PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO: TRABALHO, SAÚDE E AMBIENTE / FUNDACENTRO DISCIPLINA: SAÚDE MENTAL E TRABALHO Psicodinâmica do trabalho: aspectos conceituais e metodológicos Profa. Dra. Selma Lancman Departamento de Fisoterapia, Fonoaudiologia e Terapia Ocupacional da FMUSP Contato: [email protected] 1 • PSICOPATOLOGIA DO TRABALHO Movimento surgido nos anos 50 – período pós-guerra Intenso processo de industrialização Busca de calibrar o trabalho Maximo de produtividade X evitar o adoecimento Modelos advindo da medicina do trabalho Causa / efeito Efeitos patogênicos do trabalho na saúde mental PSICOPATOLOGIA DO TRABALHO Análise do adoecimento psíquico resultante da confrontação do homem frente à organização do trabalho Identificação das síndromes e das doenças mentais ligadas ao trabalho 3 PRINCIPAIS PRECURSORES: Paul Sivadon, François Tosquelles – uso do trabalho com doentes mentais Trabalho como fator de promoção de saúde ou de patologias Louis Le Guillant - neurose das telefonistas - impossibilidade de reprodutividade do trabalho de forma artificial - necessidade de observação e escuta do trabalho PSICOPATOLOGIA DO TRABALHO - Problemas de saúde mental ligados ao modo de produção - Trabalho como um desumaniza e robotiza mal social que - Automatização da ação X destruição da capacidade de pensar 5 PSICOPATOLOGIA DO TRABALHO - Análise do sofrimento psíquico resultante da confrontação do homem frente à organização do trabalho - Identificar as síndromes e as doenças mentais ligadas ao trabalho - Modelo com forte influencia biomédica (teoria do stress), adoecimentos se dão por acumulo, busca de modelos explicativos voltados para os trabalhadores - O conteúdo do trabalho não é levado em conta – não se transforma o trabalho 6 PSICOPATOLOGIA DO TRABALHO • Fadiga mental X carga psíquica • Excesso de informações e necessidade de tomada de decisões rápidas • Falta de controle sobre o tempo • Trabalho monótono • Possibilidade de erro e conseqüências graves • Subutilização da capacidade mental 7 PSICOPATOLOGIA DO TRABALHO Divisão do trabalho • Esvaziamento da função e da iniciativa • Distanciamento entre o planejamento e a execução • Mecanismos de controle da produtividade • Acumulo de tarefas • Trabalho despersonalizante • Fragmentação do trabalho • Alienação do trabalho realizado e do produto 8 PSICOPATOLOGIA DO TRABALHO • Jornada de trabalho - Horários e turnos - Ausência ou insuficiência de pausas - Tempo gasto com deslocamento - Dupla jornada de trabalho - Tempo de lazer; - Tempo de não trabalho 9 PSICOPATOLOGIA DO TRABALHO • Ritmo e aceleração da produção • Tempo inadequado para a realização da tarefa • Pressão por produtividade • Pressão da chefia 10 PSICOPATOLOGIA DO TRABALHO • Hierarquia rígida - falta de autonomia - impossibilidade de colaborar com transformação do processo de trabalho sua experiência na • Responsabilidade - Aumento da responsabilidade sem treinamento - Desvio e acumulo de função • Desqualificação do trabalho realizado • Novas formas de avaliação do trabalho – avaliação individual por performance 11 PSICOPATOLOGIA DO TRABALHO • Investimento afetivo no trabalho • Paralisia da imaginação e do desejo • Cansaço e vivencia depressiva • Adormecimento intelectual • Sufocamento da subjetividade 12 ANÁLISE PSICODINÂMICA DE SITUAÇÕES DE TRABALHO • Normalidade como um enigma central da investigação e da analise. • Sofrimento e defesas contra ele • Racionalidade trabalhadores. subjetiva das ações dos • Mecanismos de defesa frente ao sofrimento 13 TEORIA DA AÇÃO E DO SUJEITO • Contradição entre o papel do sujeito e a racionalidade da empresa • Distância entre o conhecimento do sujeito e do trabalho • Sujeito não é unitário (hesita, é contraditório, tem angustias, desejos) • Identificação com aquilo que se faz • Busca da realização de si, • Trabalho central para dar sentido a parte significativa da vida. • Trabalho é um elemento central na construção da saúde. 14 TRABALHO E INTELIGÊNCIA • A inteligência é destruída no trabalho repetitivo • Inteligência da prática – a que se a usa para realizar o trabalho • Inteligência que antecipa uma ação e uma proteção • Inteligência do corpo • Diferentes inteligências para fazer o mesmo trabalho 15 TRABALHO PRESCRITO E TRABALHO REAL • Trabalho Real - aquilo que se conhece do sujeito, sua resistência, seu conhecimento, seu savoir-faire, sua experiência, sua habilidade • Impossibilidade de executar o trabalho prescrito. • Trabalhar é sabotar - inteligência no trabalho • O trabalho prescrito não permite a sua execução • O trabalho prescrito não permite a proteção do trabalhador a adoecimentos e acidentes • Avaliação do trabalho 16 TRABALHO, IDENTIDADE E RECONHECIMENTO • Construção da identidade no trabalho • O trabalho como mediador central da complementação da identidade • O reconhecimento no trabalho é imprescindível da construção da identidade • O trabalho depende do outro - do reconhecimento • Adoecimento e restrição laboral X identidade 17 TRABALHO, IDENTIDADE E RECONHECIMENTO • Quando o reconhecimento não existe ele se generaliza para outras situações, contaminação do tempo do não trabalho • O sofrimento esta relacionado à construção da identidade e à necessidade de reconhecimento • O reconhecimento é que permite a transformação do sofrimento em prazer. O desenvolvimento da subjetividade • Reconhecimento e julgamento do direito de adoecer. 18 RECONHECIMENTO Psicodinâmica do reconhecimento • JULGAMENTO DE UTILIDADE – utilidade da contribuição técnica, social e econômica - níveis hierárquicos superiores e os clientes • JULGAMENTO DE BELEZA (ESTETICO) - Esse julgamento é feito por quem conhece o trabalho, pelos pares. 19 TRABALHO E SOFRIMENTO • Todo trabalho provoca sofrimento • O sofrimento é sempre individual – as pessoas não reagem da mesma forma ao sofrimento • Sofrimento patogênico X doenças do trabalho • Trabalho como destruição construção da identidade ou • Como transformar o sofrimento em prazer? 20 ESTRATÉGIAS DEFENSIVAS • Necessárias para a realização do trabalho • Tem legitimidade do grupo • Tem que mudar as estratégias para transformar o trabalho • Permitem que as pessoas suportem o trabalho e o sofrimento • Não são visíveis 21 PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS DE DEFESA • Banalização do risco • Virilidade • Masculinização • Exaltação do perigo 22 PRINCIPAIS ESTRATÉGIAS DE DEFESA • Impedem e reduzem a capacidade de pensar; • Negação da capacidade de pensar • Alienação • As estratégias de prevenção ao risco por vezes entram em contradição com as estratégias defensivas • Exacerbação do individualismo no trabalho, do cada um por si 23 ESTRATÉGIAS INDIVIDUAIS DE DEFESA • Injunção para não pensar • Perda da criatividade, espontaneidade, engenhosidade – necessárias para a fantasia • Destruição psíquica e atrofia da capacidade de pensar • O pensar/fantasiar, entra em contradição com a produção 24 ESTRATÉGIAS INDIVIDUAIS DE DEFESA • Destruição da possibilidade de fantasiar (trabalho repetitivo, aceleração da produção, trabalho fragmentado • desenergização do corpo erógeno, fadiga • aceleração do trabalho e da vida o tempo todo a hiperatividade • atividade psíquica saturada - o pensamento é ocupado pelo trabalho 25 ASPECTOS METODOLOGICOS • Conhecer os aspectos psíquicos mobilizados no trabalho • A partir do vivido • Ação transformadora no trabalhar • Processo reflexivo e participativo • Racionalidade pática PSICODINÂMICA DO TRABALHO • Reconhecimento do fazer – fundamental para a construção identitária • A construção do sentido do trabalho pode transformar o sofrimento em prazer • Cooperação no trabalho integrar-se - conseguir fazer junto, • trabalho individual e coletivo – o trabalho é antes de tudo uma relação social • Isolamento e solidão – o cada um por si CONHECER O REAL DO TRABALHO • Prescrito (coordenação) real (cooperação) • Visibilidade • Confiança e lealdade • Deliberação e transformação • Exercício da inteligência, habilidades e do prazer • A dinâmica visibilidade e confiança – cooperação no trabalho ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO • Novas formas de avaliação no trabalho • Exacerbação do individualismo no trabalho, do cada um por si • Destruição na mobilização das inteligências e dos espaços de deliberação • A dinâmica contribuição e retribuição • A dinâmica visibilidade e confiança – cooperação no trabalho Dejours, C. Trabalho Vivo, tomo 2 AÇÃO EM PSICODINÂMICA DO TRABALHO • Compreensão a partir da palavra dos participantes • Escuta qualificada dos pesquisadores • Grupos de expressão composto por trabalhadores - desenvolver uma reflexão, • Construir um discurso coletivo (compartilhado) sobre o trabalhar. • Construção conjunta com os pesquisadores, • Apropriação de aspectos individuais e coletivos do trabalhar.