ISSN 0101-4161
Esforço Inovativo e Desempenho Exportador:
Evidências para Brasil, Índia e China ♦
Ana Paula Avellar
Professora - Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Endereço para contato: Av. João Naves de Ávila, 2121 - Campus Santa Mônica
Uberlândia - MG - CEP: 38408-100 - E-mail: [email protected]
Luciana Carvalho
Doutoranda - Universidade Federal de Uberlândia (UFU)
Endereço para contato: Av. João Naves de Ávila, 2121 - Campus Santa Mônica
Uberlândia - MG - CEP: 38408-100 - E-mail: [email protected]
Recebido em 23 de outubro de 2012. Aceito em 03 de abril de 2013.
Resumo
O objetivo do artigo é realizar uma investigação empírica acerca da relação entre esforço
inovativo e desempenho exportador para uma amostra de empresas industriais do Brasil,
Índia e China. Foram utilizados dados por empresa da base Enterprise Survey, organizados pelo Banco Mundial para os anos 2002 e 2003 e estimados modelos probabilísticos.
Os resultados encontrados para os três países sugerem que o esforço inovativo medido
por novos produtos, gastos em P&D, índice de tecnologia ou cooperação, aumenta
a probabilidade das empresas exportarem. Ademais, para as amostras de empresas
de todos os países a participação de capital estrangeiro e os gastos com máquinas e
equipamentos aumentam a probabilidade de exportarem. Contudo, nota-se que para
as empresas do Brasil, Índia e China, a relação entre esforço inovativo e desempenho
exportador é mais tênue do que a observada para empresas de países desenvolvidos.
Palavras-Chave
inovação, exportação, Brasil, Índia e China
Abstract
The aim of this paper is to develop an empirical investigation about the relation between
innovation effort and export performance to a sample of industrial firms from Brazil,
India and China. The database used by firms is obtained from World Bank Enterprise
Survey 2002 and 2003, and estimated probabilistic models. The findings suggest that a
higher innovative effort from Brazil, India and China, measured by new products, R&D
spending, technology index or cooperation, increases the probability of exporting. For
all countries, a higher foreign capital and machines and equipments spending increase
the probability of exporting. However, this study verify that to Brazilian, Indian and
Chinese firms, the linkage between innovative effort and probability to export is weaker
than the observed to firms from developed countries.
♦
As autoras agradecem o apoio da FAPEMIG para a realização da pesquisa.
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Ana Paula Avellar e Luciana Carvalho
500
Keywords
Innovation, export, Brazil, India and China
JEL Classificação
O32, L60
1. Introdução
A relação entre inovação e desempenho exportador é um dos principais focos de análise das teorias de comércio internacional. Os estudos pioneiros de Vernon (1961), Posner (1966), Freeman (1968) e
Krugman (1979) revelam que a tecnologia pode ser um fator importante da dinâmica dos fluxos de comércio entre países e de seus padrões de especialização. Muitos estudos empíricos acerca da relação
entre esforço inovativo e desempenho exportador foram realizados
utilizando amostra de empresas de países desenvolvidos (Wakelin,
1998; Sterlacchini, 1999; Kongmanila e Yosk, 2005; Tomiura, 2007;
Cassiman e Golovko, 2011). Os resultados encontrados sugerem que
o esforço inovativo, medido pelos gastos em P&D e pelo número de
inovações, é importante para explicar o desempenho exportador das
empresas.
Para países emergentes poucos estudos foram realizados, destacando-se a análise para o caso das empresas no Brasil, China, Filipinas,
Índia e Tailândia (Kumar e Siddarthan, 1994; Wignaraja, 2008;
Wignaraja, 2011; De Negri, 2005; Arbix, Salerno e De Negri, 2008).
Para distintos países, os trabalhos utilizam diferentes medidas de
esforço inovativo e apresentam resultados heterogêneos, tornando
menos evidente a relação entre esforço inovativo e desempenho exportador das empresas.
O objetivo do trabalho é realizar uma investigação empírica acerca
da relação entre esforço inovativo e desempenho exportador para
uma amostra de empresas industriais do Brasil, Índia e China. Para
tanto, foram utilizados dados por empresa organizados pelo Banco
Mundial na base Enterprise Survey, para Brasil (2002), Índia (2002)
e China (2003) e como metodologia econométrica estimam-se modelos probabilísticos. Os resultados encontrados para os três países
sugerem que o esforço inovativo aumenta a probabilidade das empresas exportarem. Contudo, nota-se que para as empresas do Brasil,
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Índia e China, a relação entre esforço inovativo e desempenho exportador é mais tênue do que o observado para empresas de países
desenvolvidos.
Este trabalho pretende contribuir para a literatura empírica acerca da relação entre esforço inovativo e desempenho exportador das
empresas em três aspectos: i) realiza um estudo comparado para
amostras de empresas de Brasil, Índia e China; ii) utiliza um amplo
conjunto de indicadores de esforço inovativo; iii) utiliza uma nova
base de dados.
O artigo está organizado em quatro seções, incluindo esta introdução. A segunda seção apresenta o debate teórico e empírico. A terceira seção descreve os dados e os procedimentos metodológicos. Na
quarta seção apresentam-se os resultados econométricos. Por fim, a
quinta seção sintetiza as considerações finais.
2. Inovação Tecnológica e Exportação
2.1. Debate Teórico
A literatura teórica e empírica sobre comércio internacional enfatiza
o papel da inovação tecnológica na dinamização dos fluxos de comércio entre países e na configuração de seus padrões de especialização.
As primeiras discussões sobre essa temática foram desenvolvidas por
Posner (1961) e Vernon (1966).
Posner (1961) desenvolve um modelo com dois países, um líder tecnológico e outro imitador da inovação. Nesse sentido, a inovação
tecnológica proporciona poder de monopólio ao país inovador, durante o período de tempo em que o país imitador torna-se capaz de
reproduzi-la. Nesse sentido, o trabalho de Vernon (1966) revela que
as vantagens competitivas das empresas norte-americanas estariam
fortemente determinadas pela sua capacidade inovadora.
Krugman (1989) baseia-se nas análises de Posner e Vernon e desenvolve um modelo Norte-Sul de comércio internacional. O modelo
está estruturado em dois países e um fator de produção, sendo o
Norte o país inovador, que detém o monopólio temporário dos novos
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produtos, e o Sul o país não inovador, responsável pela produção de
tecnologia madura e que necessita de um período de tempo para ser
capaz de imitar a nova tecnologia. Nesse sentido, o Norte exporta
para o Sul os produtos inovadores e importa produtos de tecnologia
madura.
Freeman (1968) apud Xavier et al. (2008) consideram que o referido
hiato tecnológico, entre países inovadores e imitadores, pode apresentar longa duração temporal. A partir de um estudo sobre o setor
de bens de capital eletrônicos nos Estados Unidos, o autor encontra
evidências empíricas que a liderança exportadora desse setor no país
está fortemente relacionada ao alto grau de desenvolvimento tecnológico. Entretanto, o autor admite que possa haver limites na análise
por se tratar de um estudo para um único setor como o padrão do
comércio internacional.
A teoria neo-schumpeteriana do comércio parte de pressupostos distintos das teorias convencionais, pois considera a tecnologia não um
bem livremente disponível e que as diferenças tecnológicas explicam
a direção e o volume de comércio entre países. Essa abordagem baseia-se em três ideias fundamentais: i) a tecnologia é fenômeno endógeno, portanto, depende do grau de desenvolvimento de cada país;
ii) existem relações importantes entre padrão de especialização e
crescimento econômico, sendo que a especialização em setores mais
inovadores induziria maiores taxas de crescimento; iii) o importante
papel das instituições no desenvolvimento tecnológico (Verspagen e
Wakelin, 1997 apud De Negri, 2005).
Para Dosi, Pavitt e Soete (1990) a decisão das empresas de realizarem mudança tecnológica é resultado de um processo de busca, a
partir do seu estoque de conhecimento e das externalidades. Deste
modo, a mudança tecnológica pode ser definida como um processo
de aprendizado cumulativo, que desenha as trajetórias das empresas
e dos países, com vistas à ampliação da participação no comércio
internacional.
De acordo com a literatura teórica, pode-se constatar a existência de
uma forte relação entre o ritmo inovativo dos países e sua dinâmica
no comércio internacional, de modo que a forte heterogeneidade no
grau de inovação entre países inovadores e imitadores acarreta diferenças substanciais na sua forma de inserção comercial.
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Desse modo, interessa a esse estudo investigar empiricamente se o
esforço inovativo realizado pelas empresas do Brasil, Índia e China,
medido pelos novos produtos inseridos no mercado, pelos gastos em
P&D, pela capacidade de aprendizagem (índice de tecnologia) e pelas
atividades de cooperação, está promovendo a competitividade internacional desses países.
2.2. Evidências Empíricas
Diversos estudos empíricos, utilizando-se de dados por empresa, encontram evidências de que o esforço inovativo influencia o desempenho exportador de uma empresa. Para Teece (1996), um dos maiores
incentivos para as empresas inovadoras se expandirem para mercados
estrangeiros refere-se ao aumento de retorno sobre o investimento.
Grande parte desses estudos analisa o caso de empresas de países
desenvolvidos e encontra fortes evidências de que o esforço inovador,
medido por gastos em P&D, número de novos produtos ou redes de
cooperação, tem impacto positivo sobre o desempenho exportador
das empresas.
Wakelin (1998) investiga a relação entre inovação e exportação de
320 empresas do Reino Unido, dividindo a amostra em inovadoras e
não inovadoras. O modelo estimado para explicar o comportamento
das empresas quanto à exportação apresenta o resultado de que o
número de inovações realizadas no passado tem impacto positivo
sobre o comportamento exportador.
Sterlacchini (1999) investiga o comportamento de 4005 empresas
em uma região da Itália, por meio da estimação de um modelo probabilístico. O autor evidencia que a probabilidade da empresa tornar-se uma exportadora é afetada positivamente pelo seu tamanho
e pelas atividades inovativas realizadas. Também sobre as empresas
italianas, Basile (2001) analisa o comportamento das empresas de
todo o país durante os anos 1991 e 1998. Por meio da estimação de
um modelo probabilístico, os resultados encontrados sugerem que o
esforço inovador coloca-se como um importante fator competitivo e
ajuda a explicar o comportamento exportador das empresas na Itália.
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Lachenmaier e Woβmann (2006) analisam o caso das empresas na
Alemanha. Os resultados evidenciam a existência de relação positiva
entre inovação e esforço exportador, considerando, inclusive, diferentes setores industriais.
Dois importantes estudos apontam evidências para o caso do Japão.
Kongmanila e Takahashi (2005) numa análise sobre empresas do
setor de vestuário, conclui que as inovações de produto e processo
são fatores importantes na determinação do desempenho exportador.
Desta forma, o resultado do trabalho mostrou que, para as empresas de vestuário, a inovação, tanto no âmbito do produto quanto no
processo de produção, é fonte importante de vantagem competitiva
no comércio internacional.
Tomiura (2007) avança no debate e também analisa o comportamento das empresas no Japão quanto à relação entre esforço inovativo
da empresa, o estabelecimento de redes de colaboração no exterior
(networking) e seu desempenho exportador. Esse estudo amplia a
análise Kongmanila e Takahashi (2005) ao considerar 118.300 empresas industriais japonesas, de diferentes setores industriais, agrupadas utilizando-se a classificação de Pavitt (1984).1 O resultado
encontrado aponta uma relação positiva entre intensidade de P&D e
exportação, especialmente em empresas de pequeno porte.
Desse modo, os resultados encontrados por esse conjunto de estudos apontam evidências consistentes de que em empresas de países
desenvolvidos o esforço inovativo influencia positivamente o desempenho exportador das empresas. Destaca-se, entretanto, a existência
de poucos estudos na literatura analisando a relação entre esforço
inovativo e desempenho exportador para casos de empresas atuantes
em países em desenvolvimento. Kumar e Siddarthan (1994) desenvolvem uma análise que pode ser considerada pioneira sobre essa
temática para países em desenvolvimento, ao analisar a relação entre
inovação e exportação para 640 empresas na Índia durante o período
de 1988 a 1990. Os autores encontram evidências de que a inovação
tecnológica influencia positivamente o desempenho exportador dos
setores industriais.
1
A classificação de Pavitt (1984) divide os setores industriais nos seguintes grupos: produtos
primários agrícolas, produtos primários minerais, produtos primários energéticos, indústria
agroalimentar, indústria intensiva em outros recursos agrícolas, indústria intensiva em recursos minerais, indústria intensiva em recursos energéticos, indústria intensiva em trabalho,
indústria intensiva em escala, fornecedores especializados, indústria intensiva em P&D.
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Wignaraja (2008) investiga a relação entre inovação e exportação nas
empresas do setor de eletrônicos para os casos da China, Tailândia e
Filipinas. Os resultados econométricos obtidos utilizando de modelo
probabilístico apontam que o esforço inovativo aumenta a probabilidade das empresas do setor de eletrônicos exportarem. Contudo, o
autor destaca que a relação entre gastos em P&D e receita de vendas,
em nenhum dos casos, mostrou-se estatisticamente significativo.
A análise do autor sugere que para países em desenvolvimento essa
variável apresenta pouca representatividade dentre os outros esforços inovativos realizados pelas empresas, tais como a realização
de acordos de cooperação com outros parceiros e os esforços de
aprendizagem (medido por treinamento, uso de licença de tecnologia
do exterior e certificação de qualidade). Esse resultado corrobora
as conclusões desenvolvidas pelo estudo realizado por Guan e Ma
(2003), em que analisam especialmente o caso da China e encontram evidências semelhantes.
Wignaraja (2011) aprofunda a análise sobre o caso das empresas chinesas, analisando o comportamento do setor automobilístico e de
eletrônicos. Os resultados encontrados apontam que o indicador que
representa a inovação formal (gasto em P&D/receita) não se mostrou
estatisticamente significativo. Contudo, ao se considerar o índice de
tecnologia (IT) e os esforços de aprendizagem das empresas, verifica-se que esse tipo de esforço inovativo é o principal determinante
da probabilidade de exportação das empresas dos setores analisados.
Alguns estudos no Brasil também mostram a importância da inovação para competitividade das empresas exportadoras. De Negri
(2005) conclui em seu estudo que a inovação tecnológica é um fator
importante para o desempenho exportador das empresas no Brasil,
tanto no que se refere à sua inserção no mercado internacional quanto no aumento dos volumes exportados. Mais que isso, a autora também identifica que empresas inovadoras apresentam um desempenho exportador superior às empresas não inovadoras, especialmente
quando a inovação não se restringe à adaptação de produtos e processos. No caso de produtos de menor intensidade tecnológica, as
inovações de processo representam um elemento importante para
as exportações. Para as exportações de produtos de média intensidade tecnológica, tanto inovações de processo quanto de produto
são relevantes.
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Por fim, as exportações brasileiras de produtos de alta intensidade
tecnológica parecem não sofrer influência de inovações de produto.
Zucoloto e Toneto Júnior (2005) realizam uma análise empírica
sobre o esforço inovativo da indústria brasileira de transformação
em comparação com um grupo de países da OCDE (Organização
para Cooperação e Desenvolvimento Econômico). Os autores verificam a existência de correlação entre o desempenho tecnológico e o
comportamento exportador das empresas brasileiras. Os resultados
encontrados apontam que os testes de correlação foram positivos e
estatisticamente significativos a 1%, indicando que existe relação
positiva entre esforço tecnológico, o desempenho das exportações
mundiais e o indicador de vantagens comparativas reveladas na indústria brasileira de transformação.
Arbix, Salerno e De Negri (2008), utilizando dados da Pesquisa
de Inovação Tecnológica (Pintec), apontam que esta inovação (compreendida como um produto novo para o mercado) é um ativo importante para a empresa industrial brasileira internacionalizar-se, via
investimento direto no exterior. O investimento no exterior, por sua
vez, é positiva e fortemente relacionado com a obtenção de preço
-prêmio nas exportações. Os resultados comprovam, portanto, que
a internacionalização é um passo possível para a empresa inovar e
diferenciar produtos.
Com base no debate teórico e no conjunto de evidências apresentados, o estudo contribui para o debate empírico ao testar de maneira
pioneira a relação entre esforço inovativo e desempenho exportador,
utilizando-se de diferentes indicadores de inovação presentes na literatura, comparando os resultados encontrados para as empresas do
Brasil, Índia e China.
3. Notas Metodológicas
3.1. Apresentação dos Dados e Estatística Descritiva
A análise empírica baseou-se nos dados do Banco Mundial
(Enterprises Surveys), para uma amostra de empresas do Brasil
(2003), Índia (2002) e China (2003). Enterprises Survey é um leEst. Econ., São Paulo, vol. 43, n.3, p. 499-524, jul.-set. 2013
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vantamento no nível da firma de uma amostra representativa do
setor privado da economia. As pesquisas envolveram um amplo conjunto de temas sobre ambiente de negócios, incluindo as características da empresa, a participação de gênero, acesso ao financiamento,
vendas anuais, custos de insumos / trabalho, composição da força
de trabalho, licenciamento, infraestrutura, comércio, crime, concorrência, inovação e tecnologia, além de medidas de desempenho.
O modo de coleta de dados é por meio de entrevistas. Essas pesquisas têm sido realizadas desde 2002 por diferentes unidades
dentro do Banco Mundial. Contudo, desde 2005-06, a maioria dos
esforços de coleta de dados tem sido centralizada na Enterprise
Analysis Unit. O conjunto de dados de cada país e toda a documentação relevante das pesquisas estão disponíveis ao público no site
www.enterprisesurveys.org. As pesquisas são geralmente realizadas em
cooperação com as organizações empresariais e agências governamentais que promovem a criação de emprego e crescimento econômico,
garantindo a confidencialidade dos entrevistados e das informações.
Inicialmente, faz-se necessário compreender as características das
empresas, destacando as possíveis diferenças e semelhanças existentes entre as empresas exportadoras e as não exportadoras dos três
países analisados. A Tabela 1 apresenta algumas dessas características. As bases de dados utilizadas são compostas por 1.421 empresas
brasileiras (221 exportadoras e 1.200 não exportadoras), 1.378 empresas indianas (295 exportadoras e 1.083 não exportadoras) e 1.489
empresas chinesas (292 exportadoras e 1.197 não exportadoras). De
maneira geral, pode-se verificar a existência de um padrão, em que
praticamente todos os indicadores das empresas exportadoras são
maiores em relação aos das não exportadoras nos três países.
O índice de tecnologia (IT) utilizado nesse estudo baseia-se em Lall
(1987, 1992) cujo objetivo é mensurar as capacidades tecnológicas
das empresas com base em diferentes tipos de esforços inovativos.
É importante ressaltar ainda que esse indicador vem sendo utilizado
em diversos estudos empíricos para países emergentes (Lall, 2000;
Wignaraja, 2008, 2011), porém, para o caso do Brasil e Índia está
sendo usado de maneira pioneira.
Lall (1987, 1992) e Wignaraja (2011) organizam as capacidades tecnológicas das empresas em três grupos: investimento, produção e
redes. Para amostra de Brasil, Índia e China essas funções estão iden-
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tificadas nas seguintes variáveis: (i) melhoria de equipamentos, (ii) licenciamento de tecnologia, (iii) certificação de qualidade (ISO), (iv)
adaptação e melhoria de produtos, (v) introdução de novos produtos,
(vi) atividade de pesquisa e desenvolvimento (P&D), (vii) subcontratação, (viii) participação em redes de tecnologia. Para cada empresa
é atribuída uma pontuação de 1 caso esteja presente essa capacidade
tecnológica. A categoria investimento é representada pelas atividades
(i) e (ii); a categoria produção é representada por quatro atividades
(itens iii a vi); e a categoria redes é representada pelos itens (vii) e
(viii). Por fim, o resultado é normalizado para valor entre 0 e 1. Este
número pode ser interpretado como a pontuação total de capacidades tecnológicas de cada firma.
Quanto ao tamanho das empresas analisadas, as exportadoras destacam-se por serem maiores que as não exportadoras. As empresas
exportadoras na China possuem, em média, 584 empregados; no
Brasil, possuem cerca de metade do tamanho das chinesas, com uma
média de 266 empregados, e na Índia, são ainda menores, com 255
empregados em média. Esse resultado coincide com os resultados
encontrados por Tomiura (2007), para empresas japonesas, e para
Ganotakis e Love (2010), para empresas do Reino Unido, em que
também encontram evidências de que as exportadoras são, em média, dez vezes maiores que as empresas não exportadoras.
No que se refere à participação de capital estrangeiro, verifica-se
que 29% das empresas chinesas exportadoras possuem participação
de capital estrangeiro. Dentre os países analisados a participação de
capital estrangeiro dentre as exportadoras é, em média, maior na
China, seguido do Brasil (18%) e da Índia (2,4%). Outro indicador
importante para caracterizar as empresas analisadas refere-se à relação entre valor bruto das máquinas e número de funcionários. As
empresas exportadoras do Brasil e da China possuem esse indicador
maior do que as não exportadoras. A exceção encontra-se no caso
indiano, em que para as empresas não exportadoras essa relação é
superior às empresas que exportam.
Quanto ao indicador de idade, as exportadoras brasileiras e indianas
apresentam, em média, idade de 26,5 e 19,6 anos, respectivamente,
em relação às não exportadoras, o que pode indicar que as empresas
desses dois países que conseguem se inserir no mercado internacional
são mais experientes e maduras. As empresas chinesas, por sua vez,
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diferenciam-se desse padrão, pois as empresas que exportam são
mais jovens (em média 12,6 anos) em relação às não exportadoras
(em média 17,3 anos).
Tabela 1 – Características das empresas exportadoras e não exportadoras para
Brasil, Índia e China
Variáveis
Pessoal Ocupado
(unidades)
% Capital Estrangeiro
Capital por empregado
Idade
(anos)
% de PO que utiliza
Computador
Gastos com M&E
(US$)
Gastos com P&D
(US$)
Novos Produtos
Índice de Tecnologia
Total de Empresas
Exporta
266,86
(498,61)
16,16
(35,62)
16,58
(71,60)
26,52
(22,08)
24,71
(21,22)
749,31
(4951,74)
180,66
(690,51)
16,52
(22,08)
0,64
(15,12)
221
Brasil
Não exporta
77,25
(154,03)
2,47
(14,68)
8,61
(7,17)
16,31
(14,90)
16,51
(16,91)
124,40
(1704,22)
24,45
(161,64)
30,44
(22,08)
0,57
(0,1429)
1200
Exporta
255,40
(783,58)
2,42
(12,25)
30,16
(381,81)
19,68
(18,83)
23,33
(25,12)
219,45
(1166,86)
230,24
(4110,73)
65,55
(207,83)
0,57
(0,22)
295
Índia
Não exporta
45,16
(141,53)
0,26
(3,26)
89,10
(280,94)
15,43
(13,04)
15,39
(22,90)
308,98
(9194,9)
2,26
(24,21)
31,79
(145,65)
0,54
(0,19)
1083
China
Exporta
Não exporta
584,84
332,46
(1314,96)
(782,91)
28,91
6,18
(39,53)
(19,17)
21,57
13,36
(1586,01)
(73,66)
12,67
17,36
(10,76)
(14,32)
26,77
21,36
(28,70)
(26,01)
16497,05
1032,69
(50375,17)
(63242,96)
321,64
311,31
(1586,01)
(2717,62)
27,78
8,13
(224,89)
(41,45)
0,48
0,46
(0,26)
(0,25)
292
1197
Fonte: Banco Mundial (2002, 2003a, 2003b). Elaboração Própria.
As exportadoras também apresentam médias superiores às não exportadoras quanto ao percentual de pessoal ocupado que utiliza
computador nos três países analisados. Na China 26,7% dos trabalhadores das exportadoras usam computador, seguido dos 24,7% das
empresas brasileiras e dos 23,3% das empresas indianas. No que
se refere ao indicador de gastos com máquinas e equipamentos, as
empresas exportadoras da China gastam, em média, 16 vezes mais
do que as não exportadoras. As empresas brasileiras também gastam
com máquinas e equipamentos mais do que as não exportadoras,
excetuando-se a esse fato o caso indiano.
Ainda pela Tabela 1, podem ser observadas três importantes variáveis
consideradas em diversos estudos como proxies do esforço inovativo
das empresas: gastos em P&D, desenvolvimento de novos produtos
e índice de tecnologia. Quanto aos gastos com P&D, as empresas
exportadoras apresentam montantes, em média, superiores aos das
não exportadoras. As empresas brasileiras exportadoras gastaram,
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em média, US$ 180 milhões em 2003 com atividades de P&D, montante esse inferior à média das empresas exportadoras chinesas, que
gastaram, em média, nesse mesmo ano, US$ 321 milhões. Ganotakis
e Love (2010) no estudo para o Reino Unido também conclui que
as empresas exportadoras têm gastos mais elevados com P&D, sugerindo que o esforço inovativo (gastos com P&D) está fortemente
relacionado à exportação. Quanto ao desenvolvimento de novos produtos, observa-se a mesma realidade, pois para os três países analisados as empresas exportadoras, em média, desenvolveram, nos três
anos anteriores ao ano da pesquisa, mais novos produtos do que as
não exportadoras.
No que se refere ao índice de tecnologia, verifica-se que as empresas
exportadoras, em relação às não exportadoras, apresentam médias
superiores para os três países. Dessa forma, nota-se que as empresas
exportadoras apresentam um número maior de capacidades tecnológicas em relação às não exportadoras. No caso do Brasil, as empresas
exportadoras apresentaram um IT 12% superior em relação às não
exportadoras. Esse resultado alinha-se com as conclusões obtidas
por Wignaraja (2011), que identificou nas empresas chinesas exportadoras, em média, um índice tecnológico 30% maior do que para as
não exportadoras.
A Tabela 2 apresenta outro importante conjunto de variáveis que
indicam a frequência de algumas características qualitativas das empresas exportadoras e das não exportadoras para os países analisados. Quanto à realização de programa de treinamento nota-se que
as empresas exportadoras possuem um percentual superior às não
exportadoras nas empresas dos três países.
Tabela 2 – Características qualitativas das empresas exportadoras e não exportadoras para Brasil, Índia e China. (%)
Variáveis
Programa de Treinamento
Brasil
Índia
China
Exporta
Não exporta
Exporta
Não exporta
Exporta
Não exporta
85,52
62,25
34,58
17,36
96,23
92,56
Projetos de Cooperação
89,59
70,75
89,15
76,08
58,22
56,89
Alta intensidade tecnológica
14,93
9,58
38,98
41,27
44,52
39,77
Média Intensidade tecnológica
50,23
40,50
16,27
28,53
15,07
41,60
Baixa intensidade tecnológica
34,84
49,92
44,75
30,20
40,41
18,63
221
1200
295
1083
292
1197
Total de Empresas
Fonte: Banco Mundial (2002, 2003a, 2003b). Elaboração Própria.
Est. Econ., São Paulo, vol. 43, n.3, p. 499-524, jul.-set. 2013
Esforço Inovativo e Desempenho Exportador: Evidências para Brasil, Índia e China
511
No que se refere à realização de projetos de cooperação, as empresas
exportadoras participam mais de acordos de cooperação em relação
às não exportadoras. Tomiura (2007) também identificou essa relação para as empresas japonesas. Dentro da amostra utilizada, 64%
das empresas exportadoras japonesas participam de um algum tipo
de projeto de cooperação. Observa-se, assim, que realizar acordos
de cooperação é uma característica predominante em empresas que
exportam, e tal resultado sugere que as empresas que se inserem no
mercado internacional, via exportação, já se relacionam com parceiros em outros países.
Faz-se necessário também uma compreensão mais aprimorada das
características das empresas quanto à intensidade tecnológica. Para
fins desse estudo foi utilizada a classificação de intensidade tecnológica proposta por Lall (2000).2Os resultados apontam que a maior
parte das empresas exportadoras do Brasil concentra-se em setores
de média intensidade tecnológica (50,23%). Na Índia, as empresas
exportadoras concentram-se em setores de baixa intensidade tecnológica (44,75%), enquanto que na China as empresas exportadoras
concentram-se em setores de alta intensidade tecnológica (44,52%).
3.2. Especificação Econométrica
O modelo estimado nesse estudo é o modelo de regressão probabilística. O modelo probit admite a função de distribuição normal
(standard) para expressar a relação não linear entre as probabilidades estimadas da variável dependente e as variáveis explicativas.
O modelo probit admite a seguinte hipótese:
Ii = b0 + b1 X1i + ..+bn Xni
(1)
onde Ii é um índice não observado dependente das variáveis X1i,…,Xni,
de tal modo que quanto maior é o valor do índice Ii, maior é a probabilidade de o indivíduo possuir a característica de interesse.
2
A taxonomia desenvolvida por Lall (2000) divide os setores de acordo com atividade tecnológica na manufatura. Para tanto, o autor propõe quatro grupos: setores baseados em recursos, setores de baixa intensidade tecnológica, setores de média intensidade tecnológica,
setores de alta intensidade tecnológica. Considerando a base de dados utilizada por este
trabalho agruparam-se as empresas nos três últimos setores.
Est. Econ., São Paulo, vol. 43, n.3, p. 499-524, jul.-set. 2013
Ana Paula Avellar e Luciana Carvalho
512
Assume-se também que corresponde um nível limiar (crítico) do
índice I*i tal que, se I*i ≤ Ii o indivíduo possui a característica de interesse, caso contrário não possui esta característica.
Admitindo a hipótese da normalidade, a hipótese de que I*i ≤ Ii pode
ser apresentada do seguinte modo:
Pi= Pi (Yi=1|X1i,…,X ni)=P(I *i ≤ I i )=P(Z i≤b 0+ b1 X1i+..+b n X ni)=
F ( b 0+ b1 X1i+ ..+bn Xni)
(2)
onde Zi ~ N(0, 1).
Desta forma, o modelo utilizado pode ser apresentado pela Equação
(3):
Pr[X>0]=+1 Pessoal Ocupado+ 2Idade+ 3Capital Estrangeiro+
4 Capital+ 1Treinamento+ 2Computador+ 3Gastos Máquinas+
π1 Altatec + π2 Mediatec+ μ1 Novos Produtos +μ2 Gastos P&D +μ3
IT + μ4 Cooperação
(3)
Os coeficientes estimados do modelo probit não têm uma interpretação direta. Para serem comparáveis com os coeficientes estimados
do modelo linear têm de ser divididos pelo fator 2,5 (Wooldridge,
2010; Cameron e Trivedi, 2009).
Com intuito de encontrar evidências a respeito da influência da
inovação tecnológica sobre as exportações das empresas industriais
brasileiras, chinesas e indianas, foram selecionadas algumas variáveis,
agrupadas em quatro dimensões: características da empresa, indicadores de capacitação, classificação do setor industrial por intensidade
tecnológica e esforço inovador da empresa. O Quadro 1 apresenta as
variáveis utilizadas.
Est. Econ., São Paulo, vol. 43, n.3, p. 499-524, jul.-set. 2013
Esforço Inovativo e Desempenho Exportador: Evidências para Brasil, Índia e China
513
Quadro 1 – Descrição das variáveis
Nome da Variável
Descrição
A) Características da Empresa
Pessoal Ocupado
Número de pessoal ocupado.
Idade
Anos desde a abertura da empresa até 2002 ou 2003.
Capital Estrangeiro
Empresa possui participação de capital estrangeiro. Variável binária:
0 – empresa não possui participação de capital estrangeiro;
1 – empresa possui participação de capital estrangeiro.
Capital
Valor Bruto de Máquinas e Equipamentos (US$) em relação ao número de pessoal
ocupado.
B) Indicadores de Capacitação
Treinamento
Empresa realiza treinamento. Variável binária:
0 – empresa não realiza treinamento;
1 – empresa realiza treinamento.
Computador
Percentual da força de trabalho que utiliza computador.
Gastos Máquinas
Logaritmo dos gastos com máquinas e equipamentos (US$).
C) Características do Setor Industrial
Alta Tec
Empresa que pertence a setores de alta intensidade tecnológica de acordo Lall
(2000). Variável binária:
0 – indústria baixa e média baixa intensidade tecnológica;
1 – indústria alta intensidade tecnológica.
Média Tec
Empresa que pertence a setores de média intensidade tecnológica de acordo Lall
(2000). Variável binária:
0 – indústria baixa e alta baixa intensidade tecnológica;
1 – indústria média intensidade tecnológica.
Baixa Tec
Empresa que pertence a setores de baixa intensidade tecnológica de acordo Lall
(2000). Variável binária:
1 – indústria alta e média baixa intensidade tecnológica;
0 – indústria baixa intensidade tecnológica.
D) Indicadores de Esforço Inovador
Novos Produtos
Número de novos produtos lançados pela empresa nos últimos 3 anos.
Gastos P&D
Logaritmo dos gastos com pesquisa e desenvolvimento (US$).
Índice de Tecnologia (IT)
Indicador normalizado das capacidades tecnológicas (Lall, 1987, 1992;Wignaraja,
2011). Capacidades Tecnológicas selecionadas:
1. Melhoria de Equipamentos;
2. Licença para uso de tecnologia;
3. Certificação ISO;
4. Melhoria ou Adaptação de Produtos;
5. Introdução de Novos Produtos;
6. Atividade de P&D;
7. Subcontratação;
8. Redes de Tecnologia.
Cooperação
Empresa participou de programa de cooperação com outros parceiros. Variável
binária:
0 – empresa não realiza cooperação;
1 – empresa realiza cooperação.
Fonte: Banco Mundial (2002, 2003a, 2003b). Elaboração Própria.
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Ana Paula Avellar e Luciana Carvalho
514
4. Resultados da pesquisa
O objetivo desta seção é verificar se as variáveis explanatórias - características da empresa, indicadores de capacitação, intensidade tecnológica do setor e esforço inovativo - influenciam o desempenho
exportador das empresas no Brasil, Índia e China. Como já apresentado anteriormente, para viabilizar essa análise estimou-se modelos
de regressão probit, segundo recomendações de Greene (2003). Foi
considerada como variável dependente binária a empresa exportar
ou não exportar nos três anos anteriores a 2002 para as empresas da
Índia e nos três anos anteriores a 2003 para as empresas do Brasil e
da China.
Foram estimados quatro modelos com objetivo de analisar os efeitos
de diferentes indicadores de esforço inovativo no desempenho exportador das empresas. No primeiro modelo foi utilizado o indicador
de resultado do esforço inovativo, medido pelo lançamento de novos
produtos, com intuito de verificar seus efeitos sobre a probabilidade da empresa exportar. O segundo modelo utiliza o indicador de
esforço inovativo mais formal, segundo a literatura, medido pelos
gastos em P&D, com objetivo de analisar se o volume de gastos em
P&D afeta a probabilidade da empresa exportar. No terceiro modelo utiliza-se o índice tecnológico (IT) com intuito de mensurar se
o esforço de aprendizagem e as capacitações das empresas afetam
a probabilidade de exportar. Por fim, o quarto modelo analisa os
efeitos de cooperações empresarias (networking, joint ventures) sobre
a probabilidade da empresa exportar. Os resultados obtidos nessas
estimações para Brasil, Índia e China estão expressos nas Tabelas 3,
4 e 5, respectivamente.
Ao analisar os quatro modelos para o caso do Brasil apresentados na
Tabela 3 é possível encontrar alguns padrões para as empresas brasileiras. Em todas as estimações verifica-se que dentre as características das empresas, os indicadores de pessoal ocupado, participação
de capital estrangeiro e idade apresentaram o sinal esperado, ou seja,
seus coeficientes associados são positivos e estatisticamente significativos. Algumas características apontadas na literatura nacional
identificam que as empresas estrangeiras têm mais tendência a ser
exportadora que as nacionais. De Negri e Acioly (2004) descrevem
que a própria natureza das empresas estrangeiras, mais internacionalizadas e com maior inserção no comércio internacional, bem como
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Esforço Inovativo e Desempenho Exportador: Evidências para Brasil, Índia e China
515
o acesso a canais de comercialização não disponíveis para as empresas domésticas, proporcionam às empresas estrangeiras maiores
vantagens competitivas no comércio exterior. Pelo primeiro modelo,
pode-se inferir que empresas estrangeiras, atuando num mesmo setor e com os mesmos padrões de inovação das empresas nacionais,
possuem uma probabilidade 7,5% maior de exportar.
Quanto aos indicadores de capacitação, observa-se também a existência de um padrão. As variáveis gastos com máquinas e equipamentos e treinamento possuem coeficientes associados positivos e
estatisticamente significativos. Assim, sugere-se, pelos resultados
obtidos no segundo modelo, que empresas que realizam esses dois
tipos de esforços de capacitação possuem, respectivamente, probabilidade 3,5% e 11,6% maior de exportar do que as empresas que
não realizam tais esforços. Por fim, as variáveis que determinam as
características do setor industrial ao qual a empresa pertence, ou
seja, se a participação em setores de alta e média tecnologia afeta a
probabilidade da empresa exportar, no caso brasileiro, os resultados
dos quatro modelos apontam coeficientes associados positivos e não
são estatisticamente significativos.
No que se refere à análise dos quatro indicadores de inovação o
resultado é diverso. No primeiro modelo o indicador, medido pelo
número de novos produtos lançados nos últimos três anos, apresenta
coeficiente associado negativo e não é estatisticamente significativo.
Esse resultado indica que novos produtos podem não ser um fator
determinante para tornar a empresa brasileira capaz de concorrer em
outros mercados, via exportação. Contudo, nos outros três modelos
os resultados se assemelham: gastos em P&D, índice de tecnologia e
cooperação apresentam os sinais esperados dos coeficientes associados positivos e estatisticamente significativos. Esse resultado indica
que para o caso das empresas brasileiras o montante gasto em P&D,
a capacidade tecnológica das empresas e a realização de atividades
de cooperação aumentam em 1,6%, 23,1% e 11,8%, respectivamente,
a probabilidade das empresas exportarem.
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516
Tabela 3 - Modelos probit para Brasil
Produtos
Pessoal Ocupado
Coeficiente
Efeito
Marginal
0.00102
0.00041
(0,00030)**
0.00748
Capital
Estrangeiro
Gasto P&D
-0.00002
0.00299
0.00942
-0.00001
0.30697
0.00377
Computador
0.12279
Alta Tecnologia
0.09363
0.03745
-0.00000
0.00964
0.29027
0.00304
0.08850
0.02899
0.09191
-0.00000
0.03896
Efeito
Marginal
0.00083
0.00033
0.00773
-0.00016
0.00386
0.00999
0.00295
0.22970
-0.00006
0.00264
0.00344
0.08935
0.09188
0.08674
0.08983
0.00307
-0.00002
-0.00001
0.00921
0.00368
0.26060
0.10424
0.00397
0.00159
(0,0025)
0.03303
0.09529
0.03825
(0,18660)***
0.03470
(0,1498)
0.01558
0.00768
(0,11543)**
0.00106
(0,01868)***
0.03676
0.00032
(0,00275)***
(0,00277)
0.03540
0.00080
(0,00289)
(0,11943)***
0.00122
Efeito
Marginal
(0,00202)***
(0,00276)***
0.11611
Coeficiente
(0,00037)**
(0,0019)
(0,1498)
0.04594
Coeficiente
(0,00202)***
(0,18880)***
(0,15176)
0.11485
0.00314
(0.00267)
(0,18590)***
0.07248
0.00786
Cooperação
(0,00036)**
(0,11000)**
0.00186
(0,00257)
Ln Gastos M&E
0.00030
(0,00275)***
(0,10943)**
0.00464
0.00076
(0,0000)
(0,00205)***
Treinamento
Efeito
Marginal
(0,00205)***
(0,00270)
Idade
Coeficiente
(0,00037)**
(0,00205)***
Capital
IT
0.08670
0.03468
(0,15046)
0.35932
0.09964
0.03836
Média Tecnologia
(0,09606)
-0.00108
Produtos
(0,09506)
(0,0961)
(0,09591)
-0.00043
(0,0008)
0.03896
Gasto P&D
0.01598
(0,00210)*
0,57894
Índice de
Tecnologia
0.23158
(0,33968)*
0.29566
Cooperação
0.11826
(0,11897)**
Pseudo R2
0.1846
Log Likelihood
-500.73
-501.80
-502.11
-500.65
1421
1421
1421
1421
Nº Observações
0.1829
0.1824
0.1848
Nota: A variável dependente é exportação. As variáveis Gasto P&D e Gasto Máquinas estão
expressas em logaritmo natural. *, **, ***, significativos a 10%, 5% e 1 %, respectivamente.
Os erros-padrão são robustos e estão entre parênteses.
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517
A Tabela 4 apresenta os resultados dos modelos estimados para a
amostra de empresas da Índia (1.378 empresas). Ao analisar os quatro modelos do caso da Índia é possível identificar que dentre as
características das empresas, que os indicadores de pessoal ocupado e de participação de capital estrangeiro apresentam coeficientes
associados positivos e estatisticamente significativos, o que indica
que ter grande porte e participação de capital estrangeiro aumenta
a probabilidade da empresa exportar, assemelhando-se ao caso das
empresas do Brasil.
Quanto aos indicadores de capacitação, observa-se que em todos os
modelos as três variáveis – treinamento, computador e gastos com
máquinas e equipamentos - possuem coeficientes associados positivos e estatisticamente significativos. Sugere-se com esses resultados
que, como mostram os resultados do terceiro modelo, empresas que
realizam esses tipos de esforços de capacitação possuem, respectivamente, probabilidade 1,8%, 0,2% e 17,5% maior de exportar do que
as empresas que não realizam tais esforços.
Por fim, as variáveis que determinam as características do setor industrial ao qual a empresa pertence, ou seja, se participar de setores
de alta e média tecnologia afeta a probabilidade da empresa exportar, no caso da Índia, os resultados dos quatro modelos apontam
coeficientes associados negativos e estatisticamente significativos.
Esse resultado sugere que para as empresas desse país pertencer
aos setores de alta e média tecnologia diminui a probabilidade da
empresa exportar.
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Ana Paula Avellar e Luciana Carvalho
518
Tabela 4 - Modelos probit para Índia
Produtos
Pessoal Ocupado
Coeficiente
0,00069
0.00028
(0,00022)**
0.01650
Capital
Estrangeiro
Gasto P&D
Efeito
Marginal
-0.0000
0.00320
-0.0000
0.30970
0.00128
Computador
0.12388
Alta Tecnologia
Média Tecnologia
0.04338
-0.0000
0.25810
0.00450
0.31750
-0.38780
0.00066
-0.53070
Efeito
Marginal
0.00072
0.00029
0.00070
0.00028
0.01722
(0,00023)*
0.00689
-0.0000
0.00275
0.10324
0.29744
-0.0000
0.00536
0.00110
0.43994
0.11898
-0.35225
(0,181)*
-0.53412
0.00342
0.00137
0.29744
0.12012
0.00480
0.00192
(0,001694)**
0.17598
0.40190
0.16076
(0,01323)*
-0.14090
(0,0920)***
-0.21228
-0.0000
(0,09792)*
0.00214
(0,0132)***
-0.15512
-0.0000
(0,00284)
(0,0016)***
0.12700
0.00633
(0.0000)
(0,09792)**
0.00180
0.01581
(0,0074)**
(0,00284)
(0,09335)*
0.02122
Coeficiente
(0.0000)
(0,01353)*
-0.14012
(0,01094)***
0.00033
Produtos
0.01735
(0,09381)***
0.05305
0.00164
Coeficiente
(0,0077)**
(0,00174)**
(0,01361)***
-0.35030
-0.0000
Cooperação
Efeito
Marginal
(0,0003)***
0.00574
(0,1005)***
0.00212
(0,00175)**
ln Gastos M&E
0.01435
(0,00286)
(0,9847)**
0.00530
0.00027
(0.0000)
(0,00286)
Treinamento
0.00068
(0,0076)***
(0.0000)
Idade
Coeficiente
(0,00022)**
0.00660
(0,0076*
Capital
IT
Efeito
Marginal
-0.35380
-0.14152
(0,09181)*
-0.21365
(0,1094)***
-0.52950
-0.21180
(0,1121)*
0.00013
(0,0002)
0.09059
ln Gasto P&D
0.03624
(0,0181)***
0,27543
Indice de
Tecnologia
0.11017
(0,2007)
0,29164
Cooperacao
0.11666
(0,11216)**
Pseudo R2
0.1113
Log Likelihood
-635.98
Nº Observações
1378 0.1280
0.1111
-623.97
1378
0.1147
-636.07
1378
-633.51
1378
Nota: A variável dependente é exportação. As variáveis Gasto P&D e Gasto Máquinas estão
expressas em logaritmo natural. *, **, ***, significativos a 10%, 5% e 1 %, respectivamente. Os
erros-padrão são robustos e estão entre parênteses.
No que se refere à análise dos quatro indicadores de inovação o resultado se assemelha parcialmente ao caso brasileiro. No primeiro
modelo, o indicador de novos produtos apresenta coeficiente positivo
e não é estatisticamente significativo. Esse resultado indica que para
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Esforço Inovativo e Desempenho Exportador: Evidências para Brasil, Índia e China
519
as empresas indianas, assim como para as brasileiras, novos produtos podem não ser determinantes para tornar a empresa capaz de
concorrer com exportação. Dentre os outros três modelos, os gastos
em P&D e cooperação apresentam os sinais esperados dos coeficientes associados positivos e estatisticamente significativos. De acordo
com esses resultados, para o caso das empresas indianas o montante
gasto em P&D e a realização de atividades de cooperação aumentam
em 3,6% e 11,7%, respectivamente, a probabilidade das empresas
exportarem.
A Tabela 5 organiza os resultados dos modelos estimados para o
caso da China (1.489 empresas). No que se refere às características
das empresas, verifica-se algumas especificidades no caso chinês.
Diferentemente do caso brasileiro e indiano, o coeficiente associado à variável pessoal ocupado é positivo e não é estatisticamente
significativo, demonstrando que o tamanho da empresa não tem
efeitos sobre a probabilidade das empresas da China exportarem.
Outra característica da empresa que chama a atenção refere-se à
variável idade, pois o coeficiente associado à variável idade é negativo e estatisticamente significativo, indicando que quanto mais anos
de atividade a empresa possui menor probabilidade de se inserir
no mercado internacional. Outros trabalhos relacionados à China,
como Wignaraja (2011) e Guan e Ma (2003), também identificaram
a relação inversa entre idade e exportação. Esses autores atribuíram
essa relação às mudanças na estrutura produtiva chinesa nas últimas
décadas, em que empresas nasceram recentemente com objetivo de
produzir para atender ao mercado externo. A semelhança com o
caso das empresas do Brasil e Índia está na variável participação de
capital estrangeiro, pois em todos os casos o coeficiente associado à
variável é positivo e estatisticamente significativo, indicando que as
empresas chinesas que possuem capital estrangeiro aumentam em
aproximadamente 4,9% a probabilidade de exportarem.
Quanto aos indicadores de capacitação, observa-se que em todos
os modelos das três variáveis – treinamento, computador e gastos
com máquinas e equipamentos – apenas o coeficiente associado aos
gastos com máquinas e equipamentos é positivo e estatisticamente
significativo. Sugere-se com esses resultados que empresas que realizam gastos com máquinas e equipamentos possuem probabilidade
em torno de 5,7% maior de exportar do que as empresas que não
realizam tal esforço.
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Ana Paula Avellar e Luciana Carvalho
520
Assim como no caso da Índia, as variáveis que determinam as características do setor industrial ao qual a empresa pertence, apresentaram, nos quatro modelos, coeficientes associados negativos e estatisticamente significativos. Esse resultado sugere que para as empresas
da China pertencer a setores de alta e média tecnologia diminui a
probabilidade da empresa exportar quando comparadas a empresas
de setores de baixa intensidade tecnológica.
Tabela 5 - Modelos probit para China
Produtos
Pessoal Ocupado
Coeficiente
Efeito
Marginal
0,0000
0.00002
(0,0004)
0,01231
Capital
Estrangeiro
Gasto P&D
-0,00005
0.00492
-0,01505
-0.00002
0.52940
-0.00602
-0,00165
0.21176
Alta Tecnologia
Média Tecnologia
0.14100
-0.00066
-0,00003
-0,01487
0,5871
-0,00173
0,1438
-0.23755
-0,60735
-0.00001
-1,19550
Efeito
Marginal
0,00005
0.00002
0,01218
-0,00003
-0.00595
-0,01471
0.00487
0,52526
-0.00001
-0,00170
-0.00588
0,14738
0.21010
-0,61262
-0.00068
-0.47820
-1,19870
0.00484
-0,00003
-0.00001
-0,01479
-0.00592
0,63944
0.25578
-0,00168
-0.00067
(0,0016)
0.05895
0,14716
0.05886
(0,0248)***
-0.24505
(0,1014)***
(0,119)***
0,01211
(0,20379)
(0,0240)***
-0.24294
0.00002
(0,0035)***
(0,0016),
0.05752
0,00005
(0,00005)
(0,20336)
-0.00069
Efeito
Marginal
(0,001)***
(0,00352)***
0.23484
Coeficiente
(0,0004)
(0,00005)
(0,1020)***
-0.48032
Coeficiente
(0,00143)***
(0,0257)***
(0,1213)***
0.00085
Produtos
0.05640
(0,10133)***
-1.20080
0.00487
(0,0016)
(0,02396)***
-0,59387
0,01218
Cooperação
(0,0004)
(0,2032)
(0,0016)
ln Gastos M&E
0.00002
(0,0035)***
(0,2033)
Computador
0,00005
(0,00005)
(0,0053)***
Treinamento
Efeito
Marginal
(0,001)***
(0,0000653)
Idade
Coeficiente
(0,0004)
(0,00143)***
Capital
IT
-0,60346
-0.24138
(0,1012)***
-0.47948
(0,1202)***
-1,19356
-0.47742
(0,1204)***
0.00034
(0,00030)**
0,00157
Gasto P&D
0.00063
(0,01474)
0,87500
Índice de
Tecnologia
0.35000
(0,16713)
-0.03843
Cooperação
-0.01537
(0,08855)
Pseudo R2
0.2073
0.2036
0,2038
0.2037
Log Likelihood
-584.19
-586.94
-586.80
-586.85
Nº Observações
1489
1489
1489
1489
Nota: A variável dependente é exportação. As variáveis Gasto P&D e Gasto Máquinas estão
expressas em logaritmo natural. *, **, ***, significativos a 10%, 5% e 1 %, respectivamente. Os
erros-padrão são robustos e estão entre parênteses.
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Esforço Inovativo e Desempenho Exportador: Evidências para Brasil, Índia e China
521
No que se refere à análise dos quatro indicadores de inovação o
resultado se distingue dos resultados do Brasil e Índia. Apenas no
primeiro modelo, o indicador de novos produtos apresenta coeficiente associado positivo e estatisticamente significativo. Esse resultado
indica que para as empresas chinesas, diferentemente das brasileiras
e indianas, novos produtos são determinantes para tornar a empresa
capaz de concorrer com exportação. De acordo com esse resultado,
o lançamento de novos produtos aumenta em 0,4% a probabilidade
das empresas exportarem.
5. Considerações Finais
Quanto às características das empresas, para todos os países analisados, o coeficiente associado à variável participação de capital estrangeiro é positivo e estatisticamente significativo, indicando que a
participação de capital estrangeiro afeta positivamente o desempenho exportador das empresas no Brasil, Índia e China.
Quanto aos indicadores de capacitação para as empresas dos três
países analisados a variável gastos com máquinas e equipamentos
possui coeficiente associado positivo e estatisticamente significativo,
indicando que a realização de gastos com máquinas e equipamentos
aumenta a probabilidade das empresas exportarem.
Os resultados encontrados para os três países sugerem que o esforço
inovador, medido por novos produtos, gastos em P&D, índice de
tecnologia ou cooperação, tem impacto sobre a probabilidade das
empresas exportarem. Contudo, não se pode verificar que um único
indicador afete a probabilidade das empresas exportarem para os
três países ao mesmo tempo. Para as empresas brasileiras gastos com
P&D, índice de tecnologia e cooperação influenciam positivamente
a probabilidade de exportar; para as empresas indianas gastos com
P&D e cooperação influenciam positivamente a probabilidade de exportar; já para as empresas chinesas apenas o indicador de novos produtos influencia positivamente a probabilidade da empresa exportar.
Assim, observa-se que as evidências encontradas não são tão padronizadas quanto nos estudos para empresas de países desenvolvidos,
como já apontava Kumar e Siddarthan (1994). Acredita-se que esse
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Ana Paula Avellar e Luciana Carvalho
522
resultado está de certa maneira relacionado à heterogeneidade da
estrutura industrial e do grau de inovatividade de cada país analisado. Conclui-se que para os países emergentes analisados a relação
entre esforço inovativo (novos produtos, gastos em P&D, índice de
tecnologia e cooperação) e uma melhor inserção internacional das
empresas, via exportações, é mais tênue do que se apresenta nas
evidências empíricas para países desenvolvidos.
Por se tratar de um primeiro exercício empírico, o trabalho pretende dar continuidade em investigações futuras, utilizando essa base
de dados. Faz-se necessário para seu desenvolvimento um aprimoramento na análise empírica, investigando a existência (ou não) de
endogeneidade, o que sugeriria avaliar a necessidade de inclusão de
variáveis instrumentais ao modelo.
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