VIVÊNCIAS DO PET-SAÚDE/VIGILÂNCIA EM SAÚDE NA SECRETARIA ESTADUAL DE SAÚDE DA PARAÍBA Wilkerly de Lucena Andrade¹; Cláudia Helena Soares de Morais Freitas²; Maria Júlia Guimarães Oliveira Soares³ 1 Acadêmica do 9º período do curso de Enfermagem da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)/Bolsista do PET-Saúde/Vigilância em Saúde no período de julho/2010 a junho/2011; 2 Tutora do PET-Saúde/Vigilância em Saúde/Professora Associada de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). 3Doutora em Enfermagem. Professora Adjunto da UFPB. Paraíba, Brasil INTRODUÇÃO O Programa de educação pelo Trabalho para a Saúde – Vigilância em Saúde (PETSaúde/VS) do Ministério da Saúde tem como pressuposto a educação pelo trabalho e é destinado a promover grupos de aprendizagem tutorial no âmbito da Vigilância em Saúde, caracterizando-se como instrumento para qualificação em serviço dos profissionais da saúde, bem como de iniciação ao trabalho e vivências direcionadas aos estudantes dos cursos de graduação na área da saúde, de acordo com as necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS), tendo em perspectiva a inserção das necessidades dos serviços como fonte de produção de conhecimento e pesquisa nas instituições¹. A Universidade Federal da Paraíba (UFPB) em parceria com a Secretaria de Estado da Saúde da Paraíba desenvolve dois projetos do PET Saúde/VS, sendo que esta relato refere-se ao grupo tutorial do projeto “Qualificação da informação sobre AIDS no estado da Paraíba”². O PET Saúde/VS é formado por estudantes de fisioterapia, odontologia, enfermagem, medicina, por tutores que são professores da UFPB, sendo docentes dos cursos de fisioterapia, medicina e odontologia e também por preceptores que trabalham na Secretaria Estadual de Saúde (SES). De acordo com a proposta do programa, os estudantes são inseridos na SES para desenvolver suas atividades estando mais próximos do campo de trabalho. O Brasil dispõe de diversos sistemas de informação em saúde, de base nacional, que proporcionam dados e informações de forma rotineira sobre óbitos, nascimentos, internações hospitalares, produção ambulatorial, agravos de notificação, imunização, entre outros. A vigilância epidemiológica da AIDS tem como propósito principal acompanhar a tendência temporal e espacial da doença, as infecções e os comportamentos de risco, com o objetivo de orientar as ações de prevenção e controle. A vigilância desenvolve suas atividades tendo como referência a notificação universal dos casos de AIDS que atendam aos critérios estabelecidos pelo Ministério da Saúde. A evolução das definições dos critérios de AIDS acompanha os avanços tecnológicos e a sua disponibilidade³. Os avanços e retrocessos têm marcado suas trajetórias, no sentido de permitir que eles possam, cada vez mais e melhor, cumprir seus objetivos. Entretanto, o desenvolvimento tecnológico da área de informática foi quem possibilitou um considerável salto de qualidade, não só no registro, coleta e processamento desses dados, mas, principalmente, na sua divulgação oportuna, entendida, esta, como o menor tempo decorrido entre a produção e a disponibilização da informação 4. De acordo com o autor supracitado4, a informação em saúde é como qualquer outra atividade, no setor saúde a informação deve ser entendida como um redutor de incertezas, um instrumento para detectar focos prioritários, levando a um planejamento responsável e a execução de ações que condicionem a realidade às transformações necessárias. A coleta de informações é uma das principais etapas da vigilância epidemiológica, é importante que os dados sejam fidedignos, pois, estes influenciam nas análises epidemiológicas, prejudicando o subsídio e desenvolvimento das políticas de prevenção e promoção à saúde pública. As informações sobre mortalidade por AIDS estão presentes no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e no campo “evolução” da ficha de notificação da AIDS, presente no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) o qual é usado para coletar e processar dados sobre doenças de notificação compulsória em todo o território nacional . A retroalimentação dos sistemas deve ser considerada como um dos aspectos fundamentais, para o contínuo processo de aperfeiçoamento, gerência e controle da qualidade dos dados. Tal prática deve ocorrer nos seus diversos níveis, de modo sistemático, com periodicidade previamente definida, de modo a permitir a utilização das informações quando da tomada de decisão e nas atividades de planejamento, definição de prioridades, alocação de recursos e avaliação dos programas desenvolvidos 6. Este estudo tem como objetivo relatar uma vivência significativa dos estudantes de enfermagem inseridos na Secretaria Estadual de Saúde da Paraíba (SES-PB), através do PET Saúde/VS, destacando as ações para qualificar as informações sobre AIDS no Estado, de educação permanente para equipe técnica e realização de pesquisas. Proporcionar reuniões com representantes dos principais hospitais de notificação da AIDS no estado e construção de pesquisas cientifica. Trata-se de um relato de experiência, no qual se busca compartilhar o aprendizado e desafios vividos na busca de qualificar a informação sobre a AIDS no estado da Paraíba. A experiência no PET Saúde/VS ocorreu no período de julho de 2010 a junho de 2011 na SES da Paraíba. Foi realizada capacitação para trabalhar com os programas TAB WIN e TAB NET, analisar os sistemas de informação e qualificar a produção da informação em saúde. RELATO DE EXPERIÊNCIA Como o PET Saúde/VS tem como um de seus objetivos a inserção de estudantes no campo de trabalho, os estudantes pertencentes ao projeto de qualificação da informação sobre AIDS foram inseridos na SES do estado da Paraíba. A primeira atividade desenvolvida foi a capacitação de estudantes e preceptores para trabalhar com os programas TAB WIN e TAB NET, já que utilizaríamos os Sistemas de Informação, entre eles o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e Sistema de Informação de Mortalidade (SIM). O SINAN é um dos sistemas de informação utilizado para notificação de agravos e doenças no Brasil. Para a maioria dos agravos agudos, notifica-se o caso suspeito na Ficha Individual de Notificação (FIN). A partir dessa notificação, o caso é investigado, com o preenchimento da Ficha Individual de Investigação (FII), sendo então confirmado ou descartado. Para a AIDS notifica-se o caso confirmado, principalmente em função de não serem preconizadas medidas de controle em curto prazo. No primeiro momento do programa, ficou pactuado que os estudantes investigassem no banco de dados do SINAN/AIDS no estado a identificação das duplicidades neste sistema e as fontes notificadoras do Estado com maiores percentuais de inconsistência e incompletitude. Desta maneira, foram analisadas 1.335 fichas no período de 2007 a 2010 onde ficou constatado um número elevado de incompletitudes nestas fichas de notificação, mas com pouca ocorrência de duplicidades. Após este estudo, foi programada uma oficina com os responsáveis dos principais hospitais que realizavam a notificação no estado, para que os estudantes pudessem apresentar os dados e possíveis soluções para qualificar a produção da informação. A oficina foi bastante significativa, visto que foram mostrados os resultados da pesquisa feita pelos estudantes e discutido, junto com os próprios profissionais que notificavam, a importância da completitude dos dados e, ainda, apontou-se soluções para a resolução do problema, destacando-se a importância da educação permanente da equipe técnica. No segundo momento do programa, como foi pactuado, os estudantes junto com os tutores e preceptores realizaram o cruzamento das informações do SINAN com outros sistemas que podem ser fontes importantes para captação de casos e complementação dos dados com melhora na qualidade, tais como: Sistema de Informações Hospitalares do SUS (SIH/SUS), Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM), Sistema de Informação de Cirurgias Eletivas (SISCEL) e Sistema de Informação de Controle Logístico de Medicamentos (SICLOM). Após esta análise, os grupos de estudantes ficaram responsáveis por produzir artigos científicos sobre os sistemas de informação, sobre as incompletitudes e duplicidades dos bancos de dados constatadas durante a coleta de dados e também sobre o resultado do cruzamento dos bancos de dados da Paraíba. Além das atividades desenvolvidas na SES, ocorriam reuniões semanais de tutoria na UFPB para discussões teóricas das temáticas em estudo a partir de artigos científicos, planejar e avaliar as ações desenvolvidas. Faziam parte destas reuniões tutores, preceptores e os estudantes dos diferentes cursos de saúde, dos dois projetos (“Qualificação da informação sobre AIDS no Estado da Paraíba” e a “Análise dos indicadores de Vigilância em Saúde do Pacto pela Saúde no Estado da Paraíba”). As reuniões em grupo foram bastante interessantes, pois proporcionaram discussões sobre os sistemas de informação num grupo multidisciplinar, com estudantes dos cursos de medicina, fisioterapia, odontologia e enfermagem, com suas concepções e visões diferentes, docentes e trabalhadores da SES/PB, os quais contribuíram muito para a construção de novos conhecimentos. Outro ponto importante foi a questão da construção da autonomia dos estudantes, onde os professores incentivavam o posicionamento dos estudantes para a constituição e definição dos trabalhos na SES. Então, observa-se que a vivência é bastante produtiva, principalmente para os estudantes de enfermagem, pois, percebe-se que o seu trabalho visa a prevenção e a promoção da saúde. Então, o trabalho no Pet-saúde/VS proporcionou a possibilidade de compreender a importância da vigilância epidemiológica a qual busca a produção da informação para desenvolver as políticas de prevenção e promoção adequadas. Além disso, possibilitou também a realização de pesquisas e produção de artigos para divulgação da informação em saúde. COMENTÁRIOS Com a inserção dos estudantes de enfermagem na SES foi possível perceber melhorias na qualificação da informação sobre a AIDS na Paraíba, tendo em vista que a reunião com os representantes dos hospitais que notificavam os casos da AIDS no estado proporcionou que estes tomassem o conhecimento do nível de completitude das fichas de notificação e sua importância para a vigilância epidemiológica. Portanto, este programa (PET Saúde/VS) promoveu uma experiência de grande importância para a formação de futuros profissionais de enfermagem, pois, foi incentivada a autonomia, a aprendizagem significativa, a produção científica, a construção de novos conhecimentos sobre a informação, a familiarização dos estudantes com os bancos de dados, buscando a valorização da notificação adequada e completa das doenças de notificação obrigatória, a valorização do trabalho em equipe e interdisciplinar. Com isso, profissionais da enfermagem serão mais comprometidos com o trabalho, possibilitando o conhecimento da magnitude da epidemia de AIDS no estado da Paraíba, e contribuindo para a realização de um processo de vigilância epidemiológica satisfatória e de qualidade. REFERÊNCIAS (1) Brasil. Portaria conjunta n.º 3, de março de 2010. Institui, no âmbito do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), o PET-Saúde/Vigilância em Saúde. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, Seção 1, p. 59, 3 mar. 2010. (2) Paraíba. Universidade Federal Paraíba. Projeto do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), PET-Saúde/Vigilância em Saúde. João Pessoa, 2010. 20 p. (3) Goncalves VF, Kerr LRFS, Mota RMS, Mota JMA. Estimativa de subnotificação de casos de AIDS em uma capital do Nordeste. Rev. bras. epidemiol [online] 2008; 11(3): 356364. Disponível em: <http://www.scielosp.org/pdf/rbepid/v11n3/02.pdf>. (08 mai 2012). (4) Jorge MHPM, Laurenti R, Gotlieb SLD. Avaliação dos sistemas de informação em saúde no Brasil. Caderno de Saúde Coletiva. Rio de Janeiro 2010; 18(1):7-18. (5) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan: normas e rotinas. 2ª ed, Brasília: Editora do Ministério da Saúde; 2007. 68 p.: (Série A. Normas e Manuais Técnicos). (6) Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância Epidemiológica. Guia de vigilância epidemiológica. 7ª ed, Brasília : Ministério da Saúde; 2009. 1.816 p. (Série A. Normas e Manuais Técnicos).