Anais do II Congresso Internacional de História da UFG/
Jataí – Realização Cursos de História, Letras, Direito e
Psicologia – ISSN 2178-1281
ENTRE O ROMANCE E A REPORTAGEM: DOIS ESTILOS DE VICTOR HUGO
Gleidson Antônio da Silva – UFG/Jataí
Orientador – Marcos Antonio de Menezes – UFG/Jataí
Poeta e romancista francês Victor Hugo atuou como repórter após seu exilio
na Inglaterra, de onde publicava manifestos contra o imperadorLuís Napoleão, um
dos episódios mais sangrentos denunciados por Hugo após o exilio foi o golpe de
estado que teve inicio no dia 2 de dezembro de 1851,seguido do episodio do dia 4
de dezembro do mesmo ano,conhecido como o massacre dos bulevares.
Luís Napoleão após ser eleito em 1848 aliou-se ao exercito prendeu os
lideres da oposição, dissolveuo poder legislativo, e executou um massacre contra os
cidadãos parisienses que ergueram barricadas nas ruas de paris, essas ações
culminaram no episodio do dia 4 de dezembro de 1851. Que fora conhecido,apenas
após o exilio de Hugo através do livro panfleto o pequeno Napoleão lançado um ano
após os acontecimentos citados. Mas a divulgação tardia deve-se ao fato
dastipografias de Paris estaremsobre o poder do imperador. Que as submetiam a
uma extrema censura.
Em sua descrição desteepisodio sangrento Hugo deixa bem claroa tirania do
imperador ao executar seu golpe de estado. Em sua representação do massacre
Hugo faz uma analogia à obra de Dante Alighieri e ao oitavo circulo do seu poema
inferno.
De repente uma janela, dando diretamente para o inferno, foi aberta com
violência. Estivesse Dante observando através das trevas, e teria
reconhecido o oitavo circulo de seu poema no fatídico bulevar Montmartre.
Um espetáculo Horrendo- Paris nas garras de Bonaparte! (HUGO.Apud.
FUSER, 1996, p.08).
A representação de Hugo através da obra de Alighieri corresponde ao
inimaginável, pois em seu oitavo circulo o poema inferno descreve uma fúria
insaciável de mortes e carnificina um espetáculo de mortes violentas eintensas um
cenário grotesco.
O quão longe chega a violência desse episodio testemunhado por Hugo
alguns dados confirmados por um correspondente do Times de Londres, estimava
em oitocentos o numero de mortos nesse episodio macabro da historia francesa.
Victor Hugo representou em sua matéria não só os acontecimentos, mas sua
indignação quanto aqueda dos ideais republicanos e da cidadania, Hugo tinha ideais
de um bem comum. Entretanto Napoleão III matou esses ideais e deu inicio ao
contraditório segundo império.
Hugonarra os acontecimentos expondo os agentes do intrigante golpe de
estado um dos agentes que Hugo demonstra como o principal e a legitimação das
mortes sancionadas por Luís Napoleão e o motivo para essas mortes, Hugo
esclarece qual motivo em se assassinar o povo.
A história vem, através dos tempos, nos deixando um legado de vários
massacreshediondos, mas havia alguma razão para cada um deles. São
Bartolomeu e as perseguições tiveram sua origem em diferenças religiosas.
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As vésperas sicilianas e as carnificinas de setembro foram fruto de
patriotismo. Em cada um destes casos, esmagaram o inimigo ou afastaram
o estrangeiro; mas a matança do bulevar Montmartrefoi um crime sem
finalidade ao qual nenhum motivo poderia ser atribuído. E, no entanto uma
razão, muito terrível, existia. Vamos dizer qual era. Existem duas poderosas
forças no estado a lei e o povo. Um homem assassina a lei. Ele vê
aproximar-se a hora de pagar, e não há nada a fazer senão assassinar o
povo.
E ele o faz. (HUGO. Apud. FUSER, 1996, p08.)
Hugo nos esclarece em sua denuncianão só as mortes dos cidadãos, mas a
morte dos elementos que constituem a formação do estado de direito, segundoos
ideais republicanos que Hugo acreditava como ativista,o direito parte do
cumprimento da lei para que haja um bem comum,se a lei e quebrada por alguém
cabe aos administradores do estado executar ações corretivas que garantam a
manutenção da ordem e da cidadania, tais princípios fundamentados na lei como
força vital do estado, pois segundo Rousseau em sua obra o contrato social a o
poder legislativo atua como coração do estado logo a concepção de formação do
estado parte do mesmo pressuposto um estado de direito criado na modernidade.
O principio da vida politica esta na autoridade soberana. O poder legislativo
e o coração do Estado, a força executiva o seu cérebro, que da movimento
a todas as partes do corpo. O cérebro pode parrar, e, entretanto o individuo
continua a viver. Um individuo fica imbecil e vive, porém tão logo que o
coração cessa em suas funções, morre. (Rousseau. 1987,p 125,126)
No entanto Napoleão III passa por cima das leis dissolvendo o poder
legislativo uma das forças vitais do estado elimina a oposição silenciando as ideias
contrarias ao seu governo e logo dá inicio ao massacre de cidadãos.
Oprimindoatravés do medo qualquer forma de resistência garantindo assim o
sucesso do seu golpe de estado.
A indignação que crescia tinha de ser silenciada pelo terror pelo terror
abjeto. Louis Bonaparte alcançou essa glória, e ao mesmo tempo chegou
ao ápice de sua infâmia. Vamos contar como ele fez isso, e lembrar oque a
historia não viu – o assassinato de um povo por um homem! (HUGO. Apud.
FUSER, 1996, p08.)
Em seu relato Hugo usa elementos influenciados pelo movimento romântico,
ao qual pertencia. Seus sentimentos em relação à atmosfera que toma formaa partir
do inicio do banho de sangue desencadeado pelas ordens de Luís Napoleão após
aliar-se ao exercito.
Victor Hugodeixa transparecer o medo e o horror dos cidadãos e ao mesmo
tempo nos mostra a crueldade dos assassinos liderados por Luís Napoleão. Hugo os
cita, chamando os lideres das brigadas de assassinos e seus soldados de demônios,
pois Hugo não compreende os motivos que levam um soldado a assassinar crianças
idosas e mulheres, e em que tamanha desonra cai o exercito francês.
Os homens armados, amontoados no bulevar, foram tomados por um súbito
frenesi. Não eram mais homens, mas demônios. Para eles não havia mais
uma bandeira, nem lei, humanidade ou pais. A França deixara de existir, e a
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morte e a morte percorria violentamente as suas almas. A divisão do ladrão
Schinderhannes, as brigadas dos assassinos Mandrim, Cartouche,
PoulaillerTrestaillon e Tropmann avançavam pela escuridão, atirando e
assassinando por toda parte – pois não podemos atribuir às cenas que
estavam se passando naquele eclipse de fé e honra ao exercito Francês.
(HUGO. Apud. FUSER, 1996, p08.)
O acontecimento narrado por Hugo aparece como contradição a todos os
fundamentos que compõem um sistema democrático fundado nos ideais
revolucionários de liberdade igualdade e fraternidade,ideais estes que Hugo
acreditava ser a base de um utópico sonho o bem comum.
Hugo os deixa bem claros não só em suas atividades politicas, mas muito
além, pois os imprime em seus romances e poemas, sua denuncia fica estampada
por onde passa seja em forma de uma personagem ou de uma situação que cria em
suas narrativas.
Sua obra Os Miseráveise um grande exemplo disso, em seu texto pode-se
verificar uma estrutura social debilitada onde o povo anseia por mudanças, o
sentimento de indignação presente na França. No contexto de sua ficção,
observemos o mesmo sentimento em sua reportagem do massacre dos bulevares.
Na descrição do episodio que se inicia no dia 2 de dezembro de 1851 Hugo
fala de um crescente sentimento de revolta da população de Paris ao ver oque
estava acontecendoàs vésperas da conclusão do golpe que levaria Luís Napoleão
ao poder absoluto da França.Tão perceptível que o sobrinho de Bonaparte das
ordens ao massacre e os executano quarto dia de dezembro. Assassinando uma
parte da população e silenciando a outra.
Em sua obra Os Miseráveis também vemos a indignação por parte do povo
em relação às forças governantes isso fica bem perceptível na narrativa de Hugo,
que tinha um senso de descrição e perspicácia extremamente aguçados, essa
característica de seu gênio literáriofica bem claro em um ensaio feito por Baudelaire
sobre Hugo onde ele comenta não só o talento de Hugo mas sua participação na
sociedade francesa do século XIX.
Dessa faculdade de absorção da vida exterior, Única por sua amplitude, e
dessa outra poderosa faculdade de meditação, resultou, em Victor Hugo,
um caráter poético muito particular, interrogativo, misterioso e, como a
natureza, imenso e minucioso, calmo e agitado. Voltaire não via mistério em
nada, ou em bem poucas coisas. Mas Victor Hugo não corta o nó górdio das
coisas com a petulância militar de Voltaire; seus sentidos sutis lhe revelam
abismos; ele vê o mistério em toda parte. E, de fato, onde ele não está? Daí
deriva esse sentimento de pavor que penetra vários de seus mais belos
poemas daí essas turbulências, essas acumulações, esses desabamentos
de versos, essas massas de imagens tempestuosas, carregadas com a
velocidade de um caos que foge; daí essas frequentes repetições de
palavras, todas destinadas a exprimir as trevas cativantes ou a enigmática
fisionomia do mistério (BAUDELAIRE, 1992,p26)
Assim Victor Hugo traduz realidade em ficção transpõe as situações do
contexto onde está inserido trazendopara seu romance,questões de suma
importância para a sociedade e as dinâmicas sócias presentes no contexto em que
se constrói as suas narrativas, no que diz respeito a valores morais, éticos e sociais.
E em contrapartida representa também a realidade dos fatos em seu relato do
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massacre dos bulevares usando elementos do romantismo. Quando se refere à
agonia e ao terror vivido em Paris, um episodio que segundo Hugo jamais pode ser
esquecido ou silenciado assim como em suas obras Hugo, reforça a atenção para as
injustiças praticadas pelas forças dominantes em relação ao povo e a constituição
do corpo do estado moderno.“Desde os começos de sua brilhante vida literária,
encontramos nele essa preocupação com os fracos, com os proscritos e com os
malditos”(BAUDELAIRE, 1992, p 60)
Podemos perceberem um trecho de sua matéria um sentimento de
perplexidade em narrar o ultraje de um crime imperdoável o assassinato dos
cidadãos, que morrem sem nenhuma forma de resistência a tirania de um louco.
Ninguém escapava. Os mosquetes e pistolas eram usados em todas as
direções. O ano novo estava se aproximando, e havia lojas cheias de
presentes. Uma criança de 13 anos, voando diante do fogo dos soldados,
refugiou-se em uma loja da Arcade Sauveur, e escondeu-se debaixo de
uma pilha de brinquedos. Foi agarrada e massacrada, enquanto os
assassinos abriam as feridas com seus sabres. “Contou-me uma mulher
„„podíamos ouvir os gritos da pequena criatura por toda arcada” o 75º
Regimento da linha tomou a barricada da ponte Saint-Denis. Não houve
resistência, somente carnificina posteriormente. (HUGO. Apud. FUSER,
1996, p09.)
Hugo nos mostra em suas palavras um retrato de sua sociedade e de suas
deficiências a falta de compromisso do imperador com o povo que em outro
momento o tornara presidente da França. Enfim pinta um retrato breve do que logo
iria constituir onze anos mais tarde oque muitos consideram sua obra prima Os
Miseráveis. Que se converteuma critica social. Publicada 1862. Trata-se de um
romance de extrema importância, na literatura universal segundo Bloom.
Victor Hugo talvez tenha sido o último dos autoresuniversais, na linha de
Cervantes,Shakespeare e Dickens. Não encontro similar no século XX,e
duvido que surja algum no século XX.Lesmisérables,para nós um musical,
foi lido por toda pessoa alfabetizada quando lançado na França (1862).Aos
71 anos. (BLOOM, 2003, p. 471).
Não só no âmbito da literatura. Mais também no que diz respeito ao contexto
geral presente na França no século XIX. Assim como a sua narração do massacre
dos bulevares onde Hugo mostra ter consciência de sua participação como agente
histórico e a importância em não se calar diante da tirania do bisavô de todos os
ditadores do século XX.
Continuei a andar, portanto, cheio de pensamentos tristes. Encaminhei-me
em direção aos bulevares. Divisei uma fornalha ardente. Ouvi os estrépitos
do trovão. Jules Simon, um homem que naqueles terríveis dias
voluntariamente arriscou sua valiosa vida, veio em minha direção. Paroume.
“Aonde você vai”? “Perguntou ele.” Você será morto. Oque você quer?
“exatamente isto”, disse-lhe.
Apertamos nossas mãos, e continuei o meu caminho. Cheguei ao bulevar. A
cena era indescritível. Eu vi esta tragédia, esta carnificina. Eu vi esta cega
correnteza de morte, e os corpos de pessoas assassinadas caindo ao meu
lado, e é por esta razão que posso assinar este livro como testemunha
ocular.
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O destino tem os seus desígnios. Cuida misteriosamente do futuro
historiado. Deixa-o imiscuir-se em carnificina e destruição, mas não permite
que morra, pois quer que ele narre todos esses acontecimentos. (HUGO.
Apud. FUSER, 1996, p11.)
Entretanto ao denunciar esse massacre Hugo, não só nos mostra os fatos
ocorridos entre os dias 02 e 04 de dezembro de 1851 e que proporção tomara o fato
narrado por Hugo, mas também se torna parte integrante do episodio, sem deixar de
lado o que um torna um escritor de talento único e universal. Sua sensibilidade e
perspicácia como podemos ver em uma reflexão deseu contemporâneo Charles
Baudelaire. “Assim, Victor Hugo possui não só a grandeza, mas a universalidade. Como
seu repertorio e variado! E, ainda que sempre uno e compacto.” (Baudelaire SP 1992
reflexões sore meus contemporâneos. p 26)
Hugo escreve o fato com todo seu talento de escritor romântico,assim como
escreve romance com todo seu talento de repórter deixando não só obrasliterárias
más registros do cotidiano da França do século XIX tanto no livro panfleto que
denuncia as atrocidades dos massacres em paris quanto em qualquer que seja sua
obra tanto para romances quanto para poemas Hugo tinha certa clareza no que diz
respeitos aos seus ideais republicanos.
Referências bibliográficas
BAUDELAIRE, Charles Pierre. Reflexões sobre meus contemporâneos: São Paulo:
EDUC/ Imaginário, 1992.
BLOOM, Harold Gênio os 100 autores mais criativos da historia da literatura. Rio de
Janeiro: objetiva, 2003.
CERTEAU, Michel. A escrita da história: Rio de Janeiro: Forense universitária, 2008.
FUSER, Igor. A arte da reportagem: São Paulo: Scritta, 1996.
PERROT, Michelle. Os Excluídos da historia: Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.
ROUSSEAU, Jean Jacques. O contrato Social: Rio de Janeiro: Brasil editora S/A,
1987.
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