Rémy Jean – Université de Provence/França
A fala foi traduzida simultaneamente pela professora Daisy Cunha
“Bom dia a todos,
A contribuição nessa mesa redonda será de falar de uma pesquisa comparativa
sobre o trabalho e as relações sociais da empresa Carrefour.
A pesquisa comparativa é feita por entidade francesa, brasileira e argentina.
Pelas entidades brasileiras: o DIEESE e as organizações sindicais dos
trabalhadores do comércio, de todas as centrais sindicais, Forças Sindical,
CUT e, por exemplo, o sindicato dos comerciários de Belo Horizonte que é
independente.
E como entidade Argentina, tinha a Federação dos trabalhadores do Comércio
e Serviço.
E como entidade Francesa, nós tínhamos o departamento de Ergologia da
Universidade de Provence.
O departamento de Ergologia é um departamento pluridisciplinar que tem o
objetivo de compreender e conhecer o trabalho em todas as suas dimensões,
colocando em marcha dispositivos de pesquisa e formação, associando
estreitamente os trabalhadores e seus representantes. Com metodologias
participativas, porque nós pensamos que o saber dos trabalhadores e os
saberes acadêmicos são igualmente importantes para pesquisas do trabalho.
Essa pesquisa comparativa tem origem no Brasil, foi uma demanda das
organizações sindicais brasileiras no sentido de melhor poder compreender as
relações de trabalho e as condições de trabalho numa empresa multinacional
como o Carrefour.
E poder comparar entre os países e, no caso, tomando como referência a
França que é origem dessa empresa multinacional.
E nós, do departamento de ergologia, nos interessamos por esta pesquisa que
nos permite compreender as evoluções do trabalho no processo de
mundialização, sobretudo nos processos de mundialização nos serviços, que é
diferente, menos do que é estudado dos processos de mundialização na
indústria.
Vou apresentar alguns dados do resultado dessa pesquisa, mas antes vou
apresentar alguns dados sobre o seu desenvolvimento, porque o próprio
desenvolvimento da pesquisa traz dados interessantes para a gente comparar
o que se passa nas relações de trabalho no Brasil, França e Argentina.
Essa pesquisa tinha duas janelas nos dois eixos nos três países.
O primeiro eixo são as relações macroeconômicas e sociais nesses três
paises, sobre o setor, e o segundo eixo seria uma atividade de análise concreta
nas empresas nesses três paises.
Estudamos cinco funções de trabalho: os caixas as equipes de venda e
repositores, padeiros, açougueiros os profissionais mais especializados dentro
de lugares mais especializados de venda dentro do Carrefour, pessoas que
recebem as mercadorias nesses supermercados e os supervisores de terreno,
os gerentes de base.
Nós tentamos então, desenvolver a pesquisa nesses dois eixos:
macroeconômico e social tentando pegar algumas atividades concretas de
algumas funções de trabalho dentro dessas unidades de Carrefour nos três
paises.
As possibilidades de pesquisa, nesses três países foram muito diferentes.
Já no plano macroeconômico, estratégico e social, a diferença é muito grande
entre os dois paises, por exemplo, e as organizações sindicais francesas via
seu sindicato das instituições representativas de pessoal, como os comitês de
empresa.
Essas instituições representativas internas às unidades Carrefour, elas
recebem o balanço econômico e social das suas unidades e do C. a cada mês.
Os projetos e estratégias, as organizações sindicais têm disponível todos os
dados econômicos e sociais da empresa C., dados na França.
No Brasil isto não existe, os sindicatos não têm informações deste tipo, eles
têm informações oficiais que são dadas, mas é difícil, por exemplo, conhecer a
realidade de salários numa empresa como essa.
Vocês sabem que a realidade salarial é muito variável de uma vila para outra.
Na França, nós tínhamos dados gerais para fazer uma análise
macroeconômica, mas no Brasil não tínhamos muito esses dados, o DIEESE
pediu formalmente esses dados a empresa Carrefour recusou socializar as
informações com o DIEESE
Segundo o eixo de pesquisa a analise do terreno de campo para isso
precisaríamos da autorização da empresa para ter acesso aos trabalhadores.
Na França, não é difícil obter autorização para ceder terreno e conversar com
os trabalhadores.
Nos dirigimos à direção do Carrefour Francesa, que é também a direção
mundial do C. e apresentamos a pesquisa e pedimos o acesso a uma unidade
do Carrefour, para poder desenvolver nossa pesquisa de campo.
A primeira resposta foi totalmente negativa, com o Argumento seguinte:se
fosse simplesmente na França, daríamos autorização, mas é um estudo
internacional e nós não queremos permitir dar acesso a situações de trabalho.
No Brasil, a gente também não vai dar acesso ao terreno na França e o
argumento para não dar acesso aos trabalhadores no Brasil e eles diziam: essa
pesquisa não nos agrada, porque os trabalhadores brasileiros não vão
compreender bem as diferenças que existem entre os trabalhadores na França
e no Brasil, quando tiverem acesso as informações, eles vão reivindicar as
mesmas condições de trabalho que na França.
É muito difícil explicar aos trabalhadores no Brasil que não pode ser da
mesma maneira na França no Brasil.
Houve uma recusa categórica no primeiro momento e, no segundo momento a
posição da direção do Carrefour mudou, eles continuaram negando acesso às
condições de trabalho no Brasil, mas aceitaram permitir acesso no terreno
unidade na França; isso eles fizeram, mas sob pressão das organizações
sindicais francesas.
A apresentação do desenvolvimento dessa pesquisa, penso eu, indica bem as
diferenças de relações sociais numa mesma empresa no Brasil e a França.
Gostaria de acrescentar que existe, por exemplo, uma representação mundial
dos trabalhadores do Carrefour e nessa representação mundial existem apenas
sindicatos europeus,
Carrefour existe no mundo inteiro: América latina, na Ásia, ele se desenvolve
atualmente na China, mas apenas os trabalhadores europeus estão
representados nesse comitê mundial. Também é uma indicação importante no
tratamento que essa empresa dispensa aos trabalhadores em outros lugares
que não na Europa
.. ele vai trazer alguns elementos de comparação entre esses dois paises,
ainda que a gente precise de muitos dados, dados no caso do Brasil ainda são
fracos, mas a gente pode trazer alguns elementos de comparação:
A primeira coisa que podemos constatar a partir desta pesquisa é que há uma
forte tendência das situações de trabalho,
existe uma tendência a
homogeneidade no plano tecnológico: sistema de caixa e o sistema logístico
são mais ou menos os mesmos, o tamanho das lojas são mais ou menos as
mesmas, a disposição das as mercadorias e as formas de organizar são mais
ou menos as mesmas
... uma homogeneidade
nos meios de trabalho um Segunda
homogeneidade.seria aquela do volume de trabalho, num hipermercado na
França e no Brasil, existe mais ou menos o mesmos número de clientes que
passam todos dias por um volume de mercadorias mais ou menos o mesmo
para isso existem estatísticas mundiais do Carrefour que nos ajudam
compreender esse dado.
A terceira tendência de homogeneidade é a homogeneidade na organização
do trabalho mais ou menos a mesma repartição de tarefas e de
responsabilidades, mais ou menos a menos linha hierárquica. É mais ou menos
a mesma tendência em matéria de flexibilidade, flexibilidade em matéria de
trabalho, com uma relação em matéria similar de subcontratação, terceirização,
na França os assalariados do Carrefour são sub-contratados, no Brasil é pouco
menos, mesma tendência.
Na França, o trabalhador pode trabalhar com
nove tipos de contratos
diferentes: tempo integral, parcial com duração determinada ou
indeterminada....
No Brasil, prestação de mão de obra intermitente a empresa Carrefour aluga
um trabalhador a uma terceira empresa, flexibilidade de contratos de trabalho,
de horários de trabalho sistema de banco de horas mais ou menos, duração
variável sobre uma jornada de trabalho.
Igualdade da atividade da polivalência numa mesma função, depois uma
característica comum..........................
É sistema de pressão muito forte, de cima para baixo, um sistema muito forte
de pressão, muito autoritário sobre os objetivos de trabalho, uma relação
objetivos/resultados cotidiana, a gente encontra isso nos dois países.
E alguns aspectos principais de homogeneidade: existe ainda uma quarta
forma de homogeneidade em tendência.
É o desenvolvimento de uma contradição muito forte entre as pesquisas de
competitividade pelos preços baixos e as pesquisas de competitividade pela
qualidade do serviços. O Carrefour é uma empresa comercial
joga/trabalha nessas duas perspectivas em matéria de competitividade.
Essa busca dupla em matéria de competitividade via preços e serviços cria
uma contradição permanente na gestão e na atividade de trabalho, porque a
competitividade exige
custos
do trabalho principalmente,enquanto a
competitividade dos serviços, exige o desenvolvimento de competências e
qualificação.
A importância da presença constante dos trabalhadores nas lojas essa
contradição se exprime em todas as funções.
Estudamos.cinco funções na empresa.... a gente vê como o trabalhador o da
caixa, por exemplo se exprime.
Essa contradição entre a função de registro dos artigos e que a empresa tenta
utilizar acelerando tempo de um lado de resolução de problema de atenção à
clientela..... função de controle e de representação mesmo da empresa junto ao
cliente.
Existe uma contradição permanente, a pessoa é obrigada ela mesma a
escolher entre duas funções.
Porque, em função dessa lógica de redução de gastos com funcionários é
jamais suficientemente de caixas para atender.
Estudamos na França o sistema de organizações dos caixas, que é gerenciado
por um software informático que define a cada 15 minutos o número de caixas
que devem ficar abertos e a gente constata que não existe jamais um número
suficiente de caixa.
Nessas condições, é muito difícil aos trabalhadores caixas oferecer serviço de
qualidade, eles estão sempre muito sobrecarregados...
Enquanto que, ainda mais se a gente pensar que ofertar um serviço de
qualidade é uma coisa muito complexa, por exemplo, gestão do sistema da fila
de espera é algo de muito complexo, porque todos os clientes estão
apressados eles querem passar rápido, aliás, a empresa joga com essa
pressão da fila de espera dos clientes, mas o cliente que chegou, que está no
caixa, quer ser bem atendido. Ele quer que o caixa se ocupe bem dele, ele não
quer ser jogado rapidamente para fora do caixa.
Então, a caixa fica sob pressão permanente da fila de espera e ela que de
alguma forma, tem que gerenciar as duas demandas, sua economia de tempo
e ao mesmo tempo bom atendimento.
A gente pode descrever a mesma contradição sobre todas as funções
estudadas no Carrefour.
Existe ainda uma outra forma de homogeneidade na empresa. Que é sempre
uma surpresa quando vai analisar uma situação de trabalho: é o engajamento
dos assalariados numa lógica de qualidade de serviço apesar dos baixos
salários apesar de condições de trabalho frequentemente muito péssimas.
A gente sempre observa a atividade, até nas próprias entrevistas isso é
sempre ressaltado.
O desejo dos trabalhadores de ofertar um serviço de qualidade, entretanto
existe alguma diferenciação fundamental: a primeira diferencial é questão do
direito e eu falei um pouco na minha introdução.
Mas, a situação em matéria de direito é muito diferente.
Na França, existem convenções coletivas e reconhecimento sindical,
negociação mais ou menos permanente, existe sim uma repressão sindical,
discriminação sindical mas, o que é exportável para o Brasil é o aspecto da
discriminação e repressão sindical as entidades sindicais falaram desse
desrespeito sindical.
As coisas que constatamos vão todas no mesmo sentido
A prática do Carrefour no Brasil é uma prática de não-respeito dos direitos
fundamentais dos trabalhadores nos poderemos dar muitos exemplos.
E vocês podem encontrar neste livro uma publicação do DIEESE, que chamase Trabalho e abordagem pluridisciplinar: estudos Brasil, França e Argentina.
Uma publicação do DIEESE e do CESIT que apresenta o resultado dessa
pesquisa nos três países.
A segunda diferença que é preciso mencionar é que a utilização da força de
trabalho no Brasil e na França é mais extensiva no Brasil e intensiva na França.
No Brasil, a perspectiva do Carrefour, é a abertura máxima de novas unidades
e também a extensão do tempo de atendimento ao cliente nos magazines, o
tempo de abertura é maior. Tanto crescer a rede em número de lojas, quanto
alargar o tempo de atendimento ao cliente, com a abertura das lojas num
tempo maior, com um aspecto muito importante que é a abertura dos
hipermercados no domingo.
Carrefour é a empresa uma multinacional que desenvolveu essa possibilidade
de abertura das lojas no domingo, foi um modelo para outras grandes
empresas da distribuição para outros países.
A estatística do DIEESE mostra que cresceu enormemente nos dez anos
Na França, a lógica é um pouco diferente, trata-se no caso do Carrefour de
intensificar ao máximo o uso da força de trabalho, já que eles não podem abrir
novas lojas e eles também não podem modificar facilmente o horário de
abertura nas lojas.
Na França, o trabalho no domingo, por exemplo, é muito restrito.
No setor da grande distribuição, estamos enfrentando mudanças muito rápidas.
Nós podemos colocar a hipótese de que a intensificação do trabalho vai
também muito rápida na tendência brasileira, pois é um setor no qual é
extremamente forte a concorrência impulsionada por um líder mundial que
vocês conhecem, que é o Wal Mart, que é um modelo em matéria de não
respeito do direito do trabalho, de intensificação de ataques aos direitos
sindicais, que tenta se expandir, particularmente, no Brasil nos últimos anos e
que arrisca trazer evoluções nesse sentido. Nesse setor, o risco da grande
distribuição, sobretudo no Brasil é Walmatização no setor de distribuição que
pode levar a uma degradação das situações de trabalho ainda piores das que a
gente descreve aqui.
Alguns elementos de conclusão, para dizer que fazer em face dessa situação.
É claro que uma pesquisa como essa que a gente desenvolveu traz uma
pequena contribuição a possibilidades de melhorias nos direitos de trabalho,
mas, é claro, são necessárias muitas outras coisas, talvez, mais importante em
matéria de evolução, nos direitos do trabalho e em de matéria de possibilidade,
negociação coletiva.
Mas, é necessário um desenvolvimento mais forte no movimento sindical, que
é muito formal e falho atualmente. E, nessa lógica de mundialização, com a
qual os trabalhadores são confrontados, precisamos desenvolver formas de
troca de informação e de luta de combate comum, pra melhorar as condições
de trabalho. “Agradece”.
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