Era uma loja... não, uma lojinha Com dois bancos corridos à entrada Lá por dentro arcas, caixas de farinha E uma vitrina à porta pendurada As paredes escuras da humidade E as traves do tecto negrejantes. Mostravam bem que ali passara a idade E q u e t u d o e st a va . a g o r a co m o a n t e s Ca sa ch e i a d e m o ço s t o d o o d ia Entre eles uma figura de anciã Que ora os escutava, ora dormia Ap e sa r d o b u lí cio q u e ia lá , Livros por toda a parte uma guitarra Ali deixada por um bom artista um ca sco l, u m co le t e , u m a sa m ar r a e um corno de boi a dar na vista Ao fundo uma cozinha cor de breu Em dias de calor extraordinário Alguém janota ali água bebeu Por um púcaro de barro centenário Quem passasse no sítio e não soubesse Que de estudantes era um santuário T a lv e z q u e e s t r a n h a s se e se b e n ze ss e Ante aquele fantástico cenário Era ali mesmo, mesmo a Seraninhas A madrinha dos jovens estudantes Romântico beiral das andorinhas Que vinham dos países mais distantes A Seraninhas o centro cavaqueiro De uma crítica acerva com requintes E autópsia de escândalos caseiros Entre largas fumaças de «três vintes» A figura provecta da madrinha Nossa amiga de todo o coração Que além de um negócio de farinha Ven dia a vu lso cig arr os a tostão Quem a pode esquecer? Doce velhinha Toda encurvada na pele era urna engelha Mas tivesse eu a alma que ela tinha Do amor humano a fúlgida centelha São Nicolau no Céu tem-na a seu lado Que tanta honra deve quem lha presta Quantos bonecos terá ela guardado Na sua loja em nicolina festa?... Quanto pregão ouviu à sua porta Co m o s o l h o s r e p l e t o s d e e m o çã o Sua alma nicolina não é morta Ela ainda vive em nosso coração Dr.J oaquim Amaral Pereira da Silva, estudante do Liceu Martins S arm ent o da década de 40, aut or de vários Pregões nicolinos