFICO 3 – FREQUÊNCIA DE ARTIGOS POR NÚMERO DE AUTORES 329 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 FONTE: WEB OF SCIENCE. Como referenciado na seção de fundamentação teórica a lei bibliométrica de Bradford é possível estimar o grau de relevância de periódicos em dada área do conhecimento, existem periódicos que produzem um maior número de artigos a respeito de um assunto. Logo, acredita-se que estes formam um grupo de periódicos de maior qualidade ou relevância para aquela área. Araújo(2006,p15) afirma sobre a lei de Bradford que: pode-se distinguir um núcleo de periódicos mais particularmente devotados ao tema e vários grupos ou zonas que incluem o mesmo número de artigos que o núcleo, sempre que o número de periódicos existentes no núcleo e nas zonas sucessivas seja de ordem de 1: n: n2 : n3”.... Assim, os periódicos devem ser listados com o número de artigos de cada um, em ordem decrescente, com soma parcial. O total de artigos deve ser somado e dividido por três; o grupo que tiver mais artigos, até o total de 1/3 dos artigos, é o “core” daquele assunto. O segundo e o terceiro grupo são as extensões. A razão do número de periódicos em qualquer zona pelo número de periódicos na zona precedente é chamada “multiplicador de Bradford” (Bm): à medida que o número de zonas for aumentando, o Bm diminuirá. Conhecendo a o estudo de Bradford, aplicaram-se os cálculos e com isso foi observado que a lista de periódicos não adere a formulação simples da lei de Bradford, como mostram os cálculos abaixo: 500 artigos /3 = 166 Logo o grupo 1, também conhecido como núcleo, ficou com apenas 1 periódico, o grupo 2 ou zona intermediária obteve 19 periódicos, e o grupo 3 ou zona de dispersão alcançou 103 periódicos. mB = [(19/1) + (103/19)] / 2 = 12,2 1 : 1 x 12,2 : 1 x 12,2² O resulta esperado para a lei de Bradford seria :1 : 12,2 : 148,8 Apesar disso, é possível notar a estratificação mostrada pela de lei Bradford, onde a maior parte dos quinhentos artigos esta concentrada no primeiro e segundo grupo de periódicos e o terceiro grupo concentra a menor produção. No quadro 1, abaixo, são apresentados os 10 (dez) periódicos que mais publicaram artigos no durantes os três anos, e a produtividade total do período destes periódicos. É possível observar que o periódico Computers In Human Behavior possui uma larga diferença de numero de artigos publicados em comparação com os demais periódicos analisados. Além disso, é possível 330 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 analisar o grande aumento de produção com o passar dos anos do mesmo periódico que em 2012 haviam publicados somente 26 e em 2014 a produção aumento em 61 artigos. Estes dados mostram a relevância do periódico para a área. QUADRO 1 - PERIÓDICOS QUE MAIS PUBLICARAM ENTRE 2012 E 2014 Título da fonte COMPUTERS IN HUMAN BEHAVIOR INFORMATION COMMUNICATION & SOCIETY NEW MEDIA & SOCIETY PUBLIC RELATIONS REVIEW JOURNAL OF COMPUTER-MEDIATED COMMUNICATION COMUNICAR JOURNAL OF COMMUNICATION JOURNAL OF BROADCASTING & ELECTRONIC MEDIA MULTIMEDIA TOOLS AND APPLICATIONS ASIAN JOURNAL OF COMMUNICATION ... Total geral Total de periódicos FONTE: WEB OF SCIENCE. 2012 2013 2014 Total Geral 26 4 5 3 4 53 7 8 9 2 5 3 2 6 5 2 ... 112 123 1 ... 151 87 14 6 4 9 6 2 3 5 5 ... 237 166 25 19 16 15 11 11 10 7 6 ... 500 Já a aderência à lei bibliométrica de Lotka também referenciada na sessão de fundamentação teórica afirma que a larga proporção da literatura científica é produzida por um pequeno número de autores, e um grande número de pequenos produtores se iguala ao reduzido número de grandes produtores. Apesar disso, o quadro 2 a seguir apresenta os 10(dez) autores que mais publicaram artigos na área nos últimos anos, assim como sua produtividade por ano. É possível notar que a diferença de produção destes autores ainda é pequena, porém como o tema mídia social (Facebook) ainda é um assunto emergente, acredita-se que cresça o numero de publicações destes autores nos próximos anos. Com um total do número de autores é possível calcular a média de autores por artigo, que é 2,61. QUADRO 2 - AUTORES QUE MAIS PUBLICARAM ENTRE 2012 E 2014 Autores Junco, Reynol Bazarova, Natalya N. Pennington, Natalie Van der Heide, Brandon Stefanone, Michael A. Litt, Eden Vitak, Jessica McAndrew, Francis T. Saxton, Gregory D. 2012 2013 2 1 2 1 1 1 2 1 2 1 1 2 1 2 1 1 2014 2 2 1 1 1 Total Geral 4 4 3 3 3 3 3 3 3 331 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Hall, Jeffrey A. ... Total Geral FONTE: WEB OF SCIENCE. ... 282 1 ... 377 2 ... 644 3 ... 1303 Após análise dos resultados obtidos e a conceituação de determinados termos na fase de fundamentação teórica é plausível refletir sobre a importância do profissional da informação para a análise , como mostra o tópico a seguir. 5 CONCLUSÃO É possível inferir que os resultados de uma análise de citação devem ser interpretados com prudência, pois se observa que os estudos de citação são uma importante ferramenta para o entendimento dos processos de comunicação científica nas diferentes áreas do conhecimento humano. Como Silva e Hayashi et al (2011) afirmam que literatura cientifica tem revelado que pesquisadores com formação em diversas áreas do conhecimento tem necessidades de mapear campos de pesquisa, produzir indicadores de produção científica, analisar padrões de comunicação científica, entre outros. Logo, considera-se que estudos infométricos constituem um importante indicador da atividade científica, pois contribuem para entender a estrutura e o desenvolvimento da ciência e também identificam as regularidades básicas de seu funcionamento. Por fim, é possível considerar a importância do profissional da informação para a este tipo de análise, pois afirma que este profissional é responsável por agregar valor às informações que lhe são fornecidas, através do ambiente ou meio em que estão inseridas, devendo ser estes constantemente monitorado. 332 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. 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Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O MAPA CONCEITUAL COMO UMA MIDIA DE REPRESENTAÇÃO TEMÁTICA: aplicabilidade à indexação de doenças genéticas e hereditárias registradas em prontuários do paciente78 GT 6 LIVRE – oral RIBEIRO, Cristina da Costa² SERRA, Jackson Sousa ³ BENTES PINTO, Virgínia4 RESUMO Estudo acerca da aplicabilidade do Mapa Conceitual para representação de conceitos referentes as doenças registradas nos prontuários dos pacientes. Objetivo foi investigar a aplicabilidade do Mapa Conceitual na indexação de doenças genéticas ou hereditárias registradas nos prontuários do paciente e também como mídia de compartilhamento e acesso a informações concernentes ao genoma. É uma pesquisa exploratória baseada no estudo da literatura concernente ao tema, tendo-se mapeado a terminologia para a construção do Mapa Conceitual no CmapTools. O resultado é o Mapa Conceitual construído com os termos das doenças genéticas e hereditárias, e que eles se configuram como mídia para o acesso a informações. Palavras-chave: Mapas Conceituais. Prontuário do paciente. Doenças genéticas. Doenças hereditárias. Terminologia. ABSTRACT The Study on the applicability of the Conceptual Maps for representation of concepts the recorded diseases in the patient’s records. The objective was to investigate the applicability of the Conceptual Maps in the indexing genetic or hereditary diseases recorded in the patient's records as well as sharing media and access to information concerning the genome. It is an exploratory research based on the study of literature concerning the subject, having mapped the terminology for the construction of the Conceptual Maps in CmapTools. The 78 Este artigo traz uma parte dos resultados da pesquisa intitulada “ A teoria do Mapa Conceitual aplicada ao contexto da terminologia de doenças genéticas/ hereditárias registradas em prontuários do paciente”. 2 Graduanda em Biblioteconomia pela UFC. E-mail: [email protected] 3 Graduando em Biblioteconomia pela UFC. E-mail: [email protected] 4 Docente e Pesquisadora/PQ-CNPq - Curso de Biblioteconomia da UFC. E-mail: [email protected] 335 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 result is the concept map built with the terms of genetic and hereditary diseases, and they are configured as media for access to information. Keywords: Conceptual Maps. Patient’s record. Genetic diseases. Hereditary diseases. Terminology. 1 INTRODUÇÃO O termo Mapas Conceituais, como muitos outros, foi retomado e ressignificado ao longo da história e, inclusive, ganhando outros contornos como é o caso que está sendo tratado neste trabalho. O Mapa Conceitual, também conhecido como gráfico, carta conceitual ou rede semântica, foi proposto por Joseph Donald Novak (1990), por volta dos anos de 1972, apoiado na teoria de aprendizagem apresentada pelo psicólogo David Paul Ausubel (1963). Embora considerados como ferramentas didáticas de ensino-aprendizagem, Jacobi, Boquillon e Prévost (1994, p.9), percebem os Mapas Conceituais como sendo objetos semiolinguísticos, representações, e ferramentas de análises, de formação ou de metacognição. E, nós os consideramos como certa cartografia de representação indexical (indexação) de conteúdos. Além de estar sendo utilizado como ferramenta de organização conceitual, no âmbito biblioteconômico ele é visto também como uma mídia para favorecer o acesso à informação. Ao falarmos de mídia, temos de tomar conhecimento de que ela é o meio pelo qual se torna possível a mediação, e está intrínseca no fazer profissional do bibliotecário, que é um dos profissionais responsáveis por mediar a informação. Mas, tanto o conceito de mídia como de mediação são por natureza polissêmica e, como muitos outros, estão na moda. A gênese do conceito mediação vem do latim mediatio de mediare cujo significado associa-se a estabelecer relação entre os envolvidos no processo mediático. A partir dos séculos XX e XXI a mediação ganha outros ares, adentra em vários campos de saberes e com ela também cresce o termo mídia, principalmente no âmbito das Ciências da Informação e da Comunicação. Por isso, em cada área esses dois conceitos precisam ser predicados, conforme mostram os exemplos: mediação da informação, cultural, hospitalar, jurídica, política, cognitiva. Ou ainda, mídia social, mídia de comunicação, mídia de educação etc. É com essa percepção que nos apropriamos do conceito mídia empregando-o ao contexto da representação, particularmente sobre a indexação de prontuários do paciente, na perspectiva da construção de Mapas Conceituais visando favorecer o tratamento, a organização, a representação e o acesso aos documentos e/ou aos conteúdos informacionais. É observando esses aspectos, que nos motivamos a realizar esta pesquisa nos pautando na seguinte questão-problema: o que levar em consideração para representar, as categorias de informação 336 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 sobre as doenças genéticas e hereditárias presentes no prontuário do paciente, adotando-se a metodologia do Mapa Conceitual como mídia para o acesso e a recuperação da informação? Para a realização do estudo empírico e na perspectiva de obter respostas concernentes a essa questão, definimos como objetivo geral: Investigar a aplicabilidade do Mapa Conceitual para o tratamento, organização e representação da informação no contexto das doenças genéticas e hereditárias registradas no prontuário do paciente, entendendo esse mapa como mídia para o acesso e a recuperação da informação. Os objetivos específicos são: a) Estudar a literatura concernente a metodologia de elaboração de Mapas Conceituais, com vistas a apreensão e aplicabilidade dessa metodologia; b) Identificar as categorias de informação presentes no prontuários do paciente e passíveis de serem representadas no Mapa Conceitual; c) Explorar maneiras de designar espaços para as categorias de informação na estrutura do Mapa Conceitual. d) Construir um Mapa Conceitual das doenças genéticas e hereditárias registradas em prontuários do paciente Interessamo-nos pelas doenças hereditárias e/ou raras que se configuram como um fenômeno do mundo real cuja essência está no interior do genoma. Tal realidade pode estar registrada nos prontuários individuais e naqueles denominados de prontuários de família e, portanto, a identificação dos conceitos relativos a essas doenças se faz necessária e cuja representação pode ser efetivada por meio de rótulos terminológicos expressos nos conceitos apresentados no mapa. Diante dessa realidade, entendemos que construir um Mapa Conceitual de doenças genéticas ou hereditárias, nos demanda vários desafios, pelas características sui generis dessas doenças e do prontuário que as tem registradas. Portanto, ratificamos a necessidade de se pesquisar a aplicabilidade da ferramenta de Mapas Conceituais no ambiente do prontuário – analógico, digital e eletrônico - do paciente, com o propósito de contribuir para os estudos do genoma, por incorporar riquíssimas possibilidades de cruzamentos de informações técnico cientifica e das origens das doenças hereditárias. 2 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE MAPAS CONCEITUAIS 337 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Podemos considerar que os Mapas Conceituais, embora não com essa denominação, tem origem no pensamento cartográfico do século V a.C. visando trazer a noção de espaço e representar as relações de seus elementos constitutivos. Tomando por base o sentido inicial, porém, em uma perspectiva de inovação, os Mapas Conceituais foram pensados e são construídos por meio de etiquetas referentes aos conceitos mais gerais e seus descendentes, sendo estruturados utilizando-se linhas que estabelecem as ligações existentes entre os conceitos, espelhando o conhecimento relativo a um determinado contexto e suas relações semânticas entre eles. No entendimento de Robineau ( 2007, p.?) o Mapa Conceitual configura-se como uma “representação gráfica de um campo do saber, de um conjunto de conhecimentos”. É constituído por conceitos e suas relações. São concebidos em “células de formas geométricas variáveis, religadas por linhas flechadas e etiquetadas. A(s) palavra(s) ou o texto curto associado a estas linhas exprimem as relações semânticas entre os conceitos”. Conforme Novak e Wandersee (1990), os Mapas Conceituais podem ser construídos sob três concepções: a) Mapas de concepções de alunos e professores, que não foram tratados em um plano didático e pode ser individual ou coletivo; b) Mapas de desenhos, compostos ou sintéticos, a partir de uma pesquisa didática. Estes mapas foram analisados e interpretados por pesquisadores e podem ser adotados para definir uma estratégia de ensino; c) Mapas de resultados-modelos, de pesquisa, possibilitando uma representação espacial de conceitos como um modelo de referência – o caso deste artigo. No contexto da formação profissional os Mapas Conceituais estão sendo bastante utilizados, seja em estudos com jovens e adolescentes ou ainda com professores de ensino fundamental, médio e superior. Em que concerne aos profissionais da área da Saúde, eles já vem sendo adotados não somente nas disciplinas, medicina, enfermagem, farmácia. Contudo, os estudos e pesquisas relacionados à aplicabilidade no âmbito dos cuidados do paciente, ainda são muito insipientes. Nesse sentido, ele pode ser entendido como uma mídia de comunicação na relação entre profissionais e entre estes e o paciente. Para além desses estudos ainda entendemos que a metodologia do Mapa Conceitual pode ser utilizada nas pesquisas que contemplam os prontuários dos pacientes com vistas a oferecer subsídios para estudos de outra natureza. O Mapa Conceitual baseia-se no mundo real, portanto, é estruturado em categorias da realidade, do fenômeno e da essência. Para Cheptulin (1982, p.338), a realidade é o que existe realmente, enquanto que Kosik (2002, p. 51), a entende como um todo que não é apenas um conjunto 338 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 de relações, fatos e processos, mas também a sua criação, estrutura e gênese. Por sua vez, o fenômeno é o conjunto dos aspectos exteriores, das propriedades, e é uma manifestação da essência. “[...] Ele aparece como a síntese do que é condicionado pela ação da realidade que rodeia o objeto. [...]”. Portanto, compreender o fenômeno é atingir a sua essência. A essência representa o interior, ao mesmo tempo, como constituinte da natureza da coisa, inseparável dela, como espacialmente interior, encontrando-se no interior da coisa e não na sua superfície (CHEPTULIN, 1982, p.278; 2013, p. 279). Logo, a realidade é a unidade do fenômeno e da essência, conforme argumenta Kosik (2002, p.16). É nessa perspectiva que voltamos nosso olhar para o Mapa Conceitual que vem contemplar todos esses aspectos. 3 FALANDO SOBRE MÍDIA NO CONTEXTO DA REPRESENTACAO EM PRONTUÁRIO DO PACIENTE O termo mídia é bastante utilizado em diversas áreas de conhecimentos e, justamente por isso demanda atenção e necessidade de predicá-lo para indicar o uso a que está sendo referido. Assim, temos mídias referentes a comunicação, informação, educação, ciência política e mais recentemente as chamadas mídias sociais, entre outras. E, para cada contexto, embora a semântica seja a mesma sua aplicabilidade conceitual varia. O conceito de mídia tem origem no latim como plural de médium cujo senso determina o meio. Já, no entendimento de McLuhan (1968), encontramos o termo mídia como sendo meio de disseminação, transmissão e comunicação de informação. Então, percebida desse modo, também consideramos que no âmbito da representação temática ou indexação os conceitos, termos ou sintagmas que funcionam como “pistas” no processo de recuperação da informação, efetivamente se configuram como mídia de disseminação e acesso nesse processo. Para tal representação mediática adotam-se terminologias da linguagem natural ou de especialidades. A terminologia de especialidades é oriunda das investigações do engenheiro Eugênio Wüster e foi aprofundada por vários grupos de pesquisa, merecendo destaque os estudos desenvolvidos no Instituto de Linguística Aplicada de Barcelona (IULA) pelas Professoras Maria Tereza Cabré, Rosa Estopà e seus colaboradores. No Brasil, o destaque é para o TERMISUL, grupo de pesquisa que tem à frente a Professora Maria da Graça Krieger, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e, no campo da Ciência da Informação e da Biblioteconomia as pesquisas estão sendo desenvolvidas por Johanna Smit, Fátima Tálamo, Marilda Lara, Marisa Brascher, Nair Kobashi, Virgínia Bentes Pinto e seu grupo de pesquisa, que se dedicam a terminologia nos prontuários do paciente, entre outros. 339 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O objeto da terminologia é o termo e, não a palavra. Daí porque ele aparece com vistas à padronização dos termos de uma língua em campos específicos a fim de favorecer a comunicação entre os sujeitos envolvidos em um processo de comunicação. A terminologia busca estruturar os conceitos de modo que possa haver uma padronização nas linguagens de especialidades e desta feita contribuir para a rotulagem e compartilhamento de informações. Esses termos rotulam os componentes científicos de um campo de conhecimento a fim de que se tenha uma carta geográfica do referido campo. No contexto do Mapa Conceitual, a rotulagem também traz o mesmo sentido daquela adotada para outras finalidades, quer dizer, ela visa estabelecer etiquetas para facilitar o acesso à informação. Nesse sentido, estrutura formas de comunicar os assuntos ou temas de modo mais racional, a fim de que o usuário não demande grandes esforços para localizar a informação que deseja, seja em documentos analógicos, eletrônicos ou digitais. Em se tratando de ambientes informacionais da área da saúde, urge que a rotulagem venha contribuir sobremaneira para que o acesso à informação se efetive sem muitos ruídos. Desse modo, percebe-se que a terminologia pode contribuir para que a rotulagem das informações possam agilizar os procedimentos e favorecer a promoção da saúde. No contexto das Ciências da Saúde e da Ciência da Informação os Mapas Conceituais vêm sendo utilizados com vários objetivos, aqui nesse artigo nosso interesse analisa a possibilidade de adoção de Mapas Conceituais em uma perspectiva de indexicalidade para o mapeamento terminológico das doenças hereditárias ou raras, visando contribuir para pesquisas no contexto do genoma. A chave para a construção desse mapa são os registros dos prontuários do paciente. Nesses documentos são registradas todas as informações referentes ao estado de saúde da pessoa doente. Os prontuários agregam em único documento mediático desde as narrativas da anamnese dos pacientes até as imagens capturadas pelos dispositivos de ponta, que fotografam nosso corpo fazendo-o transparente. O Prontuário do Paciente é definido no Artigo 1º. da Resolução de nº 1.638/2002, do Conselho Federal de Medicina (CFM), como sendo um documento único constituído pelo conjunto de informações, sinais e imagens registradas, geradas a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a assistência a ele prestada, de caráter legal, sigiloso e científico, utilizado para possibilitar a comunicação entre membros da equipe multiprofissional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo. (BRASIL. CFM). Acreditamos que o mapeamento conceitual dos prontuários relativos às doenças genéticas ou hereditárias, pode trazer grandes contribuições para o estudo do genoma, uma vez que espelhará a espacialidade dessas doenças, não somente pelo nome de família, porém, também, pela área 340 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 geográfica onde tais doenças podem se concentrar. Ainda nesse contexto, não podemos deixar de chamar a atenção para duas questões fundamentais que precisam ser observadas quando de pesquisas e estudos na área da Saúde, posto que como qualquer informação no contexto da saúde, também no projeto genoma é necessário que seja observado o ordenamento jurídico de cada Estado ou ainda aqueles de cunho mundial. 4 METODOLOGIA O estudo empírico fundamenta-se na metodologia da pesquisa exploratória descritiva com aporte epistemológico da abordagem funcionalista, efetuando-se o levantamento bibliográfico e documental e o estudo referente ao estado da arte concernente ao objeto de estudo. Para tanto foi feita a análise de conteúdo dos prontuários de pacientes após a digitalização dos mesmos, considerando o consentimento informado dos sujeitos. A abordagem funcionalista tem origem nos estudos antropológicos desenvolvidos por Lévy-Strauss (1970) e pauta-se no entendimento de que a estrutura social é constituída de elementos que desempenham funções nas estruturas da sociedade, assim como das organizações. Em relação à análise de conteúdo, buscamos apoio em Bardin (1977), que propõe tal modelo de análise, não mais considerando somente os aspectos quantitativos, porém aqueles qualitativos. Nesse sentido estabelece três polos cronológicos: a) pré-análise, que compreende a organização do que será estudado e se configura como uma fase de intuições, contendo cinco etapas, que são a leitura, a escolha dos documentos, a formulação das hipóteses e dos objetivos, a referenciação e a preparação do material; b) exploração do material, que consiste na efetivação das decisões tomadas na primeira fase; e c) tratamento e interpretação dos resultados, polo cronológico no qual os dados brutos são tratados de maneira a se tornarem significativos e válidos. De posse desse entendimento, as adotamos para o cerne deste estudo. Assim, na pré-análise, inicialmente foi feita a leitura dos prontuários, a fim de selecionar o corpus documental utilizado na pesquisa, segundo critérios já mencionados para em seguida proceder a digitalização desses documentos, observando-se a determinação dos objetivos específicos desta pesquisa. Em seguida foi selecionado um corpus de quatro (04) prontuários do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC) da Universidade Federal do Ceará (UFC), 341 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 escolhendo-se como critério para esta seleção aqueles referentes à pacientes com enfermidades nefropatas e que foram transplantados. A opção por essa especialidade se dá pelo fato do HUWC/UFC ser considerado um hospital de referência renal, sendo também o pioneiro no Estado do Ceará - Brasil. Após esta seleção procedemos com a digitalização desses documentos, utilizandose para essa atividade um scanner, que resultou em um corpus constituído de 13 (treze) volumes, perfazendo um total de 4.927 (quatro mil novecentos e vinte e sete) páginas, equivalente aproximadamente a 953.000 Kb (novecentos e cinquenta e três mil kilobytes). Em seguida fizemos contato com os pacientes e familiares a fim de obter o livre consentimento esclarecido, pois nesta pesquisa foram utilizados os dados e informações sensíveis relativos a esses sujeitos. Posteriormente realizamos a análise de conteúdo dos prontuários tomando-se por base as categorias de Bardin (1977): No que diz respeito a exploração do material, fizemos a leitura com base na identificação de terminologias e conceitos próprios da área da saúde registrados nos prontuários, bem como o estudo relativo à macro e à micro estrutura física e lógica dos documentos. Para o tratamento e a interpretação dos resultados de modo que os dados brutos fossem tratados de maneira a se tornarem significativos e válidos, os achados foram organizados tomando-se por base o Mapa Conceitual utilizando-se da ferramenta CmapTools. Essa ferramenta foi desenvolvida pelo Florida Institute for Human & Machine Cognition (IHMC) e tem como finalidade instruir as pessoas no processo de construção, navegação, compartilhamento e análise crítica de modelos de conhecimento representados em forma de Mapas Conceituais. De acordo com Cañas et al. (2004, tradução nossa) o CmapTools foi criado com quatro objetivos principais: 1. Ser um sistema que possa ser aprendido em poucos minutos e com uma interface não intimidadora, de modo que o usuário possa se concentrar no mapeamento dos conceitos, e, ao mesmo tempo proporciona a criação de grandes Mapas Conceituais por especialista; 2. Ser um suporte extensivo para a construção de modelos de conhecimento através, principalmente, das possibilidades de expressar graficamente o domínio sobre um conhecimento; 3. Ser um suporte extensivo para a colaboração e compartilhamento, levando em consideração a falta de ambientes de aprendizagem cooperativa baseados no 342 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 construtivismo. Essa ferramenta veio para possibilitar que as pessoas troquem dúvidas e ideias e participem da construção de conhecimento do outro; e 4. Trazer a arquitetura modular, na qual o CmapTools foi baseado e que permite que os elementos sejam colocados e retirados quando necessário, propiciando, assim, que muitas ideias fluam simultaneamente. 5 TRATAMENTO DOS DADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS De posse dos achados na análise de conteúdo elaboramos o Mapa Conceitual no software CmapTools. Para tanto, levamos em consideração a proposta dos 4R (Repérer, Ranger, Relier, Retrouver) de autoria de Meyer (2010). Essa proposta traz em sua essência as estratégias mnemônicas que possibilitam a memorização. Desse modo, traduzimos esses termos e os adequamos a nossa realidade conforme a seguir: identificar (repérer), organizar (ranger), interligar (relier) e reencontrar (retrouver) (I.O.I.R.). Em que concerne identificar, os estudos das micro e macro estruturas relativas às categorias de conhecimentos registrados nos prontuários, identificamos dezenove (19) macro estruturas (físicas) a saber: Registro de Anamnese e Exame Físico, Registro de Internação, Pedido de parecer, Laudo para solicitação de autorização para internação, Prescrição/Observação de enfermagem, Ficha de evolução do ambulatório, Crossmatch prétransplante, Relatório de atualização de paciente a espera de transplante cadáver, Registro de atendimento do serviço social e de psicologia, Avaliação clínica, Solicitação de exame, Resultado de exames, Exames complementares, Prescrição/Observação de Farmácia, Histórico Clínico, Registro Operatório, Assistência de enfermagem pós operatório, Atestado de óbito e Resumo de Alta. Além das categorias macro também foram identificadas outras relativas às micro estrutura (estrutura lógica), entre as quais destacamos o número do prontuário, identificação do paciente, que fazem parte da macro categoria, Registro de Anamnese e Exame Físico; o termo de responsabilidade, que está dentro da macro categoria Registro de Internação; e os motivos de alta, que estão na macro categoria Resumo de Alta. Após a identificação dos conceitos relativos às macro e micro categorias passamos a etapa de organização desses achados e construímos o Mapa Conceitual. No entanto, ressaltamos que apesar de todas as micro estruturas existentes no prontuário terem sido identificadas no corpus documental analisado, elegemos para fazer parte do Mapa Conceitual que construímos, somente as citadas anteriormente, não por serem mais importantes do que aquelas não mencionadas no mapa, mas por fazerem parte das fases da 343 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 história registrada no prontuário do paciente, que são equivalentes a entrada do paciente na organização de saúde, o registro da internação - com os seus aspectos legais - e o momento de sua saída. Observem-se a figura-1 344 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Figura-1: Mapa Conceitual relativo ao prontuário do paciente. Fonte: dados da pesquisa Em outro momento foi elaborado um novo Mapa Conceitual para abordarmos as doenças genéticas ou hereditárias encontradas nos prontuários pesquisados. Primeiramente pensou-se em apenas criar um mapa listando as doenças hereditárias e genéticas mais comuns ou mais conhecidas e posteriormente identifica-las nos prontuários, no entanto verificamos a necessidade da construção de um mapa com terminologias referentes a doenças hereditárias, doenças genéticas e doenças congênitas, atribuindo-lhes alguns exemplos. Após o estudo da terminologia das doenças hereditárias foram construídos os mapas contendo os conceitos genômicos, e feita a junção de todas as outras em um mapa elaborado com todos os seus elementos, no qual as pessoas possam reencontrar os conceitos procurados, com o objetivo de recuperação de informações e construção de sentido, através das ligações, feitas entre os conceitos referentes às doenças hereditárias ou genéticas e relacionadas com os prontuários analisados. Os resultados encontram-se na figura-2. 345 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Figura-2: Mapa Conceitual relativo aos conceitos genômicos. Fonte: dados da pesquisa. 6 CONCLUSÕES A intenção desta pesquisa foi trazer a baila a aplicabilidade da ferramenta de construção de Mapa Conceitual envolvendo quatro aspectos: o prontuário do paciente, enquanto documento, os conceitos genômicos, a terminologia de representação das doenças genéticas e hereditárias e a junção dos mesmos. Entendemos que as categorias de informação presentes nos prontuários do paciente são passíveis de serem representadas no Mapa Conceitual e, podem contribuir para melhorar a recuperação quando das demandas. Em que concerne à maneira de designar espaços para as categorias de informação na estrutura do Mapa Conceitual, ficou evidente que o CmapTools possibilita que se construam vários mapas em uma mesma estrutura e desse modo obtenha-se um espelho das relações semânticas existentes entre eles. 346 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Outro aspecto a declarar na construção dos mapas é que apesar de termos pesquisado a aplicabilidade do Mapa Conceitual no âmbito da representação da terminologia das doenças genéticas ou hereditárias os exemplos podem ser utilizados como modelos para a construção de outros mapas. Finalmente, consideramos que para obter resultados satisfatórios no que diz respeito à representação da informação é essencial eleger de forma sistemática e fundamentada os elementos a serem colocados no mapa, bem como sua localização. REFERÊNCIAS AUSUBEL, D. P. The psychology of meaningful verbal learning. New York: Grune and Stratton, 1963. BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. São Paulo: Edições 70, 1977. BRASIL. Conselho Federal de Medicina. Resolução n. 1.638 de 10 de julho de 2002. 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Les représentations spatiales de concepts scientifiques; inventaire et diversité. Didaskalia, v. 5, p. 11-23, 1994. KOSIK, Karel. Dialética do concreto. 7 ed. São Paulo: Editora Paz e Terra, 2002. 347 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 LÉVI-STRAUSS, Claude. Antropologia Estrutural . Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1970. McLUHAN Marshall. Pour comprendre les média. Les prolongements technologiques de l'homme. Paris:Seuil, 1968. MEYER, Pascale. Les cartes conceptuelles : un outil créatif en pédagogie. Recherche en soins infirmiers, nº. 102, p. 1-50, 2010. NOVAK, J. D. Concept maps and vee diagrams: two metacognitive tools for science and mathematics education. Instructional Science. v. 19, p. 29-52, 1990. ROBINEAU, Régis. 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Confirma que o marketing contribui para as empresas de forma direta, possibilitando as mesmas a adotarem estratégias que visem aumentar o seu potencial produtivo e atingir os objetivos almejados. Palavras-chave: Ferramentas de Marketing. Unidades de Informação. Composto de Marketing. ABSTRACT The purpose of this article is to identify the marketing tools, such as the marketing mix or marketing mix and how it helps in the units of information. Uses literature based on authors who study the subject. Confirms that marketing contributes to the companies directly, allowing the same to adopt strategies aimed at increasing its productive potential and achieve the desired goals. Keywords: Marketing Tools. Information units. Marketing Mix. 1 INTRODUÇÃO Identificar os anseios do outro nem sempre é tarefa fácil, porém hoje obtemos de alguns métodos que no auxiliam neste processo, como profissional da informação devemos ter conhecimento destes métodos que nos ajudaram futuramente. As Unidades de Informação têm um caráter formativo, de prestação de serviço e cultura a sociedade, sendo assim, não visa o lucro, porém, assim como qualquer negócio, precisam atrair seus usuários. Para a promoção do acervo e dos serviços oferecidos pelas bibliotecas é preciso utilizar estratégias de marketing. Embora o marketing seja uma disciplina do campo da Administração de Empresas, também deve ser estudado e utilizado por bibliotecários em unidades de informação. _________________________ 1 Graduanda em Biblioteconomia pela UFMA. E-mail: [email protected] Marketing é um processo gerencial que busca a identificação das necessidades dos usuário/cliente e que procura adiantar-se a elas com uma oferta que assegure que sejam totalmente satisfeitas. Para Kotler e Bloom, marketing pode ser definido como 349 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 [...] análise, planejamento, implementação e controle de programas cuidadosamente formulados que visam proporcionar trocas voluntárias de valores ou utilidades dos mercados-alvo, com o propósito de realizar objetivos organizacionais. Confia, fortemente, no delineamento da oferta da organização, em termos das necessidades e dos desejos do mercado-alvo, e no uso eficaz de política de preços, comunicações e distribuição, a fim de informar, motivar e prestar serviços aos mercados. (KOTLER e BLOOM, 1988, p. 2) De forma mais genérica, Churchil e Peter (2000), definem Marketing como o “processo de planejar e executar a concepção, estabelecimento de preços, promoção e distribuição de ideias, bens e serviços a fim de criar trocas que satisfaçam metas individuais e organizacionais”. Já o marketing informacional, caracteriza-se como: [...] um processo gerencial de toda variedade de informação (tecnológica, científica, comunitária, utilitária, arquivística, organizacional ou para negócios) utilizada em todo tipo de organização, sistema, produto ou serviço sob a ótica de marketing, para alcançar a satisfação dos diversos públicos da organização, sistema, produto ou serviço, quando são utilizadas técnicas na realização e na valorização das trocas de valores, beneficiando todos os elementos, que interagem na troca, para garantir a sobrevivência da organização, do sistema, do produto ou do serviço no seu mercado de negócio (AMARAL, 2007, p. 21). Neste sentido, o marketing é visto como um processo administrativo, pois envolve análise, planejamento, implementação e controle de programas cuidadosamente formulados. O marketing não está somente ligado à venda de um produto ou serviço, envolve também a preocupação e expectativa em satisfazer as necessidades do cliente. Em Unidades de Informação, o profissional da informação deve conhecer os produtos e serviços oferecidos e saber analisar se os mesmos atendem as necessidades e exigências de seus usuários. O objetivo deste artigo é identificar as ferramentas do marketing que podem ser usadas nas unidades de informação, mostrando sua possível utilização. Partindo da problemática de como utilizar o composto nas unidades de informação, pôde-se estabelecer a pesquisa. O presente artigo caracterizou-se como pesquisa bibliográfica, que, segundo Gil [...] é desenvolvida a partir de material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos [...] As pesquisas sobre ideologias, bem como aquelas que se propõem à análise das diversas posições acerca de um problema, também costumam ser desenvolvidas quase exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. (GIL, 1991, p. 48) A abordagem do tema de pesquisa foi do modo qualitativo, pois tratou-se da proposição sobre o marketing e algumas de suas ferramentas, William e Hatt (1973, p. 132) comentam que o modo qualitativo de pesquisa “[...] auxilia a esclarecer ideias e a refundir o conhecimento substantivo”. Quanto aos temas da pesquisa, foram utilizadas fontes bibliográficas das áreas de Biblioteconomia e Administração aplicadas ao marketing. Foram pesquisados materiais 350 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 bibliográficos (livros), selecionados a partir da afinidade com o tema de pesquisa, artigos e pesquisas na área foram de grande subsistência para o artigo. 2 A IMPORTÂNCIA DAS FERRAMENTAS DO MARKETING NAS UNIDADES DE INFORMAÇÃO Com o passar dos tempos à globalização vem impulsionando o surgimento de novas tecnologias, pautadas em mudanças rápidas, as Unidades de Informação precisam adaptar-se a tudo isso em períodos de tempos cada vez menores. O Marketing é fundamental para o desenvolvimento da U.I, contribui com estratégias que visam o melhor posicionamento do produto, bem como o posicionamento da mesma no mercado ao qual está inserido. Diversas empresas com fins lucrativos utilizam o marketing de maneira informal, principalmente as pequenas empresas que não disponibilizam de um setor próprio de marketing. Estas utilizam de estratégias que busca melhorar suas vendas, aumentando as chances de sucesso. Ainda é comum o pensamento de que o Marketing trata-se apenas da propaganda do seu produto ou serviço, deixando de lado seu real sentido, promover e criar necessidades sobre aquilo oferecido. O marketing vem contribuir para as Unidades de Informação de forma direta, possibilitando as mesmas a adotarem ações que visem aumentar o seu potencial produtivo e assim atingir os objetivos esperados. Entre as ferramentas utilizadas no marketing, temos o Composto de Marketing ou Mix de Marketing, que é formado por 4Ps: Produto, Preço, Praça e Promoção. Essas variáveis auxiliam na tomada de decisão, visando adotar ações que favoreçam a U.I a ter um contato maior com seu usuário, buscando entender suas necessidades e desejos, para que sejam oferecidos produtos que venha satisfazer a eles e assim gere o retorno esperado pela instituição. Entende-se então, que o marketing não funciona apenas como mais um processo administrativo dentro da U.I, ele tem a função de criar e agregar valor aos produtos que serão colocados na exposição, para satisfazer as necessidades e os desejos dos usuários. E segundo Drucker , [...] pode-se considerar que sempre haverá a necessidade de vender. Mas o objetivo do marketing é tornar supérfluo o esforço de venda. O objetivo do marketing é conhecer, entender o cliente tão bem que o produto ou serviço seja adequado a ele e se venda sozinho. Idealmente, o marketing deveria resultar em um cliente disposto a comprar. A única coisa necessária então seria tornar o produto ou serviço disponível. (DRUCKER apud KOTLER; KELLER, 2006, p. 4) Marketing é, frequentemente, visto como um conjunto de estratégias e técnicas que historicamente faz parte das atribuições de gestores de empresas com fins lucrativos. Porém 351 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 os bibliotecários também estão envolvidos neste processo. Marketing é o processo de gestão que identifica, antecipa e supre as necessidades dos usuários de forma eficiente. Assim, a essência do marketing envolve descobrir o que os usuários querem. Os bibliotecários participam deste processo avaliando as necessidades dos usuários e buscando satisfazê-las. O marketing faz parte das habilidades exigidas pelo profissional da informação. Nesse caso, os bibliotecários precisam abraçar as atividades de marketing que envolve a pesquisa de mercado e análise, planejamento de serviços e promoção (SHARMA; BHARDWAJ, 2009). É imprescindível que a U.I conheça o usuário, verifique seus hábitos, suas necessidades e anseios. A U.I precisa acompanhar as mudanças que ocorrem no meio ambiente em que atua, como também, pensar no planejamento estratégico para melhorar sua administração, seus recursos materiais e humanos. Como órgão educador, precisa transmitir aos usuários a confiabilidade, assegurando uma oferta de qualidade em seus produtos e serviços. Os serviços e produtos oferecidos pelas U.I precisam respeitar e entender as necessidades e exigências da qualidade, da confiabilidade, e respeitar também as peculiaridades específicas da comunidade a que atende. A adoção de estratégias de marketing em Unidades de Informação exige um planejamento prévio. O planejamento prévio permite a antecipação e a articulação de todas as decisões relativas à gestão de um determinado serviço ou produto. O processo de planejamento tem como principal vantagem o empenho de toda a organização perante o cumprimento de objetivos. A utilização dessas estratégias permitirá a criação, desenvolvimento, promoção, distribuição produtos e serviços informacionais a serem consumidos e utilizados pelos usuários, cuja aplicação poderá ser considerada como um meio para se aumentar a produtividade das Unidades de Informação, modificando suas atividades tradicionais e contribuindo para o desenvolvimento de estratégias de mudança de sua imagem, (OLIVEIRA; PEREIRA, 2003). Com a incorporação de tecnologias de informação e comunicação em U.I, abriram-se novas possibilidades para a divulgação dos seus serviços e recursos. 3 ESTRATÉGIA DE MARKETING Estratégias são essenciais para o desempenho superior de uma organização (PORTER, 1999). É por meio das estratégias que uma empresa utiliza mais adequadamente seus recursos, visando à minimização de problemas e à maximização de oportunidades (OLIVEIRA, 2001). 352 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 As estratégias evidenciam o quanto é necessário à busca constante por melhorias na prestação de serviços para que o usuário se torne cada vez mais fiel à U.I. As mudanças tecnológicas, sociais, e econômicas modificam as necessidades diariamente. Para se obter sucesso diante dessas necessidades, é preciso compreender quais são as características, sejam elas tangíveis ou intangíveis, que proporcione valor e satisfação ao seu usuário. 3.1 Público-alvo A U.I trabalha focada em atender homens, mulheres e crianças, buscando atender as necessidades de toda família. Podendo estar presente em todos os momentos e oferecendo produtos e serviços que satisfaçam suas necessidades. São os consumidores, todos os sujeitos que fazem parte do processo de comercialização do bem ou serviço e também todos que podem influenciar na mensagem, como intermediários, influenciadores, entre outros. Nas U.I não é diferente o foco deve ser sempre o usuário, e buscando sempre a melhor forma de atendê-lo. 3.2 Estratégia do mix marketing O Mix de marketing é trabalhado de forma que possamos ter um contato direto com o usuário, procurando satisfazer suas necessidades. O composto de Marketing ou Mix de Marketing formado pelos 4Ps: Produto, Preço, Praça e Promoção, estes são um conjunto de ferramentas que auxiliam a Unidade de Informação na tomada de decisões, procurando alcançar os objetivos e metas. Tudo é planejado visando alcançar os canais de distribuição e os clientes-alvo. Churchill Jr. e Peter (2000, p. 20) enfatizam que o composto de marketing “é uma combinação de ferramentas estratégicas usadas para criar valor para os clientes e alcançar os objetivos da organização”. a) Produto É tudo o que se refere aos “bens e serviços” que uma empresa/Unidade de Informação disponibiliza ao mercado-alvo, para “atenção, aquisição, uso ou consumo”, tendo em vista a satisfação das necessidades do cliente/usuário. Na interpretação de Churchill Jr. e Peter (2000, p. 20), o elemento produto refere-se “ao que os profissionais de marketing oferecem ao cliente”. 353 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Um site sempre atualizado, com novidades e informações utilitárias para o usuário, buscando oferecer aos usuários produtos que possam satisfazer suas necessidades e desejos. O Produto para Las Casas é: [...] é o objeto principal de comercialização. Ele é desenvolvido para satisfazer o desejo ou a necessidade de determinado grupo de consumidores. É no produto que a empresa focará suas expectativas, procurando agregar valores, benefícios que sejam percebidos pelos clientes, uma vez que percebido, a chance de aceitação do mercado é bem maior. (LAS CASAS, 2011, p. 255) b) Preço É a quantia monetária cobrada na aquisição de um bem ou serviço. Aquilo de que se abdica na aquisição de um produto. A soma de todos os valores que os consumidores trocam pelos benefícios de ter ou usar um bem ou serviço. Dentro da estratégia do Mix de Marketing, o preço serve como medida de avaliação entre diferentes alternativas de produtos quer em termos do sacrifício que se faz em sua compra, quer como forma de se assegurar sobre sua qualidade. Tem-se a ideia de que as U.I por serem organismos culturais não necessitam de valores monetários para existir, ideia que precisa ser desmitificada. Valores pré-estabelecidos para multas, admissão de novas carteiras e outros, devem ser pensados as melhores condições de pagamento, facilitando assim a aquisição dos produtos e serviços oferecidos, realizando assim os desejos dos usuários. Cobra (1992, p. 43) afirma que é preciso que o preço, “divulgado pelas listas de preços a clientes e a consumidores, seja justo e proporcione descontos estimulantes à compra dos produtos ou serviços ofertados, com subsídios adequados e períodos (prazos) de pagamento e termos de créditos efetivamente atrativos”. c) Praça Dentro do Mix de Marketing o quesito Praça ou Distribuição se ocupa da disponibilização dos produtos aos seus mercados consumidores. Distribuição na definição de Salim (et al 2004, p. 95) é um processo de levar o produto ou serviço até o ponto de venda, dessa forma torna-o disponível para o cliente. A preocupação de estar disponibilizando o mais estratégicos dos locais para sua instalação, pesquisando sempre o mercado e o local onde irá atuar, podendo assim oferecer o melhor conforto e acessibilidade aos usuários. Expondo os produtos de forma visível, para ao entrar na Unidade de Informação os usuários encontrem aquilo que buscam. No entendimento de Cobra (1992, p. 44), a distribuição “precisa levar o produto certo ao lugar certo através dos canais de distribuição adequados, com uma cobertura que não deixe 354 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 faltar produto em nenhum mercado importante”, encontrando para isso métodos de aquisição, distribuidores e dispondo de um registro de estoques para preencher as necessidades dos através de recursos apropriados. d) Promoção Dentro do Mix de Marketing, a Promoção refere-se ao composto de elementos promocionais que divulgam e comunicam o produto ao mercado-alvo, como publicidade, propaganda, links patrocinados, Fan pages, promoção de vendas, relações públicas e outros. No entender de Churchill Jr. e Peter (2000, p. 20), o elemento promoção ou comunicação “refere-se a como os profissionais de marketing informam, convencem e lembram os clientes sobre produtos e serviços”. Para estar sempre conquistando novos usuários é necessário que a U.I possa investir na realização de promoções. Utilizar todos os meios possíveis para divulgar e atrair. Realizar promoções com que venha beneficiar aos usuários atuais e também aos futuros, possibilitando que a U.I esteja sempre atuante. De acordo com Salim (2004, p.68), a teoria é que, ante as ofertas semelhantes nos demais quesitos, aquela que for melhor promovida tende a vender mais. 4 CONCLUSÃO O sucesso do marketing em Unidades de Informação depende principalmente da identificação das necessidades do seu público, já que ao identificar as necessidades é possível criar alternativas. A imagem projetada pelas U.I determinará a frequência de utilização de seus produtos e serviços. Para fazer uso dessas ferramentas, os profissionais precisam estar atentos às novidades tecnológicas, além de saberem enxergar o potencial dos mesmos. É importante destacar que o custo do marketing utilizando essas ferramentas pode ser bem menor que as estratégias de marketing convencionais. De acordo com o levantamento, muitos são os fatores que podem influenciar a satisfação do usuário/cliente ao buscar os produtos e serviços oferecidos pela instituição como o produto, o preço, a praça e as promoções, que fazem parte do composto de marketing. Para que uma U.I possa atender, satisfazendo e mantendo seus usuários, deve administrar com eficiência seus recursos, direcionando-os em busca de seus objetivos. Sabe-se que para estarem atuantes em um mercado tão competitivo as instituições precisam adotar estratégias que busque auxiliar na tomada de decisões e possibilite sobressair entre os seus concorrentes. Foi citada a importância do marketing na U.I, mostrando que não se refere apenas a fazer a propaganda da mesma ou dos produtos, e sim a busca por satisfazer as necessidades e desejos dos usuários. O composto de marketing vem ser uma ferramenta 355 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 importante para que as Unidades de Informação, para que os gestores consigam analisar sua posição no mercado e assim determinar estratégias que consiga proporcionar um melhor posicionamento. A questão do marketing em Unidades de Informação deve ser mais bem explorada, este artigo traz apenas indícios de uma tendência que surge no campo. REFERÊNCIAS AMARAL, S.A. (Org.). Marketing na ciência da informação. Brasília: UnB, 2007. COBRA, Marcos. Administração de marketing. 2ª. ed. 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Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 BIBLIOTECAS PÚBLICAS: UM ESPAÇO SOCIAL, CULTURAL E DE MEMÓRIA GT 6 e modalidade oral SILVA, Diego Martins Aragão da79 RESUMO Apresenta a biblioteca pública como uma instituição (equipamento) social, cultural e de memória que promove a construção de identidades, relacionando a dinâmica e a ações sociais da sociedade. Identifica-se um novo olhar sobre a biblioteca pública como um instrumento de manipulação do poder, que visa formar de lançar hábitos disciplinares. Objetiva-se neste trabalho abordar a biblioteca como um instrumento de manipulação do poder, resaltando suas funções: o armazenamento de informações e o registro da memória da sociedade. A reflexão sobre a ideologia contida na seleção das obras que compõem seu acervo, levam a reflexão de que, a biblioteca pode influenciar os indivíduos a terem um olhar, critico ou não sobre os fatos da vida e a cultura que as cerca. As missões e funções da bibliotecas pública enfatiza questões relativas à cultura e a construção da identidade cultural. Deste modo, salienta-se elementos referentes ao entendimento da influencia das estruturas de poder na construção de identidades. Palavras-chave: Bibliotecas Públicas. Identidade Cultural. Poder. Mecanismos de Poder. ABSTRACT It presents the public library as an institution (equipment) social, cultural and memory that promotes the construction of identities, relating the dynamics and the social actions of society. Identifies a new look at the public library as a power handling tool, which aims to train to launch disciplinary habits. Objective of this work is to approach the library as a power handling instrument, emphasizing their functions: storage of information and the registration of the memory of society. Reflection on the ideology contained in the selection of the works that make up his collection, lead to reflection that the library can influence individuals to have a look, critical or not about the facts of life and the culture that surrounds them. The missions and functions of public libraries emphasizes issues related to culture and the construction of cultural identity. Thus, it is noted elements for the understanding of the influence of power structures in identity Keywords: Public Libraries. Cultural identity. To May. Power mechanisms. 79 Graduando em Biblioteconomia UNIRIO. E-mail: [email protected] 357 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 1 INTRODUÇÃO O papel da biblioteca pública na sociedade consiste em apoiar e criar regimentos, diretrizes para o exercício do papel social e cultural da comunidade em que ela esta inserida. As rotinas e os serviços oferecidos pela mesma irão definir sua trajetória diante do público assistido. Para que sua atuação seja algo presente na rotina dos indivíduos que a frequentam ou desejam frequentar é necessário que a biblioteca remodele suas ações, ou seja, estabeleça possibilidades além daquelas ligadas diretamente aos interesses do poder político e público. Baseado na condição de que a biblioteca pública é um espaço social, cultural e de memória objetiva-se neste trabalho abordá-la como um instrumento de manipulação do poder, destacando as suas funções: o armazenamento de informações e o registro da memória da sociedade. Ademais, refletir sobre a ideologia contida na seleção das obras que compõem seu acervo, por exemplo, é um exercício que os bibliotecários normalmente não fazem. E desse exemplo se observa que a biblioteca pode influenciar os indivíduos a terem um olhar, critico ou não sobre os fatos da vida e a cultura que as cerca. A formação de ideias e a busca informacional por parte dos indivíduos e grupos sociais “[...] podem influenciar uma coletividade, em sua maneira de se identificar e de se comportar diante de outros grupos sociais [...]” (BREITAS, 2010, p. 102). É a partir do poder que circula nas esferas da biblioteca pública que encontramos a relevância do tema: “a biblioteca como uma instituição social, cultural e de memória”, ou seja, enquanto instituição social, cultural e de memória, ela incide diretamente nos modos de vida dos indivíduos. O interesse por esse tema se deve as pesquisas realizadas no Projeto de Pesquisa “As bibliotecas públicas do município do Rio de Janeiro: um recorte de sua atuação” desenvolvido pela professora orientadora MSc Daniele Achilles, bem como pelas análises relativas ao subprojeto de pesquisa “Bibliotecas públicas do município do Rio de Janeiro e o desenvolvimento da sua função social”, cadastradas no Grupo de Pesquisa “Bibliotecas Públicas: reflexões e práticas”, criado em 2013 e certificado pelo Centro Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). Ambas as pesquisas tem o interesse maior de investigar as missões e as funções das bibliotecas públicas do município do Rio de Janeiro, bem como os mecanismos de poder que circulam por essas instituições, interferindo no processo de construção de identidades de grupos sociais que se encontram próximos dessas bibliotecas. Sendo assim, os projetos de pesquisas fazem parte do grupo que se interessam pela emergência da aproximação das questões relativas às bibliotecas públicas e à sociedade e 358 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 visam o desenvolvimento de pesquisas acadêmicas com a finalidade de alargar as discussões do campo. Dessa forma, para iniciar a discussão aqui proposta é necessário destacar que a biblioteca pública vem sendo abordada como uma instituição que deve dar suporte a educação, mas essa instituição atua de maneira transversal em diferentes áreas, por isso é válido concebê-la como uma instituição social, cultural e de memória que influencia na construção de identidades. Para dar conta dessa elaboração optou-se por tratar a biblioteca pública como instituição social, cultural e de memória, como um instrumento de manipulação do poder político e público, fundamentada em uma pesquisa teórica, com base em autores da área, permitindo-nos entender como a biblioteca age como um instrumento de manipulação de poder. Logo, o trabalho encontra-se dividido nas seguintes seções: a primeira apresenta as definições, missões e funções das bibliotecas públicas; a segunda seção aborda questões relativas à cultura e a construção da identidade cultural; a terceira seção apresenta elementos referentes ao entendimento da influencia das estruturas e mecanismos do poder na construção de identidades, ressaltando a biblioteca pública como uma das instituições envolvidas nesse processo. 2 BIBLIOTECAS PÚBLICAS A biblioteca pública tem em uma das suas funções atender um diversidade de públicos e grupos sociais, com o objetivo de entender as identidades que compõe a coletividade daquela sociedade e tem o apoio do governo, prefeitura ou município. Ou seja, a biblioteca pública por ser financiada por um órgão governamental deverá enquadrar-se nas normas e padrões estabelecidos pela esfera a qual pertence – municipal, estadual. Outros autores do campo da Biblioteconomia atribuíram diferentes definições para estas bibliotecas, mas o foco não é a sua definição em si, mas sim as suas missões e funções. Sendo assim, vale citar o Manifesto da IFLA/UNESCO (1994, p.1) que serve como parâmetro para as bibliotecas públicas do mundo inteiro e as define como “o centro local de informação, tornando prontamente acessíveis aos seus utilizadores o conhecimento e a informação de todos os gêneros”. Além disso, o manifesto alerta que as missões dessas bibliotecas deverão relacionar-se diretamente com a informação, a alfabetização, a educação e a cultura. Assim sendo, o manifesto apresenta como missões: 359 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 1. Criar e fortalecer os hábitos de leitura nas crianças, desde a primeira infância; 2. Apoiar a educação individual e a auto-formação, assim como a educação formal a todos os níveis; 3. Assegurar a cada pessoa os meios para evoluir de forma criativa; 4. Estimular a imaginação e criatividade das crianças e dos jovens; 5. Promover o conhecimento sobre a herança cultural, o apreço pelas artes e pelas realizações e inovações científicas; 6. Possibilitar o acesso a todas as formas de expressão cultural das artes do espetáculo; 7. Fomentar o diálogo intercultural e a diversidade cultural; 8. Apoiar a tradição oral; 9. Assegurar o acesso dos cidadãos a todos os tipos de informação da comunidade local; 10. Proporcionar serviços de informação adequados às empresas locais, associações e grupos de interesse; 11. Facilitar o desenvolvimento da capacidade de utilizar a informação e a informática; 12. Apoiar, participar e, se necessário, criar programas e actividades de alfabetização para os diferentes grupos etários. É válido esclarecer que tanto o Manifesto da IFLA/UNESCO (1994), como autores do Campo da Biblioteconomia e da Educação, atribuem a essas bibliotecas em primeira instância missão educacional. Nesse sentido, as bibliotecas públicas são instituições fundamentais à manutenção da sociedade, possuem como função a preservação da cultura, o estímulo a ações de incentivo a leitura, a disponibilização de produtos e serviços de informação, dentre outros. Quais contribuem consideravelmente para a formação do individuo, dos grupos sociais e de identidades. Dessa forma, corroborando com a ideia de instituição social, Arruda (2000, p. 9) afirma que “para que uma biblioteca torne-se verdadeiramente pública, faz-se necessário assumir as seguintes funções: educativa, cultural, recreativa e informacional”. Essas quatro funções apresentadas por Arruda (2000) encontram-se, de certa forma, presentes nas definições prescritas pela IFLA/UNESCO, já no Manifesto de 1972, o qual considerava a biblioteca pública como “uma força em prol da educação e da informação e um instrumento indispensável para promover a paz e a compreensão entre os povos e nações”. 360 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Para tanto a biblioteca pública é controlada pelo poder político e público, trabalhando em prol da sociedade, uma vez que é uma instituição que pertence ao poder público e serve aos propósitos político, sociais, econômicos e até mesmo culturais. Quando se configura a biblioteca pública como instituição social, cultural e de memória percebe-se que ela é uma instituição que reúne missões e funções importantes para a sociedade, contribui para a formação dos indivíduos, do tecido social, da cultural e coopera para a conservação da memória da humanidade. Quando se fala em memória é comum vir a mente, a escrita e o registro é a, por isso Breitas (2010, p. 102) afirma que “[...] a escrita [é] a base para a construção da memória e da identidade.” Baseada nessa afirmação de Breitas (2010) se pode deduzir que os registros do conhecimento sempre refletiram as expectativas e ideologias de um grupo, de uma geração. É a partir desses registros e documentos que a memória no âmbito das bibliotecas se constrói, tornando assim o nosso legado. Somos o que construímos em termos de memória e as instituições como as bibliotecas públicas, correspondem a um dos espaços existentes e pertinentes espaços pertinentes para a seleção, o armazenamento, a conservação e disseminação dessa memória. Diante dessa perspectiva, a memória no âmbito das bibliotecas públicas sempre esta atrelada a ideia de acúmulo e conservação dos registros da humanidade. Portanto, cabe destacar que as bibliotecas, principalmente as públicas que contam com um público diversificado, tendem a acumulação. E os bibliotecários se colocam neste cenário como guardiões dessa memória com o objetivo de garantir que a próxima geração tenha o acesso a esses documentos. Mas, a Biblioteca Pública não pode restringir sua atuação apenas ao acúmulo, a conservação de memória, a educação, ela deve ser integrada com a sociedade, como coloca Breitas (2010, p. 102), ela “[...] se encontra inserida em um determinado contexto político e cultural, do qual pode sofrer influencias [...]”, tanto sociais e dos serviços oferecidos. Logo, os serviços oferecidos pela biblioteca promoverão mudanças e interferências na vida das pessoas da comunidade e por meio dessas mudanças, é que o bibliotecário pode aplicar a energia ao seu trabalho na biblioteca em prol dos anseios da comunidade, ou seja, efetivar o alinhamento da biblioteca com a rotina social e direcionar os serviços prestados as necessidades da comunidade/sociedade. Na sociedade quando as ideias são agrupadas, geralmente os grupos sociais se formam e os indivíduos que o compõem partilham de similaridades e identidades. Sendo assim, os indivíduos trabalham em conjunto para cumprir tarefas e manter o grupo social estável. A 361 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 manutenção dos grupos sociais se dá por meio dos atores e das instituições. A biblioteca pública como uma instituição social, cultural e de memória também tem a função de manter uma coesão social, uma ordem social, visto que oferecem um conjunto de obras, serviços alinhados a intenções advindas do poder público e político. Ao longo da historia, observar-se a produção dos registros do conhecimento, sua contextualização que rege a construção da memória através de uma ordem social contínua resulta na formação de identidade. Essa ordem social atua diretamente na sociedade e para defini-la Johnson (1997, p. 213) afirma que ela: [...] é um tipo especial de sistema social que, como todos os outros sistemas sociais, distingue-se por suas características culturais, estruturais e demográficas/ecológicas. Especificamente, é um sistema definido por território geográfico [...] dentro do qual uma população compartilha de uma cultura e estilo de vidas comuns, em condições de autonomia, independência e autossuficiência relativas. Cada sociedade ou grupo social possui o seu próprio desenvolvimento e para que esse aperfeiçoamento aconteça, a cultura, a memória e a identidade são atravessadas por mecanismos do poder. Os mecanismos de poder que se encontram presentes em todo o tecido social, bem como nas bibliotecas especialmente as públicas, ‘ditam’ regras para os modos de vida. As necessidades informacionais coletivas são colocadas como realidades que devem ser enfrentadas e em instituições como a biblioteca pública deve não só atuar de forma hierárquica, respeitando as normas emanadas do poder político e público. Porém, se colocar de maneira diferente, isto é construir possibilidades criativas de modo que não produza manobras prontas. 2 CULTURA E IDENTIDADE CULTURAL As questões ligadas à construção da identidade cultural têm sido foco das discussões no campo de teoria social e as transformações ocorridas nesta área tem impulsionado uma série de pesquisas que alegam que as antigas identidades, aquelas que estabilizavam o mundo social, encontra-se em crise, em declínio. O conceito de identidade é bastante complexo e pouco desenvolvido o que torna difícil a compreensão. Stuart Hall (2005, p. 10-13) em sua obra “A identidade cultural na pósmodernidade” alerta que existem três diferentes concepções de identidade: a primeira 362 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 concepção relaciona-se ao sujeito do Iluminismo que coloca o individuo como um ser centrado, dotado de capacidades que nasce com ele e ao longo do tempo se desenvolve; a segunda concepção liga-se ao sujeito sociológico que reflete a complexidade do mundo moderno, logo o sujeito deixa a posição de ser autônomo e auto-suficiente e passa a depender das relações com o outro; a terceira concepção inclui-se no cerne do sujeito moderno, ou seja, o sujeito constrói sua identidade continuamente, visto que ela é formada e transformada a todo tempo. Logo, Hall (2005, p. 13) declara que “[...] A identidade plenamente unificada, completa, segura e coerente é uma fantasia”. O que Hall (2005) se refere é que a identidade com sentido de unidade confere uma ordem social, uma coesão social e era responsável por uma serie de normas comportamentais, até mesmo aquelas ligadas ao universo da informação. Essa identidade com sentido de unidade encontra-se presente no tecido social antes do inicio do processo de globalização, isto é, antes das mudanças constantes e cada vez mais rápidas, da queda das barreiras econômicas, políticas, sociais e culturais. A essa percepção de Stuart Hall (2005) pode-se inferir que as práticas sociais, culturais e de memória são constantemente renovadas e isso altera seu caráter frente à configuração social, política, econômica e cultural anterior, ou seja, aquela vigente antes da segunda metade do século XX. O autor também nos alerta para um jogo na questão das identidades – as políticas da fragmentação ou pluralização de identidades (HALL, 2005, p. 18). No que tange o universo das bibliotecas, a acumulação de cultura advindas dos grupos sociais e da sociedade se dá por meio do armazenamento dos registros do conhecimento, ou seja, essas bibliotecas têm como missão e função a preservação do conhecimento registrado. Esses conhecimentos, traços culturais e sociais são registrados nos diferentes suportes documentais e reunidos pelas bibliotecas, no caso das públicas, elas devem reunir os suportes documentais segundo uma demanda social, mas também respeitar as recomendações do poder político e público. O pensamento humano quando registrado embute em geral traços sociais, culturais e de identidade próprios dos grupos sociais e influem na dinâmica da sociedade. Essas ideias e resultados culturais registrados são constantemente modificados, pois refletem as características das pessoas e do ambiente onde estão inseridas, bem como das relações e o entrecruzamento desses traços. Essa constante transformação é elemento vital para o desenvolvimento e para a formação do social, do cultural, da identidade, da memória e da própria sociedade como um todo. Johnson (1997, p. 59) define cultura como: 363 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O conjunto de símbolos, ideias e produtos materiais associados a um sistema social, seja uma sociedade inteira ou uma família [...] A cultura possui aspectos materiais e não materiais. A cultura material inclui tudo o que é feito, modelado ou transformado como parte da vida social coletiva [...] A cultura não material inclui símbolos [...] bem como as ideias que modelam e informam a vida de seres humanos em relações recíprocas e os sistemas sociais dos quais participam. As mais importantes dessas ideias são as atitudes, crenças, valores e normas. A cultura e as ideias resultantes das produções humanas na sociedade vão além de conjuntos de objetos produzidos pelos mesmos. A ação de afirmar sua presença e existência faz com que nossas criações sejam registradas e preservadas para gerações futuras. Cada geração terá suas práticas sociais únicas e é papel dos bibliotecários preservarem esses registros para garantir o acesso a essas informações no futuro. O exemplo disso tem-se os arquivos de Elba, a Biblioteca de Alexandria e o Mouseion Alexandrino que são exemplos de construções das civilizações da Antiguidade que já se preocupavam com a preservação do conhecimento, bem como da cultura. (Araujo, 2011, p. 20). Os registros culturais da humanidade refletem a realidade humana, e registram suas práticas culturais e sociais que pode ser comparada a um organismo vivo, em constante modificação, pois “A sociedade humana é entendida como um todo orgânico, composto de partes que desempenham funções específicas necessárias para a manutenção do equilíbrio do todo.” (ARAÚJO, 2011, p. 24). A produção humana reúne obras artísticas, filosóficas e científicas, que desenvolvem uma cultura e em instituições como a biblioteca pública, a seleção, o armazenamento, a conservação e a disseminação dependem do auxilio de bibliotecários. Alguns autores defendem a ideia de que a cultura está ligada diretamente à história e é um símbolo da nacionalidade e da representação da realidade social. Sendo assim, preservar o conhecimento é uma tarefa fundamental para a constante transição cultural, ou seja, para que gerações anteriores ou futuras tenham acesso a elementos do passado ou do presente. Esse é um pensamento tradicional de cultura e identidade, por isso aqui alertamos para as ponderações de Stuart Hall (2005), pois ele alerta que esse terreno – o da identidade - está em processo de modificação, ou seja, em crise, em fragmentação. E como as bibliotecas, públicas, mentem-se como instituições sociais, culturais e de memória, e como elas ainda tem, como função maior manter uma coesão, uma ordem social apoiando-se na educação, na cidadania, na cultura e no lazer. Para alinhavar a segunda seção à terceira optou-se por utilizar as ponderações de Hall (2005) e conectá-las as análises relativas ao poder feitas pelo filósofo francês Michel Foucault 364 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 que visam destacar o modo como as bibliotecas públicas mentem-se como instrumentos de manipulação do poder. 365 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 3 ESTRUTURAS DO PODER A sociedade disciplinar vigorou do século 18 até a segunda metade do século 20. O apogeu da sociedade disciplinar ocorreu até o século 20 e nesse período a economia do poder percebeu ser mais eficaz e rentável “vigiar” do que “punir”. A imagem de disciplina na sociedade disciplinar não é a de uma instituição fechada; ela está voltada para o modelo panóptico, com mecanismos que melhoram o exercício do poder. O exercício do poder nos corpos sociais através dos dispositivos de disciplina ao longo dos séculos 18 até a 2º metade do século 20, formaram a sociedade disciplinar. Michel Foucault (1979) identifica duas configurações sociais: a primeira ele denomina de sociedade disciplinar abrangendo o período que compreende o século XVII até a segunda metade do século XX. Foucault faz análises relativas ao poder e se preocupa em desmembrar as formas de sujeição da sociedade disciplinar. A segunda, ele denomina de sociedade de regulamentação que se instaura a partir da segunda metade do século XX. Foucault (1979) rompeu como o modo como tradicionalmente se pensava principalmente no que diz respeito à tradição marxista. Para realizar esta ruptura, o filósofo adverte que é preciso escapar a quatro formas de análise ao poder: a apropriação do poder (o poder é algo que alguns possuem); a localização do poder (o poder se adéqua às estruturas políticas dominantes); a subordinação do poder (o poder esta subordinado a um modo de produção); e ao nível do conhecimento (o poder pode produzir efeitos ideológicos). Indo mais além, Foucault (1979, p. 46-48) afirma que: [...] não se detém o poder, porque ele se exerce em toda malha do tecido social. Isso ocorre porque o poder circula e se exerce através de instituições sociais como a família, a escola, o hospital, a biblioteca, etc. A biblioteca é uma instituição social, cultural e de memória, logo serve ao exercício do poder. Para haver tal circulação, o poder jamais é controlado por um individuo ou grupo. Entretanto, nas sociedades disciplinares o poder é mediado pelas instituições. Em cada uma delas, e aí se inclui a biblioteca, o poder circula e se exerce, participando de um jogo de pequenas partidas. Isso significa dizer que o poder se exerce através de relações estratégicas, entre as quais pode ser colocada a relação com o conhecimento e os modos de armazená-lo, organizá-lo, conservá-lo e disseminá-lo. 366 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 As ideias que norteiam este trabalho perpassam por essas questões, isso porque se optou por enfatizar a biblioteca pública enquanto instituição social, cultural e de memória e como um instrumento de manipulação do poder, afinal ela participa da dinâmica social, cultural e de memória, além de influir no processo de construção de identidades. Cabe destacar três elementos essenciais a essa discussão – o social, o cultural e a memória, sem contar com a formação de identidade, todos esses elementos não são apenas construções do poder, mas sim produções, mecanismos, instrumentos de manipulação. O mecanismo utilizado por muitas instituições e mesmo para alcançar o controle da sociedade é o poder. Através das instituições que o poder circula e atinge diretamente os modos de vida. As instituições sociais, e em destaque a biblioteca pode ser considerada instrumento de poder, posto que influenciam os indivíduos no que tange o consumo, uso e produção de informação e de conhecimento. Nas palavras de Johnson (1997, p. 130) “[...] uma instituição é um conjunto duradouro de ideias sobre como atingir metas reconhecidamente importantes na sociedade [...]” e logicamente com a aceitação da sociedade. Essa aceitação aponta diretamente a funcionalidade das metas que a instituição irá apresentar, pois a mesma “[...] exerce o controle social através de sua legitimação, ou seja, da aplicação de normas e regras que orientam os indivíduos a fazerem o que é considerado correto [ou normativo] de acordo com o ponto de vista da ordem social”. É válido supor que respeitando a definição atribuída por Johnson (1997), as instituições legitimam determinados ‘comportamentos’, inclusive informacionais. No que tange o processo de legitimação Berger e Luckmann (2000, p. 128-129) declaram que: A legitimação “explica” a ordem institucional outorgando validade cognosciva a seus significados objetivados. A legitimação justifica a ordem institucional dando dignidade normativa a seus imperativos práticos. É importante compreender que a legitimação tem um elemento cognoscitivo assim como um elemento normativo. Em outras palavras, a legitimação não é apenas uma questão de “valores”. Sempre implica também “conhecimento” [...] A legitimação não apenas diz ao indivíduo por que deve realizar uma ação e não outra; diz-lhe também por que as coisas são o que são. Em outras palavras, o “conhecimento” precede os “valores” na legitimação das instituições [...] O desempenho das funções da cada indivíduo e seus grupos na sociedade é regido através da ordem social, que legitima determinados comportamentos e modos de vida, e no caso das bibliotecas públicas, legitimam comportamentos educacionais, informacionais, sociais, culturais, políticos, econômicos, de lazer, de cidadania, dentre outros. Logo, a 367 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 biblioteca pública neste contexto, a partir do momento que ela legitima uma espécie ordem social com ações. A biblioteca tem um papel essencial sobre a guarda e consequente conservação e preservação dos registros conhecimento e o bibliotecário tem como função auxiliar na organização e tratamento desses registros do conhecimento visando, atender as necessidades da sociedade. Ao refletir sobre o armazenamento, Breitas (2010, p. 107) afirma que: [...] esse acúmulo não se dá de forma mecânica e sem consequências. A biblioteca não é um lugar inerte e frio. É um lugar onde convergem informações sobre o mundo, dados locais e globais, fragmentos de saber e da realidade, ficção e obras verossímeis. Logo, Breitas (2010) indica que a missão, bem como a função das bibliotecas tem algo de intencional. Mas que intencionalidade é esta? Talvez se possa inferir que as bibliotecas são os canais pelo qual o poder político controla a sociedade. Visto que elas são tidas como locais onde os valores, comportamentos são construídos e podem ser preservados. Além disso, poderão influenciar e deixar ‘heranças’ para gerações futuras, a partir da disseminação de informações, de crenças e de cultura representativa daquela região e época. A comunidade cria uma relação com a biblioteca e isso se expande na construção social, o que gera produções políticas, sociais, econômicas e principalmente culturais. Sendo assim cabe esclarecer que essas produções se dão nas relações, mas retornam a biblioteca por meio dos registros do conhecimento desenvolvidos por esses indivíduos que compõem a comunidade, os grupos sociais, e consequentemente a sociedade. Esses registros do conhecimento serão armazenados para servir as gerações futuras. Valores e crenças passadas para outras gerações irão refletir um herança cultural e na preservação dessa herança. Com isso, Milanesi (1997, p. 24) afirma que: A biblioteca é a mais antiga e frequente instituição identificada com a cultura. Desde que o homem passou a registrar o conhecimento ela existiu, colecionando e ordenando tabuinhas de argila, papiros, pergaminhos e papeis impressos. Está presente na história e nas tradições, destacando-se em Alexandria nos tempos de Cristo e proliferando nos interiores dos mosteiros medievais como repositório do ser humano. A afirmação de Milanesi (1986, p. 15) de que “uma biblioteca pública é um centro de informações [...] atendendo a demanda da população, estimulando o processo contínuo de descobrimento e produção de novas obras [...]” corrobora com a ideia de que a biblioteca é o meio pelo qual os mecanismos de poder podem influir na vida do individuo. Em um 368 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 determinado momento da história, a biblioteca atuou como um centro de qualificação oferecendo informações, que ajudariam na qualificação de profissionais que estavam surgindo naquele período, isso significa que ela está a serviço sim de um poder político. Quando a engrenagem sócio, política e econômica precisa mão-de-obra, é a biblioteca que pode auxiliar na formação de operários, por exemplo. Vinculada a ideia de que a biblioteca é uma instituição que serve aos mecanismos de poder e ainda faz parte do processo cultural e formação de identidades, ela pode ser vista a partir de sua situação e muitas vezes direcionada aos “[...] interesses políticos [...]. [Logo, se faz um] instrumento de manutenção do poder. Suas obras foram recolhidas em uma ordem institucional específica, com suas regras, convenções e hierarquias.” (BREITAS, 2010, p. 114) e essa ordem específica seguiu uma ordem em meio ao caos e produção massiva de informação. Ao retomar a ideia de Breitas (2010), “a biblioteca como instrumento de manipulação do poder”, pode-se ponderar que a produção do conhecimento, o armazenamento e a sua disseminação estão ligadas diretamente com a função e com a missão das bibliotecas públicas. Uma das missões da biblioteca pública é apoiar a educação, e deve alimentar e proporcionar base para a constante construção do conhecimento. Logo, a educação se coloca como peça chave nesse processo de construção do conhecimento e formação de identidade. A razão de ser de uma biblioteca é suprir as necessidades de um determinado grupo na sociedade (usuários e despertar interesse nos não usuários), diante disso, a biblioteca pública deverá ser responsável por atender grupos heterogêneos, com uma política pública que abarque interesses e necessidades diversas. Trabalhar com interesses e necessidades de grupos heterogêneos não é uma tarefa fácil, visto também que eles podem se modificar de tempos em tempos, conforme as produções e construções que ocorrem no contexto cultural e informacional. Dessa forma, a biblioteca pública deverá manter o acervo e seus serviços alinhados a situação e condição da comunidade ou grupo que esta inserida. Retomando Stuart Hall (2005) as construções a partir da segunda metade do século XX se darão por fragmentações e entrecruzamentos. Já nas palavras de Milanesi (1986, p. 14) “Cada biblioteca serve a um determinado público, quanto mais heterogêneo for esse público, mais diversificado será seu acervo – como é o caso da pública”. Assim, o atendimento a um público diversificado é um dos grandes desafios de uma biblioteca pública, posto que ela direciona o seu funcionamento e os seus serviços baseandose na diversidade de singularidades. Mas, a realidade das bibliotecas públicas ainda está muito 369 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 longe disso, o que se encontra em seus acervos são coleções carregadas de influencias ideológicas, Entretanto, se sabe que zelar pela imparcialidade no momento de seleção dos materiais adquiridos é algo mítico. A respeito da construção do conhecimento, Breitas (2010, p. 117) enfatiza a importância da leitura vinculada com “[...] a escrita, refletem a organização da biblioteca pública. [...]”. Segundo Breitas (2010) o saber [o conhecimento] adquirido através da leitura é reelaborado e mobilizado na escrita de novos textos sobre os mais variados temas [...]” e o saber com o tempo é a memória constituída de seus registros (fotografias, livros, revistas, artigos e etc.). A partir dessas afirmações de Breitas (2010), se pode observar o elo entre todos os elementos elencados neste trabalho: educação, leitura, escrita, produção do conhecimento, função da biblioteca e poder político e ainda, construção de identidades. 370 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Os usuários de uma biblioteca, bem como o acervo estão imersos em um conjunto de mudanças constantes e fazem parte do processo cultural. O poder público e a imagem dessa instituição estão ligados a alguns aspectos, a se destacar a possibilidade de atingir a potencialidade no que tange as ferramentas e os serviços de informação, que podem gerar possibilidades novas e criativas no ambiente da biblioteca públicas. Tais possibilidades englobam instrumentos de pesquisa, informação e lazer, e consequentemente influencia na construção de identidades. Isso porque é através da escrita, da leitura e da pesquisa, que essas oportunidades novas e criativas, bem como aquelas impostas pelo poder são encontradas. Quando se há oportunidades novas e criativas, elas funcionam como derivas ao poder imposto por uma configuração social, política e econômica, via as instituições, como a biblioteca, e propicia a vivencia de novas experiências e abertura de novos rumos sociais, políticos, econômicos, culturais e informacionais. Interesses políticos, sociais, econômicos, culturais e informacionais estão por de trás das seleções e escolhas das informações, e por isso, às vezes, determinadas mudanças são presenciadas. Para que as escolhas e mudanças tenham um impacto positivo em nossas vidas, é necessário pegar outras vias, a das possibilidades criativas. Portanto, o objetivo aqui foi alertar que restringir a biblioteca pública a ser uma instituição de apoio a educação ou a cidadania é limitar seu papel, sua missão, sua função, bem como sua atuação. Acreditamos que cabe ao bibliotecário atentar para uma nova realidade – a de que as bibliotecas públicas são instituições sociais, culturais e de memória que servem de instrumento de manipulação de poder que influencia a formação de diversos elementos importantes e inerente a formação de identidades, tais como: a educação e a cidadania. Dessa forma, tais produções – sociais, culturais e de memória, entre outras afetam diretamente a dinâmica da sociedade no que tange a construção de identidades, isso significa que as bibliotecas especialmente as públicas possuem uma função relevante nesse processo. Trabalhar com essa nova perspectiva que atribuímos aqui às bibliotecas públicas pode ser a via pela qual saímos desse impasse que essas bibliotecas estão inseridas para torná-las instituições que possibilitam os indivíduos maiores capacidades criticas e autonomia no que tange o consumo, uso e produção de informação e conhecimento. 371 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 REFERENCIAS ARAÚJO, Carlos Alberto A. Condições teóricas para a integração epistemológica da Arquivologia, Biblioteconomia e Museologia na Ciência da Informação. In: R.Ci. Inf.e Doc, Ribeirão Preto, v.2, n.2, p.19-41, jul/dez. 2011. ARRUDA, Guilhermina Melo. As práticas da biblioteca pública a partir das suas quatro funções básicas. 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Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 ESTUDO E ANÁLISE DO CENTRO DE INFORMAÇÃO E DOCUMENTAÇÃO DE ENGENHARIA DE TRANSPORTE MARÍTIMO GT 6:Livre. - Modalidade Oral TORRES, Marcela M.¹ RESUMO Nesse trabalho o Centro de Informação e Documentação de Engenharia de Transporte Marítimo é a unidade de informação, estudada a qual optamos pelo vocabulário e pelo tesauro afinal, a área em que está situada, é especializada e por isso deve haver uma padronização maior para que haja uma recuperação da informação mais eficaz. Propondo apresentar terminologias na área de domínio de Engenharia de transporte Marítimo com intuito de organizar os conceitos da área e assim facilitar a tomada de decisão no emprego do termo específico. Visando desenvolver um instrumento para mapear as decisões no emprego de terminologia específica na área Engenharia de Transporte Marítimo, considerando para esse fim, nesse trabalho, a terminologia, ’emergência’ referente ao tipo ‘itens de segurança’. Para essa macroestrutura de tesauro, consideramos como área de domínio a “segurança” e desenvolvemos uma estrutura hierárquica, tendo em vista os termos gerais (TG), Termos específicos (TE) e os termos relacionados (TR). É importante suprir as necessidades informacionais de engenheiros navais e das pesquisas da área, visando sempre á atuação do bibliotecário para organizar e facilitar o acesso ao usuário e a transferência da informação. Palavras-chave: Tesauro. Informação marítima. Engenharia marítima. Segurança. Ítens de Segurança. Hierarquia. ABSTRACT In this work the Centre for Information and Maritime Transportation Engineering Documentation is the unit of information, which we chose to study vocabulary and the thesaurus after all, the area in which it is situated, is specialized, so there should be greater standardization so there a recovery of the more effective information. Proposing terminology present in the area of Maritime transport engineering domain with the intention of organizing the concepts of area and thus facilitate decisionmaking in the specific term employment. Aimed at developing an instrument to map the decisions on specific terminology employment in Maritime Transport Engineering area, considering for this purpose, in this work, the terminology, 'emergency' for the type 'safety features'. For this macrostructure thesaurus, we consider as domain area "security" and develop a hierarchical structure, in view of the general (TG), specific terms (TE) and related terms (RT). It is important to meet the information needs of naval engineers and research in the area, aiming to performance will Librarian to organize and facilitate access the user and transfer of information. Keywords : Thesaurus. Maritime Information. Marine engineering. Safety. Items of safety. Hierarchy. 373 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 ¹Graduando em Biblioteconomia na UNIRIO email: [email protected] 1. INTRODUÇÃO O Centro de Informação e Documentação de Engenharia de Transporte Marítimo, detém um acervo especializado em Transporte Marítimo de petróleo e seus derivados. O acervo abrange objetos bibliográficos e iconográficos para atender as necessidades dos Engenheiros Navais, especializados em construção e manutenção de transporte marítimo. O Centro de Informação de Engenharia de Transporte Marítimo é subdividido em duas áreas: Biblioteca e Arquivo especializados em transporte marítimo, ambos são complementares e afins O objetivo do Centro de Informação de Engenharia de Transporte Marítimo é a integração e o aperfeiçoamento da construção e manutenção de transportes marítimos, através de um forte aparato informacional, sendo amparados por publicações técnicas (livros e normas) e documentação técnica do arquivo (planos e manuais) para ter o suporte eficaz para o desenvolvimento de suas atividades. O documento está organizado dentro do acervo por sua relevância aos objetivos e missão do centro de informação e documentação. 2 Metodologia Utilizada Dentro da organização do acervo de Centro de Informação e Documentação, essas relações estão explicitadas como um conjunto de práticas que possuem variadas interpretações de livros técnicos e de legislação específica, que acabam produzindo efeitos diferentes no momento de executar a tarefa. No uso de normas, manuais (documento bibliográfico), dando suporte aos planos (documento iconográfico), através de uma relação de documento testemunha com documento co-testemunha embasando desta forma, o efeito que a prática produz. 374 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 LIVRO (publicação técnica) – Com teorias que e técnicas gerais da área de engenharia naval, oferece embasamento sobre técnicas básicas de construção e manutenção de transportes marítimos. NORMAS (publicação técnica) – Publicação de cunho legal, onde regula, através de padrões internacionais, a construção e manutenção de transportes marítimos. MANUAL (documentação técnica de arquivo) – Documentação específica voltada para orientar e embasar a construção de transportes marítimos para diversas finalidades, tendo cada transporte, seu modelo, finalidade (propósito) e guia especifico para sua construção e manutenção. 2.1 Documento Iconográfico PLANO (documentação técnica) – Documento com a finalidade de orientar sendo mais um instrumento a ser utilizado na construção e a manutenção de transportes marítimos com o propósito de esclarecer de forma dinâmica detalhes da construção destes transportes. 3 RELACIONAMENTO EM ESTRUTURA DE CATEGORIAZAÇÕES ( modelo FRBR) Tendo em vista as características e a necessidade de descrição do documento e a demanda e busca de nosso usuário especialista, é que foi escolhido e usado o modelo conceitual da FRBR na construção da estrutura de categorização do Centro de Informação de Engenharia Marítimo. O modelo de FRBR é conceitual, sendo utilizado como guia na construção dos relacionamentos das categorias firmando-se hoje em dia por tratar da apresentação de uma forma de dispor a informação, permitindo uma consecução mais completa de resultados para as demandas dos usuários, além de fortalecer o debate na esfera da representação descritiva. Ao elaborar a representação de um documento para descrever sua temática e atributos e, torná-la recuperável com intuito a utilização, se constitui um meio de comunicação com o qual o usuário é informado sobre os materiais acessíveis na biblioteca, e assim os solicitar. O 375 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 seu diferencial é o aprimoramento que introduz neste processo ao oferecer uma perspectiva sobre a estrutura, e as relações dos registros bibliográficos. Vale ressaltar que o FRBR causa impactos na revisão dos códigos de catalogação e ISBD, mas não se trata de um novo código nem novo tipo de ISBD. Utilizando as categorias aristotélicas em que a, digamos, “coisa” já existe em si mesma, a substância apresenta uma característica de potencialidade existente dentro dela mesma, desta forma está relacionada ao sujeito, e a sua substância não apresenta mudança, apenas alterações que se atualizam. As categorias Aristotélicas estão relacionadas à ação, posse, tempo, estar, lugar, relação, paixão, qualidade, quantidade. Todas essas características são apresentadas à substância. A existência de algo está relacionada à forma e a matéria, que se relacionam entre si. Dessa forma pensada por Aristóteles é que se podem compreender as relações obtidas no modelo da FRBR. Levando em consideração esses moldes, podemos dizer que FRBR divide-se em três grupos estruturados de entidades, de acordo com as seguintes lógicas; a de entender os produtos do trabalho artístico ou intelectivo que se apresenta nos registros bibliográficos e não bibliográficos, produzindo a base do modelo que podemos dizer que é, a obra, expressão, manifestação e item. Seguindo a linha de raciocínio, a partir daí, se une as entidades responsáveis pelo teor intelectivo; armazenamento ou disseminação das entidades préestabelecidas. Trata-se de duas entidades compreensíveis, pessoa e entidade coletiva. Já a terceira linha de raciocínio (grupo) trata das entidades que representam o emaranhado de temas que caracterizam uma obra, que seria as entidades que podemos denominar como Conceito, Objeto, Evento e Lugar. Segundo Moreno (2006) analisa o desenvolvimento dos FRBR: Ao longo de oito anos, o grupo de estudos oriundo da Seção de Catalogação e da Seção de Classificação e Indexação da IFLA, com a colaboração de consultores e de voluntários de várias nacionalidades, desenvolveu os FRBR, apresentando um relatório final em 1998, configurando uma recomendação para reestruturar os registros bibliográficos de maneira a refletir a estrutura conceitual de buscas de informação, levando em conta a diversidade de: • usuários - usuários da biblioteca, pesquisadores, bibliotecários da seção de aquisição, publicadores, editores, vendedores; 376 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 • materiais - textuais, musicais, cartográficos, audiovisuais, gráficos e tridimensionais; • suporte físico - papel, filme, fita magnética, meios óticos de armazenagem, etc. e, • formatos - livros, folhas, discos, cassetes, cartuchos, etc. que o registro possa conter. Portanto com base nas leituras de aula, fichamento e elaboração até o momento desse projeto, vimos que o FRBR oferece a viabilidade de se fazer uma busca única, para localizar variados tipos de materiais sejam eles bibliográficos ou não, que dessa maneira escapam da esfera biblioteconômica e abrangem qualquer acervo constituído por qualquer tipo material, mesmo esses materiais estando catalogados em idiomas ou edições variadas, ou com cabeçalhos diferentes de assuntos. Segundo Patrick Le Boeuf, (2003?) complementa: A utilização dos conceitos estabelecidos pelos FRBR proporcionará o estabelecimento da recuperação da informação de forma integrada, ou seja, tornará possível a recuperação de uma obra em todos os itens em que tiver sido manifestada. No caso do nosso centro de informação e documentação, a escolha dos descritores e suas relações foram escolhidas tendo em consideração as necessidades de nossos usuários e com base nas informações conceituais da FRBR, e sua estrutura está apresentada no Anexo no item 3. 4 METADADOS E NECESSIDADE DE NORMALIZAÇÃO DE DADOS Segundo ALVES (2005), “metadados [são] atributos ou dados referenciais que representam um recurso, sendo que o conjunto codificado e padronizado de metadados (atributos) constitui o padrão de metadados ou formato de metadados”, utilizando uma linguagem mais simples. Para MARCONDES (2006) os metadados “[...] São dados associados a um recurso web, um documento eletrônico, por exemplo”. Os metadados servem para facilitar a recuperação e o compartilhamento da informação, logo quanto mais padronizado são os metadados em uma unidade de informação, maior será sua eficácia na recuperação de informações. O Centro de Informação e Documentação adota a FRBR como um guia para a construção dos relacionamentos, mas apenas um guia não é o suficiente para tornar uma informação totalmente recuperável. Visando buscar subsídios para a implantação de procedimentos da recuperação da informação, a unidade de informação tem como base 377 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 adoção de normas mais específicas como a ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas e o AACR2 – Código de Catalogação Anglo-Americano. Existem também as organizações internacionais que auxiliam na organização desses dados como é o caso da ISO – InternationalOrganization for Standardization, além de ferramentas para a organização da informação na web, alguns exemplos são o Dublin Core (DC) Desenvolvido pelo Dublin Core Metadata Initiative (DCMI), Learning Object Metadata (LOM) desenvolvido pelo Institute of Electrical and Electronics Engineers (IEEE) e etc. Para que o sistema recupere a informação de forma efetiva é necessário que sua padronização e normalização sejam eficazes conforme ALVES e SANTOS (200-?) dizem: O uso do padrão de metadados correspondente ao tipo específico de ambiente informacional, bem como a normalização ou construção adequada de representações se constitui na chave para a efetividade dos sistemas de informação nesses ambientes. Para melhor organização do nosso ponto de acesso utilizamos o Autor, conforme o código da AACR2, que tem como objetivo a normalização de catalogação a nível Internacional, tendo como base o catálogo de autoridade da Biblioteca Nacional, mas o usuário poderá pesquisar o nome do autor tanto por extenso quanto abreviado em sua pesquisa. 5 ORGANIZAÇÃO CONCEITUAL DO ACERVO Para que haja a organização do acervo de modo que a informação obtida em uma busca não seja incoerente com o que o usuário procura, é necessário um padrão, como foi dito anteriormente. Para que isso ocorra utiliza-se alguma uma linguagem documentária que pode ser um tesauro, ontologia, sistema de classificação, etc. Na construção dessas linguagens documentárias é necessário um vocabulário controlado, que nada mais é que a construção de uma lista de termos referentes a um ou mais áreas do conhecimento, nosso caso é a de transporte marítimo. Uma de suas funções é padronizar a entrada e a saída de dados de um sistema de informação e está construído numa estrutura hierárquica e alfabética e é utilizado para a indexação de documentos. O tesauro é uma ferramenta que auxilia na recuperação da informação e sua organização assim como CAVALCANTI (1978) afirma: Tesauro é uma lista estruturada de termos associada empregada por analistas de informação e indexadores, para descrever um documento com a 378 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 desejada especificidade, em nível de entrada, e para permitir aos pesquisadores a recuperação da informação que procura. O tesauro necessita da criação de um vocabulário controlado anteriormente a sua construção, uma vez que é formado por descritores relacionados. Outra ferramenta é a ontologia que segundo SALES; CAFÉ “Uma ontologia define o vocabulário usado para compor expressões complexas. O objetivo da ontologia é viabilizar um comum acordo no uso do vocabulário compartilhado de uma maneira coerente e consistente.” Para FEITOSA (2006), “O uso de ontologias fornece uma grande possibilidade de se descrever objetos e suas relações com outros objetos.” Em nossa unidade de informação, optamos pelo vocabulário e pelo tesauro afinal, a área em que está situada, é especializada e por isso deve haver uma padronização maior para que haja uma recuperação da informação mais eficaz. Para os itens de segurança não adotamos nenhuma norma específica para essa entrada, porém, indicamos para o usuário e para quem irá inserir os dados no sistema, que para o preenchimento do campo. Tomamos essa preocupação em normalizar essa entrada desse modo para que sejam evitados erros no preenchimento do campo 6. Vocabulário Controlado 379 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 7. Desenvolvimento Para essa macroestrutura de tesauro, consideramos como área de domínio a “segurança” e desenvolvemos uma estrutura hierárquica, tendo em vista os termos gerais (TG), termos específicos (TE) e os termos relacionados (TR), Conforme pode ser observado no organograma a seguir: 8. Tesauro - Figura 1 380 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Tesauro - Figura 2 381 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Tesauro - Figura 3 382 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 9 CONSIDERAÇÕESA FINAIS Encontramos uma biblioteca organizada, com um acervo especializado e em constante expansão, com profissionais empenhados em satisfazer as necessidades informacionais dos usuários, permite que o visitante e os pesquisadores encontrem as respostas para as suas questões. O desenvolvimento das Ciências Marítimas e a informação específica vinculada a ela, tem como base a experimentação e resultados das pesquisas nas áreas afins, interligando os diversos campos científicos, desenvolvendo uma conjuntura axiomática aplicada ao estudo da informação. O ótimo atendimento dos profissionais, um acervo de qualidade e um Setor de Referência que faz a diferença, cativa cada vez mais usuários reforçando uma dos principais objetivos da biblioteca. A biblioteca é para o usuário e deve ser administrada em torno das suas necessidades informacionais. 383 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Referências ALVES, Rachel Cristina Vesú; SANTOS, Plácida. Metadados em ciência da informação: considerações preliminares sobre padrões para a construção normalizada de representações. [s.l.], 200-?. Disponível em: http://www.cibersociedad.net/congres2009/es/coms/metadadosem-cincia-da-informasao-considerasoes-preliminares-sobre-padroes-para-a-construsaonormalizada-de-representasoes/994/. Acesso em: 19 mar. 2013. CAVALCANTI, C. R. Indexação e tesauro: metodologia e técnica, Brasília, ABDF,1978. FEITOSA, Ailton. Organização da informação na web: das tags à web semântica. Brasília: Thesaurus, 20 CORRÊA, Rosa Maria Rodrigues. Catalogação descritiva no século XXI: um estudo sobre o RDA. 2008. 73 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação)-- Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, SP, 2008. Disponível em: <www.marilia.unesp.br>. Acesso em: 10 mar. 2013. FERNANDES, Geni Chaves. Análise da informação. Rio de Janeiro: Escola de Biblioteconomia da UNIRIO, 2012. 20 f. Notas de aula. LE BOEUF, Patrick. O admirável mundo novo do FRBR: versão 5. In: REUNIÃO DA IFLA, 5., 2007, Pretória, África do Sul. Disponível em: <www.imeicc5.com>. Acesso em: 10 mar. 2013. METADADOS. In: WIKIPÉDIA: a enciclopédia livre. Wikimedia, 2013. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Metadados>. Acesso em: 19 mar. 2013. MODESTO, Fernando. FRBR modelando a catalogação sem anoroxia. Infohome, Londrina, dez. 2006, Coluna Online/Offline. Disponível em: <http://www.ofaj.com.br/colunas_conteudo.php?cod=278>. Acesso em: 10 mar. 2013. SALES, Rodrigo de ; CAFÉ, Lígia. Semelhanças e diferenças entre tesauros e ontologias. DataGramaZero, v. 9, n. 4, ago. 2008. Disponível em: <http://www.dgz.org.br/ago08/Art_02.htm>. Acesso em: 30 mar. 2013. 384 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A TERCEIRA IDADE E A SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO: as dificuldades de utilização das novas tecnologias FREITAS, Maria da Conceição 80 COSTA, Emanuelle Barros Ferreira 81 TAVARES, Maria Valdenice Mendes Santiago 82 SANTOS, Raquel Barbalho dos 83 PONTES, Luciana Fontenele Meira 84 RESUMO Este artigo objetiva debater sobre as dificuldades encontradas pelos idosos em usar as novas tecnologias, e o que isso influencia na sua qualidade de vida e dependência em uma sociedade que cada vez cobra mais agilidade de uso e aplicabilidade das novas tecnologias. Nesse sentido, aborda desde a utilização dos celulares e dos computadores, até dos atuais modelos de aparelhos de televisão. Conforme constatado em alguns estudos feitos pelo IBGE, a sociedade está tendo um maior número de idosos, pode-se questionar a relação do índice de envelhecimento com o índice de qualidade de vida que deve ser proporcionado pela sociedade. Utilizamos de questionários que buscam identificar as maiores dificuldades de uma amostra de idosos em utilizar as novas mídias no seu dia a dia. Podemos identificar problemas simples, como fazer uma ligação de telefone celular. Palavras- Chave: Envelhecimento da população. Tecnologias. Mídias do cotidiano. ABSTRACT This article aims to discuss the difficulties faced by the elderly people in the use of new technologies, and the influence of this in their quality of life and dependence in a society that increasingly demands more use of agility and application of new technologies. In this sense, this article discusses everything from the use of cell phones and computers, even the current models of television sets. As seen in some studies made by IBGE, the company is having a greater number of older people, and it's questioned the aging index associated with the quality of life index that should be provided by the company. We used the questionnaires that attempt to identify the major difficulties of a sample of elderly in using new media in their daily routine. We can identify simple problems, how to make a cell phone call. Keywords: aging population. Technologies. Daily media 80 Graduanda em Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará. [email protected] Graduanda em Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará. E-mail. [email protected] 82 Graduanda em Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará. E-mail. [email protected] 83 Graduanda em Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará. E-mail. [email protected] 84 Graduanda em Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará. E-mail. [email protected] 81 385 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 1 INTRODUÇÃO Ao afirmarmos que estamos na Sociedade da Informação podemos considerar que a circulação da informação, sua interpretação e a utilização através dos meios de comunicação tem sido algo disseminado e bem aproveitado por toda a sociedade. Porém, podemos observar que este não é o caso em muitas situações, pois nem todos que fazem parte desta sociedade têm as mesmas oportunidades e qualidade de acesso. Podemos citar a pessoas que não têm acesso aos meios de comunicação eletrônicos ou que não sabem como utilizá-los, em especial, destacamos uma boa parte da população representada pelos idosos. Vamos nos ater a esta parcela, uma vez que uma das características principais da sociedade contemporânea é o crescente envelhecimento populacional. Conforme afirma Pekka Himanen: O envelhecimento da população é uma das mais importantes tendências da Europa e de outras regiões. Nestes países, significa um deslocamento da “sociedade dos jovens”, através da actual “sociedade de meia-idade” para a “sociedade dos pensionistas” [...] (2005, p.349). Este tipo de transição pode acarretar problemas financeiros para o Estado, devido às necessidades que a população de idosos necessita. Isto porque o Estado deve subsidiar seu bem estar, garantido também condições para o acesso e uso da informação. A população idosa necessita de cuidados especiais em vários sentidos e isso inclui o acesso às informações por meio das novas tecnologias, que até mesmo alguns jovens sentem dificuldade ao utilizá-las. Contudo, dentre os problemas enfrentados pelos idosos podemos destacar desde dificuldades em manusear aparelhos celulares, como, por exemplo, tentar encontrar um número de telefone em sua agenda, ou mesmo lidar com o controle remoto do aparelho de televisão. Em decorrência disso, ressaltamos a necessidade de um olhar atento para essa população, trazendo qualificação para o uso das tecnologias eletrônicas, possibilitando, assim, um ambiente com oportunidades de acesso à informação com condições mais igualitárias para todos. Além da qualificação ao acesso, poderia haver também meios de comunicação e tecnologias voltadas para este público. Possivelmente, em breve isto despertará o interesse de empreendedores, o que fará visualizar os idosos como um público de consumo, similar a visão que muitas empresas têm dos jovens. 386 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 2 ESTADO E A TERCEIRA IDADE: relação com a informação De acordo com o Estatuto do Idoso no Brasil o termo “idoso” se refere a “pessoa com idade igual ou superior a 60 anos”. Em muitos países, o envelhecimento da população já é um fato e no Brasil podemos comprovar isto através do censo de 2010, onde a população idosa passou de 5,9% para 7,4%, este índice tende a aumentar, pois é calculado também pelas taxas de natalidade e pela redução da população jovem. Segundo Tavares e Souza (2012, p. 3), “O aumento da população idosa tende a modificar o formato da pirâmide populacional”. Na figura 1, podemos visualizar essa tendência. Fonte: IBGE, 2010. Esta mudança no perfil deste público cria novas necessidades que o Estado precisa suprir. É necessário que se criem políticas públicas voltadas para esta população específica. Dentro destas políticas merecem destaque questões relacionadas à saúde, cultura, lazer e, principalmente, a inclusão digital. O Estatuto do Idoso foi criado para garantir os direitos dessa parcela da população e a inclusão digital pode ser representada em alguns dos seus artigos, tais como o art. 3, “que prevê a viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio com as demais gerações”, e também no art. 21, § 1o, onde é colocada a garantia a cursos especiais para idosos, incluindo “conteúdos relativos às técnicas de comunicação, computação e demais avanços tecnológicos, para garantir a integração à vida moderna” (BRASIL, 2003). Baseado na Lei 8.842 de 1994, art. 1, “a política nacional do idoso tem por objetivo assegurar os direitos sociais do idoso, criando condições para promover sua 387 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 autonomia, integração e participação efetiva na sociedade”. E, para garantir autonomia, integração e participação na sociedade, o idoso precisa estar bem informado. Conforme o art.4, da Lei 8.842, inciso VI, a “implementação de sistema de informações que permita a divulgação da política, dos serviços oferecidos, dos planos, programas e projetos em cada nível de governo” também é direito da população idosa. Entretanto, uma parcela significativa desta população não tem o real acesso às informações e aos conhecimentos divulgados nas leis. Alguns, por não saberem interpretá-las; e, outros, por não saber como acessá-las por meios eletrônicos ou até por não conseguir usar as mídias digitais. Apesar de quem possui uma renda financeira maior ter uma facilidade de acesso e até de compreensão, podemos observar que a dificuldade está na usabilidade dos aparelhos e sistemas, com essa desigualdade de oportunidades. Sobre isso, Alencar (2013, p.2) afirma: “aqueles que possuem uma renda financeira maior, por exemplo, possuem mais facilidade de compreender as funcionalidades, o uso e a linguagem novas tecnologias se comparados aos de renda inferior”. 3 ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO X ESTADO Depois da Lei 10.741, constituída em 2003, que dispôs aos idosos o seu Estatuto e outras providências, passamos a vislumbrar uma melhoria em sua qualidade de vida. Vários pontos foram implementados, enquanto outros reforçados, tais como o da prioridade de atendimentos, a gratuidade em transportes coletivos. Além disso, houve um estímulo à educação, ao esporte, a cultura e ao lazer, inserindo o idoso nos programas de profissionalização, dentre os quais alguns se destinam a capacitação no uso das tecnologias digitais. Isto representa um avanço no que diz respeito à classe dos idosos, protegendo-os, inclusive, contra preconceitos e violências. Tais fatores contribuem diretamente para que a velhice possa ser vivida como um período tão ou mais prazeroso do que os períodos anteriores, e até com certas vantagens. No entanto, inúmeros são os desafios que se apresentam na velhice, e o avanço das tecnologias eletrônicas constitui um deles, juntamente com essa avalanche de informações que chegam a todo instante, deixando-os, por vezes, confusos diante de tanta mudança em tão pouco tempo. Portanto, é fundamental que o Estado brasileiro garanta uma infraestrutura de serviços em vários âmbitos de atuação das políticas públicas, favorecendo a todos um 388 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 conjunto de medidas que possam garantir o bem-estar dos idosos e o exercício de sua cidadania, pois com esse aumento da longevidade, faz-se necessário que o Estado despenda mais de recursos para o bem-estar do idoso. 4 O ENVELHECIMENTO DA POPULAÇÃO E A SOCIEDADE DO BEM-ESTAR O viver em sociedade encontra-se passando por grandes mudanças, a melhoria na qualidade de vida está fazendo com que a população prolongue sua expectativa de vida e para que esse envelhecimento venha acompanhado de aspectos positivos são necessários novos modos de ver o mundo. Contudo, o que entendemos por estado do bem-estar social ou sociedade do bem-estar? Grosso modo, trata-se de uma concepção de governo no qual o estado exerce um papel-chave na proteção e promoção do desenvolvimento social. Bem-estar pode ser caracterizado como o conjunto de fatores que uma pessoa precise para gozar de uma boa qualidade de vida, englobando elementos que proporcionem de forma positiva o viver do ser humano. Nesse entendimento, a sociedade deve ser justa com todos e é nesse contexto que a terceira idade merece ter as mesmas oportunidades que as demais pessoas. As tecnologias devem ser desenvolvidas levando em consideração que esse público possui limitações acarretadas pelo tempo, mas que têm direitos a oportunidades iguais de vida e de acesso. O Estado por ser responsável principal em proporcionar qualidade de vida igual a todos deve ser o primeiro a incentivar o desenvolvimento de tecnologias eletrônicas voltadas para esta camada da população. O envelhecimento da população aumenta as despesas sociais, entretanto é algo incomodo estar em frente a um aparelho de televisão e não saber como utilizar o seu controle remoto, por exemplo. O envelhecimento torna necessário um maior planejamento e investimentos para lidar com um número cada vez maior de idosos. A sociedade do bem estar precisa ter como um dos objetivos capacitar essa parte da população para que ela possa acompanhar o processo de mudança ocorrido devido às inovações tecnológicas. Essa sociedade tem como obrigação disponibilizar educação de qualidade, como fica claro nas palavras de Himamen, (2005, p.362), quando assevera que “a acessibilidade à informação e ao conhecimento ajuda a desenvolver competências associadas 389 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 ao processamento da informação, enquanto que também pode ser usada como base de mais informações e inovações”. O uso das tecnologias eletrônicas não pode ficar restrito aos jovens ou àquelas pessoas que tiveram ou têm melhores condições de vida econômica, mas precisa englobar todos, e esse é o grande significado da sociedade do bem estar, uma real qualidade de vida em todas as áreas da vida, independente das limitações que possui o ser humano. 5 NOVAS TECNOLOGIAS E USO DOS IDOSOS A relação entre idosos e aparelhos eletrônicos nem sempre é das mais amistosas; na mesma velocidade em que aumenta a média de idade da população em todo o planeta, o mundo parece estar ficando cada vez mais tecnológico. Vários são os empecilhos que dificultam a inclusão digital dos idosos. Entre as dificuldades mais comuns encontradas, mencionamos, em alguns casos, a capacidade motora decorrente do avanço da idade. No entanto, a disseminação das tecnologias eletrônicas tem exigido dos idosos um exercício contínuo, e isto para lhes proporcionar interagir de maneira independente com os aparelhos tecnológicos e suas múltiplas funções. Dentre as diferentes questões importantes que podem ser levantadas nessa discussão sobre a usabilidade das tecnologias eletrônicas pelos idosos, aqui, abordamos a problemática da inclusão digital. Através de questionários foi observado qual o grau de intimidade dos idosos com os atuais mecanismos digitais, buscando perceber também suas possíveis limitações. Outro ponto importante a ser destacado, como relata Alencar (2013), diz respeito ao fato de “que as tecnologias surgiram na vida dos idosos de hoje quando estes já eram adultos ou até mesmo velhos, e isto influencia no surgimento das dificuldades de manuseio”. 390 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Foto: Marcos Santos / USP Imagens Segundo Czaja e Lee (2007), “não ter acesso e ser capaz de usar a tecnologia cada vez mais colocará os idosos em desvantagem em termos de sua capacidade de viver e funcionar independentemente”. Nesse contexto, as tecnologias eletrônicas podem ser vistas como um dos fatores que mais podem isolar a população idosa no mundo contemporâneo. É comum que parte da população idosa apresente dificuldades de ordem cognitiva, motora ou até financeira, que podem ser fatores limitantes ao acesso às tecnologias eletrônicas recentes. Outro fator também seria a falta de atenção para a educação tecnológica. E, sobre a usabilidade, são necessárias mais iniciativas voltadas à inclusão digital que visem desmistificar os aparelhos tecnológicos para todos os interessados, uma vez que ao utilizar as tecnologias eletrônicas, o idoso as tem como ferramenta de auxílio no seu cotidiano, tornando-se independente nas atividades que pode desenvolver com tais dispositivos, garantindo, sobretudo, autoconfiança. Foto: Marcos Santos / USP Imagens 391 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Dessa forma podemos compreender que o uso das tecnologias eletrônicas é algo indispensável para a vida contemporânea, visto que está em todos os lugares. Isto pode ser verificado desde nossa própria casa, pelos aparelhos eletrodomésticos; em agências bancárias, com a utilização de caixas eletrônicos e dispositivos de autoatendimento; nos supermercados, entre muitos outros, sendo de fundamental importância desenvolver iniciativas que promovam a inclusão digital dos idosos, reconhecendo sua cidadania e capacidade de ter uma vida ativa. 6 METODOLOGIA Para a elaboração do trabalho foram utilizados revisão de literatura e questionário fechado, a coleta de dados foi realizada durante trinta dias. Quanto à abordagem da pesquisa para a elaboração do artigo, vale destacarmos que se trata de uma pesquisa quanti-qualitativa, pois é onde o pesquisador pode ser ao mesmo tempo o sujeito e o objeto de suas pesquisas, onde seus resultados são, consequentemente, imprevisíveis. O conhecimento do pesquisador é parcial e limitado, contudo, deve ser realizado um recorte, bem como uma delimitação dos indivíduos a serem pesquisados. “O objetivo da amostra é de produzir informações aprofundadas e ilustrativas: seja ela pequena ou grande, o que importa é que ela seja capaz de produzir novas informações (GERHARDT e SILVEIRA apud DESLAURIERS, 2009)”. De acordo com Gil (2007), este tipo de pesquisa tem como objetivo proporcionar maior familiaridade com o problema, com vistas a torná-lo mais explícito ou a construir hipóteses. Ele foi elaborado também através de pesquisas que envolveram levantamentos bibliográficos e entrevista com pessoas que tiveram experiências práticas com o problema pesquisado e análise de exemplos que estimulem a compreensão, essas pesquisas podem ser classificadas como pesquisa bibliográfica e estudo de caso. A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador conhecer o que já se estudou sobre o assunto (FONSECA, 2002, p. 32). O autor ainda continua: O pesquisador não pretende intervir sobre o objeto a ser estudado, mas revelá-lo tal como ele o percebe. O estudo de caso pode decorrer de acordo com uma perspectiva interpretativa, que procura compreender como é o mundo do ponto de vista dos participantes (FONSECA, 2002, p. 33). Também nos utilizamos de pesquisa com survey, que é a obtenção de dados ou informações sobre as opiniões de determinado grupo de pessoas, indicado como representante de uma população-alvo, utilizando um questionário como instrumento de pesquisa (FONSECA, 2002, p. 33). 392 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Foi aplicado um questionário composto por quatro perguntas, a respeito da dificuldade em utilizar algumas mídias, as mesmas foram escolhidas por fazer parte de ações que podem interferir no cotidiano dos pesquisados, a amostra escolhida é composta por sessenta pessoas na faixa etária entre sessenta a oitenta anos. 7 RESULTADOS Da amostra pesquisada pudemos colher os seguintes resultados, do total de pesquisados oitenta e dois por cento tem dificuldades no uso das mídias escolhidas (controle da TV, e-mail, caixa eletrônico e celular). Apenas oito por cento dos entrevistados não tem nenhuma dificuldade em se relacionar com as mídias do cotidiano e dez por cento tem pouca dificuldade. Identificamos setenta e dois por cento tem dificuldade no uso de todas as mídias, para driblar o obstáculo de acesso setenta por cento pede ajuda a terceiros, vinte e oito por cento desistem e apenas dois por cento continuam tentando sozinhos. Os gráficos abaixo ilustram os dados coletados durante a pesquisa. Gráfico 1 – Dificuldades em mais de uma mídia Fonte: Elaborado pelos autores Gráfico 2 – Dificuldade em utilizar as mídias 393 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Fonte: Elaborado pelos autores Gráfico 3 – Driblando as Dificuldades Fonte: Elaborado pelos autores Gráfico 4 – Resultados Encontrados Fonte: Elaborado pelos autores 394 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 8 CONCLUSÃO Apesar de algumas iniciativas já terem sido feitas para melhorar e ampliar a inclusão digital dos idosos para estes terem uma maior facilidade no acesso às informações, ainda pode verificar que muitos estão excluídos, quase não se discute a necessidade de inclusão dos idosos das classes menos favorecidas e também a usabilidade de aparelhos considerados complexos pelos idosos que têm suas habilidades manuais diminuídas. Percebemos que as dificuldades interferem em seu cotidiano, pois ações simples com atender a uma chamada telefônica ou fazer um saque em um caixa eletrônico pode se tornar um transtorno para essa população que vem aumentando nos últimos anos. E mesmo com os dos esforços do Estado, as leis feitas ainda não são suficientes. Por esse motivo, sugerimos que sejam feitas fiscalizações e até mesmo cursos voltados ao uso das tecnologias eletrônicas para os idosos que incluam uma parcela maior da população, independente da renda ou classe social. Sugerimos também uma maior sensibilização por parte dos desenvolvedores de softwares e fabricantes de aparelhos eletrônicos para que aumentem a sua atenção para esse público. É necessário que a população em geral tenha consciência das necessidades de informação e de uso dos dispositivos eletrônicos pelos idosos, de modo a torná-los independente na busca e autônomos no acesso às informações. REFERÊNCIAS ALENCAR, Bruna. Pesquisa tenta entender a complicada relação entre idosos e tecnologias. São Paulo: USP, 2013. Acesso em http://www5.usp.br/35129/pesquisa-tentaentender-a-complicada-relacao-entre-idosos-e-tecnologia/. CARDOSO, Gustavo; CASTELLS, Manuel. Desafios globais da Sociedade de Informação. A Sociedade em rede: do conhecimento à acção política. Belém: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, Mar. 2005. CJAZA, Sara J.; LEE, Chin Chin. O impacto do envelhecimento sobre o acesso à tecnologia. In Universal Access in the Information Society, 2007. Conceito.de. disponível em: <http://conceito.de/bem-estar-social> acessado dia 18/11/2014 as 22h11min. CRUZ, Ramiro L. P. da; LEITE, Gisele P. J. A Terceira idade e a cidadania com dignidade: Reflexões sobre o estatuto do idoso. Revista Hospital Universitário Pedro Ernesto. Rio de Janeiro: Jan. / Dez. 2005, Vol.4, N.1. Acesso: 18 de novembro de 2014. Disponível em: http://revista.hupe.uerj.br/detalhe_artigo.asp?id=260. 395 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 FONSECA, J. J. S. Metodologia da pesquisa científica. Fortaleza: UEC, 2002. Apostila. GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2007. GERHARDT, Tatiana Engel; SILVEIRA, Denise Tolfo. Métodos de pesquisa. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2009. HIMANEN, Pekka. Desafios globais da sociedade de informação. In: CASTELLS, Manuel. (org); CARDOSO, Gustavo. (org). Debates Presidência da República: a Sociedade em Rede do conhecimento à acção política. Belém: Imprensa Nacional- Casa da Moeda, 4-5 mar./2005. p. 347-370 MOSER, Frei Antônio. O Envelhecimento da população brasileira e seus desafios. Jan,2010. Acesso em: 18 de novembro de 2014. Disponível em: http://www.antoniomoser.com/site/index.php?option=com_content&view=article&id=82:oenvelhecimento-da-papulacao-brasileira-e-seus-. SANTELLANO, Maria Terezinha. A terceira idade no Brasil cresceu cerca de 11vezes nos últimos 60 anos, passando de 1,7 milhão para 18,5 milhões de pessoas nesta faixa etária. Portal 3ª idade. Acesso em: http://www.portalterceiraidade.org.br/dialogo_aberto/cidadania/especial0003.htm Síntese de indicadores sociais: uma análise das condições de vida da população brasileira. Estudos & pesquisas: informação demográfica e socioeconômica. v. 27. Rio de Janeiro: IBGE, 2010, p. 191-196. Acesso em http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinte seindicsociais2010/SIS_2010.pdf. TAVARES, Marília Matias Kestering; Souza, Samara Tomé Correa de. Os idosos e as barreiras de acesso às novas tecnologias da informação e comunicação. Novas tecnologias na educação. Rio de Janeiro, v.10, n. 1, p. 1-7, jul. 2012. Acesso em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/condicaodevida/indicadoresminimos/sinte seindicsociais2010/SIS_2010.pdf. 396 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 PRÁTICAS LEITORAS EM ESCOLAS DO CONJUNTO CEARÁ GT 6, modalidade pôster FREITAS, Maria da Conceição de85 COSTA, Emanuelle Barros Ferreira86 TAVARES, Maria Valdenice Mendes Santiago 87 SILVA, Thays Pereira da88 MENDES, Luciana Marçal89 RESUMO Projeto Práticas Leitoras nas Escolas do Conjunto Ceará desenvolve ações de incentivo à leitura, desde 2001, sua criação se deu a partir da necessidade de um local adequado que possibilitasse promover ações oferecendo suporte informacional aos professores da região e orientação teórica e prática para o desenvolvimento da leitura e da escrita favorecendo o desenvolvimento de seus alunos. A partir de 2007 o Projeto está atrelado às atividades da Biblioteca Comunitária do Conjunto Ceará – BCC. E tem como objetivos desenvolver e apoiar projetos de incentivo a leitura, suprindo as necessidades informacionais de professores e alunos integrando-os a comunidade e contribuindo para o desenvolvimento da BCC e da comunidade do entorno. Desenvolver e apoiar projetos de incentivo a leitura, suprindo aas necessidades informacionais de professores e alunos integrando-os a comunidade e contribuindo para o desenvolvimento da BCC. Palavras-chave: Escolas. Biblioteca Comunitária. Leitura. ABSTRACT The Project 'Práticas Leitoras' in the Conjunto Ceará schools develops actions to encourage reading since 2001, its creation was made from the need for a suitable location that would allow promoting actions providing informational support to teachers in the region and theoretical and practical guidance for the development of reading and writing favoring the development of their students. From 2007 the project is related to the activities of the Biblioteca Comunitária do Conjunto Ceará – BCC. And aims to develop and to support projects to encourage reading, supplying the informational needs of teachers and students integrating the community and contributing to the development of BCC and the surrounding community. Develop and support projects to encourage reading, meeting the information needs of teachers and students integrating the community and contributing to the development of BCC. Keywords: Schools. Community Library. Reading. 1 INTRODUÇÃO 85 Graduanda em Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará. E-mail. [email protected] Graduanda em Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará. E-mail. [email protected] 87 Graduanda em Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará. E-mail. [email protected] 88 Graduanda em Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará. E-mail. [email protected] 89 Graduanda em Biblioteconomia da Universidade Federal do Ceará. E-mail. [email protected] 86 397 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Projeto Práticas Leitoras nas Escolas do Conjunto Ceará foi idealizado pelas professoras Ana Maria Sá de Carvalho e Ruth Batista Pontes, ambas foram professoras da Universidade Federal do Ceará – UFC, como forma de promover ações de incentivo a leitura, fortalecer a identidade cultural. 2 PÚBLICO ALVO E ATIVIDADES DESENVOLVIDAS PELO PROJETO O Público alvo do projeto são as escolas do Conjunto Ceará e a comunidade em geral. Tem como parceiros o projeto PROLER desenvolvido pela professora Ruth Batista Pontes que também estimula o habito pela leitura, Grupo Convite de Contadores de História projeto idealizado pela professora Lídia Eugênia Cavalcante. Conta com o apoio da Sociedade de Amigos da Biblioteca Comunitária do Conjunto Ceará, Centro de Cidadania e Direitos Humanos do conjunto Ceará e com a Coordenação de Cultura do Centro de Cidadania e Direitos Humanos - CCDH. As atividades desenvolvidas são: a) Participação no Planejamento e divulgação do Festival de leitura - Festler, realizado no Centro de Cidadania do Conjunto Ceará a cada dois anos durante três dias; b) Participação na organização do evento que acontece a cada dois anos, onde autores do Bairro são convidados para apresentarem seus trabalhos; a biblioteca fica responsável pela divulgação nas escolas públicas e particulares. Durante o Festler ocorre contação de história, exibição de filmes relacionados com a leitura, palestras de professores envolvidos com o desenvolvimento do hábito e do prazer pela leitura; pois segundo CARVALHO: “... estamos vivendo numa sociedade letrada na qual leitura se faz necessária para engajamento do homem nesta sociedade, pois as informações estão contidas nos diversos códigos e linguagens que precisaram ser desvendados e semantizados...” ([s.d.], p.1); c) Realização de oficinas de portfólio para crianças e professores, continuando com CARVALHO: “alguns dos objetivos do portfólio escolar é oferecer ao estudante uma oportunidade de documentar a sua história. [...] facilitará o professor conhecer melhor seus alunos [...] capacitar o aluno para assumir responsabilidades pela aprendizagem e realizá-las.” ([s.d.], p.2); 398 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 d) Apresentação no 7º Seminário de Educação e Leitura realizado em Natal RN, da pesquisa realizada nas escolas do Conj. Ceará: Percorrendo os Meandros da Escola Pública, em Foco Leitura e Escrita. Alunos das escolas do Conjunto Ceará no V Festler Fotografia: Maria da Conceição. O evento Festler tem como finalidade congregar escolas e comunidade com atividade de leitura, visando criar uma população leitora, compreendendo a leitura como agente de transformação social. Tivemos como resultado o desdobramento da oficina de portfólio para professores e a oficina de fanzines que continuarão acontecendo na BCC, sem data prevista de encerramento. Conclui-se, portanto, que os objetivos propostos por esse evento e as ações desenvolvidas pela biblioteca estão sendo atingidos. 3 METODOLOGIA Foi utilizado o método de observação participativa, onde o autor pode observar em loco e também compartilhar seus aprendizados durante a participação no projeto. 4 CONCLUSÃO O projeto precisa ser continuado preferencialmente com a expansão para a comunidade, estimulando o hábito e o prazer pela leitura. O Projeto Prática Leitoras nas 399 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Escolas do Conjunto Ceará é um projeto visionário onde a participação da sociedade é indispensável. REFERÊNCIAS CARVALHO, Ana Maria Sá de. Trabalhando com leitura e portfólio. Fortaleza, CE: [s.n.], [20--]. ROGER, Chartie. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Editora UNESP, 1990. ORLANDI, Eni Puccinelli (Org.). A leitura e os leitores. 2.ed. Campinas, SP: Pontes, 2003. LIMA, Batista de. Do sabor do texto ao prazer da leitura. Rev. de letras, n. 20, vol. 1/2, jan./dez. 1998. p. 19-22. 400 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 PROSPECÇÃO CONCEITUAL SOBRE CULTURA E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL DA BIBLIOTECA TEBYREÇÁ DE OLIVEIRA DO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO MARANHÃO (IFMA) GT6 - Livre e modalidade oral SILVA, Márcio André90 CASTRO, Carla Jeane91 BRITO, Jéssica Gomes92 LICÁ, Núbia Medeiros93 RESUMO Apresenta análise da cultura e comunicação organizacional da Biblioteca Tebyreça de Oliveira do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA). Objetiva analisar a cultura e a comunicação organizacional da referida biblioteca, de forma a mostrar como ambas interagem e se relacionam no processo de mudança. A pesquisa é de caráter descritivo e bibliográfico, além da pesquisa de campo, onde foi aplicado entrevista com a gestora da biblioteca do IFMA. Como resultado, é apresentado pela entrevistada que a biblioteca é tida naquele espaço como uma organização, mas não faz uso dos termos administrativos. Conclui-se que a biblioteca estudada é uma organização, mesmo não sendo reconhecido em seu dia-a-dia termos como cultura e comunicação organizacional. Palavras-chave: Cultura organizacional. Comunicação organizacional. Organização. ABSTRACT It presents an analysis of the organizational culture and communication Olive Tebyreça Library of the Federal Institute of Education, Science and Technology of Maranhão (IFMA). It aims to analyze the culture and organizational communication of the library in order to show how both interact and relate in the change process. The research is descriptive and bibliographical, in addition to fieldwork, where it was applied interview with the management of IFMA library. As a result, it is submitted by the respondent that the library is taken that space as an organization, but does not make use of administrative terms. We conclude that the studied library is an organization, not even recognized in their day- to-day terms as culture and organizational communication. Keywords: Organizational culture. Organizational communication. Organization. 1 INTRODUÇÃO 90 Graduando em Biblioteconomia pela UFMA. E-mail: má[email protected] Graduanda em Biblioteconomia pela UFMA. E-mail: [email protected]. 92 Graduanda em Biblioteconomia pela UFMA. E-mail: [email protected]. 93 Graduanda em Biblioteconomia pela UFMA. E-mail: 91 401 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O conceito de cultura vem sendo bastante discutido e estudado atualmente. Embora, a ideia de cultura organizacional tenha sido inserida no início desse século nas corporações norte-americanas, somente na década de 80 as academias começaram a trabalhar esse assunto como objetivo de investigação científica. O termo cultura organizacional já se tornou popular e o interesse por estes aspectos culturais podem ser atribuídos, ao processo de fragmentação e heterogeneidade causado por problemas econômicos e problemas práticos identificados na interação social dentro das organizações. Hoje vivenciamos as transformações que ocorrem numa velocidade tamanha e inevitável na nossa sociedade e temos como consequências as grandes mudanças nas organizações. Para Gonçalves (2004, p. 1) “A cultura de cada empresa, marcada por seus públicos internos e externos, por seus objetivos e funções, por seus interesses e realidades, existe e se solidifica com o tempo, mas necessita mudar constantemente, em função das novas demandas de mercado e da sociedade”. Torquato, (1991 apud Gonçalves 2014) indica que “[...] a cultura da organização é formada pelas redes de comunicação formal e informal, sendo que esta é aferida pelas expressões dos funcionários e laços informais, a outra ponta do sistema cultural”. A cultura de uma organização tem consequências poderosas, em especial, quando é fortalecida pela continuidade da liderança, estabilidade dos membros no grupo, concentração geográfica, o tamanho pequeno do grupo e o sucesso considerável, através desse poder ela permiti um grupo agir com rapidez e coordenação contra um concorrente ou em benefício de um cliente. Diante desse imperativo, podemos acreditar que toda organização tem sua própria história e na medida em que se estrutura, adquire identidade, tradições e padrões de comportamento, passando a delinear os valores. Conhecer a cultura é importante de acordo com o ponto de vista da organização para aumentar a efetividade dos negócios. E, sob a ótica da comunicação interna, é imprescindível, pois ajuda a detectar quais são os melhores caminhos para atingir eficientemente o público interno. Tendo em vista estes fatores, o presente estudo tem por objetivo analisar a cultura e a comunicação organizacional na Biblioteca Tebyreça de Oliveira do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), de forma a mostrar como ambas interagem e se relacionam no processo de mudança. A pesquisa é de caráter descritivo e bibliográfico no qual traça-se uma breve revisão da literatura da área, além da pesquisa de campo, onde foi aplicado entrevista com a gestora da biblioteca do Instituto. É necessário ressaltar que este estudo vem a contribuir com a 402 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Biblioteca Tebyreça de Oliveira uma vez que a Instituição conhecerá a importância da cultura e comunicação organizacional dentro da organização. O presente trabalho está dividido em quatro vertentes, a primeira descortina sobre a Organização: cultura e comunicação em ambiente organizacional, à segunda traz o histórico do Instituto Federal e da Biblioteca Tebyreça de Oliveira, a terceira apresenta a análise de dados coletados durante a entrevista com a gestora da biblioteca estudada e a quarta vertente traz a conclusão finalizando com as considerações referentes ao trabalho. 2 ORGANIZAÇÃO: cultura e comunicação em ambiente organizacional Para compreender o que vem ser cultura e comunicação organizacional, é necessário que se contextualize o ambiente em que estão relacionados, ou seja, a organização. O termo organização refere-se a “[...] uma unidade social consciente, coordenada, composta de duas ou mais pessoas, que funciona de maneira relativamente contínua, com o intuito de atingir um objetivo comum.” (CHIAVENATO, 2005, p. 24). Organização é entendida aqui como um todo formado por partes que se relacionam e se integralizam por meio de diferentes níveis de relações, a fim de atingir um determinado objetivo. De acordo com Valentim (2006, p. 14), a organização é formada por dois diferentes ambientes, [...] o primeiro está ligado ao próprio organograma (estrutura formal), ao qual se denomina fluxos formais, isto é, são as inter-relações entre as diferentes unidades de trabalho/centros de custo como diretorias, gerências, divisões, departamentos, setores, seções, etc.; o segundo está relacionado as pessoas que atuam no ambiente corporativo (estrutura informal), ao qual se denomina fluxos informais, isto é, são as relações entre pessoas das diferentes unidades de trabalho/centros de custo. Através das relações existentes nesses ambientes é que podem ser observados e analisados as informações e o conhecimento presentes em cada situação. Informação e conhecimento são dois fatores de suma importância para a organização, “[...] porque todas as atividades desenvolvidas, desde o planejamento até a execução das ações planejadas, assim como o processo decisório, são apoiadas por dados, informação e conhecimento.” (VALENTIM, 2006, p. 9). 2.1 Cultura organizacional O conceito cultura tem sua origem na Antropologia, quando Edward Tylor (18321917), ainda que não necessariamente utilizasse a palavra “cultura”, a definiu como “[...] conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.” (LARAIA, 2003 apud RUSSO, 403 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 2010, p. 15). Sendo assim, entende-se por cultura, o conjunto de características e manifestações destas por um determinado grupo de pessoas. Cultura organizacional é um padrão de pressupostos básicos compartilhados que um grupo aprendeu ao resolver seus problemas de adaptação externa e integração interna e que funcionou bem o suficiente para ser considerado válido e ensinado a novos membros como a forma correta de perceber, pensar e sentir com relação a esses problemas. (SCHEIN, 1992 apud RUSSO, 2006, p. 18). A partir do conceito de Schein (1992), pode-se afirmar que a cultura organizacional está diretamente ligada ao modo que os membros de uma organização costumam lidar com as diversas situações a que são impostos, de modo que, a partir de experiências anteriores, constroem um conjunto de ações a serem tomadas de acordo com determinada situação e pela maneira utilizada por seus membros para desenvolver suas atividades. A cultura organizacional pode ser melhor visualizada ao relacionar-se os elementos comuns à cultura aos atributos da organização Valores: em geral as organizações possuem um número reduzido de valores, mas são mantidos por um longo período de tempo por serem constantemente enfatizados; Crenças e Pressupostos: são usados como sinônimos para expressar o que é aceito como verdade nas organizações e por isso tendem a tornarem-se inquestionáveis; Ritos, Rituais e Cerimônias: atividades planejadas em que são expressos certos gestos, linguagem e comportamentos salientando uma visão consensual para a ocasião; Estórias e Mitos: informam sobre as organizações, sustentando os valores organizacionais; Tabus: demarcam as áreas de proibições, orientando o comportamento com ênfase no não-permtido; Heróis: personagens que condensam as forças da organização; Normas: são as regras que defendem o comportamento que é esperado e aceito pelo grupo, podendo ou não estar escrito; Processo de comunicação: é a rede de relações e papéis informais e formais criados pelos membros da organização. (FREITAS apud ALIGLERI, 2001, p. 61). Observa-se que a cultura organizacional é essencial para a gestão de uma organização, pois até mesmo o comportamento das pessoas que a compõem é influenciado pela cultura. Para Schein (2001 apud RUSSO, 2006, p. 21) “[...] se quisermos tornar uma organização mais eficiente e eficaz, deveremos entender o papel da cultura na vida organizacional.” Conclui-se que o bom funcionamento de uma organização depende diretamente da sua cultura. 2.2 Comunicação organizacional Um fator importante que influencia na cultura organizacional é a comunicação organizacional, que tem origem na comunicação interna às organizações e caracteriza-se como “[...] o processo através do qual, os indivíduos da organização obtêm as informações 404 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 pertinentes sobre ela e as mudanças que nela ocorrem, desempenhando a função da fonte de informação para os indivíduos da organização.” (VALENTIM; ZWARETCH, 2006, p. 45). A comunicação organizacional possibilita conhecer a relação entre os indivíduos, identificando a transferência de informação e conhecimento existentes nesse processo, o que reflete na cultura organizacional, que caracteriza os relacionamentos de toda a organização. A comunicação se estabelece no ambiente organizacional de duas formas, formal e informal. “A comunicação formal é planejada e, formalmente, representada pelo organograma da organização, enquanto que a informal é a rede de relações sociais e pessoais que não é estabelecida formalmente.” (VALENTIM; ZWARETCH, 2006, p. 50). Sendo assim, a comunicação informal refere-se às reações interpessoais, enquanto a formal concerne às suas funções. Ressalta-se ainda, os fluxos informacionais, que são resultado da interação formal ou informal entre os setores e as pessoas da organização e podem acontecer de quatro formas. A comunicação descendente é realizada da alta administração para as gerências e dessas para a base. [...] A comunicação ascendente é menos formal, faz parte do controle das organizações. Dá-se das bases para as gerências e dessas para a alta administração. [...] A comunicação lateral ou horizontal ocorre entre pessoas e setores de uma mesma posição no organograma da organização. [...] a comunicação diagonal refere-se à troca de informações entre um superior e um subordinado localizado em outro setor. (VALENTIM; ZWARETCH, 2006, p. 53-54) Independente da forma que acontece e do meio utilizado para tal, a comunicação é o pilar para o sucesso de uma organização por ser o fator principal de interação entre seus membros. Com base nas informações descritas anteriormente concernentes a cultura e comunicação organizacional, o presente trabalho se propõe a analisar como esses importantes fatores ocorrem em uma unidade de informação enquanto organização, mais especificamente na Biblioteca Tebyreçá de Oliveira, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA). 3 O INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO MARANHÃO (IFMA) De acordo com as informações disponíveis no site do IFMA no dia 23 de setembro de 1909, por meio do Decreto n.º 7.566 - assinado pelo então presidente Nilo Peçanha - foram criadas as Escolas de Aprendizes Artífices nas capitais dos estados, incluindo a capital do Maranhão, São Luís. A Escola foi criada com o intuito de proporcionar às classes economicamente desfavorecidas uma educação voltada para o trabalho, sendo instalada na capital maranhense no dia 16 de janeiro de 1910. 405 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Em 03 de setembro de 1942, o novo regime político comandado por militares, com ênfase na centralidade do Estado controlador das políticas públicas, procura realçar a unidade da federação nas denominações dos órgãos públicos. Deste modo, por meio da Portaria n.º 239/65, seguindo o que dispunha a Lei n.º 4.795, de 20 de agosto do mesmo ano, a Escola Técnica Federal de São Luís passou a se chamar Escola Técnica Federal do Maranhão. Por meio da Lei n.º 7.863, cria-se o Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão, elevando-o à competência para ministrar, também, cursos de graduação e de pósgraduação. Em 2009, inicia a oferta de cursos de graduação, com a aprovação da licenciatura em Física. O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão, doravante tratado como Instituto Federal do Maranhão, com sede em São Luís, criado pela Lei Nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, mediante integração do Centro Federal de Educação Tecnológica do Maranhão e das Escolas Agrotécnicas Federais de Codó, de São Luís e de São Raimundo das Mangabeiras é Autarquia com atuação no Estado do Maranhão, detentora de autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar. 3.1 Biblioteca Tebyreçá de Oliveira (BTO) De acordo com os estudos de Gois (200?) a Biblioteca Tebyreça de Oliveira foi denominada assim para prestar uma homenagem ao Professor Jorge Tebyreçá de Oliveira, nascido no ano de 1898 na cidade de Bagé – Rio Grande do Sul, vindo a falecer aos 70 anos de idade, no dia 29/04/1968 na cidade do Rio de Janeiro em decorrência de um infarto. Tebyreçá de Oliveira era Engenheiro Mecânico Eletricista (formado na Suíça), ocupou o cargo da inspetoria do Ensino Profissional Técnico e desempenhou interinamente o cargo de Diretor da Escola de Aprendizes Artífices do Estado do Maranhão, de ordem do Chefe do Governo Provisório da República dos Estados Unidos do Brasil em 30/05/1932. A Biblioteca Tebyreçá de Oliveira (BTO) tem como objetivo geral integrar-se a política educacional e administrativa do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão (IFMA), funcionando como órgão de apoio didático-educativo aos programas de ensino, pesquisa e extensão e as atividades extraclasse, contribuindo para o desenvolvimento técnico-científico, cultural, literário e artístico, através da disposição dos mais variados tipos de regulamento da biblioteca Tebyreçá de Oliveira serviços e produtos de informação, que atendam às exigências de relevância e rapidez, enriquecendo assim as potencialidades individuais da comunidade do Instituto Federal. A Biblioteca é administrada por uma Equipe de Bibliotecários, sob a Coordenação de um Bibliotecário designado pelo Diretor Geral, funciona como uma Coordenação de apoio ao 406 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 processo ensino-aprendizagem do IFMA, diretamente subordinada ao Departamento de Apoio ao Ensino. Atualmente a BTO encontra-se automatizada em seus serviços, onde o sistema permite ao usuário a renovação de empréstimo, indicação de bibliografia para aquisição pela instituição e pesquisa de títulos online. Para ter acesso aos serviços e produtos da biblioteca é necessário possuir vínculo ativo com o IFMA. Entendendo sua formação e os trabalhos oferecidos pela biblioteca e tendo como objeto de estudo deste trabalho entender como se dá a cultura e comunicação organizacional da mesma, a próxima seção apresenta uma análise oriunda de uma entrevista realizada na instituição que visa sanar tais questões. 4 METODOLOGIA A fim de analisar a compreensão da gestão referente aos termos Cultura e Comunicação Organizacional, realizou-se uma pesquisa de campo de caráter descritiva e bibliográfica. Segundo Gil, (2007, p.53), o estudo de campo procura muito mais o aprofundamento das questões propostas do que a distribuição das características da população segundo determinadas variáveis. Como consequência, o planejamento do estudo de campo apresenta muito maior flexibilidade, podendo ocorrer mesmo que seus objetivos sejam reformulados ao longo da pesquisa. Escolheu como campo de estudo a biblioteca do Instituto Federal do Maranhão (IFMA) por atender uma grande demanda informacional de diferentes públicos como estudantes de ensino médio, técnico e superior. Na pesquisa bibliográfica, como qualquer outra modalidade de pesquisa, inicia-se com a escolha de um tema. No entanto a escolha de um tema que de fato possibilite a realização de uma pesquisa bibliográfica requer bastante energia e habilidade do pesquisador. Não basta o interesse pelo assunto. É necessário também dispor de bons conhecimentos na área do estudo. Quem conhece pouco, dificilmente faz escolhas adequadas. Isso significa que o aluno só poderá escolher a respeito do qual já estudou. (GIL, 2007) Estruturou-se uma entrevista fechada com oito perguntas abordando essa temática, que foram respondidas pela bibliotecária responsável pela direção da referida biblioteca. A entrevista ocorreu no dia 24 de novembro de 2014 as 14h 30 min, previamente agendado com a bibliotecária-chefe. Escolheu esse tipo de entrevista por apresentar as seguintes vantagens: rapidez e o fato de não exigirem exaustiva preparação dos pesquisadores, o que implica em 407 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 custos relativamente baixos. Outra vantagem é possibilitar a análise estatística dos dados, já que as respostas obtidas são padronizadas. (BRITTO JÚNIOR, FERES JÚNIOR, 2011). Ribeiro (2008 p.141) trata a entrevista como: A técnica mais pertinente quando o pesquisador quer obter informações a respeito do seu objeto, que permitam conhecer sobre atitudes, sentimentos e valores subjacentes ao comportamento, o que significa que se pode ir além das descrições das ações, incorporando novas fontes para a interpretação dos resultados pelos próprios entrevistadores. Além de realizar as entrevistas que foram gravadas e depois transcritas conheceu todos os ambientes da biblioteca, como o acervo, o processamento técnico, o salão de estudos, e a direção da mesma. 5 ANÁLISE DA CULTURA E COMUNICAÇÃO ORGANIZACIONAL DA BIBLIOTECA TEBYREÇA DE OLIVEIRA A fim de analisar a compreensão da gestão referente aos termos Cultura e Comunicação Organizacional, foi estruturada uma entrevista fechada com oito perguntas abordando essa temática, que foram respondidas pela bibliotecária responsável pela gestão da referida biblioteca. As perguntas estarão discorridas no início dos parágrafos. Todas as empresas possuem uma cultura organizacional, independentemente do seu tamanho e do segmento em que atuam. Formalmente instituída ou não (cultura organizacional formal e informal), possui um conjunto de valores que são compartilhados pelos membros da organização, com o intuito de atingir os objetivos e as metas da empresa. (MARTINS, 201?). A entrevista teve início com questionamento acerca da visão que a bibliotecária tem da biblioteca como um todo, se a percebe isoladamente ou se consegue visualizá-la como uma organização que está vinculada à um órgão maior. Obteve-se resposta positiva quanto a esse ponto, pois, a biblioteca está ligada hierarquicamente a outros setores, no caso a Divisão de Assuntos Estudantis (DAE). A partir desse entendimento, questionou-se se ela visualiza a biblioteca como um órgão de uma organização maior. A bibliotecária respondeu positivamente, enfatizando que esse vínculo está sendo construído, e afirmando que a biblioteca tem um bibliotecário como representante na elaboração do Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI). Para que isso acontecesse, foi empenhado um esforço maior por parte dos bibliotecários para obterem seu devido reconhecimento. O que possibilita afirmar, que a instituição reconhece o cunho político-educacional da biblioteca, deixando de lado aquela velha visão que os bibliotecários estavam somente ligados ao processamento técnico. 408 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A quarta pergunta diz respeito ao conhecimento sobre o tema cultura e comunicação organizacional, questionou-se se ela conhecia e trabalha com esses termos, a resposta foi afirmativa, no entanto a bibliotecária enfatizou que apesar de serem utilizados, não o são exatamente com esses conceitos. Enfatizou ainda o fato de que no tempo de sua graduação, o curso de Biblioteconomia não se preocupava em formar gestores, esclarecendo que isso se deve ao fato de sua graduação estar vinculada ao currículo 20, no qual as disciplinas eram extremamente técnicas e poucas voltadas para a gestão/liderança dos mais diversos tipos de biblioteca, aspectos que foram alterados no currículo 30, o currículo que vigora no curso de Biblioteconomia atualmente. Geralmente, a cultura organizacional é imposta pela direção superior da organização. A entrevistada afirmou que no caso da biblioteca tudo foi pensado e criado nesse espaço, como normas, políticas de aquisição e seleção de material bibliográfico, horário de funcionamento, entre outros. Embora algumas normas e condutas fossem comuns a todos os funcionários e departamentos que compõem o Instituto. Utilizando as propostas da entrevistada, ela afirma: “Foi criada aqui, todas as questões de norma, empréstimos, vagas, horários, tudo é a gente que pensa. Porém, a gente não manda em nada, a gente só sugere”. Contudo, a biblioteca do IFMA localizada no bairro Monte Castelo em São Luís - MA é independente em relação à rede de biblioteca do IFMA. A quinta pergunta questionava se a biblioteca central do IFMA imponha a sua cultura nas demais bibliotecas dos campi. Afirmou categoricamente que cada biblioteca possui a sua própria cultura, justamente para possibilitar que cada biblioteca tenha autonomia com relação à política de desenvolvimento de acervo, horário de funcionamento, quantidade de livros emprestados por alunos, preço da multa, entre outros. E uma desvantagem dessa independência é a duplicação informacional do material, onde poderia haver um compartilhamento bibliográfico dos documentos otimizando o trabalho dos bibliotecários. A bibliotecária relatou que embora sejam independentes eles possuem uma comunicação com as bibliotecas “continentes” ou campi. Eles não impõem nenhuma ordem, apenas sugerem. Em 2013, foi feita em reunião com os gestores de cada biblioteca campi da instituição, para visualizar a prestação de serviço e produtos das unidades de informação aos usuários. Uma boa comunicação é, sem qualquer sombra de dúvida, o fator mais importante dentro de uma organização. O relacionamento entre as pessoas só é possível através da comunicação. Portanto, A má comunicação traz desgastes nas relações, agressões verbais, perda de tempo com retrabalho, mal entendidos, suscetibilidades afetadas, perda de motivação e 409 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 stresse. Liderar é comunicar, para atingir os objetivos da empresa (MARTINIANO, 2007, p.15). Portanto, a comunicação bem administrada oferece agilidade e clareza nas tomadas de decisões, sendo ela responsável pelo desenvolvimento organização. Tudo que é construído, ou destruído, é pela comunicação ou falta dela. Para verificar se realmente a comunicação é essencial para a organização, a sexta perguntava queria saber se já houveram caso de imprevistos ou problemas por conta de uma má comunicação. Ela nos afirmou relatando um acontecimento e explicou que utilizam mecanismos para facilitar a comunicação, como um quadro branco localizado na sala da direção, onde são escritos informes. Outro ponto positivo a destacar, que a sala da direção fica próxima ao salão de estudo localizado bem na entrada e essa sala é formada por parede de vidro, o que possibilita aos gestores olhar a biblioteca e aos alunos olharem os diretores, criando um ambiente de reciprocidade entre o usuário e a direção da biblioteca. Todos os recursos disponíveis de uma empresa devem ser otimizados, ou seja, utilizados da melhor maneira possível. Quando se fala em recursos, inclui-se aqui recursos humanos, tecnologia, matérias primas, espaço físico e todos os fatores que formam uma organização. (SOUZA, 2009, p. 3). Percebe-se que a utilização do quadro branco é um método prático e fácil de comunicarem entre eles. Porque a jornada de trabalho dos bibliotecários é 30 horas semanais, o que representa 6 horas de trabalho por dias úteis (segunda a sexta-feira). O funcionamento da biblioteca é das 7 às 21 horas, não havendo bibliotecários, exceto o diretor da biblioteca, que trabalha às 8 horas. Então, nesse trocar de turno recomenda-se que utilizem o quadro branco para avisar, lembrar ou destacar algum acontecimento. A sétima pergunta, questionava se a comunicação do IFMA com a biblioteca, e viceversa, era satisfatória. Ela nos relatou que existe sim e considera satisfatória na medida que a biblioteca faz suas solicitações e são atendidas, assim como o IFMA informa sobre algum procedimento que a biblioteca deverá realizar e eles acatam. Porém, ela faz uma ressalva que a comunicação poderia ser melhor e por parte dos bibliotecários eles estão se empenhando muito para serem ouvidos na instituição. A oitava pergunta estava direcionada as transformações ocorrida ao longo dos anos, se teve alguma mudança na estrutura organizacional da biblioteca. A entrevistada afirmou que não, o que houve foi um aumento na verba para aquisição e seleção de materiais bibliográficos, mas nos quesitos sobre qual seria o público, as mudanças da estrutura 410 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 organizacional, entre outros aspectos, não foram comunicadas à direção da biblioteca. Como a biblioteca não é especificamente universitária, especializada ou escolar por atender a um público diversificado, respectivamente, do ensino superior, dos cursos técnicos e do ensino médio, a bibliotecária a define como mista, pois não existe uma Política de Desenvolvimento e Formação de Coleção especificada para cada segmento, o que existe é uma política geral que tenta abordar esses segmentos. Ressalva a necessidade do Instituto possuir esses diferentes espaços para poder desenvolver com mais eficiências seus serviços destinando a um público específico. A comunicação entre Instituição (IFMA) e biblioteca, também deve ser considerada relevante, principalmente quando é perguntado a entrevistada se essa comunicação é satisfatória, e se são estabelecidas parcerias para efetivação de algum projeto, ou algo parecido, a mesma afirma que não, a comunicação não é satisfatória e que a biblioteca não tinha muita voz dentro da instituição, e que só está conquistando seu espaço agora, mas lentamente, e ainda não é suficiente. A biblioteca consegue, na maioria das vezes, o que precisa, por exemplo, capacitação para os profissionais, custeio para a participação dos mesmos em eventos, mas mesmo assim, com certa dificuldade. Portanto, é importante perceber a formação da biblioteca para se chegar a uma conclusão sobre sua formação organizacional, pois através da sua estrutura e hierarquização dentro da instituição é possível chegar a resultados e conclusões acerca da mesma. Para tanto, discute-se na próxima seção as conclusões sobre a biblioteca em estudo e qual visão se teve 6 CONCLUSÃO A cultura e comunicação organizacional são importante cada um com suas peculiaridades no melhor desenvolvimento da organização, nas tomadas de decisões, e no relacionamento entre os indivíduos. É fundamental conhecer suas características e principalmente seus elementos de formação. A cultura organizacional forma-se da confluência de alguns fatores que tem sua origem na autarquia da administração ou pela vivência dos funcionários cada um trazendo consigo, seus valores, crenças, tradições, entre outros. Na comunicação organizacional a sua utilização correta favorece que informações sejam circuladas na integra, não havendo ruídos comunicacionais que muitas vezes interferem no desenvolvimento da organização e no próprio convívio dos funcionários. 411 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 O relatório proposto é fundamental, pois favorece conhecer o andamento desses conhecimentos em uma organização educacional pública. Entende-se através do senso comum, que por ser público não se trabalham com esses conceitos, por pensarem em estarem estritamente ligadas às organizações capitalistas. Percebe-se a aplicabilidade desses conceitos não somente no ambiente estudado, biblioteca, mais na organização (IFMA) como todo. Por mais, que a bibliotecária entrevistada demonstrasse conhecimento acerca dos temas relatou-nos da dificuldade da sua aplicação e da sua deficiência, assim que assumiu o cargo de gestora, pois veio conhecer cultura e comunicação organizacional quando adentrou na organização. Essa deficiência é advinda de um currículo educacional de Biblioteconomia que não acompanhou as mudanças sociais da área, como a tecnologia e a aplicação dos conhecimentos administrativos na Biblioteconomia por não reconhecerem a biblioteca como uma organização. Desta forma, tal pesquisa teve seu objetivo de analisar a cultura e a comunicação organizacional da referida biblioteca, de forma a mostrar como ambas interagem e se relacionam no processo de mudança, alcançado, mostrando como é importante a relação desses dois mecanismos dentro da instituição e como a sua má aplicabilidade pode vir a acarretar danos dentro do ambiente organizacional. Para tanto, surge à necessidade de se desenvolver mais sobre conhecimentos de gestão ainda na universidade, para que ao adentrar no espaço profissional, o bibliotecário noção da sua atuação profissional na gestão de bibliotecas. REFERÊNCIAS ALIGLERI, L. M. Cultura organizacional e as influências da cultura brasileira: a incompatibilidade cultural na adoção de tecnologia gerencial estrangeira. Revista de Estudos Organizacionais, Maringá, v. 2, n. 1, p. 63-80, jan. /jun. 2001. BRITTO JÚNIOR, Álvaro Francisco de; FERES JÚNIOR, Nazir. A utilização da técnica da entrevista em trabalhos científicos. Disponível em: <www.ufrgs.br/cursopgdr/downloadsSerie/derad005.pdf>. Acesso em 12 dez. 2014. CHIAVENATO, Idalberto. Comportamento organizacional: a dinâmica do sucesso das organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisas. São Paulo: Atlas, 2007 GOIS, Silma Adriane dos Santos. 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Dessa maneira, com a realização do levantamento bibliográfico, passamos a identificar conceitos, registrando-os no tempo, mostrando conceitos antigos e proporcionando a criação de novos, em face da busca pela base conceitual da Filosofia da informação e da informação filosófica. Espera-se que este trabalho contribua de maneira significativa para as áreas de Biblioteconomia, Ciência da Informação e Filosofia, bem como suscite outras discussões sobre o tema. Palavras-chave: Filosofia da informação. Informação filosófica. Ciência da Informação. ABSTRACT Whereas the areas of Library, Information and Philosophy Science and its interdisciplinary relationships can influence the search for the philosophical concept of information as well as strengthen the discussion on information Philosophy, this paper presents the objective: to characterize the information and Philosophy philosophical information under the aegis of Information Science. Exploratory methodology, based on a literature review was used. Thus, with the completion of the literature, we identify concepts, registering them in time, showing old concepts and providing the creation of new, due to the search for conceptual basis of the information philosophy and philosophical information. It is expected that this work will contribute significantly to the areas of Library, Information Science and Philosophy, as well as inspire other discussions on the subject. Keywords: Philosophy of information. Philosophical information. Information Science. 1 INTRODUÇÃO 94 Graduada em Biblioteconomia e Documentação pela UFS/Campus de São Cristóvão. E-mail: [email protected] 95 Mestre em Ciência da Informação pela UNESP/Marília. E-mail: [email protected] 414 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 A Biblioteconomia e a Ciência da Informação são historicamente ricas no que tange ao estudo da informação, bem como dos produtos documentários dela decorrentes, sendo que estas últimas apresentam a contribuição de outras interdisciplinas, tais como a Semiótica, Sociologia, Ciência da Computação, Linguística, Filosofia, entre outras. Dessa maneira, vimos que o homem em sua trajetória tentou reunir informações e agregá-las para desenvolver o conhecimento. A Filosofia foi uma das áreas precursoras na geração do conhecimento filosófico, e como subsídio para consolidação do conhecimento científico, gerando produtos de informação que compuseram o acervo das bibliotecas da Antiguidade. O homem por natureza é um ser inconstante, um inventor permanente de si, que acaba atingindo o seu meio constituído por ele mesmo, e ao longo da sua jornada constrói bens denominados culturais, informacionais e tecnológicos, nos quais estes últimos desenvolvem e permeiam a existência humana. As transformações ocorridas em decorrência das várias revoluções e buscas por melhorias, ao longo dos anos fizeram com que a sociedade implantasse meios que facilitassem o uso da informação, convertendo-lhe em conhecimento, ou seja, uma: “renovação do laço social” por parte do conhecimento. Esta pesquisa parte-se da hipótese de que a interdisciplinaridade existente na Biblioteconomia, Ciência da Informação e Filosofia, podem influenciar na busca pelo conceito de informação filosófica, bem como fortalecer a discussão sobre Filosofia da Informação. Em outros contextos a Filosofia vem sendo abordada na Biblioteconomia e na Ciência da Informação, gerando a necessidade de estuda - lá de maneira mais profunda visualizando a criação de novas áreas e conceitos com estas junções. O interesse em desenvolver este trabalho de pesquisa, partiu-se da leitura de textos de autores que abordam a temática, tais como: Floridi (2001), Robredo (2007), Braga (2013), Ilharco (2004) e Francelin e Pellegatti (2004) e por se tratar de um tema pouco explorado no universo da Biblioteconomia e Ciência da Informação96. Como problema de pesquisa que norteia este trabalho, apresentamos o seguinte questionamento: a) Como a Filosofia da Informação e a informação filosófica são caracterizadas sob a perspectiva da Ciência da Informação? 96 Pesquisa realizada nos periódicos da área de Biblioteconomia e Ciência da Informação (BCI), Bibliotecas Digitais de Teses e Dissertações (BDTDs) e bases de dados referenciais da área de BCI. 415 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 Este artigo apresenta como objetivo caracterizar a Filosofia da informação e a informação filosófica sobre a égide da Ciência da Informação. Apresenta como metodologia, a pesquisa exploratória, na qual Farias (2007, p. 30), afirma que na maioria das pesquisas com caráter exploratório, é utilizado o levantamento bibliográfico. Partindo-se da premissa de que a temática “não requer métodos e técnicas estatísticas. [...] o processo e seu significado são os focos principais de abordagem” (GIL, 2002). Esta pesquisa apresenta-se como qualitativa quanto à sua abordagem. Foram feitas buscas e leituras de publicações em revistas, livros e/ou meios eletrônicos como as bases de teses e dissertações da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP e da Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT) e na BRAPCI – Base de dados Referencial de artigos de periódicos em Ciência da Informação. 2 FILOSOFIA DA INFORMAÇÃO A Filosofia da Informação começou a ser estudada por Luciano Floridi em 2001, o qual conceituou o pensar filosófico da informação na sociedade e como a informação pode mudar o doutrinar de determinados contextos sociais (REVOREDO, SAMLA, 2011). Dessa maneira percebemos que a mesma vem de um questionamento formulado pelos novos campos do saber, por meio uma expressão reflexiva do giro informacional que, no mundo contemporâneo, designa as transformações ocorridas com o desenvolvimento das ciências e tecnologias da computação, da comunicação e da informação, visando à ampliação dos conceitos informacionais nestas áreas. Para Ilharco (2004, p. 4), “Historicamente a filosofia da informação nasce da Filosofia da computação, mas nasce não como um dos seus ramos, mas antes como a sua base mais vasta, profunda e fundadora”. A questão base da Filosofia da Informação é a própria informação, não devemos nos atrelar a compará-la a Filosofia da computação, pois nesta trabalhamos diretamente com os meios tecnológicos e com aquela diretamente com os meios filosóficos e informacionais. Assim estamos vendo surgir vários questionamentos e torno da informação, e dos seus levantamentos. Para Ilharco (2004, p. 2) a Filosofia da informação é: Um projeto destinado a consolidar numa área de investigação autônoma, uma série vastíssima de problemas e de questões originados e relacionados com emergência da chamada sociedade da informação. Em termos gerais ela 416 Encontro Nacional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação. Formação Política, Reflexões Éticas, Práticas de Transformação Social e Mídias na Informação: qual profissional temos e qual queremos ser? 19 a 25 de julho de 2015 é a colocação filosófica, sem pressupostos, rigorosa e radical da questão da informação. Ela é a tentativa de pensar filosoficamente a informação: O que é informação? O que é a informação? Quais as dinâmicas e modos de ser da informação? O que distingue a informação doutros fenômenos que lhe são associados, como a comunicação, os dados, o conhecimento, a ação, o ser, a diferença? O que é que permite identificar, assumir ou pressupor determinada manifestação, fenômeno ou evento como informação? De acordo com Ilharco (2004, p. 2): Podemos observar que a Filosofia da Informação é uma área relativamente nova e que está à procura de seu reconhecimento formal como um campo de pesquisa filosófica. Possui um grande potencial que é proporcionar uma reflexão de base, sob uma mesma perspectiva de fundo, a informação, sobre os pressupostos, os métodos, os problemas e as soluções de cada vez maiores parte das atividades científicas, culturais, sociais e profissionais nas sociedades desenvolvidas. A Filosofia da Informação encontrou espaço por parte da Ciência da Informação (CI), quando ela resolveu ser aplicada aos objetos de estudos e de instrução da Filosofia,