UNIDADES DE CONSERVAÇÃO NA CAATINGA Preparado por The Nature Conservancy do Brasil e Associação Caatinga com base em informações fornecidas pelo IBAMA (DEUC, Programa RPPN e Superintendências do PI e RN), SEMACE, IDEMA, SUDEMA, IMA, ADEMA e CRA. Documento para discussão no GT estratégia para conservação Petrolina, 2000 Introdução A Caatinga, ecorregião semi-árida única no mundo, é provavelmente o bioma brasileiro mais ameaçado e já transformado pela ação humana. Além de ser exclusivamente brasileira, a Caatinga cobre uma porção significativa do território nacional: 11.67% se contarmos com as áreas de transição para outros biomas. No entanto, apenas 3.56% da Caatinga estão dentro de Unidades de Conservação federais (em número de 16) e destes, apenas 0.87% em unidades de uso indireto (parques nacionais, reservas biológicas e estações ecológicas). Além das unidades federais, existem apenas mais 07 unidades estaduais, concentradas na Bahia e no Rio Grande do Norte, três das quais ainda não foram implementadas. Grande parte destas Unidades de Conservação (UC’s) existentes apresenta sérios problemas, envolvendo desde aspectos fundamentais, como sua situação fundiária, até aspectos relativos ao seu funcionamento, como inexistência de plano de manejo e falta de pessoal. Existe portanto a clara necessidade não só de criar novas UC’s que complementem a rede já existente, assegurando a preservação de exemplos ecologicamente viáveis de Caatinga, como também de tornar de fato funcionais aquelas Unidades já decretadas. No Grupo de Discussão sobre Unidades de Conservação, dentro do Seminário da Caatinga, estaremos encarregados de, com base nos resultados da análise de representatividade, sugerir locais e tamanhos para novas UC’s na Caatinga. Deveremos também discutir estratégias de implementação de áreas protegidas, 2 oportunidades e dificuldades para o manejo destas áreas e fazer recomendações para futuras ações. Como base complementar para discussão, este documento oferece dados sobre a situação atual das UC’s e das áreas protegidas particulares (RPPN’s) existentes na Caatinga e sugere tópicos para discussão durante o seminário. Situação Atual das Unidades de Conservação Existem atualmente 16 UC’s federais e 07 estaduais que protegem formações de Caatinga e/ou ambientes de transição entre este e outros biomas (ver tabela 1). Apenas metade das unidades federais contêm exclusivamente formações de Caatinga, sendo metade destas UC’s de uso direto e metade de uso indireto. Somente nas unidades de uso indireto - Parques Nacionais, Estações Ecológicas e Reservas Biológicas - e nas Florestas Nacionais a terra pertence, após as devidas indenizações, ao IBAMA. As UC’s de uso indireto são unidades de proteção integral, onde as únicas atividades permitidas são pesquisas científicas, educação ambiental e recreação (esta última apenas nos Parques Nacionais). Em todas as demais categorias de Unidades de Conservação federais, a posse da terra permanece com os proprietários e são permitidos a exploração da terra e o aproveitamento econômico direto – são consideradas unidades de uso sustentável. 3 Tabela 1: Unidades de Conservação exi stentes na Caatinga Vegetação predominante Caatinga Ecótonos Observação Nome Área (ha) UF PN da Serra da Capivara PN de Sete Cidades PN Serra das Confusões PN Chapada Diamantina PN Cavernas do Peruaçu PN de Ubajara EE do Seridó EE de Aiuaba 100.000 PI 7.700 502.411 152.000 56.800 PI PI BA MG 563 1.166 ? CE RN CE RB de Serra Negra RB de Pedra Talhada REc Raso da Catarina APA Chapada do Araripe APA Serra da Ibiapaba 1.100 4.469 99.772 1.063.000 PE AL BA CE 1.592.550 FLONA Contendas do Sincorá ARIE Cocorobó ARIE Vale dos Dinossauros Parque Ecológico do Cabugy Parque Estadual Florêncio Luciano APA Piquirí-Una 11.034 PI/ CE BA Brejo Mata Atlântica Caatinga Carrasco/Cerradã o /Caatinga Cerrado/Mata úmida Caatinga 7.500 ? BA PB Caatinga Caatinga 2.164 RN Caatinga ? RN Caatinga ? RN Caatinga APA Gruta dos Brejões/ Veredas do Romão Gramancho APA Marimbus/Iraquara APA Lagoa Itaparica APA Dunas e Veredas do Baixo e Médio S.Francisco 11.900 BA Caatinga Estadual/não implantado Estadual/não implantado Estadual/não implantada Estadual 125.400 78.450 1.085.000 BA BA BA Caatinga Caatinga Caatinga Estadual Estadual Estadual Cerrado/Caatinga Cerrado Caatinga Cerrado/Caatinga /Mata Seca Mata de encosta Caatinga Caatinga Caatinga Mata de encosta Caatinga 5-10% Não decretada Caatinga 40% Caatinga 20% Caatinga 30% Os problemas atuais mais comuns das Unidades existentes originam-se em questões burocráticas e de falta de verbas do poder público, que prejudic am o funcionamento adequado, manejo e fiscalização das áreas. Faz-se necessária uma discussão para determinar possíveis soluções para os problemas principais listados a seguir. 4 1) Situação fundiária. Embora a maioria das UC’s de uso indireto da Caatinga tenha sido criada entre 1961 e 1985, quase todas apresentam ainda problemas com a situação fundiária. Este é um problema básico, que acarreta uma série de outros, quase todos envolvendo a comunidade (residente dentro ou no entorno da área), que passa a ver a área protegida como algo negativo. É preciso encontrar uma forma mais eficiente e funcional de garantir a disponibilidade de verbas para a indenização de terras destinadas a UC’s. 2) Falta de verba para funcionamento/manutenção. Este é um problema aparentemente crônico da grande maioria das Unidades de Conservação, tanto federais como estaduais. Afeta desde a disponibilidade de pessoal qualificado e manutenção/construção de infra-estrutura até o desenvolvimento e implantação de planos de manejo. É preciso encontrar uma forma de garantir fontes de financiamento a longo prazo para a manutenção e manejo das áreas protegidas. 3) Caça tradicional para subsistência. É talvez o problema mais comum por toda a Caatinga. A solução deste problema certamente envolverá a disponibilidade de fontes alternativas de renda e subsistência para a população local. 4) Desmatamento/retirada de lenha. Também é um problema generalizado na Caatinga. Na maioria dos locais tem origem na necessidade básica da população local de obter madeira para construção e combustível. Em alguns locais, a retirada da madeira tem como objetivo a fabricação de carvão para uso industrial ou para comercializar. 5 5) Fogo. É também um grande problema em várias UC’s, tendo como causa principal as queimadas descontroladas no entorno da área. Além dos problemas principais listados acima existem ainda outros como invasão de animais domésticos (principalmente gado bovino), garimpo dentro da área da UC, contaminação da água que atravessa a UC por lixo orgânico, contaminação do solo e da água em APA’s por agrotóxicos, e necessidade de programas de educação ambiental. O Seminário da Caatinga nos dará uma excelente oportunidade para discutir possíveis soluções para os principais problemas enfrentados pelas UC’s e as melhores práticas para a conservação da biodiversidade da Caatinga. Propostas existentes para implantação de novas Unidades de Conservação Estaduais Existem propostas de órgãos estaduais para criar novas UC’s nos seguintes estados: CEARÁ: - Estação Ecológica do Castanhão, proposta pela SEMACE. Tamanho e localização pretendidos: 800 ha nos municípios de Jaguaribara e Alto Santo. 6 PARAÍBA: - Monumento Natural Vale dos Dinossauros, proposta pela SUDEMA. Tamanho e localização pretendidos: tamanho não definido, município de Sousa. - Parque Estadual Pedra da Boca, proposta pela SUDEMA. Tamanho e localização pretendidos: tamanho não definido, município de Araruna. ALAGOAS: - UC proposta pelo IMA. Tamanho e localização pretendidos: tamanho não definido, área próxima aos “canyons” de Xingó, no município de Piranhas. SERGIPE: - APA proposta pela ADEMA. Tamanho e localização pretendidos: tamanho não definido, município de Simão Dias. - APA proposta pela ADEMA. Tamanho e localização pretendidos: tamanho não definido, Fazenda Angico, município de Poço Redondo. - APA proposta pela ADEMA. Tamanho e localização pretendidos: tamanho não definido, município de Monte Alegre de Sergipe. Reservas Particulares do Patrimônio Natural É também interessante examinar o papel atual e futuro das áreas particulares (RPPN’s - Reservas Particulares do Patrimônio Natural) na conservação da Caatinga. Nos últimos anos, vem aumentando o interesse de proprietários rurais em transformar 7 parte de suas propriedades em área protegida, visando principalmente a conservação do ambiente natural. Só na Caatinga, o número de RPPN’s criadas nos últimos cinco anos mais que dobrou o número anteriormente existente. Existem hoje 24 RPPN’s na caatinga, metade acima de 1.000 ha (ver tabela 2). Tabela 2: RPPN’s na Caatinga Área (ha) 756 UF Atividades BA 100 1.259 1.377 1.800 1.500 2.000 1.700 1.500 3.000 1.000 2.610 BA BA BA BA BA BA BA BA BA BA CE 300 28 756 154 1.485 CE CE RN RN PE 3.505 751 PB PB Fazenda Várzea Fazenda Tamanduá 391 325 PB PB Fazenda Pedra de Água RPPN Santa Maria de Tapuã Fazenda Boqueirão 170 238 PB PI Conservação. Planejadas: pesquisa, criação de animais silv estres sem inform ação sem inform ação sem inform ação sem inform ação Conservação. Planejada: ecoturismo sem inform ação sem inform ação sem inform ação sem inform ação Conservação. Planejada: apicultura Conservação. Foi f eito pequeno levantam ento de fauna e flora. sem inform ação sem inform ação sem inform ação sem inform ação Recuperação de áreas degradadas, educação ambiental, api cultura. Pesquisa, apicultura. Apicultur a, lev antam ento de aves e botânica Conservação Levantamento de aves e botânica. Em preparação: herbário, educação ambiental. sem inform ação sem inform ação PI Apicultura Nome Fazenda Morrinhos Fazenda Itacira Fazenda Pé de Serra Fazenda Lontra/Saudade Fazenda Forte Fazenda Boa Vista Fazenda Boa Vista Fazenda Boa Vista Fazenda Forte Fazenda Retiro Lagoa das Campinas Fazenda Olho d’Água do Urucu Não Me Deixes Reserva Arajara Park Fazenda Salobro Sernativo Reserva Ecológica Maurício Dantas Fazenda Almas Fazenda Santa Clara 27.458 Ano criação 1990 1991 1992 1996 1997 1997 1997 1998 1998 1998 1998 1991 1998 1999 1994 1996 1997 1990 1990 1998 1998 1999 1999 1997 Apenas duas RPPN’s têm plano de manejo em fase de preparação. As demais não têm plano de manejo, mas vários proprietários mostraram interesse em desenvolver um, desde que houvesse disponibilidade de recursos e orientação técnica. O fato de 8 ser a preservação do meio ambiente a principal motivação da maioria dos proprietários para a criação de suas RPPN’s indica que esta categoria de áreas protegidas pode ter um papel importante num planejamento de conservação em grande escala para a Caatinga. Tópicos Sugeridos para Discussão no Seminário · Necessidade de criar novas UC’s na Caatinga. · Recomendações para novas unidades: definição dos alvos a serem protegidos (espécies, locais de reprodução de espécies migratórias, comunidades, ecossistemas, processos ecológicos, outros…), local, tamanho, categoria da UC, recomendações especiais. · Papel das áreas particulares (rede de áreas protegidas, corredores, outros…) na conservação da Caatinga. · Recomendações para solucionar/prevenir os problemas mais comuns das UC’s da Caatinga. · Estratégias de implementação e financiamento de áreas protegidas. · Estratégias para ações de conservação na Caatinga. 9