XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. AVALIAÇÃO ERGONÔMICA: APLICAÇÃO DO MÉTODO OWAS EM UMA LOJA DE CALÇADOS Mariana de Barros Cruz Pereira Mota (UCAM) [email protected] Mayara Ribeiro Castilho (UCAM) [email protected] Leandro Machado Carvalho (UCAM) [email protected] Alzeleni Pio da Silva TavaresCorrea (UCAM) [email protected] Este trabalho apresenta uma pesquisa realizada com consultores de venda de uma loja de calçados, localizada na região Norte do Estado do Rio de Janeiro, onde se busca identificar os movimentos e posturas inadequadas adotadas por esses colaboradores e se os mesmos estão submetidos à má projeção do seu posto de trabalho. Foram registradas imagens dos movimentos e posturas realizadas por eles na execução das atividades. Para análise dos dados, foi aplicado o método OWAS (Ovako Working Posture Analaysing System) na avaliação das posturas e esforços e a partir disso, identificar os níveis de ação, se há necessidade de medida corretiva, ou não, nas posturas com maior índice de frequência. Os resultados obtidos demonstram que as posturas adotadas para execução das atividades prescritas para aquele posto de trabalho necessitam de medidas corretivas das posturas. Palavras-chave: Método OWAS, postura, loja de calçados XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 1. Introdução Ao longo de muitos anos o principal objetivo das organizações foi o lucro proporcionado pela exploração da mão de obra. Atualmente questões referentes à segurança, conforto e higiene dos colaboradores estão sendo implantadas nas empresas. Nesse contexto surge a preocupação com a qualidade de vida dos trabalhadores, melhorando as condições ambientais, propondo à interação do ser humano com os equipamentos e máquinas. Dessa forma, a ergonomia deixa de ser vista como um custo para as empresas torna-se, portanto, um investimento para o aumento da produtividade. O setor calçadista no Brasil é de extrema importância, tanto em termos econômicos quanto em termos sociais. Nos últimos anos, o crescimento médio do comércio do país excedeu o do Produto Interno Bruto (PIB), apesar das dificuldades. Esse desempenho evidencia a capacidade do setor de crescer. Sendo assim, é necessário que os vendedores aumentem seu ritmo de trabalho para atender o aumento da demanda no setor e alcançar as metas estipuladas pelos gerentes, causando problemas de saúde como Lesões por Esforços Repetitivos (LER), Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho (DORT), problemas psicológicos, entre outros danos à saúde. Este artigo tem como objetivo dissertar sobre as diferentes formas que contribuem para a análise e identificação de situações que podem causar lesões decorrentes de condições inadequadas de trabalho em loja de calçado localizada na região norte do Estado do Rio de Janeiro. Para o desenvolvimento desta pesquisa será utilizado o método Ovako Working Posture Analaysing System - OWAS para observação dos procedimentos, métodos e meios de trabalho. Será realizado um enfoque nas questões de segurança para execução de atividades elaborais de forma a expor anormalidades ou pontos que possam ser melhorados para otimização do processo e buscar o bem estar dos colaboradores. 2. Ergonomia 2 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. O termo ergonomia provém das palavras gregas ergon (trabalho) e nomos (regras). “A ergonomia é um estudo da adaptação do trabalho as características fisiológicas e psicológicas do ser humano” (ABERGO). A ergonomia estuda a interação entre o homem e o seu ambiente de trabalho, através do sistema home-máquina-ambiente, visando melhorar os três elementos do sistema, permitindo melhorar a realização das tarefas no trabalho (IIDA, 2005). Segundo Couto (1995) a ergonomia utiliza um conjunto de ciências e tecnologias que procuram adaptar de forma confortável e produtiva o trabalho ao ser humano. A ergonomia possui dois principais objetivos. O primeiro objetivo está ligado à satisfação, saúde, conforto e segurança do trabalhador. Desta forma estará alcançando seu segundo objetivo que é a qualidade, confiabilidade, eficiência e produtividade das organizações (FALZON, 2007). Existem vários fatores que podem influenciar e afetar o desempenho do processo produtivo, a ergonomia procura minimizar as conseqüências nocivas que podem afetar a saúde do trabalhador. Dessa maneira a ergonomia visa proporcionar maior segurança, saúde e satisfação do trabalhador através da redução do estresse, da fadiga, dos acidentes e erros, melhorando a relação trabalhador-ambiente de trabalho (SEGRAC, 1997). 3. Método OWAS Segundo Másculo e Vidal (2011), o método OWAS foi desenvolvido na Finlândia para análise de posturas de trabalho em uma indústria de aço, pela OVAKO OY em conjunto com o Instituto Finlandês de Saúde Ocupacional, o método Ovako Working Posture Analaysing Sytem (OWAS), KARHU et al. (1977) e Finnish Institute of Occupational Health (1992). O método tem como objetivo principal a avaliação e identificação de postura de trabalho. As atividades são subdivididas para se fazer uma categorização das posturas de trabalho. Apesar de não ser o objetivo principal do método as atividades de levantamento manual de cargas também são analisadas e categorizadas de acordo com o sacrifício imposto ao trabalhador (MÁSCULO; VIDAL, 2011). 3 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Após a observação das posturas, estas serão classificadas de acordo com suas posições, o que resultará em uma codificação de seis dígitos. Os quatro primeiros dígitos indicam as posições de dorso, braços, pernas e o fator força, respectivamente. Os dois últimos dígitos classificam a fase de trabalho (CORLETT; WILSON, 2005). Figura 1 – Sistema OWAS para registro de postura Fonte: IIDA, 2005, pg 170 Segundo Iida (2005) através das posturas de trabalhos e das forças aplicadas durante uma ação específica é determinado o grau de esforço físico. O OWAS classifica as posturas nas seguintes categorias: Classe 1: Postura normal, sem necessidade de medida corretiva. 4 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Classe 2: Postura levemente prejudicial, necessário medidas corretivas na próxima análise. Classe 3: Postura prejudicial, necessário corrigir a postura o mais rápido possível. Classe 4: Postura extremamente prejudicial, necessário medidas imediatas de correção das posturas. Figura 2: Níveis de ação segundo posição das costas, braços, pernas e uso de forças Fonte: (CORLETT; WILSON, 2005) 4. Metodologia e estudo de caso. O estudo foi realizado com base na Análise Ergonômica do Trabalho (AET), utilizando o método OWAS como ferramenta suporte para identificação das posturas do posto de trabalho. Com a aplicação deste método pode- se observar as posturas de trabalho inadequadas, procurando encontrar as posturas que são mais prejudiciais e quais áreas são mais atingidas. A presente pesquisa foi realizada em uma loja de calçados situada na cidade de Campos dos Goytacazes, RJ. Foram analisadas as posturas de trabalho no período de março de 2015 a abril de 2015. A análise foi realizada através de observação e registro fotográficos, para posterior intervenção. 5 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Na ocasião desta investigação foram analisadas três consultoras de vendas com horário de trabalho de 6 horas semanais. Para a execução da tarefa de atendimento ao cliente neste ambiente, é necessário que a consultora realize uma sequência de atividades, tais como: subir os degraus da escada que dá acesso ao estoque, pegar as caixas de sapatos escolhidos pelos clientes e calçar o sapato no cliente. Tarefa: Atendimento ao cliente Atividade 1 - Subir os degraus da escada que dá acesso ao estoque. Após o cliente escolher o sapato, a consultora se dirige ao estoque para procurar o determinado produto. Atividade 2 – Pegar as caixas de sapato. Chegando ao estoque a consultora se dirige ao corredor da numeração correspondente ao tamanho do pé do cliente, feito isto, ela procura a caixa pela referência do sapato. Se o modelo escolhido pelo cliente não estiver em estoque, a consultora leva outros modelos similares para o cliente. Atividade 3 – Calçar o sapato no cliente Após a consultora mostrar as opções ao cliente, ela se ajoelha e calça o sapato no cliente. 5. Resultados e Discussão Após a aplicação do método OWAS em cada atividade, foram encontradas as seguintes irregularidades no ambiente em questão: Figura 1 – Atividade de subir a escada 6 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. A figura 1 apresenta a execução e os esforços ergonômicos realizados pela consultora de vendas durante a sua jornada de trabalho. Pode-se observar que esta atividade exige que a consultora realize um esforço para subir a escada, de modo que ocorre uma tensão maior sobre os joelhos. É possível visualizar também, um certo grau de inclinação nas costas, causando uma sobrecarga na mesma. Observa-se os resultados analisados da atividade 1 na tabela 1 a seguir: Tabela 1 – Codificação OWAS para de subir os degraus da escada que dá acesso ao estoque. Figura 2 – Atividade de pegar as caixas de sapato 7 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Na figura 2, a consultora de vendas realiza um grande esforço para alcançar as caixas de sapato. Neste caso, há uma elevação dos braços além da linha do ombro e uma pequena inclinação do dorso em direção à caixa. As pernas encontram-se em posições inadequadas devido ao fato de que uma perna está esticada e sobre as pontas dos pés, enquanto a outra encontra-se levemente flexionada. Figura 3 – Atividade de pegar as caixas de sapato e levá-las até o cliente 8 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Na figura 3, a atividade requer que um dos braços da consultora esteja abaixo da linha dos ombros para sustentar o peso das caixas e o outro braço segurando as caixas acima da linha dos ombros. Ao descer a escada com as caixas, é necessário que ela flexione alternadamente um dos joelhos, sobrecarregando as pernas. Muitas vezes é necessário que ela pegue muitas caixas de sapatos, em algumas vezes o peso da caixa pode ser superior a 10 kg, podendo prejudicar a coluna e articulações, requerendo maior esforço muscular dela. Observa-se os resultados analisados da atividade 2 na tabela 2 a seguir: Tabela 2 – Codificação OWAS para pegar as caixas de sapato Observa-se os resultados analisados da atividade 2 na tabela 3 a seguir: 9 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. Tabela 3 – Codificação OWAS para pegar as caixas de sapato e levá-las até o cliente Figura 4 – Atividade de calçar o sapato no cliente A figura 4 mostra a postura inadequada da consultora ao calçar o sapato na cliente, ao se abaixar para realizar esta atividade, ela precisa inclinar a coluna para frente. Além disso, é necessário que ela se ajoelhe, colocando todo o peso do corpo sobre as pernas, sobrecarregando as articulações do joelho. Observa-se os resultados analisados da atividade 3 na tabela 4 a seguir: Tabela 4 – Codificação OWAS para calçar o sapato na cliente 10 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. 6. Conclusão Constata-se que em uma loja de calçados há diversas atividades que submetem aos colaboradores a diversas posições inadequadas. Após a aplicação de várias análises posturais realizadas a partir do método OWAS, é possível identificar onde estavam os problemas e atuar corrigindo as posturas incorretas praticadas pelos trabalhadores, minimizando fadigas, estresses e lesões, de forma a proporcionar maior satisfação e comprometimento dos trabalhadores. Em relação à avaliação das posturas adotadas pelos colaboradores para a execução das atividades, podemos analisar da seguinte forma: A atividade 1 é realizada de forma que a consultora se submeta a riscos posturais de nível 3, exige-se um esforço médio para subir os degraus da escada, sendo necessário corrigir a postura o mais rápido possível. A atividade 2 é realizada de forma que a consultora se submeta a riscos posturais de nível 2 ao pegar as caixas de sapato e de nível 2 ao segurar as caixas de sapato e levá-las ao cliente, dessa forma, exigi-se um pouco de esforço de todos os quesitos analisados, sendo necessário medidas corretivas na próxima análise. Atividade 3 é realizada de forma que a consultora se submeta a riscos posturais de nível 2, principalmente nas pernas que exige-se maior esforço ao colocar o sapato no cliente, ocasionando uma postura levemente prejudicial, exigindo medidas corretivas na próxima análise. Com base na fundamentação da pesquisa e análise, conclui-se que as atividades que provocaram as piores condições posturais foram a de subir e descer as escadas com a coluna inclinada e ajoelhar sobre as pernas. O método utilizado na pesquisa mostrou-se uma ferramenta eficaz para solucionar o problema levantado, levando em consideração o objetivo do trabalho. 11 XXXV ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO Perspectivas Globais para a Engenharia de Produção Fortaleza, CE, Brasil, 13 a 16 de outubro de 2015. A partir dos resultados obtidos, verifica-se que a ergonomia é um fator determinante no bom andamento da execução das atividades, contribuindo para a melhoria das condições de trabalho e produtividade do trabalhador. Como medidas corretivas, sugere-se que seja oferecido à colaborada treinamento adequado, como evitar inclinação do dorso, carregar pesos acima de 10 kg e manter os joelhos flexionados sobre as penas, prevenindo posturas inadequadas que ocasionam LER e DORT. 7. Referências ABERGO – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ERGONOMIA, Disponível em: http://www.abergo.org.br/oqueeergonomia.htm. Acesso em: 20 abr. 2015. COUTO, H. A. Ergonomia aplicada ao trabalho – O manual técnico da máquina humana. Belo Horizonte: Ergo, v. 1, 1995. CORLETT, E. N.; WILSON, J. R. Evaluation of human work. Boca Raton: CRC Press, 3ª ed., 2005. FALZON, P. Ergonomia. São Paulo: Ergo, Edgard Blücher Ltda, 2007. IIDA, I. Ergonomia, projeto e produção. 2.ed. rev. e ampl. São Paulo: Edgard Blücher, 2005. MÁSCULO, F. S.; VIDAL, M. C. Ergonomia: Trabalho adequado e eficiente. Rio de Janeiro: Elsevier Ltda, 2011. SEGRAC. I International Congress Of Safety Engineering, Accessibility and Risk Management. Apostila, 1997. UFRJ. 12