UMA NOVA VISÃO DE EDUCAÇÃO ALICERÇADA PELOS PARADIGMAS
INOVADORES
Mônica de Oliveira Pinheiro da Silva*
Denise Dittrich Vieira Santos **
Marilda Aparecida Behrens ***
RESUMO:
Este artigo pretende abordar o que são os paradigmas da ciência e sua evolução. Tal evolução
influenciou os diversos setores da sociedade, assim como teve forte influência na educação.
Abordar-se-á, mais especificamente, as mudanças nos dois últimos séculos, a iniciar-se pelo
pensamento newtoniano cartesiano; indo pela transição paradigmática, sempre enfocando suas
tendências na educação superior. Em todas as etapas será dado um enfoque aos componentes de
uma prática educativa, a saber: o papel do aluno, professor, a metodologia e a avaliação dentro de
cada paradigma pelos quais a sociedade e a escola atravessaram, até as abordagens que regem a
prática pedagógica atual. Ressalta-se aqui a problematização dos conceitos de educação, educador e
educando realizada por essas teorias, que trabalham com as noções de totalidade e de complexidade
para a análise do social, focalizando a educação e reconhecendo novas diretrizes e funções para a
escola e para o educador.
Palavras chaves: paradigmas, educação, conservadores e inovadores.
__________________
*[email protected] - Especialista em Magistério Superior, pelo IBPEX/ Mestranda do Curso
de Pós-Graduação da PUCPR- Mestrado em Educação.
** [email protected] – Especialista em História do Brasil e em Línguas Estrangeiras
Modernas, pela UFPR/ Mestranda do Curso de Pós-Graduação da PUCPR- Mestrado em Educação.
***[email protected] -Doutora em Educação. Professora e Coordenadora - Mestrado em
Educação, PUCPR.
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Para que se possa transitar por termos como paradigmas das ciências, como foram
denominadas as novas teorias educacionais, faz-se necessário apresentar o contexto em que se cria e
se desenvolve um paradigma; a partir daí, as devidas transformações que ocorrem na sociedade, nos
diversos setores e suas implicações. De forma conjunta, refletir-se-á sobre o papel da escola neste
contexto, para verificar como a escola se posiciona diante de uma mudança (ou transição)
paradigmática, bem como a respeito das mudanças que ocorrem na escola em função de um
paradigma.
No contexto escolar, as correntes pedagógicas que perpassam o processo de ensinoaprendizagem baseiam-se em pressupostos teóricos, que por sua vez são balizados por algum tipo
de paradigma.
É justamente neste aspecto que se pretende enfocar: a influência dos paradigmas na ação
docente. Mais especificamente o cenário a ser apresentado é a influência dos paradigmas
educacionais (conservadores e os inovadores) na prática docente do professor da Educação
Superior.
As questões que se pretende levantar centram-se na prática docente alicerçada por um
pensamento que, no início era balizada pelo pensamento newtoniano cartesiano, (BEHRENS, 2005
p.27), que privilegiava a fragmentação dos conteúdos, sem uma visão do todo. A superação deste
paradigma, em função de mudanças na sociedade, convergem para a necessidade de rever o todo, a
não fragmentação, proporcionando mudanças de pensamento e de postura.
O reconhecimento da necessidade de transformação, nos dias atuais, de um sistema que já se
move em descompasso com as novas exigências de formação, reabre o diálogo e abre espaço à
formulação de novas idéias e concepções, que são vistas aqui com a denominação de “teorias
emergentes”, no sentido em que resultam da problematização dos conceitos de cultura e de
educação e da formação resultante dos sistemas de ensino anteriores.
O presente artigo vem evidenciar os fatores pertinentes que acompanharam estas mudanças
paradigmáticas, especificamente no âmbito escolar e as tendências dos paradigmas atuais, que
culminam em propostas de mudanças que comportem as novas exigências da sociedade atual, sem
desconsiderar os aspectos individuais.
Além da análise dos paradigmas vigentes em educação, pretende-se vislumbrar um cenário
de ambiente de sala de aula onde seja possível uma educação que contemple o ser humano como
algo incompleto na sua forma de aprender e sua visão de mundo, ou seja, uma educação alicerçada
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pela visão de que o homem é, por definição, um ser em constante aprendizado, e isso só será
possível ao aceitarmos que o homem é um ser complexo. Assim como afirma Behrens, (2006, p. 20,
apud Morin): “o novo paradigma da complexidade tem como foco o pensamento complexo e a
visão de totalidade.”
A partir desta visão, acredita-se ser possível à educação exercer seu verdadeiro papel e
formar cidadãos com essa visão de mundo, de interconexão e de totalidade.
Paradigmas Educacionais
A maneira de cada indivíduo portar-se diante de um fato, ou um fenômeno, muito nos diz a
respeito da sua visão de mundo.
Cientistas e toda a comunidade científica estudam os fenômenos, suas explicações e
comprovações. Ao considerar-se que a comunidade científica é que torna válida (ou não) a
interpretação e as devidas generalizações em torno de um fenômeno, devemos conceber as ciências
como a base do pensamento, buscando a superação do senso comum. Como afirma Lee, (2003,
p.52) “a superação de um programa de pesquisa ocorre quando um programa rival possui maior
conteúdo preditivo, ou seja, prediz tudo que o programa confrontado prediz, e ainda vai mais”.
Fundamentando-se em Moraes (1998, p.31, apud Edgar Morin) que entende que “um
paradigma privilegia algumas relações em detrimento de outras, o que faz com que ele controle a
lógica do discurso”, concebe-se que a sociedade é balizada por paradigmas que são superados à
medida que seus fundamentos não atendem mais àquela comunidade a qual estão servindo de
parâmetro.
Atualmente observa-se uma busca desenfreada pelo desenvolvimento, em que a tecnologia
está tomando espaços em detrimento do capital humano. Embasados por esta visão, podemos iniciar
uma análise dos paradigmas regentes em educação, a iniciar-se por uma demonstração de como se
estruturaram em termos de prática e dos objetivos que se propunham a alcançar através do método
de
ensino
implementado,
as
concepções
educacionais
que
denominamos
paradigmas
conservadores.
Oportuno se faz observar que não existe uma prática pedagógica errada, o que existe é uma
prática inadequada, ou seja, uma prática docente baseada num paradigma que não mais abrange as
necessidades da atualidade. Refletir sobre educação, implica necessariamente em uma explanação
sobre os paradigmas que norteiam as práticas pedagógicas e sobre a época a que se referem e em
que exerceram um papel hegemônico.
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Nas últimas décadas, influenciados fortemente pelo desenvolvimento científico e
tecnológico, ocorreram avanços significativos e, também algumas “perdas”. Behrens (2005, p.28),
faz uma alusão aos avanços tecnológicos da seguinte forma:
Mas os avanços científicos não trouxeram a vida em plenitude para os homens. Ao contrário,
vieram desafiá-los e angustiá-los, levando ao estresse, à competitividade exacerbada, a um
pensamento isolado e fragmentado, impedindo de ver o todo e retirando responsabilidade dos
atos isolados dos homens perante a sociedade.
Nessa abordagem, o homem concedeu aos avanços tecnológicos um lugar de destaque; em
contrapartida, a visão conservadora de mundo não deixou de existir, e está hoje muito presente e
latente no cenário escolar. Ao observarmos, hoje, uma sala de aula, como ela se apresenta na
maioria das escolas, podemos remetê-la aos paradigmas conservadores, porque nos deparamos com
carteiras enfileiradas, com aulas sendo interrompidas pelo sinal, e não pelo fim do encaminhamento
proposto para aquela aula, com troca de professores e a imediata troca de assunto, em contextos
totalmente desvinculados, evidenciando, assim, um sistema de rupturas constantes. Os conteúdos
são estanques, restritos às disciplinas específicas, sem conexões uns com os outros, nem tampouco
com algum significado para o aluno. Esta fragmentação, (de horários, conteúdos, disciplinas) pode
ser vista como uma herança do pensamento newtoniano- cartesiano (BEHRENS, 2005, p.29), já
que, nas salas de aula atuais, concentram-se cenários condizentes com a abordagem tradicional,
onde não há espaço para a formação do sujeito pensante, mas sim para a transmissão do
conhecimento, sendo este pronto e com um fim em si mesmo.
Em todas as abordagens que aqui serão analisadas, cada elemento componente da estrutura
da escola, sejam eles; aluno, professor, metodologia, avaliação e escola, desempenham seus papéis.
Dependendo da abordagem, os papéis da cada componente são bem delimitados, distintos. Já em
outras, muitos desses papéis se confundem, ou então se complementam, determinando assim uma
nova perspectiva para o rumo da escola e sua verdadeira função.
A educação brasileira, pelo menos nos últimos 50 anos, tem sido marcada pelas tendências
liberais, nas suas formas, ora conservadora, ora renovada. Evidentemente tais tendências se
manifestaram, concretamente, nas práticas escolares e no ideário pedagógico de muitos
professores, ainda que estes não se dêem conta dessa influência. (LIBÂNEO, 1986, p.21)
Na abordagem tradicional, para validar a passividade que é atribuída ao aluno, basta que
compreendamos a visão de homem dentro desta abordagem. Mizukami (1986, p.8) afirma que, na
concepção tradicionalista “o homem é considerado como inserido num mundo que irá conhecer
através de informações que lhe serão fornecidas e que se decidiu serem as mais importantes e úteis
para ele.” Neste contexto, o aluno se comporta como um ser passivo, receptivo, sem levantar
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questionamentos, pois considera-se que ele nada sabe e que todos os conhecimentos serão
adquiridos na escola.
O papel do professor, nesse contexto, será o de reprimir toda e qualquer manifestação de
criatividade, de questionamento e de criticidade. Além disso, sua principal função seria a de
transmitir e repassar o conteúdo totalmente fragmentado, sem conexão alguma entre os temas,
muito menos com a realidade e a vivência do aluno ou com os elementos da sua vida emocional.
Tais aspectos, como o emocional e o social, não deveriam ser trazidos à tona, pois nada que pudesse
comprometer as posições (professor no pedestal e alunos em posição de desvantagem) deveria
aparecer. Os temas são apresentados aos alunos de maneira que estes possam repetir e reproduzir o
modelo exposto. Também, para que seu papel de “dono da verdade” fosse bem interpretado, havia
uma relação vertical do professor em relação ao aluno.
A metodologia adotada era com aula expositiva, adequada para a transmissão do conteúdo,
sendo este próprio e acabado. com ênfase nos modelos. A aula é centrada no professor, entendendose que, se o conteúdo é “ensinado”, isso implica necessariamente em que ele será “aprendido” por
todos, da mesma forma e ao mesmo tempo. A transmissão do conteúdo também pode ser dada
através de leitura e cópia, evidenciando o “fazer automático” que caracteriza a abordagem
tradicional. Mizukami (1986, p.16) afirma a esse respeito: “O trabalho (do professor) continua
mesmo sem a compreensão do aluno e somente uma verificação a posteriori é que permitirá ao
professor tomar consciência desse fato”.
A avaliação, para poder estar em consonância com os outros componentes, é realizada com
ênfase na memorização. Os mecanismos utilizados buscam respostas prontas, previamente
decoradas, ceifando toda e qualquer possibilidade de proporcionar um momento de reflexão e de
questionamentos.
A escola é o lugar onde o indivíduo obtém o preparo moral e intelectual. Por ser um local
onde as atividades intelectuais são a prioridade, deve proporcionar um ambiente físico conservador
e austero. Utilizando a denominação de Paulo Freire, (2003) a escola privilegia a educação
bancária, onde o professor deposita no aluno conhecimentos e informações.
A abordagem tecnicista, como a própria denominação já sugere, surgiu para preparar o
aluno para trabalhar nas fábricas e indústrias (mão- de- obra) e também na “preparação intelectual e
moral dos alunos para assumir sua posição na sociedade.” (LIBÂNEO, 1986, p.23).
Para Behrens, (2005, p.47) “a abordagem tecnicista fundamenta-se no positivismo e propõe
uma ação pedagógica inspirada nos princípios da racionalidade, da eficiência, da eficácia e da
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produtividade.” Não há lugar para o desenvolvimento de um sujeito crítico, pois ele deve se ater aos
manuais que lhe conferirão eficiência e a competência exigidas pela sociedade. Não importam as
relações afetivas no processo de ensino-aprendizagem, pois o professor administra “como”
transmitir a matéria, servindo de elo de ligação entre a verdade científica e o aluno. A sua prática
visa uma seqüência programada a obter comportamentos desejáveis. Usa o condicionamento
arbitrário: premiações, elogios, notas. Conforme Behrens, (2005, p.49) “o professor passa a aplicar
a técnica pela técnica em busca da performance.”
A escola na tendência tecnicista funciona como a agência que educa formalmente. É
modeladora do comportamento, vindo assim a pregar a “tecnologia comportamental” (instrução
programada), objetivando a reproduzir na escola o funcionamento da fábrica.
Nesta abordagem, a metodologia faz uso de técnicas que assegurem a transmissão /recepção
de informações. Enfatiza a resposta (a certa) e não há tratamento do erro.
A avaliação é focada na memorização, visando o produto, sem se importar com o processo.
A abordagem escolanovista vem contrapor-se à pedagogia tradicional, enfatizando o
indivíduo como ser pensante e criativo.
O aluno assume o foco principal do ensino e lhe é dada a oportunidade de se manifestar, discordar e
desenvolver suas potencialidades. Também adquire uma postura de sujeito ativo, que aprende pela
descoberta, pela experimentação e pela pesquisa.
O professor age como auxiliador no desenvolvimento livre e espontâneo do aluno,
assumindo o papel de facilitador da aprendizagem. Torna-se especialista em relações humanas,
favorecendo uma vivência democrática entre professor e aluno, respeitando o caráter individual de
cada educando.
Na Escola Nova a metodologia adotada propicia o trabalho em grupo, com pesquisas
dirigidas. O aluno é considerado em sua individualidade, suas raízes e seus preceitos éticos e
morais, advindos do seu núcleo familiar, comunidade e trabalho.
A escola, um espaço democrático, provedor da autonomia, busca o desenvolvimento e a
realização pessoal do aluno. Dispõe de laboratórios, para propiciar um amplo estudo em torno das
ciências biológicas, e também bibliotecas para pesquisas e aprofundamento dos temas estudados em
sala.
A avaliação é preparada para o acompanhamento do desenvolvimento do aluno. Faz uso da
auto-avaliação, por acreditar no aluno crítico e capaz de perceber seus avanços e discernir entre a
efetiva aprendizagem e a mera reprodução.
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A Escola Nova teve dificuldades de implementação, por precisar de um suporte, como
laboratórios bem equipados, bibliotecas preparadas para a pesquisa em larga escala e com
profundidade. Sua efetiva consolidação foi possível em escolas experimentais, ou como dito acima,
em escolas muito bem preparadas. Outro fator que dificultou essa implementação, foi o despreparo
dos professores frente a essa nova abordagem, desafiadora e exigente de uma mudança de
pensamento e de postura do professor. Como afirma Behrens, (2005, p. 47) “Embora no interior da
escola continuasse a proclamação dos procedimentos escolanovistas e democráticos, os professores,
em geral, não abdicavam do ensino tradicional”.
Enfrentando Desafios: Transição
A especialização resultante dos métodos do racionalismo cientificista, focados em esquemas
de explicação mecanicista do mundo, teve como conseqüência a desconsideração de áreas
importantes do conhecimento e da visão crítica de fenômenos globais. Mais do que isso, colocou
em risco a própria sobrevivência humana.
Novos paradigmas de explicação científica surgem, então, para fazer frente a esses desafios,
restabelecendo o diálogo crítico entre “o homem e o mundo da natureza, entre ciência e sociedade”
(MORAES; 1998. p.30) e priorizando princípios éticos e de solidariedade humana.
Um paradigma deve ser ultrapassado, quando seus pressupostos não mais atendem às
necessidades do momento. Como isso ocorre? Para um maior esclarecimento podemos nos valer da
afirmação de Ferguson, que diz: (1992, p.276)
Os velhos pressupostos geram indagações a respeito de como alcançar normas, obediências e
respostas corretas. Os novos levam às questões sobre a motivação para o aprendizado de toda a
vida, o reforço da autodisciplina, o despertar da curiosidade e o estímulo ao risco criativo em
pessoas de todas as idades.
Tal afirmação já sugere quais serão as tendências dos paradigmas inovadores. De acordo
com tais proposições, é natural que haja uma valorização do ser humano e consequentemente uma
valorização da educação como um todo, promovendo uma interação do homem com o meio
ambiente. Assim, aconteceu também na Educação Superior essa transição paradigmática; não havia
mais espaço para uma visão fragmentada de mundo; fazia-se necessário ultrapassar essa visão, para
aceitar-se uma nova forma de pensar e agir que pudesse aproveitar o que havia de produtivo e
avançar, em busca da superação das lacunas que existiam.
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Esses paradigmas de explicação da realidade e os paradigmas educacionais emergentes
sucedem-se à crítica do tecnicismo e da lógica cartesiana, que se mostra inadequada à compreensão
dos fenômenos sociais.
Citando Capra (1988), Moraes observa que o “entendimento das dimensões sociais,
ecológicas e psicológicas implica o esclarecimento de dimensões qualitativas normalmente
negligenciadas pelos modelos econômicos”. (MORAES, p. 48).
Por suas características de visão totalizadora dos problemas e desafios humanos,
esse novo paradigma é chamado holístico ou sistêmico. Essa denominação refere-se à visão
sistêmica, conceito tomado da Biologia, segundo a qual “as propriedades essenciais de um
organismo ou sistema vivo, são propriedades do todo, que nenhuma das partes possui” (CAPRA;
1996, p. 40) e que surgem das integrações entre as partes.
Caracterizadas por uma visão holística de educação incluem-se as concepções sistêmica,
progressista e do ensino com pesquisa.
Para Behrens (2005, p.56) “uma prática pedagógica competente e que dê conta dos desafios
da sociedade moderna exige uma inter-relação das abordagens sistêmica, progressista e do ensino
com pesquisa (...) e uma instrumentalização da tecnologia inovadora”. Para a autora, “a concepção
de uma proposta pedagógica embasada por estas tendências demanda exploração dos referenciais de
cada uma delas”.
Numa concepção sistêmica de educação, o aluno vivencia o processo de conhecimento como
cidadão do mundo e é visto em suas inteligências múltiplas (lingüística, lógico-matemática,
musical, espacial, cinestésica, intrapessoal e interpessoal).
A atuação do professor, parceiro e colaborador, acontece no sentido de favorecer a
autonomia e a formação individual e coletiva. Da mesma forma, a educação prioriza a formação
ética do indivíduo, levando em conta o qualitativo, mais que o quantitativo. Prevê continuidade e
participação dos envolvidos no processo ensino-aprendizagem e permite a integração entre processo
e produto; “avalia para aprender”, alternando avaliação individual e coletiva.
Aprender com o erro e “aprender a aprender” são as diretrizes teóricas dessa nova tendência,
que referenda uma prática pedagógica crítica, produtiva, reflexiva e transformadora. Abrange a
visão de totalidade e não se constitui em uma opção metodológica única.
Por conseguinte, a escola, dentro dessa visão, não pode ser a única instituição a permitir o
acesso à informação e à produção do conhecimento porque deve “conectar o educando com o
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funcionamento integral da sociedade através de verdadeiro contato com a vida social e econômica
da comunidade”. (GATE, 1991. p.5)
No paradigma inovador, a visão holística de mundo entende que o desenvolvimento humano
deve ter prioridade sobre o desenvolvimento econômico. Nessa abordagem, o aluno é
constantemente estimulado a reconhecer a realidade e refletir sobre ela. Agora, ele passa de objeto a
sujeito, com autonomia para produzir conhecimento. Como a ênfase é dada às relações
interpessoais, o aluno vive no coletivo, mas é único, valioso e capaz. É valorizado pela sua
criatividade e talento.
O professor é reflexivo: reflete na ação e sobre a ação. Cada tema, antes de ser trabalhado é
cuidadosamente analisado de forma a ajudar o educando a compreender e transformar a sua
realidade. Seu perfil é de pesquisador, sempre em busca de novos caminhos, para uma
aprendizagem mais efetiva, oportunizando o resgate de valores como justiça, igualdade e
solidariedade.
Na abordagem sistêmica, a metodologia proporciona uma nova dimensão entre professor e
aluno. Forma-se uma parceria entre professor e aluno, para buscarem juntos uma melhor qualidade
do ensino. O aluno é parte envolvida no processo, trabalhando por projetos, de forma
interdisciplinar. Nesse contexto, a metodologia permite relações pessoais e interpessoais buscando a
ética e a harmonia e conciliação. Há a produção coletiva do conhecimento significativo, aliando
teoria e prática.
A escola deve permitir esta interação e ressignificação de papéis, servindo de suporte, com
uma visão de totalidade. Com esta visão a escola promove o sentido da integração e de que tudo
está interconectado, acreditando na valorização dos estudos referentes à ecologia e meio ambiente.
A avaliação, respeitando essa visão da interconexão, de teia, visa o processo; seguindo um
crescimento gradativo. Considera o erro um sintoma, que deve ser investigado, trabalhado para
servir de caminho para o acerto. Desafia o aluno a buscar outras respostas e pesquisar outras
possibilidades.
Esta abordagem tem como foco principal a união para superar a visão fragmentada que se
tinha. Podemos finalizar esta abordagem, baseando-nos no posicionamento de Brandão (1991,
p.36):
Todas as tradições estão de acordo em que o meio mais eficiente para alcançar a visão holística
e, sobretudo a vivência holística, é praticar uma vida harmoniosa, com abertura generosa,
prática dos valores éticos, paciência, perseverança atenção, discernimento, amor altruísta, ajuda
aos necessitados, alegria de viver e dar felicidade aos outros e espírito equânime, tanto na vida
pessoal como profissional ou social.
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Numa concepção progressista de educação o aluno é visto como ser em contínuo e
permanente desenvolvimento. E, aqueles que buscam o conhecimento, “ao alcançarem, na ação
comum, este saber da realidade, se descobrem como seus refazedores permanentes” (FREIRE,
2003, p.56). São, portanto, sujeitos da práxis, entendidos na relação dialética com o mundo.
Aluno e professor estabelecem uma parceria e se educam mutuamente, intervindo na
realidade para transformá-la. Trabalham numa linha de ação cultural que se caracteriza pela
dialogicidade entre os envolvidos, num ambiente de co-laboração em que se delimitam tarefas e
objetivos, no sentido de compreender a realidade a ser transformada por meio do esforço conjunto
de reflexão e ação, em que “a educação a ser praticada (...) se faz co-intencionalidade”. (Id; 2003
p.56).
O professor progressista exerce a pedagogia criativa, que procura reinventar o conhecimento
situado nos temas, nas necessidades dos alunos. Consegue se colocar na condição de aprendente
junto com os alunos, e lidera o processo pela competência.
Nesse ambiente de interação em que os integrantes são compromissados com a
transformação política e social, o diferente precisa ser compreendido e aceito, assim como são
revistos os conceitos de solidariedade e interculturalidade.
A metodologia é baseada em teorias construtivistas, onde o sujeito é responsável pela
construção do conhecimento e pela ressignificação do que aprende. Baseia-se na troca de
informações, idéias, com a participação ativa do aluno. O método dá lugar à ação transformadora e
à democratização do saber. É provocativa: busca a reflexão ativa na ação e para a ação. Valoriza o
trabalhador e busca na sua realidade instrumentos para compor e integrar o conteúdo a ser tratado.
Prevê a interdisciplinaridade e leva à formação do indivíduo como ser histórico.
Nesse contexto de ensino-aprendizagem, a avaliação é entendida como processo e serve de
base ao aperfeiçoamento da prática pedagógica. Não se mede em termos de quantidade de conteúdo
aprendido, mas pelo desenvolvimento das relações interpessoais que se estabelecem entre os
sujeitos da aprendizagem e os sujeitos e o conhecimento que é produzido.
A pedagogia progressista não entende a escola como lugar determinado, como instituição
que formaliza o saber. A escola é um “estar no mundo”, compreender e identificar problemas e agir
no sentido de transformar as condições presentes, impostas pelas elites opressoras, que realizam a
invasão cultural a partir dos métodos da conquista e de manipulação das massas. (FREIRE, 2003).
A abordagem do ensino com pesquisa se desenvolve em uma época onde a sociedade se
volta para a informatização, e com isso o acesso ao conhecimento torna-se mais rápido e facilitado.
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Como as duas tendências educacionais anteriores, a ensino com pesquisa valoriza a
produção do conhecimento de forma contínua, processual e participativa.
Freqüentador de bibliotecas, laboratórios e de grupos de estudos, o aluno investiga,
questiona, produz com autonomia e busca o consenso através da argumentação e contraargumentação em relação ao saber que está sendo construído:. Demo (1996; p. 10) afirma que
A educação pela pesquisa consagra o questionamento reconstrutivo, com qualidade formal e
política, como traço distintivo da pesquisa, [que] precisa ser internalizada como atitude
cotidiana, não apenas como atividade especial, de gente especial, para momentos e salários
especiais. Ao contrário, representa, sobretudo a maneira consciente e contributiva de andar na
vida”.
O professor na metodologia do ensino com pesquisa, passa de fonte de saber, para
orientador, incentivando os alunos a exercerem sua visão crítica. Como “formador de formadores”,
propicia um ambiente de diálogo com o seu parceiro menos experiente, para inovar e produzir
conhecimentos.
A metodologia do ensino com pesquisa visa estimular o trabalho em equipe. Acredita e faz
uso dos contratos (construídos com professor e alunos) que nortearão as atividades; pressupõe a
pesquisa como instrumento adequado a todos os níveis de ensino; utiliza-se de trabalhos individuais
e coletivos, seminários e debates no esforço de “aprender a aprender”, em que teoria e prática são
indissociáveis.
Considerações Finais:
As concepções inovadoras resgataram valores subestimados no passado em função do lucro,
da produtividade e do desenvolvimento capitalista, devolvendo à educação, à escola e ao educador a
formação do cidadão crítico, criativo e capaz de enfrentar os desafios da atualidade e de transformar
a realidade em direção à sociedade mais justa, solidária e igualitária.
O educando, nesse ambiente, desenvolve a criticidade e a consciência de que o mundo não
está posto para sua aceitação e adaptação, mas que pode e deve ser transformado, através da
reflexão que vai nortear a prática renovada.
Essa nova visão de educar e de educação está hoje calcada num aprimoramento dos
paradigmas inovadores, metodologia ou proposta pedagógica “batizada” por alguns autores como o
Paradigma da Complexidade. (MORIN, 2000)
Behrens, (2006, p.14) afirma que autores como Capra (2002) e Morin (2000) contribuíram
para essa denominação, superando a denominação anterior de paradigmas emergentes. Diz a autora
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que “(...) os processos de ensino e de aprendizagem convergem para o preparo da comunidade
acadêmica no sentido de refletir, analisar e buscar construir projetos pedagógicos críticos, reflexivos
e transformadores”.
Esses novos tempos para a educação devem começar, porém, por uma inovação
metodológica, refletindo toda a mudança do pensar docente. Esta inovação metodológica seria, na
visão de autores como Hernandez (1998), a Metodologia de projetos.
Entre outros motivos que devem levar o professor a adotar a metodologia de projetos, esse
autor destaca alguns dos objetivos desta metodologia:
a) Estabelecer as formas de pensamento atual como problema antropológico e histórico chave
(apud MORIN, 1993, P, 72).
(b) Dar um sentido ao conhecimento baseado na busca de relações entre os fenômenos naturais,
sociais e pessoais que nos ajude a compreender melhor a complexidade do mundo em que
vivemos e
c) “planejar estratégias para abordar e pesquisar problemas que vão além da compartimentação
disciplinar.” (HERNANDEZ, 1998, p.73)
Lançando um olhar na direção da metodologia de projetos, podemos obter mais
esclarecimentos sobre a aquisição de capacidades que tal metodologia pode desenvolver nos alunos:
“– a autodireção, pois favorece iniciativas, (...) tarefas de pesquisa”.
- a capacidade inventiva: mediante a utilização criativa de recursos, métodos, (...)
- a capacidade de formulação e resolução de problemas
- a capacidade de integração, pois favorece a síntese de idéias.
- a capacidade de tomada de decisões, já que será decidido o que é relevante e o que se vai
incluir no projeto.
- a comunicação interpessoal, posto que se deverá contrastar as próprias opiniões com a dos
outros (...)” HERNANDEZ, (1998, p.73).
Com esta visão de que podemos nos valer de um paradigma que pôde superar os paradigmas
tradicionais e que trouxe uma substancial bagagem dos inovadores, culminando com a abrangência
e a totalidade do paradigma da complexidade, é possível, aqui, posicionar-nos de maneira otimista
em relação à possibilidade de mudanças significativas, capazes de nortear e dar suporte ao futuro da
Educação Superior.
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Referências
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FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido, 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.
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