Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Diagnóstico Social Do Concelho do Barreiro 1 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro ÍNDICE GERAL Pág. I – INTRODUÇÃO........................................................................................... 14 II – ENQUADRAMENTO PROGRAMÁTICO ................................................. 18 III – OPÇÕES TÉCNICAS E METODOLÓGICAS ......................................... 24 IV – BARREIRO – Passado, Presente e Futuro... ...................................... 33 V – ÁREAS DE INTERVENÇÃO PRIORITÁRIAS – Caracterização 1. TERCEIRA IDADE .............................................................................. 66 2. INFÂNCIA E JUVENTUDE / EDUCAÇÃO ......................................... 103 3. TOXICODEPENDÊNCIAS ................................................................ 150 4. DEFICIÊNCIA E SAÚDE MENTAL .................................................. 196 VI – CONCLUSÕES FINAIS …................................................................... 220 VII – BIBLIOGRAFIA ………………………………………………………….. 227 VIII – ANEXOS (Documento à parte) ÍNDICE DE QUADROS 2 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Pág. Quadro 01 – Evolução da população residente na Península de Setúbal 1960/2001; Peso de cada concelho; Total da população na AML e Taxa de crescimento inter-censos “ 39 02 – Densidade populacional, por concelhos da Península de Setúbal (hab./Km2) 41 “ 03 – População residente por freguesia, 1991/2001 42 “ 04 – Populção residente por grupos etários 45 “ 05 – Índices de Dependência do Concelho do Barreiro e Península de Setúbal “ 06 – Taxa de Crescimento dos grupos etários, no Concelho do Barreiro, por freguesia -1991/2001 “ “ 08 – Índices de Dependência por freguesia, em 2001 “ 09 – Proporções etárias por freguesia, 1991/2001 “ 10 – Famílias Clássicas, segundo o tipo de família, no Concelho do Barreiro, em 2001 “ 12 – Especializações e hierarquia dos Pólos concelhios “ 13 – População idosa no Concelho do Barreiro, por grupos etários e por sexo, em 2001 50 51/52 53 55 57 70 14 – Estado civil da população idosa, no Concelho do Barreiro, por grupos etários e por sexo, em 2001 “ 49 11 – Famílias Clássicas com um só elemento, no Concelho do Barreiro, em 2001 “ 48 07 – Distribuição da população segundo os grupos etários no Concelho do Barreiro, por freguesia, em 2001 “ 46 70 15 – Nível de instrução da população idosa, no Concelho 3 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro do Barreiro, por grupos etários e por sexo, em 2001 “ 16 – População idosa, segundo o grupo sócio-económico, no Concelho do Barreiro, por sexo, em 2001 “ 75 19 – Famílias Clássicas com pessoas com 65 e mais anos, no Concelho do Barreiro, segundo o tipo de família, em 2001 “ 74 18 – Famílias Clássicas no Concelho do Barreiro, com pessoas com 65 e mais anos, em 2001 “ 73 17 – Famílias Clássicas, por tipologia, no Concelho do Barreiro (por freguesia), em 2001 (e a respectiva evolução face a 1991) “ 71 75 20 – Valências de apoio à população idosa, no Concelho do Barreiro, por freguesia, segundo a natureza jurídica das Instituições, em 2004 “ 21 – Caracterização dos idosos das IPSS’s, por sexo e idade, em 2005 “ 80 83 22 – Composição do agregado familiar dos idosos das IPSS’s, em 2005 85 “ 23 – Proveniência dos idosos das IPSS’s, em 2005 86 “ 24 – Razão da institucionalização dos idosos das IPSS’s, em 2005 86 “ 25 – Caracterização dos utentes das Associações, por sexo e idade, em 2005 “ 95 26 – Concelhos em situações mais desfavoráveis relativamente à Escolarização, segundo a tipologia de Territórios Ameaçadores e Atractivos, 2004 “ 106 27 – População residente, segundo os grupos etários entre 4 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro 0 a 24 anos, por freguesia, em 2001 “ 28 – Respostas de Creche, no Concelho do Barreiro, da Rede de Solidariedade, por freguesia e frequência, em 2005 “ 111 29 – Lista de espera para Creche, na Rede de Solidariedade em 2005 “ 108 112 30 – Estabelecimentos Privados com fins lucrativos (com alvará da Segurança Social), no Concelho do Barreiro, por freguesia e frequência, em 2005 “ 31 – Nº de Estabelecimentos e lugares de Creche no Concelho do Barreiro, em 2005 “ 113 113 32 – Resposta de Pré-escolar da Rede de Solidariedade, no Concelho do Barreiro, por freguesia e frequência, em 2004 116 “ 33 – Resposta de Pré-escolar da Rede Pública, no Concelho do Barreiro, por freguesia e agrupamento de escolas, 2004/05 117 “ 34 – Taxa de Cobertura do Pré-Escolar, no Concelho do Barreiro, por entidades tutelares, 2004/05 “ 118 35 – Acção Social escolar no 1º Ciclo do Ensino Básico (escalão A e B), no Concelho do Barreiro, por Agrupamento de Escolas, 2004/05 “ 36 – Alunos com Necessidades Educativas Especiais, no Concelho do Barreiro, por Agrupamento de Escolas, 2004/05 “ 127 37 – Absentismo e Abandono escolar, registado pela CPCJ até 30 de Outubro de 2003 “ 126 130 38 – Frequência de alunos da Escola Profissional Bento de Jesus 5 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Caraça, por cursos, 2004/2005 “ 39 – Cursos promovidos pela OLEFA do Barreiro, em 2005 “ 40 – ATL, em Estabelecimentos lucrativos (com alvará da 131 135 Segurança Social), na Rede de Solidariedade, Oficiais, por freguesia e capacidade “ 41 – Alunos do ensino Pré-escolar e 1º Ciclo do Ensino Básico abrangidos pelo Projecto “Escolas Barreiro”, 2004/05 “ 42 – Lares de crianças e jovens da Rede de Solidariedade, 2004 “ 43 – Centros de Apoio Preventivo e de Acolhimento para crianças e jovens em risco, 2004 “ 137 138 141 142 44 – Toxicodependências no Concelho do Barreiro, por freguesia, segundo o nº de inquiridos, em 2005 “ 153 45 – Indicadores relacionados com as consequências sanitárias do consumo 156 “ 46 – Portadores de HIV, em 2004, segundo dados do CAT 159 “ 47 – Vacina de Hipate B, em 2004, segundo dados do CAT 159 “ 48 – Rastreio da Tuberculose, em 2004, segundo dados do CAT 159 “ 49 – Indicadores relacionados com as consequências legais do tráfico e consumo, em 2001 “ 50 – ESPAD 2003 – Consumo intensivo de alcóol: evolução de 1999 para 2003 “ 167 51 – Prevalências ao longo da vida, evolução de 1999 para 2003 (consumo de drogas) “ 162 168 52 – População toxicodependente acompanhada pelo Serviço 6 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro de Acção Social do Barreiro, por grupo etário, em 2002 “ 177 53 – População toxicodependente acompanhada pelo Serviço de Acção Social do Barreiro, segundo o estado civil, em 2002 “ 178 54 – População toxicodependente acompanhada pelo Serviço de Acção Social do Barreiro, segundo o grupo etário, com filhos e sem filhos, em 2002 “ 178 55 – População toxicodependente acompanhada pelo Serviço de Acção Social do Barreiro, segundo as habilitações, literárias, em 2002 “ 178 56 – População toxicodependente acompanhada pelo Serviço de Acção Social do Barreiro, segundo a situação profissional, em 2002 “ 178 57 – População toxicodependente acompanhada pelo Serviço de Acção Social do Barreiro, por prestações sociais, em 2002 “ 179 58 – População toxicodependente acompanhada pelo Serviço de Acção Social do Barreiro, em processo de tratamento, em 2002 “ 179 59 – População toxicodependente acompanhada pelo Serviço de Acção Social do Barreiro, em frequência de Programa de Inserção, em 2002 “ 60 – Nº de utentes atendidos pelo CAT do Barreiro, segundo o Grupo etário, entre 2001 e Maio/2004 “ 179 180 61 – Nº de utentes atendidos pelo CAT do Barreiro, segundo o 7 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro estado civil, entre 2001 e Maio/2004 “ 62 – Nº de utentes atendidos pelo CAT do Barreiro, segundo as habilitações literárias, entre 2001 e Maio/2004 “ 180 63 – Nº de utentes atendidos pelo CAT do Barreiro, segundo a situação profissional, entre 2001 e Maio/2004 “ 180 181 64 – Nº de utentes atendidos pelo CAT do Barreiro, segundo o tipo de substâncias consumidas, entre 2001 e Maio/2004 “ 65 – CAT, distribuição por substâncias consumidas nos últimos dias (excluindo o tabaco) de 2001 a Maio/2004 “ “ 70 – CAT, tratamentos prévios, de 2001 a Maio/2004 “ 71 – CAT, residência dos utentes, por freguesia, de 2001 a Maio/2004 183 184 184 72 – Indivíduos acompanhados pelo Centro Jovem Tejo, segundo os grupos etários, Fev/2002 “ 183 69 – CAT, via de consumo de cocaína nos últimos 30 dias, de 2001 a Maio/2004 “ 183 68 – CAT, via de consumo de heroína substâncias nos últimos 30 Dias, de 2001 a Maio/2004 “ 182 67 – CAT, via de consumo de substâncias nos últimos 30 dias, de 2001 a Maio/2004 “ 182 66 – CAT, substâncias consumidas: idade de início e anos de de consumo, de 2001 a Maio/2004 “ 181 185 73 – Nº de processos de contra-ordenação da Comissão para a 8 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Dissuasão da Toxicodependência, segundo os grupos etários dos indivíduos, entre 2001-2002 “ 185 74 – Nº de processos de contra-ordenação da Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência, segundo o sexo dos indivíduos, entre 2001-2002 “ 186 75 – Nº de processos de contra-ordenação da Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência, segundo o estado civil dos indivíduos, entre 2001-2002 “ 186 76 – Nº de processos de contra-ordenação da Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência, segundo as substâncias mais consumidas, entre 2001-2002 “ 186 77 – Nº de autos remetidos pela Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência, do Distrito de Setúbal, entre 2001-2002 “ 187 78 – Nº de pessoas com deficiência, no Concelho do Barreiro, comparativamente à Sub-Região de Saúde e ao Continente, em 2001 “ 79 – População deficiente residente, segundo o tipo de deficiência, por grupos etários, em 2001 “ 206 81 – População deficiente, com 15 e mais anos, por condição perante a actividade económica, em 2001 “ 199 80 – População deficiente residente, com 15 e mais anos, segundo o tipo de deficiência, por principal meio de vida, em 2001 “ 198 207 82 – Respostas Sociais, na Área da Deficiência e Saúde Mental, 9 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Segundo a capacidade e lista de espera, em 2005 211 ÍNDICE DE GRÁFICOS 10 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Pág. Gráfico 01 – Variação da população residente, por freguesia 1991-2001 42 “ 02 - % da população residente, por freguesia, em 2001 43 “ 03 – População residente, segundo os grupos etários 51 “ 04 – Instituições da Rede de Solidariedade; de Tipo Associativo e Estabelecimentos com fins lucrativos (com alvará da Seg. Social) de apoio a idosos, no Concelho do Barreiro “ 05 – Idade dos idosos inquiridos das IPSS’s, em 2005 “ 06 – Local de residência dos idosos das IPSS’s, por concelho e freguesia, em 2005 78 83 84 “ 07 – Rendimento por idoso das IPSS’s, em 2005 87 “ 08 – Tipo de dependência dos idosos das IPSS’s, em 2005 89 “ 09 – Patologias com maior incidência dos Idosos das IPSS’s, 2005 90 “ 10 – Nº de homens em lista de espera nas valências das IPSS’s com idosos, em 2005 “ 11 – Nº de mulheres em lista de espera nas valências das IPSS’s com idosos, em 2005 “ 96 14 – Rendimento por utente das Instituições de Tipo Associativo em 2005 “ 96 13 – Local de residência dos utentes das Instituições de Tipo Associativo, por concelho e freguesia “ 92 12 – Idade dos utentes inquiridos das Instituições de Tipo Associativo “ 92 97 15 – População residente no Concelho do Barreiro, segundo o nível 11 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro de instrução, em 2001 “ 16 – População deficiente, por tipo de deficiência e grupo etário, em 2001 “ 105 199 17 – População deficiente residente, segundo as acessibilidades dos edifícios, em 2001 204 12 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro _________________________________________ INTRODUÇÃO _________________________________ I - INTRODUÇÃO 13 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro O presente estudo de Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro surge, por um lado, na sequência da primeira etapa do processo de planeamento da intervenção social, isto é, do Pré - Diagnóstico aprovado em 25/05/2004 pelo Concelho Local de Acção Social do Barreiro e que teve como finalidade recolher, sistematizar e centralizar um vasto leque de indicadores e informações disponíveis nos diversos serviços e instituições locais, bem como determinar o enfoque principal do Diagnóstico. E, por outro lado, no âmbito de uma exigência estrutural do Programa da Rede Social, ao qual o Concelho aderiu no início do ano de 2003, por vontade expressa da Câmara Municipal. Neste contexto, foi sugerida pelo Instituto da Segurança Social, estrutura dinamizadora do Programa a nível nacional, a construção de um Diagnóstico enquanto momento fundamental de um processo de planeamento estratégico da intervenção social, processo esse que teria como grande objectivo o desenho do Plano de Desenvolvimento Social. No caso do Concelho do Barreiro, optou o Secretariado Técnico, em conjunto com o Núcleo Executivo do Conselho Local de Acção Social, por desenvolver para a elaboração deste estudo, um trabalho que valoriza a corresponsabilização, participação e implicação dos actores sociais locais. O estudo apresenta conhecimento, cada como grande vez mais finalidade a aprofundado promoção e de um cientificamente fundamentado das dinâmicas sociais concelhias e dos fenómenos que as integram, por forma a proporcionar uma maior racionalização da intervenção social no Concelho e a garantir uma, cada vez maior, adequabilidade das acções às necessidades locais. No contexto do Programa de Implementação da Rede Social, esta promoção passa pela análise e dinamização de redes concelhias de solidariedade social, integradoras de objectivos, recursos e sinergias locais. 14 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro É, por isso, este diagnóstico, um estudo balizado por uma visão territorialista e localizada da mudança social, visão essa caracterizada essencialmente, por: 1) uma articulação das tomadas de decisão e dos trabalhos desenvolvidos pelos diferentes serviços e instituições que operam na área do social; 2) uma articulação entre o local e o global; 3) um especial destaque e valorização das potencialidades locais; 4) uma definição de desenvolvimento pelas capacidades dos actores sociais locais; 5) e, finalmente, caracterizada por uma lógica de planeamento de “baixo para cima” (from below). Por conseguinte, como objectivos estratégicos, o presente estudo de diagnóstico social chama a si: 1) Identificar os problemas e necessidades de intervenção prioritária no Concelho do Barreiro e as causalidades a ele associadas; 2) Proceder a uma análise estratégica das potencialidades, debilidades, oportunidades e ameaças actuais e futuras para o Concelho. O trabalho realizado para a concretização do Diagnóstico assumiu como princípio fundamental o de conhecer para agir. Por conseguinte, o estudo está, incondicionalmente, ligado com a etapa seguinte de elaboração do Plano de Desenvolvimento Social, estando todo o trabalho orientado nesse sentido, por forma a tornar a intervenção local mais adequada e eficaz através do delinear de eixos estratégicos de acção prioritária. Com este estudo, procura-se, igualmente, promover uma maior consciencialização dos actores sociais locais e da população em geral, das reais necessidades do Concelho e da importância do Plano de Desenvolvimento social, para a melhoria da sua qualidade de vida, enquanto cidadãos residentes no Barreiro. O estudo que aqui se apresenta não é um fim em si mesmo, é antes, um instrumento de pesquisa que permitirá delinear acções mais adequadas à realidade do Concelho do Barreiro, e, ao mesmo um instrumento de planeamento vocacionado para a elaboração, como já foi referido, do Plano de 15 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Desenvolvimento Social concelhio e para uma futura articulação com outros instrumentos de planeamento municipais, nomeadamente, com o Plano Director Municipal e com o Plano Estratégico Concelhio, no âmbito, sobretudo, das quatro grandes áreas de intervenção prioritárias, que constituem o núcleo duro do Diagnóstico Social e que se encontram sistematizadas no capítulo V. Em termos metodológicos, as opções recaíram sobre metodologias qualitativas de recolha de informação e metodologias participativas que privilegiaram o trabalho com um sem número de serviços e instituições do concelho, nas pessoas dos seus directores e técnicos, bem como com a população alvo objecto deste estudo. Os primeiros, porque são detentores de informações detalhadas sobre o sistema social concelhio, sobre a contextualização desse mesmo sistema e sobre as dinâmicas que nele operam; os segundos porque vivem e sentem directamente as realidades analisadas. Para a concretização do modelo de recolha de informação que suporta o documento que aqui se apresenta, foi definido um horizonte temporal de 6 meses (Junho a Dezembro de 2004), sendo que esse período contemplava o desenho do modelo, a sua implementação, a análise dos resultados obtidos em redacção do documento final. Contudo, tal período foi largamente ultrapassado devido a variados factores. De facto, a par de todo este trabalho, foi necessário implementar diversas propostas sugeridas e aprovadas por todos os parceiros nas sessões plenárias do Conselho local de Acção Social e que na sua execução envolveram os membros do Secretariado Técnico e Núcleo Executivo. Todo o trabalho que agora se apresenta foi desenvolvido em estreita colaboração com o Núcleo Executivo, o que permitiu uma maior reflexão sobre os métodos e técnicas aplicados, sendo que todas as opções tomadas, quer a nível do estudo, quer a nível da operacionalização de algumas respostas, foram fruto de um consenso entre este núcleo e o secretariado técnico. 16 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro _________________________________________ ENQUADRAMENTO PROGRAMÁTICO _________________________________ 17 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro II - ENQUADRAMENTO PROGRAMÁTICO O Concelho do Barreiro aderiu, no início do ano de 2003, ao Programa da Rede Social, integrando a sua 3.º fase de alargamento. Suportado legalmente pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 197/97 de 18 de Novembro (ver apêndice), a Rede Social é um programa que se enquadra numa nova dinâmica de intervenção social que se pretende planeada estrategicamente e, acima de tudo, participada pelos mais diversos sectores da vida social local. Assumindo como grande finalidade fazer face à pobreza e exclusão social numa lógica de desenvolvimento local, a Rede Social surge num novo contexto de políticas sociais activas vocacionadas para a optimização dos meios de intervenção local, para a consciencialização colectiva sobre os problemas e necessidades das comunidades e para a dinamização dos vários agentes de desenvolvimento social. Induzir o diagnóstico e o planeamento participados Potenciar e divulgar o conhecimento sobre as realidades concelhias Promover uma cobertura adequada do concelho por serviços e equipamentos REDE SOCIAL Objectivos Específicos Promover a coordenação das intervenções ao nível concelhio e de freguesia Formar e qualificar agentes envolvidos nos processos de desenvolvimento local Procurar as soluções mais adequadas aos problemas das pessoas em situação de exclusão 18 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Esta finalidade desdobra-se em 6 objectivos específicos accionados através de uma metodologia de planeamento cujos instrumentos fundamentais são o Diagnóstico Social e o Plano de Desenvolvimento Social. Pretende-se, ainda, que o Programa da Rede Social contribua para que o desenvolvimento social local seja planeado em função das demais dinâmicas locais e se articule, de forma clara, com outros instrumentos de planeamento (locais, regionais e nacionais) dos quais são exemplo os PDM’s e os Planos Estratégicos. Esta filosofia de acção materializa-se na constituição de dois tipos de estruturas locais: o Conselho Local de Acção Social e as Comissões Sociais de Freguesia, ambas com Regulamentos Internos próprios, mas que se articulam entre si. São estruturas que representam plataformas de planeamento e coordenação da intervenção social, respectivamente, a nível concelhio e de freguesia. O Conselho Local de Acção Social do Barreiro, constituído no dia 7 de Outubro de 2003, funciona com um órgão plenário com competências deliberativas, um órgão executivo, um secretariado técnico e os grupos de trabalho que se considere necessário criar em função de problemas e necessidades específicos. O modo de funcionamento deste organismo – Regulamento Interno – foi definido pelos parceiros na data supra mencionada. Com a criação destas estruturas, prevê-se que a Rede Social produza diversos impactos inovadores no campo da intervenção social, e dos quais se destacam aqui apenas alguns: • Possibilitar a articulação e adaptação das políticas e medidas de âmbito nacional com problemas e necessidades locais; • Aumentar a capacidade de detecção e resolução de problemas individuais, gerando respostas específicas para necessidades específicas; 19 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro • Transformar a cultura e práticas dos serviços e instituições locais, no sentido de uma maior transparência e de abertura às outras entidades e às populações; • Implementar sistemas de informação eficazes, permitindo a produção e actualização de diagnósticos locais, bem como a difusão de informação a todos os agentes e entidades interessados; • Incrementar a participação e mobilização dos destinatários dos programas e projectos de intervenção social. São impactos de médio/longo prazo, que implicam um forte empenho por parte do Conselho Local de Acção Social e das futuras Comissões Sociais de Freguesia. O estudo de Diagnóstico que aqui se apresenta constitui a segunda etapa do processo de planeamento da intervenção social no Concelho do Barreiro. ETAPAS DO PROCESSO DE PLANEAMENTO DA INTERVENÇÃO SOCIAL NO CONCELHO DO BARREIRO DIAGNÓSTICO SOCIAL PLANO DE DESENVOLVIMENTO SOCIAL (PDS) AVALIAÇÃO SISTEMA DE INFORMAÇÃO PRÉ-DIAGNÓSTICO SOCIAL 20 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Trata-se da etapa que se segue ao Pré - Diagnóstico aprovado em 25/05/04 e prepara a definição de estratégias do Plano de Desenvolvimento Social do Concelho do Barreiro. A elaboração de um Diagnóstico Social, complementado pelo Pré Diagnóstico, permite avaliar a situação actual do sistema social do Concelho, proporcionando um conhecimento aprofundado dos recursos, problemas e necessidades existentes, bem como uma definição mais adequada das prioridades de intervenção. A informação recolhida no momento inicial do processo de planeamento é materializada num Sistema de Informação dinâmico. Sendo este um instrumento de trabalho que compila dados sobre as mais variadas áreas problemáticas, deve estar ao dispor de todos os actores sociais locais e da população em geral, dedicando-se especial atenção para as formas de divulgação do seu conteúdo. O Sistema de Informação proporciona, igualmente, a criação de canais de recolha e partilha de informação, sendo este o veículo privilegiado de actualização permanente do Diagnóstico Social elaborado inicialmente. O Plano de Desenvolvimento Social que nasce, no caso do Concelho do Barreiro, da constituição do segundo instrumento de planeamento e com o qual deve manter uma articulação estreita, constitui o local ideal de definição de estratégias de actuação, bem como de linhas de acção delineadas em função dos problemas e necessidades identificados no Diagnóstico. Este plano constitui, igualmente, o local privilegiado de clarificação dos papéis de cada actor social no modelo de desenvolvimento local a definir e nas actividades planificadas. A avaliação permanente que todo este processo de planeamento contempla, bem como, das acções realizadas, com vista à resolução dos problemas e minimização das necessidades locais, é, ela própria, um processo de planeamento que tem como funções principais: 1) permitir um aprofundamento do Diagnóstico; 2) monitorizar as acções definidas; 3) proceder a um 21 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro acompanhamento formativo do processo de planeamento, o que permitirá o ajustamento do processo à medida que ele for sendo desenvolvido. Depois de cumpridas todas as etapas previstas, retomar-se-á o processo a partir do Diagnóstico Social, e assim por diante, cumprindo-se novamente todas as etapas, com a excepção do sistema de informação. Este deverá já estar criado, sendo necessário apenas mantê-lo actualizado, alimentando-o periodicamente. 22 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro _________________________________________ OPÇÕES TÉCNICAS E METODOLÓGICAS _________________________________ 23 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro III - OPÇÕES TÉCNICAS E METODOLÓGICAS A elaboração de um estudo de Diagnóstico Social não é, sem dúvida, tarefa fácil, exigindo, para o efeito, metodologias de trabalho que permitam incorporar a multidimensionalidade dos fenómenos e dinâmicas sociais. O conhecimento destas dinâmicas é um problema complexo que exige conhecimentos teóricos e metodológicos com alguma profundidade. Neste sentido, a equipa que elaborou este Diagnóstico do Concelho do Barreiro considerou pertinente clarificar, justificar e enquadrar as opções metodológicas do estudo reservando um espaço próprio para tecer os devidos esclarecimentos. Nas metodologias de investigação–acção, a etapa de Diagnóstico representa a necessidade de melhor conhecer as dinâmicas sociais sobre as quais se pretender intervir. Procura-se que este conhecimento seja cientificamente fundamentado, com um forte suporte teórico e que consiga dar conta da crescente complexidade do real para que, desta forma, seja possível desenhar intervenções mais adequadas e realistas. O Diagnóstico da situação implica um processo de investigação–acção participado e dinâmico, onde os actores sociais do sistema em estudo dão um forte contributo com o conhecimento que têm da situação. O facto de se pretender um diagnóstico cientificamente fundamentado, não exclui o contributo do senso comum, muito pelo contrário. Este deve ser reabilitado pelos investigadores não para ficar nele, mas para, a partir dele, dar conta dos problemas e necessidades locais e construir um conhecimento científico dos fenómenos e dinâmicas sociais. Para além da preocupação do diagnóstico fornecer um tipo de conhecimento específico sobre as quatro áreas de intervenção analisadas, existe a preocupação de o elaborar de forma clara e participada e que permita uma fácil apropriação por parte dos actores sociais. 24 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Este paradigma emergente, que rege o estudo de Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro, está, assim, ancorado num estilo de planeamento que apela à mobilização das características e capacidades distintas do concelho, bem como das estruturas sociais e políticas locais – autarquias, instituições e associações de solidariedade social, organismos e serviços descentralizados da administração local, etc. Ganham, desta forma, um novo protagonismo as instituições e organizações locais, o que se enquadra perfeitamente na filosofia do Programa da Rede Social. Este protagonismo torna-se particularmente relevante no que se refere a estratégias de desenvolvimento local, a novos pólos de exercício de democracia e a novos modos de regulação social. O trabalho em rede dos diferentes actores locais assume, neste enquadramento, particular importância. Relativamente à recolha e análise da informação, ela é central quando se fala em diagnóstico. Com efeito, a informação pode condicionar todo o processo caso esta não seja fornecida, seja incompleta ou mesma incorrecta. Deve, nesta medida, procurar encontrar-se o maior número possível de fontes de informação e diversificar a informação para numa fase posterior a poder cruzar e produzir uma análise mais rica e diversificada. Daí que, o diagnóstico, tal como todo o processo de planeamento, deve ser sistémico e global, incluindo informação sobre o concelho e a sua envolvente. 3.1. Métodos e Técnicas Num estudo de Diagnóstico Social pode recorrer-se a uma panóplia de métodos e técnicas de recolha de informação. De entre esses métodos e técnicas a equipa de investigação, em conjunto com o Núcleo Executivo, accionou a análise documental e estatística, as entrevistas exploratórias a interlocutores privilegiados, os inquéritos por questionário, utilizando ainda uma série de técnicas de trabalho em grupo. Nestes grupos de 25 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro trabalho estão representados os actores que constituem o tecido social objecto deste estudo e nos quais podem expressar e debater os seus problemas e necessidades, expectativas, opiniões, etc. Em seguida apresenta-se os métodos e técnicas seleccionados para o estudo de Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro. 3.1.1. Entrevista a Interlocutores Privilegiados 1 A entrevista enquanto método de trabalho, foi accionada para o estudo de diagnóstico social do Concelho do Barreiro, porque se entendeu que poderia contribuir, fortemente, para uma listagem, relativamente exaustiva, dos problemas e necessidades, e potencialidades do Concelho. A montagem desta entrevista, assente num guião previamente elaborado, obedeceu a uma técnica não directiva ao nível das temáticas, realizada a um conjunto de interlocutores privilegiados, que foram considerados como intervenientes activos no desenvolvimento do Concelho e aptos a fornecer conhecimentos considerados pertinentes para o estudo. Pese embora o facto de esta ser uma entrevista aberta, tornou-se necessária a construção de um guião de entrevista que assumisse a função de um guia geral ou específico de conversação, consoante os destinatários da mesma, com alguns temas de referência a serem abordados durante a entrevista. São entrevistas sem perguntas previamente estabelecidas, sendo proposto aos entrevistados que produzissem um discurso “solto” sobre os problemas objecto deste estudo no Concelho do Barreiro, dando simultaneamente uma perspectiva sobre esses mesmos problemas (causas, efeitos, população abrangida, âmbito territorial). Para além das questões relacionadas com os problemas, necessidades e potencialidades do Concelho, foi sugerido que os entrevistados dessem alguma informação sobre a realidade da instituição que 1 Cf. Anexo I e II, do qual fazem parte os Guiões de entrevista e a Lista de Entrevistados 26 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro representa, nomeadamente ao nível dos recursos disponíveis, das parcerias, dos projectos das acções, dos objectivos e das principais dificuldades que encontram na concretização desses mesmos objectivos. Estas entrevistas constituíram, igualmente, uma oportunidade de esclarecimento de todos os actores sociais sobre o estudo em questão e sobre o próprio Programa da Rede Social. No que diz respeito aos obstáculos encontrados na aplicação desta técnica, verificaram-se alguns atrasos na sua concretização, já que os actores sociais escolhidos tinham agendas muito preenchidas. Contudo, o importante foi que todo o Concelho, nas pessoas dos seus interlocutores sociais, estivesse motivado e informado sobre o estudo. Características das entrevistas: - Face – a – face - Individual - Não directiva - Duração média de cada entrevista: 2 horas - Forma de registo da informação: gravação ou registo escrito - Número de entrevistados - Intervalo de tempo destinado à aplicação da técnica: 4 meses (inclui a análise da informação) Toda a informação recolhida foi sujeita a uma análise de conteúdo predominantemente temática, que permite conciliar a objectividade mais rigorosa com a riqueza da subjectividade. Este tipo de análise permite respeitar a singularidade dos discursos através de dois processos: uma análise vertical, que garante a lógica interna e individualizada de cada entrevista, e uma análise horizontal que proporciona o cruzamento da diversidade dos discursos, permitindo evidenciar os traços comuns e os traços divergentes, isto é, aquilo que aproxima e afasta os actores entre si. 27 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro 3.1.2. Aprofundamento da Recolha de Informação Estatística e Documental Este aprofundamento prosseguiu o estilo de trabalho já iniciado na fase de Pré –Diagnóstico. Pretendeu-se com esta frente de trabalho, completar a recolha de toda a informação quantitativa disponível sobre o Concelho, complementando-a com a informação qualitativa recolhida e analisá-la à luz dos problemas e necessidades identificados, fazendo uso, para o efeito, de vários documentos: - Proposta Plano Director Municipal (em discussão); - Plano Estratégico para o Desenvolvimento da Península de Setúbal; - Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa; - Plano Estratégico do Concelho do Barreiro; - Carta Social; - Tipificação das Situações de Exclusão em Portugal Continental - Artigos de Opinião. A análise da informação recolhida com referência a alguma desta documentação permitiu formular e quantificar algumas necessidades, comparando o estado actual (averiguado através da recolha de informação), com o estado desejável (informação fornecida pelo documento DGOTDU). 3.1.3. Inquérito por Questionário 2 Utilizou-se um inquérito por questionário previamente estruturado em sede de cada grupo de trabalho e aplicado pelos mesmos. Deste instrumento foram apenas tratadas algumas questões consideradas pertinentes pelo Núcleo Executivo e pela equipa de investigação para o presente estudo, a saber: algumas dimensões da matriz SWOT, os problemas 2 Cf. Anexo III, do qual fazem parte os questionários aplicados. 28 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro e necessidades detectadas aquando do Pré - Diagnóstico, para além de outras dimensões que os grupos consideraram importantes para aferir sobre cada problemática específica. Para além de observar a realidade através das dimensões e categorias acima descritas, os questionários tinham com objectivo, aferir de uma forma geral a situação social das populações alvo. Características: • Inquérito constituído por um questionário de âmbito quantitativo; • Elaborado e aplicado pelos grupos de trabalho; • Intervalo de tempo destinado à aplicação da técnica: dois meses e meio (inclui a elaboração e análise); • Número de pessoas inquiridas representativas da população-alvo: - 96 pessoas (Deficiência e Saúde Mental); - 253 utentes (Centro de Dia, Apoio Domiciliário, Lares Residenciais das IPSS’S e Centros de Convívio das Associações de Reformados; - 546 alunos (Infância e Juventude/ Educação – Pré-escolar, Ensino Básico, Secundário, e Superior); - 71 individuos toxicodependentes acompanhados (Toxicodependência). 3.1.4. A Técnica SWOT 3 A aplicação da Técnica SWOT, técnica específica de planeamento estratégico, implicou a elaboração de uma grelha de trabalho analisada nas reuniões do grupo de cada problemática e onde se aplicou a técnica do grupo nominal. Com a aplicação da matriz a equipa de investigação, em conjunto com os coordenadores dos grupos, procurou descortinar as potencialidades (pontos 3 Cf. Anexo IV, do qual faz parte a Grelha de Recolha de Informação aplicada. 29 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro fortes), e as fraquezas (pontos fracos), as oportunidades e ameaças que o Concelho enfrenta, ou poderá vir a enfrentar no futuro (5-8 anos), para conseguir fazer face aos problemas e necessidades, alvo do estudo. As reuniões de aplicação da matriz foram realizadas com um número de participantes limitado, sendo convidadas pessoas que detinham um conhecimento aprofundado sobre a realidade do concelho para cada uma das problemáticas postas à discussão. Características: - Reuniões temáticas; - Nº de participantes: 10-15; - Duração média de cada reunião: 2 horas e meia; - Forma de registo da informação: painel de visualização; - Intervalo de tempo estipulado para a aplicação da técnica: 2 meses (inclui a análise da informação). A equipa de Diagnóstico acredita que para o momento do Diagnóstico Social em que nos encontramos, esta é a estratégia de recolha de dados que mais se ajusta aos objectivos delineados, em função do apurado já em sede de Pré – Diagnóstico. Todos os métodos e técnicas aplicados neste estudo, foram alvo de discussão e debate no Núcleo Executivo, com a equipa de investigação responsável pela elaboração das propostas de métodos e técnicas, e incumbida de dinamizar e analisar com o mesmo a informação deles resultante. Para além das funções já referidas, este grupo, procurou motivar e implicar os serviços e instituições que representavam; apoiar a dinamização das técnicas de grupo, bem como accionar o plano de avaliação do estudo, que permite acompanhar o evoluir dos trabalhos, bem como o cumprimento dos prazos e objectivos inicialmente estipulados. 30 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro No intúito de manter motivados tanto técnicos como decisores, assim como aferir a qualidade da informação recolhida e identificação com a mesma foi elaborada uma apresentação intermédia, de síntese da evolução dos trabalhos, em sessão plenária do Conselho Local de Acção Social. No final dos trabalhos, a versão preliminar deste estudo, escrito pela equipa de investigação, foi a exemplo do que foi feito para o Pré-Diagnóstico, posto à discussão no seio do Núcleo Executivo, para que desta forma pudessem ser introduzidas alterações consideradas importantes. Após a discussão da versão preliminar, foi redigida a versão final do documento, bem como a síntese da mesma, a qual será distribuída a todos os serviços e instituições aderentes à Rede Social do Barreiro, por via postal. Para que todos os parceiros tivessem a possibilidade de, ainda nesta fase, introduzir alterações consideradas importantes, e para que o documento tivesse a divulgação necessária foi planeada e realizada uma sessão pública de apresentação e aprovação do documento. Para além desta forma de divulgação dos resultados, recorrer-se-á, mais uma vez, a outros expedientes, como os média, o Boletim Municipal e o Boletim da Rede Social do Barreiro, a Internet, entre outros. A própria Biblioteca Municipal poderá constituir um excelente veículo de divulgação do estudo. 31 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro _________________________________________ BARREIRO, Passado,presente e futuro _________________________________ 32 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro IV - BARREIRO - Passado, Presente e Futuro… O Concelho do Barreiro associado durante muito tempo a uma imagem de vítima de resíduos poluentes assume o seu passado mas volta agora para nós um rosto diferente. A história do Concelho do Barreiro é uma história bastante rica, complexa e com tradições muito próprias, como a das lutas operárias de que justamente se orgulha. Vale a pena revisitar os momentos principais e imaginar as mudanças a que o seu povo trabalhador foi submetido de cada vez que uma novidade se apresentava como oportunidade a não perder. A primeira oportunidade foi a da terra e a da água, tão abundante, tão à mão de semear. As mais antigas referências ao topónimo Barreiro aparecem em documentos medievais da Ordem de Santiago, identificando um lugar onde a economia disponível era a da exploração de marinas de sal. As outras vocações naturais, alí à volta, eram claramente, a da pesca, da moagem (por energia das marés ou dos ventos), e em terra firme, as da agricultura (vinhedos, cultivo de cereais e corte de madeiras para lenha). Mas entre a terra e a água, o barro original dos terrenos argilosos não podia deixar de dar origem a uma arte de olaria que remonta à pré-história da região. Há vestígios de antiquíssimas olarias desde o período Neolítico, no lugar da Ponta da Passadeira. E as escavações arqueológicas mais recentes têm estado a desenterrar, na Mata da Machada, o que resta de um importante forno cerâmico que data pelo menos do séc. XV. As moedas encontradas no local permitem afirmar que nestas instalações, entre a segunda metade do séc. XV e a primeira do século seguinte, funcionou activamente uma olaria que produziu inúmeras peças de uso caseiro e artefactos de natureza industrial, bem como as formas cerâmicas utilizadas para a preparação do biscoito seco que constituía, no âmbito da expansão marítima portuguesa, um dos produtos essenciais na dieta das tripulações das nossas naus. 33 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Uma publicação da Câmara Municipal expressamente dedicada a esta tema – “O Barreiro e a Expansão Portuguesa”, conta que o biscoito das naus “era uma espécie de pão feito de trigo, sal e água, de forma achatada, cozido no forno uma ou duas vezes para se conservar durante muito tempo”. Sabe-se que alí, na Mata da Machada, chegaram a laborar 27 fornos de biscoito, cujo edifício principal é hoje parte do Museu do Fuzileiro, da Escola de Fuzileiros Navais de Vale de Zebro. Podemos acrescentar que esta região também produzia vinho, e de boa qualidade. Segundo autores do tempo, citados no referido estudo sobre o “Barreiro e a Expansão Portuguesa”, esse vinho era muito apreciado pelos “senhores & homes mimosos de Flandres & Alemanha”, e nomeadamente os do Seixal se destinavam “à carregação para a Índia”. Tratando-se de navegação, temos de referir os barcos, e o Barreiro tem uma longa tradição nesta matéria, desde a pesca de proximidade, no rio, até à pesca longínqua do bacalhau e, naturalmente, à navegação de carga e aos descobrimentos marítimos de longo curso. Tem também tradição de construção e reparação naval, que chegaram até aos nossos dias, como atestam os estaleiros que funcionaram até meados do séc. XX e topónimos como a Rua das Naus. A observação destas actividades põe diante de nós toda uma variedade de modelos de embarcações, consoante o fim a que eram destinados. Uns desses modelos são os varinos usados, até muito recentemente, para transporte de grandes cargas e de pessoas. O Barreiro orgulha-se justamente do varino “Pestarola” que, depois de adquirido pela autarquia em 1999, passou a ser destinado a viagens de estudo e de lazer, especialmente, destinado à população escolar. Outro dos modelos, não menos significativo, é a chamada “Muleta”, barco típico do Barreiro, construído nos referidos estaleiros. Falta falar dos grandes bacalhoeiros relacionados com a região do Barreiro tanto pela indústria de secagem do bacalhau, que até há pouco tempo ainda se fazia na Azinheira Velha e Santo André, como pela própria construção e 34 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro reparação destas embarcações, que tem aqui tradição desde os estaleiros navais da época dos Descobrimentos. No princípio do séc. XIX, a energia do vapor marcou o início de uma nova era, a da Indústria Moderna, com consequências tanto no transporte como na economia e na utilização da força de trabalho das populações. Antes de falarmos do vapor e do comboio, é preciso dizer, neste ponto, que o Barreiro reivindica a mais antiga das indústrias vidreiras nacionais, anterior mesmo à do vizinho Seixal. A campanha arqueológica dirigida pelo investigador Jorge Custódio na zona de Coina identifica a manufactura Joanina (de D. João V) de vidros, que terá laborado entre 1719 e 1749. A Real Fábrica de Vidros de Coina passou, a partir de 1731, por diversas administrações, sendo depois encerrada naquele local e transferida para a Marinha Grande, onde deu origem a uma tradição que todos conhecemos. A utilização do vapor na nossa navegação fluvial, marcando o princípio do fim do reinado dos barcos à vela, data de 1821, mas só quarenta anos mais tarde é inaugurada a Estação de Caminho de Ferro do Barreiro, tornando a vila a verdadeira porta do caminho para o sul e chamando a si, por consequência, incontáveis indústrias novas que viriam a mudar a sua composição social. A primeira fábrica de cortiça é instalada em 1865, e nos anos 20 do séc. seguinte já existem na região quatro dezenas de fábricas de pranchas e de rolhas, dando trabalho a mais de mil operários. A classe corticeira ficou na história da nossa industrialização como uma das mais organizadas e reivindicativas em matéria de condições de trabalho e direitos cívicos. Em 1907, a recentemente constituída Companhia União Fabril inicia a construção do seu complexo industrial no Barreiro. A compilação do acervo museológico feita pela própria autarquia, conta que numa 1ª fase entraram em laboração as fábricas de óleos destinadas à produção de sabões. Seguiu-se a instalação dos sectores de laminagem de chumbo, de soda, magnésio, ácidos, adubos, refinação de copra, têxteis, metalomecânica e construção naval. 35 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro É verdade que o administrador gerente da CUF, Alfredo da Silva, desenvolveu uma obra social com a instalação de um bairro operário dentro do perímetro das próprias instalações industriais – aliás de acordo com a filosofia dominante na altura, que procurava pacificar o movimento social integrando e fazendo depender o trabalhador da sua empresa para todos os efeitos. Isto não impediu o desenvolvimento de uma consciência de classe que se revelou, ao longo de décadas, uma verdadeira dor de cabeça para o regime. Ficaram na história da região as grandes greves dos anos 40 do século passado, especialmente as do Verão de 1943, que envolveram os operários de muitas instalações industriais do complexo da CUF, além de outras empresas da margem sul, de Lisboa e de diversas outras localidades do País. Como sempre acontece, a evolução económica trouxe coisas boas e coisas más. A industrialização pouco “ecológica” da primeira metade do século findo deu emprego a uma mão-de-obra proveniente do interior, sobretudo do sul e das beiras. A desactivação posterior de muitas dessas industriais (em especial as ligadas aos produtos químicos do complexo da CUF) apagou os fornos poluidores, mas criou inevitavelmente desemprego, enquanto libertava espaços para outras actividades. Na década de 70 o sector industrial entrou em clara recessão, fruto não só da crise internacional mas também da descolonização e da independência das colónias Portuguesas em África, o que perturbou o acesso às matérias-primas e aos mercados coloniais. Em 1975, o sector corticeiro estava quase esvanecido, a CP e a CUF foram nacionalizadas (esta última passou a chamarse Quimigal) e a importância do emprego industrial sofreu um forte revés, por oposição, ao ganho de importância do emprego no sector terciário. Segundo o Plano Director Municipal, os serviços conseguiram, na década de 80, atenuar as perdas com o emprego na indústria, dando origem ao aprofundamento rápido do processo da terciarização, num contexto de lento crescimento do emprego global. O sector terciário representava cerca de 60% do emprego no Concelho do Barreiro. 36 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Verificaram-se dinâmicas de transformação da estrutura empresarial e de reforço do papel das pequenas e médias empresas, em resultado das tendências para a estruturação organizativa das empresas em unidades jurídicas independentes. Em qualquer dos períodos, a Quimigal foi um actor principal das transformações da indústria do Concelho. Primeiro, como principal vector da crise e, mais recentemente, disponibilizando instalações que permitiram o acolhimento de um leque diversificado em termos sectoriais e de dimensão de novas empresas. No que se refere à década de noventa, este foi um período de consolidação das transformações socio-económicas registadas nos oitenta. O Barreiro afirmou-se como um concelho de serviços, pese embora o efeito sombra de Lisboa, resultante da proximidade da capital e da sua macrocefalia e de pequenas e médias empresas nas áreas financeiras (bancos e seguros, por ex.) e comercial. Contudo e pese embora todas estas transformações, projectou-se o crescimento sem que fosse acompanhado do respectivo desenvolvimento económico e social, nem houvesse correspondência directa ao nível das infra estruturas. Factores de depreciação da empregabilidade, o Quimiparque em reestruturação procurando a sua orientação futura, uma rede de acessibilidades composta pela nova ligação Ferroviária Pinhal Novo/ Pragal e a construção do IC32 condicionaram o desenvolvimento do Concelho, tendo perdido a importância que há muito tinha adquirido no Arco Ribeirinho. A perda de população nesta última década, contrariamente ao previsto no actual Plano Director Municipal, aliada à crise da indústria e consequentemente à redução das antigas condições de empregabilidade sem a criação de novas, à crescente mobilidade e acessibilidade a nível regional conferiram ao Barreiro algumas características de Cidade Dormitório. 37 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro 4.1. Demografia e Território O Barreiro faz parte integrante da Área Metropolitana de Lisboa (AML), região que acolhe 18 Concelhos: 7 Concelhos do NUT III Grande Lisboa, 9 do NUT III da Península de Setúbal, Mafra do NUT III Oeste e Azambuja do NUT III Lezíria do Tejo. A evolução demográfica da Área Metropolitana de Lisboa mostra uma clara tendência para a estabilização do volume global da população residente nas primeiras décadas do séc. XXI. No entanto, na Península de Setúbal, mantémse o crescimento demográfico positivo em muitos dos seus Concelhos, depreendendo-se que tal facto seja resultado, sobretudo, de uma procura de melhores condições de habitação e de melhores padrões de vida. Contudo, no contexto da Península, o Concelho do Barreiro contrapõe essa tendência, sendo o único a registar um decréscimento populacional no período inter - censitário de 1991-2001 com -7,9 pontos percentuais, cenário que se acentua desde a década de 80. 38 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 01 - Evolução da população residente na Península de Setúbal 1960/2001, peso de cada concelho no total da população na AML e taxas de crescimento inter-censos4 1960 HM Concelhos 1970 % Var. AML 1960- HM % Var. AML 1970- 70 Península 1981 HM 1991 % Var. AML 1981- 81 HM 2001 % Var. AML 1991- 91 HM % AML 01 291459 19,1 38,2 402940 22,6 45,1 584648 23,4 9,6 640493 25,3 11,6 714589 26,6 Alcochete 9270 0,6 12,3 10 410 0,6 8 11246 0,4 - 9,6 10169 0,4 27,9 13010 0,5 Almada 70968 4,7 51,6 107575 6 37,3 147690 5,9 2,8 151783 6 6,0 160826 6 Barreiro 35088 2,3 59,8 59055 3,3 57,1 88052 3,5 - 2,6 85768 3,4 - 7,9 79011 2,9 Moita 29110 1,9 33,1 38735 2,2 37,4 53240 2,1 22,3 65086 2,6 3,6 67446 2,5 Montijo 30217 2 39,6 42180 2,4 - 12,6 36849 1,5 -2,2 36038 1,4 8,7 39168 1,5 Palmela 23155 1,5 8,0 25015 1,4 47,6 36933 1,5 18,7 43857 1,7 21,6 53352 2 Seixal 20470 1,3 86,1 38090 2,1 134,1 89169 3,6 31,1 116912 4,6 28,5 150272 5,6 Sesimbra 16837 1,1 - 1,1 16650 0,9 38,8 23103 0,9 17,9 27246 1,1 37,9 37567 1,4 Setúbal 56344 3,7 15,8 65230 3,7 50,8 98366 3,9 5,4 103634 4,1 9,9 113937 4,2 AML 1523125 17,0 1781360 40,5 2502044 1,5 2540276 5,6 2682676 Continente 8292977 - 2,0 8123310 14,9 9336760 0,4 9375926 4,9 9833408 de Setúbal 4 Cf: Plano Estratégico para o Desenvolvimento da Península de Setúbal, Associação de Municípios do Distrito de Setúbal, 2004 39 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro O facto de a população residente no Concelho do Barreiro ter vindo a diminuir conduz-nos à conclusão de que este crescimento negativo depende por um lado de dinâmicas migratórias para o interior da Península de Setúbal, fruto da falta de atractividade do Concelho, da perda de postos de trabalho e da procura de melhores condições e mais qualidade de vida e, por outro lado, de dinâmicas naturais. A análise das taxas de natalidade, mortalidade e de excedentes de vida 5, em 2000, permite destacar, pela negativa, em relação aos outros Concelhos da Península, o Barreiro e o Montijo, colocando-os numa posição mais desfavorável ao evidenciarem taxas de excedentes de vidas negativas de 1,0% e 0,3%, respectivamente. Apesar de os dois últimos balanços inter - censitários serem negativos, o Concelho do Barreiro mantém o 4º lugar já ocupado em 1981 no ranking dos Concelhos mais populosos da Península de Setúbal. A densidade populacional intra – regional revela, na Península de Setúbal sinais de forte heterogeneidade. De facto, em 2001, destacam-se Concelhos como Barreiro, Almada, Moita e Seixal que possuem densidades populacionais muito elevadas, respectivamente 2 468,4 hab/km2; 2 289,9 hab/Km2; 1 235,2 hab/Km2; 1 570,3 hab/ Km2, e, no lado oposto observam-se Concelhos com níveis de densidade populacional bastante mais reduzidos, tais como Alcochete, Palmela e Montijo. 5 Cf: INE, Anuário Estatístico Regionais, 2001 40 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 02 - Densidade Populacional por Concelhos da Península de Setúbal (hab/ Km2) 6 Concelhos 1991 2001 76,6 98,0 Almada 2 161,2 2 289, 9 Barreiro 2 679,5 2 468,4 Moita 1 192, 0 1 235,2 Montijo 105, 8 115,0 Palmela 94,1 114,5 1 221,7 1 570,3 Sesimbra 139,3 192,0 Setúbal 535,3 588,5 Península de Setúbal 405,1 452,0 Alcochete Seixal O referido decréscimo da população não é, todavia, uma realidade para todas as freguesias do concelho, sendo que as freguesias do Lavradio, Stº António da Charneca e Palhais viram para o mesmo horizonte temporal de 10 anos a sua população residente aumentar o nº de efectivos em 1,1%; 5,8%; e 7,5%, respectivamente. Realidade inversa vivem as demais freguesias do concelho, sendo que aquelas que registaram um decréscimo mais acentuado, em termos percentuais foram as freguesias do Barreiro, Coina, Verderena e Alto Seixalinho, 19,4%, - 16,8%, - 15,2% e – 12,2% respectivamente. 6 Cf: Plano Estratégico para o Desenvolvimento da Península de Setúbal, Associação de Municípios do Distrito de Setúbal, 2004 41 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 03 - População Residente por Freguesia – 1991/ 2001 Freguesias 1991 2001 Variação Nº % Nº % % Barreiro 10 944 12,7 8 823 11,1 - 19,4 Lavradio 12 911 15,1 13 051 16,5 1,1 Palhais 1 138 1,3 1 224 1,5 7,5 Stº André 11 548 13,4 11 319 14,3 - 2,0 Verderena 13 587 15,5 11 514 14,5 - 15,2 23 370 27,2 20 522 26,0 - 12,2 10 376 12,1 10 983 13,9 5,8 1894 2,2 1 576 2,0 - 16,8 Concelho 85 768 100,0 79 012 100,0 - 7,9 Península de 640 493 100,0 714 589 100,0 11,6 Alto do Seixalinho Stº António da Charneca Coina Setúbal Fonte: INE, Censos de 2001 Gráfico nº1 42 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro A distribuição geográfica da população residente, para o ano de 2001, visualiza-se da seguinte forma: Gráfico nº 2 A partir do gráfico pode então estabelecer-se o “ranking” das freguesias mais populosas do Concelho. • 1ª Alto do Seixalinho • 2ª Lavradio • 3ª Verderena • 4º Stº André • 5ª Stº António • 6º Barreiro • 7º Coina • 8º Palhais A maioria das freguesias apresenta características marcadamente urbanas. De facto, de acordo com os indicadores para construção da tipologia urbano/ rural do estudo “Tipificação das Situações de Exclusão em Portugal Continental” 7 tendo por base o censo de 2001, o Concelho do Barreiro apresenta uma tipologia de tipo 2, em termos urbanos e rurais em Portugal, 7 Cf: Tipicação das Situações de Exclusão em Portugal Continental, Área de Investigação e Conhecimento e da Rede Social, ISS, IP, Janeiro 2005 43 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro caracterizado por um padrão geográfico sub – urbano da AML, com forte dinamismo demográfico e onde os traços rurais mais salientes não existem. Apenas as freguesias de Palhais e Coina, para o ano de 2001, apresentam uma população residente inferior a 5000 habitantes, representando 3,5% da população residente no Concelho. Cerca de 85,4% da população total do Concelho vivem em freguesias com mais de 10000 a 49999 habitantes, ficando a freguesia do Barreiro com 11,1% da população total. Importa, ainda, e retomando as questões demográficas, fazer referência às duas características primordiais da caracterização de qualquer população: idade e sexo dos seus elementos. O Concelho do Barreiro apresenta para o registo dos últimos censos, uma estrutura etária adulta, sendo que cerca de 73% da sua população tem idade superior a 25 anos. Em 2003, esta percentagem sobe para 75%, ou seja ¾ da população apresenta uma estrutura etária adulta 8. Observando os dados existentes para o Concelho do Barreiro, tendo em conta a distribuição populacional pelos diferentes grupos etários, pode dizer-se que o grupo etário que mais se destaca corresponde à população com 65 e mais anos em oposição aos restantes. No período intercensitário 1991 – 2001, é esta a única faixa etária que em termos percentuais tem um acréscimo de 28,1%, o que atribui um peso evolutivo bastante significativo a esta categoria no conjunto da população residente. Não obstante, a afirmação de que o Concelho do Barreiro tem uma população envelhecida parece não se aplicar, isto porque 57,6% da sua população tem idade compreendida entre os 25 e os 64 anos para o ano de 2001, ou seja, está-se na presença da população activa, que em 2003, segundo as mesmas estimativas, sobe para 59,3%. 8 Cf: INE, Estimativas Provisórias da População Residente, 2003, Portugal, NUTS II, NUTS III e Municípios 44 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Há, no entanto, que reservar uma especial atenção para o significativo crescimento de 28,1 pontos percentuais da população idosa nomeadamente no respeitante a equipamentos e serviços sociais destinados ao apoio dos indivíduos pertencentes a esta faixa etária, uma vez que a tendência é continuar a aumentar. QUADRO 04 - População Residente por Grupos Etários 0 - 14 15 - 24 25 - 64 65 e mais Total 1991 14 926 14 494 46 606 9 742 85 768 2001 10 184 10 838 45 506 12 484 79 012 Var. % - 31,8 - 25, 2 - 2,4 28, 1 - 7,9 2003 10 329 8 948 46 925 12 844 79 047 Fonte: INE, Censos 1991; INE, Censos 2001; INE, Estimativas Provisórias da População Residente 2003 Tal situação é confirmada pelo índice de dependência da população idosa 9, que de 1991 para 2001 aumentou 6%. Concretizando para o ano de 2001, por cada 100 indivíduos em idade activa, existiam 22 idosos. Situação que se mantém ligeiramente em 2003. Relativamente à população jovem, com menos de 15 anos, o índice de dependência de jovens 10 sofreu uma tendência contrária, equivalente ao da população idosa (-6,4%), o que se prende com a redução do nº de efectivos nesta faixa etária. Para 2001, por cada 100 residentes em idade activa, existiam 18 jovens com idade inferior a 15 anos. Situação que se mantém ligeiramente em 2003. 9 Relação entre a população idosa e a população em idade activa, definida habitualmente como o quociente entre o nº de pessoas com 65 e mais anos e o nº de pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos. 10 Relação entre a população jovem e a população em idade activa, definida habitualmente como o quociente entre o nº de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos e o nº de pessoas com idades compreendidas entre os 15 e os 64 anos. 45 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro No que diz respeito ao índice de dependência total, o encargo que os grupos dos inactivos representam para o grupo dos activos não atingiu os 50%, o que é bastante positivo. No entanto, é um factor a não ser descurado. QUADRO 05 - Índices de Dependência do Concelho do Barreiro e Península de Setúbal 1991 Barreiro 2001 Península Barreiro Setúbal 2003 Península Barreiro Setúbal Península Setúbal Idosos % 16 15,6 22 20,3 23 21,3 Jovens % 24,4 27,6 18 21,8 18,5 22,3 Total % 40,3 43,2 40,2 42,2 41,5 43,7 Indicador de 0,65 0,56 1,22 0,93 1,24 9,54 Vitalidade Fonte: INE, Censos 2001; Estimativas Provisórias de População Residente, 2003 Portugal O indicador de vitalidade regista uma clara inversão durante a década de 90. Se em 1991 existiam mais jovens do que idosos no Concelho do Barreiro – por cada 100 jovens existiam 65,2 idosos – no ano de 2001 a situação inverteuse, sendo que para cada 100 jovens existiam já 122,5 idosos. Situação que tem tendência a aumentar, dado que em 2003 o nº sobe para 124,3 11. Conclui-se, assim, que o concelho vê a sua vitalidade reduzir-se substancialmente, o que não é de todo surpreendente já que a taxa de crescimento natural apresenta valores negativos. Em suma, os grandes traços caracterizadores realçavam que, em relação aos censos de 1991, a população se classificava como “tendencialmente envelhecida” (índice de envelhecimento 12 - 65,2) – valor superior ao da Península de Setúbal (56) e muito próximo da média nacional (66). Cf: Estimativas Provisórias de População Residente, 2003 Portugal Relação entre a população idosa e a população jovem, definida habitualmente como o quociente entre o nº de pessoas com 65 e mais anos e o nº de pessoas com idades compreendidas entre os 0 e os 14 anos 11 12 46 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro No entanto, em 2001 a situação agrava-se apresentando uma população muito envelhecida, observando-se uma tendência acentuada para o envelhecimento demográfico (índice de envelhecimento - 122). Há um afastamento drástico relativamente à Península de Setúbal e à média nacional. A população idosa do Concelho é uma população maioritariamente feminina (57%), o que tem reflexos no cálculo das relações de masculinidade. Para o ano de 2003, segundo as estimativas, registou-se uma população com 65 e mais anos maioritariamente feminina – para cada 100 idosas existiam apenas 75,3 idosos. Esta relação não se verifica nas faixas etárias mais jovens: (0 – 14 anos) para cada 100 jovens do sexo feminino existiam 107 jovens do sexo masculino; (15 – 24 anos) para cada 100 jovens do sexo feminino existiam 103 do sexo masculino. A partir da idade adulta, a tendência inverte-se e começa a acentuar-se a prevalência de membros do sexo feminino sobre os membros do sexo masculino: (25 – 64 anos) para cada 100 mulheres existiam cerca de 95 homens. Se pensarmos por freguesia, tendo em conta a distribuição populacional pelos diferentes grupos etários, o grupo etário que mais se destaca, relativamente a 1991, corresponde à população com 65 e mais anos, com um acrescimo de 28,1 % e com aumentos significativos em todas as freguesias, excepto na freguesia do Barreiro. No entanto, numa perspectiva geral, constata-se algumas discrepâncias. De facto, podem distinguir-se as freguesias em 5 grupos distintos: - Verderena, Alto do Seixalinho, Coina e Barreiro: que apresentam valores negativos ou baixos nas três primeiras categorias etárias; - Stº António da Charneca: que surge como a única freguesia com valores negativos apenas na 1ª categoria etária; - Verderena e Barreiro: que apresentam valores negativos ou inferiores face ao crescimento da população idosa no concelho, ao contrário das restantes freguesias; - Barreiro: que apresenta valores negativos em todas as categorias etárias; 47 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro - Palhais, Stº António da Charneca, Lavradio e Stº André: freguesias em que o aumento populacional observado dos 25 aos 64 anos é relevante face ao crescimento desta categoria no Concelho. A partir dos 65 anos sobressai o valor mais elevado. QUADRO 06 - Taxa de Crescimento dos Grupos Etários, no Concelho do Barreiro, por freguesia – 1991/ 2001 Freguesias 0 - 14 15 - 24 25 - 64 65 e + Barreiro - 36,5 - 26,2 - 16,3 - 8,6 Lavradio - 11,2 - 29,8 7,6 40,2 Palhais - 21,2 - 1,7 14,1 30,0 Stº André - 31,7 - 24,5 6,1 52,7 Verderena - 41,6 - 33, 0 - 9,9 23,9 Alto do Seixalinho - 40,4 - 32,0 - 7,0 37,0 Stº António da Charneca - 23,6 9,2 9,7 56,8 Coina - 32,5 - 40,0 - 12, 6 30,7 Concelho - 31,7 - 25,2 1,3 28,1 Fonte: INE, Censos 2001 Embora se verifique um forte aumento demográfico ao nível da chamada terceira idade, em termos absolutos, para 2001, esta população encontra-se a par com os grupos etários dos 0 – 14, nas freguesias do Lavradio, Palhais, Stº António, Stº André e Coina. 48 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 07 - Distribuição da População segundo os Grupos Etários no Concelho do Barreiro, por freguesia, em 2001 Freguesias 0 -14 15 - 24 25 - 64 65 e + Nº % Nº % Nº % Nº % Barreiro 1 117 12,6 1 124 12,7 4 558 51,6 2 024 22,9 Lavradio 1 862 14,2 1 644 12,6 7 696 58,9 1 849 14,1 156 12,7 172 14,0 710 58,0 186 15,2 Stº André 1 420 12,5 1 546 13,6 6 794 60,0 1 559 13,7 Verderena 1 271 11,0 1 555 13,5 6 848 59,5 1 840 16,0 Alto do 2 350 11,4 2 766 13,5 11909 58,0 3 497 17,0 1 776 16,1 1 827 16,6 6 102 55,5 1 278 11,6 232 14,7 204 12,9 889 56,4 251 15,9 10184 12,8 10838 13,7 47240 59,7 12484 15,8 Palhais Seixalinho StºAntónio da Charneca Coina Concelho Fonte: INE, Censos 2001 A maioria das freguesias apresentam indicadores de vitalidade superiores ao valor 1, à excepção de Stº António da Charneca e Lavradio, ou seja, todas têm um nº de população idosa superior ao nº de população com idade inferior a 15 anos, sendo que a freguesia do Barreiro é aquela que apresenta o valor mais elevado – 1,81 (por cada 100 jovens, existem 181 idosos), logo seguida pelas freguesias da Verderena e Alto Seixalinho. São estas as 3 freguesias que, em termos percentuais, têm uma população idosa com maior peso no total da sua população residente. 49 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 08 - Índices de Dependência por Freguesia, em 2001 Freguesias Idosos Jovens Total Índ. Vitalidade Barreiro 35,6 19,6 55,3 1,81 Lavradio 19,8 19,9 39,7 1 21 17,7 38,7 1,19 Stº André 18,7 17 35,7 1,09 Verderena 21,9 15,1 37 1,44 Alto do 23,8 16 39,8 1,48 16,3 22,6 39 0,71 23 21,2 44,2 1,08 21,5 17,5 39 1,22 Palhais Seixalinho Stº António da Charneca Coina Concelho Fonte: INE, Censos 2001 No que diz respeito à população jovem e do peso que esta assume no total de indivíduos residentes, são as freguesias de Stº António da Charneca, Coina e Lavradio que registam proporções mais elevadas. No entanto, todas as freguesias, sem excepção apresentam um decréscimo do nº de indivíduos com idade inferior a 15 anos. Todas estas considerações sobre grupos etários podem ser observados através do gráfico que se apresenta de seguida. 50 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Grafico nº3 QUADRO 09 - Proporções Etárias por Freguesia – 1991/ 2001 Barreiro 0 - 14 15 - 24 25 – 64 65 e + Total 1991 1 759 1 524 5 445 2 216 10 944 PE% 16,1 13,9 49,7 20,3 100,0 2001 1 117 1 124 4 558 2 024 8 823 PE% 12,6 12,7 51,6 22,9 100,0 0 - 14 15 - 24 25 – 64 65 e + Total 1991 2 097 2 343 7 152 1 319 12 911 PE% 16,2 18,1 55,4 10,2 100,0 2001 1 862 1 644 7 696 1 849 13 051 PE% 14,2 12,6 58,9 14,1 100,0 0 - 14 15 - 24 25 – 64 65 e + Total 1991 198 175 622 143 1 138 PE% 17,4 15,4 54,7 12,5 100,0 2001 156 172 710 186 1 224 PE% 12,7 14,0 58,0 15,2 100,0 Lavradio Palhais 51 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Stº André 0 - 14 15 - 24 25 – 64 65 e + Total 1991 2 080 2 047 6 400 1 021 11 548 PE% 18,0 17,7 55,4 8,8 100,0 2001 1 420 1 546 6 794 1 559 11 319 PE% 145 13,6 60,0 13,7 100,0 0 - 14 15 - 24 25 – 64 65 e + Total 1991 2 179 2 322 7 601 1 485 13 587 PE% 16,0 17,1 56,0 10,9 100,0 2001 1 271 1 555 6 848 1 840 11 514 PE% 11,0 13,5 59,5 16,0 100,0 0 - 14 15 - 24 25 – 64 65 e + Total 1991 3 942 4 070 12 807 2 551 23 370 PE% 16,9 17,4 54,8 10,9 100,0 2001 2 350 2 766 11 909 3 497 20 522 PE% 11,4 13,5 58,0 17,0 100,0 0 - 14 15 - 24 25 – 64 65 e + Total 1991 2 327 1 673 5 561 815 10 376 PE% 22,4 16,1 53,6 7,9 100,0 2001 1 776 1 827 6 102 1 278 10 983 PE% 16,1 16,6 55,5 11,6 100,0 0 - 14 15 - 24 25 – 64 65 e + Total 1991 344 340 1 018 192 1 894 PE% 18,2 18,0 53,7 10,1 100,0 2001 232 204 889 251 1 576 PE% 14,7 12,9 56,4 15,9 100,0 Verderena Alto do Seixalinho Sto. António da Charneca Coina Fonte: INE, Censos 1991 e 2001 No que diz respeito à sua estrutura familiar, o concelho registou, para o ano de 2001, um total de 29 970 famílias clássicas, estando este nº distribuído segundo a dimensão (pessoas residentes) da família da seguinte forma: 52 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro • Com 1 – 17.6% • Com 2 – 31.8% • Com 3 – 28.6% • Com 4 – 16.8% • Com 5 e mais – 5% No Concelho do Barreiro, o grupo maioritário de famílias residentes são as famílias com apenas dois elementos – 31.8% - imediatamente seguidas por famílias com 3 pessoas – 28.6% - e por famílias com apenas 1 pessoa – 17.6%. Esta situação segue de muito perto a realidade dos Concelhos da AML – núcleos familiares cada vez mais reduzidos, com poucos filhos e um maior isolamento da população idosa. Relativamente ao tipo do agregado familiar, o Concelho do Barreiro apresenta uma estrutura onde prevalece o núcleo familiar, constituído por casal e filhos, logo seguido pelo núcleo de casal sem filhos, perfazendo ambas as categorias um peso de 68.2% para um total de 29 970 famílias. QUADRO 10 - Famílias Clássicas segundo o Tipo de Família no Concelho do Barreiro, em 2001 Sem núcleo Com 1 núcleo Casal Casal Pai c/ Mãe Avós Avô c/ Avó s/ c/ filhos c/ c/ netos c/ filhos filhos filhos netos 5 805 7777 12678 2431 189 19,3% 25,9% 42,3% 1,5% 8,1% 0,6% 0,05% 0,3% 462 Com 2 Com 3 Total núcleos núcleos 483 18 29970 1,6 % 0,06 % 100,0% netos 17 110 Fonte: INE, Censos 2001 Outra questão a extrair da leitura deste quadro é o peso das famílias monoparentais no total das famílias clássicas (9,6%) e que deve merecer uma atenção especial. 53 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro De acordo com o estudo “Tipificação das Situações de Pobreza e Exclusão Social” do instituto de Segurança Social, de 2004, o Concelho do barreiro enquadra-se no tipo de Territórios Ameaçadores e Atractivos que, entre outros indicadores, apresentam os valores mais elevados de famílias monoparentais. Este indicador revela, para o Concelho do Barreiro, condições bastante desfavoráveis face à média nacional (> 7,5 % contra 6,1%, o que confirma os dados do quadro anterior). O crescimento deste tipo de famílias, segundo mesmo estudo, tem estado associado à difusão de modos de vida urbanos, daí registar-se uma superioridade, face à média dos concelhos que integram este tipo de territórios (21 concelhos), do peso relativo deste tipo de famílias nos concelhos do Porto, Oeiras, Cascais, Lisboa, Amadora, Barreiro, Moita, Espinho, Loures e Almada. Ainda de acordo com este estudo, existem nesta mesma categoria situações muito diferenciadas. Por um lado, estas situações nem sempre tendem a traduzir situações de vulnerabilidade económica e são mais permeáveis à imcorporação de valores pós-modernos e, por outro lado, podem revelar novas formas de encarar as relações conjugais e a família. Apesar destas constatações, o referido estudo fundamenta que se está perante um conjunto de famílias que, tomadas como um todo, registam vulnerabiliaddes a situações de exclusão e de pobreza. De facto, tendo em conta que estas são famílias que acumulam desvantagens face ao mercado de trabalho e rendimentos mais baixos, é fácil compreender a sua fragilidade, conduzindo-as a recorrer aos serviços de prestação, como o RSI ou RMG, pelas dificuldades em fazer face á satisfação de necessidades básicas. Para o mesmo ano, e no que se refere aos núcleos domésticos com um só elemento, constatava-se que 49.5% dos chamados “isolados” eram idosos. 54 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 11 - Famílias com um só elemento no Concelho do Barreiro, em 2001 1 adulto 1 adulto % 1 adulto % 1 adulto % adultos % adultos 15-64anos >= 65 anos 15-64 no >= 65 anos 15-65 >= total das no total das anos anos famílias nos isolados famílias Total 65 nos isolados 2 678 2 168 8,9 8,7 50,5 49,5 100,0 Fonte: INE, Censos 2001 É a partir desta realidade, e sem negligenciar os valores do seu passado, que o Barreiro se deve posicionar como uma cidade para o futuro com projectos novos, formas actuais de inspirar e mobilizar os seus cidadãos. A revisão do Plano Director Municipal do Barreiro, em curso, é de facto, fundamental para a definição de um conjunto de estratégias que prepare o concelho para uma nova etapa de desenvolvimento de instrumentos de planeamento já delineados, tais como o Plano Municipal do Ambiente, o Plano Estratégico e o Plano Director Municipal aos quais se deverá acrescentar o Plano de Desenvolvimento Social. Outras medidas em curso e a promover no futuro, de acordo com a maioria dos entrevistados, potenciadoras de um desenvolvimento sustentado, de rentabilização dos recursos existentes e promotores de um Barreiro mais saudável são igualmente importantes para que o Barreiro se assuma como o verdadeiro centro da Margem Sul no contexto da Área Metropolitana de Lisboa. O Rio Tejo é um desses recursos fundamentais para o desenvolvimento do Barreiro no futuro. O Barreiro, sendo um Concelho com 32 quilómetros quadrados de área, tem uma frente Ribeirinha de 14 Km com imenso significado, quer no Rio Coina, quer no Tejo; facto que torna o Barreiro claramente numa cidade ribeirinha. Essa aposta é crucial no séc. XXI, onde muito do investimento que se pode vir a fazer é no turismo. Existe capacidade 55 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro para desenvolver desportos náuticos e diversas actividades de lazer ligadas ao rio. A vinda de uma possível terceira travessia sobre o Tejo para o Barreiro e de melhores acessibilidades garantiriam uma maior consolidação na realização deste projecto, seria um bom apoio no desenvolvimento. A Travessia Chelas-Barreiro, de acordo com o Plano Estratégico para o Desenvolvimento da Península de Setúbal, é reconhecida como essencial ao desenvolvimento económico da península tendo ainda um impacto claramente positivo na estruturação do território na criação da cidade de duas margens, conforme objectivo fixado pelo Plano Regional de Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa. Por esta razão torna-se fundamental fazer desta travessia um dos projectos estratégicos para o Barreiro e para a Península de Setúbal. Outra zona do concelho com bastante potencial é zona de Coina, freguesia onde confluem cinco Concelhos da Península de Setúbal, sendo o centro da Península. Justificando também um grande desenvolvimento a todos os níveis, nomeadamente serviços, comércio, indústria e habitação. Estas duas zonas, a ribeirinha e a de Coina, permite criar uma estrutura complementar do próprio Barreiro e central na Península, porque na zona ribeirinha, o Barreiro é um núcleo central, e porque em termos do interior da Península, Coina tem um peso muito grande, com as duas novas estações ferroviárias e com as auto-estradas que ali passam, servindo as duas pontes, o sul do país e Espanha. De referir, ainda que de acordo com aquele Plano Estratégico de Desenvolvimento, o Barreiro ocupa na área de equipamentos e serviços o 1º nível na hierarquia dos principais pólos da Península de Setúbal, o 2º nível na Indústria e o 3º nível na armazenagem logística. 56 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro A hierarquia de pólos urbanos é definida tendo em conta as principais especializações desejadas e também a sua importância relativa futura, no sistema da Península de Setúbal. Assim, a rede urbana é constituída por centros que, em alguns casos, devem possuir mais do que uma função principal e cujo nível hierárquico pode ser distinto para cada uma das funções que o mesmo centro desempenha, como é o caso dos pólos do Barreiro. A hierarquia existente e proposta, organiza-se em três níveis para cada função correspondendo o 1º aos pólos com importância nacional, o 2º aos pólos com importância a nível regional e o 3º aos pólos com importância ao nível municipal ou supra-municipal. QUADRO 12 - Especializações e Hieraraquia dos Pólos Concelhios 13 Equipamentos Comércio Investigação & Turismo, Serviços Desenvolvimento Recreio e Pólos Indústria Armazenagem Logística Lazer 1º Barreiro ● 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º 1º 2º 3º ● Coina 1º 2º ● ● 3º ● ● A Frente Urbana do Tejo, a que o Barreiro corresponde junto com outras cidades, tais como Almada, Seixal, Moita, Montijo e Alcochete, mantém uma forte ligação de dependência à cidade de Lisboa, facto que se pretende equilibrar com o fortalecimento das relações internas entre os vários pólos funcionais desta unidade. Assim, é necessário fomentar as relações entre os pólos mais importantes e dinâmicos desta unidade, para que estes núcleos formem uma rede com uma estrutura bastante coesa alternativa a Lisboa. As principais ligações a fortalecer são entre os pólos de Almada, Seixal, Barreiro, Moita, Montijo e Alcochete, de Cf. Plano Estratégico para o Desenvolvimento da Península de Setúbal, Associação de Municípios do Distrito de Setúbal, 2004 13 57 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro forma a consolidarem as suas interligações, não apenas em termos de infra estruturas, mas sobretudo em termos funcionais e de complementaridade. O Masterplan, Plano de Reabilitação do Quimiparque, é outra oportunidade a ter em conta no desenvolvimento do Barreiro. Este é um Plano que irá incidir nos 300 hectares da zona industrial e áreas envolventes, onde muitos terrenos junto a três quilómetros da frente ribeirinha do Tejo ficarão livres e limpos de resíduos industriais com a demolição das fábricas encerradas da Quimiparque. Na sequência do declínio industrial havia necessidade de olhar para este local que é excelente e tem continuidade no centro da cidade e que é a melhor varanda sobre o Tejo. Este Plano prevê a construção, nas próximos duas décadas, de 5 mil habitações, espaços verdes, edifícios para a indústria e serviços, áreas de comércio, lazer e cultura, um terminal fluvial e 25 mil lugares de estacionamento, reservando um corredor de protecção para a futura terceira ponte sobre o Tejo. É importante que, com a recuperação deste Parque Industrial, o Barreiro seja capaz de atrair no futuro empresas de alta tecnologia. Se o mercado o permitir com esta recuperação será possível atrair oito a dez mil empregos, ou seja o dobro dos actuais. Actualmente, segundo o seu Presidente, Engº Luis Tavares, o Quimiparque acolhe cerca de 320 empresas industriais, de serviços, hipermercados, a Escola Superior de Tecnologia, museus e associações, onde trabalham 5 mil pessoas mais do que as 3 mil que restaram da Quimigal nos anos 80, quando a crise industrial “bateu no fundo”. No âmbito deste plano, a Autarquia, segundo afirma o seu edil em entrevista no dia 3 de Maio de 2004 ao Jornal “A Capital”, tem mantido uma preocupação de garantir, por um lado,que a plataforma industrial do Lavradio se mantenha, uma vez que é importante que o Barreiro continue a ter tradição de cidade industrial, e, por outro lado, garantir que uma área da Quimiparque continue a ser vocacionada para zonas de comércio e de pequenas e médias industrias, de forma a haver uma quantidade de postos que proporcionem riqueza, e ainda, 58 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro encontrar uma âncora fora da área empresarial, como um parque temático e um pólo universitário ligado aos estudos mediterrânicos. É necessário diversificar o tecido industrial. De facto, há potencialidades de diversificação das actividades económicas que não têm sido exploradas, tais como o turismo, a vocação logística da região, como referem muitos dos interlocutores entrevistados para este estudo. Outro dos projectos com grande impacto para o concelho é o Polis. Neste momento, deu-se início à 1ª fase que marcará o reencontro dos Barreirenses com o rio. Isto criará naturalmente e por si só, uma área de lazer e recuperação ambiental, eventualmente ligada ao Parque da Cidade. Mas permitirá, sobretudo, algo que é fundamental: que os Barreirenses fixem no Barreiro os seus períodos livres. Uma das formas de o Barreiro não ser uma cidade dormitório é ter, por um lado, postos de trabalho que fixem os barreirenses, e, por outro lado, locais onde, nos períodos livres os cidadãos do Barreiro se sintam bem e não tenham de sair. A candidatura, por um lado, que será apresentada ao Banco Europeu de Investimento, para reabilitar o centro histórico da cidade e o Bairro das Palmeiras no âmbito da Intervenção de Planeamento e Estratégia do Barreiro e as candidaturas ao PROQUAL, que inclui a recuperação dos bairros 25 de Abril e Alfredo da Silva, são projectos igualmente importantes ao nível do planeamento que se desejam para o Concelho do Barreiro. Num quadro de desenvolvimento que se desenha e quer para o Barreiro é fundamental ter em conta a sua sustentabilidade social, porque como refere, Luísa Schmit, “não há desenvolvimento sem bem estar social”, e a sua sustentabilidade ambiental, gerando actividades económicas, geradoras de emprego, que contribuam para a fixação de populações, reduzindo a sua dependência de Lisboa, e, evitando que o Barreiro se transforme num dormitório da Área Metropolitana de Lisboa. 59 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro O desenvolvimento da “sustentabilidade social” passa naturalmente, pelo desenvolvimento de uma estratégia de acção que contribua para estimular a cidadania, e contribua para renovar e reanimar o tecido cultural da cidade, estimulando os seus pólos naturais, os espaços de sociabilidade das populações, modernizando-os e ajudando os cidadãos que, de forma voluntária, apostam em manter vivos esses espaços de promoção da cultura e do desporto. A coesão social, a preservação dos valores identitários do Barreiro, a afirmação da diversidade cultural, o acesso aos novos meios da sociedade de informação e a implementação de processos integrados de desenvolvimento local sustentável numa base territorial exigem uma profunda reflexão e a tomada de decisões que concretizem uma efectiva ligação entre autarquias, instituições, serviços públicos e privados e as comunidades. Esta é uma dimensão que exige o empenho dos cidadãos, independentemente das suas opções políticas, porque o concelho é construído por todos os que nele vivem, de forma a que todos vivam e partilhem o “bem-estar social”. Neste sentido, no âmbito do projecto de planeamento espacial participado na Europa – Interreg III, está em desenvolvimento no concelho um sistema, inovador e pioneiro, à escala Europeia, que permite o envolvimento dos munícipes nos processos de planeamento no concelho. É um sistema inovador que utiliza mecanismos sofisticados para uma participação simplificada e é desenvolvido com a colaboração de uma equipa de investigadores da Faculdade de Ciências e Tecnologias da Universidade Nova de Lisboa e a empresa Ydreams. O resultado é simples e apelativo: os munícipes podem viajar virtualmente sobre o Barreiro e sobreporem nos espaços actuais aquilo que irá ser desenvolvido neles, e ainda deixar os seus comentários à medida que o “voo” se vai processando, comentários esses que poderão ser analisados e integrados nas decisões do Plano Director Municipal. O grande objectivo deste modelo de participação pública – voo virtual – bem como o modelo da mesa tangível, brevemente à disposição dos cidadãos, é 60 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro precisamente permitir o seu envolvimento, utilizando as suas experiências do dia-a-dia no planeamento do Concelho onde vivem. O Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro e todo o processo de planeamento da intervenção social assume também, neste contexto, um conceito de desenvolvimento integrado. Qualquer projecto, seja ele de índole económica, de infra estruturação, urbanístico, etc., só faz sentido quando é pensado em prol da população local. Quer-se com isto afirmar, mais uma vez, a importância dos barreirenses no desenvolvimento do seu próprio território. É fundamental que todos participem nas estratégias de desenvolvimento, com especial atenção para aqueles mais desfavorecidos e que, por esse motivo, menos acesso têm às plataformas de tomada de decisão. Neste contexto, as Instituições Particulares de Solidariedade Social, onde se inclui a Santa Casa da Misericórdia, têm também uma intervenção decisiva no Concelho do Barreiro. A incapacidade do estado em resolver os problemas da pobreza e exclusão social e em fornecer aos indivíduos os cuidados sociais mais adequados à sua realidade, conduziu à afirmação deste tipo de instituições que, de certa forma, se substituem ao estado em termos de prestação de serviços a vários níveis. Pese embora o facto de muitos dos nossos interlocutores terem referido o facto das respostas sociais serem insuficientes para as reais necessidades do concelho, a verdade é que são estas instituições, através de acordos de cooperação com o estado e de parcerias, que têm garantido uma grande parte do apoio social aos indivíduos e agrados familiares mais carenciados no Concelho do Barreiro. Para estas instituições, contudo, o financiamento é uma questão que se coloca com grande pertinência neste contexto. A falta de autonomia financeira destas 61 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro instituições constitui-se como a grande vulnerabilidade do sistema de acção social actual. É necessário, aproveitando o tecido associativo do concelho, incrementar uma cultura institucional e organizacional onde a rentabilização dos recursos, a concentração de estratégias, a partilha e a acção em rede sejam claramente efectivas. Existem já diversas parcerias institucionalizadas no terreno, de trabalho em conjunto, entre instituições particulares de solidariedade social, autarquias locais e organismos públicos,mas a verdade é que ainda persiste um lógica de trabalho sectorializado e de não partilha de experiências e informação, não contabilizando o desperdício de energias, de tempo e de reuniões fruto de uma deficiente estruturação. A Rede Social pode, nesta matéria, desempenhar um papel fundamental, contribuindo para uma melhor equidade no acesso à informação por parte de todos e funcionando como factor impulsionador de dinâmicas sociais entre os agentes locais e na simplificação de processos de acção. O Concelho do Barreiro só será forte ao nível da acção social e dos serviços prestados aos estratos populacionais mais desfavorecidos se tiver agentes sociais activos, qualificados, ágeis e disponíveis para cooperar em torno das questões-chave do desenvolvimento social, o qual depende, em grande medida do empenho de todos nos processos de concentração estratégica e de funcionamento articulado. Daí se tornar fundamental cimentar, mais uma vez, através da Rede Social, uma cultura de colaboração entre instituições e serviços que permita mobilizar recursos e concretizar oportunidade locais. 62 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO RESUMO • Concelho com uma história bastante rica, complexa e contradições muito próprias; • Transformações socio-económicas profundas. Afirmação do Barreiro como Concelho de serviços; • Decréscimo populacional no período inter-censitário de 1991-2001 (-7,9%), que se acentua desde a década de 80; • Fraca dinâmica demográfica em termos naturais; • Dinâmicas migratórias para fora do Concelho, fruto da pouca atractividade, da perda de postos de trabalho e da procura de melhores condições e mais qualidade de vida; • Densidade populacional muito elevada (2 468,4 hab./Km2); • Características marcadamente urbanas na maioria das freguesias (8 freguesias); • Predominância da população adulta (3/4 da população com idade superior a 25 anos); • Grupo etário que mais se destaca: população com 65 e mais anos (acréscimo de 28,1% entre 1991-2001); • Inversão do indicador de vitalidade: em 2001 por cada 100 jovens (0-14 anos) havia 122 idosos; • Freguesias com maior peso de população jovem: Stº António da Charneca, Lavradio e Coina; • Freguesias com maior peso de população idosa: Barreiro, Verderena e Alto do Seixalinho; • Grupo maioritário de famílias: famílias com dois elementos (31,8%); • Famílias monoparentais com um peso significativo (9,6%), com condições desfavoráveis face à média nacional (6,1%); • Concelho com medidas, projectos e instrumentos potenciadores de um desenvolvimento social sustentável, de rentabilização de recursos e promotores de um Barreiro saudável; • Forte tecido associativo e tradição de parcerias que é necessário aproveitar incrementando uma cultura institucional e organizacional; assim como a rentabilização dos recursos, a concentração de estratégias, a partilha e a acção em rede para que sejam claramente efectivas; • Rede Social: contributo para a equidade; factor impulsionador de dinâmicas sociais entre os actores locais e na simplificação de processos de acção. 63 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro ______________________________________________________ Áreas de intervenção prioritárias – caracterização 1. terceira idade 2. infância e juventude/educação 3. toxicodependênciaS 4. deficiência e saúde mental ___________________________________________ __ 64 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro _________________________________________ 1. TERCEIRA IDADE _________________________________ 65 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro 1. BREVE ABORDAGEM Á TEMÁTICA DA VELHICE O envelhecimento demográfico, alicerçado na baixa taxa de natalidade e no aumento progressivo da esperança média de vida, é cada vez mais característico das sociedades europeias, entre as quais a portuguesa que, já em 2001, apresentava um nº, absoluto e relativo, de pessoas com 65 e mais anos superior ao das com 14 e menos anos, segundo dados do INE, censos de 2001. As previsões, segundo dados comunicados pelo Eurostat, são para que este fenómeno se acentue nas próximas décadas com consequências profundas nos sistemas de protecção social. O envelhecimento demográfico afecta a dimensão e proporção dos diversos grupos populacionais, alterando as relações de dependência entre jovens e idosos e a dimensão da população activa. Como consequência, é necessário proceder a ajustes no emprego, segurança social, educação para o bem estar e cuidados de saúde, bem como nos padrões de poupanças, consumo e investimento. Este fenómeno social, com incidência nas trajectórias pessoais de vida, pode ser encarado como um êxito da humanidade, conquistado, nomeadamente, através do alcance de determinados direitos e regalias sociais e na melhoria generalizada dos cuidados de saúde, traduzida em avanços nas áreas do acesso a serviços clínicos e do desenvolvimento de programas de higiene, nutrição e tecnologia médica. A necessidade de considerar esta realidade sob um enfoque especial, como o que a Organização Mundial de Saúde em 2002 lhe atribuiu ao editar o documento “Enquadramento para um Envelhecimento Activo”, evidencia que já não é possível ignorar as diversas consequências e desafios que a maior longevidade acarreta. Surgem necessidades novas e específicas que carecem de respostas realistas, adequadas e em tempo útil. 66 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro O progressivo envelhecimento da população e as consequências que advêm do mesmo, conferem uma responsabilidade acrescida aos profissionais de saúde, serviço social e à comunidade em geral, que devem delinear estratégias de intervenção articuladas face aos problemas mais prementes deste grupo. De facto, a prestação de cuidados às pessoas idosas alcançou nas sociedades actuais uma preocupação e importância crescente por parte dos diversos actores sociais. Para se concretizar este objectivo há que assumir uma postura de mudança, mudança de atitudes e de vontades de todos nós, enquanto agentes sociais activos, e das próprias instituições. Isto passa pela auscultação das famílias e dos idosos, pelo conhecimento concreto da realidade em que estas pessoas vivem, bem como pela rentabilização dos recursos já existentes na comunidade e por uma reorganização institucional. O papel das instituições neste processo é fundamental. Cabe-lhes inovar, actualizar e concretizar no terreno respostas mais adequadas e eficazes para esta faixa populacional; no entanto, este é um percurso difícil de fazer. O reforço do debate em torno das condições de vida das gerações mais velhas tem alertado para a urgência em encontrar novas formas de compatibilizar o envelhecimento e a qualidade de vida, tendo em vista as necessidades das pessoas idosas e a promoção da sua autonomia. Por conseguinte, impõese uma análise cuidadosa desta faixa etária da população, do modo como a rede de equipamentos e serviços sociais, tal como actualmente se estrutura e face às suas perspectivas de evolução, responde às necessidades manifestadas pelas pessoas idosas, no contexto de uma sociedade em mudança. Na verdade, o envelhecimento é um fenómeno natural e universalmente conhecido pela sua inevitabilidade e caracteriza-se de diferentes formas em cada pessoa. Deste modo, certos idosos estão mais envelhecidos, outros parecem mais jovens e há ainda os que sentem não ter qualquer utilidade. 67 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro O ser humano não envelhece de uma só vez, mas de um modo gradual e a velhice parece instalar-se sem que se dê por isso. Aspectos físicos (perda progressiva da capacidade do corpo para se renovar), psicológicos (transformação dos processos sensoriais, perceptuais, cognitivos e da vida afectiva do indivíduo), comportamentais (modificação ao nível das aptidões, expectativas, motivações, auto-imagem, papéis sociais, personalidade e adaptação) e até mesmo o contexto social que os rodeia (influência que o indivíduo e a sociedade exercem um sobre o outro e que diz respeito à saúde, ao rendimento económico, ao trabalho, ao lazer, à família, etc) são factores que se encontram em constante interacção na vida de todos os idosos. O ser humano encontra-se em constante interacção com o meio. Não é autosuficiente e muitas vezes depende dos outros para satisfazer as suas necessidades, situação particularmente visível durante a velhice. Estabelecer uma relação de ajuda com o idoso não representa necessariamente uma solução para todos os seus problemas, mas pode ajudálo a desenvolver capacidades para que ele possa enfrentá-los melhor e adaptar-se a eles. Através da relação de ajuda as pessoas podem recuperar a sua auto-estima e vontade de viver, reencontrando até algumas capacidades que tinham anteriormente e reaprendendo a utilizá-las. Para além disso, diminuem também o sentimento de solidão e de isolamento. A relação de ajuda com o idoso não tem como objectivo mudar o seu estilo de vida nem levá-lo a fingir que se adapta. Consiste, sim, em ajudá-lo a aceitar-se tal como ele é, a conhecer todas as suas capacidades e limitações e a fazer os ajustes/adaptações necessários para atingir um nível de autonomia o mais alto possível e, consequentemente, uma melhor qualidade de vida. E ao abordarmos o conceito de qualidade de vida, apercebemo-nos que são valorizados vários aspectos, alguns mais objectivos do que outros e que dizem respeito não só à satisfação das necessidades básicas de cada indivíduo, mas também à forma como cada um se sente física e psicologicamente e nas suas relações com o meio. 68 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Melhorar a qualidade de vida das populações torna-se desta forma, uma estratégia prioritária de intervenção, promovendo medidas que atenuem os efeitos da senescência para garantir que as vivências no final do ciclo de vida sejam mais autónomas e qualitativamente/ positivas. Na verdade, a qualidade de vida de cada pessoa será melhorada, quanto melhor souber utilizar os seus sentidos e o pensamento positivo e está nas mãos de cada um construí-la, ou ajudar os outros a construí-la. No Concelho do Barreiro, o fenómeno do envelhecimento da população não deixa, também, de ser já uma realidade, perspectivando-se que esta tendência prevaleça. 1.1. Perfil da População Idosa no Concelho do Barreiro Na tentativa de desenhar o perfil dos “idosos” no Concelho do Barreiro, pode começar por se dizer que existem, para o ano de 2001, 12 484 hab. com 65 ou mais anos, dos quais 57.5% são mulheres e 42.5% pertencem ao sexo masculino. Esta tendência do peso feminino é visível nos diferentes grupos etários considerados, muito embora a diferença seja mais notória (61%) no grupo com 75 ou mais anos. Estes valores vão ao encontro da tendência actual de feminização da velhice e de uma esperança média de vida mais elevada para o sexo feminino. Uma outra evidência diz respeito ao facto de existir um nº mais elevado de indivíduos no grupo dos idosos com 75 ou mais anos - pessoas cada vez mais dependentes - correspondendo a 39.5% do total da população classificada como idosa. 69 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 13 - População Idosa no Concelho do Barreiro, por grupos etários e por sexo, em 2001 De 65 a 69 anos De 70 a 74 anos De 75 e + anos Total Fem. Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. Fem. Masc. 2 269 1 986 1 881 1 411 3 033 1 904 7 183 5 301 (53,3%) (46,7%) (57,1%) (42,9%) (61,4%) (38,6%) (57,5%) (42,5%) 4 255 (34 %) 3 292 (26,4 %) 4 937 (39,5 %) 12 484 (100 %) Fonte: INE, Censos 2001 Dos 12 484 “idosos”, 62% estão casados ou vivem maritalmente e, também, com valores significativos (embora bastante mais baixos) , 30.7%, apresentam a condição de viúvos. Ao nível dos grupos etários, o retrato observado respeita lógicas demográficas incontornáveis: o nº de casos nas categorias de “casado” e “separado/ divorciado” vai diminuindo conforme vai aumentando a idade, enquanto que o nº de viúvos aumenta com o avançar dos anos. QUADRO 14 - Estado civil da pop. idosa no Concelho do Barreiro, por grupos etários e por sexo, em 2001 Estado Civil Total % Fem. Masc. 65-69 70-74 75-79 + 80 Solteiro 504 4,0 368 136 130 134 110 130 Casado 7 750 62,1 3 384 4 366 3 296 2 252 1 386 816 Separado/ 399 3,2 283 116 153 104 93 49 Viúvo 3 831 30,7 3 144 687 676 802 932 1 421 Total 12 484 100,0 7 179 5 305 4 255 3 292 2 521 2 416 Divorciado Fonte: INE, Censos 2001 No que concerne à população com 65 e mais anos, por instrução, constata-se que o grande peso dos idosos não ultrapassou o 1º ciclo (54.3%) e, tendo em conta que 23.7% não tem qualquer nível de ensino, pode dizer-se que esta é uma população com muito poucas e baixas qualificações (78,0%). Este cenário é mais evidente no grupo do sexo feminino e nas idades mais avançadas. 70 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 15 - Nível de Instrução da Pop. Idosa no Concelho do Barreiro, por grupos etários e por sexo, em 2001 Nível de Ensino S/ nível de ensino 1º Ciclo 2º Ciclo 3º Ciclo Ens. Sec. Ens. Médio Ens. Sup. Total Total % Fem. % Masc . % 65 a 69 anos 70 a 74 anos 75 e + anos 2 957 23,7 2300 33,2 657 11,8 704 747 1716 6 776 54,3 3796 54,9 2 980 53,5 2400 1872 2 504 675 5,4 31 0,4 644 11,5 281 168 227 872 7,0 399 5,7 473 8,5 354 251 267 749 6,0 227 3,3 522 9,4 370 187 192 243 1,9 93 1,3 150 2,7 110 72 62 212 1,7 71 1,0 141 2,5 101 65 43 12484 100 6917 100 5 567 100 4256 3292 4 936 Fonte: INE, Censos 2001 Um factor a ter em conta na questão das habilitações, diz respeito ao facto de haver uma percentagem de casos significativos de idosos que não completaram ou encontram-se actualmente a frequentar um determinado grau de ensino (2 582 e 64 respectivamente). Tal constatação não implica a alteração da existência de baixas qualificações. No entanto, pode mostrar algumas relevâncias que se encontravam imiscuídas. Com efeito, analisando estes graus incompletos e a frequentar, verifica-se que a taxa de analfabetismo, se à partida parecia estar nos 23.7%, tendo em conta nesta análise, a ressalva de que nestas idades é algo frequente o “saber ler e escrever” sem possuir qualquer grau de ensino, com a consideração destes indicadores, deve apresentar valores próximos dos 3%. 71 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Em termos de actividade económica, constata-se que, no total desta população, considerada em idade da reforma 14, 3,1% ainda exerce actividade. Destes, 59.6% pertence ao sexo masculino, demonstrando uma maior tendência por parte dos homens para manter uma actividade económica após a entrada na reforma e, no geral, verifica-se uma maior incidência dos que exercem uma actividade no grupo dos 66 aos 70 anos (64.1%) – ou seja, numa idade pós-reforma, em que muitos, por motivos económicos, psicológicos, de ocupação, entre outros, optam por continuar a trabalhar enquanto têm condições para exercer uma actividade, fazendo deste período uma oportunidade de prolongar a sua situação de “activo”. Desagregando a população activa com 65 e mais anos, por grupos sócio– económicos, são contabilizados, no conjunto das categorias considerados 453 indivíduos (mais 99 do que os que têm uma actividade). Dos activos, 64.5% distribuem-se por 4 grandes grupos sócio profissionais (os restantes são menos significativos): empregados administrativos do comércio e serviços (31.5%); operários qualificados e semiqualificados (31.2%); trabalhadores administrativos e serviços não qualificados (26.4%); quadros técnicos e intermédios (11%). Tendo em conta a estrutura por sexos, verifica-se que ambos se concentram mais nestes grupos, embora os homens se distribuam mais pelos quadros técnicos e intermédios (75%) e pelos operários qualificados e semi – qualificados (88%), enquanto que as mulheres incida mais nos trabalhadores administrativos não qualificados (71.4%) e qualificados (58.2%). Há que salientar que nesta análise não estão contabilizados os indíviduos com 65 anos, na medida em que as categorias etárias definidas pelo INE, para esta variável, incluem os 65 anos no grupo 61-65. Como tal, o total que é apresentado neste quadro não coincide com o total de pessoas com 65 e amais anos existentes no Concelho do Barreiro 14 72 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 16 - População Idosa segundo o grupo sócio-económico, no Concelho do Barreiro, por sexo, em 2001 Total Masc. Fem. Nº Nº Nº Empresários 4 4 0 Pequenos Patrões 43 31 12 Profissionais Técnicos Intermédios Independentes 1 1 0 Trab. Industriais e Artesanais Independentes 17 13 4 Prestadores de Serviços e 29 21 8 Trab. Indep. do Sector Primário 4 3 1 Directores e Quadros Dirigentes 13 10 3 Dirigentes de Peq. Empresas e organizações 1 0 1 Quadros Intelectuais e Científicos 18 12 6 Quadros Técnicos Intermédios 32 24 8 Quadros Administrativos Intermédios 3 1 2 Empregados Administrativos 92 39 53 Operários Qualificados e Semi-qualificados 91 70 21 Assalariados do sector Primário 8 7 1 Trab. Administrativos Comércio e Serviços 77 22 55 Operários não qualificados 10 6 4 Pessoal das Forças Armadas 1 0 1 Outras pessoas activas (não especificado) 9 5 4 453 296 184 Grupo Sócio – Económico Comerciantes Independentes do Estado e Empresas do Comércio e Serviços não qualificados Total de pessoas activas Fonte: INE, Censos 2001 1.2. Integração da População Idosa no Concelho Vem, de novo, a propósito frisar as configurações familiares e quais as repercussões que elas podem acarretar para aqueles que já atingiram o topo da pirâmide etária. 73 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro A estrutura familiar do Concelho, em 2001, apresenta uma distribuição heterogénea, sendo os isolados os menos representativos das famílias clássicas. Ao nível das freguesias, a que apresenta o maior nº de famílias clássicas é a do Alto Seixalinho, seguida da freguesia do Lavradio, embora em termos evolutivos as freguesias que registaram um maior aumento de famílias, na década de 1991-2001, foram a de Palhais (16.2%), e Stº António da Charneca (14.6%), seguida do Lavradio (12.9%) e Stº André (11.6%). QUADRO 17 - Famílias Clássicas, por tipologia, no Concelho do Barreiro (por freguesia), em 2001 (e respectiva evolução face a 1991) Territórios Total Tax. C/ 1 C/ 2 C/ 3 C/ 4 Famílias Var. Pessoa Pessoas Pesso ou + Clássicas 1991/01 Barreiro 3582 11,9 -11,1 923 1 145 820 704 Lavradio 4888 16,3 12,9 729 1 584 1 540 1037 Palhais 443 1,5 16,2 59 132 134 118 Sto. André 4198 14,0 11,6 613 1 330 1 287 968 Verderena 4578 15,2 - 2,7 912 1 519 1 282 865 Alto do 7961 26,5 0,1 1483 2 649 2 227 1602 3723 12,4 14,6 467 1 016 1 123 1117 Coina 585 1,9 - 8,8 111 172 165 173 Concelho 2997 100 - 3,1 5 297 9 547 8 578 6548 - 23,6 Seixalinho Sto. António da Charneca 0 Península Setúbal - Fonte: INE, Censos 1991 e 2001 Tx. Var. Concelho 42,0 27,6 2,1 -30,7 1991/01 Pen.Set. 73,4 45,8 20,4 - 9,0 Analisando a respectiva evolução no concelho observa-se que, com excepção das famílias com 4 e mais pessoas (que assistiu a um decréscimo que atingiu valores acentuadamente negativos), as outras famílias verificaram aumentos 74 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro significativos, nomeadamente as famílias que são compostas unicamente por um elemento. Este é um cenário que segue a realidade da média da Península de Setúbal. Com efeito, a Península apresenta diferenças mais acentuadas entre as famílias com 1/2 elementos e aquelas com 3 ou mais pessoas, em que estas últimas assumem valores médios baixos. No conjunto das famílias clássicas, e tentando-se perceber as eventuais dinâmicas de apoio aos idosos e de inserção familiar, constata-se que 29.6% são constituídas pelo menos por uma pessoa com 65 ou mais anos. QUADRO 18 - Famílias Clássicas no Concelho do Barreiro, com pessoas c/ 65 e + anos Território Total Concelho 8 886 Índice de Famílias Clássicas / Idosos 15 29,6 Fonte: INE, Censos 2001 Embora numa perspectiva geral a percentagem não seja muito elevada, analisanso a integração desta população segundo o tipo de famílias, observase que 57,5 % das pessoas com 65 e mais anos vivem sozinhas (29,5% são isolados e 27,5 % casais). Com outros familiares vivem 42,5% (destes, constata-se que 34,5% das famílias com idosos integram só uma pessoa com 65 ou + anos. QUADRO 19 - Famílias Clássicas c/ pessoas c/ 65 e + anos, no Concelho do Barreiro, segundo o tipo de família, em 2001 Tipo de Família 1 pessoa c/ 65 ou + anos 2 pessoas c/ 65 ou + anos 3 pessoas ou + c/ 65 ou + anos Sozinha(s) C/ outros familiares Total 2 618 3 063 5 681 (29,5%) (34,5%) (63,9%) 2 445 684 3 129 8 886 (27,5%) (7,7%) (35,2%) (100,0%) 50 26 76 (0,5%) (0,3%) (0,8%) Fonte: INE, Censos 2001 Face ao total das famílias clássicas e não ao total das famílias clássicas com pessoas com 65 e + anos 15 75 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Tendo em conta a grande percentagem de pessoas com 65 ou mais anos a viverem sozinhas (57,5%), e considerando as hipoteses acrescidas de sentimentos de solidão – pelo aumento de tempo disponível – seria de todo pertinente perceber as suas condições de vida e que tipo de suportes é que estão ao seu alcançe (familiar e institucional), nomeadamente face àqueles que já ultrapassaram a barreira do pós-activo e que constituem a maior percentagem desta população (mais de 70 anos = 8 229). Der acordo com os Censos de 2001, em famílias instituicionais, para esse ano, estavam inseridos 313 idosos, sendo as valências do designado “apoio social” o ponto forte deste tipo de protecção, na medida em que apresenta um maior número de pessoas com 65 ou + anos (88,5%) É de salientar que a baixa percentagem de idosos institucionalizados (2,5%) se refere a alojamentos colectivos, não incluindo outros equipamentos e serviços de apoio para esta população, como sejam os Centros de Dia ou o Apoio Domiciliário, e que prestam cuidados, por exemplo, aos que estão inseridos em famílias clássicas. 76 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro 1. 3. Respostas Sociais a Idosos no Concelho do Barreiro As políticas sociais têm proporcionado aos seus beneficiários a possibilidade de aceder a bens e serviços essenciais que vão desde ajudas nos cuidados quotidianos no domicílio até à possibilidade de usufruir de actividades de lazer que proporcionam bem estar, particularmente aos que têm maiores necessidades. Se por um lado, a Segurança Social participa em diversos tipos de serviços para idosos, também é verdade que a sua cobertura é ainda largamente insuficiente. A maioria destes serviços, tende a orientar as respostas para a criação de formas integradas de apoio que não descriminem social e tecnicamente a população deste grupo etário. Assim, pelo menos teoricamente, os serviços responsáveis inclinam-se para a existência de Centros de Dia, Centros de Convívio e Serviço de Apoio Domiciliário, ao nível das freguesias, e Lares Concelhios. O universo das respostas sociais para este segmento social no Concelho do Barreiro é constituído por 18 entidades. Deste conjunto destaca-se que: • 5 são Instituições Particulares de Solidariedade Social; • 4 são Instituições Particulares de Tipo Associativo. • 5 são Estabelecimentos Privados com fins lucrativos, com alvará do ISS; • 4 são Estabelecimentos Privados com fins lucrativos, licenciados ou em vias de licenciamento; Para a análise aprofundada, objecto deste estudo, foram consideradas apenas os três primeiros tipos de instituições referidas anteriormente, não se fazendo referência aos estabelecimentos privados com fins lucrativos, licenciados ou em vias de licenciamento 77 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro As instituições consideradas distribuem-se pelas 8 freguesias do Concelho da seguinte forma: 1 1 0 Barreiro 3 Lavradio 2 Alto Seixalinho Stº Antonio Stº André 2 3 2 Palhais Coina Verderena As respostas promovidas por estas instituições, ainda que insuficientes, como se poderá observar mais adiante, evidenciam uma cobertura pelas 8 freguesias, excepto a da Verderena que não dispõe de nenhuma resposta. Tendo em conta o quadro de respostas das instituições com acordo de cooperação ou com alvára da Segurança Social e para este público-alvo, no Concelho do Barreiro são disponibilizados quatro tipos de valências, a saber: Centro de Dia, Centro de Convívio, Apoio Domiciliário; e Lar, num total de 22 valências. Este conjunto de valências reparte-se da seguinte forma: 7 valências de Lar; 5 de Centro de Convívio; 5 de Centro de Dia; e 5 de Apoio Domiciliário. No que se refere aos Centros de Dia, as freguesias do Lavradio, Stº António da Charneca e Verderena não dispõem desta valência, repartindo-se os 5 que existem pelas restantes freguesias, um por cada freguesia. Os 5 Centros de Convívio repartem-se pelas freguesias de Palhais, Barreiro, Lavradio, Sto. António da Charneca e Sto André, um por cada uma destas freguesias do Concelho, sendo que os dois últimos não têm acordos de cooperação com a Segurança Social. 78 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Relativamente ao Apoio Domiciliário, existe apenas uma valência destas na freguesia de Coina, outra na freguesia de Stº André, concentrando-se as outras na freguesia do Barreiro e Alto do Seixalinho. Não dispondo desta valência as freguesias de Stº António, Verderena, Lavradio e Palhais. Na valência de Lar, registam-se 3 lares na freguesia do Alto Seixalinho, 2 na freguesia do Lavradio, 1 na freguesia de Stº António da charneca e outro na freguesia do Barreiro. As freguesias de Coina, Verderena, stº André e Palhais não dispõem desta valência. É de salientar que no domínio privado lucrativo a rentabilização dos equipamentos faz-se exclusivamente através de lar para idosos. Das 7 respostas de lar para idosos existentes no Concelho, 5 pertencem a entidades privadas com fins lucrativos com um nº residual de utentes e apenas 2 se encontram no domínio da Rede de Solidariedade, nomeadamente da Santa Casa da Misericórdia. As restantes valências (Centro de Dia, Centro de Convívio e Apoio Domiciliário), estão todas no âmbito da solidariedade Social, com excepção de quatro respostas de Centro de Convívio disponibilizadas pelas instituições de tipo associativo, nomeadamente a Associação de Reformados do Barreiro, o Centro Comunitário do Lavradio, a Associação de Reformados de Sto. André e o Centro Social de Sto. António, estes dois sem qualquer tipo de acordo com a Segurança Social, como já foi referido anteriormente. 79 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 20 - Valências de Apoio a Idosos no Concelho do Barreiro, por Freguesia segundo a Natureza Jurídica da Instituição, em 2004 Apoio Domiciliário/ Centro de Dia Centro de Convívio Apoio Domiciliário Lar para Idosos Total Inst. Partic. Tipo Assoc. - - 1 1 1 - 1 - 1 1 2 1 1 4 Verderena - - - - - - - - - - - - - - - - - Alto do 1 - 1 - - - - 2 - 2 2 1 3 5 1 - 6 Stº André 1 - 1 - - 1 1 1 - 1 - - - 2 - 1 3 Lavradio - - - - - 1 1 - - - - 2 2 - 2 1 3 Stº António - - - - - 1 1 - - - - 1 1 - 1 1 2 Coina 1 - 1 - - - - 1 - 1 - - - 2 - - 2 Palhais 1 - 1 1 - - 1 - - - - - - 2 - - 2 Total 5 - 5 1 - 4 5 5 - 5 2 5 7 13 5 2 22 Total Lucrativos Não Lucrativos (IPSS) 1 Total Lucrativos Não Lucrativos (IPSS) - Total Lucrativos 1 Total Não Lucrativos (IPSS) Inst. Partic. Tipo Assoc. Lucrativos Total Não Lucrativos (IPSS) Lucrativos Barreiro Freguesia Não Lucrativos (IPSS) Integrado Seixalinho 80 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Destas 22 valências, por conseguinte, 5 são geridas por entidades privadas com fins lucrativos, 2 por instituições de tipo associativo com acordo com a Segurança Social e 15 são geridas no âmbito da rede de solidariedade, sendo que a predominância nas IPSS’S, ao contrário do sector lucrativo, é nitidamente protagonizada pelos centros de dia e apoio domiciliário. Estas valências acolhem um total de cerca de 899 utentes. Desta forma, tendo em conta os dados do censos de 2001, dos 12 484 habitantes do concelho com 65 e mais anos, cerca de 899 são abrangidos pelos serviços prestados pelas várias entidades com valências para esta faixa etária, o que corresponde a uma taxa total de cobertura de 7,1 %, o que é manifestamente insuficiente. A situação torna-se ainda mais dramática quando colocada apenas em termos de respostas da rede de solidariedade. Ou seja, se considerarmos que actualmente apenas 611 idosos são abrangidos pelas respostas das Instituições Particulares de Solidariedade Social, correspondendo tais dados ao nº aproximado de vagas disponíveis, verifica-se que a taxa de cobertura da rede de solidariedade se cifra nos 5 %, sendo que todas as valências apresentam listas de espera razoáveis, que se agravam para a valência de lar. No Concelho do Barreiro, verifica-se, assim, que não há, em termos gerais das respostas, uma relação directa entre a percentagem da capacidade e oferta dos equipamentos (7,1%) face ao peso da população idosa (15,8%) e sobretudo face às características desta população no concelho . Como refere a Carta Social (Rede de Serviços e Equipamentos – Relatório de 2003) do Ministério da Segurança Social, o distrito de Setúbal é um dos distritos que apresenta uma menor cobertura relativa neste âmbito, e o Concelho do Barreiro dentro deste não difere. 82 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Numa perspectiva territorial de intervenção constata-se que a freguesia do Alto do Seixalinho concentra um terço das valências, seguida da freguesia do Barreiro com 20% das valências. Quanto às restantes freguesias contam com 2 valências (Stº André, Coina, Palhais) e 1 valência (Lavradio). As freguesias de Stº António e Verderena não disponibilizam nenhuma valência. Nenhuma freguesia disponibiliza os 4 tipos de valências existentes no Concelho, em simultâneo. Sem descurar a insuficiência das respostas sociais para esta população alvo, na distribuição do nº de utentes na relação freguesia/valência constata-se que os dados podem ser relativos, uma vez que há valências de instituições sedeadas numa determinada freguesia e que, no entanto, a sua área de abrangência ultrapassa a própria freguesia. Dada a função social que as IPSS´s e as Instituições de Tipo Associativo desempenham, e a representatividade das respostas que dispõem para esta população alvo, a sua caracterização merece neste estudo ser realçada, bem como a realidade dos seus utentes. 1.3.1. Instituições Particulares de Solidariedade Social As 5 instituições Particulares de Solidariedade Social do Concelho do Barreiro prestam, presentemente e de acordo com os dados apurados nos inquéritos às mesmas, um conjunto variado de apoios a um total de 611 idosos, dos quais 60.6 % são mulheres, na sua maioria (cerca de 90% do grupo total de mulheres) com idades compreendidas entre os 66 e os 95 anos. Comparativamente, verifica-se também no grupo dos homens uma maior incidência na mesma faixa etária das mulheres, embora os primeiros frequentem mais as valências de lar e apoio domiciliário. 83 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 21 - Caracterização dos idosos das IPSS’s, por sexo/ idade, em 2005 SEXO IDADE Homens MULHERES TOTAL < 35 3 3 6 36-45 5 3 8 46-55 9 5 14 56-65 26 20 46 66-75 62 87 149 76-85 83 160 243 86-95 48 89 137 > 96 5 3 8 241 370 611 TOTAL % 30 25 < 35 36 - 45 46 - 55 56 - 65 66 - 75 76 - 85 86 - 95 > 96 20 15 10 5 0 Hom ens Gráfico n.º 5 M u lh e re s Idade dos Utentes Inquiridos Tendo presente o conjunto das 8 freguesias, não há dúvida que a do Barreiro e a do Alto do Seixalinho são aquelas que apresentam um maior número de pessoas a serem apoiadas. São, porém, seguidas de perto por Stº André, Stº António, Verderena, Lavradio e Coina. É de referir, que o raio de abrangência das instituições, fora do concelho, não é significativo, correspondendo apenas a cerca de 4% do total da população apoiada. 84 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro % 20 18 16 14 12 10 8 6 4 2 0 Alto do Seixalinho Barreiro Coina Lavradio Palhais Santo André Santo António Verderena Lisboa Moita Palmela Sesimbra Homens Gráfico n.º 6 Mulheres Local de Residência dos Idosos por Concelho e Freguesia Não há dúvida que no concelho existe uma procura significativa de apoios por parte dos idosos e das famílias, mas as respostas das instituições são insuficientes, não só no que diz respeito ao número de pessoas atendidas, mas também quanto à diversificação dos serviços prestados e aos horários praticados. Só para dar um exemplo, de acordo com a amostra, num total de 193 inquiridos, 48 referem que o apoio é insuficiente. As altas hospitalares cada vez mais precoces, as limitações cada vez maiores dos idosos e a pouca disponibilidade da família aumentam grandemente o recurso às instituições. No entanto, torna-se cada vez mais difícil para estas dar uma resposta atempada, uma vez que as listas de espera aumentam vertiginosamente, sobretudo ao nível do internamento e do apoio domiciliário. A existência de um hospital de retaguarda, equipamento reclamado e reconhecido de extrema urgência pela maioria dos agentes sociais a vários níveis de intervenção local, proporcionaria a estes doentes um acompanhamento mais adequado e integrado, não se descurando, contudo, a continuidade do apoio em regime de serviço domiciliário, após estabilização da situação clínica. 85 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Na verdade, a pouca disponibilidade da família (pelo facto de os elementos se encontrarem empregados), a ausência desta (devido à não existência de filhos ou familiares mais chegados, à não proximidade do idoso em termos de local de residência ou, mais grave ainda, devido à sua demissão relativamente às suas obrigações), ou até mesmo a existência de famílias destruturadas devido a factores de ordem económica, psicológica ou social extremos e sem capacidade de resposta aos seus familiares doentes, são factores que vêm agravar um quadro social que, por si só, já é preocupante. Factores estes que são identificados quer nos inquéritos às Instituições quer pelos próprios utentes, de acordo com amostra deste estudo. A maior parte dos idosos (cerca de 55 % do universo das instituições) vive sozinha ou com o seu cônjuge, contando ocasionalmente com a ajuda de amigos ou vizinhos. Contudo este apoio é pontual e não cobre, de forma alguma, todas as suas necessidades. Consequentemente as situações de isolamento e solidão proliferam e vão deixando as suas marcas, na maior parte dos casos irreparáveis. Esta é, aliás, uma das problemáticas identificadas, com um peso acentuado, quer pelas instituições desta área, quer pelos próprios utentes e que reflecte o perfil da população idosa do Concelho do Barreiro atrás caracterizado. QUADRO 22 - Composição do Agregado Familiar dos Idosos das IPSS’S,em 2005 Pessoa isolada Casal Vive com Vive com Sozinha filho(s) outro familiar 215 113 112 Vive com Vive com Sozinho filho(s) outro familiar 58 4 2 Nota: Os resultados apurados não referem o total das Instituições inquiridas. Cerca de 55 % provêm de casa, sem qualquer apoio de retaguarda, ainda que apenas 30% recorra à sua própria institucionalização como solução para os seus problemas. Na verdade, é a família que, na maior parte dos casos (56%) 86 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro solicita o apoio, pois ainda há idosos que apresentam relutância em fazê-lo, por ainda se acharem auto-suficientes, mesmo que o não sejam. QUADRO 23 - Proveniência dos Idosos das IPSS’S, em 2005 Casa Com apoio Internamento Outra instituição Sem apoio Centro Dia Ap. Domic. Outro Hospitalar ou serviço 331 86 78 22 52 20 Nota: Os resultados apurados não referem o total das Instituições inquiridas. QUADRO 24 - Razão da institucionalização dos Idosos das IPSS´s, em 2005 vontade do solicitação da solicitação de Doença do idoso família outros utente 171 340 60 242 outra 4 Nota: Os resultados apresentados referem, relativamente a alguns inquiridos, resposta múltipla. Por outro lado, as pessoas com mais baixos recursos e sozinhas não têm meios para assegurar a manutenção de razoáveis condições de habitabilidade e de salubridade, pelo que as suas habitações começam a degradar-se. Para este tipo de problema as respostas são mínimas e pontualmente consegue-se algum apoio por parte da autarquia e das juntas de freguesia, mas este não é suficiente. O aparecimento de casos sociais tem aumentado bastante, bem como o recurso aos serviços de Acção Social. Os rendimentos dos idosos não são suficientes para fazer face às despesas mensais, sobretudo no que respeita a medicação e fraldas. Apesar de cerca de 45 % dos utentes apoiados pelas 5 instituições do concelho auferirem rendimentos superiores a 300 €, é nos 87 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro restantes idosos (55 %) que reside o problema, pois têm de sobreviver com menos de 300 € mensais. Neste grupo, existe uma franja (12 %) com rendimentos abaixo dos 200 €, na qual se incluem também algumas pessoas sem quaisquer rendimentos. % 45 40 35 Sem rendimento 30 25 Menos de 200 € 20 15 301 € a 500 € 201 € a 300 € Mais de 500 € 10 5 0 Gráfico n.º 7 Rendimento por Idoso A boa articulação entre as instituições e os serviços de Acção Social e outros da comunidade é muitas vezes a causa de maior celeridade no encaminhamento e apoio de muitas situações. No entanto, nem mesmo esta estratégia consegue ultrapassar as esperas prolongadas a que algumas pessoas se sujeitam e que, certamente, ultrapassam a vontade de quem diariamente intervém junto da população. Ao falarmos da articulação das instituições com os vários serviços como uma mais valia do concelho, não podemos esquecer o trabalho desenvolvido na área da saúde e o seu envolvimento com a população das instituições. Ao nível dos Centros de Saúde, a abordagem ao doente é feita numa linha de promoção e educação para a saúde e de prevenção da doença. Neste âmbito, vão sendo também realizadas acções específicas nas instituições, sempre de 88 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro acordo com as solicitações das mesmas e em função das necessidades apresentadas pelo grupo. Não podemos deixar de referir que, apesar da articulação que se consegue estabelecer com alguns dos médicos, no sentido de darem resposta às situações de doença dos idosos, muitos deles não têm ainda um médico assistente atribuído. Isto provoca-lhes uma grande instabilidade, na medida em que o médico de apoio não é sempre o mesmo, o que impede um acompanhamento mais próximo e efectivo do doente. No que respeita á Equipa dos Cuidados Continuados, esta promove o acompanhamento, tratamento e cura de várias situações de doença crónica e aguda, bem como a prevenção terciária (prevenção de sequelas da doença). É neste âmbito, que este serviço proporciona a todos os seus doentes dependentes a possibilidade de usufruírem de ajudas técnicas gratuitamente. Os colchões anti-escaras de pressão alternada, as cadeiras de rodas, as camas articuladas e as almofadas de gel são um exemplo do equipamento mais requisitado, sendo algum insuficiente para a lista de espera existente, como é o caso das camas e dos colchões. Para além disto, esta equipa desenvolve ainda pequenas acções informativas sobre cuidados específicas que as ajudantes familiares devem ter com os idosos, sobretudo com os dependentes. Os temas a abordar são seleccionados pelas instituições, em função das necessidades/dificuldades das funcionárias. Relativamente às ajudas técnicas do Hospital o quadro não é muito diferente. Também o seu número não abrange todas as pessoas que necessitam, com a agravante que apenas as pessoas dependentes com alta hospitalar poderão usufruir deste equipamento. Não nos podemos esquecer que muitas das situações surgem após o doente já se encontrar no seu domicílio. Presentemente, cerca de 1/4 da população abrangida pelo serviço de apoio domiciliário é encaminhada por esta equipa e também pelo serviço social do Hospital do Barreiro e, consequentemente, necessita da prestação de cuidados de higiene e de enfermagem no domicílio. Normalmente estes doentes 89 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro apresentam sequelas de AVC e diabetes e fracturas múltiplas, podendo existir outras patologias associadas. A realidade vivida no concelho do Barreiro apela cada vez mais a uma reestruturação dos serviços, à inovação, sobretudo no que diz respeito às valências de Centro de Dia e Apoio Domiciliário. Os utentes chegam-nos cada vez mais dependentes e com maiores limitações, sendo metade da população, apoiada por estas 5 instituições, parcial ou totalmente dependente, tendo este número tendência para aumentar (de acordo com as estimativas dos 2 últimos anos). 20% 51% Dependência Total Dependência Parcial 29% Independência Gráfico n.º 8 Tipo de Dependência dos Idosos As pessoas com demência , sequelas de AVC, diabetes e insuficiência cardíaca são as mais predominantes, o que limita bastante a intervenção sobretudo em Centro de Dia. Na verdade, nem todas as instituições possuem estruturas físicas adequadas a uma população cada vez mais heterogénea e com necessidades bem específicas e diferentes umas das outras. 90 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro 19% 34% 4% Demências AVC Diabetes Insuficiência Cardíaca 13% Parkinson Outras 14% Gráfico n.º 9 16% Patologias Com Maior Incidência No que respeita ao serviço de Apoio Domiciliário, encontram-se pessoas geralmente dependentes e muito idosas, que não reúnem condições para o desempenho de grande número das actividades de vida diária. A tónica da solidão volta a estar presente e resolvê-la torna-se tão importante quanto o apoio específico que recebem no âmbito de qualquer dos serviços prestados. A este nível, o Voluntariado tem desenvolvido um trabalho muito importante, se bem que com limitações, pois o grupo é muito restrito (sendo difícil dar uma resposta mais abrangente e de acordo com as necessidades dos idosos) e só intervém em algumas freguesias do concelho, ficando as zonas rurais e algumas urbanas a descoberto. Este apoio consiste sobretudo no fazer um pouco de companhia e ajudar as pessoas em alguma situação pontual que surja. Projectos como a Clínica Frater, o voluntariado exercido no Hóspital, e a Agência de Voluntariado Social são iniciativas igualmente validas e reconhecidas. Esta última a necessitar de um maior interesse por parte das Instituições, enquanto estrutura que pode proporcionar um ponto de encontro entre estas e os voluntários com motivações para várias áreas da acção social. As Instituições muitas vezes debatem-se com falta de recursos humanos podendo encontrar na Agência uma resposta adequada com os voluntários que estão disponíveis, mas que não são solicitados. Este é um facto que se 91 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro constata pela falta de inscrições de instituições para enquadrar voluntários que estão disponíveis, apesar da divulgação do projecto e da importância que lhe foi reconhecida pelos parceiros. Apesar do esforço desenvolvido pelas instituições, serviços (na área do social, da saúde e da administração pública) e outros parceiros com intervenção no âmbito do social (grupos de apoio das paróquias), muito há ainda a fazer na área dos idosos, para não falar num grupo mais lato que são os carenciados em geral. Sobre este último aspecto, dos carenciados, que envolvem muitos idosos, mas não só, há várias instituições do concelho que, além de outros apoios, prestam um apoio alimentar regular no concelho. As instituições envolvidas neste tarefa têm-se mostrado apreensivas relativamente ao trabalho desenvolvido; por vezes descoordenado e pouco articulado, o que não permite uma optimização dos recursos accionados para o efeito. Nesse sentido, e tendo sido identificado este problema em sede de reunião do Grupo de Trabalho constituido para o efeito, no âmbito da Rede Social do Barreiro, foram definidos alguns critérios e procedimentos comuns de actuação a serem seguidos pelos vários grupos de apoio alimentar. No entanto, é necessário que este trabalho seja articulado com o Serviço de Acção Social, optimizando-se desta forma os recursos disponíveis e evitando alguns excessos por parte dos utentes. Este poderá constituir , igualmente, um primeiro passo para o que poderá vir a ser um Banco de Recursos Concelhio, e que foi sugerido por alguns interlocutores no âmbito dos grupos de trabalho e nas entrevistas efectuadas. Voltando à caracterização das instituições aqui consideradas e dos seus utentes, quer nos grupos de trabalho inter-institucionais, quer na auscultação efectuada aos utentes, existem algumas semelhanças no que respeita às 92 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro necessidades identificadas, com a diferença que estas últimas são muito mais específicas, fazendo alusão à vivência dos utentes na instituição. As listas de espera das instituições espelham bem a insuficiência de respostas por parte dos equipamentos existentes, sobretudo para lar e apoio domiciliário. Tal como acontece na frequência dos equipamentos, também aqui as mulheres são em maior número. 122 296 71 Apoio Domiciliário Centro de Dia Lar Não Dependentes Lar Dependentes 262 Gráfico n.º 10 Nº de Homens em lista de espera 211 529 189 Apoio Domiciliário Centro de Dia Lar Não Dependentes Lar Dependentes 709 Gráfico n.º 11 Nº de Mulheres em lista de espera No entanto, estes números tenderão a aumentar se não existirem outras respostas na comunidade ou se os recursos existentes não forem rentabilizados, como acontece com muito do tecido associativo do concelho. 93 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Mas rentabilizar recursos passa indiscutivelmente pela renovação e inovação dos serviços prestados nas próprias instituições, adaptados cada vez mais às necessidades de cada idoso. È claro que isto implicará uma especificidade crescente na intervenção desenvolvida por cada equipamento e, consequentemente, a existência de equipas multidisciplinares no terreno (terapeuta, psicólogo, enfermeiro), situações que deverão ser reflectidas pelo Centro Distrital. Outra necessidade identificada prende-se com a criação de uma Comissão de Protecção ao Idoso Concelhia, como forma de promover os seus direitos e prevenir ou pôr termo a situações susceptíveis de afectar a sua segurança, saúde, bem-estar ou desenvolvimento integral. No que respeita às necessidades sentidas pelos próprios utentes , todas elas se encontram mais direccionadas para questões inerentes aos serviços prestados. Propõem, então, um alargamento do horário de laboração dos equipamentos (uma vez que a maior parte deles funciona apenas os 5 dias da semana, em horário normal), realização de outros serviços (limpeza da casa, tratamento de roupa no domicílio) com maior disponibilidade de tempo; existência de um animador sócio-cultural (pois nem todas as instituições têm um) e de um leque variado de actividades; maior tempo de permanência das ajudantes familiares no domicílio, no sentido de poderem fazer mais companhia a quem se encontra sozinho; diversificação das ementas. É importante salientar o facto de alguns idosos inquiridos terem referido o pouco suporte familiar de que dispõem, na medida em que estes se desresponsabilizam, muitas vezes, das suas obrigações. Face à ruptura de equilíbrios tradicionais, em que cuidar dos idosos constituia uma das responsabilidades das famílias e o envelhecer era um processo integrado num ciclo de vida/trabalho, bem mais curto e simples, será necessário encontrar novos equilíbrios adequados á situação actual. 94 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Para além disto, a necessidade de apoio durante a noite é uma realidade cada vez mais presente nestas auscultações, sobretudo porque muitos se acham desprotegidos no caso de algo lhes acontecer. Os Centros de Noite, neste aspecto, seriam uma boa resposta social no concelho, resposta esta, tambem referida como necessária pela maioria dos agentes sociais. Esta questão social da população idosa, atendendo às perspectivas da evolução da sociedade barreirense, em termos etários, com já foi referido antes, e à falta gritante de respostas sociais, terá de ser uma prioridade fundamental. A Rede Social, através deste Diagnóstico Social, deve ser considerado um valioso instrumento de aferição destas e outras realidades sociais do Concelho do Barreiro e um instrumento indicativo de políticas sociais activas futuras. É imperioso que o Centro Distrital de Segurança Social, as autarquias e as instituições mobilizem vontades e energias para encontrar soluções, para acções estruturais e com resultados visíveis a médio e longo prazo. Devem-se encontrar formas de poder rentabilizar-se redes instaladas na comunidade, como o movimento associativo com capacidades estruturais para tal, e em coordenação com as instituições de solidariedade social, nomeadamente para o funcionamento de centros de dia e reforço do apoio domiciliário. É vital, exigir do poder central medidas concretas e céleres face à situação em que se encontra envelhecido o Concelho do Barreiro, que passam pela construção de um Lar de Idosos, pelo já referido hospital de rectaguarda, pelo desbloqueamento de verbas em PIDDAC para a construção do Centro Comunitário de Santo António. 95 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro 1.3.2. Instituições de Tipo Associativo O Concelho do Barreiro possui, para além das 5 instituições que prestam serviços em regime de Centro de Dia, Apoio Domiciliário e Lar, outras 4 (1 Centro Social e 3 Associações de Reformados), que desenvolvem a sua actividade na área da 3ª idade. É de salientar que dois destes equipamentos (Centro Social de Stº António e Associação de Reformados de Stº André) não possuem acordo com o Centro Distrital para a valência de Centro de Convívio, pelo que não são referenciadas nos dados apresentados. Contudo, é importante mencionar que qualquer uma destas instituições tem cerca de 500 sócios e que se preocupa em lhes proporcionar um espaço de lazer e algumas actividades, sobretudo passeios. Quanto às Associações de Reformados do Barreiro e do Lavradio, cerca de 70 % da população por elas abrangida tem idades compreendidas entre os 56 e os 75 anos, ainda que o grosso (45%) se situe na faixa etária dos 66 aos 75. QUADRO 25 - Caracterização dos Utentes das Associações, por sexo/ idade, em 2005 Sexo Idade Homens Mulheres Total < 35 0 1 1 36-45 1 0 1 46-55 8 6 14 56-65 15 38 53 66-75 26 68 94 76-85 15 24 39 86-95 4 5 9 > 96 0 0 0 69 142 211 Total 96 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro % 35 < 35 36 - 45 46 - 55 56 - 65 66 - 75 76 - 85 86 - 95 > 96 30 25 20 15 10 5 0 Homens Gráfico n.º 12 M ulheres Idade dos Utentes Inquiridos Tal como acontece com as Instituições de apoio aos idosos, também nestas se verifica uma maior afluência de mulheres. Tendo em conta as 8 freguesias do concelho, o Lavradio e o Alto do Seixalinho, logo seguidas do Barreiro, são aquelas que apresentam um maior índice de recurso a estes equipamentos. É de referir que o raio de abrangência fora do concelho não é significativo, correspondendo apenas a 9% do total das pessoas. % 25 Alto do Seixalinho Barreiro 20 Coina Lavradio 15 Palhais Santo André 10 Santo António Verderena 5 0 Moita Homens Gráfico n.º 13 Mulheres Local de Residência dos Utentes por Concelho e Freguesia 97 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Apesar destas Associações terem uma população muito específica, com características diferentes daquelas que são apoiadas pelas instituições analisadas anteriormente, existem similitudes em algumas das problemáticas identificadas. Neste quadro temos pessoas mais novas e com um grau de autonomia maior, ainda em condições de desenvolverem um grande número de actividades de vida diária. Não podemos caracterizar muito o grupo devido à falta de informação dos próprios serviços, na medida em que não possuem um registo pormenorizado dos seus associados. No entanto, podemos constatar que a maior parte das pessoas recorre às Associações por razões que se prendem com o entretenimento, de forma a poderem usufruir das suas actividades (festas, passeios, gerontomotricidade). Não se verificam casos de ausência de rendimentos e os inferiores a 200 € não são relevantes (5%), mas grande parte do grupo (73.5%) apresenta rendimentos entre os 200 € e os 300 €, o que também evidencia a dificuldade que algumas pessoas terão em fazer face às suas despesas mensais. 80 % 70 Menos de 200 € 60 201 € a 300 € 50 301 € a 500 € 40 Mais de 500 € 30 20 10 0 Gráfico n.º 14 Rendimento por Utente O Centro de Convívio acaba por ser um espaço de divertimento e de lazer, situação que não se verifica nas outras instituições de idosos. No entanto, a 98 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro importância destes espaços é indiscutível, precisamente pelo papel que desempenham junto da população que apoiam. A utilização e a rentabilização dos mesmos para outros grupos de idosos mais limitados deveria ser avaliada, pois alguns dos serviços que prestam poderiam ser alargados, tal como a realização de refeições (almoços e lanches) e o tratamento de roupas. No decorrer da aplicação dos inquéritos, as pessoas manifestaram necessidades muito específicas, em diversas áreas: - Serviços alargamento do horário de funcionamento tratamento de roupa barbearia confecção de refeições criação de um Centro de Noite - Apoio social e clínico atendimento, encaminhamento e acompanhamento por parte de um técnico de Serviço Social atendimento e acompanhamento por parte de um médico e enfermeiro É de salientar que nestas instituições o número de pessoas apoiadas é superior ao definido no acordo de cooperação, precisamente porque as situações de carência vão aumentando. Ainda no que diz respeito às necessidades, também os dirigentes identificaram algumas, coincidentes com as dos seus associados e outras que se prendem com a melhoria das instalações e o alargamento das valências (nomeadamente para Centro de Dia e Apoio Domiciliário). A rentabilização do Centro Comunitário do Lavradio por forma a que possa dar as respostas sociais para o qual foi dimensionado é fundamental. 99 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Esta opinião é também a apreciação efectuada pelas direcções das outras duas Associações que não possuem acordo com o Centro Distrital e que sentem necessidade de melhorar a resposta dada aos seus associados. 100 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO RESUMO • Envelhecimento demográfico do Concelho; • Estrutura familiar heterogénea; • Aumento de famílias clássicas compostas unicamente por um elemento; • 29,6% das famílias são constituídas pelo menos por uma pessoa com 65 e mais anos; • Universo das respostas à Terceira Idade: 18 entidades; • Existência de quatro tipos de valências: Centro de Dia (5); Centro de Convívio (5); Serviço de Apoio Domiciliário (5) e Lar de Idosos (7); • A resposta da Rede de Solidariedade evidencia uma cobertura apenas em 5 das 8 freguesias existentes no Concelho; • No domínio privado lucrativo, a rentabilização dos equipamentos faz-se exclusivamente através de lar para idosos: dos 7 existentes no Concelho apenas 2 estão no âmbito da rede de solidariedade; • Taxa de cobertura total das várias respostas sociais existentes – 7,1%; • Taxa de cobertura da rede de solidariedade de 5%; • As freguesias do Lavradio, Stº António da Charneca e Verderena não dispõem de Centro de Dia; • Só há Centros de Convívio com acordo de cooperação com a segurança social nas freguesias do Barreiro, Lavradio e Palhais; • As freguesias de Stº António, Verderena, Lavradio e Palhais não dispõem da valência de Apoio Domiciliário; • As freguesias da Verderena e Stº António não disponibilizam nenhuma valência na rede de solidariedade; • Necessidade de criação de um centro de noite, de um equipamento de retaguarda e de um lar; • Isolamento e solidão, aumento de casos sociais na população idosa; • Necessidade de uma maior cultura colaborativa entre instituições e serviços; • Rentabilizar redes instaladas na comunidade, designadamente o movimento associativo para fins sociais; • Listas de espera acentuadas em Centro de Dia e muito acentuadas ao nível de internamento (lar) e de Apoio Domiciliário; • Iniciativas de voluntariado válidas mas a requerer um maior interesse por parte das instituições na rentabilização deste recurso disponível. 101 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Distribuição de alimentos aos mais carenciados pouco articulados. • Inexistência de um Banco de Recursos Concelhio; • Respostas insuficientes por parte dos equipamentos existentes, • Necessidade de rentabilizar as instituições de tipo associativo com cariz social, alargando os serviços que prestam, implementando outros e optimizando os seus espaços; • Ajudas técnicas insuficientes; • Necessidade de maior interdisciplinaridade no apoio à população idosa e de revitalizar a parceria dos cuidados continuados de saúde; • Necessidade da criação de uma comissão de protecção ao idoso Concelhia e de alargamento do horário de laboração dos equipamentos. 102 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro ___________________________________________ 2. Infância e juventude/educação ___________________________________________ _ 103 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro 2. INFÂNCIA E JUVENTUDE/ EDUCAÇÃO A escola é, hoje, depois da família, uma das principais dimensões de inserção e a exclusão da escola e da aprendizagem é, sem dúvida, uma das primeiras exclusões sociais que marca definitivamente o percurso das crianças e dos jovens. Os novos desafios que se colocam às famílias relativamente aos seus filhos que decorrem da dificuldade de conciliar a actividade profissional dos pais com os cuidados dos filhos, da multiplicidade de formas de vida familiar existentes e das exigências do novo estatuto da criança, demandam a dinamização de serviços e respostas sociais que tornem possível às famílias enfrentar esses desafios, adaptando de forma adequada as exigências profissionais às responsabilidades decorrentes da parentalidade 16. A educação é, pois, o resultado do trabalho de um conjunto de actores que, na sua interacção, ensinam e aprendem, podendo-se considerar a actividade educativa como uma responsabilidade das famílias, da sociedade e do estado. Por outro lado, analisando o cenário actual da sociedade em que vivemos, condicionada pelos avanços científicos impulsionados pela indústria electrónica e o desenvolvimento das telecomunicações, o desafio é, segundo Roberto Carneiro “a oferta de uma educação com qualidade distribuída com equidade, voltada para a melhoria do processo de aprendizagem e capaz de garantir a equidade nos pontos de chegada visando a igualdade de oportunidades e de tratamentos”. Esta afirmação é reforçada pela O.C.D.E. que no seu programa de Educação para 2003-2004 e 2005-2006 estabelece como um dos seus objectivos estratégicos 17 a construção da coesão social através da educação. Isto é, para além de desenvolver o conhecimento e competência nos indivíduos os 16 17 Cf. Plano Nacional de Acção para a Inclusão, 2003-2005 Documento integral em http://www.oecd.org/dataoecd/35/40/30470766 104 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro sistemas de ensino também deverão contemplar objectivos sociais, incluindo o da construção da coesão social. Isto levanta questões importantes como o da equidade na educação em geral e em grupos sociais mais vulneráveis tais como necessidades educativas especiais, emigração e minorias. A escola inclusiva está inerente a esta perspectiva na medida em que mais do que integrar é incluir no grupo beneficiando das oportunidades educativas que são proporcionadas. De acordo com Ricardo Vidigal da Silva 18, um dos temas chave que emergiu nos últimos anos é o reconhecimento de que a aprendizagem não é um evento que ocorre somente no início da vida, mas sim, é uma actividade para toda a vida. Neste seentido, a educação pré-escolar é a primeira etapa da educação ao longo da vida. Segundo Jacques Delors: “Não basta que cada qual acumele no começo da vida uma determinada quantidade de conhecimentos de que se possa abastecer indefinidamente. É, antes, necessário estar à altura de aproveitar e explorar, do começo ao fim da vida, todas as ocasiões de se actualizar, aprofundar e enriquecer esses conhecimentos, e de se adaptar a um mundo em mudança. A qualificação da população é, sem dúvida, cada vez mais um factor importante no desenvolvimento das localidades. De facto, a qualificação da mão-de-obra residente é um “factor de localização preferencial de empresas, elas próprias qualificadas e potencialmente promotoras do desenvolvimento” 19. Neste contexto, assume particular relevância a prossecussão e o reforço de estratégias de educação e formação ao longo da vida, que deve funcionar como orientadora da oferta e participação num contínuo de aprendizagem que vise essencialmente: qualificar a educação básica e combater o abandono In Educação, Aprendizagem e Tecnologia. Um paradigma para professores do séc. XXI. Edições Sílabo. 19 Diagnóstico Prospectivo do Plano Estratégico para o Desenvolvimento da Península de Setúbal, Tomo VIII 18 105 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro escolar precoce; expandir e diversificar a formação profissional para jovens; melhorar as para qualificações garantir condições de empregabilidade dos adultos. Segundo os últimos censos, que se reportam ao ano de 2001, o Barreiro apresentava ao nivel da instrução da sua população um peso significativo de indivíduos com o 1º ciclo do ensino básico completo (23,1 %) seguido do ensino secundário (10,5 %). De registar que o peso de indivíduos com nenhum nível de ensino é , também, ele significativo (9,6 %). 18278 8270 Sem Prénível Escolar 1º Ciclo 2º Ciclo 3244 Níveis de Instrução 4741 3660 Secundário frequenta incompleto completo incompleto 1025 completo incompleto 3º Ciclo frequenta 2299 2095 1691 1673 completo completo frequenta 832 4495 frequenta 3226 3788 incompleto 4149 7179 frequenta 7615 incompleto 20000 18000 16000 14000 12000 10000 8000 6000 4000 2000 0 completo N.º de Indivíduos GRÁFICO 08 - População Residente no Barreiro, segundo o nível de instrução, 2001 Superior FONTE: INE, Censos 2001. Ao nível da educação e do emprego, de acordo com o estudo do Instituto de Segurança Social, já anteriormente referido, das tipologias de exclusão social, os concelhos considerados na tipologia de Territórios Ameaçadores e Atractivos, na qual o Concelho do Barreiro se insere, apresentam valores globalmente favoráveis face aos registados para a média do continente. Relativamente á escolarização, este tipo de territórios é o que apresenta os valores mais favoráveis, apresentando a maioria dos seus concelhos as mais baixas taxas de analfabetismo do continente (5,4% contra 13,5%) e uma fraca 106 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro expressão do abandono precoce (1,96% contra 3,02%), assunto este que abordaremos em pormenor mais adiante. Apesar deste panorama globalmente favorável, o investimento na qualificação dos recursos humanos apresenta-se, ainda, assimétrico do ponto de vista social e territorial, conforme constata este estudo. De facto, mesmo no interior deste tipo de territórios verifica-se a existência de alguns concelhos, entre os quais o Concelho do Barreiro, que se destacam desfavoravelmente face à média deste tipo. O quadro que se segue ilustra essa situação, ou seja, um perfil “menos feliz” destes territórios em termos de qualificação dos seus recursos humanos, mas mesmo assim muito mais favoráveis do que a tendência nacional. QUADRO 26 - Concelhos com situações mais desfavoráveis relativamente à Escolarização, segundo a Tipologia de Territórios Ameaçadores e Atractivos Concelhos Odivelas % Pop. Com escolaridade <=à obrigatória 62,57 Concelhos Taxa De Analfabetismo Concelhos Taxa De Saída Antecipada Concelhos Taxa de abandono Barreiro 5,80 Porto 15,60 Moita 2,00 Vila Franca de Xira Loures 63,22 Loures 5,90 Loures 15,70 Matosinhos 2,10 64,09 Lisboa 6,00 Moita 16,00 Barreiro 2,20 Moita 65,81 Almada 6,10 Setúbal 16,80 Lisboa 2,20 Maia 67,04 Coimbra 6,40 Matosinhos 18,40 Loures 2,40 Aveiro 67,04 Espinho 7,00 Maia 19,60 Amadora 2,50 Matosinhos 70,15 Setúbal 7,60 Aveiro 20,80 Setúbal 2,60 V.N.de Gaia Espinho 71,54 Moita 7,90 V. N.de Gaia Espinho 21,80 Porto 2,60 27,20 - - V.N.de Gaia 71,54 Barreiro 9,4 a 18,4 Média 60,93 Média 5,49 Média 15,47 Tipo Tipo Tipo Média 73,10 Média 13,52 Média 27,1 Nacional Nacional Nacional Fonte: “Tipologias de Pobreza e Exclusão Social em Portugal Continental, ISS Barreiro 47 a 62,2 Média Tipo Média Nacional 107 1,96 3,02 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro De acordo com o estudo das tipologias verifica-se que a maioria destes concelhos que apresentam indicadores mais desfavoráveis do ponto de vista da educação, tendem também a ser aqueles que registam os valores mais elevados de profissões desqualificadas. Espinho, Moita, V.N. de Gaia, Loures, Setúbal, Maia, Aveiro, Vila Franca de Xira, Matosinhos, Odivelas, Barreiro e Seixal, por ordem decrescente, são os concelhos que apresentam os valores mais altos de desqualificação no emprego face à média nacional. Desenhar, mesmo no geral, a situação do ensino e das respostas sociais para a população alvo, deste capítulo, é muito complexo. Mesmo para os dados mais simples e directos, não foi fácil aceder a estatísticas adequadas em tempo útil (foi o caso para o ensino particular com fins lucrativos que é aflorado ao de leve neste estudo), facto ao qual se alia a sua dispersão pelos vários organismos públicos e privados responsáveis. Contudo organizaram-se alguns elementos estatísticos disponíveis, realizaramse entrevistas e inquéritos que permitiram à equipa de investigação constatar alguns dados e inserí-los numa reflexão estratégica. O Concelho do Barreiro apresenta os seguintes dados relativamente a esta população alvo considerada. 108 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 27 - População Residente, segundo o grupo etário de 0 a 24 anos, por freguesia, em 2001 Freguesias Grupos etários 0a4 anos % 5a9 anos % Barreiro 337 10,0 382 Lavradio 675 20,1 Palhais 55 Santo André Verderena Alto do Seixalinho Sto. António da Charneca Coina Concelho 11,3 10 a 14 anos 398 621 18,4 1,6 49 447 13,3 417 11,5 15 a 19 anos 851 566 16,3 1,4 52 470 14,0 12,4 431 792 23,6 569 10,3 20 a 24 anos 632 9,9 1 335 16,2 980 15,4 1,5 97 1,1 101 1,6 503 14,5 1 175 14,2 952 15,0 12,8 423 12,2 1 323 16,0 929 14,6 755 22,4 803 23,2 2 318 28,1 1 666 26,2 16,9 575 17,1 632 18,2 946 11,4 976 15,4 66 1,9 82 2,4 84 2,4 198 2,4 108 1,7 3 358 100,0 3 365 100,0 3 461 100,0 8 243 100,0 6 344 100,0 % % % Fonte: INE, censos 2001 Da leitura do quadro constata-se que os grupos etários dos 0 a 4 anos, 5 a 9 anos, e 10 a 14 apresentam valores muito homogénios, correspondendo a 12,8% da população total do Concelho do Barreiro, e que traduzem um média de cerca de 3 400 indivíduos por cada um desses grupos etários. Os grupos etários de 15 a 19 anos e de 20 a 24 anos apresentam valores mais elevados, 8 243 e 6 344 indivíduos respectivamente, sendo que o maior nº se concentra, por ordem decrescente, nas freguesias de Alto do Seixalinho, Lavradio e Verderena, em consequência provavelmente da dimensão populacional destas. Comparativamente a 1991, o Concelho do Barreiro perde população em todos estes grupos etários considerados, à excepção do grupo etário de 20 a 24 anos que verifica um aumento não significativo para uma década (+ 93 indivíduos), sendo que o grupo etário que mais perde é o de 15 a 19 anos (-3 749 indivíduos), a seguir o de 10 a 14 anos (- 3 230 indivíduos), seguido do 109 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro grupo dos 5 aos 9 anos (- 1 126 indívíduos). No grupo etário dos 0 aos 4 anos o número de perdas não é tão significativo (- 386 indivíduos). A análise por freguesias permite verificar que na freguesia do Lavradio aumentou apenas o grupo etário dos 0 aos 4 anos (+ 126) e dos 5 aos 9 anos (+ 749); na freguesia de Palhais apenas o grupo dos 0 aos 4 anos (+ 12) e dos 20 a 24 anos (+ 23). Nas freguesias de Sto. André e Sto. António da Charneca apenas aumentou o grupo etário dos 20 a 24 anos (+ 80 e + 249 respectivamente). As restantes freguesias perdem indivíduos em todos os grupos etários considerados. 2.1. Primeira e Segunda Infância No Concelho do Barreiro, a educação na primeira e segunda infância apoia-se em redes do sistema público pertencendo a dois ministérios (o da Educação e o da Segurança Social) e no ensino particular (rede de solidariedade e rede privada com fins lucrativos). Antes de uma análise exaustiva deste tema convém, contudo, fazer uma clarificação de alguns conceitos, ainda que necessariamente breve. Importa reter um facto inquestionável: a creche, apesar da sua inserção neste capítulo, não é, na sua essencia, uma resposta educativa, mas sim uma resposta social; significando isto que a sua existência tem mais a ver com as necessidades da família do que com as necessidades da criança. Definindo, suscintamente, Creche, pode-se dizer que é uma resposta social destinada a famílias com crianças entre o nascimento e os três anos, e que em Instituição se organiza por 1º e 2º Berçário e Sala-Parque, tendo cada uma destas salas um equipa sob a responsabilidade de uma educadora de infância. 110 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro É obvio que, considerando a pouca idade destas crianças, o factor mais importante para o seu saudável desenvolvimento é a afectividade proporcionada por quem as ajuda. Passando para o Jardim de Infância, oficialmente designado por Pré-Escolar, encontramos aqui, de maneira efectiva, uma resposta directamente mais vocacionada, hoje, para as necessidades da criança do que da família; decorrendo das Orientações Curriculares para a Educação Pré-escolar o reconhecimento da sua importância. Em Instituição, o jardim de Infância organiza-se em salas com grupos heterogénios de 20 a 25 crianças com uma equipa de trabalho sob a responsabilidade de uma educadora de infância. CRECHE Esta valência destinada à 1ª infância (idades inferiores a 3 anos) depende do Ministério da Segurança Social, sendo as crianças apoiadas, quer por estabelecimentos particulares com fins lucrativos, quer em instituições particulares de solidariedade social e por estabelecimentos oficiais. Para além deste tipo de estabelecimentos existe ainda uma rede de “creches familiares” (serviço em que as crianças ficam à guarda de amas utilizando as suas habitações). Este serviço é protagonizado, no Concelho do Barreiro, pelo Centro Distrital de Segurança Social, através do seu equipamento oficial no Lavradio, “O Barquinho”. Na distribuição do nº de crianças, na relação freguesia/valência de creche, constata-se que os dados apresentados podem ser relativos, uma vez que as instituições com esta valência sedeadas numa determinada freguesia têm uma área de abrangência que ultrapassa a própria freguesia. 111 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro No Concelho do Barreiro existem 5 instituições da rede de solidariedade, isto é, instituições com Acordo de Cooperação com o Estado, com resposta de creche. QUADRO 28 - Respostas de Creche no Concelho do Barreiro da Rede de Solidariedade, por freguesia e frequência, em 2005 Freguesias Instituições “Os Reguilas” C.A.T.I.C.A. NÓS D. Pedro V - C. S. Parq. Sto. André - - 20 20 - - - - - - - - - - 40 - 22 - - - - - - 40 - - - - - 40 - - - - - 27 - - - Barreiro Lavradio Palhais Sto. André Verderena Alto do Seixalinho Sto. António da Charneca Coina Concelho Fonte: Serviço de Acção Social do Barreiro 209 crianças Como se pode constatar no quadro, 209 crianças frequentam a creche na Rede de Solidariedade. Territorialmente, a frequesia de Santo André é aquela que mais vagas disponibiliza (62), seguida da freguesia do Barreiro, Verderena e Santo António da Charneca (40) e Coina (27). No sentido oposto estão as freguesias do Lavradio, Alto do Seixalinho e Palhais que não apresentam qualquer equipamento de creche, de momento, na rede de solidariedade, facto que deverá merecer especial atenção dos serviços competentes e da autarquia quanto a disponibilização de terrenos, sobretudo quando estão em causa algumas freguesias com o maior nº de população com a idade própria para frequentar este tipo de equipamentos, como é o caso das duas primeiras referidas. 112 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro As listas de espera em Creche, registadas nas instituições acima descritas ultrapassa os 810 utentes. Deve, no entanto, ressalvar-se que em muitos casos poderão verificar-se repetições de inscrições em várias instituições em simultâneo. QUADRO 29 - Lista de Espera para a valência de Creche, na Rede de Solidariedade, em 2005 Instituições Nº de potenciais utentes “Os Reguilas”, Sto. André 140 “Os Reguilas”, Sto. António da Charneca 81 CATICA 14 Centro Social e Paroquial de Sto. André NÓS 50 25 D. Pedro V + 500 TOTAL 810 A oferta oficial, protagonizada pela Segurança Social no Concelho do Barreiro, com o estabelecimento “O Barquinho, dispõe de 51 vagas e uma lista de espera de 41 potenciais utentes em creche e amas. Em termos de oferta, por parte de estabelecimentos privados com fins lucrativos, para esta valência de creche, o Concelho do Barreiro apresenta os seguintes estabelecimentos com alvará ou com autorização provisária de funcionamento da Segurança Social. 113 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 30 - Estabelecimentos Privados c/ fins lucrativos com resposta de Creche, no Concelho do Barreiro, por freguesia e frequência, em 2005 20 Estabelecimentos Freguesias Lavradio Creche Jardim dos Príncipes 32 Colégio do Lavradio 32 Creche Desabrochar, jardim de Infância, Lda 24 Sto. António da Charneca Canto Alegre, Infantário Lda 14 TOTAL 102 Resumindo, no Concelho do Barreiro, estão, em 2005, 362 crianças em creche. A maioria da cobertura é realizada pela rede de solidariedade (10,2 %), tendo os estabelecimentos privados com fins lucrativos uma oferta de apenas 5,0 % e a oferta pública um valor residual de 2,5 %. QUADRO 31 - Nº de Estabelecimentos e Lugares de Creche, no Concelho do Barreiro, em 2005 Públicos Freguesias Rede Privada c/ fins lucrativos Nº Vagas Nº Vagas Barreiro - - Lavradio 1 51 3 Palhais - - Sto. André - Verderena Alto do Seixalinho Sto.António daCharneca Coina Rede de Solidariedade Nº Vagas TOTAL Nº Vagas 2 40 2 40 88 - - 3 139 - - - - - - - - - 2 62 2 62 - - - - 1 40 1 40 - - - - - - - - - - 1 14 1 40 2 54 - - - - 1 27 1 27 Concelho 362 Tx de Cobertura 17,75 % Fonte: Serviço de Acção Social do barreiro e Rede de Solidariedade 20 Para efeitos deste tema apenas foram considerados os estabelecimentos com alvará da Segurança Social ou com autorização provisória de funcionamento. 114 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Se tivermos em conta estes três tipos de oferta e que o Concelho do Barreiro, para o grupo etário a que se destina esta resposta de cheche (0 – 2 anos), tem 2 039 indíviduos, verificamos que em termos médios o concelho dispõe de uma taxa de cobertura 21 de 17,75 %, quando a proposta de cobertura é de 30 %. A taxa de cobertura concelhia não difere muito daquela que é apresentada, em termos de média nacional, pelo estudo “Tipificação das Situações de Exclusão Social em Portugal Continental” de 2004 que a situa em 17,84 %. Embora esteja muito próxima da média nacional, mas muito longe da meta recomendada de 30%, este tipo de resposta de Creche no concelho é, de facto, um problema grave; a sua oferta é incipiente não correspondendo às necessidades da população. No Concelho do Barreiro existe uma real necessidade de equipamentos de creche, preferencialmente o mais próximo possível das famílias, nas urbanizações. E este é outro problema que surge associado ao anterior, o não apetrechamento das novas urbanizações e freguesias mais populosas com equipamentos de apoio à vida quotidiana das famílias, neste caso, de equipamentos de creche. As listas de espera, só por sí, justificam a criação de mais valências ou equipamentos nesta área. Por vários informadores foi referida a sua necessidade na freguesia do Barreiro e Alto do Seixalinho, nomeadamente no Barreiro Velho, Bairro das Palmeiras e Bairro Alfredo da Silva e na freguesia de Santo António da Charneca, nomeadamente na Cidade Sol. Por outro lado, foi referida a necessidade urgente deste tipo de resposta em horário nocturno, dado o horário de trabalho de muitas famlias e ao facto do concelho do Barreiro ser um concelho com um elevado nº de famílias monoparentais. 21 Para os Censos de 2001 existiam no Concelho do Barreiro 2 039 indivíduos com idades compreendidas entre os 0 e os 2 anos. A Taxa de Cobertura foi calculada mediante a seguinte fórmula: Total de vagas*100/População Residente [0; 2 anos] = 36 200/ 2 039 = 17,75 % 115 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Esta questão das listas de espera, bem como o horário de funcionamento das instituições com este tipo de resposta constituem as “principais queixas” junto da população que delas sente necessidade e foi referida por igualmente pelos parceiros. Os horários de funcionamento foram considerados manifestamente desadequados face a situações de disfunção familiar e ou realidades laborais existentes. Esta é, alías, uma situação transversal, uma vez que se verifica igualmente no pré-escolar. Importa referir, contudo, neste contexto, a valorização que é dada ao papel desempenhado pelos avós, que ficam com as crianças até aos pais chegarem. PRÉ-ESCOLAR (Jardim de Infância) Os equipamentos de 2ª infância, denominados de Jardim de Infância ou Préescolar, abrangem crianças de idade compreendidas entre os 3 e os 5 anos, inclusive. Para esta faixa etária, o Concelho do Barreiro apresenta uma oferta de 555 vagas em termos da Rede de Solidariedade, distribuída da seguinte forma: 116 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 32 - Resposta de Pré-escolar da Rede de Solidariedade, no Concelho do Barreiro, por freguesia e frequência, em 2004 Freguesias Instituições CAI “Os Reguilas” C.A.S.P. D.Pedro V CATICA TOTAL 40 SDUB “Os Franceses” 80 Barreiro - - - - 120 Lavradio - - - - - - - Palhais - - 40 - - - 40 Sto. André 70 100 - - - - 170 Verderena - - - 100 - - 100 Alto do Seixalinho Sto. António da Charneca Coina - - - - - - - - 100 - - - - 100 - - - - - 25 25 CONCELHO 555 As freguesias do Lavradio e do Alto do Seixalinho voltam a não apresentar, mais uma vez, qualquer equipamento de jardim de infância na Rede de Solidariedade, facto que é preocupante dado estarmos perante duas freguesias que, como já foi referido, aqui também registam um nº elevado de crianças para este grupo etário abrangido. É de registar que no Concelho do Barreiro a oferta do ensino particular (Rede de Solidariedade), assume, para o ano lectivo 2004/2005, um nº de vagas (555) muito idêntico ao ensino público (562). A Segurança Social, através do seu estabelecimento oficial , “O Barquinho”, tem uma oferta de 70 vagas. 117 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 33 - Resposta de Pré-escolar da Rede Pública, no Concelho do Barreiro, por freguesia e agrupamento de escolas, 2004/2005 Freguesias Agrupamentos de Escolas Barreiro Verderena D. Manuel Pe. Abílio Mendes 21 Alvaro Velho Sto. António TOTAL - Qta N. Telha - Barreiro - - - - 21 Lavradio - - - - - - - 40 Palhais - - - - - - - - Sto. André - - 45 - - - - 45 Verderena - 91 - - - - - 91 Alto do Seixalinho Sto. António da Charneca Coina - - - 80 125 - - 205 - - 65 - - - 95 160 - - - - - - - - CONCELHO 562 Da leitura do quadro verifica-se que as freguesias de Palhais e Coina não apresentam qualquer tipo de oferta da Rede Pública de Pré-escolar. Apesar desta lacuna, este grau de ensino é aquele que, a nível conselhio, tem assumido nos últimos anos um maior dinamismo em termos de equipamentos e de alunos matriculados. Exemplificando, no Concelho do Barreiro, a implementação da Rede Pública processou-se a um bom ritmo, como a seguir se demonstra: 1989 – 2 Salas, Jardim de Infãncia da Vila Chã; 1990 - + 1 Sala, Jardim de Infância da Vila Chã; 1992 – 2 Salas, Jardim de Infância nº 1 do Alto do Seixalinho ( EB1 nº 8); 1993 - + 1 Sala, Jardim de Infância nº 1 do Alto do Seixalinho (EB1 nº 8); 1996 – 3 Salas, Jardim de Infância nº 2 do Barreiro (EB1 nº 9); 1998 – 1 Sala, Jardim de Infância nº 1 da Verderena (EB1 nº 4); 118 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro 1999 – 2 Salas, Jardim de Infância de Sto. António (EB1 nº 2 ); 2000 – 3 Salas, Jardim de Infância nº3 do Alto do Seixalinho (Casal Barbeiro); 2000 – 1 Sala, C.A.I.C. (Bº das Palmeiras – Barreiro); 2001 – 1 Sala, Jardim de Infância na EB1 nº 5; 2001 – 1 Sala, Jardim de Infância da EB1 da Fonte do Féto; 2002 – 2 Salas, Jardim de Infância da Telha Nova nº 1; 2002 - 2 Salas, Jardim de Infância da EB1 nº1 do Lavradio; 2002 – 3 Salas, Jardim de Infância nº 2 da Verderena (Tágides); 2005 – 1 Sala, Jardim de Infância da EB1 da Penalva; De acordo com o responsável do Sector da Educação da Autarquia do Barreiro, de 2002 até 2005 foram abertas 8 salas em 4 freguesias distintas, dispondo o concelho actualmente de 29 salas de Pré-escolar e no próximo ano lectivo de mais 5 salas. De facto, está prevista a abertura de mais uma sala em Sto. António da Charneca (EB1 nº 1 de Sto. António); 2 salas na Quinta do Fidalguinhos (Lavradio); 1 sala na escola nº 7 do Barreiro e 1 sala na escola nº 2 do Lavradio. Ainda, de acordo com a mesma fonte, com a deslocação a médio prazo da escola nº 1 e nº 2 do Barreiro para a antiga escola Mendonça Furtado, será possível resolver alguns problemas estruturais actuais destas escolas bem como aumentar a oferta de pré-escolar da rede pública nesta freguesia. Apesar de tudo, é de reconhecer que foi feito um grande esforço neste âmbito. Praticamente, todas as crianças de 5 anos do concelho têm esta resposta, refere a mesma fonte. Com a construção dos referidos equipamentos, a Autarquia procura incrementar a taxa de cobertura deste grau de ensino no Concelho do Barreiro. Considerando apenas o ensino público, o particular da rede de solidariedade e o oficial da Segurança Social são disponibilizadas no Concelho um total de 1 187 vagas para crianças com idade compreendida entre os 3 anos e a idade de ingresso no 1º Ciclo do Ensino Básico (1 969 119 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro crianças –Censos 2001), cifrando-se a taxa de cobertura, a partir destes três tipos de oferta, nos 60,3 pontos percentuais, sendo que 28, 5 % corresponde à rede pública; 28, 2 % à rede de solidariedade e 3,5 % ao ensino oficial da Segurança Social. Esta questão da cobertura do Pré-escolar como também a cobertura de Creche foi aflorada em diversos momentos da recolha de informação, tendo sido unânime o desejo de muitos em atingir uma taxa de cobertura de 100 %, o que corresponderia a uma promoção da obrigatoriedade deste grau de ensino no Concelho do Barreiro, embora a meta nacional seja dos 90 %. Tal situação irá contribuir, certamente, para uma melhoria da igualdade de oportunidades entre os indivíduos quando estes acedem ao 1º Ciclo do Ensino Básico. QUADRO 34 - Taxa de Cobertura da Educação Pré – Escolar, no Concelho do Barreiro, por entidades tutelares, 2004/2005 Ministério da Educação Público Ministério do Trabalho TOTAL e Segurança Social Rede de Solidariedade Oficial Crianças Tx. de Cobertura Crianças Tx. de Cobertura Crianças Tx. de Cobertura Crianças Tx. de Cobertura 562 28,5 555 28,2 70 3,5 1 187 60,3 Em termos territoriais por freguesia, tal como já foi referido, é de registar o facto de duas freguesias (Palhais e Coina) estarem totalmente desprovidas do ensino pré-escolar público. Foi ainda referido pelos informadores o facto de algumas novas urbanizações não terem este tipo de equipamentos colectivos, forçando os seus residentes a procurar este grau de ensino em estabelecimentos que, não estando perto do seu local de residência, estejam próximos do seu local de trabalho, muitas vezes fora dos limites territoriais do concelho 120 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Uma outra nota vai para as freguesias do Lavradio e Ato do Seixalinho que, sendo as que registam o nº mais elevado de população residente em idade pré-escolar, apesar da existência de salas de ensino público, não dispõe, neste contexto, do apoio vital fornecido pela Rede de Solidariedade. A situação agudiza-se com o não prolongamento de horários do pré– escolar público e com as listas de espera no particular que atingem cerca de 800 potenciais utentes. Mais uma vez, esta questão da listas de espera podem ser relativas, dada a possibilidade que existe de inscrições em simultâneo em várias instituições. Os horários de funcionamento dos estabelecimentos públicos de ensino préescolar foi, de facto, uma das questões aflorada, nas entrevistas e reuniões temáticas de diagnóstico, tendo sido, não raras vezes, referida a necessidade de um prolongamento dos mesmos, tanto do prolongamento matinal (a começar pelas 7h) e prolongamento vespertino (até às 19h00). Apesar de se reconhecer a importância que têm o Projecto “Escolas Barreiro”, promovido pela Câmara Municipal do Barreiro, e o Programa de Desporto Escolar, estas iniciativas não resolvem o problema, até porque nem todas as escolas as têm. Apenas duas soluções estão disponíveis para os casais: o recurso ao privado com fins lucrativos, que nem sempre praticam mensalidades compatíveis com a disponibilidade financeira do agregado familiar; o recurso jardins de infãncia sediados noutros concelhos limítrofes ou socorrendo-se de redes sociais de proximidade sob lógicas de interajuda e vizinhança que substituem a rede formal deste tipo de resposta educacional. ENSINO BÁSICO Em Portugal, até ao momento, o ensino básico obrigatório compreende o 1º, o 2º e 3º Ciclo num total de 9 anos de escolaridade. 121 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro No Concelho do Barreiro, o 1º Ciclo do Ensino Básico é assegurado por 20 estabelecimentos públicos de ensino que servem todo o concelho, proporcionando a total cobertura de todas as crianças com a idade indicada para frequentar este ciclo de ensino, sendo que actualmente, para o ano lectivo em curso, estão a frequentar cerca de 3 257 crianças. Um outra referência é dirigida aos agrupamentos escolares já constituídos no concelho. Existem, para o mesmo ano, 7 agrupamentos de escolas: 1) Agrupamento de Escolas da Verderena; 2) Agrupamento de Escolas D. Manuel I; 3) Agrupamento de Escolas de Sto. António da Charneca; 4) Agrupamento de Escolas da Qta. Nova da Telha; 5) Agrupamento de Escolas Pe. Abílio Mendes; 6) Agrupamento de Escolas de Àlvaro Velho; 7) Agrupamento de Escolas do Barreiro Dos agrupamentos referidos, apenas os 4 últimos se constituem como agrupamentos verticais, sendo que todos os outros são horizontais, incluindo apenas jardins de infância e escolas básicas do 1º Ciclo. Em termos ainda de ensino básico, há a salientar o facto de o 2º e 3º Ciclos serem ministrados em 3 escolas, com um total de 2 190 alunos. É de referir, ainda, que o ensino do 1º Ciclo é fundamentalmente de responsabilidade oficial, sendo resultado de uma parceria entre o Ministério da Educação e as autarquias que têm competências na construção, remodelação, transportes escolares e alimentação. Neste âmbito, os principais problemas que afectam o 1º Ciclo no Concelho do Barreiro, insidem sobre a dificuldade de “reconversão” das “escolas antigas”. Algumas dessas escolas não se adequam às novas formas de ensino e às actividades extra-curriculares cada vez mais necessárias no contexto da escola, como referem muitos dos interlocutores nas várias técnicas de recolha de informação aplicadas neste estudo. 122 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Por outro lado, é referida a falta de pessoal não docente de apoio nas escolas, bem como, em muitos casos, a sua falta de preparação funcional e de competências pessoais. É necessária uma política educativa para o pessoal não docente nas escolas. A articulação entre as autarquias e as escolas é deficitária, fruto da falta de canais de comunicação entre a direcção política e a execução dos serviços. A falta de manutenção de espaços exteriores e de alguns equipamentos é outro dos aspectos referidos, situação que reflecte a realidade de muitos anos de falta de conservação, como são os casos da Escola nº 6, nº 8 e nº 9 do Barreiro. De uma forma global, todas as escolas, umas mais que outras, têm problemas. Embora as obras de conservação sejam da competência da autarquia, é de registar que as juntas de freguesia do concelho recebem verbas, igualmente, para pequenas reparações nas escolas do 1º Ciclo. Em termos de estrutura de edifícios do parque escolar constitui-se como problema a escola nº 1 e nº 2 do Barreiro, que a médio prazo prevê-se a sua deslocação para a antiga escola Mendonça Furtado; e a escola nº 2 da Telha Nova. O problemas do pré-fabricado da escola nº 1 de Santo António será resolvido ainda no decorrer desta ano. No entanto, a questão dos pavilhões no parque escolar do concelho é no geral preocupante. Relativamente às escolas nº 4 e nº 6 do Barreiro estão a realizar-se projectos de substituição, de acordo com a informação prestada pelo responsável do Sector da Educação da Câmara Municipal do Barreiro. Existe a possibilidade de se fazer candidaturas, já em curso, a programas , a partir dos quais nomeadamente a recuperação da escola nº 6 se poderá efectuar. 123 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro O grande problema, de acordo com a mesma fonte, reside também nos logradouros das escolas nº 1 e nº 2 do Lavradio, da nº 2 de santo António, da EB1 da Penalva, da nº 6 e nº 9 do Barreiro, que têm que ser adaptados. Outra preocupação das direcções escolares, e que é uma preocupação também da autarquia, tem a ver com o mobiliário degradado das escolas, muito dele dos anos 80. Para resolver este problema, a autarquia lançou um concurso para apetrechamento das escolas do 1º Ciclo, para reformulação do mobiliário das salas de aula e refeitório. Este é um concurso que será faseado a 3 anos. Actualmente, está a ser construída, para entrar em funcionamento já no próximo ano lectivo, uma EB1 na Quinta dos Fidalguinhos (Lavradio) com 2 salas de Pré-Escolar e 4 para 1º Ciclo, mas é necessário pensar-se a curto e médio prazo outras escolas de 1º Ciclo em alguns locais do concelho: 1 escola na freguesia do Barreiro em substituição da nº 1 e nº 2, como já foi referido, 1 escola em Sto. André dado que a nº 2 da Telha Nova não tem condições e é provisória há mais de 20 anos e uma escola nova em Palhais em substituição da actual, dada a previsão de aumento populacional acentuado face às novas urbanizações implantadas e a surgir muito em breve nesta freguesia. Os encarregados de educação referem, por outro lado, o desejo de verem realizados planos de evacuação e salvamento (simulacros), nomeadamente nas escolas do 1º ciclo. Apesar de ser reconhecido o envolvimento da escola com a comunidade e vice-versa, em alguns casos a constituição em agrupamento de escolas prejudicou este envolvimento. No entanto, é de registar, de acordo com as informações recolhidas, que a comunidade escolar é uma comunidade dinâmica e atenta às necessidades dos alunos e suas famílias. 124 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro No contacto com os vários agrupamentos foi possível perceber este dinamismo protagonizado quer pelas escolas, quer pela própria autarquia, quer pela acção de algumas associações de pais. Este dinamismo é palpável na grande váriedade de projectos, programas, bem como pelas parcerias estabelecidas com várias instituições, organismos, serviços e colectividades (Centros de Saúde, ECAE, IEFP; C.M.B., DREL, IPSS’S, PSP,GNR, Colectividades, entre outras). Só para exemplificar frisamos alguns: modalidades desportivas várias, centros de recursos, animação cultural, diversos Clubes, salas de estudo, PIEF, 10 UNIVAS, Rede de Bibliotecas Escolares, Centro de Formação de Professores, projectos de gestão flexível de curriculos, serviço de atendimento aos alunos, Unidade de Multideficiência, projecto “Escolas Barreiro”, Carnaval das Escolas, Feira Pedagógica, projecto “Crescer com a Música”, projecto “Internet nas escolas”, projecto Contadores de Histórias, entre muitos outros. A Autarquia, por sua vez, ainda, tem em vista a implementação de mais alguns projectos, tais como: estabelecer parcerias a nível da saúde para trabalhar o problema da obesidade nas escolas, a partir do pré-escolar, promovendo a saúde e combatendo a obesidade; um Observatório da Educação, com o intúito de fazer estudos, monitorizar necessidades e realidades ligadas à educação no concelho (mobilidade dos alunos, absentismo e abandono escolar), e estabelecer políticas de intervenção. Sobre este aspecto, foi sugerido por alguns interlocutores a necessidade de se fazer um estudo independente que equacione a rentabilização do parque escolar com projecção para os próximos 10 anos, que poderia ser protagonizado por este observatório. O Conselho Municipal de Educação, recentemente aprovado em Assembleia Municipal, como orgão consultivo no âmbito da educação, poderá ser uma estrutura dinamizadora de uma comunidade educativa efectiva e de um projecto educativo concelhio com eixos estratégicos de acção que enquadrem todos os ciclos de ensino existentes no concelho. 125 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro O Projecto de Cidadania é outro dos desafios que a autarquia pretende abraçar, no sentido de preparar as crianças, a partir do 1º ciclo, para perceber dinâmicas de acção social e política do concelho, através da interacção entre alunos e autarcas. Outras duas grandes questões que é pertinente serem aqui abordadas, dada a sua importância e relevo no quotidiano das crianças e famílias, dizem respeito à Acção Social Escolar e às Necessidades Educativas Especiais (NEE). Desde 1984 com a publicação do dec. Lei 399A de 28 de Dezembro, passou a ser da competência da Autarquia, a gestão de refeitórios escolares e atribuição de subsídio para apoio a aquisição de livros e material escolar a alunos carenciados que frequentem estabelecimentos de ensino do 1º ciclo do ensino básico e pré-escolar. Os apoios são avaliados anualmente, de acordo com os valores publicados em Diário da República e mediante preenchimento de um boletim de candidatura efectuado no acto da matricula, na respectiva escola, que posteriormente envia para a autarquia, juntamente com os documentos comprovativos do rendimento do agregado familiar. Por outro lado, sendo a Câmara Municipal do Barreiro, responsável pela gestão dos refeitórios das escolas referidas e jardins de infância, está este serviço adjudicado protocolarmente à RUMO – Empresas de Inserção. Neste âmbito, no ano lectivo 2004/2005 estão abrangidos na Acção Social em Pré-escolar 130 crianças dos vários jardins de infância da rede pública do concelho, sendo que para o mesmo ano, nas escolas básicas do 1º Ciclo do Concelho do Barreiro, estão abrangidas 1 095 crianças. 126 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 35 - Acção Social Escolar do 1º Ciclo (escalão A e B), no Concelho do Barreiro, por Agrupamento de Escolas, em 2005 Agrupamento de Escolas Nº de Crianças D. Manuel I 146 Pe. Abílio Mendes 169 Verderena 142 Sto. António da Charneca 248 Barreiro 63 Qta. Da Nova da Telha 184 Alvaro Velho 143 TOTAL 1095 Da leitura do quadro anterior constata-se que um número acentuado de crianças do primeiro ciclo pertencem a agregados familiares com dificuldades económicas, que possivelmente muitas delas poderão concentrar em si vários factores e expressões de pobreza e exclusão social. Também, a partir de 1984 (Dec. Lei 299/84 de 5 de Dezembro), foi estabelecida a competência da autarquia na área dos transportes escolares, dispondo a população escolar residente no Concelho do Barreiro, os seguintes apoios: - Subsídio de transporte escolar: destina-se exclusivamente a alunos do 2º e 3º ciclo, que frequentem estabelecimentos de ensino fora do concelho, por inexistência dos cursos ou vagas nas escolas do concelho. A comparticipação é de 100 % até ao 9º ano e 50 % do 10º ao 12º ano. - Circuitos especiais: serviço adjudicado por concurso e que se destina ao transporte de alunos portadores de deficiência e que frequentem escolas do concelho. Este apoio é solicitado pela equipa de apoios educativos da respectiva escola. 127 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro No âmbito das Necessidades Educativas Especiais (NEE), o Concelho do Barreiro apresenta os seguintes dados nos três ciclos do ensino básico: QUADRO 36- Alunos com Necessidades Educativas Especiais, no Concelho do Barreiro, por Agrupamento de Escolas, 2004/2005 21 Alunos c/ dificuldades temporárias 70 Alunos c/ dificuldades de aprendizagem - Pe. Abílio Mendes 80 - - Verderena 21 - 48 Sto. António da Charneca Barreiro 30 - 45 28 - - 38 - - 56 - - 274 70 93 Agrupamento de Escolas D. Manuel I Alunos com NEE Qta. Da Nova da Telha Alvaro Velho TOTAL Fonte: Agrupamentos de escolas do Concelho do Barreiro Face aos dados que o quadro anterior apresenta, esta questão das NEE e das dificuldades de aprendizagem são de facto questões pertinentes no universo escolar aqui considerado e que deve merecer uma atenção especial na intervenção que é efectuda, sobretudo ao nivel de programas e projectos para este tipo de população alvo e ao nível dos recursos necessários para uma acção integrada/inclusiva. No Concelho do Barreiro, existem algumas parcerias e projectos no terreno que procuram dar resposta aos alunos com Necessidades Educativas Especiais. É o caso, por exemplo, do funcionamento de equipas de apoios educativos nas escolas em articulação com a Equipa Coordenadora de Apoios Educativos Barreiro/Seixal; a existência de uma Unidade de Multideficiência; a existência de protocolos com a DREL, a CERCIMB, a RUMO e a NÓS. Estas três últimas instituições desenvolvem projectos na área da intervenção precoce e educacional junto desta população alvo. 128 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Contudo, foi possível apurar, através das várias técnicas utilizadas para recolha de informação junto dos actores locais, que há um défice a vários níveis nesta intervenção. É necessário que os projectos implementados no terreno não tenham descontinuidade, é necessário mais e melhor especialização dos professores e técnicos que trabalham com estes alunos e crianças; é urgente alargar as respostas neste âmbito, bem como incrementar respostas capacitadas de apoio técnico precoce a crianças dos 0 aos 6 anos (o ECAE encontra-se actualmente a efectuar um estudo sobre este grupo etário para aferição da sua dimensão); é urgente constituir-se equipas multidisciplinares nas escolas com este tipo de crianças. Por outro lado, é, igualmente, reconhecida a importância da existência de projectos e programas em algumas escolas e de outros projectos desenvolvidos por instituições dirigidos aos alunos ou jovens com dificuldades de aprendizagem e com orientações divergentes ao curriculo normal. Exemplificando, pode-se referir o Projecto Transitar da Rumo que apoia algumas escolas de 2º e 3º ciclos e secundárias na estruturação, desenvolvimento e avaliação de processos de transição de jovens para a vida adulta, combatendo a exclusão e o abandono escolar; a Escola Incluir que tem por objectivos a educação básica e formação profissional de jovens em risco com 15 ou mais anos, 7º ano de escolaridade; projectos na área educacional da NÓS e da CERCIMB; existência de cursos de mecânica e hotelaria para alunos em risco de abandono escolar (Agrup. Esc. Pe.Abílio Mendes); as UNIVAS em várias escolas com orientação profissional e académica para alunos do 9º ano; turmas de curriculos alternativos e com cursos técnológicos com certificação (Agrup. Escolas Álvaro Velho), Gestão Flexivel do Curriculo em conselho de turma, que permite a gestão do curriculo nacional mediante o diagnóstico que é feito à turma, sendo uma solução para combater o insucesso (Agrup. Escolas do Barreiro); a Área Projecto para contextualização das competências; e outros projectos que se podiam continuar a referir. 129 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro É, no entanto, referido pelos interlocutores a necessidade de implementar mais turmas de curriculos alternativos nas escolas, sobretudo naquelas que têm muitos alunos com problemas de integração e insucesso, nomeadamente na Escola 2+3 de Álvaro Velho e na EB1 nº 2 de Santo António, esta última, dadas as características do meio em que está inserida e da população escolar (escola multicultural). No caso do ensino básico, a falta de Serviços Especializados de Apoio Educativo com um conjunto de recursos humanos capazes de trabalhar em parceria nos agrupamentos de escola não permite uma rápida e eficaz intervenção e posterior encaminhamento de situações referenciadas. O resultado é a desigualdade na resolução dos problemas e no atendimento adequado. São necessários animadores socio-culturais e mediadores culturais nas escolas. O Programa PIEF, implementado na 2+3 da Quinta Nova da Telha com 30 alunos, é um programa que de acordo com a direcção do agrupamento não está adaptado à realidade e às circunstâncias locais. Actualmente, é um programa académico que não tem articulação com o I.E.F.P na vertente socioprofissional, componente fundamental do programa. Neste contexto, os fenómenos do abandono escolar e do absentismo que marcam actualmente algumas escolas do concelho registam-se sobretudo a partir do 2º ciclo do ensino básico. Apesar disso, de acordo com a informação das direcções dos agrupamentos, não têm dimensões alarmantes, mas denotam um tendência desfavorável. A desmotivação pela escola apontada por alunos inquiridos como responsável pelo abandono escolar surge acompanhada por factores, segundo eles, como a falta de apoio dado pelos professores e também pela metodologia de ensino que muitas vezes não é motivadora para alunos com dificuldades de aprendizagem. Paralelamente, a debilidade das estruturas familiares, traduzida na desresponsabilização parental no processo escolar conduz não raras vezes 130 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro ao desinteresse pela escola e consequentemente ao absentismo e abandono escolar. QUADRO 37 – Absentismo e Abandono Escolar, registado pela CPCJ até 30 de Outubro de 2003 Género Absentismo Abandono Masculino 19 21 Feminino 12 12 Total 31 33 Total Masc/Feminino 64 FONTE: Comissão de Protecção de Crianças e Jovens em Perigo. ENSINO SECUNDÁRIO E PROFISSIONAL Existem no Concelho do Barreiro 5 escolas de Ensino Secundário, designadamente, a Escola Secundária dos Casquilhos e a Escola Secundária Augusto Cabrita, ambas sediadas na freguesia do Alto do Seixalinho; a Escola Secundária de Sto. André, na freguesia de mesmo nome; a Escola Secundária de Alfredo da Silva, na freguesia do Barreiro e a Escola Secundária de Santo António, sediada na freguesia de Sto. António da Charneca. Todas elas no seu todo abrangiam no ano lectivo passado um total de 2 704 alunos, sendo referido por vários informadores que as actuais são suficientes para dar resposta às necessidades do Concelho do Barreiro. Relativamente ao Ensino Profissional no Concelho do Barreiro, ele surgiu no ano lectivo de 90/91 com o Curso de Higiene e Segurança no Trabalho, na Quimiparque, protagonizado pela Escola Profissional Bento Jesus Caraça. Actualmente, esta escola encontra-se sediada na freguesia da Verderena com os seguintes números de alunos e de cursos. 131 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 38 - Frequência de Alunos no Ano Lectivo, 2004/2005 Curso Turma Nº Total de Alunos Tec. Hig. Seg. T. 12º ano 20 Nº de Alunos c/ apoio social 4 Tec. Contab. Gestão 12º ano 22 2 Tec. Hig. Seg. T. 11º ano 22 5 Tec. Contab. Gestão 11º ano 18 2 Tec. Anim. Soc.Cult. 11º ano 14 4 Aprendizagem Tec. Informática 12º ano 16 11 Tec. Contab. Gestão 12º ano 17 12 129 40 TOTAIS Fonte: Escola Profissional Bento de Jesus Caraça De acordo com a direcção da escola profissional, a nível da inserção profissional o curso mais procurado pelos jovens é o Curso de Higiene e Segurança no Trabalho, facto que se justifica dado que hoje as empresas são obrigadas a possuir um técnico ou acessoria nesta área, dai as muitas saidas profissionais que este curso proporciona. Com este objectivo, a escola dispõe de uma UNIVA que faz contactos com as empresas para a colocação de alunos deste e de outros cursos. Os estágios curriculares fazem parte da estrutura dos cursos, sendo que os do 11º ano tem por objectivo conhecer e tomar contacto inicial com o mercado de trabalho e os do 12º ano tem em vista a prepação para a prova de aptidão profissional individual. Os estágios, ao nível dos cursos de aprendizagem, não só integram os alunos com também os próprios recebem apoio (cursos subsidiados). Os motivos pelos quais os jovens procuram este tipo de ensino são vários: 1) entrar no mercado de trabalho o mais depressa possível; 2) fuga à escola tradicional; 3) a vertente prática na área tecnológica; 4) integração no mercado de trabalho. 132 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Esta escola mantém uma forte relação com empresas, instituições e colectividades para a realização de estágios e visitas de estudo, bem como um protocolo com a Associação de Municipios de Setubal para a inserção de jovens. Apesar de tudo, é uma escola com dificuldades, lutando pela sobrevivência deste polo dado o período complicado de alteração orçamental que este tipo de ensino vive actualmente. O financiamento provém do orçamento geral do estado (500€ por aluno) quando antes provinha do Fundo Social Europeu no valor de (750€ por aluno). Este défice reflecte-se no aumento das propinas que o aluno paga, o que veio dificultar a procura deste tipo de ensino face à situação económica familiar de muitos alunos, que é débil. Por outro lado, a dependência dos registos centrais em Lisboa também não facilita. Outra das grande dificuldades com que esta escola se depara é limitação dos espaços existentes. Actualmente, não tem espaço para o curso de Animação Socio-Cultural, por exemplo. ENSINO SUPERIOR No que se refere ao ensino superior, encontra-se sediada, provisóriamente, na freguesia do Barreiro a Escola Superior de Tecnologia do Barreiro, do Instituto Politécnico de Setúbal. A Escola, a funcionar desde 1999 em regime de instalação, tem centrado a sua actividade na montagem e estruturação dos seus serviços. A dimensão das actuais instalações têm constituído um entrave ao seu crescimento, que se espera seja ultrapassado em breve dado o arranque da construção das instalações definitivas. Neste contexto, de acordo com a amostra dos inquéritos efectuados aos estudantes, estes sentem a necessidade de existirem na escola um bar, um refeitório, salas de estudo e biblioteca. 133 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro É manifesta uma grande vontade de interagir com o meio, através de protocolos com as entidades locais para a integração dos alunos no mercado de trabalho. Neste sentido, muitos dos estudantes entrevistados referem a necessidade de uma maior abertura por parte das empresas locais a estágios no âmbito dos cursos leccionados. A interacção com a comunidade em geral tem sido dificultada pela dimensão reduzida do corpo docente em função do número de alunos, facto que apenas poderá ser ultrapassado com o aumento do número de alunos e com a entrada em funcionamento das novas instalações. Esta é, aliás, uma das preocupações, também manifestada pelos estudantes. No entanto, de entre várias iniciativas realizadas no ãmbito comunitário, são de realçar o levantamento das patologias do Convento da Verderena, a participação no QualiBrr, no CLASB, o desenvolvimento do programa Politecnico Solidário e a oferta do Concerto IPS, programa aberto a toda a comunidade. Questionados os estudantes sobre as condições que o Concelho do Barreiro deveria ter para os estudantes do ensino superior, os mesmos referem a necessidade de salas de estudo a funcionar em horário nocturno prolongado, e uma residência para estudantes. É de realçar que, não só neste nível de ensino mas em todos os outros a questão da segurança é aflorada. A 31 de Dezembroi de 2004, a Escola Superior de Tecnologia possuía 334 estudantes inscritos, distribuidos pelos dois cursos de Engenharia Civil ministrados (diurno e nocturno). Todos os alunos que acabam o 1º ciclo (Bacharelato) encontram emprego, o que diz que o produto desta Escola Superior é apelativo. Como principal meta futura é desejada a finalização da construção das novas instalações, que irão permitir o crescimento da Escola, outra visibilidade e 134 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro atractividade, melhoria do ensino ministrado e a espansão a outras áreas de formação: Engenharia Química e Engenharia de Conservação e Reabilitação. ENSINO EXTRA-ESCOLAR No Concelho do Barreiro existe, ainda, a oferta de duas modalidades de ensino extra-escolar: Ensino Recorrente ( em especial o 1º Ciclo e também o 2º e 3º Ciclos quando não há escolas 2+3 que os leccionem) e Educação Extraescolar, vovacionada para o Ensino de Línguas (inglês, português para estrangeiros, entre outras), Tecnologias – Informática, e para as Artes (artes de corativas, tapeçaria de Arraiolos, bordados, pintura em adulejo, porcelana e seda; pintura a óleo; corte e custura, entre outras). Ambas as modalidades são dinamizadas pela Organização Local de Educação e Formação de Adultos do Barreiro . Este tipo de ensino, de acordo com a informação recolhida, dirige-se a público com mais de 15 anos de idade, com baixa escolaridade, que não completou a sua escolaridade na idade própria pelas mais diversas razões ou que deseja adquirir mais conhecimentos por razões pessoais ou profissionais ou actualizar os que já possui. A vantagem deste sistema de ensino é o de ser mais flexível que o ensino regular, quanto aos horários e locais de funcionamento dos cursos, adaptados conforme a disponibilidade dos formandos inscritos. 135 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Actualmente, a OLEFA do Barreiro tem em funcionamento os seguintes cursos: QUADRO 39 - Cursos promovidos pela OLEFA do Barreiro, em 2005 Cursos Nº Formandos Designação 1º Ciclo 170 2º Ciclo 18 Inglês 75 Informática 30 Sócio-Profissionais 150 10 1 4 2 8 TOTAL DE FORMANDOS 443 Fonte: OLEFA do Barreiro Ao nível de Ensino Recorrente a grande maioria dos cursos funciona em escolas do 1º Ciclo; ao nível da informática funciona em escolas 2+3 ou secundárias ou ainda em instituições que disponham deste tipo de equipamento. Os cursos sócio-profissionais funcionam em instalações disponibilizadas pela comunidade (colectividades, juntas de freguesia, etc). A OLEFA mantém um boa articulação com a comunidade, pois só assim se concebe a existência deste tipo de resposta educativa dirigida em função das necessidades da população, refere a responsável do organismo local. Essa articulação reflecte-se nas várias parcerias em que se encontra integrada a OLEFA: Núcleo Local de Inserção Social; Núcleo Executivo da Rede Social e CLASB, CPCJ. As maiores necessidades sentidas por este organismo prendem-se com a falta de instalações próprias para o funcionamento dos cursos, dependendo sempre das escolas que não dispõe de mobiliário adequado para a população adulta (sobretudo as do 1º ciclo); com o regime de colocação dos professores que leccionam os cursos, dado não existir um quadro de professores afecto ao Ensino Recorrente, sendo os docentes colocados em regime de complemento de horário ou de acumulação de funções. 136 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Uma outra limitação apontada é o reduzido número de elementos da Equipa Local da Organização para o desempenho de todas as actividades. Seria, assim, necessária a colocação de mais um elemento para o desempenho eficaz de todas as actividades. A grande tarefa que a educação de adultos do Concelho do Barreiro tem que continuar a investir tem a ver com a população, que por razões culturais e étnicas, continua a resistir à frequencia do ensino regular e com a população que continua a abandonar a escola sem concluir a escolaridade obrigatória. Nesta área da educação de adultos, é necessário criar verdadeiros “incentivos” para responsabilizar e motivar os formandos para a frequência da formação; bem como uma efectiva articulação entre a formação escolar e profissional, nomeadamente para as faixas etárias mais jovens. É interessante registar que ao contrário do que muitos interlocutores referiram relativamente à necessidade de mais cursos de formação de adutos, tal situação não é pertinente a nível concelhio, do ponto de vista da OLEFA, uma vez que de uma forma geral o número de cursos existentes corresponde às necessidades do Concelho do Barreiro. SERVIÇOS À JUVENTUDE No Concelho do Barreiro o défice de equipamentos para a infância e juventude prolonga-se aos Centros de Actividades de Tempos Livres e Ateliers de Tempos Livres, onde a oferta é, mais uma vez escassa. Apesar da diversidade e dispersão das fontes de informação que pode prejudicar a contabilização, o número de ATL´s é considerado insuficiente face às necessidades, tendo em conta o número de crianças e jovens em idade escolar e os problemas de risco social para crianças e jovens em algumas localidades do concelho. 137 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 40 - ATL, em Estabelecimentos Lucrativos, Rede de Solidariedade, Oficiais, por freguesia e capacidade Rede de Solidariedade Oficiais Barreiro 42 - Est. Fins lucretivos com alvará - Lavradio - 60 20 80 Palhais 35 - - 35 Sto. André 80 - - 80 Verderena 70 - - 70 - - 20 20 115 - - 115 80 - - 80 Freguesias Alto do Seixalinho Sto. António da Charneca Coina TOTAIS Total 42 522 Neste contexto das actividades de tempos livres, é de referir, também, o Projecto Escolas Barreiro, promovido pela Autarquia, e o Programa Escolhas 2º Geração, promovido pela PERSONA em consórcio com um conjunto de instituições do Concelho do Barreiro. 138 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 41 - Alunos do Ensino Pré-escolar e 1º ciclo do Ensino Básico abrangidos pelo Projecto “Escolas Barreiro”, 2004/2005 Ciclo de Ensino Agrupamento Escola Nº de Alunos 3 do Barreiro 41 4 do Barreiro 62 7 do Barreiro 83 D. Manuel I Telha Nova 1 39 Sto. António Sto. António 2/ Verderena 1º Ciclo Escolhas 40 Lavradio 1 38 Lavradio Lavradio 2 39 Qtª Nova da Telha Palhais 38 TOTAL Pré-Escolar 419 Jardim 1 17 Verderena Jardim 2 59 Pe. Abílio Mendes CAIC 25 TOTAL 101 TOTAIS 520 Fonte: CMB, Sector do Desporto O programa Escolhas encontra-se, actualmente a funcionar, na Cidade Sol com dois projectos: 1) ATL “Casinha do Sol” para 40 crianças entre os 6 e os 11 anos, funcionando todos os dias das 10h00 às 18h30; 2) Projecto “Cidade do Sol”, a funcionar na Escola Secundária de Sto. António, contemplando três acções – apoio psico-pedagógico; apoio social às famílias e o Centro de Inclusão Digital. Do exposto podem resultar várias leituras quanto à taxa de cobertura dos ATL’s no Concelho do Barreiro. Se considerarmos esta questão da Ocupação dos Tempos Livres dos jovens do ponto de vista apenas das Instituições do concelho, com este tipo de estabelecimentos para jovens com idade compreendida entre os 6 e os 12 anos (4 755 jovens, censos 2001) a referida taxa de cobertura fica muito aquém dos 30% que são recomendados por concelho, uma vez que essa taxa no Barreiro, para o tipo de oferta das instituições consideradas, é de 11 %. 139 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Este dado vem demonstrar que é necessário mais respostas em ATL no Concelho do Barreiro, quer seja na Rede de Solidariedade, no Oficial ou no Privado com alvará da Segurança Social, sobretudo nas frequesias que mais carecem deste tipo de oferta e com um número elevado de jovens nestas faixas etárias. Esta necessidade foi constantemente referida em todas as tecnicas utilizadas para a recolha de informação e foi quase unânime a sua referência pelos interlocutores priveligiados contactados. Porém, se, além da oferta das Instituições atrás referidas, tivermos em conta o peso significativo que o projecto “Escolas Barreiro”, embora com outro tipo de funcionamento e estrutura, tem no Concelho do Barreiro, 44.5 % para 55.5 %, verifica-se que esta questão da Ocupação dos Tempos Livres, mesmo assim, ultrapassaria pouco mais de metade da taxa recomendável. A taxa de cobertura cifraria-se nos 19.8 %. Muito longe da taxa ideal de 50 % a que o Concelho do Barreiro deve aspirar. Não estão contabilizados nos dados anteriores, mas não deixam de ser uma resposta forte no concelho, as actividades de tempos livres promovidas pelo movimento associativo, onde se incluem os clubes, as colectividades e o escutismo, que abrangem um número muito significativo de jovens nas várias modalidades desportivas; bem como as cerca de 1500 crianças de 1º e 2º ciclo, de 18 escolas, que estão envolvidas no projecto de Mini-Basquet, promovido pela autarquia. Apesar disso, há interlocutores que consideram que faltam incentivos à prática do desporto, quando de facto a apetência por parte dos jovens é muita. Em determinadas zonas do concelho, como por exemplo na Cidade Sol, faltam equipamentos e pólos de dinamização para os jovens. Foi sugerido a colocação em várias zonas do concelho, de tabelas de basquet em espaços públicos bem como a criação de circuítos de bicicleta. Estas realidades devem merecer um aprofundamento em estudos posteriores. 140 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro No entanto, para a fase da adolescência e juventude, quando os jovens necessitam de mais apoio e de maior orientação, já que é nesta idade que surgem todo o tipo de apelos que conduzem a comportamentos menos saudáveis e, alguns deles, até desviantes, não existe um programa sistematizado e estrátégico de intervenção junto desta população jovem; há sim espaços, projectos e apoios pontuais, respostas que estão descoordenadas, o que constitui uma lacuna do Concelho do Barreiro, referem muitos dos interlocutores. Neste sentido, importa referir a importância que o espaço B e J, a Biblioteca Municipal ou outros podem desempenhar nesta estratégia, como polos dinamizadores de programas dirigidos à juventude em coordenação com o Sector da Juventude da Autarquia. O potenciar desta estrutura e a realização de um estudo sobre o consumo cultural e desportivo da população (com particular atenção para os jovens) poderá constituir o 1º passo de um caminho que importa prosseguir. A ocupação dos tempos livres nocturnos constitui outra problemática aflorada, directamente associada aos jovens e relevante no Concelho do Barreiro, dada a falta de espaços nocturnos de lazer adequados e atractivos. Neste contexto surge, mais uma vez, a proximidade de Lisboa e de concelhos limítrofes, como o Montijo, e a oferta diversifificada e atractiva de espaços que os mesmos proporcionam, o que condiciona fortemente o desenvolvimento de actividades nocturnas de entretenimento. A criação ou a dinamização de espaços nocturnos de lazer atractivos e adequados, constitui-se assim como outro factor estratégico a considerar nos planos estratégicos do concelho, proporcionadores de fixação dos jovens no Concelho do Barreiro. Esta deve ser uma questão que deve ser considerada nos planos de requalificação e revitalização da zona ribeirinha e de outras zonas do concelho, 141 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro já que podem ser zonas com potencialidades a não desprezar em termos da ocupação de tempos livres. Convém, ainda registar, que relativamente a equipamentos, as actividades da Rede de Solidariedade do Concelho do Barreiro destinadas à juventude abrangem vários tipos de serviços, para além dos Centros de Actividades de Tempos Livres, como por exemplo os Internatos (locais de “internamento” para crianças privadas de meio familiar normal), os Centros de Acolhimento e os Centros de Apoio Preventivo a Crianças e Jovens em Situação de Risco. LAR DE CRIANÇAS E JOVENS No Concelho do Barreiro existem actualmente 3 estabelecimentos de “internamento” – Lar para Crianças e Jovens – com capacidade para 114 crianças. QUADRO 42 - Rede de Solidariedade – Lares para crianças e jovens, 2004 Instituições População abrangida Capacidade 6 aos 21 anos 45 6 aos 18 anos 55 8 aos 18 anos 14 Centro Social e Paroquial de Sto André Instituto do Ferroviários Rumo TOTAL 114 O objectivo que estas instituições perseguem com este tipo de oferta é dar resposta às situações de crianças e jovens em risco, sendo alternativas muitas vezes à familia inexistente ou não estruturada desses jovens e educar para uma inserção familiar, social e profissional dos mesmos. Tem sido comentado em Portugal a existência de uma cultura de “institucionalização” das crianças, que forçaria a um internamento fora da família superior ao que seria desejável. Contudo, reconhece-se que essa 142 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro situação é tributária da inexistência de outro tipo de equipamentos substitutivos da família em situação de crise, realidade que se verifica no Concelho do Barreiro que, mais uma vez, vê a capacidade das instituições da rede de solidariedade lotada, registando listas de espera acentuadas. CENTROS DE APOIO PREVENTIVO E DE ACOLHIMENTO DE CRIANÇAS E JOVENS EM RISCO No Concelho do Barreiro existe um Centro de Acolhimento da Santa Casa de Misericordia, para crianças dos 0 aos 12 anos, onde funciona igualmente uma valência para jovens mães solteiras e 2 Centros de Apoio Preventivo, um do Centro Social e Paroquial de Sto. André e o outro do Instituto de Ferroviários. QUADRO 43 - Centros de Apoio Preventivo e de Acolhimento para crianças e jovens em risco, 2004 Instituições População abrangida Capacidade - 17 0 aos 12 anos 17 Crianças e jovens em risco 6 aos 18 anos 25 Crianças e jovens em risco 4 aos 15 anos 14 Jovens mães e os filhos Santa Casa da Misericórdia do Barreiro Instituto do Ferroviários Crianças em risco Centro Social e Paroquial de Sto. André TOTAL 73 No contexto destas últimas respostas consideradas, o conjunto de políticas e medidas direccionadas para as crianças e jovens em risco, de acordo com o Plano Nacional de Acção para a Inclusão, 2003-2005, documento ja referido anteriormente, tem procurado articular uma dupla estratégia de resposta ao 143 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro objectivo da promoção do desenvolvimento e de protecção social das crianças, jovens e famílias. Partindo do pressuposto de que as problemáticas associadas às crianças e jovens em risco não podem ser isoladas dos contextos familiares, sociais, económicos, culturais e territoriais em que se inserem, essas políticas e medidas, para além de assegurarem um sistema de protecção de garantia dos direitos, devem ter subjacentes como componente estratégica de acção o princípio da multidisciplinaridade , significando que as respostas devem ser integradas, cruzando intervenções sectoriais e agentes públicos e privados. Neste âmbito, a Comissão de Protecção de Crianças e Jovens, o Instituto de Reinserção Social do Barreiro e as instituições da Rede de Solidariedade concelhia desenvolvem um trabalho profícuo que embate muitas vezes na falta de respostas e de equipamentos no concelho face as necessidades sentidas para quem anda no terreno e que ja se referiram neste estudo. Dentro do vasto leque de problemáticas detectadas pela Comissão do Barreiro, destacam-se a negligência, o abandono escolar, os maus tratos físicos ou psiquicos, familias destrututas, monoparentais, com conflitos mal geridos em caso de divórcio/separação, com precaridade económica e habitacional entre outros. Há, igualmente, um pedido cada vez maior para a integração de crianças cada vez mais cedo (novas) e que não têm resposta no concelho Dentro do vasto leque de necessidades sentidas no concelho, alías partilhadas por muitos dos interlocutores priveligiados nas várias técnicas de recolha de informação, são de registar as seguintes: 1) um ou dois gabinetes de mediação familiar conforme se pretenda descentralizar este serviço; 2) Equipamentos, mais uma vez, para a 1ª e 2º infância (creches e jardins de infância)com funcionamento 24 h por dia; 3) Mais respostas concelhias para semi internato e internato; 4) Criar uma equipa multidisciplinar para intervir nas escolas e junto das famílias; 5)Educação parental e sobre económia doméstica 144 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro com um programa de formação estruturado; 6) Unidades de Vida Autónoma com apoio psico-pedagógico e psico-social, proporcionando aos jovens a partir dos 16 anos alguma autonomia para se orientarem. 7) Meios técnicos para fazer face às situações de risco sinalizadas. É importante, neste sentido, que a Conselho Local de Acção Social do Concelho do Barreiro, constituido e representado pelos diversos parceiros sociais do concelho (são estes que constituem a força e fazem o dinamismo da Rede Social), em articulação e com o apoio do Centro Distrital da Segurança Social Setúbal e da Autarquia, nas competências e responsabilidades que lhe cabem respectivamente, e aproveitando as políticas sociais e educativas defenidas pelos Ministérios, seja capaz de ser inovador nos projectos, eficaz e articulado nas acções e com parceiros receptivos a contribuir na resolução dos problemas. Este é um dos anseios de todos os interlocutores entrevistados, manifestado quando se fez a pergunta do que pensam e esperam da Rede Social do Concelho do Barreiro. A dinamização da parceria é fundamental, de forma a que haja envolvimento e empenhamento de todos os parceiros. Neste contexto, refere o responsável do IRS do Barreiro, “é necessário olhar para a Rede Social não como um fardo, mas sim como uma comunhão de esforços, onde as acções e os planos devem ser partilhados”. De acordo com a mesma fonte, o Concelho do Barreiro, comparativamente e proporcionalmente à Área Metropolitana de Lisboa, não tem mais delinquência, nem problemas deste género tão graves e complicados (o IRS dispõe de um estudo sobre a delinquência juvenil que pode interessar). O problema reside nas políticas sociais e educativas que não estão estabilizadas. Além de se legislar mal (incoerência das leis), há uma produção exagerada de leis, o que prejudica em muito o desenvolvimento do país. A educação é uma questão que deveria ser uma luta nacional e merecer consensos. Mais que a destruturação da família, a desinserção escolar 145 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro constitui-se como factor de risco para a delinquência. A qualificação deve insidir não só nos estudos mas também na capacidade pessoal e de trabalho do aluno. Os curriculos alternativos como medida é positiva, mas a aplicação dos conteúdos deixa muito a desejar. Por outro lado, é necessário ter em conta, na constituição das turmas nas escolas, que não haja a massificação de casos problemáticos numa só turma. Sente-se, também, a necessidade de maior divulgação de percursos educacionais paralelos à educação “tradicional” e que são uma realidade no concelho; e que por vezes deixam de constituir uma verdadeira oportunidade por não se apostar em outras formas de formação que visam a entrada no mercado de trabalho com uma especialização, nomeadamente de cursos de educação e formação, de especialização tecnológica e cursos tecnológicos. Destinados, preferencialmente, a jovens em risco de abandono escolar, ou áqueles que tendo concluído o 12º ano pretendam obter uma qualificação profissional, os cursos de educação e formação inserem-se na estratégia das políticas activas de emprego, de promoção do sucesso escolar e da prevenção do abandono desqualificado. No Concelho do Barreiro, é referida, igualmente, a falta de Centros Ocupacionais com unidades vocacionais, centros que permitam aos jovens a construção dos seus projectos de vida. As UNIVAS e os Centros de Emprego não são suficientes para este tipo de serviços. Ao nível da exclusão social era necessário intervir de outra forma: Os Programas Ocupacionais e o Rendimento Social de Inserção só por sí não chegam. São, inclusive, respostas pouco exigentes e acompanhadas por falta de recursos. Não raras vezes, são respostam que não levam a uma eficaz inserção no mercado de trabalho. 146 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro A população que usufrui deste tipo de respostas requer um tipo de trabalho em competências pessoais e sociais, antes de se inserirem nos postos de trabalho, caso contrário mantém-se o “círculo de manutenção da pobreza”. 147 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO RESUMO • A escola, depois da família, é uma das principais dimensões de inserção social; • A educação deve ter uma oferta com qualidade e com garantias de equidade; • Construção de coesão social através de escolas inclusivas; • Necessidade de reforçar estratégias de educação e formação ao longo da vida, de combate ao abandono escolar, de expansão e diversificação da formação profissional para os jovens do Concelho; • Peso significativo na população do Concelho, de indivíduos com nenhum nível de ensino e com apenas o 1º Ciclo do ensino básico completo; • Taxas de analfabetismo e abandono escolar superiores às médias do tipo de território onde o Barreiro se insere, mas muito mais favoráveis face à média nacional; • Desqualificação no emprego com valores mais altos face à média nacional; • População dos 0 – 14 anos representa 12,8% da população total do Concelho; • Perda de população nos grupos etários dos 0 – 14 anos; • Necessidade de dinamizar serviços e respostas sociais perante os desafios que se colocam hoje às famílias existentes e às exigências laborais; • Existência de Creches na rede de solidariedade(10,2%), oficial (2,5%) e particular com fins lucrativos com alvará da Segurança Social(5,6%); • Listas de espera significativas nas valências de Creche e Pré-Escolar ; • Taxa de cobertura em Creche é de 17,75%; • As freguesias do Lavradio e Alto do Seixalinho, não apresentam qualquer equipamento de creche e Pré-Escolar na rede de solidariedade; • Necessidade de valências e/ou mais equipamentos de creche da rede de solidariedade nas freguesias mais populosas e nas novas urbanizações de grande dimensão; • Falta de respostas de Creche em horário nocturno e necessidade de prolongamento de horário no Pré-Escolar público; • Forte investimento nos últimos anos em equipamentos públicos de Pré-Escolar. No entanto, Palhais e Coina não apresentam qualquer tipo de oferta da rede pública de Pré-escolar; • Taxa de cobertura do Pré-Escolar em 60,3%; 28,5% na rede pública, 28,2% na rede de solidariedade e 3,5% no ensino oficial da segurança social; • Necessidade de trabalhar a imagem das escolas básicas, com edifícios e espaços desadequados às novas formas de ensino e às actividades extra-curriculares; 148 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro • Necessidade de uma melhor articulação entre as autarquias e as escolas; • Necessidade de uma política educativa para o pessoal não docente nas escolas; • Comunidade escolar dinâmica; • Observatório da Educação e Conselho Municipal de Educação - instrumentos importantes a potenciar na dinamização de uma comunidade educativa efectiva; • Acção social Escolar e Necessidades Educativas Especiais, questões pertinentes relevantes no quotidiano das crianças e famílias do Barreiro, • Necessidades de respostas capacitadas de apoio técnico a crianças dos 0 – 6 anos, • É urgente a constituição de equipas multidisciplinares nas escolas, serviços especializados de apoio educativo; • Abandono escolar particularmente relevante no 2º e 3º Ciclo do ensino básico; • Défice de Centros de Actividades de Tempos Livres e de ateliers de tempos livres, • Taxa de cobertura de C.A.T.L. é de 11%; • Taxa de cobertura de C.A.T.L., incluindo o projecto “Escolas Barreiro” é de 19,8%; • Falta de equipamentos de apoio e acolhimento de crianças e jovens em risco face às necessidades e à insuficiência das respostas existentes, • Falta de uma Unidade de Vida Autónoma para Jovens, de Recursos Técnicos, de um Gabinete de Mediação Familiar, • Falta de Centros Ocupacionais com Unidades Vocacionais; • Necessidades de currículos alternativos adequados e eficazes; • São necessários mais incentivos ao ensino profissional e superior, ao nível das condições estruturais que dispõem e das saídas profissionais e de estágios; • Educação de adultos com grande expressão no Concelho, dependendo também de um espaço próprio onde possam desenvolver as suas actividades; • Necessidade de criação e dinamização de espaços nocturnos de lazer atractivos e adequados, proporcionadores de fixação dos jovens no Concelho do Barreiro, • Dinamização de parcerias é fundamental no âmbito da Rede social para a inovação nos projectos e para a eficácia e articulação das acções. 149 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro ___________________________________ 3. TOXICODEPENDÊNCIAS ______________________________ 150 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro 3. TOXICODEPENDÊNCIAS Historicamente, o consumo de drogas nos povos que culturalmente o admitiam, era em geral moderado, o que parece dever-se ao controle social exercido pela própria organização das comunidades. Durante centenas ou até milhares de anos o consumo de certas substâncias psico – activas fez parte integrante dos hábitos das civilizações primitivas, integrando-se nas sociedades tradicionais, sob forma cultural e ritualizada, ao serviço de práticas colectivas ou no quadro de aplicações terapêuticas. O momento fundador da história das drogas no ocidente situa-se nos primórdios do séc. XIX em Inglaterra. As boas relações com o Oriente, em particular com a Índia, foram determinantes para facilitar a comercialização do ópio. O uso recreativo e não médico das drogas perdurou durante séculos. Por certo que, ao longo dos tempos, sempre houve excesso no consumo de certas substâncias, como é exemplo o álcool. Até finais do séc. XIX o uso e abuso dos opiáceos não era ilegal nem estava socialmente estigmatizado. Foi a descoberta do princípio activo de certas substâncias em pleno séc. XIX, o fabrico em série de certos produtos de síntese, a invenção da seringa e a agulha hipodérmica e sua respectiva utilização na administração de certas substâncias psico – activas que vieram alterar profundamente o equilíbrio que as comunidades tinham mantido durante séculos. Acresce referir ainda o impacto que a revolução industrial e as transformações que introduziu no novo mundo (na área das comunicações, das migrações, do surgimento da classe urbana, da explosão urbana, etc.) tiveram na sociedade. O consumo de drogas assumiu contornos de problema social devido a diferentes factores de ordem sócio – política: as guerras do ópio e a sua difusão nos meios intelectuais do séc. XIX, a guerra da Secessão nos EUA, a auto medicação e a administração da droga por via endovenosa. 151 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Os toxicodependentes deram preferência ao consumo de droga por injecção, como forma de poderem tirar partido de um produto cada vez mais caro através da diluição da substância; por conseguinte, dão preferência à modalidade de consumo economicamente mais rentável. O consumo sob a forma de injecção permite obter com a mesma quantidade efeitos psico – activos mais intensos e mais rápidos do que por via fumo, constituindo assim a opção preferencial dos consumidores mais dependentes, e, como tal, quase sempre mais degradados social e fisicamente. A este facto também se pode associar o início da criminalização da toxicodependência e o início de um grave problema que se veio a agravar cada vez mais até aos nossos dias. A problemática das toxicodependências foi considerada pelo Núcleo Dinamizador da Rede Social como um dos problemas sociais mais visíveis existentes no Concelho do Barreiro, tendo ficado definida como uma das áreas prioritárias a ser tratada no estudo de Diagnóstico Social e do Plano de Desenvolvimento Social do Concelho do Barreiro. Como forma de enquadrar a problemática da toxicodependência no nosso Concelho, optou-se por apresentar dados e matéria sobre o consumo de droga na população em geral. Assim, tentámos transmitir a panorâmica da situação do consumo de droga na União Europeia, pondo em evidência a evolução recente e as novas tendências. O documento que serviu como suporte para recolha dos dados, que a seguir se apresentam foi o Relatório Anual de 2003 do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência. É importante referir quais as designações utilizadas nos estudos desta área, em relação aos padrões de consumo, de forma a uma melhor compreensão dos dados que de seguida se apresentam: 152 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro - Prevalência ao longo da vida – qualquer consumo ao longo da vida da pessoa, também designado por experiência ao longo da vida; - Prevalência nos últimos 12 meses – qualquer consumo durante o ano anterior, frequentemente designado por consumo recente; - Prevalência nos últimos 30 dias – qualquer consumo durante o mês anterior, frequentemente designado por consumo actual. Posto isto, e de acordo com o relatório acima referido, salienta-se a cannabis como a substância ilícita de maior consumo em todos os países da União Europeia, incluindo Portugal. Esta constatação verifica-se igualmente nos resultados apurados no inquérito nacional ao consumo de substâncias psicoactivas na população Portuguesa de 2001. A experiência ao longo da vida apresenta valores mais elevados do que o consumo recente ou actual, o que sugere que o consumo da cannabis tende a ser esporádico ou interrompido ao fim de algum tempo. Por outro lado, o consumo actual é um tipo de consumo raro em pessoas com mais de 40 anos de idade. Outras substâncias ilícitas que não a cannabis, são consumidas por percentagens muito menores da população, embora hajam diferenças consideráveis de país para país da União Europeia. Neste tipo de drogas o consumidor habitual é também pouco comum, para a maioria das pessoas o consumo é ocasional. O consumo de substâncias ilícitas atinge os valores mais elevados entre os jovens adultos (entre os 15 e os 34 anos), com taxas de prevalência duas vezes superior à dos adultos na totalidade. Em todos os países e em todos os grupos etários o nº de indivíduos do sexo masculino que consumiram drogas é superior ao do sexo feminino. Aliás esta e outras tendências acima referidas, de acordo com a informação recolhida através das técnicas utilizadas, confirmam-se no Concelho do Barreiro, facto que coincide com os dados do inquérito nacional acima referido. 153 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro O consumo de drogas é mais prevalecente nas áreas urbanas, embora se verifique um alastramento para as cidades de menores dimensões e para as zonas rurais. Esta realidade, aliás, está patente no inquérito nacional em meio escolar de 2001 sobre consumo de drogas e outras substâncias psicoactivas, efctuado ao 3º ciclo do ensino básico pelo núcleo de investigação do IPDT. Comparativamente, a nível de freguesia, pode-se verificar através do inquérito efectuado no Concelho, no âmbito da realização deste Diagnóstico, que as freguesias urbanas do Concelho são as que apresentam valores mais elevados de toxicodependências, em oposição às freguesias rurais. Só para exemplificar, de acordo com a amostra dos individuos inquiridos, verifica-se a seguinte distribuição: Quadro 44 -Toxicodependências no Concelho do Barreiro, por freguesia e nº de inquiridos, em 2005 Freguesias Nº de utentes Barreiro 31 Santo André 12 Verderena 7 Lavradio 8 Alto do Seixalinho 10 Santo António da Charneca 2 Tendo em conta o relatório anteriormente referido, as informações sobre a experiência ao longo da vida, no que respeita ao consumo de cannabis, dizem que varia entre 7% e 10% aproximadamente, em Portugal, apesar de a média na União Europeia rondar os 20% a 25%. As informações sobre índices de consumo de drogas que não a cannabis falam de 0,5% a 6% para as anfetaminas, de 0,5% a 5% para a cocaína e o ecstasy. A heroína foi experimentada, por menos de 1% da população. Sobre o consumo recente do cannabis os dados remetem-nos para 5% a 10% dos adultos. O consumo recente de anfetaminas, cocaína ou ecstasy abrange menos de 1% dos adultos. 154 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro O consumo de droga, tanto em termos de experiência ao longo da vida como de consumo recente, é mais elevado entre os jovens adultos do que entre o total da população. O consumo de ecstasy aumentou nitidamente durante a década de 90, e parece ainda aumentar, entre certos grupos de jovens, mas são poucos os países (Espanha, Irlanda, Países Baixos e Reino Unido), que revelam uma taxa de consumo recente (últimos 12 meses) superior a 3% entre jovens adultos. Os indicadores do consumo de droga(s) (procura de tratamentos, apreensões, conclusões dos exames toxicológicos post mortem) sugerem que o consumo da cocaína está a aumentar embora o consumo entre a população no seu todo continue a ser baixo. O aumento do consumo recente de cocaína (últimos 12 meses) entre os jovens parece ser um dado recorrente, especialmente entre os jovens das áreas urbanas. Entende-se por “consumo problemático de droga”, o consumo de droga injectada ou o consumo prolongado/regular de opiáceos, cocaína e/ou anfetaminas. Embora o seu nº seja pequeno em termos globais, os consumos problemáticos de drogas são responsáveis por uma parcela desproporcionada dos problemas de saúde e sociais. Na maioria dos países da União Europeia, o consumo problemático de droga continua a ser caracterizado pelo consumo de heroína, muitas vezes combinado com outras drogas. De acordo com o inquérito realizado,pelo grupo de trabalho para esta área, no Concelho do Barreiro a substância mais consumida é a heroína, logo seguida da cocaína, o que vai ao encontro, mais uma vez, da realidade Europeia. As estimativas do consumo problemático de droga variam entre 2 e 10 casos por 1000 adultos (ou seja, entre 0,2% e 1%). Em, pelo menos metade dos Estados – Membros da União Europeia, alguns estudos sugerem que se registou um aumento deste tipo de consumo, desde meados da década de 90. 155 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro A maioria dos consumidores problemáticos de droga consome a droga injectada. As estimativas variam entre 2 e 5 casos por 1000 adultos (ou seja 0,2% a 0’5%), não obstante o facto de se ter registado uma diminuição dos níveis de consumo por injecção em quase todos os países na década de 90. Ainda que a produção de ópio no Afeganistão tenha diminuído fortemente em 2001, não parece haver indícios de que esta diminuição tenha afectado directamente a disponibilidade de heroína no mercado ilícito Europeu, facto que provavelmente poderá ser explicado pela existência de reservas dessa droga. TRATAMENTO Relativamente ao tratamento, uma tendência preocupante é a frequência crescente com que a cannabis é mencionada no contexto do indicador de procura de tratamento. Em muitos países a cannabis é agora a droga mais frequentemente mencionada, logo a seguir à heroína, facto que se confirma no Concelho do Barreiro, onde a cannabis apresenta os valores mais altos, logo a seguir à heroína e cocaína, segundo dados do CAT. Regra geral, os consumidores de droga procuram tratamento espontaneamente ou porque há familiares que os pressionam nesse sentido, 81,69% dos indivíduos que responderam ao inquérito elaborado para este estudo procuraram tratamento por iniciativa própria. Os opiáceos (em especial a heroína) continuam a ser as principais drogas ilícitas entre todos os pacientes que procuram tratamento na maior parte dos países (50% a 70% consomem heroína), incluindo Portugal e o nosso Concelho. De acordo com o Instituto da Droga e da Toxicodependência, Núcleo de Estatística, os indicadores disponíveis sobre a situação do Concelho do Barreiro em matéria de drogas e toxicodependências, apontam de uma maneira geral, em 2001, para uma situação mais grave comparativamente com o conjunto do País e do Distrito de Setúbal. 156 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro No entanto, é mais gravosa comparativamente com a do total do País do que comparativamente com a situação do Distrito, apresentando taxas mais próximas das do Distrito, apesar de ligeiramente superiores, com efeito, em 2001, a nível dos indicadores relacionados com as consequências sanitárias dos consumos, os dados relativos ao tratamento na rede pública do IDT, evidenciam uma taxa de utentes activos, isto é, em tratamento durante o ano, superior às do Distrito e do País, seja em relação à população total seja à faixa etária dos 15 – 39 anos, à qual pertencem a maioria dos utentes destes serviços. Em 2001, cerca de 525 indivíduos recorreram a tratamento na rede pública do IDT, representando cerca de 1658 indivíduos por 100 000 habitantes de 15 – 39 anos residentes no Concelho. QUADRO 45 - Indicadores Relacionados com as Consequências Sanitárias do Consumo Indicadores Portugal Valor Absoluto Utentes em Tratamento 32 064 Taxa por 100 000 Habitantes 325 Taxa por 100 000 Habitantes 915 dos 15-39 anos Distrito de Setúbal Valor Absoluto 3 924 Taxa por 100 000 Habitantes 498 Taxa por 100 000 Habitantes 1 471 dos 15-39 anos Concelho do Barreiro Valor Absoluto 525 Taxa por 100 000 Habitantes 664 Taxa por 100 000 Habitantes 1 658 dos 15-39 anos Fonte: IDT, Núcleo de Estatística, Indicadores Relacionados com as Consequências Sanitárias do Consumo, 2001 É possível classificar os Estados Membros da União Europeia em quatro grupos, consoante a medida em que o consumo de opiáceos é responsável pelo encaminhamento de pacientes para centros de tratamento por consumo de droga: - Abaixo dos 50% (Finlândia e Suécia) 157 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro - 50% a 70% (Alemanha, Dinamarca, França, Irlanda e Países Baixos) - 70% a 80% ( Espanha, Luxemburgo e Reino Unido) - Acima dos 80 (Grécia, Itália e Portugal) Em muitos países, ao consumo de opiáceos, responsável por esse encaminhamento, segue-se a cannabis em termos de nº de consumidores que procuram esses tratamentos, e o nº mais elevado regista-se entre os novos pacientes (24,7 do total dos novos admitidos em tratamento são consumidores de cannabis). A Espanha e Países Baixos são os países com as mais elevadas percentagens de pacientes que procuram tratamento pelo consumo de cocaína como droga principal. Noutros países as taxas são inferiores, variam entre 0,8% na Grécia e 7% no Luxemburgo, incluindo Portugal. Os consumidores de cocaína que procuram tratamento são os que a consomem em associação com heroína ou metadona. Este tipo de consumidores representam um enorme desafio para os serviços de tratamento, na medida em que a cocaína, por um lado, está associada a um elevado nível de dependências e problemas e, por outro, porque aqueles que a consomem, seja isoladamente seja associada à heroína, não estão em geral, socialmente integrados. O grupo de drogas em que se regista maior disparidade entre países, em termos de procura de tratamento, é o das anfetaminas, situando-se Portugal nos grupo de países onde a procura é de menos de 1%. O grupo temático, em relação a esta matéria, considerou que o nosso país possui uma boa rede de estruturas de tratamento (Centros de Tratamento, CAT´s, Clínicas de Desabituação, etc), mas desadequadas face aos novos pedidos de tratamento ( ex: tratamento de alcoólicos sem problemas com outras substâncias). 158 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro O policonsumo de drogas é cada vez mais visível nos dados relativos aos consumos. Em todos os países, mais de 50% de todos os pacientes consomem pelo menos uma outra droga para além da primeira que consumiram, sobretudo a heroína e a cocaína com o álcool ou a cannabis. DOENÇAS INFECTO-CONTAGIOSAS Na União Europeia é motivo de especial preocupação a disseminação do HIV, do vírus da Hepatite C e do vírus da Hepatite B, relacionada com o consumo de drogas, normalmente associada ao consumo de droga injectada. Os dados apresentados no relatório do Observatório Europeu de 2003 referem que a prevalência da infecção por HIV varia grandemente entre os diversos países Europeus e no interior de cada um deles. Dentro de cada região, podem existir tendências muito diferentes. Recentemente foram referidos aumentos da prevalência de HIV entre algumas regiões ou cidades da Áustria, Espanha, Finlândia, Irlanda, Itália, Países Baixos, Reino Unido e Portugal. Este panorama é diversificado, pois em alguns destes países também se registaram diminuições noutros subgrupos, regiões ou cidades. A incidência da Sida tem diminuído em toda a União Europeia desde a introdução de tratamentos mais eficazes. Relativamente a esta temática existe no Concelho do Barreiro uma estrutura que presta um serviço fundamental, a Unidade de Infecciologia do Hospital do Barreiro, incluindo o CAD – Centro de Aconselhamento e Detecção Precoce do HIV e o CDP – Centro de Detecção Precoce do HIV. É, também, referenciado pelo grupo temático que este serviço deveria ser mais divulgado, ou seja, existe pouca informação sobre os apoios que pode prestar á comunidade. Entre os consumidores de droga injectada a prevalência da Hepatite C é extremamente elevada, variando as taxas de infecção entre 40% e 90%. 159 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro No conjunto da União Europeia aproximadamente 20% a 60% de consumidores de droga injectada têm anticorpos contra o vírus da hepatite B, o que mostra o potencial dos programas de vacinação direccionados para esta doença entre estes consumidores. Relativamente ao Concelho do Barreiro os dados mais recentes sobre as doenças infecto contagiosas foram disponibilizados pelo CAT: QUADRO 46 - Portadores de HIV, em 2004 Desconhecido 312 91% Negativo 15 4% Positivo 15 4% Quadro 47 - Vacina da Hepatite B, em 2004 Não 68 74% Sim 24 26% QUADRO 48 - Rastreio da Tuberculose, em 2004 Não 75 77% Sim 23 23 % REDUÇÃO DE DANOS As medidas destinadas a minimizar os problemas relacionados com o consumo de droga, a reduzir a mortalidade e a diminuir a perturbação da ordem pública, tornaram-se uma parte fundamental de muitas estratégias nacionais em matéria de droga e uma clara prioridade política na maioria dos países. Os programas de troca de seringas, iniciativas de proximidade e os serviços de porta aberta continuaram a expandir-se, sendo que em vários países se diversificaram, de modo a incluir cuidados médicos básicos, vacinação, educação sobre cuidados médicos básicos, vacinação, educação 160 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro sobre consumos, serviços de emergência em caso de overdose, primeiros socorros para consumidores de droga ou salas de consumo vigiadas. A Equipa de Rua do Centro Jovem Tejo é uma das respostas referidas pelos interlocutores privilegiados do Concelho como sendo das mais eficazes e com um papel muito importante no combate à toxicodependência e aos seus efeitos nocivos na sociedade. Entre Outubro de 1993 e Dezembro de 2003 foram efectuadas por esta instituição um total de 21 859 trocas de seringas, sendo que 11 982 corresponde ao ano 2002 e 9 877 corresponde ao ano de 2003 22. Um aumento na cobertura geográfica de programas de troca de seringas é uma das medidas mais importantes que visam reduzir as infecções relacionadas com a utilização de seringas. CRIMINALIDADE O nosso país, e mesmo o nosso Concelho do Barreiro, devido à situação geoestratégica (proximidade marítima, acessibilidade de transportes públicos e proximidade da capital) favorece a existência de situações propicias ao trafico (das velhas e novas drogas) e consequentemente de aliciamento ao consumo e à criminalidade, as quais poderão ser combatidas com a intervenção policial e com o desenvolvimento de projectos de prevenção. Diversas fontes demonstram que uma maioria de consumidores de droga em tratamento esteve em contacto com o sistema de justiça penal. Pode considerar-se que a criminalidade relacionada com a droga abrange delitos penais por infracção à legislação em matéria de droga, delitos cometidos sob a influência de drogas ilícitas, delitos cometidos por consumidores para alimentarem o vício (relacionado com a compra e venda principalmente), e delitos sistémicos cometidos no âmbito do funcionamento dos mercados ilícitos (luta por territórios, suborno de entidades, etc.) 22 Cf. Associação Nacional de Farmácias, Relatório de 1993 a 2003 161 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro A maior parte dos delitos comunicados relacionados com droga prende-se com o consumo ou a posse de droga – entre 39% de todas as infracções à legislação em Portugal. Em 2001, a cannabis continua a ser a droga mais frequentemente ligada a infracções da legislação em matéria de drogas, responsável por 34% dos relatórios relacionados com droga em Portugal. 23 Na maior parte dos países da União Europeia a maioria das infracções à legislação em matéria de droga está também relacionada com a cannabis. As apreensões de cannabis revelaram a tendência crescente destas ao longo da última década, embora hajam sinais de terem estabilizado. A Europa continua a ser o maior mercado de cannabis, verificando-se nada menos que três quartos das apreensões mundiais de cannabis no interior das fronteiras da União Europeia. Muitos países também informam que a planta de cannabis está a ser cultivada na União Europeia. Embora se tenham registado algumas flutuações nos últimos anos, e possíveis sinais de estabilização em alguns domínios, as apreensões de anfetaminas e de ecstasy (quer em nº quer em quantidade) aumentaram substancialmente na União Europeia ao longo da última década. A nível dos indicadores relacionados com as consequências legais de tráfico e consumo, em 2001, também a situação do Concelho parece ser mais gravosa, de acordo com os dados do Núcleo de Estatística, do Instituto da Droga e da Toxicodependência. Com efeito, como o quadro seguinte demonstra, a nível das consequências legais dos consumos, os indicadores relacionados quer com os processos de contra – ordenação quer com os indivíduos condenados por consumo apresentaram taxas superiores às do país e do Distrito. A excepção verificouse a nível das interpelações policiais relacionadas com consumos, que apresentaram taxas inferiores às do país e do Distrito. 23 Cf. Obeservatório Europeu da Droga e Toxicodependência, Relatório Anual de 2003 162 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 49 - Indicadores relacionados com as consequências Legais do Tráfico e Consumo - 2001 Indicadores Portugal Distrito de Setúbal Concelho do Barreiro Valor Tx 100 000 Tx 100 000 Valor Tx 100 000 Tx 100 000 Valor Tx 100 000 Tx 100 000 Absoluto Habitantes Habitantes Absoluto Habitantes Habitantes Absoluto Habitantes Habitantes dos 15-39 dos 15-39 dos 15-39 Heroína 684 7 20 65 8 24 16 20 51 Processos Cocaína 95 1 3 6 1 2 2 3 6 de Contra- Cannabis 972 10 28 86 11 32 4 5 13 Ordenação Liamba 94 1 3 30 4 11 4 5 13 (2º semestre Ecstasy 14 - - 1 - - - - - de 2001) Outro 11 - - - - - - - - Polidrogas 178 2 5 12 2 4 1 1 3 Desconhecido 318 - - 19 - - 1 - - Total 2 366 24 68 219 28 82 28 35 88 Tráfico 1 853 18 - 220 28 - 30 38 - 145 1 - 9 1 - 2 3 - Indivíduos Tráfico- Cons. Condenados Consumo 1 165 11 32 163 21 61 20 25 63 Total 3 163 31 - 392 50 - 52 66 - Indivíduos Tráfico 2 041 20 - 110 14 - 9 11 - Identificados Tráfico- Cons. 3 117 30 - 262 27 - 19 24 - Nas Consumo 3 302 32 89 209 33 98 5 6 16 Interpelações Desconhecido 276 - - 9 - - - - - Policiais Total 8 736 84 - 590 75 - 33 42 - Fonte: Instituto da Droga e Toxicodependência, Núcleo de Estatística, Indicadores Relacionados com as Consequências Legais do Tráfico e Consumo, 2001 163 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Segundo dados fornecidos pelo IRS, equipa do Barreiro, em Janeiro de 2002, pode referir-se que intervieram junto de 44 indivíduos no âmbito da jurisdição tutelar educativa (menores de 16 anos), e 80 indivíduos, no âmbito da jurisdição penal. Do total, 80% são do sexo feminino. No âmbito da jurisdição de menores, apenas 10% (5) dos casos consumiram ou consomem drogas. Fazendo um balanço a situações pendentes, de execuções de penas e medidas judiciais, de menores e adultos, o IRS acompanha 72 indivíduos, sendo que destes 44 foram ou são consumidores de drogas. Relativamente às áreas geográficas mais problemáticas, no âmbito da jurisdição tutelar educativa, indicaram a Cidade de Sol e a freguesia do Barreiro, no entanto, nos pedidos de intervenção, do âmbito da jurisdição penal, os indivíduos dispersam-se por toda a malha urbana. O IRS não é necessariamente uma instituição que trabalha na área da toxicodependência, é um órgão da administração da justiça que presta apoio técnico aos tribunais. Muito do seu trabalho passa pela emissão de pareceres de apoio à tomada de decisão e executando penas ou medidas que o tribunal aplique. No entanto, muitas das situações acompanhadas pelo IRS estão relacionadas com o uso de substâncias ilícitas. De acordo com a entrevista ao responsável por este serviço 75% dos indivíduos que estão detidos usam ou abusam de drogas; 50% são delinquentes a que se acrescenta o consumo de drogas; numa percentagem inferior (cerca de 25%) eram consumidores de drogas a que se acrescentou a delinquência. Segundo a mesma fonte, alguns traficantes de droga acabam por se tornar também consumidores. 164 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro De acordo com as entrevistas aos interlocutores privilegiados procurou-se, no que diz respeito à toxicodependência, principalmente junto dos Presidentes de Junta e dos técnicos das instituições que trabalham nesta área identificar focos de consumo e/ou tráfico existentes no Concelho. Assim, e apesar de ser opinião generalizada que este problema tem vindo a diminuir ou pelo menos a sofrer alterações na sua essência, identificaram-se os seguintes locais como zonas de consumo e/ou tráfico: - Alto do Seixalinho – Quinta da Amoreira, Prc. Gomes Teixeira, e entre o Largo 3º de Maio e o “Café do Antunes”; - Verderena – concentram-se na 1ª de Dezembro com a Afonso Henriques; - Santo António da Charneca – identificaram-se 4 focos nesta freguesia, 1 na Penalva, 1 no Pinhal Novo, 1 no Pinhal Duque e 1 na Cidade Sol; - Santo André – junto ao Banco Totta, na praça São Francisco Xavier e no Parque Paz e Amizade; - Barreiro – Bairro das Palmeiras e Rua Aguiar. Nestas entrevistas procurou-se também efectuar uma análise causal, no entanto, é do senso comum que são vários os factores que podem influenciar os indivíduos a ter experiências com drogas e mais tarde se tornavam toxicodependentes. Das causas mais referidas salientam-se as disfunções familiares (discutível o que começa primeiro); antecedentes familiares; problemas socio-económicos; o desemprego; falta de campanhas de prevenção (este facto foi reforçado na entrevista à representante do Serviço de Acção Social do Barreiro); desocupação dos jovens (um dos factores mais referidos); falta de acompanhamento das famílias a esses mesmos jovens devido à desadequação do horário laboral para o horário escolar; escola pouco apelativa; muita oferta e facilidade da compra de droga; incapacidade de busca do prazer; certas doenças do foro mental (ansiedade, esquizofrenia, certas depressões); assim como causas genéticas, ou seja, existem determinados indivíduos com predisposição para o consumo de substâncias psicotrópicas, 165 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro com personalidades vulneráveis que funcionam como “porta aberta para um caminho muito difícil de percorrer”. De acordo com Paulo Moreira, autor do livro “Para uma Prevenção que Previna”, a investigação tem sido fértil na identificação dos factores de risco que é o resultado de várias sistematizações que diferentes autores fazem sobre os mesmos. Assim enumeram-se os seguintes: influências sócioculturais (valores defendidos pela sociedade); processos interpessoais (processo de socialização, família e pares); factores individuais (características da personalidade), atitudes e crenças; factores genéticos (filhos de consumidores de substâncias); uso precoce de drogas, dor ou doença crónica, factores fisiológicos; factores psicológicos (problema de saúde mental); factores socioculturais, a saber - i) comunidade (privação económica e social, transições e mobilidade, disponibilidade de drogas); ii) factores familiares (historial familiar de alcoolismo, problemas de gestão e práticas familiares, uso de drogas por parte dos pais e atitudes dos mesmos em relação às drogas); iii) factores escolares (comportamentos anti-sociais precoces, insucesso escolar, baixo compromisso com a escola); iv) pares (amigos que consomem drogas). Os factores de risco não devem ser considerados de forma linear e directa, dado que a toxicodependência pode ser resultado de múltiplas combinações de diferentes factores. Mas se é importante conhecer os factores de risco que predispõem o indivíduo para uso/ abuso de drogas, é importante conhecer também quais os factores que podem proteger os indivíduos dessa predisposição. As investigações que acompanharam a implementação de programas preventivos foram permitindo a identificação, por parte dos investigadores, de factores protectores, dos quais se enumeram os seguintes: domínio familiar (boa relação entre os membros da família caracterizada como boa, próxima, duradoura e sem conflitos, métodos de disciplina adequados à idade, ocupação atraente do tempo, assertividade, expectativas de êxito, projectar-se no futuro, ter responsabilidades); domínio da comunidade (reforços pela sua implicação 166 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro na comunidade e oportunidades de implicação na comunidade); domínio escolar (oportunidades de envolvimento na escola e oportunidade para esse envolvimento); e domínio individual (competências sociais, crença na ordem moral, religiosidade). Tal como os factores de risco, os factores protectores não devem ser encarados de forma linear, já que a presença de um factor de protecção não é sinónimo de imunidade à toxicodependência. A identificação dos factores de risco e de protecção é fundamental já que permite uma melhor compreensão do fenómeno de onde resulta uma maior intencionalidade no desenho das intervenções preventivas, ou seja, quando se desenvolvem esforços preventivos deve ter-se consciência de quais os factores que queremos inibir ou anular e dos que queremos incrementar. É cada vez mais importante, para detectar as causas das toxicodependências, a existência de equipas multidisciplinares nas instituições que trabalham com toxicodependentes, devendo ser constituídas essencialmente por psicólogos, psiquiatras, técnicos de serviço social, entre outros, que no seu conjunto formem uma equipa que proporcionará ao utente e família a possibilidade de se libertar de uma vida de dependência e sofrimento. DROGAS E ÁLCOOL ENTRE OS JOVENS O Relatório de 2003 do Observatório Europeu da Droga e da Toxicodependência apresenta pela primeira vez a temática do consumo de álcool como resultado das preocupações com os padrões complexos do consumo desta substância, bem como com a dependência, os danos para a saúde e o comportamento criminoso que lhe está associado. Os jovens apresentam-se muitas vezes na linha da frente da mudança social, e as tendências para o aumento do consumo de álcool e drogas ilícitas pelos jovens constitui uma importante evolução na União Europeia. 167 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Os dados que se apresentam no quadro seguinte, baseiam-se no relatório Europeu de 2003 do European School Survey Project, um estudo à base de inquérito à escala Europeia, sobre a evolução do consumo de álcool e outras drogas em meio escolar, nos últimos 4 anos, entre jovens que completaram 16 anos de idade em 2003. Com excepção do tabaco e da cafeína, o álcool é a substância psicotrópica mais consumida pelos jovens em toda a União Europeia. QUADRO 50 - ESPAD 2003 – Consumo Intensivo de álcool: evolução de 1999 para 2003 Aumento Substância Álcool Estabilidade Decréscimo Indicador Frequência País % País % País % Tomar 5 3 Vezes ou LItuânia 13 Roménia 11 Hungria 8 ou mais mais, nos Portugal 15 França 9 Grécia 11 bebidas últimos 30 Eslováquia 15 Chipre 10 Islândia 11 na mesma dias Ucrânia 22 Croácia 15 Gronelândia 19 Bulgária 21 Finlândia 16 Dinamarca 24 Estónia 20 Moscovo 17 Polónia 25 Ilhas 19 República 18 ocasião Faroé Checa Letónia 22 Eslovénia 22 Suécia 24 Noruega 24 Malta 25 Reino 27 Unido Irlanda 32 Fonte: Relatório Europeu - European School Survey on Alchohol and drugs, ESPAD - 2003 Importa ainda referir que os resultados evidenciaram também estabilidade no consumo de inalantes ao longo da vida. Em 2003 era de 10% para 9% em 1999. Quanto ao consumo de medicamentos de tipo tranquilizante ou sedativos, sem receita médica, em 2003 era de 6% para 7% em 1999. 168 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro A maioria dos jovens que experimentou a cannabis terá alguma experiência de consumo de álcool e tabaco. Os jovens que consomem ecstasy, anfetaminas, cocaína e alucinogéneos tendem a formar um grupo separado e pertencem a grupos sociais específicos. QUADRO 51 - Prevalências ao Longo da Vida, Evolução de 1999 para 2003 (Consumo de Drogas) Substância Droga Indicador PLV Aumento País Estabilidade % País Decréscimo % País % Prevalência ao Longo Hungria 16 Chipre 5 Roménia 3 da Vida Portugal 18 Grécia 6 Noruega 9 Bulgária 22 Suécia 8 Letónia 17 Croácia 23 Ilhas Farõe 10 Estónia 24 Malta 11 Eslováquia 27 Finlândia 11 Gronelândia 27 Islândia 13 Irlanda 40 Lituânia 16 Republica 44 Polónia 19 Ucrânia 21 Rússia 22 Dinamarca 23 Itália 28 Eslovénia 29 França 38 Reino 38 Checa Unido Fonte: Relatório Europeu - European School Survey on Alchohol and drugs, ESPAD – 2003 É cada vez maior a preocupação com o aumento dos níveis de embriagues e de consumo de álcool em “festas” para fins recreativos, até porque os dados indicam uma possível diminuição do consumo global de álcool, ao passo que os padrões do consumo em “festas” tende a aumentar. Segundo o autor FitzGerald, os jovens julgam-se uns aos outros com base na imagem, no estilo e na posse de símbolos de estatuto, entre os quais se pode 169 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro encontrar a droga. Esses símbolos mudam constantemente, actualmente a imagem negativa de que gozam os consumidores de heroína e a rápida acessibilidade das outras drogas são factores importantes nas escolhas actuais em matéria de droga. Um estudo realizado na União Europeia constatou que os jovens gastam mais dinheiro em álcool do que em droga, ou em qualquer outra categoria única de consumo para fins recreativos, tais como entradas em discotecas, clubes, cinemas, telemóvel e tabaco. POLÍTICAS E MEDIDAS Tem-se verificado uma crescente preocupação a nível governamental, que se traduz na tendência da organização das políticas nacionais em matéria de droga através de planos de acção e sistemas de coordenação nacionais. O governo que tomou posse em 2002 fundiu o Instituto Português da Droga e da Toxicodependência (IPDT) e o serviço de Prevenção e Tratamento da Toxicodependência (SPTT) dando lugar ao Instituto da Droga e da Toxicodependência (IDT) e transferiu a responsabilidade para o novo organismo da Presidência do Conselho de Ministros para o Ministério da Saúde. A opinião pública está cada vez mais consciente do problema da toxicodependência e das suas consequências e interessa-se pela política nacional de luta contra a droga. O grupo temático da Toxicodependência confirma este facto, referindo que a problemática das toxicodependências afecta a comunidade em geral, salienta, ainda, em relação ao Concelho do Barreiro a existência de uma consciência cívica que se traduz em actos de solidariedade e no estabelecimento de redes informais que se organizam no sentido de denunciar situações de risco e de apoiar as mesmas. 170 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Estas políticas afirmaram-se em 1999 com a aprovação da Estratégia Nacional de Luta contra a Droga 1999 – 2003 (Resolução do Conselho de Ministros nº 46/89 de 26 de Maio). No relatório final da Avaliação da Estratégia Nacional de Luta contra a Droga podem-se verificar quais as evoluções, durante o período referido, na sociedade Portuguesa, em relação à problemática da Toxicodependência. As evoluções negativas foram as seguintes: a maior penetração de consumo de droga (em especial no meio mais jovem); a menor captura de traficantes; menos indivíduos em primeiras consultas; mais mortes associadas a drogas não opiáceas; insuficiência do sistema de informação e de coordenação intersectorial. As evoluções positivas referidas no relatório foram: expansão da dissuasão de acompanhamento; expansão dos sistemas de tratamento e de recuperação; desenvolvimento das equipas de proximidade (unidades móveis, equipas de rua e pontos de contacto); menos mortes associadas à Droga (programas de substituição de opiáceos); menos casos de HIV associados à droga. Relativamente à nova Estratégia Nacional de Luta contra a Droga 2005 – 2012, as linhas de acção delineadas foram as seguintes (que poderão aportar igualmente indicações interessantes para a intervenção a nível concelhio): • Centralidade na pessoa humana – o combate às drogas e toxicodependências não é um fim em si mesmo, não se centra nas substâncias, nem é uma resposta burocrática do Estado. Visa a pessoa, fortalecendo-a par uma vida autónoma e feliz, liberta de dependências, na plena realização pessoal e social e no âmbito dos seus direitos e deveres de cidadania; • Parceria activa com a sociedade civil – o aumento da contratualização e da responsabilização das instituições e organizações da sociedade civil que trabalham na área das toxicodependências, envolvendo – as em mais tratamentos e na reinserção social e num salto qualitativo em 171 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro termos técnico – científicos, com novas regras já a partir de 2005, na conjunção, por exemplo, da actualização das convenções com factores de discriminação positiva em função de resultados clínicos e de objectivos específicos como o tratamento de alcoolismo, duplos diagnósticos ou crianças, grávidas e filhos de toxicodependentes. • Proactividade e políticas de proximidade – gizar uma nova resposta comunitária de prevenção e segurança, com medidas inovatórias quanto ao pequeno tráfico, aos jovens consumidores e a traficantesconsumidores, aos jovens delinquentes, numa acção concertada e mais firme de desvalor social percebido da posse e do consumo de drogas. Por outro lado, significa uma aposta em chegar mais longe, a populações ocultas muito marginalizadas, em bolsas de pobreza e exclusão só reconhecíveis ao nível da freguesia e do lugar, e com preparação específica de equipas de rua e locais, descentralizando, nas autarquias e associações de autarquias, para promover programas e intervenções qualificadas a nível municipal e regional; • Prevenção em Meio Escolar e Familiar – Só uma presença continuada e consistente dentro da escola pode valorizar perfis e atitudes de autonomia em relação à experiência do consumo de drogas e desenvolver programas que visem reforçar factores protectores. É assim indispensável um novo desenho da responsabilidade, do relacionamento e da articulação da escola, da comunidade educativa, dos serviços públicos de prevenção e tratamento das toxicodependências, das autarquias e das famílias. Devem ainda encontrar-se novos meios de informação acessíveis aos pais, de formação dos educadores e professores e novos conteúdos adaptados aos grupos etários do préescolar, 1º, 2º, e 3º ciclos, secundário, ensino profissional e universitário. A multidisciplinaridade, os espaços informais, o recurso aos pares e a atenção especial ao abandono escolar precoce são igualmente matérias obrigatórias de actuação conexa com a escola e a família; 172 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro • “O tratamento resulta” – conforme proclamou em 1998 a Assembleia Geral das nações Unidas, o tratamento das toxicodependências resulta – mas necessita de observar guidelines e protocolos terapêuticos, precisa de estar assente em evidência científica e tem de produzir resultados auditáveis. Devem ser esclarecidos os direitos do toxicodependente enquanto doente e deve ser mantida uma sã convivência e cooperação entre sistema público, privado e social de tratamento. A rigorosa observância de critérios clínicos e boas práticas tem de ser garantida por uma fiscalização idónea e atenta, e por regras conhecidas e gerais. Os tratamentos de substituição deverão ser equacionados como ferramentas terapêuticas temporárias – desejavelmente de alto limiar – no processo terapêutico individual do toxicodependente e visando, em momento seguinte, a libertação completa dos opiáceos. Neste sentido, a nova estratégia nacional deverá reequacionar o actual encaminhamento dos toxicodependentes em programas de substituição e o nível recomendável, em termos técnico-científicos, do peso relativo dessa ferramenta terapêutica; • Planos e Centros Integrados – entre 2005 e 2012, deveremos evoluir para a implementação de planos e centros integrados inspirados em experiências-piloto já realizadas ou a realizar em diversas regiões do país. Pretende-se assim optimizar recursos e meios, articular serviços e respostas relacionadas com a prevenção primária, o tratamento, a redução de riscos e danos, a reinserção, a formação, a dissuasão e a investigação, com participação de entidades e estruturas públicas, privadas e sociais, em contratos-programa com o objectivos e indicadores definidos e mensuráveis. Com este propósito, as estruturas públicas deverão ser alvo de gradual reorganização interna, no sentido das conclusões da avaliação externa promovida pelo INA; • Planos de Acção nacionais e sectoriais – como forma de operacionalizar a nova estratégia Portuguesa de Combate ás Drogas e Toxicodependências, poderão ser elaborados planos de acção que identifiquem claramente os objectivos específicos visados, os programas 173 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro e instrumentos de trabalho, respectivos orçamentos e fontes de financiamento, cronogramas, indicadores de performance, e avaliação a entidades responsáveis. Propõe-se assim que, durante a vigência da nova estratégia, sejam elaborados dois planos de acção nacionais 20052008 e 2009-2012, com avaliação intercalar em 2008, a par da estratégia europeia. Neste âmbito, e como reforço d articulação interinstitucional e interdepartamental, poderão ser explicitados planos de acção sectoriais, por exemplo, nas áreas da exclusão social e combate à pobreza, sistema prisional, abandono escolar, crime e segurança pública, reinserção laboral, juventude e desporto; • Mais duros no combate ao tráfico – o conjunto de problemas relacionados com o tráfico de drogas na União europeia dos 25 e na circunstância portuguesa de relação próxima com África e com a América do Sul, a sofisticação tecnológica e os vastos meios disponíveis em redes de tráfico e crime organizado e as matérias conexas com o branqueamento de capitais de nível mundial, tornam obrigatório o reforço e a ampliação dos poderes e meios de investigação criminal e cooperação internacional. A nível interno, o aprofundamento da articulação das UCIC, a presença e actuação das forças de segurança da GNR e PSP, em todo o território nacional e em programas de proximidade como o “Escola Segura”, como se têm verificado no Concelho do Barreiro. O mais estreito relacionamento dessas forças com os centros de prevenção e tratamento para efeitos de dissuasão e formação são igualmente caminhos promissores. Mas resulta essencial aumentar o nº de detenções e condenações por tráfico numa altura em que as drogas parecem mis disponíveis do que nunca, estabelecendo, por exemplo, regras mais restritas para a figura do consumidor \traficante; • Mais eficácia na dissuasão – Temos que aumentar a percepção pública do desvalor do consumo de drogas em contexto de descriminalização, exigindo-se por isso mais eficácia na dissuasão e maior racionalização dos meios empregues. Não houve ainda tempo e 174 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro experiência suficientes decorridos desde a lei de descriminalização para correctamente avaliarmos os impactos negativos e positivos ocorridos. Importa observar as recomendações propostas no sentido da reorganização profunda da área da dissuasão, mas mantendo-se para já em funcionamento o actual momento, sob pena da total liberalização da posse e do consumo de drogas; • Construção de Conhecimentos – a criação de um sistema competente de informação, com um novo Observatório Português das Drogas e Toxicodependências, a ser gerido no âmbito do IDT, mas em articulação estreita com instituições científicas e de investigação, nacionais e estrangeiras, para a produção não só de dados estatísticos fidedignos, mas também de conhecimento proveniente da análise crítica dos dados, das medidas implementadas e da realidade portuguesa. Este observatório e a prioridade absoluta a dar à investigação, como base e parte da prática a implementar, deverão constituir pedras angulares da nova estratégia Portuguesa de Combate às Drogas e Toxicodependências. • Novas respostas a novas dependências – com o incremento visível de novos comportamentos aditivos, designadamente em relação ao alcóol e ás drogas sintéticas, sobretudo n população juvenil, importa conceber novos programas e medidas que melhor se direccionem a esses públicos – alvo. A correcta articulação e complementaridade entre os serviços de tratamento das toxicodependências com essas novas valências e, por exemplo, os centros regionais de alcoologia, e genericamente com os serviços de saúde mental, saúde pública ou com os cuidados primários de saúde, deverão garantir uma optimização dos recursos e o célere encaminhamento clínico. • Uma responsabilidade partilhada numa sociedade liberta de drogas – só uma eficaz coordenação nacional de esforços permitirá o salto qualitativo técnico – científico pretendido para dessa forma atingir os resultados desejáveis em 2012: menos drogas disponíveis nas nossas 175 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro ruas, menos novos consumidores e mais toxicodependentes reabilitados. A partilha de responsabilidades, a articulação e integração de respostas, o comportamento ético e a visão comum de uma sociedade liberta de drogas constituem requisitos fundamentais do sucesso desta estratégia nacional. Tal como foi referido pelo grupo temático da Toxicodependência existem estruturas e serviços de apoio à Toxicodependência, nomeadamente instituições públicas e privadas com um trabalho em rede consubstanciado que permite responder às situações problemáticas com eficácia. Assim, identifica-se uma rede de estruturas de tratamento, reforçada por um trabalho de parceria consolidado. Por outro lado, o grupo temático refere que existe uma consciencialização das problemáticas e disponibilidade para intervir por parte das instituições. No contexto desta problemática, existem no Barreiro duas instituições que dão resposta à maior parte das situações, nomeadamente, o Centro Jovem Tejo, que desenvolve trabalho desde 1987, na área da recuperação de dependentes de produtos tóxicos. Esta associação possui, actualmente, dois projectos, a Equipa de Rua (IDT) e a Cantina Social, este último inserido no Programa de Minimização de Riscos e Redução de Danos. Para além dos projectos supra mencionados, dispõe das seguintes valências: - Comunidade Terapêutica; - Apartamento de Reinserção Social; - Gabinete de Apoio a Toxicodependentes; - Centro de Consultas; - Programa Vida Emprego; - Cantina Social; - Planos Municipais de Prevenção Primária das Toxicodependências; - Carpintaria (Empresa de Inserção). 176 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro A população acompanhada caracteriza-se essencialmente por situações de forte isolamento, com incidência a partir dos 26 anos, solteiros, desempregados, sem abrigo e toxicodependentes. Refere-se, ainda, o CAT, Centro de Atendimento a Toxicodependentes, que é um serviço público que presta apoio a esta população no Concelho do Barreiro, tendo várias valências disponíveis: - Atendimento geral; - Grupos Terapêuticos; - Programa de Manutenção de Metadona; - Actos de enfermagem: vacinação, injecções, pensos; - Consulta de psicologia infantil destinada a filhos de toxicodependentes, - Clube de Apoio ao Emprego; - Grupos pedagógicos. Ao nível de estruturas de apoio, o Concelho do Barreiro dispõe ainda: do Serviço de Acção Social do Barreiro; RUMO; Associação Odisseia; IRS; Unidade de Prevenção de Setúbal do Instituto da Droga e Toxicodependência; Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência do Distrito de Setúbal; e Unidade de Infecciologia do Hospital (CAD e CDP) e também a intervenção da Autoridade de Saúde. Relativamente à necessidade de mais estruturas ou valências na área da toxicodependência não foi um factor manifestado nas entrevistas efectuadas aos interlocutores privilegiados, ou seja, os serviços que existem, segundo os mesmos, dão resposta às solicitações do Concelho. No entanto, no inquérito realizado identificou-se que existe uma lacuna a nível das seguintes estruturas: Centro de Formação Profissional; Centro de Acolhimento; Lar para Doentes Crónicos; e Centro de Dia. Uma outra necessidade apontada pelo o grupo temático prende-se com a necessidade de mais formação dos técnicos desta área, sobretudo quanto às 177 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro novas drogas, bem como o reforço ao nível dos recursos humanos e financeiros. A contabilização objectiva do número de consumidores de droga no Concelho é complexa e difícil, pois apenas se pôde fazer uma estimativa dos que procuram serviços e organizações da área da toxicodependência, o que não corresponde ao total da população que consome drogas no Concelho do Barreiro. Assim, o presente estudo de diagnóstico caracteriza os consumidores de drogas tendo em conta os utentes das instituições que prestam serviço a toxicodependentes, nomeadamente o Serviço de Acção Social do Barreiro, o CAT, o Centro Jovem Tejo, e a Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência do Distrito de Setúbal. Segundo dados do Serviço de Acção Social do Concelho do Barreiro, em 2002 eram acompanhadas 40 situações de toxicodependência, 9 casos individuais e 31 famílias. O tipo de apoios prestados foi: a assistência medicamentosa (1 individuo/ 10 famílias); alojamento/ alimentação (3 famílias); pagamento de mensalidades a instituições de toxicodependentes (2 indivíduos/ 5 famílias); transporte (1 individuo/ 1 família); e outros apoios (5 indivíduos/ 12 famílias). QUADRO 52 - População Toxicodependente acompanhada pelo Serviço de Acção Social do Barreiro, por grupo etário, em 2002 Grupo Etário Feminino Masculino Total 20-24 2 2 4 25-29 4 7 11 30-34 1 5 6 35-39 1 10 11 40-44 6 6 45-49 2 2 32 40 TOTAIS 8 178 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 53 - População Toxicodependente acompanhada pelo Serviço de Acção Social do Barreiro, segundo o estado civil, em 2002 Grupo Etário Casado Solteiro 20-24 4 25-29 6 Divorciado União de Facto 1 4 2 30-34 2 4 35-39 3 4 2 40-44 1 3 2 2 45-49 Total 6 21 7 6 QUADRO 54 - População Toxicodependente acompanhada pelo Serviço de Acção Social do Barreiro, segundo o grupo etário com filhos e sem filhos, em 2002 Grupo Etário Com filhos Sem filhos 20-24 2 2 25-29 3 8 30-34 3 3 35-39 4 7 40-44 1 5 45-49 1 1 Total 14 26 QUADRO 55 - População Toxicodependente acompanhada pelo Serviço de Acção Social do Barreiro, segundo as habilitações literárias, em 2002 Sem escolaridade 16 Com escolaridade obrigatória 23 Ensino Secundário 1 QUADRO 56 - População Toxicodependente acompanhada pelo Serviço de Acção Social do Barreiro, segundo a situação profissional, em 2002 Empregado 5 Desempregado 33 Estudante - 179 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 57 - População Toxicodependente acompanhada pelo Serviço de Acção Social do Barreiro, com prestações sociais, em 2002 Rendimento Social de Inserção 25 Pensão Social 1 Reforma - Subsídio de Desemprego 12 Outras prestações QUADRO 58 - População Toxicodependente acompanhada pelo Serviço de Acção Social do Barreiro, em processo de tratamento, em 2002 CAT 29 Comunidade Terapêutica 6 Apartamento de Reinserção - Outro 3 Não está em tratamento QUADRO 59 - População Toxicodependente acompanhada pelo Serviço de Acção Social do Barreiro, em frequência de Programa de Inserção , em 2002 A frequentar Programa de Inserção 26 Não frequenta Programa de Inserção 12 Segundo dados fornecidos pelo Centro de Atendimento a Toxicodependentes, CAT do Barreiro, o nº de utentes acolhidos desde 01/01/2001 até 28/05/2004 foi de 572. 180 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 60 - Nº de utentes atendidos pelo CAT do Barreiro, segundo o grupo etário, entre 2001 e Maio/2004 Grupo Etário Masculino Feminino Total -14 1 0 1 15-19 7 2 9 20-24 49 18 67 25-29 146 33 179 30-34 108 23 131 35-39 94 15 109 40-44 59 1 60 45+ 16 0 16 Total 480 92 572 QUADRO 61 - Nº de utentes atendidos pelo CAT do Barreiro, segundo o estado civil, entre 2001 e Maio/2004 Masculino Feminino Total Casado 114 41 155 Separado/ Divorciado 51 7 58 Solteiro 284 35 319 Viúvo 4 1 5 Sem fronteiras 1 0 1 454 84 538 Total QUADRO 62 - Nº de utentes atendidos pelo CAT do Barreiro, segundo as habilitações literárias, entre 2001 e Maio/2004 Masculino Feminino Total Sem escolaridade 8 0 8 Sabe ler e escrever 2 1 3 1º Ciclo 100 10 110 2º Ciclo 174 36 210 3º Ciclo 129 21 150 11º Ano de escolaridade 24 3 27 12º Ano de escolaridade 18 12 30 Frequência Universitária 4 2 6 Licenciatura/ Bacharelato 1 1 2 Formação Profissional 1 1 2 461 87 548 Total 181 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 63 - Nº de utentes atendidos pelo CAT do Barreiro, segundo a situação profissional, entre 2001 e Maio/2004 Emprego estável 117 17 134 Emprego ocasional 56 4 60 Desempregado há menos de 1 112 18 130 157 41 198 Reformado 8 0 8 Com pensão social 1 0 1 Estudante/ 2 1 3 Outras Situações 4 3 7 Sem informação 0 0 0 457 84 541 ano Desempregado há mais de 1 ano Formação Profissional Total QUADRO 64 - Nº de utentes atendidos pelo CAT do Barreiro, segundo o tipo de substâncias consumidas, entre 2001 e Maio/2004 Hx. Consumo 30 Dias Diferença Tabaco 356 306 50 Álcool 108 74 34 Álcool (abuso) 94 23 71 Cannabis 511 209 302 Sedativos 151 82 69 Estimulantes 31 0 31 Alucinógeneos 47 4 43 Opiáceos 542 475 67 Cocaína 451 213 238 Ecstasy 43 6 37 Outros 21 6 15 2355 1398 957 Total Média de substâncias por utente 4,1% Média sem tabaco nem álcool 3,3 % 546 com registos sobre subst. Consumidas 534 com registos de substâncias consumidas nos últ. 30 dias. 182 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 65 – CAT, Distribuição por substâncias consumidas nos últimos 30 dias (excluindo tabaco), de 2001 a Maio/2004 Masculino Feminino Total Só Heroína 128 33 161 Só Heroína e Cocaína 70 12 82 109 12 121 0 0 0 Heroína e outras 92 19 111 Cocaína sem Heroína (+/- 9 1 10 1 0 1 Alucinogéneos 1 0 1 Cannabis +/- Sedativos 22 2 24 Sedativos +/- Álcool 3 1 4 Só Álcool 4 0 4 Sem consumos (só 11 4 15 450 84 534 Heroína, Cocaína e outras Heroína e Estimulantes ou Ecstasy e outras outras) Estimulantes ou Ecstasy (+/- outras) +/- Álcool tabaco) Total QUADRO 66 - Substâncias Consumidas: Idade de Início e Anos de Consumo, de 2001 a Maio/2004 Nº utentes com consumo regular Média da idade de início do consumo regular Masc. Femin. Média de anos de consumo regular Masc. Femin. Álcool 71 9 Álcool (abuso) 66 Alucinogéneos 19 1 21,6 13,0 9,6 6,0 Cannabis 280 46 15,5 16,6 16,1 11,4 Cocaína 209 36 20,9 19,4 11,4 7,1 Ecstasy 21 1 22,3 17,0 5,6 4,0 Estimulantes 12 Opiáceos 397 75 20,5 19,9 11,6 8,5 Sedativos 65 14 22,6 20,7 8,7 5,6 Tabaco 254 44 14,0 15,0 17,7 13,4 16,1 19,7 18,9 Masc. Femin. 15,9 6,0 13,9 17,8 13,6 183 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 67 – CAT, Via de Consumo de substâncias nos últimos 30 dias, de 2001 a Maio/ 2004 Via Masculino Feminino Total Endovenoso 307 39 346 Fumado 451 86 537 Inalado 3 0 3 Oral 96 16 112 Outras 0 0 0 857 141 998 Total de Registos QUADRO 68 – CAT, Via de Consumo de Heroína nos últimos 30 dias, de 2001 a Maio de 2004 Via Masculino Feminino Total Endovenoso 195 29 224 Fumado 198 46 244 Inalado 1 0 1 Total de Utentes 394 75 469 QUADRO 69 – CAT, Via de Consumo de Cocaína nos últimos 30 dias, de 2001 a Maio de 2004 Via Masculino Feminino Total Endovenoso 106 10 116 Fumado 72 14 86 Inalado 2 0 2 Total de utentes 180 24 204 184 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 70 – CAT, Tratamentos Prévios, de 2001 a Maio de 2004 Tratamento % Masculino + Feminino Agonistas 28 6% Antagonistas 104 23% Individual (Terapia) 85 18% Grupo (Terapia) 8 2% Familiar (Terapia) 3 1% Centro de Dia 1 0% Desabituação 143 31% Comunidades 84 18% Auto-Ajuda (Grupos) 3 1% Outro 3 1% Total 462 100% QUADRO 71 – CAT, Residência dos Utentes por freguesia, de 2001 a Maio de 2004 Alto do Seixalinho 124 21,7% Barreiro 246 43% Coina 7 1,2% Lavradio 60 10,5% Palhais 3 0,5% Santo André 45 7,9% Santo António da Charneca 27 4,7% Verderena 60 10,5% Total 572 100,0% Relativamente aos dados fornecidos pelo Centro Jovem Tejo, na altura do Diagnóstico realizado no âmbito da candidatura ao Plano Municipal de Prevenção das Toxicodependências, Fevereiro de 2002, acompanhavam 60 indivíduos toxicodependentes, dos quais 53 eram do sexo masculino e 7 do sexo feminino. Destes, 16 eram residentes no concelho do Barreiro, 37 noutras localidades e 4 encontravam-se numa situação sem-abrigo. 185 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 72 – Individuos acompanhados pelo Centro Jovem Tejo, segundo Grupos Etários, Fev/ 2002 Grupo Etário Masculino 15-19 Feminino Total 2 2 20-24 9 9 25-29 24 1 25 30-34 8 3 11 35-39 3 40-44 8 45-49 1 Total 53 3 1 9 1 7 60 De acordo com os dados fornecidos na mesma altura pela Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência do Distrito de Setúbal, o Concelho do Barreiro para os anos 2001 e 2002 apresenta os seguintes valores referentes ao nº de processos de contra-ordenação registados: Total de autos remetidos em 2001: 77 Total de autos remetidos em 2002: 57 QUADRO 73 – Nº de Processos de Contra-Ordenação da Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência, segundo os grupos etários dos indivíduos, entre 2001-2002 Grupo Etário 2001 2002 Total 16-20 12 31 43 21-25 17 6 23 26-30 8 6 14 31-35 17 5 22 36-40 12 7 19 41-45 6 1 7 +45 5 1 6 Total 77 57 134 186 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 74 – Nº de Processos de Contra-Ordenação da Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência, segundo o sexo dos indivíduos, entre 2001-2002 Sexo 2001 2002 Total Masculino 65 55 120 Feminino 12 2 14 Total 77 57 134 QUADRO 75 – Nº de Processos de Contra-Ordenação da Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência, segundo o estado civil dos indivíduos, entre 2001-2002 2001 2002 Total Solteiro 59 57 116 Casado 10 10 Divorciado 6 6 Viúvo 2 2 Total 77 57 134 QUADRO 76 – Nº de Processos de Contra-Ordenação da Comissão para a Dissuasão da Toxicodependência, segundo as substâncias mais consumidas, entre 2001-2002 Tipo de droga 2001 2002 Total Cannabis 25 41 1 Heroína 50 16 1 Cocaína 4 Ecstasy 1 1 1 Desconhecido Total 80 58 3 187 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 77 – Nº de autos remetidos pela Comissão para a Dissusão da Toxicodependência, do Distrito de Setúbal, entre 2001 e 2002 Entidade 2001 2002 Total PSP – Esquadra do Barreiro 52 13 65 PSP – Esquadra da Quinta da Lomba 3 4 7 1 1 PSP – Esquadra do Lavradio Tribunal do Barreiro 15 17 32 Total 70 35 105 De acordo com a caracterização atrás apresentada pode-se aflorar o perfil do toxicodependente que recorre às instituições do Concelho do Barreiro, os chamados consumidores problemáticos de droga. Neste sentido, é um individuo do sexo masculino, com idade compreendida entre os 25 e 35 anos, solteiro, desempregado, a maioria não ultrapassa o 3º ciclo do ensino básico (ligação do insucesso escolar à problemática da toxicodependência), as substâncias mais consumidas são a heroína seguindose do cannabis. Todos os estudos e relatórios indicaram a cannabis como a droga mais consumida em Portugal, no entanto a população alvo desta caracterização são os utentes de instituições de tratamento, sendo a droga mais consumida pelos consumidores problemáticos a heroína. PREVENÇÃO PRIMÁRIA A Prevenção Primária 24 refere-se à totalidade das intervenções que se situam a montante dos consumos, visando a análise das variáveis que contribuem para o eclodir da disfunção, e para que esta não ocorra. 24 www.drogas.pt 188 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Assim, a prevenção primária concretiza-se na implementação de iniciativas tendentes a modificar e a melhorar a formação integral e a qualidade de vida dos indivíduos, fomentando o auto-controlo e a resistência perante a oferta de drogas. Os objectivos mais importantes da Prevenção são: • Promover os factores de protecção dos indivíduos e reduzir a influência dos factores de risco; • Intervir sobre as causas do mau estar individual, facilitando a possibilidade de cada um conduzir a sua vida com responsabilidade e autonomia face às múltiplas oportunidades de situações; • Promover condições sociais facilitadoras de alternativas de vida saudáveis; • Promover o crescimento pessoal, social e afectivo dos indivíduos através da aquisição de competências pessoais e sociais. A prevenção dos consumos de drogas pode não ser isolada de um conjunto de áreas de intervenção do âmbito da promoção da saúde e do desenvolvimento social e comunitário. A prevenção primária deverá ser assumida como uma responsabilidade do conjunto da sociedade, dos poderes públicos, das associações privadas, da comunidade escolar, das famílias, das empresas, dos meios de comunicação e dos serviços de saúde locais, que, numa lógica de promoção da saúde poderão contribuir em muito para alargar o âmbito da intervenção; e por ultimo as autarquias, que têm um papel fundamental na definição e concretização das políticas sociais. As autarquias contribuem significativamente para a construção de uma sociedade em que as comunidades sejam mais saudáveis, tomando em mãos a manutenção e a melhoria do bem-estar dos seus habitantes. Com a participação de todos estes actores sociais transformar-nos-emos em cidadãos cada vez mais responsáveis pelo nosso próprio destino. 189 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Pode dizer-se que a intervenção em Prevenção Primária visa: • A realização de intervenções coerentes e sustentáveis no tempo; • A realização de projectos que integrem e abranjam de forma sistemática, os níveis individuais, familiar e social; • A implementação de projectos adequados aos diferentes contextos da realidade nacional; • O desenvolvimento e a aquisição de competências pessoais e sociais junto das populações a atingir, principalmente crianças e jovens; • A consolidação das parcerias existentes e o estabelecimento de novas redes que permitam actuar no âmbito da prevenção primária de forma articulada e consistente; • A qualificação e a formação dos agentes interventores no âmbito da prevenção primária das toxicodependências. Ao nível da intervenção em Programas de prevenção primária é condição indispensável a presença das seguintes variáveis: • A prevenção deve ser uma atitude manifestamente pró-activa, em que não só se antecipa mas também se reconhece a ocorrência de uma situação especifica e se procura por meio de algumas acções evitar a verificação da sua existência futura ou presente; • Deve ser focalizada, ou seja, dirigida a determinadas populações. Um dos requisitos estruturais de prevenção consiste na orientação da intervenção para “grupos sociais”, especificamente para grupos que evidenciem maior risco, ou seja, os que apresentam vulnerabilidade especifica para iniciar consumo de drogas, • Deve ser marcada pela intencionalidade, na medida em que o seu foco essencial é o de fortalecer a adaptação e o funcionamento saudável, reduzindo a incidência e prevalência do desajustamento; • Deve ter em conta o princípio da continuidade, da autonomia, e da normalização nas práticas sociais; • Deve ser sujeito à sua própria avaliação de forma a examinar os seus efeitos e a testar a sua eficácia. 190 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro De acordo com orientações da Estratégia Nacional de luta contra a Droga, os municípios deveriam elaborar Planos Municipais de Prevenção Primária das Toxicodependências. Os Planos Municipais de Prevenção Primária das Toxicodependências 25 constituem uma medida de intervenção que visa a mobilização da sociedade civil e das autarquias no estabelecimento de uma rede nacional de prevenção primária, através do estabelecimento de parcerias tripartidas que possibilitem o desenvolvimento de projectos de prevenção em meio escolar e familiar, junto de jovens não escolarizados e em espaços de lazer e desportivos. Neste sentido, a Câmara Municipal do Barreiro e a Unidade de Prevenção do Instituto da Droga e Toxicodependência de Setúbal, em conjunto com duas Instituições de Solidariedade Social do Concelho do Barreiro apresentaram duas candidaturas ao Instituto da Droga e da Toxicodependência, que se encontram neste momento a aguardar a assinatura do protocolo. Nestas candidaturas pretende-se intervir em dois eixos prioritários, nomeadamente a Prevenção em Meio Escolar e a Prevenção junto de Jovens em situação de Abandono e Absentismo Escolar. De acordo com o grupo temático, a inexistência e/ou descontinuidade de projectos de prevenção e reinserção é uma das principais fraquezas apontadas pelos membros deste grupo. Por vezes, o investimento feito quer a nível de tempo dispendido, quer a nível dos recursos humanos e financeiros aplicados, acaba dessa forma por não permitir uma intervenção mais eficaz e não atingir os resultados esperados. De facto, no Concelho do Barreiro, implementaram-se projectos de prevenção muito interessantes que presentemente já não existem, nomeadamente: “Prevenir em Colecção” e “Aventura na Cidade”, promovidos pela Câmara Municipal do Barreiro, eram projectos Comunitários de Promoção da Saúde, da 25 IDEM 191 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Associação Arisco, dirigido o primeiro a alunos do pré-escolar e 1º ciclo e o segundo aos alunos do 2º ciclo; “Prevenir a partir da Escola”, projecto de prevenção em meio escolar , no âmbito do quadro Prevenir II do IDT, sendo a entidade executora a RUMO; também o “Prevenir pela Família” executado pela RUMO, visava responder a necessidades psico-sociais de famílias em risco de apresentar comportamentos toxicodependentes nalguns dos seus membros; projecto “(A) Riscar na Família”, promovido pela associação Juvenil Odisseia, integrado no Quadro Prevenir II do IDT, dirigido aos alunos do 4º ano. É importante referir que o Programa Quadro Prevenir II do IDT constitui, quer pelo nº de entidades envolvidas, quer pelos resultados obtidos, um marco de referência no campo da prevenção primária das toxicodependências no nosso país. Neste âmbito, e já na sua segunda fase de implementação, encontra-se presentemente em curso o Programa Escolhas Segunda Geração, projecto de prevenção de comportamentos de risco para jovens, que intervem na Cidade de Sol. O Centro Jovem Tejo também promove acções de prevenção, fundamentalmente comunitárias através de acções de formação, informação e divulgação. EXCLUSÃO SOCIAL E REINSERÇÃO De acordo com o estudo do Conselho Europeu em 2001 sobre precariedade social e integração, a percentagem de população Europeia em risco de pobreza e de exclusão social na Europa varia entre 9% e 22%. Uma pessoa é considerada socialmente excluída quando está impedida de participar plenamente na vida económica, social e civil e/ou quando o seu acesso a rendimentos e a outros recursos é de tal modo insuficiente que não lhe permite usufruir de um nível de vida considerado aceitável pela sociedade em que vive. Trata-se de um conceito relativo dentro de qualquer sociedade particular. 192 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro O consumo de drogas pode ser encarado seja como uma consequência ou seja como uma causa da exclusão social: o consumo de droga pode deteriorar as condições de vida, mas por outro lado, os processos de marginalização social podem ser um motivo para se começar a consumir droga. No entanto, a relação entre toxicodependência e exclusão social não se aplica necessariamente a todos os toxicodependentes. O desemprego é apontado como uma das causas principais que levam os indivíduos à toxicodependência, ou vice-versa, a toxicodependência leva os indivíduos ao desemprego. Assim, é preocupação das politicas governamentais a inserção sócio-profissional da população alvo desta problemática. No concelho do Barreiro é importante referir o papel do Programa Vida Emprego que articula com o Clube de Apoio ao Emprego do CAT e com Centro Jovem Tejo. É também deveras importante mencionar que o grupo temático da toxicodependência considera que existe no nosso Concelho um forte tecido empresarial e que existe, também, projectos e medidas de mercado social para a reinserção sócio-profissional da toxicodependência. Contudo, denota-se ainda pouca abertura/sensibilidade dos empresários para estas questões e a consequente pouca empregabilidade da população toxicodependente em fase de reinserção sócio-profissional (fase final de tratamento). 193 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO RESUMO • A situação do Concelho do Barreiro, em matéria de drogas, em 2001, apresenta uma situação mais grave comparativamente com o conjunto do pais e do distrito de Setúbal; • Cannabis é a substância ilícita de maior consumo ocasional entre os jovens no Concelho do Barreiro; • Os opiáceos são as drogas mais consumidas entre os pacientes que procuram tratamento; • Tendência preocupante com a frequência crescente com que a cannabis é mencionada no contexto do indicador de procura de tratamento; • Consumo de cannabis tende a ser esporádico ou interrompido ao fim de algum tempo; • O consumo de substâncias ilícitas atinge os valores mais elevados entre os jovens adultos (entre 15 e 34 anos); • O nº de indivíduos do sexo masculino que consomem drogas é superior ao do sexo feminino; • O consumo de drogas é mais prevalecente nas áreas urbanas (freguesias do Barreiro, Santo André e Alto do Seixalinho); • O consumo de ecstasy aumentou nitidamente durante a década de 90; • O consumidor problemático de droga caracteriza-se pelo consumo de heroína, muitas vezes combinada com outras drogas; • Os consumidores de drogas procuram tratamento espontaneamente (81,69%) ou por iniciativa de familiares; • Em 2001, recorreram a tratamento na rede pública do Instituto da Droga e da Toxicodependência, cerca de 525 indivíduos; • Existências de uma boa rede de estruturas de tratamento, mas muitas vezes encontram-se desadequadas face aos novos pedidos de tratamento; • O policonsumo de drogas é cada vez mais visível; • Preocupação com a disseminação do HIV, do vírus da Hepatite C e do vírus da Hepatite B, relacionada com o consumo de drogas (regra geral injectada); • Unidade de Infecciologia do Hospital do Barreiro preta um serviço fundamental relativamente à matéria das doenças infecto-contagiosas; 194 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro • As medidas destinadas a minimizar os problemas relacionados com o consumo de drogas, a reduzir a mortalidade e a diminuir a perturbação da ordem pública, tornaram-se parte fundamental das estratégias nacionais em matéria de drogas; • Os programas de troca de seringas, iniciativas de proximidade e os serviços de porta aberta continuam em expansão; • Entre Outubro de 1993 e Dezembro de 2003 foram efectuadas pela Equipa de Rua do Centro Jovem Tejo 21 859 trocas de seringas; • A maioria de consumidores de droga em tratamento esteve em contacto com o sistema de justiça pena; • A nível dos indicadores relacionados com as consequências legais de tráfico, a situação do Concelho parece ser mais gravosa; • Zonas territoriais problemáticas de consumo e/ou tráfico: Alto do Seixalinho; Barreiro; e Santo António da Charneca; • Necessidades de equipas multidisciplinares nas instituições que dão apoio a toxicodependentes; • O álcool é a substância psicotrópica mais consumida pelos jovens; • Existência de uma consciência cívica face à problemática das drogas; • Consciencialização das problemáticas e disponibilidade para intervir por parte das instituições; • Necessidade de mais formação dos técnicos, sobretudo quanto às novas drogas, bem como o reforço ao nível dos recursos humanos e financeiros; • As escolas são o contexto preferencial para levar a cabo intervenções na área da prevenção das toxicodependências; • Necessidade de implementação do Plano Municipal de Prevenção das Toxicodependências; • Inexistência e/ou descontinuidade de projectos de prevenção e reinserção; • Importância do Programa Vida Emprego na integração da população toxicodependente; • Pouca abertura/sensibilidade dos empresários relativamente à empregabilidade dos toxicodependentes. 195 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro _______________________________________ 4. Deficiência e saúde mental _________________________________ 196 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro 4.1. DEFICIÊNCIA MENTAL: UMA NOVA DIMENSÂO Segundo o DSM-IV (Manual de diagnóstico estatístico de transtornos mentais) entende-se por deficiência mental “um funcionamento intelectual significativamente inferior à média, acompanhado por limitações significativas no funcionamento adaptativo em pelo menos duas das seguintes áreas: comunicação, autonomia, capacidades sociais, relacionamento interpessoal, uso de recursos comunitários, capacidades académicas, trabalho, lazer, saúde e segurança”. Para que o diagnóstico de deficiência mental seja aplicado é necessário, segundo as classificações internacionais, que este ocorra antes dos 18 anos, sendo assim caracterizado por uma perturbação do desenvolvimento e não por uma alteração cognitiva como é por exemplo a demência. A deficiência mental pode ser caracterizada por um quociente de inteligência (Q.I.) inferior a 70, média apresentada pela população. Contudo, teoricamente as questões mensuráveis do Q.I. deveriam ficar em segundo plano uma vez que a unidade de observação é a capacidade de adaptação. Assim a deficiência mental é um estado caracterizado por uma limitação funcional em qualquer área do funcionamento humano, considerada abaixo da média geral das pessoas na sociedade onde o indivíduo se insere. No que respeita à classificação, actualmente as terminologias de deficiência mental leve, média, severa e profunda deixam de ser utilizadas. Assim, um diagnóstico poderia expressar-se da seguinte forma: “Uma pessoa com deficiência mental que necessita de apoios limitados nas capacidades de comunicação e nas capacidades sociais”. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 1976, as pessoas com deficiência mental eram classificadas como portadoras de uma deficiência mental leve, moderada, severa e profunda. Contudo, actualmente tende-se a não enquadrar previamente a pessoa com deficiência numa categoria baseada em generalizações de comportamentos esperados para a sua idade. 197 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro A intervenção com estas pessoas foca-se actualmente nos apoios necessários e nas possibilidades de crescimento e potencialidades dessas mesmas pessoas com objectivo de fomentar uma maior autonomia e inserção na comunidade. É neste sentido que instituições adequadas oferecem apoio contínuo e variado para responder às necessidades destas pessoas. Estas necessidades devem ser determinadas através de avaliações e nunca em função única e exclusivamente de um diagnóstico fechado que rotula a pessoa. Quanto ao tipo de apoio, a abordagem hoje pode ser a vários níveis. Por um lado o apoio pode ser intermitente, ou seja, quando necessário. A pessoa não necessita sempre de apoio, apenas requer apoio de curta duração em situações pontuais (higiene, alimentação, etc.). O apoio pode também ser limitado, e este caracteriza-se por ser de duração limitada mas não só pontual (treinos de banho, aprendizagem de regras na alimentação e adequação de comportamentos e regras sociais). Outro tipo de apoio é o extenso que se define pela sua regularidade que pode ser diária. Este apoio foca essencialmente algumas áreas específicas como a vida familiar, as relações interpessoais e a manutenção da saúde mental e física (apoio de serviço social, apoio psicológico, terapia ocupacional, terapia da fala e psicomotricidade). Por último existe o apoio generalizado que se processa com elevada intensidade. Este apoio proporciona-se através de diferentes áreas, (polivalente, têxteis, etc.) cada uma delas com diversas actividades de carácter pedagógico. Estes apoios exigem bastante pessoal específico e é assegurado através de monitores e educadores. Concluindo, todo o investimento em programas de intervenção precoce, pedagogia e ocupacionais visa sempre o pleno desenvolvimento do potencial do indivíduo e a inserção social do mesmo na sua comunidade. Quanto maior for a integração social das pessoas, maiores serão as suas oportunidades de aceitação e inclusão na sociedade. Contudo, não podemos esquecer que o desenvolvimento individual está sempre dependente do grau de deficiência, da história de vida, do apoio familiar e das experiências vivificadas. 198 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro O Concelho do Barreiro, apresenta os seguintes dados, para os vários tipos de deficiência na população residente. QUADRO 78 - Nº de Pessoas com deficiência no Concelho do Barreiro, comparativamente à Sub-Região de Saúde e ao Continente, em 2001 População Total de Pessoas c/ Taxa de Prevalência Residente deficiência (1 000 hab.) Barreiro 79 011 5 144 65,1 Sub-Região de 814 565 48 560 59,6 9 869 343 613 762 62.2 Saúde de Setúbal Continente Fonte. INE, Censos 2001 De acordo com os dados do Censos de 2001, o Concelho do Barreiro regista 5144 pessoas com algum tipo de deficiência. A taxa de prevalência é de 65,1, acentuadamente superior à verificada a nível da Sub-Região de Saúde de Setúbal (59,6) e ligeiramente superior à nacional (62,2). Este tipo de análise é extensível aos grupos etários, o que permite de uma forma simples não só quantificar o número de pessoas com deficiência pelos respectivos grupos como também a sua distribuição pelos tipos de deficiência considerada. Os totais parciais, por cada tipo de deficiência , apresentam uma distribuição homogénia na deficiência visual, motora e outras deficiências. Os valores mais altos verificam-se nos grupos etários de 25 a 64 anos e de 65 ou mais anos. 199 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 79 - População Residente Deficiente segundo o tipo de Deficiência, por grupos etários, em 2001 Grupo Etário Auditiva Tipo de Deficiência Visual Motora Mental Paralisia Outras Cerebral Deficiências Total 0 – 14 24 56 34 20 12 49 198 15 – 24 45 159 57 49 16 61 387 25 – 64 497 692 589 216 31 815 2840 65 ou + 456 379 464 58 15 347 1719 Totais 1022 1286 1144 343 74 1272 5144 Fonte: INE, Censos 2001 Gráfico nº 16 200 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro 4.2. SAÚDE MENTAL A saúde mental tem sido ao longo dos tempos negligenciada em favor de outros assuntos e objectos de investigação. No entanto, é das problemáticas que mais tem contribuído para o aumento dos custos por parte dos governos com os serviços nacionais de saúde e para o aumento de situações de pobreza, exclusão social, desemprego e descriminação. Como resultado destas situações de ruptura social – lentamente, começa a ser encarada por alguns Estados e Organizações Internacionais (Organização Mundial de Saúde e Organização das Nações Unidas) como um ponto prioritário de intervenção por parte dos governos, no que concerne às políticas de saúde pública. O conceito de saúde pode ser definido como “um estado completo de bemestar físico, mental e social, e não somente a ausência de doenças ou de enfermidades” 26. Observando este conceito podemos perceber que de facto é muito subjectivo, e está dependente de várias leituras – o estado de saúde de alguém. As variáveis conjugadas no conceito contribuem para essa subjectividade. Como podemos afirmar que o estado de saúde de uma determinada pessoa não é o melhor, se ela não tem qualquer problema físico, não tem sintomas de dor física, mas, no entanto tem comportamentos que fogem à norma social – por exemplo, dorme na rua. Provavelmente, dorme na rua porque não tem uma alternativa habitacional e como tal encontra-se marginalizado e excluído, e dessa forma dorme em condições sub - humanas. Á luz destes factos e deste conceito de saúde, este indivíduo tem sérios problemas face às variáveis descritas no conceito. Parece-me óbvio que se dorme na rua, o seu bem-estar social é bastante precário. Podemos até conjecturar que este individuo que dorme na rua, poderá sofrer de uma grave doença mental, que tem como consequência directa uma desorganização dos seus processos mentais e das suas funções sociais, não podendo assim percepcionar uma realidade diferente, acabando desta forma, por se isolar e por se afastar da sua família (provavelmente porque esta já não suporta mais o 26 Cf. Organização Mundial de Saúde – http:/www.who.int/mental_health/en/ 201 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro peso da sua dor interior) e levar uma vida sub-humana. Resumindo, podemos afirmar que este indivíduo iniciou o seu processo de ruptura social devido a um problema de saúde e como tal, necessita de ser ajudado a promover um estado de saúde que lhe permita conduzir a sua vida de forma mais estruturada e integrada na sociedade. Desta forma, não são só de problemas de saúde mental que este indivíduo padece, ele também tem problemas sociais associados à sua condição e ao seu estado de saúde – sendo estes problemas muito diferentes, de um outro indivíduo que apenas partiu uma perna a praticar desporto. Mas, e a sociedade como o vê? Será que o vê de igual forma ao indivíduo que apenas partiu uma perna e precisa de tratamento e de fisioterapia? Ou será que o vê de forma diferente? A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que existam no mundo cerca de 450 milhões de pessoas 27 que sofrem de qualquer tipo de desordem ou perturbação mental, e que de alguma forma, esta situação irá ter um impacto significativo na economia dos países. Estima também, que uma em cada quatro famílias tem actualmente um membro que sofre de perturbação mental ou comportamental 28. A doença mental, ao contrário de outras doenças e patologias, não provoca na pessoa portadora, uma degradação física evidente sendo a sua observação bastante limitada para outras pessoas que se relacionam e interagem com o indivíduo. No entanto, apesar da sua ambiguidade no diagnóstico e na observação, a doença mental encerra em si outras consequências, que são bastante cruéis e severas para as pessoas portadoras, nomeadamente, o sofrimento interior, a estigmatização, a exclusão e o isolamento social. Durante muitos anos em hospitais psiquiátricos, foram cometidas várias violações de direitos humanos no tratamento hospitalar e clínico destas pessoas, que tiveram como resultado a agudização dos sintomas da doença, 27 28 Idem, Ibidem Idem, Ibidem 202 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro assim como, a sua permanência de forma residual e crónica, comprometendo de forma quase definitiva a sua reabilitação social, física, psicológica e emocional. Ainda existe o mito, de que pessoa portadora de doença mental nunca mais poderá ser reabilitada e levar uma vida normal – a ausência de reconhecimento das potencialidades do individuo, assim como a incompreensão por parte dos serviços e entidades públicas, da severidade e das consequências que um problema de saúde mental pode ter numa pessoa, prejudica gravemente o seu processo de reabilitação. Com o início dos movimentos de desinstitucionalização 29, houve uma contribuição significativa para o reconhecimento das capacidades e potencialidades da pessoa portadora de doença mental, no entanto, por si só ainda não são suficientes para eliminar o estigma e a discriminação exercida sobre estas pessoas. Os modelos e as respostas comunitárias que surgiram como resultado dos movimentos de desinstitucionalização, ainda não atingiram um nível de quantidade e qualidade que dê resposta às necessidades existentes. No que concerne à qualidade dos serviços, muitos ainda têm como princípios orientadores da sua intervenção, modelos assistencialistas e proteccionistas, não levando em consideração as necessidades reais das pessoas. Estabelecendo para isso, relações de poder entre as instituições e os seus utilizadores, que têm um efeito prejudicial nos processos de reabilitação e de integração social. Cf. BACHRACH, Leona L., Ensinamentos da Experiência Americana na prestação de serviços de base comunitária – cit. In LEFF, Júlian, Cuidados na Comunidade – Ilusão ou Realidade?, Climepsi Editores, Lisboa 2000 – pp. 49 Define desinstitucionalização como, a substituição dos hospitais psiquiátricos para internamento prolongado por serviços alternativos de menor dimensão, menos isolados e com base na comunidade, para cuidar de pessoas com doença mental. 29 203 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Quer na área da deficiência, que na área da saúde mental, existe ainda um longo caminho a percorrer, nomeadamente ao nível do trabalho em rede e da optimização dos recursos técnicos e logísticos. É necessário dar importância ao trabalho em rede e valorizá-lo na perspectiva da mais valia e do equilíbrio entre as intervenções ao nível social, já que a complexidade dos problemas sociais, assim o exige. É necessário compreensão para entender os ritmos e os princípios orientadores de cada uma das instituições. E sobretudo, é necessário humanizar a intervenção de acordo com as necessidades detectadas neste diagnóstico. No âmbito das várias dimensões analisadas neste estudo, como a informação, a mobilidade, a qualidade dos serviços, ensino, formação profissional e legislação, percebe-se claramente esta realidade. A nível do acesso à informação e a forma de como esta é oferecida aos cidadãos – é necessário criar novos modelos de acesso à informação de forma a que todos os cidadãos possam acedê-los, independentemente das suas diferenças a vários níveis, sociais, económicos, saúde, posição social, entre outros. De acordo com a amostra (anexo IV) das pessoas questionadas e que de alguma forma estão relacionadas com a problemática da deficiência e saúde mental, apenas 38% dos inquiridos deu nota positiva à informação disponível nos serviços, situação muito semelhante àquela que se verifica quanto ao acesso à mesma. Por outro lado, a burocracia processual é outro aspecto salientado pelos parceiros, pela inércia que provoca ao desenvolvimento de projectos e de iniciativas de bem comum. A humanização dos serviços passará no futuro, pela compreensão das necessidades das pessoas que os acedem. Relativamente à avaliação do atendimento nos serviços públicos e de outras instituições a amostra encontra-se dividida na avaliação de forma positiva e negativa dos serviços. O atendimento nos serviços também deverá, neste sentido, avançar na perspectiva referida no ponto anterior. Deverá apostar-se na formação dos recursos humanos nas mais variadas áreas, que vão desde 204 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro as competências sociais, passando pela entreajuda e pelo relacionamento interpessoal. A mobilidade das pessoas dentro das cidades continua a ser um eixo prioritário que os poderes autárquicos devem de investir e é uma das dimensões muito importantes deste estudo, por ter um peso enorme sobre a qualidade de vida desta faixa da população. Fonte: INE, Censos 2001 Gráfico nº 17 As pessoas sentem que ainda não dispõe das condições necessárias para se moverem dentro da cidade com segurança e conforto, em especial, as pessoas que tem dificuldades de mobilidade. Exemplos disso são a ausência de rampas com grau de inclinação e com apoios adequados de acesso aos edifícios, o acesso aos transportes públicos, a ausência de rampas em todas as passadeiras e passeios, a sinalização vertical pouco adequada à mobilidade nos passeios e parques, o estacionamento de automóveis nas vias reservadas aos peões, o horário dos transportes, entre outros. Se atendermos apenas ao facto de 47,2 % da população deficiente ser de tipo visual e motora e 39% dos edifícios, por exemplo, não serem acessíveis, 205 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro verifica-se que neste âmbito requere-se a criação de um conjunto de condições que permitam a mobilidade, o acesso e a utilização de equipamentos, serviços e edifícios em segurança para todos os cidadãos, e em todas as situações. Ainda, de acordo com os parceiros, existe um subaproveitamento dos recursos e equipamentos do associativismo, provocado por um distanciamento cada vez mais evidente entre as associações, as populações e as autarquias É necessário promover a diferença como a ponte de ligação entre as pessoas, e isto passa essencialmente por dotar as cidades de equipamentos e estruturas que tenham em consideração os vários níveis de mobilidade e as necessidades específicas de cada população. No que concerne, ao acesso aos cuidados de saúde primários, que incluem os serviços de saúde e os médicos da especialidade, existe alguma insatisfação pelo que é necessário promover uma política da saúde concertada com todos os agentes e instituições da área, para que o acesso seja um processo fácil e rápido, de forma a responder às necessidades da população. As dificuldades de acesso e os tempos de espera por uma consulta e acompanhamento na especialidade são os dois maiores problemas levantados na amostra Esta problemática também está relacionada com a humanização dos serviços e com o acesso a informação, pelo que se deve assemelhar às propostas acima descritas. Os resultados do questionário, apesar de não serem de modo algum conclusivos, detectaram a existência de níveis de privação em relação aos rendimentos disponíveis por agregado e por indivíduo elevados. Um número considerável de pessoas incluídas nesta faixa da população, e como atesta o quadro seguinte, vive de rendimentos provenientes de reformas / pensões (55,7%) ou de bolsas de formação, cujo os valores são extremamente baixos e não oferecem condições económicas que favoreçam a autonomia e o processo 206 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro de reabilitação e reinserção social. Desta forma, muitas destas medidas de apoio social acabam por não atingir os objectivos que as próprias encerram em si. QUADRO 80 - População Residente Deficiente, com 15 ou mais anos, segundo o tipo de Deficiência, por principal meio de vida, em 2001 Deficiência Mental 235 446 220 25 5 309 1240 21,5 1 2 3 1 0 24 18 0,4 27 51 12 6 0 24 120 2,4 5 10 21 9 1 22 68 1,4 2 6 3 0 0 1 12 0,2 3 8 5 3 0 11 30 0,6 605 525 731 180 33 679 2753 55,7 8 4 10 16 7 20 65 1,3 A cargo da Família 102 170 94 78 16 126 586 11,8 Outra Situação 10 8 11 5 0 20 54 1,1 Totais 998 1230 1110 323 62 1223 4946 100,0 Trabalho Rendimento da Propriedade e da Empresa Subsídio de Desemprego Subsídio Temporário por acidente de Trabalho ou Doença Profissional Outros Subsídios Temporários RSI Pensão/ Reforma Apoio Social Outra Motora Cerebral Visual Paralisia Tipo de Deficiência Auditiva Principal Meio de Vida Total % Fonte: INE, Censos 2001 Se, por um lado, a medicação, que nos últimos anos tem evoluído bastante, os sentimentos de solidariedade entre as pessoas que sofrem dos mesmos problemas, o empenho das instituições na mudança dos contextos e da realidade e por fim, as famílias que desempenham um papel importantíssimo junto das instituições, constituem uma mais valia identificada para estas pessoas, por outro lado, o estigma e a descriminação ainda existentes dentro da estrutura social e dentro das próprias instituições e serviços existentes são, obstáculos ao desenvolvimento de acções e de desenvolvimento de uma 207 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro consciência colectiva que possibilite uma melhor integração social desta população. O estigma e a descriminação é um dos maiores problemas enfrentados por quem sofre uma doença mental e é o principal obstáculo à procura de tratamento. Outro aspecto a salientar, é a precaridade da situação laboral e dos rendimentos provenientes da mesma. Com habilitações escolares muito baixas, esta população acaba por não ter perspectivas de um futuro profissional seguro, protector das suas fragilidades e promotor do seu potencial, permanecendo desta forma marginalizados e sujeitos à agressividade do mercado de trabalho. QUADRO 81 - População deficiente, com mais de 15 anos, por condição perante a actividade económica, em 2001 Actividade Económica Outra Deficiência Paralisia Cerebral Mental Motora Visual Auditiva Tipo de Deficiência Total População Empregada População Desempregada Estudantes 242 41 460 81 233 26 29 15 6 1 328 50 1298 214 20 67 16 9 2 30 144 Domésticos 47 55 20 11 0 35 168 Reformados, Aposentados Incapacitados para o trabalho Outros 572 484 602 117 17 577 2369 49 45 182 118 31 160 585 27 38 31 24 5 43 168 Total 998 1230 1110 323 62 1223 4946 Fonte: INE, Censos 2001 Neste sentido, deverá apostar-se na criação de condições que favoreçam o emprego e a formação profissional específica, com objectivos claros e 208 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro pragmáticos em relação ao mercado de trabalho. Sobre este aspecto é de registar, segundo os parceiros envolvidos, o empenho das instituições na criação e organização desse mercado de emprego. Uma formação profissional que não qualifique de acordo com as necessidades do mercado e que não tenham em consideração, o potencial e as capacidades do seu público alvo, acaba por resultar numa medida vazia e sem o objectivo de ajudar a reinserção e a protecção do trabalhador no local de trabalho. No que diz respeito, ao acesso à legislação existente na área da deficiência e saúde mental podemos observar que existe uma faixa considerável da amostra que não conhece, de facto, a legislação. Os canais e veículos de comunicação devem, pois, ser reconsiderados em termos de construção, de publicação e de acesso à legislação, permitindo uma maior proximidade dos mesmos junto do cidadão comum. Um dos problemas apontados pelos parceiros, que constitui obstáculo ao desenvolvimento das intervenções sociais, é a desadequação dos projectos e programas e a não continuidade de alguns desses programas com taxas de sucesso razoáveis. Por outro lado a burocracia processual é outro aspecto salientado, pela inércia que provoca ao desenvolvimento de projectos e de iniciativas de bem comum. A articulação entre os programas e a legislação existente, contribuirá para melhores intervenções que certamente resultarão na eficácia e optimização dos vários recursos. O ensino especial é outro dos eixos prioritários de investimento ao nível concelhio, uma vez que constitui a porta de entrada desta população nas várias dimensões sociais, o que permite o crescimento pessoal, a socialização e a integração social. Apesar de haverem serviços com qualidade no concelho, não conseguem dar resposta a todas as solicitações e necessidades da população. Para além disso, há uma escassez de recursos humanos e financeiros nos serviços 209 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro existentes, pelo que não é possível ter tradutores ou professores que saibam comunicar em linguagem gestual e outros recursos materiais essenciais ao ensino. Um aspecto importante é a quantidade e a qualidade dos equipamentos sociais existentes no concelho. De acordo com a amostra, uma grande parte dos inquiridos avaliou a qualidade dos equipamentos de forma positiva, no entanto, avaliou também a quantidade dos equipamentos de forma negativa, ou seja, a oferta é escassa face à procura. Deverá fazer-se um esforço de investimento na criação deste tipo de estruturas e no melhoramento dos equipamentos já existentes, apostando posteriormente na formação dos recursos e no financiamento sustentável das instituições. A este respeito, é de referir que, segundo dados de 2001 do serviço Social do Hospital de Nª do Rosário, S.A, a seguir à medicina, o Departamento de Psiquiatria é o que tem um maior número de dias de alta protelada, com 278 altas. Alguns dos factores que contribuem para o protelamento de altas por motivos sociais, comum a vários tipos de população, são: carência económica, falta de suporte familiar, isolamento, totalmente dependentes de cuidados de terceiros ou semi-dependentes. Por outro lado, de acordo com dados fornecidos pela Delegação de Saúde do Barreiro, verifica-se no concelho um aumento significativo de internamentos compulsivos com tendência a aumentar. Em 2002 registaram-se 22 casos para 51 casos, em 2004. Ainda, de acordo com a mesma fonte, 1% da população residente sofre de esquizofrenia. Aliás, segundo a Organização Mundial de Sáude, as patologias neuropsiquiátricas representam a segunda maior causa de doença na Europa. Logo a seguir aos problemas cardiovasculares, são a principal causa de 210 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro incapacidade prolongada. As patologias mentais afectam um em cada quatro europeus, mas o tratamento está aquém das necessidades 30. A nível concelhio, como o quadro seguinte demonstra, há um défice de respostas sociais face às necessidades e à lista de espera em muitas valências. 30 Cf. Artigo Diário de Notícias, 14 de Janeiro 2005 211 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO 82 - Respostas Sociais na área da Deficiência e Saúde Mental, no Concelho do Barreiro, por Instituição, segundo a capacidade e lista de espera Valências Formação Profissional Educacional Semi-internato Educacional Esc/NEE CAO Inserção Profissional Lar Residencial Intervenção Precoce Escola Especial Unidade de Vida Protegida Forum SocioOcupacional Empresas de Inserção Acompanhamento Pós Contratação Departamento de Psiquiatria Instituições Cercimb Rumo Nós Hóspital Total 60 172 - - 232 Reduzida Reduzida - - - ? Capacidade Lista de Espera 60 - - - - 60 - - - - - - Capacidade Lista de Espera - 234 - - - 234 - existe 60 - - 12 - 72 + 20 - - 7 - + 27 - 40 - - - 40 existe reduzida - - - ? 11 - - - - 11 + 30 - - - - +30 - - - 25 - 25 - - - existe - ? - - - 20 - 20 - - - existe - ? - - 7 - - 7 - - - - - - Capacidade Lista de espera - - 30 - - - 30 - Capacidade Lista de espera - - 8 - - 8 - - 6 - - - - 130 - - - 130 - reduzida - - - ? - - - - 278 278 Capacidade Lista de Espera Capacidade Lista de espera Capacidade Lista de espera Capacidade Lista de espera Capacidade Lista de espera Capacidade Lista de espera Capacidade Lista de espera Capacidade Lista de espera Altas Proteladas Persona ? 212 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro A nível concelhio, há falta de pequenas unidades de apoio, de um alargamento das respostas já existentes e de uma gestão da saúde mental com acompanhamento nos locais de trabalho. Por outro lado, os equipamentos devem ter uma filosofia de centro comunitário com multivalências. Há instituições do concelho cujos equipamentos são exíguos e desajustados face às solicitações e à necessidade de diversificar as suas respostas. Há também uma necessidade, sentida pelos agentes locais que intervêm nesta área, de uma maior articulação entre todos os serviços e instituições, quer públicas quer privadas, ou seja, um maior envolvimento e uma participação efectiva das parcerias, com uma acção estruturada e integrada. Em relação às oportunidades identificadas, podemos observar que ela se prende a dois níveis – intervenção social e económica. Ao nível da intervenção social existem alguns factores de extrema importância e que a verificar-se a sua implementação poderão trazer um grande dinamismo a esta área de trabalho: 1) o aparecimento de grupos de advocacy – grupos que pretendem representar certas franjas da população, no sentido de criar pressão junto das organizações e instituições para ajudar a melhorar os serviços e garantir que os direitos que lhe são conferidos como cidadãos sejam concedidos; 2) o empenho dos vários agentes que trabalham para a mudança da legislação e para o desenvolvimento de programas mais adequados; 3) a descentralização e a desconcentração dos serviços poderão contribuir para a diminuição do processo burocrático; 4) a Rede Social e as sinergias criadas entre os parceiros para o desenvolvimento de acções que ajudem a desenvolver as várias áreas do social. Em relação à educação, existem duas oportunidades a ter em consideração: a existência de programas de Revalidação de Competências (que dá equivalência ao 9º ano de escolaridade) e a implementação de projectos com o objectivo de dar respostas escolares adequadas. 213 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro No que concerne ao nível económico, a existência de legislação e de recursos para a implementação de empresas sociais, empresas de inserção e de programas de emprego apoiado são factores igualmente importantes. Mais uma vez, a desconcentração e a descentralização poderão desempenhar um papel crucial no desenvolvimento de acções. E por fim, a existência de alguns apoios e subsídios para o arrendamento de habitação pelo instituto nacional de habitação. Concluindo, o grupo temático para esta área salienta as seguintes prioridades a ter em conta no planeamento estratégico de desenvolvimento social do Concelho do Barreiro: Educação e Formação Profissional Torna-se cada vez mais importante nas sociedades modernas educar e formar os seus cidadãos para o mercado de trabalho e para uma profissionalização digna e com condições, que lhes permitam uma integração profissional bem sucedida. Independentemente das fragilidades, handicaps ou diferenças culturais e étnicas que existam entre os indivíduos. O trabalho desempenha um papel importantíssimo, quer para a sociedade e para a economia, quer para as referências simbólicas do indivíduo. Pelo que é fundamental, haver nas sociedades um capital humano responsável, bem formado e educado, vindo assim a cumprir os seus deveres e a exercer em pleno os seus direitos. Ao nível concelhio é importante continuar a investir na formação profissional, pensada e estruturada para as pessoas e não, apenas programas vazios de medidas e pouco adequados às necessidades existentes. É também fundamental, investir na educação e em recursos humanos que possibilitem melhores condições ao nível do ensino especial. Assim como, investir em estruturas de apoio e de resposta ás necessidades da população, especialmente na área da infância e da juventude. 214 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Sustentabilidade A sustentabilidade é um termo de importância fulcral para o desenvolvimento de qualquer sociedade e das suas instituições. É necessário criar condições que permitam a autonomia das instituições que prestam apoio social através das acções que dinamizam. Esta autonomia deverá passar por 3 áreas: financeira, logística e humana. As instituições para poderem desenvolver as suas actividades de forma objectiva e assertiva necessitam ter ao seu dispor opções válidas dentro dessas três vertentes: poderá passar por parcerias mais activas com o associativismo, com as autarquias, como por desenvolver outras formas de financiamento, integrando para isso, o tecido empresarial. Mobilidade A mobilidade é um eixo de suporte de qualquer comunidade. Criando obstáculos à mobilidade das pessoas dentro de um certo espaço, criam-se obstáculos ao desenvolvimento desse mesmo espaço. Os espaços devem de ser humanizados, pensados para serem utilizados por todas as pessoas e não só por algumas. Não é necessário criar espaços adjacentes àqueles que já existem, de forma a serem só utilizados por pessoas com necessidades especiais, mas sim, criar espaços gerais que não fundamentem a exclusão e o estigma – um espaço onde todas as pessoas se podem mover e respeitar as diferenças entre si. Combate ao Estigma e à Discriminação O combate ao estigma e à discriminação deve de ser considerado como prioridade, pelos efeitos que tem junto das pessoas e das comunidades, não permitindo o desenvolvimento individual das capacidades das pessoas e comprometendo o desenvolvimento humano da comunidade. 215 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro O estigma e a discriminação podem ser considerados como os mais sérios obstáculos para o desenvolvimento de todos os eixos atrás referidos, visto que, são eles que impossibilitam a observação das diferenças e as acções de respeito pelos direitos das pessoas em serem diferentes. É necessário que os órgãos de comunicação social elaborem conjuntamente com as instituições e com os utilizadores dos serviços, uma lista de termos e conceitos não discriminantes para utilizarem no seu quotidiano informativo e jornalístico. É necessário, que este tipo de intervenção chegue não só à comunicação social, mas também a outras entidades e organizações com responsabilidades sociais. A criação de campanhas de sensibilização junto dos mais jovens, informando acerca das problemáticas e contribuindo para a solidariedade social entre as pessoas, não hipotecando o pensamento de futuras gerações ao desprezo pela diferença entre as pessoas e ensinando-lhes, que a riqueza da sociedade está nas diferenças que existem entre elas. 216 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro QUADRO RESUMO • Existência de vários tipos de população com deficiência e diversidade de apoios por parte das instituições, com vista ao desenvolvimento e inserção social dos indivíduos na sua comunidade; • Existência de 5 144 pessoas com algum tipo de deficiência; • Taxa de prevalência é de 65,1 – acentuadamente superior à verificada a nível da sub – região de saúde de Setúbal (59,6%) e ligeiramente superior à nacional (62,2%); • Distribuição homogénea na deficiência visual, motora e outras deficiências; • Valores mais altos verificam-se nos grupos etários dos 25 aos 64, e dos 65 e mais anos; • A saúde mental começa a ser encarada como ponto prioritário de intervenção, relativamente às políticas de saúde pública; • Na área da deficiência e saúde mental é necessário dar importância ao trabalho em rede e valorizá-lo na perspectiva da mais valia e do equilíbrio entre as intervenções ao nível social; • É necessário humanizar a intervenção de acordo com as necessidades deste diagnóstico; • Necessidade de criar novos modelos de acesso à informação; • A burocracia processual provoca inércia no desenvolvimento de projectos e iniciativas de bem comum; • Deverá apostar-se na formação dos recursos humanos nas mais variadas áreas; • Existência de barreiras físicas à mobilidade em edifícios e espaços quer públicos quer privados. O Estado degradado e o desnivelamento em alguns passeios dificultam a mobilidade; • Subaproveitamento dos recursos e equipamentos do associativismo; • Necessidade de promover uma politica de saúde concertada com todos os agentes e instituições; • Existência de níveis de privação em relação aos rendimentos disponíveis; • Existência de estigma e de descriminação, obstáculo ao desenvolvimento de acções e de uma consciência colectiva que possibilite uma melhor integração desta população; • Precariedade da situação laboral desta população; 217 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro • É necessário apostar: na criação de condições que favoreçam o emprego e a formação profissional especifica; na adequação e informação dos canais e veículos de comunicação; • A desadequação e a descontinuidade dos projectos e programas são um obstáculo ao desenvolvimento das intervenções sociais; • Os serviços e equipamentos do Concelho são insuficientes face às solicitações e necessidades desta população. Há listas de espera em muitas valências; • Escassez de recursos humanos e financeiros nos serviços e instituições existentes; • Há falta de pequenas unidades de apoio; • Importância da implementação de grupos de advocacy e self-advocacy, da descentralização dos serviços e da rede social, com factores de dinamismo e de criação de sinergias no desenvolvimento das várias áreas do social; • Necessidade de projectos com o objectivo de dar respostas escolares adequadas a estas populações; • É necessário investir e alargar mais o apoio a empresas sociais e aos programas de emprego apoiado. 218 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro _________________________________________ Conclusões Finais _________________________________ 219 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro VI. CONCLUSÕES FINAIS O processo de planeamento, em qualquer contexto que seja accionado, é um processo que se formaliza mediante um conjunto de etapas interligadas e interdependentes. Este é um processo contínuo, dinâmico e cíclico, ou melhor, é um processo em espiral, na medida em que não se volta exactamente ao mesmo ponto de partida inicial, mas a um ponto de partida aperfeiçoado. O facto de ser proposta uma sequência lógica de etapas não implica que não haja alguma flexibilidade no processo, muito pelo contrário, ela é essencial, para que o planeamento consiga dispor de mecanismos de adaptação contínua à realidade sobre a qual se pretende intervir. Neste contexto, o Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro, que agora se apresenta, não faz sentido se não for seguido pelo cumprimento das demais tarefas que compõem um processo de planeamento. Este Diagnóstico Social não pretende ser um mero exercício académico, pretende, antes, ser o início de um processo que tem como fim último a melhoria das condições de vida da população do Barreiro. É, neste sentido, que se adoptou, neste Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro, um estilo de planeamento orientado segundo o princípio fundamental do conhecer para agir. Só desta forma faz sentido todo o trabalho que se efectuou com a participação e a colaboração dos agentes sociais locais, o público alvo deste estudo e o empenhamento do Núcleo Executivo e dos técnicos da autarquia, trabalho esse que culminou na elaboração do presente documento. De facto, o Planeamento Social não faz sentido se não for participado, se não apelar à participação dos diversos actores sociais (individuais e colectivos) que compõem o tecido social e que são, no fundo, os motores das mudanças sociais. 220 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Partindo deste paradigma, é necessário que as opções sejam tomadas em função do conhecimento dos problemas e das potencialidades identificadas, das necessidades e da avaliação das melhores respostas para o Concelho do Barreiro. Da mesma forma que é fundamental conhecer o presente, afigura-se primordial saber ler as tendências do futuro do Concelho e antecipar rupturas e lacunas. Pese embora a afirmação do Barreiro, na última década, como um concelho de serviços, a perda de população aliada à crise da indústria e a consequente redução das antigas condições de empregabilidade sem a criação de novas, a crescente mobilidade e acessibilidades a nível regional, a proximidade de Lisboa, são considerados factores preponderantes que condicionam o desenvolvimento. Neste sentido, o reposicionamento da importância do Concelho do Barreiro no Arco Ribeirinho; o posicionar do Barreiro como uma cidade para o futuro com projectos novos e formas actuais de inspirar e mobilizar os cidadãos; o potenciar dos recursos existentes; a previsão de uma profunda alteração nas acessibilidades, são igualmente factores determinantes das potencialidades de desenvolvimento do Concelho, sobretudo numa lógica de afirmação do Barreiro como verdadeiro centro da margem sul no contexto da Área Metropolitana de Lisboa. A proximidade de Lisboa e a longa zona ribeirinha são, de facto, a par de outras, questões incontornáveis quando se planeia e se definem eixos estratégicos para o desenvolvimento (social e não só) do Concelho do Barreiro. A criação de mais e melhores proximidades e condições que contribuam para o aumento da qualidade de vida da poulação são fundamentais para tornar o Barreiro mais competitivo, mais atractivo e mais saudável no contexto regional. A proximidade de um grande pólo de consumo como a grande Lisboa representa vantagens apreciáveis, nomeadamente ao nível da implantação de 221 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro espaços de armazanagem e logística e da recepção de actividades desconcentradas da área central da AML, o que traz novas dinâmicas ao concelho em termos de investimentos, de actividades económicas e de emprego. Este reposicionamento, pode conferir ao Barreiro uma posição privilegiada, podendo ganhar importância outras actividades tais como: o turismo, a diversificação do tecido empresarial e industrial, a logística e a armazenagem. Torna-se necessário, neste contexto, criar os incentivos indispensáveis à localização de novos empreendimentos ou empresas de alto valor acrescentado para o Concelho, bem como requalificar os parques de actividades (indústria, serviços) para a implantação dessas novas actividades. Para além destas características que potenciam o desenvolvimento do Concelho do Barreiro, existem outros factores, que lhe conferem potencialidades de desenvolvimento a não desperdiçar. O território concelhio, apesar da sua forte densidade populaçional, possui recursos naturais e paisagísticos privilegiados que permitem o desenvolvimento de actividades económicas ligas ao turismo e ao lazer: Mata da Machada, Sapal de Coina, Zona Ribeirinha, Rio Tejo; Património edificado. Os actores sociais locais consideram a qualidade de vida determinante e extensível a outras áreas relacionadas com a qualidade de vida dos cidadãos, nomeadamente a terceira idade, a infância e juventude/educação, a deficiência e saúde mental e as toxicodependencias. Melhorar a qualidade de vida destas populações torna-se estratégia prioritária de intervenção, promovendo medidas que atenuem os efeitos da perda dessa qualidade de forma a garantir que as vivências sejam mais autónomas e qualitativamente positivas. 222 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Uma análise das áreas consideradas neste estudo permite identificar as várias vulnerabiliaddes e potencialidades concelhias. O estudo realizado permite constatar, pelo papel que desempenham no tecido social do Concelho do Barreiro, a existência significativa de equipamentos ao nível da infância e juventude/educação; de apoio à terceira idade, à deficiência e saúde mental e de apoio à população toxicodependente. Apesar da sua existência, a distribuição destes equipamentos, em algumas áreas, sobretudo na área dos idosos, da primeira e segunda infância e juventude, não cobre de forma suficiente e equilibrada algumas freguesias com carências ao nível de equipamentos com respostas sociais. Neste contexto, impõe-se uma análise cuidadosa do modo como a rede de equipamentos e os horários de funcionamento dos serviços sociais prestados, tal como actualmente se estruturam e face às suas perpectivas de evolução, respondem às necessidades manifestadas pelas pessoas, no contexto de uma sociedade em mudança. É evidente que a melhoria de serviços e equipamentos nas várias áreas consideradas, é tributária não apenas do dinamismo autárquico e da sociedade civil, através de uma rede assiciativa e institucional forte, mas também das condições exógenas de descentralização e investimento estatal. Neste âmbito, as parcerias são, igualmente, fundamentais na complementaridade de recursos humanos, materiais e financeiros, criando sinergias compensadoras dos desiquilíbrios. De acordo com o estudo efectudo, o Concelho do Barreiro, está perante um quadro de insuficiências de respostas e perante a necessidade de promover o seu aumento, bem como a respectiva diversidade e qualidade, adequando as respostas às necessidades. 223 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro Neste contexto, urge entre outros aspectos: 1) O reforço dos serviços de rectaguarda para idosos, doentes terminais, doenças prolongadas, situações sociais de desacompanhamento na doença e acompanhamento médico especial no caso dos novos problemas de saúde (doenças associadas à toxicodependência, alcoolismo, problemas mentais, etc.); 2) Alargamento dos serviços de apoio domicialiário a idosos; 3) Alargamento de redes de equipamentos dirigidos a crianças e jovens em situação de risco; 4) Medidas que visem a melhoria da rede de estabelecimentos de ensino, nomeadamente ao nível da conservação e beneficiação dos mesmos; 5) Medidas de apoio ao desenvolvimento do ensino profissional e superior e das suas interfaces com o ensino regular e empresas; 6) Elaboração de programas e projectos de apoio pedagógico e dotação de recursos para crianças e jovens absentistas ou com forte insucesso ao nível da escolaridade obrigatória e em zonas mais problemáticas do Concelho, com equipas multidisciplinares de apoio; 7) Investir na educação e em recursos humanos que possibilitem melhores condições ao nível do ensino especial. 8) Desenvolver medidas e projectos dirigidos às famílias mais vulneráveis e em situação de exclusão e /ou pobreza, nomeadamente famílias monoparentais; famílias em desvantagem face ao mercado de trabalho e famílias de baixos recuros económicos. O investimento em medidas e respostas sociais inclusivas, depende, igualmente, de um forte investimento na formação dos actores e técnicos locais, capacitando-os para a mobilização dos destinatários da sua acção e realçando a dimensão do empowerment. É necessário que a população que reside no Concelho e aquela que o mesmo possa atrair e fixar encontre no Barreiro um território: • com uma vincada cultura de planeamento estratégico, privilegiando estudos de impacto social em todos os processos e projectos de 224 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro modernização económica, educacional, social, tecnológica, das acessibilidades, etc; • com uma boa rede de infra-estruturas de suporte à vida quotidiana; • que dá especial atenção às situações de exclusão social; • com uma rede social dinâmica e eficaz; • de qualidade ambiental; • com uma identidade própria. 225 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro _________________________________________ bibliografia _________________________________ 226 Diagnóstico Social do Concelho do Barreiro VII. BIBLIOGRAFIA ALMEIDA, Ana Nunes, A Fábrica e a Família. Famílias Operárias no Barreiro, 1993, Barreiro: Câmara Municipal do Barreiro (Colecção Estudos e Documentos sobre a História Local). 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