IFMG – Campus Ouro Preto - Laboratório de Pesquisas Ambientais UMA NOVA ABORDAGEM NO ESTUDO DOS INSETOS Pedro Luiz Teixeira de Camargo¹, Julio Cesar Rodrigues Fontenelle², Ana Paula Gomes³, Emerson Neves, Viviane Rodrigues, Luana Miranda 1 - Escola Municipal Monsenhor Rafael; 2 – Instituto Federal de Minas Gerais – campus Ouro Preto, CODAMB; 3 – Graduanda de Geografia; 4 – Graduandos de Tecnologia em Gestão da Qualidade PADRE CARMÉLIO INTRODUÇÃO Segundo a Convenção sobre Diversidade Biológica (1992), biodiversidade é o conjunto dos mais diversos tipos de vida existentes em nosso planeta, e sua preservação é algo fundamental para a manutenção da vida. Porém esta diversidade de espécies tem sido cada vez mais afetada pela falta de planejamento do desenvolvimento humano, culminando desta forma com um número muito expressivo de espécies em extinção (34000 plantas e 5200 animais) (MMA 2002). Uma das principais medidas economicamente viáveis é o investimento em educação ambiental como forma real de preservação e conservação da natureza. Portanto, com base nisso, pode-se deduzir que a educação ambiental deve ser um modelo de ensino voltado para a preservação da biodiversidade, algo que nem sempre ocorre, pois diversas pessoas tendem a explicar e tocar apenas em assuntos que lhes desperte curiosidade ou identificação. Com os professores de Ciências isto não é diferente, uma vez que muitos destes acabam por deixar de lado, ou apenas citam de forma resumida, conteúdos programáticos que despertem uma certa repugnância visual ou comportamental (Costa Neto, 1999). Este é o caso da classe Insecta, que constitui a maior classe de animais do planeta, entre 5 e 10 milhões de espécies, que muitas vezes acaba por causar aversão em diversas pessoas (Garcia, 1995). Sem os insetos a vida como conhecemos na Terra tenderia a desaparecer, pois estes animais têm uma relação íntima com as mais diversas ordens e classes de seres vivos, sendo fundamentais muitas vezes para a reprodução (diversas espécies de plantas), alimentação (Buzzi e Miyazaki, 1999) ou até, no caso dos seres humanos, como um componente econômico ecologicamente viável. Os estudos das mais diversas relações entre as informações biológicas populares e as acadêmicas estão inseridos na etnobiologia, que é a área da biologia que estuda o conhecimento e os conceitos que cada sociedade desenvolve em relação à fauna e à flora locais (Posey, 1986). Begossi (2002) vai além desta definição e descreve a etnobiologia como o ramo da ciência que busca entender os processos de interação das sociedades e seus recursos naturais, em especial a percepção, seus conhecimento e usos, incluindo o manejo dos mais diferentes recursos. No caso específico deste trabalho, a pesquisa de como os estudantes de ensino fundamental do 9º ano se comporta ou tendem a se comportar em relação às mais diversas definições do que viria a ser “insetos” poderá ser, primeiro, uma melhor forma de entender o que a classe Insecta representa para os alunos, possibilitando a criação de uma nova forma de ensino que retrate a real importância dos insetos e, segundo, uma forma viável de preservação zoológica, pois somente quando existe o entendimento e compreensão corretos por parte da sociedade é que as políticas públicas de preservação ecológica tendem a conseguir de fato o seu objetivo: a conservação da biodiversidade MATERIAIS E MÉTODOS Inicialmente foi realizado um levantamento das escolas Municipais de Ouro Preto e distritos que tinham alunos matriculados no nono ano. Logo em seguida entrou-se em contato com as escolas para que seus respectivos diretores avaliassem se seria viável ou não a participação de suas escolas no referido projeto, todas as escolas demonstraram interesse em participar. Foi feito um levantamento do número de alunos matriculados no nono ano, dando um total de 383 alunos divididos em 13 escolas, onde cada aluno responderia o questionário 1, com perguntas acerca do tema. Após esta fase, por ordem de sorteios, iniciaram-se as visitas ao IFMG- Campus Ouro Preto que foram divididas em três etapas. Na 1º etapa, eles puderam conhecer as instalações do Instituto. Durante a visita foram informados sobre os cursos técnicos, e incentivados a fazerem a prova. Na 2° etapa, foram trazidos ao Laboratório de Pesquisas Ambientais e divididos em duas turmas, onde tiveram uma aula expositiva acerca da importância da conservação dos insetos para a preservação da biodiversidade, e conheceram as ordens de alguns insetos, como: abelha (Hymenoptera), barata (Blattaria), besouro (Coleoptera), borboleta (Lepidoptera), cigarra (Hemíptera), formiga (Hemynoptera), gafanhoto (Orthoptera), mosca (Díptera), percevejo (Hemíptera), ALUNOS ANTES DEPOIS 1 dependendo eu mato mato 2 mato nada 3 mato mato 3 mato mato 4 mato mato 5 espanto ou mato espanto 6 nada espanto ou mato 7 coloco inseticida mato 8 mato jogo remédio 9 mato jogo remédio neles 10 mato mato 11 mato mato mato 12 RESULTADOS E DISCUSSÃO nada JUVENTINA DRUMMOND ALUNOS ANTES 1 mato 2 na maioria das vezes usos inseticida os inofensivos coloco pra fora, e os que fazem mal eu mato 3 DEPOIS jogo inseticida uns coloco pra fora,outros mato nada jogo fora nada,de vez em quando mato não faço nada nada deixo eles lá deixo eles extermínio extermino mato mato jogo inseticida mato 11 mato uso de algum produto para mantê-los mato não chego perto de alguns 12 jogo remédio jogo remédio mato mato toco eles para fora procuro eliminá-los toco eles pra fora eu procuro retirá-los de casa ou eliminá-los mato com inseticida mato nada jogo ele pra fora não faço nada nada,tenho medo mato mato mata com inseticida minha mãe e meu pai que matam mato minha mãe mata mato com inseticida mato piso nos insetos mato mato ou jogo inseticida mato espanto-os espanto mato nada mato deixo eles no canto deles,as vezes os observo mato mato 4 5 6 7 8 9 10 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 espanto eles espanto se for barat mato, se mato,ou bato o pano for mosquito espanto de pano de prato neles os perigosos mato, os inofensivos deixo quietos mato alguns Mato escorpião, minha mãe guarda no álcool nada toco ele para fora de casa toco eles 34 35 nada nada mato ou jogo inseticida mato mato mato nada nada 36 37 Tabelas1 e 2: Reação dos alunos em relação à presença de insetos antes e depois da visita ao Campus Escola Animais Citados P. Carmélio Juventina sua importância econômica, alimentação, habitat, predadores, reprodução e diversidade. E a outra conheceu a coleção entomológica do Laboratório, primeiro a olho nu e depois com o auxilio de uma lupa, também conheceram as caixas com insetos e foi montada uma mesa na qual eram explicados mais alguns insetos da coleção. Depois de todos já terem participado das atividades propostas, passaram para 3° e última etapa do projeto, responder ao questionário 2 igual ao, porém com as perguntas em ordens contrárias. No final dos trabalhos foi entregue aos alunos uma cartilha feita pelos bolsistas a respeito de mais algumas ordens de insetos além dos que já tinham sido explicados, como bicho-pau (Phasmatodea), cupim (Isoptera), libélula (Odonata), louva-a-deus (Mantodea) e algumas curiosidades acerca do tema. 25 Não Insetos Antes da Visita 20% Não Insetos Após a Visita 0% 94 13,83% 7,5% Tabela 3: Citação incorreta de animais da classe Insecta quando inferidos acerca disso no questionário Tendo em vista que o projeto ainda está em andamento, comentaremos os resultados apenas das 2 primeiras escolas a visitarem o campus, Padre Carmélio e Professora Juventina Drumonnd. Na 1ª escola, 100% dos alunos ao serem questionados sobre o que fazem com os insetos ao vê-los em casa respondem que os matam, enquanto na 2ª escola, isso acontece com 70% dos alunos. Isso é um resultado, infelizmente, normal, tendo em vista o enorme número de lendas sobre estes animais que nos cercam em nosso dia a dia. O preocupante, porém é que mesmo após participarem do projeto, ao serem indagados sobre este mesmo questionamento, 83,33% dos alunos da 1ª escola continuaram respondendo que matam os animais enquanto os mesmos 70% dos alunos permanecem com a mesma resposta. Este é um fator que precisa ser melhor estudado pelos membros do projeto e observar se este fenômeno será recorrente em outras escolas, pois em caso positivo, o projeto necessitará ser reavaliado, pois pode não estar cumprindo um dos seus principais objetivos. Ao serem questionados sobre quais insetos mais aparecem em suas respectivas casas, os alunos do Padre Carmélio citaram 25 animais, sendo que destes, 20% não representaram insetos. Porém, ao responderem o questionário ao final da visita, todos os animais agora citados eram da classe Insecta. Na escola Professora Juventina Drumonnd, dos 94 animais citados ao se responder o mesmo questionamento, viu-se que 13,83 % responderam diferentes animais além dos pedidos insetos e após a visita, somente 7,5% das citações representavam animais de outras classes ou filos. Com relação a este segundo questionamento, pôde- se verificar o resultado imediato do projeto, uma vez que o número relativo de animais citados equivocadamente diminuiu. CONCLUSÃO Como o projeto ainda está em andamento, ainda é cedo para se fazer conclusões, porém verifica-se uma relativa alegria e empenho por parte dos alunos presentes na visita, o que pode gerar um aumento do número de alunos oriundos da rede municipal de ensino dentre os inscritos para a prova do Instituto. Outro fator fundamental é que se observa um aumento do conhecimento por parte dos alunos do que são insetos e quais suas diferenças, porém o relativo extermínio sem necessidade que esta classe ainda é vítima permanece inalterado, sugerindo que outras abordagens precisam ser pensadas para se atingir uma real preservação desta classe e por conseqüência da biodiversidade local. REFERÊNCIAS Begossi, A.; Hanazaki, N. & Silvano, R. A. M. Ecologia Humana, Etnoecologia e Conservação. In: Amorozo, M. C. M.; Ming, L.C. & Silva, S. M. P. (eds.). Métodos de Coleta e Análise de Dados em Etnobiologia, Etnoecologia e Disciplinas Correlatas. Rio Claro: UNESP/SBEE, 2002. Castro, E. 2001. Território, biodiversidade e saberes de populações tradicionais. In: DIEGUES, A.C. (Org.). Etnoconservação: novos rumos para a proteção da natureza nos trópicos. 2ª edição, NUPAUB-USP. Costa Neto, E. M. 1999. A etnocategoria “inseto” e a hipótese da ambivalência entomoprojetiva. Acta Biológica Leopoldensia, São Leopoldo, v. 21, n.1, p.7-14. Garcia, E. S. Biodiversidade, Biotecnologia e Saúde. Cad. Saúde Públ, RJ, 1995 Holanda, A. B. Dicionário Aurélio - 25ª ed. - São Paulo: Melhoramentos, 2003. Marques, J. G. W. Aspectos Ecológicos na Etnoictiologia dos Pescadores do Complexo Estuarino-Lagunar Mundaú-Manguaba, Alagoas. Tese. UNICAMP. SP. 274 pp, 1991. Posey, D. A.. Etnobiologia: Teoria e Prática. In: Ribeiro, D. (ed.). Suma Etnológica Brasileira. Petrópolis: FINEP/Vozes, v. 1, 1986.