UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE FARMÁCIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FARMACÊUTICAS LAURA MARIA FONTES PRADO AVALIAÇÃO DE DIFERENTES TIPOS DE FASES ESTACIONÁRIAS PARA SEPARAÇÕES RÁPIDAS EM CROMATOGRAFIA LÍQUIDA UTILIZANDO ANTIDIABÉTICOS ORAIS COMO MODELO Belo Horizonte - MG 2013 LAURA MARIA FONTES PRADO AVALIAÇÃO DE DIFERENTES TIPOS DE FASES ESTACIONÁRIAS PARA SEPARAÇÕES RÁPIDAS EM CROMATOGRAFIA LÍQUIDA UTILIZANDO ANTIDIABÉTICOS ORAIS COMO MODELO Dissertação apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Ciências Farmacêuticas da Faculdade de Farmácia da Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Ciências Farmacêuticas. Orientador: Prof. Dr. Gerson Antônio Pianetti - UFMG Co-orientador: Prof. Dr. Christian Fernandes - UFMG Belo Horizonte - MG 2013 P896a Prado, Laura Maria Fontes. Avaliação de diferentes tipos de fases estacionárias para separações rápidas em cromatografia líquida utilizando antidiabéticos orais como modelo / Laura Maria Fontes Prado. – 2013. 188 f. : il. Orientador: Dr. Gerson Antônio Pianetti. Co-orientador: Dr. Christian Fernandes. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Minas Gerais, Faculdade de Farmácia, Programa de Pós-Graduação em Ciências Farmacêuticas. 1. Cromatografia líquida de alta eficiência - Teses. 2. Medicamentos – Teses. 3. Validação de método – Teses. I. Pianetti, Gerson Antônio. II. Fernandes, Christian. III. Universidade Federal de Minas Gerais. Faculdade de Farmácia. IV.Título. CDD: 615.4 Dedico este trabalho aos meus pais, Guilherme e Dôra, pelo amor e dedicação incondicionais à ciência. Obrigada por me apresentarem à pesquisa científica e por serem exemplos de pesquisadores! AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Gerson Antônio Pianetti, por fornecer todas as condições necessárias para o desenvolvimento dessa dissertação e por confiar no meu trabalho. Ao professor Dr. Christian Fernandes, pela co-orientação, dedicação, contribuições técnicas e pelas valiosas discussões. Ao Ricardo, pela ajuda na operação do UHPLC, pela amizade e disponibilidade em ajudar durante toda a execução desse trabalho. Aos amigos do LCQ, Betânia, Fernando, Geovani, Iara, Isabela, Juliana, Léo, Luciano, Mariana, Paula Enéas, Paula Chelini, Ricardo, Taízia, Tiago e Vinícius, pelos ensinamentos e amizade. Aos professores e funcionários da Faculdade de Farmácia da UFMG, em especial ao Eduardo, pela agradável convivência. À CIFARMA e à FUNED pelo fornecimento das matérias primas utilizadas. À minha mãe, minha orientadora desde sempre! Pela preocupação e incentivo durante toda a minha formação acadêmica. Em especial pela colaboração na correção desse trabalho, pelas intermináveis discussões e pelo entusiasmo contagiante, capaz de transformar a correção de uma simples frase em algo extremamente recompensante. Ao meu pai, pelo apoio, incentivo e terno cuidado dispensados a mim. Aos meus irmãos, Renata, Lívia, Paula, Fábio e Andréia, pelo companheirismo e por, literalmente, “encherem” a minha vida. Aos meus sobrinhos (Lalá e Biel), avós, tios, primos, cunhados e eternas amigas do CP e da faculdade, pelos momentos de descontração compartilhados. Ao Guilherme, que sonha comigo os meus sonhos, que me permite sonhar os seus e, assim, juntos, sonhamos os nossos! Pela dedicação, carinho, companheirismo e por encher a minha vida de amor e alegrias. À Deus, pela oportunidade de concluir mais uma etapa de minha formação. “Gostaria de te desejar tantas coisas. Mas nada seria suficiente. Então, desejo apenas que você tenha muitos desejos. Desejos grandes. E que eles possam te mover a cada minuto.” (Carlos Drummond de Andrade) “Ambição é o caminho para o sucesso. Persistência é o veículo no qual se chega lá”. (Bill Eardley) RESUMO A Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE) convencional, que emprega fase estacionária com partículas totalmente porosas de diâmetro entre 3-5 µm (CV), apresenta limitações no que concerne à possibilidade de gerar análises rápidas mantendo elevada eficiência cromatográfica. Diante da demanda por métodos rápidos e eficientes, diferentes fases estacionárias foram desenvolvidas: fases com partículas de núcleo fundido (NF), com partículas totalmente porosas com diâmetro inferior a 2 µm (Sub 2 μm) e monolíticas (MN). Como ainda há poucos estudos que aplicam e comparam essas novas fases, o objetivo do presente trabalho foi comparar esses novos materiais, utilizando como modelo métodos analíticos para determinação de antidiabéticos orais (clorpropamida, glibenclamida, glimepirida e gliclazida). Inicialmente foi desenvolvido e otimizado método em coluna CV C18 100 x 2,1 mm, 5 μm, acetonitrila:Solução acetato de amônio 5 mM pH 3,0 (50:50) como fase móvel, o volume de injeção 2 μl, detecção em 230 nm, 30 C. Esse método foi transferido para as colunas MN (C18 100 x 2,0 mm), NF (C18 100 x 2,1 mm, 2,7 μm) e Sub 2 μm (C18 100 x 2,1 mm, 1,8 μm), após ajustes nas proporções de acetonitrila e solução de acetato de amônio. Todas as colunas foram caracterizadas quanto à porosidade total, capacidade de retenção, seletividade, permeabilidade e volume morto. Com o objetivo de reduzir o efeito extracoluna os parâmetros instrumentais volume do loop, diâmetro interno do tubo de PEEK e frequência de aquisição dos dados/constante de tempo do detector foram otimizados. Aplicando-se os parâmetros otimizados e os métodos para determinação de antidiabéticos, as colunas foram comparadas em termos de eficiência (análise das curvas de Van Deemter, de Knox e gráficos de performance cinética), velocidade de análise, resolução, simetria do pico e pressão. A coluna monolítica, apesar de compatível com equipamentos de HPLC e de propiciar análises mais eficientes do que a convencional em vazões elevadas, apresentou eficiência inferior a gerada pelas colunas de núcleo fundido e Sub 2 μm, além de dar origem a picos de pior simetria. Considerando a determinação da glimepirida como exemplo, verificou-se que coluna de núcleo fundido gerou análises com 90% da eficiência máxima e da velocidade ótima propiciadas pela coluna Sub 2 μm, com a vantagem de não gerar pressões acima de 400 bar, o que permite o uso de equipamento de HPLC. Além disso, assim como a coluna Sub 2 μm, a de núcleo fundido foi capaz de manter elevada eficiência em altas velocidades de análise e de gerar picos de boa simetria. Com o objetivo de comparar as colunas em uma situação limite de pressão e resolução, métodos extremamente rápidos para determinação de antidiabéticos foram desenvolvidos. Verificou-se que o método extremo com a coluna Sub 2 μm foi o mais rápido, mas levando-se em conta velocidade de análise, eficiência e pressão, o método extremo com a coluna de núcleo fundido foi o ideal. Assim, o método rápido com esta coluna foi validado, utilizando-se a glibenclamida como modelo. Demonstrouse a capacidade da coluna de núcleo fundido em gerar resultados quantitativos confiáveis. Palavras-chave: coluna monolítica, coluna de núcleo fundido, partículas sub 2 μm, UHPLC, curva de Van Deemter, gráficos de performance cinética, antidiabéticos orais ABSTRACT Conventional High Performance Liquid Chromatography (HPLC), which uses columns packed with totally porous particles with diameter between 3-5 µm (CV), has some limitations regarding the possibility to generate fast analysis maintaining high efficiency. Recently new stationary phases, such as those packed with fused core particles (FC), packed with fully porous particles with diameter less than 2 μm (Sub 2 μm) and monolithic phases (MN) have been introduced in the market in order to reduce analysis time maintaining high resolution and efficiency. However, there are few studies comparing and applying these new approaches. With this in view this study aimed to compare these new stationary phases, using analytical methods for oral antidiabetics (chlorpropamide, glibenclamide, gliclazide and glimepiride) determination as model. Initially the followed analytical method for antidiabetics determination was developed and optimized in CV column (C18 column 100 x 2.1 mm, 5 μm): mobile phase composed of acetonitrile and ammonium acetate buffer 5 mM pH 3.0 (50:50), o volume of injection 2 μl, detection at 230 nm, 30 C. This method has been transferred to MN (C18 100 x 2.0 mm), NF (C18 100 x 2.1 mm, 2.7 μm) and Sub 2 μm columns (C18 100 x 2.1 mm, 1.8 μm), after adjustments in acetonitrile and buffer proportion. The columns (CV, MN, FC and Sub 2 μm) were characterized in terms of dead volume, porosity, retention factor, selectivity and permeability. In order to reduce extra-column volume the followed instrumental chromatographic parameters were optimized: loop volume, internal diameter (id) of PEEK tube and data acquisition frequency/detector time constant. Applying the optimized parameters and the methods for antidiabetics determination, the columns were compared in terms of performance (analysis of Van Deemter, Knox and kinetic plots), analysis speed, resolution, peak symmetry and pressure. According to the results fused core column is the best alternative to conventional one. Although monolithic column conducted to more efficient analyzes at higher flow rates than conventional one, it was less efficient than fused core and Sub 2 μm columns. Besides, peaks from monolithic column presented worse symmetry. Considering the determination of glimepiride as example, fused core column provided analysis with 90% of maximum efficiency and optimal speed achieved by sub 2 μm column with the advantage of generate pressure bellow 400 bar, which allows the use of conventional HPLC instrument. Furthermore, as Sub 2 μm column, fused core was able to maintain high efficiency at high analysis speed and generate peak with suitable symmetry. Aiming to compare the columns in a extreme situation of pressure and resolution, fast methods for antidiabetics determination were developed. Extremely method developed in Sub 2 μm column was the fastest, but taking into account analysis speed, efficiency and pressure, the extreme method developed in fused core column was the ideal. Considering that fused core column showed the best relation between speed, efficiency and pressure, a quantitative evaluation of its performance was carried out. The extreme method in fused core column was validated for glibenclamide and the ability of this column to provide reliable quantitative results was demonstrated. Key words: monolithic column, fused core column, sub 2- μm particles, UHPLC, Van Deemter curve, kinetic plot, oral antidiabetics LISTA DE FIGURAS INTRODUÇÃO GERAL 1 Histórico do desenvolvimento de partículas para fases estacionárias..................... 27 CAPÍTULO 1 1.1 Estrutura geral das sulfoniluréias................................................................................. 35 1.2 Estruturas químicas da CL, GB, GM e GZ..................................................................... 36 1.3 Cromatograma de rosiglitazona (1), pioglitazona (2), glipizida (3), gliclazida (4), glibenclamida (5), celecoxibe - padrão interno (6) e repaglinida (7). (a) branco, (b) plasma humano contaminado com os padrões dos antidiabéticos e padrão interno (c) mistura sintética contendo antidiabéticos e o padrão interno................ 40 1.4 Curva de Van Deemter.................................................................................................... 44 1.5 Espectros de varredura dos antidiabéticos.................................................................. 51 1.6 Curvas de Van Deemter da CL em diferentes fases móveis....................................... 52 1.7 Curvas de Van Deemter da GZ em diferentes fases móveis....................................... 52 1.8 Curvas de Van Deemter da GB em diferentes fases móveis...................................... 52 1.9 Curvas de Van Deemter da GM em diferentes fases móveis...................................... 53 1.10 Relação entre percentual de ACN na fase móvel e k dos antidiabéticos.................. 53 1.11 Relação entre vazão e Rs (GM/GB) nas diferentes fases móveis............................... 54 1.12 Relação entre vazão e pressão do sistema nas diferentes fases móveis................. 55 1.13 Curvas de Van Deemter da GM nas concentrações de 100 e 250 μg/ml.................... 57 1.14 Curvas de Van Deemter da CL nos diferentes volumes de injeção........................... 59 1.15 Curvas de Van Deemter da GM nos diferentes volumes de injeção.......................... 59 1.16 Cromatograma obtido durante análise de antidiabéticos em coluna convencional 61 CAPÍTULO 2 2.1 Micrografia da fase monolítica de sílica....................................................................... 69 2.2 Macroporos de 2 μm (a) e mesoporos de 13 nm (b) da fase monolítica.................... 70 2.3 Micrografia de partícula de núcleo fundido.................................................................. 74 2.4 Esquema de partícula de núcleo fundido..................................................................... 74 2.5 Relação entre a porcentagem de acetonitrila presente na fase móvel e retenção (k) da gliclazida nas diferentes colunas........................................................................ 2.6 85 Relação entre a porcentagem de acetonitrila presente na fase móvel e a seletividade (α) do par GZ e GB nas diferentes colunas............................................. 86 2.7 Relação entre u0 e ∆Pc nas diferentes colunas........................................................... 87 CAPÍTULO 3 3.1 3.2 Esquema de equipamento de HPLC - em vermelho, os fatores que contribuem para o efeito extracoluna -.............................................................................................. 95 Medida da largura na linha de base (4 σ) e da largura na meia altura (2,354 σ)....... 97 2 3.3 Relação entre vazão e σ 3.4 Relação entre vazão e σ extracoluna em análises com loops de 2, 5 e 10 μl................. 2 extracoluna em análises com PEEK de 0,0025 e 0,004 polegada de di................................................................................................................. 3.5 104 Relação entre vazão e pressão em análises com PEEK de 0,0025 e 0,004 polegada de di................................................................................................................. 3.6 103 2 Relação entre vazão e σ extracoluna 105 em análises com diferentes pares de F/t...................................................................................................................................... 106 3.7 Relação entre vazão e Er dos antidiabéticos em loops de 10 e 2 μl - Coluna CV..... 108 3.8 Relação entre vazão e Er dos antidiabéticos em loops de 10 e 2 μl - Coluna MN..... 108 3.9 Relação entre vazão e Er dos antidiabéticos em loops de 10 e 2 μl - Coluna NF...... 109 3.10 Relação entre vazão e Er dos antidiabéticos em loops de 10 e 2 μl - Coluna Sub 2 μm..................................................................................................................................... 109 3.11 Relação entre F/t e Er dos antidiabéticos - vazão de 0,6 ml/min................................ 112 3.12 Relação entre F/t e Er dos antidiabéticos - vazão de 0,15 ml/min.............................. 112 CAPÍTULO 4 4.1 Efeito da difusão de Eddy (A) no alargamento do pico............................................... 119 4.2 Efeito da difusão longitudinal (B) no alargamento do pico........................................ 119 4.3 Efeito da resistência à transferência de massa (C) no alargamento do pico............ 120 4.4 Contribuição dos termos A, B e C na obtenção da curva de Van Deemter............... 120 4.5 Curvas de Van Deemter em quatro diferentes colunas obtidas para o etilbenzeno....................................................................................................................... 122 4.6 Gráfico de performance cinética (N x t0) ...................................................................... 128 4.7 Transformações matemáticas para o cálculo de u0 otm................................................ 132 4.8 Curvas de Van Deemter da CL nas diferentes colunas............................................... 134 4.9 Curvas de Van Deemter da GZ nas diferentes colunas............................................... 134 4.10 Curvas de Van Deemter da GB nas diferentes colunas............................................... 135 Curvas de Van Deemter da GM nas diferentes colunas.............................................. 135 4.12 Curvas de Knox da GM nas diferentes colunas........................................................... 140 4.11 2 4.13 Gráfico de performance cinética N x t0/N da GM........................................................ 141 4.14 Gráfico de performance cinética N x L da GM.............................................................. 142 4.15 Gráfico de performance cinética np x tr da GM............................................................. 143 4.16 Cromatogramas relativos às análises dos antidiabéticos nas colunas (a) CV, (b) MN, (c) NF e (d) Sub 2 μm - ordem de eluição: CL, GZ, GB, e GM.............................. 146 4.17 Relação entre vazão e pressão nas diferentes colunas.............................................. 148 CAPÍTULO 5 5.1 Cromatogramas referentes à formulação de lidocaína - (1) metilparabeno, (2) 2,6dimetilanilina, (3) propilparabeno e (4) lidocaína......................................................... 5.2 Cromatograma das substâncias relacionadas da glimepirida a (1) e b (2), glibenclamida (3) e glimepirida (4)................................................................................ 5.3 157 158 Cromatogramas referentes às análises dos antidiabéticos utilizando os métodos extremos desenvolvidos em coluna (a) CV (b) MN (c) NF (d) Sub 2 μm - ordem de eluição: CL, GZ, GB e GM............................................................................................... 5.4 Cromatogramas da GB (a) padrão, (b) amostra, (c) diluente (d) placebo - coluna CV..................................................................................................................................... 5.5 171 172 Cromatogramas da GB (a) padrão, (b) amostra, (c) diluente (d) placebo - coluna NF...................................................................................................................................... 173 5.6 Curva analítica para a determinação de GB em comprimidos - coluna CV............... 176 5.7 Curva analítica para a determinação de GB em comprimidos - coluna NF............... 176 5.8 Gráfico de distribuição de resíduos - coluna CV......................................................... 176 5.9 Gráfico de distribuição de resíduos - coluna NF......................................................... 177 LISTA DE QUADROS CAPÍTULO 1 1.1 Concentração de glicose plasmática (mg/dl) para diagnóstico de Diabetes Mellitus e seus estágios pré-clínicos............................................................................ 33 1.2 Medicamentos utilizados no tratamento do DM 2........................................................ 34 1.3 Propriedades físico-químicas dos fármacos CL, GB, GM e GZ.................................. 37 Mé 1.4 Métodos farmacopeicos de análise de CL, GB, GM e GZ............................................ 41 1.5 Parâmetros analíticos dos métodos cromatográficos farmacopeicos para determinação de CL, GB, GM e GZ................................................................................ 42 CAPÍTULO 3 3.1 Volumes dos componentes típicos de equipamentos de HPLC e UHPLC................ 95 LISTA DE TABELAS CAPÍTULO 1 1.1 Fabricante, número de lote, pureza e validade dos insumos farmacêuticos ativos dos fármacos CL, GB, GM e GZ....................................................................... 46 1.2 Condições analíticas preliminares.............................................................................. 48 1.3 Otimização das condições cromatográficas em coluna convencional................... 49 1.4 Fatores de assimetria dos picos dos antidiabéticos nas diferentes fases móveis............................................................................................................................ 1.5 Fatores de assimetria dos picos dos antidiabéticos nas concentrações de 100 e 250 μg/ml....................................................................................................................... 1.6 56 58 Condições de análise para determinação de antidiabéticos nas diferentes colunas e valores de k.................................................................................................. 62 CAPÍTULO 2 2.1 Condições de análise para determinação de antidiabéticos nas diferentes colunas.......................................................................................................................... 2.2 82 Pressões máximas suportadas pelas colunas e valores de vazão máximos empregados em cada coluna para determinação de Kv0.......................................... 82 2.3 Volume morto e porosidade total das colunas.......................................................... 83 2.4 Inclinação do gráfico das retas u0 x ∆Pc, viscosidade da fase móvel, comprimento e permeabilidade das colunas............................................................. 87 CAPÍTULO 3 3.1 Experimentos de otimização dos parâmetros instrumentais cromatográficos...... 3.2 Condições de análise para determinação de antidiabéticos nas diferentes 100 colunas.......................................................................................................................... 101 3.3 Er para a glibenclamida nas quatro colunas - vazão de 0,3 ml/min......................... 110 3.4 Er dos antidiabéticos na coluna sub 2 μm - vazão de 0,3 ml/min............................ 111 3.5 Er da clorpropamida em diferentes vazões e relações F/t........................................ 113 3.6 Er dos antidiabéticos em diferentes relações F/t - vazão de 0,6 ml/min.................. 113 3.7 ® Volumes dos componentes do equipamento de UHPLC (Acquity ) e volume extracoluna ................................................................................................................... 114 CAPÍTULO 4 4.1 Condições de análise para determinação de antidiabéticos nas quatro colunas.......................................................................................................................... 131 4.2 Equações referentes às curvas de Van Deemter da CL e GZ - Figuras 4.8 e 4.9................................................................................................................................... 4.3 Equações referentes às curvas de Van Deemter da GB e GM - Figuras 4.10 e 4.11................................................................................................................................. 4.4 Valores de Hmin e u0 opt 136 relativos às curvas de Van Deemter das figuras 4.8 a 4.11................................................................................................................................. 4.5 136 Equações e valores de hmin e v0 opt 138 referentes às curvas de Knox da GM.................................................................................................................................. 140 4.6 Valores de resolução entre GZ/CL, GB/GZ e GM/GB, nas diferentes colunas........ 144 4.7 Fatores de assimetria dos picos dos antidiabéticos orais nas diferentes colunas.......................................................................................................................... 147 CAPÍTULO 5 5.1 Condições de análise para determinação de antidiabéticos nas diferentes colunas.......................................................................................................................... 160 5.2 Pressão máxima suportada pelas diferentes colunas.............................................. 161 5.3 Função farmacotécnica, percentuais usuais e percentuais adicionados dos excipientes presentes no comprimido referência de glibenclamida (Daonil )....... 164 5.4 Preparo das soluções de glibenclamida para avaliação da linearidade................. 165 5.5 Preparo das soluções para o ensaio de exatidão...................................................... 167 5.6 Distribuição das variáveis nos experimentos de robustez...................................... 168 5.7 Condições analíticas para determinação extremamente rápida de antidiabéticos ® nas diferentes colunas................................................................................................. 5.8 5.9 169 Parâmetros cromatográficos obtidos em análises de antidiabéticos utilizando os métodos extremos desenvolvidos......................................................................... 170 Valores médios e DPR dos parâmetros de adequabilidade do sistema.................. 173 5.10 Áreas das soluções padrão de trabalho e amostra por período de 4 horas........... 174 5.11 Testes estatísticos aplicados aos dados de regressão linear................................. 174 5.12 Concentrações de glibenclamida e valores de área para a construção das curvas analíticas........................................................................................................... 175 5.13 Valores de área e teor de glibenclamida em comprimidos para avaliação da precisão dos métodos extremos relativos às colunas CV e NF............................... 177 5.14 Percentual de recuperação de glibenclamida adicionada ao placebo para avaliação da exatidão dos métodos extremos nas colunas CV e NF...................... 178 5.15 Limites de detecção e quantificação.......................................................................... 179 5.16 Avaliação do efeito das variáveis na determinação de teor de glibenclamida utilizando os métodos extremos nas colunas CV e NF............................................ 180 LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS A Coeficiente de difusão axial ou difusão de Eddy ACN Acetonitrila As Fator de assimetria AU Absorbância B Coeficiente de difusão longitudinal BP Farmacopeia britânica C Coeficiente de resistência à transferência de massa CA Chemical Abstract CL Clorpropamida CLAE Cromatografia Líquida de Alta Eficiência cp Centipoise CV Coluna convencional Conc. Concentração Dm Coeficiente de difusão do analito DM 1 Diabetes Mellitus tipo 1 DM 2 Diabetes Mellitus tipo 2 di Diâmetro interno dp Diâmetro da partícula DPR Desvio Padrão Relativo Porosidade total Er Eficiência remanescente Eur. Farmacopeia europeia ECV Extra-column volume exp. Experimento F Frequência de aquisição dos dados F. Bras Farmacopeia Brasileira FM Fase Móvel GB Glibenclamida GM Glimepirida GZ Gliclazida H Altura do prato teórico h Altura do prato teórico reduzido Hmin Altura mínima do prato teórico hmin Altura mínima do prato teórico reduzido HPLC High Performance Liquid Chromatography HTLC High Temperature Liquid Chromatography IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística K Constante característica da qualidade da injeção k Fator de retenção K+ATP Canais de potássio ATP dependentes Kv0 Permeabilidade da coluna L Comprimento da coluna min. Minutos ou Mínima max. Máxima MN Coluna monolítica N Número de pratos teóricos Viscosidade da fase móvel np Fator de capacidade do pico NF Coluna com partículas de núcleo fundido OMS Organização Mundial de Saúde ∆Pmax Pressão máxima ∆Pc Pressão da coluna ∆Pec Pressão extracoluna ∆Pt Pressão total P Pressão do sistema cromatográfico PEEK Poly(ether-ether-ketone) rc Raio da coluna r Coeficiente de correlação linear Rs Resolução RENAME Relação Nacional de Medicamentos Essenciais Sub 2 μm Coluna com partículas porosas de diâmetro menor que 2 μm t Constante de tempo do detector T Temperatura tr Tempo de retenção t0 Tempo morto u0 Velocidade linear da fase móvel u0 otm Velocidade linear ótima da fase móvel UHPLC Ultra High Performance Liquid Chromatography USP United State Pharmacopeia V Vazão v0 Velocidade linear da fase móvel reduzida v0 otm Velocidade linear ótima da fase móvel reduzida Vm Volume morto Vinj Volume de injeção w0,5 Largura do pico na meia altura w Largura do pico na linha de base Comprimento de onda α Seletividade 2 coluna/2 c Variância da coluna 2 extracoluna /2 ec Variância extracoluna 2 total/2 t Variância total 2 ec max Variância extracoluna máxima aceitável Desvio padrão Fator de resistência da coluna Fração do alargamento do pico SUMÁRIO INTRODUÇÃO GERAL.................................................................................. 25 1 ESTADO DA ARTE DA CLAE.................................................................... 26 2 JUSTIFICATIVA.......................................................................................... 29 3 OBJETIVO GERAL..................................................................................... 29 REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS.............................................................. 30 CAPÍTULO 1 DESENVOLVIMENTO DE MÉTODOS ANALÍTICOS POR CROMATOGRAFIA LÍQUIDA EM DIFERENTES COLUNAS PARA DETERMINAÇÃO DE ANTIDIABÉTICOS ORAIS........................................ 31 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA....................................................................... 32 1.1 Diabetes Mellitus...................................................................................... 32 1.2 Tratamento............................................................................................... 33 1.3 Sulfoniluréias............................................................................................ 35 1.4 Curva de Van Deemter............................................................................. 44 2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS....................................................................... 45 3 MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................... 46 3.1 Materiais................................................................................................... 46 3.1.1 Insumos farmacêuticos ativos......................................................... 46 3.1.2 Solventes, reagentes e vidrarias..................................................... 46 3.1.3 Equipamentos e colunas cromatográficas....................................... 46 3.2 Métodos.................................................................................................... 47 3.2.1 Desenvolvimento de método analítico por cromatografia líquida para a determinação de CL, GB, GM e GZ em coluna CV............................ 47 3.2.2 Otimização de método analítico por cromatografia líquida para a determinação CL, GB, GM e GZ em coluna CV............................................. 48 3.2.3 Transferência do método desenvolvido e otimizado em coluna CV para as colunas MN, NF e Sub 2 μm............................................................. 49 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................. 50 4.1 Desenvolvimento de método analítico por cromatografia líquida para a determinação de CL, GB, GM e GZ em coluna CV........................................ 50 4.2 Otimização de método analítico por cromatografia líquida para a determinação de CL, GB, GM e GZ em coluna CV........................................ 51 4.2.1 Fase móvel...................................................................................... 51 4.2.2 Concentração.................................................................................. 57 4.2.3 Volume de injeção........................................................................... 58 4.2.4 Temperatura.................................................................................... 61 4.3 Transferência do método desenvolvido e otimizado em coluna CV para as colunas MN, NF e Sub 2 μm..................................................................... 62 5 CONCLUSÃO............................................................................................. 63 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 64 CAPÍTULO 2 CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DAS COLUNAS CROMATOGRÁFICAS.................................................................................. 67 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA....................................................................... 68 1.1 Coluna monolítica..................................................................................... 68 1.2 Coluna empacotada com partículas de núcleo fundido............................ 72 1.3 Coluna empacotada com partículas porosas sub 2 µm........................... 75 2 OBJETIVO ESPECÍFICO............................................................................ 78 3 MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................... 78 3.1 Materiais................................................................................................... 78 3.1.1 Insumos farmacêuticos ativos......................................................... 78 3.1.2 Solventes, reagentes e vidrarias..................................................... 78 3.1.3 Equipamentos e colunas cromatográficas....................................... 78 3.2 Métodos.................................................................................................... 78 3.2.1 Estimativa do volume morto e porosidade total das colunas.......... 78 3.2.2 Avaliação da retenção e seletividade das colunas.......................... 79 3.2.3 Estimativa da permeabilidade das colunas..................................... 80 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................. 83 4.1 Estimativa do volume morto e porosidade total das colunas................... 83 4.2 Estimativa da retenção e seletividade das colunas.................................. 84 4.2.1 Retenção......................................................................................... 84 4.2.2 Seletividade..................................................................................... 86 4.3 Estimativa da permeabilidade das colunas.............................................. 87 5 CONCLUSÃO............................................................................................. 88 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 90 CAPÍTULO 3 OTIMIZAÇÃO DE PARÂMETROS INSTRUMENTAIS CROMATOGRÁFICOS.................................................................................. 93 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA....................................................................... 94 1.1 Efeitos extracoluna e a eficiência cromatográfica.................................... 94 2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS....................................................................... 98 3 MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................... 99 3.1 Materiais................................................................................................... 99 3.1.1 Insumos farmacêuticos ativos......................................................... 99 3.1.2 Solventes, reagentes e vidrarias..................................................... 99 3.1.3 Equipamentos e colunas cromatográficas....................................... 99 3.1.4 Outros.............................................................................................. 99 3.2 Métodos.................................................................................................... 99 3.2.1 Otimização dos parâmetros instrumentais cromatográficos parte I: avaliação do efeito extracoluna................................................................... 99 3.2.2 Otimização dos parâmetros instrumentais cromatográficos parte II: avaliação da eficiência cromatográfica remanescente............................... 101 3.2.3 Determinação do volume extracoluna real (ECV)........................... 102 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................. 103 4.1 Otimização dos parâmetros instrumentais cromatográficos parte I: avaliação do efeito extracoluna...................................................................... 103 4.1.1 Volume do loop................................................................................ 103 4.1.2 Diâmetro interno da tubulação de PEEK no trajeto da coluna ao detector........................................................................................................... 104 4.1.3 Frequência de aquisição dos dados (F) e constante de tempo do detector (t) ..................................................................................................... 106 4.2 Otimização dos parâmetros instrumentais cromatográficos parte II: avaliação da eficiência cromatográfica remanescente................................... 107 4.2.1 Volume do loop................................................................................ 108 4.2.2 Frequência de aquisição dos dados (F) e constante de tempo do detector (t) ..................................................................................................... 111 4.3 Cálculo do volume extracoluna (ECV) real............................................... 114 5 CONCLUSÃO............................................................................................. 114 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 116 CAPÍTULO 4 AVALIAÇÃO E COMPARAÇÃO QUALITATIVA DA EFICIÊNCIA DE COLUNAS CROMATOGRÁFICAS.................................... 117 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA....................................................................... 118 1.1 Curvas de Van Deemter e de Knox.......................................................... 118 1.2 Características das curvas de Van Deemter e de Knox das colunas MN, NF e Sub 2 μm........................................................................................ 122 1.2.1 Coluna monolítica........................................................................... 122 1.2.2 Coluna empacotada com partículas de núcleo fundido.................. 123 1.2.3 Coluna empacotada com partículas sub 2 μm............................... 125 1.3 Gráficos de performance cinética............................................................. 126 2 OBJETIVO ESPECÍFICO............................................................................ 129 3 MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................... 130 3.1 Materiais................................................................................................... 130 3.1.1 Insumos farmacêuticos ativos......................................................... 130 3.1.2 Solventes, reagentes e vidrarias..................................................... 130 3.1.3 Equipamentos e colunas cromatográficas....................................... 130 3.2 Métodos.................................................................................................... 130 3.2.1 Avaliação da eficiência e velocidade de análise das colunas....... 130 3.2.2 Avaliação da resolução, fator de assimetria e pressão................... 133 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................. 134 4.1 Avaliação da eficiência e velocidade de análise das colunas.................. 134 4.1.1 Curvas de Van Deemter.................................................................. 134 4.1.2 Curvas de Knox............................................................................... 140 4.1.3 Gráficos de performance cinética.................................................... 141 4.2 Avaliação da resolução, fator de assimetria e pressão............................ 143 4.2.1 Resolução........................................................................................ 143 4.2.2 Fator de assimetria dos picos.......................................................... 146 4.2.3 Pressão do sistema cromatográfico................................................ 148 5 CONCLUSÃO............................................................................................. 149 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. CAPÍTULO 5 DESENVOLVIMENTO DE MÉTODOS 152 ANALÍTICOS EXTREMAMENTE RÁPIDOS........................................................................ 155 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA....................................................................... 156 1.1 Métodos analíticos extremamente rápidos............................................... 156 1.2 Métodos analíticos para determinação de sulfoniluréias.......................... 158 2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS....................................................................... 159 3 MATERIAIS E MÉTODOS.......................................................................... 159 3.1 Materiais................................................................................................... 159 3.1.1 Insumos farmacêuticos ativos......................................................... 159 3.1.2 Solventes, reagentes e vidrarias..................................................... 159 3.1.3 Equipamentos e colunas cromatográficas....................................... 160 3.1.4 Substâncias químicas de referência e amostras............................. 160 3.2 Métodos.................................................................................................... 160 3.2.1 Desenvolvimento e comparação de métodos analíticos extremamente rápidos para determinação de antidiabéticos nas colunas CV, MN, NF e Sub 2 μm................................................................................. 160 3.2.2 Comparação das colunas CV e NF em termos quantitativos.......... 162 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO.................................................................. 169 4.1 Desenvolvimento e comparação de métodos analíticos extremamente rápidos para determinação de antidiabéticos nas colunas CV, MN, NF e Sub 2 μm........................................................................................................ 169 4.2 Comparação das colunas CV e NF em termos quantitativos................... 172 4.2.1 Seletividade e adequabilidade do sistema (system suitability)........ 172 4.2.2 Estabilidade das soluções padrão de trabalho e amostra............... 174 4.2.3 Linearidade...................................................................................... 174 4.2.4 Precisão intra-corrida e precisão inter-corridas............................... 177 4.2.5 Exatidão........................................................................................... 178 4.2.6 Limites de detecção e quantificação............................................... 179 4.2.7 Robustez......................................................................................... 179 5 CONCLUSÃO............................................................................................. 181 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................. 182 CONCLUSÃO FINAL..................................................................................... 184 APÊNDICE - Trabalhos apresentados em congresso................................... 187 25 INTRODUÇÃO GERAL 26 1 ESTADO DA ARTE DA CLAE A Cromatografia Líquida de Alta Eficiência (CLAE), em inglês High Peformance Liquid Chromatography (HPLC), é considerada a técnica mais desenvolvida, difundida e empregada em laboratórios analíticos de indústrias farmacêuticas, químicas e de pesquisa. Isso se justifica, pois esta técnica é adequada para a separação eficiente de substâncias, o que se aplica, por exemplo, às análises de controle de qualidade, nas quais são realizadas determinações quantitativas de fármacos, de impurezas de síntese e de produtos de degradação, análises farmacocinéticas e estudos pré-clínicos de moléculas candidatas a fármacos [1, 2, 3]. Desde o início do desenvolvimento da Cromatografia a Líquido, na década de 1950, até os dias atuais, muitos avanços, impulsionados pelo desenvolvimento de novas partículas de fases estacionárias e da instrumentação, foram alcançados. A necessidade de execução de análises mais rápidas, sem que houvesse o comprometimento do desempenho cromatográfico, foi o que impulsionou as pesquisas com o objetivo de tornar a técnica mais rápida e eficiente. Em 1950 eram utilizadas colunas empacotadas com partículas irregulares de 100-200 μm, que alcançavam eficiência de apenas 200 pratos/15 cm. Por volta dos anos 60 foram introduzidas as colunas contendo partículas peliculares rígidas de 40-50 μm, mecanicamente resistentes, que ofereciam maior eficiência (1000 pratos/15 cm). A transição para partículas porosas menores com diâmetro em torno de 10 μm ocorreu por volta dos anos 70, propiciando eficiência de 6000 pratos/15 cm. A partir dos anos 80, com a introdução das partículas esféricas, o desenvolvimento voltou-se basicamente para a redução do diâmetro das partículas da fase estacionária e surgiram as primeiras partículas esféricas de diâmetro de 5 μm. Hoje já há disponíveis colunas com partículas esféricas porosas de 1,7 μm, que permitem melhor resolução e alta eficiência, que pode chegar a 30000 pratos/15 cm [3]. Na Figura 1 há um resumo do histórico do desenvolvimento de partículas para fases estacionárias de HPLC. 27 Ano de introdução Tamanho nominal mais popular (μm) Pratos/15 cm (Aproximado) 100 200 50 pelicular 1000 1972 10 6000 1985 5 12000 1992 3-3,5 22000 1996 1,5* pelicular 30000 1999 5,0 superficie porosa 8000** 2000 2,5 25000 2003 1,8 32500 2006 2,7 - 1950 Tamanho da partícula Formato irregular 1967 Pérola de vidro *Sílica não porosa ou resina ** Para proteína PM 5.700 Figura 1 - Histórico do desenvolvimento de partículas para fases estacionárias [Adaptado de 4 e 5] Na área farmacêutica houve um grande aumento no número de análises de pureza, análises aplicadas aos estudos farmacocinéticos e análises de controle de qualidade, o que fez com que laboratórios farmacêuticos se tornassem uma das forças motrizes para o desenvolvimento de análises rápidas. O crescimento da indústria farmacêutica ocorreu em todo mundo, inclusive no Brasil. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as vendas da indústria farmacêutica nacional cresceram 9,43% de 2011 para 2012, comparando dados dos meses de janeiro a julho de ambos os anos. Esse crescimento só foi possível, e só poderá ser mantido ou ampliado, se a capacidade analítica das indústrias aumentarem, o que justifica o interesse por técnicas cada vez mais rápidas [2, 6]. O atual domínio do uso dos métodos cromatográficos na área farmacêutica, em especial da técnica HPLC, é evidente nas farmacopeias. Na Farmacopeia 28 Americana número 16, publicada em 1960, os métodos cromatográficos eram empregados em aproximadamente 3% das monografias. Já na Farmacopeia Americana número 34, de 2011, 77% das monografias continham ao menos um método cromatográfico e 54% eram por HPLC. Esse aumento expressivo na aplicação da cromatografia em análises farmacêuticas em substituição aos métodos tradicionais (exemplos: espectrometria no visível e ultravioleta; volumetrias) resultou em um controle mais efetivo da identidade, potência e pureza dos fármacos [7]. Atualmente a técnica HPLC que emprega fase estacionária convencional, empacotada com partículas totalmente porosas de diâmetro entre 3 e 5 µm (CV), ainda é a mais comum nos laboratórios. Cromatógrafos destinados a esse tipo de cromatografia operam com valores de pressão máxima de 400 bar. Apesar de o desempenho cromatográfico ser adequado, uma análise corrida analítica por HPLC pode levar, em média, de 10 a 45 minutos [2, 8]. Alternativas estão sendo desenvolvidas para diminuir o tempo e melhorar a eficiência de análises realizadas por HPLC. Uma delas refere-se à substituição das colunas com partículas totalmente porosas tradicionais por colunas monolíticas (MN) ou de núcleo fundido (NF). Outras opções são a Cromatografia Líquida de Ultra Eficiência (UHPLC, do inglês Ultra High Performance Liquid Chromatography), em que o diâmetro médio das partículas porosas constituintes da fase estacionária é inferior a 2 µm (Sub 2 µm), e a Cromatografia Líquida de Alta Temperatura (HTLC, do inglês High Temperature Liquid Chromatography) [9]. Nesse trabalho foi realizado um estudo dessas novas alternativas para reduzir o tempo e melhorar a eficiência de análise por HPLC, excetuando-se a HTLC. Portanto, colunas MN, NF e Sub 2 µm foram os objetos de estudo desse trabalho, assim como a coluna CV, utilizada como referência. O presente estudo foi dividido nos seguintes capítulos: Capítulo I: Desenvolvimento de métodos analíticos por cromatografia líquida em diferentes colunas para determinação de antidiabéticos orais Capítulo II: Caracterização física das colunas cromatográficas 29 Capítulo III: Otimização de parâmetros instrumentais cromatográficos Capítulo IV: Avaliação e comparação qualitativa da eficiência de colunas cromatográficas Capítulo V: Desenvolvimento de métodos analíticos extremamente rápidos 2 JUSTIFICATIVA O atual crescimento das indústrias farmacêuticas vem acompanhado de uma demanda por análises cada vez mais rápidas e, ao mesmo tempo, eficientes. As análises rápidas por Cromatografia a Líquido de Alta Eficiência foram desenvolvidas a partir do ano 2000, e ainda há poucos estudos em que se aplicam e comparam as novas abordagens. Dentre essas abordagens destacam-se a utilização de colunas cromatográficas monolíticas (MN), de partículas de núcleo fundido (NF) e de partículas porosas sub 2 μm (Sub 2 μm). A importância da utilização dessas colunas modernas em análises farmacêuticas justifica as pesquisas sobre o assunto, tendo em vista a demanda por análises rápidas e eficientes. Antidiabéticos orais (clorpropamida-CL, glibenclamida-GB, glimepirida-GM e gliclazida-GZ) foram escolhidos como modelo para o estudo de diferentes tipos de fases estacionárias para separações rápidas em cromatografia líquida. A escolha desses fármacos se justifica pela sua ampla utilização, que é consequência da elevada prevalência de Diabetes Mellitus tipo 2 na população. Faz-se necessário, portanto, métodos rápidos e eficientes para o controle de qualidade desses fármacos. Outra razão para a escolha desses fármacos é o fato de que eles, por apresentarem polaridades diferentes, apresentam também retenções bem distintas, o que possibilita que as colunas sejam comparadas de uma maneira mais completa. 3 OBJETIVO GERAL Avaliar e comparar diferentes tipos de colunas cromatográficas (CV, MN, NF e Sub 2 μm) para separações rápidas utilizando fármacos antidiabéticos orais (CL, GB, GM e GZ) como modelo. 30 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] AL-SAYAH, M. A.; RIZOS, P.; ANTONUCCI, V.; WU, N. High throughput screening of active pharmaceutical ingredients by UPLC. Journal of Separation Science. v. 31, p. 2167-2172, 2008. [2] MALDANER, L.; JARDIM, I. C. S. F. O estado da arte da cromatografia líquida de ultra eficiência. Química Nova. v. 32, n. 32, p. 214-222, 2009. [3] WREN, S. A. C.; TCHELITCHEFF, P. Use of ultra performance liquid chromatography in pharmaceutical development. Journal of Chromatography A. v. 1119, p. 140-146, 2006. [4] MAJORS, R. E. Fast and ultrafast HPLC on sub-2-µm porous particles - where do we go from here? LCGC North America. v. 23, n. 12, p. 1248-1255, 2005. [5] GUIOCHON, G.; GRITTI, F. Shell particles, trials, tribulations and triumphs. Journal of Chromatography A, v. 1218, p. 1915-1938, 2011. [6] INDICADORES ECONÔMICOS, 2012. Disponível em: <http://www. sindusfarma comunica.org.br/indicadores-economicos>. Acesso em: 30 de Agosto de 2012. [7] GÖRÖG, S. The paradigm shifting role of chromatographic methods in pharmaceutical analysis. Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis. v. 69, p. 2-8, 2012. [8] GUILLARME, D.; NGUYEN, D.; RUDAZ, S.; VEUTHEY, J. Method transfer for fast liquid chromatography in pharmaceutical analysis: Application to short columns packed with small particle. Part I: Isocratic separation. European Journal of Pharmaceutics and Biopharmaceutics. v. 66, p. 475-482, 2007. [9] GUILLARME, D.; RUTA J.; RUDAZ, J.; VEUTHEY, J. New trends in fast and highresolution liquid chromatography: a critical comparison of existing approaches. Analytical and Bioanalytical Chemistry. v. 397, p. 1069-1082, 2010. 31 CAPÍTULO 1 DESENVOLVIMENTO DE MÉTODOS ANALÍTICOS POR CROMATOGRAFIA LÍQUIDA EM DIFERENTES COLUNAS PARA DETERMINAÇÃO DE ANTIDIABÉTICOS ORAIS 32 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 Diabetes Mellitus De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), aproximadamente 346 milhões de pessoas sofrem de Diabetes Mellitus (DM) no mundo. Em 2004, cerca de 3,4 milhões de pessoas morreram em consequência de DM e de acordo com projeções da OMS, entre 2005 e 2030, o número de mortes irá dobrar [1]. O DM não é uma única doença, mas um grupo heterogêneo de distúrbios metabólicos que apresenta em comum a hiperglicemia, a qual é resultado de defeitos na ação ou na secreção de insulina ou ambos. Atualmente é classificado como DM tipo 1 (DM 1), DM tipo 2 (DM 2), DM gestacional e outros tipos específicos [2]. O DM 1, presente em 5% a 10% dos casos, é o resultado da destruição de células beta pancreáticas, com consequente deficiência da produção de insulina. Na maioria das vezes essa destruição de células beta é mediada por autoimunidade, porém existem casos em que não há evidência do processo autoimune, sendo, portanto, referida como forma idiopática. O tratamento envolve a administração diária de insulina. Sintomas incluem poliúria, polidipsia, fome constante, perda de peso, alterações na visão e fadiga [1, 2]. Já o DM 2, presente em 90% a 95% dos casos, caracteriza-se por defeitos na ação e secreção da insulina. A maioria dos pacientes apresenta sobrepeso ou obesidade e a doença geralmente se manifesta após os 40 anos. Os pacientes não necessitam de insulina exógena para sobreviver, entretanto podem necessitar da insulina para controle metabólico adequado. Os sintomas são similares aos do DM 1, entretanto, menos evidentes, o que faz com que a doença muitas vezes seja diagnosticada de forma tardia. O tratamento atual visa diminuir a resistência à insulina e melhorar a função da célula beta pancreática com dieta, exercícios, antidiabéticos orais, drogas antiobesidade e insulina [1, 3]. 33 O diagnóstico do DM é feito por meio da determinação de valores de glicose plasmática. Os valores de glicose indicativos da doença estão apresentados no Quadro 1.1. Quadro 1.1 - Concentração de glicose plasmática (mg/dl) para diagnóstico de Diabetes Mellitus e seus estágios pré-clínicos [2] Duas horas após Categoria Jejum* Glicemia normal < 100 < 140 _ > 100 e < 126 ≥140 e < 200 _ ≥126 ≥ 200 Tolerância à glicose diminuída Diabetes Mellitus Casual** 75 g de glicose ≥ 200 com sintomas clássicos*** * Falta de ingestão calórica por no mínimo 8 horas ** Realizada a qualquer hora do dia, sem se observar o intervalo desde a última refeição. *** Sintomas clássicos: poliúria, polidipsia e perda não explicada de peso. Nota: deve-se sempre confirmar o diagnóstico de DM pela repetição do teste em outro dia, a menos que haja hiperglicemia inequívoca com descompensação metabólica aguda ou sintomas óbvios de DM. 1.2 Tratamento O DM 1, assim que diagnosticado, deve ser tratado com insulina. Já o tratamento do DM 2 envolve o uso de antidiabéticos orais, e se necessário uso paralelo de insulina para auxiliar no controle metabólico. Associado ao tratamento medicamentoso faz-se necessário o controle da alimentação e a prática de atividade física [2]. Existem no momento diversas opções terapêuticas que podem ser utilizadas, isoladamente ou em associações, para o tratamento de DM2, dentre as quais se destacam as biguanidas, sulfoniluréias, metaglinidas, tiazolidinadionas, inibidores da alfa-glicosidase e incretinas. Normalmente o tratamento com apenas um agente farmacológico não propicia um controle glicêmico adequado, e os pacientes necessitam de múltiplos antidiabéticos orais, com diferentes mecanismos de ação. No Quadro 1.2 há a relação dos antidiabéticos orais mais utilizados, com a indicação das respectivas classes a que pertencem e do mecanismo de ação [3, 4, 5]. 34 Quadro 1.2 - Medicamentos utilizados no tratamento do DM 2 [Adaptado de 6] Classificação Fármaco Mecanismo de ação Tolbutamida Sulfoniluréia de 1ª geração Clorpropamida Tolazamida Sulfoniluréia de 2ª geração Glimepirida Estimula a liberação de insulina pelas Glibenclamida células β pancreáticas por mecanismo Gliclazida independente de glicose Glipizida Meglitinida Biguanida Repaglinida Nateglinida Fenformina Inibição da gliconeogênese e redução Metformina da resistência dos tecidos à insulina Ciglitazona Tiazolidinedionas Pioglitazona Reduz a resistência do fígado e tecido Troglitazona periféricos à insulina Rosiglitazona Inibidor de α glicosidase Acarbose Inibidor de Dipeptipeptidase 4 Linagliptina Retarda a absorção de amido, dextrina e dissacarídeos Estimula a liberação de insulina pelas células β pancreáticas por mecanismo dependente de glicose e suprimem a Peptídeo glucagon tipo 1 Exenatide secreção de glucagon Dentre os antidiabéticos orais disponíveis, atenção especial será dada às sulfoniluréias, já que a clorpropamida, glibenclamida, gliclazida e glimepirida serão objetos de estudo desse trabalho [3]. Dentre as sulfoniluréias que serão utilizadas, a glibenclamida e a gliclazida estão presentes na Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME) do Ministério da Saúde de 2012 [7]. As sulfoniluréias agem ligando-se à subunidade SUR1 dos canais de potássio ATP dependentes (K+ATP), localizados na membrana das células β-pancreáticas. Essa ligação promove o bloqueio dos canais K+ATP, com consequente despolarização da célula β-pancreática. A despolarização estimula o influxo de Ca2+, o qual promove a secreção de insulina [8]. 35 Por aumentarem a secreção de insulina, as sulfoniluréias são chamadas de “secretagogos de insulina”. Em curto prazo promovem o aumento da secreção de insulina, mas a longo prazo essa secreção pode estar igual ou até diminuída em relação aos níveis iniciais. No entanto o efeito hipoglicemiante persiste devido às ações extra-pancreáticas. Alguns estudos sugerem que as sulfoniluréias aumentam o número de receptores de insulina e/ou possuem efeito pós-receptor, facilitando as ações desse hormônio, além de atuarem reduzindo a sua depuração hepática [3, 9]. 1.3 Sulfoniluréias Sulfoniluréias são arilsulfoniluréias que diferem quanto aos substituintes na posição para do anel benzênico e no nitrogênio terminal do grupo ureia (Figura 1.1) [9]. O O S R1 N N H H O R2 Figura 1.1 - Estrutura geral das sulfoniluréias [10] As sulfoniluréias são classificadas como de 1a geração (clorpropamida, tolazamida e tolbutamida) e de 2a geração (glibenclamida, gliclazida, glimepirida e glipizida) [9]. As estruturas químicas da clorpropamida (CL), glibenclamida (GB), glimepirida (GM) e gliclazida (GZ) estão representadas na Figura 1.2. 36 O O Glibenclamida S OMe O N N H H O N H Cl O O S Glimepirida O N N H H O N N Me H O Et O Gliclazida O S N N N H H O Me O Clorpropamida O S N N H H O Cl Figura 1.2 - Estruturas químicas da CL, GB, GM e GZ [10] As propriedades físico-químicas dos antidiabéticos, cujas estruturas estão apresentadas na Figura 1.2, estão descritas no Quadro 1.3. 37 Quadro 1.3 - Propriedades físico-químicas dos fármacos CL, GB, GM e GZ [Adaptado de 11, 12, 13] Clorpropamida Glibenclamida Pó cristalino, Características Físicas Pó cristalino branco branco ou quase branco, inodoro ou quase inodoro Fórmula química C10H13ClN2O3S C23H28ClN3O5S Glimepirida Gliclazida Pó branco ou quase Pó cristalino branco ou quase branco branco C24H34N4O5S C15H21N3O3S 1H-Pirrol-1-carboxamida, 4-cloro-N- Nome CA (Chemical Abstract) o log P (25 C) [(propilamino) carbonil] benzenosulfonamida 2,295 ± 0,326 Volume Molar 3 (20 °C, 760 Torr) Massa Molecular o pKa (grupo ácido/25 C) o pKa (grupo básico/25 C) 5-Cloro-N-[2-[4- 3-etil-2,5-diidro-4-metil-N- N[[(Hexaidrociclopenta [[[(cicloexilamino) [2-[4-[[[[(trans-4 [c]pirrol-2(1H)-il)amino] carbonil]amino] metilciclohexil)amino] carbonil]-4 metil sulfonil]fenil]etil]-2 carbonil]amino]sulfonil] benzenossulfonamida metoxibenzamida fenil]etil]-2-oxo- 3,076 ± 0,475 3,446 ± 0,536 3 3 1,610 ± 0,245 3 207,4 ± 3,0 cm /mol 362,9 ± 5,0 cm /mol 378,8 ± 5,0 cm /mol 239,2 ± 5,0 cm /mol 276,74 g 494,00 g 490,62 g 323,41 g 4,71 ± 0,10 5,11 ± 0,10 5,10 ± 0,10 6,07 ± 0,10 -1,57 ± 0,70 -1,63 ± 0,20 -1,48 ± 0,60 3,89 ± 0,20 38 Quadro 1.3 (Continuação) Clorpropamida Glibenclamida Glimepirida Gliclazida Praticamente insolúvel: Praticamente insolúvel: Praticamente insolúvel: Praticamente insolúvel Água Água Água Água Éter etílico Solubilidade Facilmente solúvel: Pouco solúvel: Pouco solúvel: Pouco solúvel Acetona Metanol Metanol Etanol Cloreto de metileno Etanol Ligeiramente solúvel: Ligeiramente solúvel: Ligeiramente solúvel Cloreto de metileno Cloreto de Metileno Acetona Solúvel: Solúvel: Facilmente Solúvel Dimetilformamida Dimetilformamida Cloreto de metileno Clorofórmio Solúvel: Etanol 39 Encontram-se descritos na literatura inúmeros métodos para quantificação de sulfoniluréias isoladamente ou associadas a fármacos de outras classes de antidiabéticos orais. Em trabalho desenvolvido para quantificar glimepirida em formulações farmacêuticas, empregaram-se coluna C18 250 x 4,6 mm, 5 μm, detecção em 228 nm, vazão de 0,5 ml/min e fase móvel composta por acetonitrila e solução de ácido fórmico 2%, pH 3,5 (80:20). O tempo de retenção foi de 7 minutos [14]. Em outro trabalho, com o intuito de determinar gliclazida, utilizaram-se coluna C18, detecção em 230 nm, fase móvel composta de solução aquosa de fosfato de sódio monobásico 0,1% p/v pH 2,1 ajustado com ácido fosfórico e acetonitrila (34:66). O tempo de retenção foi de 5,4 minutos [15]. Em estudo realizado em 2011 empregou-se método por HPLC, modo isocrático, para análise de comprimidos contendo glibenclamida. Para esta análise foram utilizados coluna C18 250 x 4,6 mm, 5 µm, vazão de 1,0 ml/min e volume de injeção 20 µl. A análise foi realizada a temperatura ambiente e leitura em 210 nm. O tempo de retenção da glibenclamida foi de 3,0 minutos [16]. Em estudo publicado em 2010, para determinação de clorpropamida e substâncias relacionadas, empregou-se coluna C18 250 x 4,6 mm, 5 µm, vazão de 1,0 ml/min, fase móvel composta de acetonitrila e diidrogenofosfato de amônia pH 3,5 ajustado com ácido fosfórico (62,5:37,5) [17]. Há também na literatura a descrição de métodos para determinação simultânea de antidiabéticos. Foi desenvolvido e validado método para determinação simultânea de glibenclamida, gliclazida, glipizida, pioglitazona, repaglinida e rosiglitazona em formulações farmacêuticas e em plasma. Empregaram-se coluna C18 250 x 4,6 mm, 5 μm, vazão de 1,0 ml/min, detecção em 260 nm e programa de gradiente de fase móvel, composto por A (solução aquosa de ácido fórmico 0,05 M pH 3.0), B (Água:Acetonitrila 5:95) e C (Água:Metanol 10:90). Na Figura 1.3 há um cromatograma referente à análise [18]. 40 Figura 1.3 - Cromatograma de rosiglitazona (1), pioglitazona (2), glipizida (3), gliclazida (4), glibenclamida (5), celecoxibe - padrão interno (6) e repaglinida (7). (a) branco, (b) plasma humano contaminado com os padrões dos antidiabéticos e padrão interno (c) mistura sintética contendo antidiabéticos e o padrão interno [18] Outros pesquisadores desenvolveram método para determinação simultânea de glipizida, rosiglitazona, pioglitazona, glibenclamida e glimepirida em formulações de comprimidos. Foram utilizados fase móvel composta por solução aquosa de trietanolamina 0,05% v/v (pH 3,5, ajustado com ácido ortofosfórico), acetonitrila (ACN) e metanol (55:15:30), vazão de 1 ml/min, coluna C18 150 × 4,6 mm, 5 μm. Os fármacos foram monitorados em 248 nm e separados em 20 minutos [19]. Nota-se que na maioria dos métodos de análise desenvolvidos para determinação de sulfoniluréias isoladamente ou em associações, colunas cromatográficas convencionais, com partículas porosas de 5 µm, foram utilizadas. Foi encontrada apenas uma referência na qual coluna monolítica (C18 100 x 4,6 mm) foi aplicada na determinação simultânea de glibenclamida e glimepirida e suas respectivas substâncias relacionadas. A fase móvel foi preparada misturando-se ACN e tampão pH 3,0 (55:45) e o comprimento de onda de detecção foi de 228 nm. O tempo de análise foi de 1,6 minutos [20]. Há, nas principais farmacopeias, métodos analíticos para determinação das sulfoniluréias em estudo. No Quadro 1.4 há um resumo dos métodos farmacopeicos de análise dos insumos farmacêuticos ativos e comprimidos de clorpropamida, glibenclamida, gliclazida e glimepirida e no Quadro 1.5 encontram-se os parâmetros 41 de análise dos métodos farmacopeicos que empregam sistemas de HPLC para determinação desses antidiabéticos. Quadro 1.4 - Métodos farmacopeicos de análise de CL, GB, GM e GZ Clorpropamida Glibenclamida Glimepirida Insumo Insumo Insumo Farmacopeia Farmacêutico Ativo Farmacêutico Ativo Farmacêutico Ativo Brasileira HPLC; Volumetria HPLC; Volumetria (F.Bras) 5ª Ed. de neutralização de neutralização Comprimido Comprimido HPLC; UV HPLC Insumo Insumo Insumo Farmacêutico Ativo Farmacêutico Ativo Farmacêutico Ativo HPLC HPLC HPLC Comprimido Comprimido Comprimido HPLC HPLC HPLC Insumo Insumo Farmacêutico Ativo Farmacêutico Ativo Volumetria de HPLC _ Gliclazida Volumetria de neutralização [11] Farmacopeia Americana (USP) 34ª Ed. [12] Farmacopeia Européia _ a (Eur.) 7 Ed. _ _ neutralização [13] Insumo Insumo Insumo Insumo Farmacopeia Farmacêutico Ativo Farmacêutico Ativo Farmacêutico Ativo Farmacêutico Ativo Britânica Volumetria de Volumetria de HPLC Volumetria de (BP) BP 2011 neutralização neutralização neutralização Comprimido Comprimido Comprimido UV HPLC HPLC [21] 42 Quadro 1.5 - Parâmetros analíticos dos métodos cromatográficos farmacopeicos para determinação de CL, GB, GM e GZ Clorpropamida Glibenclamida Insumo Farmacêutico Ativo Insumo Farmacêutico Ativo C18 150 x 4,6 mm, 5 μm C8 150 x 4,6 mm, 5 μm o F. Bras. o T = 30 C Vinj = 20 μl T= 30 C Vinj = 20 μl = 240 nm V = 1,5 ml/min = 230 nm V = 1,5 ml/min FM = Ácido acético glacial (1:100) e FM = Tampão fosfato pH 3,0 e ACN ACN (50:50) (45:55) Conc. = 0,05 mg/ml em FM Conc. = 5,5 μg/ml em tampão 5ª Ed. Glimepirida Gliclazida _ _ fosfato pH 7,3 [11] Comprimido Comprimido Mesmo método do insumo Mesmo método do insumo farmacêutico ativo da F. Bras. farmacêutico ativo da F. Bras, exceto: FM = Tampão fosfato pH 3,0 e ACN (47:53) Conc. = 0,2 mg/ml em metanol e água (10:1) USP 34ª Ed. [12] Insumo Farmacêutico Ativo Insumo Farmacêutico Ativo Insumo Farmacêutico Ativo Mesmo método insumo C8 4,6 × 250 mm C18 4,0 x 250 mm o o farmacêutico ativo e comprimido da T = 30 C Vinj = 10 µl T = 30 C Vinj = 20 µl F. Bras exceto: = 254 nm V = 2 ml/min = 228 nm C18 250 x 4,6 mm FM = Fosfato de amônio e ACN pH FM = Tampão fosfato pH 2,1-2,7 e 5,25 ACN (50:50) Conc. = 0,416 mg/ml Conc. = 0,2 mg/ml em ACN e água Obs: A progesterona é padrão interno (4:1) V = 1 ml/min _ 43 Quadro 1.5 (Continuação) Clorpropamida USP 34ª Ed. [12] Glibenclamida Glimepirida Gliclazida Comprimido Comprimido Comprimido Mesmo método do insumo Mesmo método do insumo Mesmo método do insumo farmacêutico ativo e comprimido farmacêutico ativo da USP farmacêutico ativo da USP, exceto: da F. Bras, exceto: C18 4,0 x 125 mm Coluna = C18 250 x 4,6 mm Conc. = 0,2 mg/ml em ACN e água _ (9:1) Insumo Farmacêutico Ativo C18 4,0 x 250 mm, 4 μm o Eur. a 7 Ed. _ _ T = 30 C Vinj = 20 μl = 228 nm V = 1 ml/min _ FM = Tampão fosfato pH 2,5 e ACN (50:50) [13] Conc. = 0,2 mg/ml em ACN e água (4:1) Comprimido Insumo Farmacêutico Ativo C18 100 x 4,6 mm, 5 μm Mesmo o BP BP2011 [21] _ T= 30 C Vinj = 20 μl = 300 nm V = 1,5 ml/min método do farmacêutico ativo da Eur. Comprimido insumo C8 4,0 x 250 mm, 4 μm Vinj = 20 μl = 235 nm FM = Tampão fosfato de potássio V = 0,9 ml/min monobásico pH 3,0 FM = Trietanolamina, ácido e ACN (53:47). trifluoroacético, ACN e água Conc. = 0,23 mg/ml em metanol e água (0,1:0,1:45:55) (10:1) Conc. = 0,2 mg/ml em ACN e água (2:3) 44 1.4 Curva de Van Deemter Curva de Van Deemter (Figura 1.4) é aquela na qual se plota a altura do prato teórico (H) em função da velocidade linear da fase móvel (u0). O hábito de plotar (H x u0) surgiu devido ao interesse pela relação entre o alargamento do pico e a vazão da fase móvel. Por meio da curva de Van Deemter é possível determinar a velocidade linear (diretamente relacionada à vazão da fase móvel) na qual a altura do prato teórico (diretamente relacionado ao alargamento do pico) é mínima, ou seja, velocidade na qual a eficiência é máxima. Um prato teórico representa uma etapa de equilíbrio do soluto entre as fases móvel e estacionária. Dessa maneira, a altura de um prato teórico está relacionada ao comprimento da coluna necessário para que esse equilíbrio ocorra. Quanto menor a altura do prato, mais estreita será a largura de uma banda cromatográfica e maior será a eficiência [22,23]. Figura 1.4 - Curva de Van Deemter [23] Para a elaboração desse gráfico varia-se a vazão da fase móvel que a coluna é submetida. Para cada valor de vazão um pico é obtido, e a ele correspondem determinado número de pratos teóricos (N) e determinado tempo de retenção (tr). O par (N, tr) é transformado no par (H, u0) por meio das equações (1.1) e (1.2) [23]. 45 H L N (1.1) u0 L k 1 tr (1.2) H = altura do prato teórico, L = comprimento da coluna, N = número de pratos teóricos, u0 = velocidade linear da fase móvel, tr = tempo de retenção, k = fator de retenção. O cálculo de k, necessário para estimar u0, é realizado utilizando-se a equação (1.3) [24]. k tr t0 t0 (1.3) k = fator de retenção, tr = tempo de retenção e t0 = tempo morto. 2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Foram objetivos dessa etapa do trabalho: 1- Desenvolver e otimizar método por cromatografia líquida utilizando coluna convencional com partículas porosas de 5 µm de diâmetro (CV), para a determinação simultânea dos antidiabéticos orais clorpropamida (CL), glibenclamida (GB), glimepirida (GM) e gliclazida (GZ). 2- Transferir o método desenvolvido em coluna convencional para método de separação em coluna monolítica (MN), coluna com partículas de núcleo fundido (NF) e coluna com partículas porosas de diâmetro inferior a 2 μm (Sub 2 μm). 46 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Materiais 3.1.1 Insumos farmacêuticos ativos A identificação do fabricante, número de lote, pureza e validade dos insumos farmacêuticos ativos clorpropamida, adquirido na farmácia artesanal, glibenclamida, gentilmente cedido pela Fundação Ezequiel Dias, e glimepirida e gliclazida, gentilmente cedidos pela CIFARMA, estão descritos na Tabela 1.1. Tabela 1.1 - Fabricante, número de lote, pureza e validade dos insumos farmacêuticos ativos dos fármacos CL, GB, GM e GZ Insumo Fabricante Lote Pureza Validade Clorpropamida - CP1007 100,12% 06/2015 Glibenclamida Cadila Pharmaceuticals 0GLL009 99,50% 12/2014 Glimepirida Mantena lab GD/021/11/2011 99,96% 10/2016 0809130 99,10% 09/2012 Gliclazida Shandong Keyuan Pharmaceutical 3.1.2 Solventes, reagentes e vidrarias Acetato de amônio Synth (Diadema, Brasil), ácido acético glacial Vetec (Duque de Caxias, Brasil), acetonitrila grau HPLC Sigma Aldrich (St Louis, Estados Unidos da America), uracila (Sigma Aldrich, St. Louis, Estados Unidos da America) membrana de celulose regenerada com porosidade de 0,22 μm Sartorius (Goettingen, Alemanha), dispositivos filtrantes de celulose regenerada Minisart 15 mm x 0,45 μm (Goettingen, Alemanha), água ultra pura, pipetas e balões volumétricos calibrados, béqueres, erlenmeyers, kit de filtração. 3.1.3 Equipamentos e colunas cromatográficas Ultrapurificador de água (Millipore modelo Direct Q3), ultrassom (Max clean modelo 1400), balança analítica (Sartorius com precisão de 0,01 mg modelo BP210D), 47 UHPLC (Waters Acquity® UPLC), potenciômetro (Metrohm modelo 827 pH lab), coluna com partículas porosas (ACE, C18, 100 x 2,1 mm, 5 µm - Convencional), coluna com partículas de núcleo fundido (Poroshell®, Agilent, C18, 100 x 2,1 mm, 2,7 µm - Núcleo Fundido), coluna com partículas porosas (Zorbax®, Agilent, C18, 100 x 2,1 mm, 1,8 µm - Sub 2 μm), coluna monolítica (Onyx®, Phenomenex, C18, 100 x 2,0 mm - Monolítica) 3.2 Métodos 3.2.1 Desenvolvimento de método analítico por cromatografia líquida para a determinação de CL, GB, GM e GZ em coluna CV A seleção da fase móvel e diluente do método analítico para a determinação de CL, GB, GM e GZ foi realizada com base nos métodos para quantificação de sulfoniluréias descritos na literatura e nas características físico químicas dos fármacos. O objetivo era que o diluente selecionado tivesse composição similar à fase móvel, de maneira a evitar o alargamento dos picos cromatográficos. Após seleção preliminar da fase móvel e do diluente foi realizada uma corrida exploratória de varredura na região do ultravioleta (200-400 nm) de uma solução contendo 250 μg/ml de cada um dos antidiabéticos, utilizando as condições analíticas preliminares descritas na Tabela 1.2. Para obtenção dessa solução partiuse de soluções estoques de cada um dos antidiabéticos, a 1 mg/ml, preparadas em ACN:água (4:1) e submetidas a banho de ultra som por 5 minutos. Posteriormente realizaram-se diluições dessas soluções estoques de modo a obter uma solução de trabalho com os quatro antidiabéticos na concentração de 250 μg/ml. O volume da solução de trabalho foi completado com ACN:solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0 (50:50). O objetivo dessa corrida exploratória de varredura foi determinar o comprimento de onda de análise ideal, ou seja, aquele capaz de detectar seletivamente os quatro antidiabéticos e propiciar a maior absorção possível. 48 Tabela 1.2 - Condições analíticas preliminares* Parâmetros Condições Fase móvel ACN:Solução de acetato de amônio 5mM pH 3,0 (50:50) Vazão da fase móvel 0,2 ml/min Volume de injeção 2 μl Coluna C18 100 x 2,1 mm, 5 μm Temperatura da coluna 30 oC Solução de CL, GB, GM e GZ 250 μg/ml em fase móvel Comprimento de onda 200-400 nm * Foram utilizados loop de 10 μl, tubo de poli éter cetona (poly ether-ether-ketone - PEEK) de 0,004 polegada e frequência de aquisição dos dados/constante de tempo do detector iguais a 20 Hz/0,1 s. 3.2.2 Otimização de método analítico por cromatografia líquida para a determinação de CL, GB, GM e GZ em coluna CV Após seleção das condições cromatográficas preliminares e do comprimento de onda da análise, algumas condições cromatográficas foram otimizadas. Inicialmente foram testadas três fases móveis com diferentes proporções de ACN e solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0. Utilizando a fase móvel selecionada, foram testadas três concentrações de trabalho. Em seguida, utilizando a fase móvel e a concentração de trabalho selecionadas, testaram-se três volumes de injeção. Por último, fazendo-se uso da fase móvel, concentração de trabalho e volume de injeção selecionados, três temperaturas foram avaliadas. O esquema de otimização está sumarizado na Tabela 1.3. Em cada condição teste apresentada na Tabela 1.3, dez diferentes vazões de fase móvel, variando de 0,02 a 0,6 ml/min, foram experimentadas. Determinaram-se o número de pratos teóricos e o tempo de retenção dos picos referentes aos quatro fármacos, em cada vazão avaliada, em cada condição teste. Outro parâmetro determinado em cada vazão avaliada e em cada condição teste foi o tempo morto da coluna. Para estimativa do tempo morto, injetaram-se 2 μl de uracila (10 μg/ml). 49 Tabela 1.3 - Otimização das condições cromatográficas em coluna convencional Experimento 1 Experimento 2 Experimento 3 Experimento 4 Fase Móvel Concentração Volume de injeção Temperatura ACN:Solução (55:45)* 250 μg/ml 5 μl 30 C ACN :Solução (50:50)* 100 μg/ml 2 μl 35 C ACN:Solução(45:55)* 20 μg/ml 1 μl 40 C Condições Condições Condições Condições cromatográficas cromatográficas cromatográficas cromatográficas Conc. = 250 μg/ml FM = Escolhida no FM = Escolhida no FM = Escolhida no Vinj = 2 μl experimento 1 experimento 1 experimento 1 Vinj = 2 μl Conc . = Escolhida no Conc. = Escolhida no experimento 2 experimento 2 o T = 30 C = 230 nm V = 0,02 a 0,6 ml/min o T = 30 C o o o o = 230 nm T = 30 C Vinj = Escolhido no V = 0,02 a 0,6 ml/min = 230 nm experimento 3 V = 0,02 a 0,6 ml/min = 230 nm V = 0,02 a 0,6 ml/min *Solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0 A partir dos dados de número de pratos teóricos, tempo de retenção e tempo morto, foi construída uma curva de Van Deemter para cada antidiabético em cada condição testada. Para os cálculos foram utilizadas as equações (1.1), (1.2) e (1.3). A seleção da fase móvel, concentração, volume de injeção e temperatura ideais foram realizadas com base na análise das curvas de Van Deemter e também com base na análise dos parâmetros fator de retenção (k), resolução (Rs), fator de assimetria dos picos (As) e pressão do sistema cromatográfico (P). 3.2.3 Transferência do método desenvolvido em coluna CV para as colunas MN, NF e Sub 2 μm O método desenvolvido e otimizado para análise de antidiabéticos orais em coluna convencional foi aplicado às colunas cromatográficas empacotadas com partículas sub 2 μm, com partículas de núcleo fundido e coluna monolítica. Todos os parâmetros cromatográficos estabelecidos no método desenvolvido e otimizado na coluna convencional foram mantidos, exceto a proporção de acetonitrila e solução de acetato de amônio na fase móvel. A constituição da fase móvel foi ajustada para 50 cada coluna cromatográfica em estudo, de forma que os fatores de retenção de todos os antidiabéticos fossem próximos aos verificados na coluna convencional. O cálculo de k foi realizado utilizando-se a equação (1.3). Para ajustar o percentual de acetonitrila e solução de acetato de amônio realizou-se uma corrida, em cada coluna, aplicando-se o método desenvolvido e otimizado na coluna convencional. Naquelas colunas em que a retenção foi superior à observada na coluna convencional, aumentou-se o percentual de acetonitrila progressivamente até que valores de k próximos aos objetivados fossem alcançados. Já nas colunas nas quais a retenção foi inferior à observada na coluna convencional, reduziu-se o percentual de acetonitrila até que valores de k próximos aos de interesse fossem atingidos. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Desenvolvimento de método analítico por cromatografia líquida para a determinação de CL, GB, GM e GZ em coluna CV Verificou-se que nos métodos descritos na literatura para determinação simultânea de sulfoniluréias foram utilizadas fases móveis compostas por uma mistura de solvente orgânico e tampão com pH em torno de 3,0. Por isso tentou-se, inicialmente, a utilização de solução de acetato de amônio pH 3,0 e acetonitrila, na proporção de 50:50. Com base no pKa dos fármacos (CL - pKa 4,71 e -1,57; GB - pKa 5,11 e -1,63; GM - pKa 5,10 e -1,48; GZ - pKa 6,07 e 3,89), espera-se que em pH 3,0 aproximadamente 98% das moléculas de clorpropamida e 100% das moléculas de glibenclamida e glimepirida estariam na forma não ionizada e que 90% das moléculas de gliclazida estariam na forma ionizada. A seleção de um valor de pH que propicie que a totalidade ou a quase totalidade das moléculas de determinado analito estejam em sua forma ionizada ou não ionizada é importante para evitar o alargamento dos picos [24]. Tentou-se inicialmente, sem sucesso, dissolver os insumos dos antidiabéticos em acetonitrila. Posteriormente tentou-se a mistura ACN:água (4:1), sugerida como diluente do padrão de glimepirida pelas farmacopeias européia 7ª edição e 51 americana 34a edição. A mistura ACN:água (4:1) foi capaz de solubilizar todos os quatro antidiabéticos orais, após banho de ultra som de 5 minutos, produzindo soluções estoque de 1 mg/ml de cada um deles. Os espectros de varredura dos antidiabéticos utilizando as condições analíticas descritas na Tabela 1.2 estão apresentados na Figura 1.5. Figura 1.5 - Espectros de varredura dos antidiabéticos A partir da análise dos espectros foi selecionado 230 nm como o comprimento de onda ideal, capaz de propiciar absortividades próximas às máximas de todos os quatro fármacos. 4.2 Otimização de método analítico por cromatografia líquida para a determinação de CL, GB, GM e GZ em coluna CV Quatro parâmetros do método analítico desenvolvido em coluna convencional foram otimizados: fase móvel, concentração de trabalho, volume de injeção e temperatura. 4.2.1 Fase móvel O primeiro parâmetro otimizado foi a proporção de ACN e da solução de acetato de amônio na fase móvel. As curvas de Van Deemter referentes aos quatro antidiabéticos (Figuras 1.6, 1.7, 1.8 e 1.9), em cada uma das três fases móveis testadas, são mostradas a seguir. 52 32 28 45% ACN H (µm) 24 50% ACN 20 16 55% ACN 12 8 0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 u0 (mm/s) Figura 1.6 - Curvas de Van Deemter da CL em diferentes fases móveis 32 28 45% ACN H (µm) 24 20 50% ACN 16 55% ACN 12 8 0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 u0 (mm/s) Figura 1.7 - Curvas de Van Deemter da GZ em diferentes fases móveis 32 H (µm) 28 45% ACN 24 20 50% ACN 16 55% ACN 12 8 0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 u0 (mm/s) Figura 1.8 - Curvas de Van Deemter da GB em diferentes fases móveis 53 32 28 45% ACN H (μm) 24 20 50% ACN 16 55% ACN 12 8 0 1 2 3 4 5 u0 (mm/s) Figura 1.9 - Curvas de Van Deemter da GM em diferentes fases móveis Percebe-se que em todos os gráficos as curvas estão praticamente sobrepostas, indicando que em termos de eficiência cromatográfica, não há grande diferença entre as fases móveis testadas. Para exemplificar, considere-se a Figura 1.7, referente às curvas de Van Deemter da gliclazida. A eficiência máxima alcançada com as três fases móveis ocorreu em velocidade linear próxima a 0,6 mm/s, com uma altura de prato teórico H em torno de 11 μm. Outro parâmetro cromatográfico avaliado para as três fases móveis foi o fator de retenção dos quatro analitos. Os resultados estão apresentados na Figura 1.10. 10 GM 8 GB 4 GZ 2 CL K 6 0 40 45 50 55 60 % ACN Figura 1.10 - Relação entre percentual de ACN na fase móvel e k dos antidiabéticos Percebe-se que quanto maior o percentual de acetonitrila menor é a retenção dos fármacos, já que em cromatografia de fase reversa a maior proporção de solvente 54 orgânico contribui para o aumento da força eluotrópica da fase móvel. Além disso, quanto menor a força eluotrópica da fase móvel, maior é a diferença entre os valores de k dos analitos, o que permite uma separação mais eficiente. Conclui-se também que os analitos menos retidos, como a clorpropamida, têm o valor de k menos influenciado por variações na força da fase móvel do que os analitos mais retidos, como a glimepirida. Considerando que idealmente o fator de retenção deve estar entre 1 e 10 [24], a fase móvel composta por 55% de acetonitrila não seria adequada, já que a clorpropamida apresentou k = 0,95 nessa condição. De acordo com a teoria cromatográfica, o aumento do fator de retenção vem acompanhado da redução do Hmin, ou seja, aumento da eficiência [24]. Sendo assim, seria esperado que a fase móvel constituída por ACN:solução de acetato de amônio 5mM pH 3,0 (45:55) propiciasse análises mais eficientes, com menor Hmin. Entretanto, nenhuma diferença significativa foi observada entre a eficiência gerada pelas três fases móveis. Uma hipótese para explicar esse comportamento é que a fase móvel constituída por ACN:solução de acetato de amônio 5mM pH 3,0 (45:55) é mais viscosa (η (55:45): ACN:solução de acetato de amônio (45:55): 0,78 cp e η ACN:solução de acetato de amônio 0,69 cp - valores calculados com base na η da água e da ACN). Sabe-se que o aumento de viscosidade contribui para a redução da eficiência cromatográfica [24]. Sendo assim, com a redução do percentual de solvente acetonitrila tem-se o aumento de k dos analitos, que é favorável à melhora da eficiência, mas ao mesmo tempo há um aumento da viscosidade da fase móvel, que é desfavorável. A resolução entre os picos também foi avaliada. Para exemplificar plotou-se na Figura 1.11 a resolução (Rs) entre o par de picos adjacentes mais próximos (glimepirida e glibenclamida), em função da vazão, para cada fase móvel. 5 Rs GM/GB 4 45% ACN 3 50% ACN 2 55% ACN 1 0 0.00 0.20 0.40 0.60 Vazão (ml/min) 0.80 Figura 1.11 - Relação entre vazão e Rs (GM/GB) nas diferentes fases móveis 55 Com qualquer uma das fases móveis, em qualquer vazão testada, a resolução entre o par de picos refrentes a glimepirida e glibenclamida está adequada, pois foi superior a 2,0 [25]. Analisando-se a Figura 1.11 percebe-se que em qualquer vazão, quanto maior a força eluotrópica da fase móvel, menor é a resolução. Isso é justificado, pois o aumento da força da fase móvel promove redução da seletividade (α) e redução de k, parâmetros que afetam diretamente a resolução (equação 1.4). É interessante destacar que o formato da curva de resolução x vazão é similar ao formato da curva de Van Deemter invertida, já que a resolução é proporcional a k Rs 1 / 4( 1) N 1 k N. (1.4) Rs = Resolução, α = seletividade, N = número de pratos teóricos e k = fator de retenção Por último, avaliou-se a pressão do sistema (Figura 1.12) e o fator de assimetria (As) dos picos (Tabela 1.4) nas diferentes fases móveis. Pressão (bar) 120 100 80 45% ACN 60 50% ACN 40 55% ACN 20 0 0.00 0.20 0.40 0.60 Vazão (ml/min) 0.80 Figura 1.12 - Relação entre vazão e pressão do sistema nas diferentes fases móveis 56 Tabela 1.4 - Fatores de assimetria dos picos dos antidiabéticos nas diferentes fases móveis Fator de assimetria médio* Antidiabético ACN:Solução (45:55)** ACN:Solução (50:50)** ACN:Solução (55:45)** Clorpropamida 1,21 1,24 1,26 Gliclazida 1,08 1,12 1,16 Glibenclamida 1,03 1,05 1,08 Glimepirida 1,05 1,05 1,07 * Média dos fatores de assimetria nas 10 vazões analisadas ** Solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0 Como esperado, quanto maior o percentual de solvente orgânico na fase móvel, menor é a pressão gerada no sistema, o que é consequência da redução da viscosidade da fase móvel [24]. Entretanto, na prática, em todas as vazões testadas a diferença entre os valores de pressão verificados em função da fase móvel não foi significativa. O mesmo pode-se dizer em relação à simetria dos picos: apesar das pequenas diferenças, na prática, empregando-se qualquer uma das fases móveis, picos com fatores de assimetria dentro da faixa ideal de 0,8-1,8 foram obtidos [26]. Vale destacar que apesar de não haver diferença significativa na assimetria dos picos em função do percentual de ACN na fase móvel, observa-se que os fatores de assimetria se aproximam do valor ideal (As = 1) com a redução do percentual de ACN e consequente aumento de k dos analitos (conforme Figura 1.10). Esse comportamento (melhora da simetria do pico com aumento de k) ocorre quando são os efeitos extracoluna os principais responsáveis pela piora da simetria dos picos [24]. Considerando os resultados e as discussões, a fase móvel constituída por 55% de acetonitrila não foi selecionada, já que com essa fase móvel o k da clorpropamida foi inferior a 1 (k = 0,95). Os outros parâmetros avaliados (eficiência, resolução, pressão e assimetria) não justificam a escolha da fase móvel constituídas por 50% ou 45% de acetonitrila. Sendo assim, optou-se pela fase móvel selecionada preliminarmente, constituída por 50% de acetonitrila e 50% de solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0, objetivando-se a obtenção de uma análise mais rápida. 57 4.2.2 Concentração Após seleção da fase móvel otimizou-se a concentração de trabalho dos antidiabéticos. As concentrações de 20, 100 e 250 μg/ml foram testadas. Os resultados obtidos com soluções de concentração igual a 20 μg/ml não foram reprodutíveis, provavelmente em consequência da baixa relação sinal ruído, e não foram considerados. Para exemplificar, as curvas de Van Deemter obtidas para a glimepirida, nas concentrações de 100 e 250 μg/ml, estão apresentadas na Figura 1.13. 24 H (μm) 20 250 μg/ml 16 100 μg/ml 12 8 0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 u0 (mm/s) Figura 1.13 - Curvas de Van Deemter da GM nas concentrações de 100 e 250 μg/ml Verifica-se que as duas curvas se sobrepõem, indicando que em termos de eficiência cromatográfica as concentrações testadas se equivalem. O mesmo comportamento foi observado para os outros três antidiabéticos. A assimetria e resolução entre os picos também foram avaliadas. Os fatores de assimetria nas duas concentrações (100 e 250 µg/ml) foram próximos (Tabela 1.5) e dentro da faixa ideal (0,8-1,8) [26]. Os valores de resolução entre os picos foram todos superiores a 2,0, valor mínimo aceitável [25] e praticamente não houve diferença entre os valores de resolução obtidos nas duas concentrações experimentadas. Para exemplificar: a resolução média nas 10 vazões experimentadas entre o par de picos adjacentes mais próximos (glibenclamida e glimepirida) foi igual a 3,47 para a concentração de 250 µg/ml e igual a 3,51 para a concentração de 100 µg/ml. 58 Tabela 1.5 - Fatores de assimetria dos picos dos antidiabéticos nas concentrações de 100 e 250 μg/ml Antidiabético Fator de assimetria médio* 250 μg/ml 100 μg/ml Clorpropamida 1,24 1,23 Glibenclamida 1,05 1,07 Glimepirida 1,05 1,05 Gliclazida 1,12 1,12 * Média da dos fatores de assimetria nas 10 vazões experimentadas Como não houve diferença em termos de eficiência, resolução e fator de assimetria entre as concentrações de 100 e 250 μg/ml, optou-se pela seleção da concentração de 100 μg/ml, objetivando a simplificação dos cálculos durante a validação dos métodos analíticos no capítulo 5 desse trabalho. 4.2.3 Volume de injeção Após seleção da fase móvel e concentração ideais, avaliaram-se os seguintes volumes de injeção: 1, 2 e 5 μl. Com a finalidade de evitar a dispersão da amostra e consequente redução da eficiência cromatográfica, o volume de injeção deve ser reduzido, embora volumes de injeção muito pequenos possam conduzir a uma baixa detectabilidade do método [24,27]. Faz-se necessário, portanto, otimizar o volume de injeção objetivando eficiência cromatográfica e detectabilidade satisfatórias. A seguir encontram-se apresentadas as curvas de Van Deemter da clorpropamida (Figura 1.14) e glimepirida (Figura 1.15), nos três volumes de injeção testados. Os resultados da clorpropamida e glimepirida foram selecionados como exemplos porque eles representam os analitos de menor (k = 1,3) e maior retenção (k = 5,2), respectivamente. 59 40 35 1 H (µm) 30 25 2 20 5 15 10 0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 u0 (mm/s) Figura 1.14 - Curvas de Van Deemter da CL nos diferentes volumes de injeção 40 H (μm) 35 30 1 25 2 20 5 15 10 0.00 1.00 2.00 3.00 4.00 5.00 u0 (mm/s) Figura 1.15 - Curvas de Van Deemter da GM nos diferentes volumes de injeção Analisando-se os gráficos apresentados nas Figuras 1.14 e 1.15 percebe-se que para a glimepirida, independente do volume de injeção, o valor de Hmin está em torno de 10 μm. Já para a clorpropamida a eficiência varia em função do volume de injeção. Quando 5 μl foram injetados o valor mínimo de H obtido ficou em torno de 21 μm. Já com as injeções de 1 e 2 μl a eficiência foi superior, e valores de Hmin menores, em torno de 17 μm, foram obtidos. Esse comportamento pode ser explicado porque o volume de injeção máximo que não contribue excessivamente para o alargamento depende do fator de retenção dos compostos de interesse. Em geral, podem ser injetados volumes maiores de analitos mais retidos sem que ocorra alargamento excessivo do pico [27]. Esse fato pode ser comprovado pela equação 1.5 [28]. 60 Vinj Vr K N (1.5) Vinj = volume de injeção, = fração do alargamento do pico, Vr = volume de retenção, K = constante característica da qualidade da injeção normalmente igual a 2, N = número de pratos teóricos Analisando-se a equação 1.5 verifica-se que considerando um mesmo volume de injeção, analitos mais retidos (maior Vr e, portanto, maior fator de retenção k) sofrerão menor alargamento (menor ). Sendo assim, como a glimepirida possui maior fator de retenção (k = 5,2), o pico relativo a ela sofreu menor alargamento quando o volume de injeção de 5 μl foi injetado, tendo apresentado eficiência semelhante às verificadas quando volumes de 1 e 2 μl foram utilizados. Já o pico da clorpropamida (k = 1,3) sofreu maior alargamento quando 5 μl foram injetados, o que explica o fato de a eficiência cromatográfica com esse volume de injeção ter sido inferior a eficiência observada quando 1 e 2 μl foram injetados. O comportamento da gliclazida (k = 2,7) e da glibenclamida (k = 4,2) foi similar ao da clorpropamida, ou seja, houve redução da eficiência (aumento de Hmin) quando 5 μl foram injetados. Considerando o exposto, os volumes de injeção de 1 e 2 μl poderiam ser utilizados, já que garantem uma maior eficiência cromatográfica dos quatro antidiabéticos quando comparados ao volume de injeção de 5 μl. Analisando-se os parâmetros assimetria e resolução entre os picos, percebe-se que os volumes de 1 e 2 μl se mostraram novamente equivalentes: valores de fator de assimetria e resolução similares e satisfatórios (0,8<As<1,8 e Rs>2,0) [25, 26] foram obtidos. Para exemplificar: a resolução média nas 10 vazões experimentadas, entre o par de picos mais crítico (glibenclamida e glimepirida), foi igual a 3,49 para o volume de injeção de 1 μl e igual a 3,51 para o volume de injeção de 2 μl; o fator de assimetria médio do pico de glibenclamida nas 10 vazões testadas foi igual a 1,09 para o volume de injeção de 1 μl e igual a 1,07 para o volume de injeção de 2 μl. 61 Deve-se destacar que com os volumes de injeção de 1 e 2 μl picos com relações sinal/ruído superiores a 10, adequadas à quantificação [29], foram gerados. Ao final, arbitrariamente, optou-se pela seleção do volume de injeção de 2 μl. 4.2.4 Temperatura Por último, foi realizada avaliação da temperatura de análise. Foram avaliadas temperaturas de 30, 35 e 40 oC. Nenhuma diferença significativa em termos de eficiência, fator de retenção, resolução, fator de assimetria e pressão foram observadas. Possivelmente esse comportamento é consequência da pequena variação de temperatura testada. Optou-se por manter a temperatura de 30 oC estabelecida preliminarmente, visando aumentar o tempo de vida útil das colunas. Concluindo, as condições analíticas selecionadas para determinação de antidiabéticos em coluna convencional foram: fase móvel constituída por ACN: solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0 (50:50), concentração de trabalho de 100 μg/ml, volume de injeção de 2 μl e temperatura de 30 oC. Nessas condições os fatores de retenção dos antidiabéticos foram aproximadamente iguais a: clorpropamida k = 1,3; gliclazida k = 2,7; glibenclamida k = 4,2 e glimepirida k = 5,2. Na Figura 1.16 há um cromatograma referente à análise dos antidiabéticos em coluna convencional aplicando-se as condições acima e vazão de 0,4 ml/min. Figura 1.16 - Cromatograma obtido durante análise de antidiabéticos em coluna convencional 62 4.3 Transferência do método desenvolvido e otimizado em coluna CV para as colunas MN, NF e Sub 2 μm A proporção de acetonitrila e Solução de acetato de amônio 5 mM, pH 3,0 na fase móvel foi ajustada para cada coluna cromatográfica (MN, NF e Sub 2 μm), de maneira que os fatores de retenção (k) de todos os antidiabéticos ficassem próximos aos verificados na coluna convencional. Esse procedimento foi realizado para permitir a comparação do desempenho das colunas cromatográficas, que será descrita no capítulo 4. Como os valores de k influenciam na eficiência e formato das curvas de Van Deemter, devem ser ajustados em todas as colunas [30]. No caso da coluna monolítica, para que a retenção observada na coluna convencional fosse mantida, foi necessário reduzir a força eluotrópica da fase móvel. Já com a coluna de partículas sub 2 μm ocorreu o contrário e portanto a manutenção dos fatores de retenção ocorreu mediante aumento da força eluotrópica da fase móvel. Apesar de a coluna de núcleo fundido apresentar capacidade de retenção um pouco menor do que a coluna convencional, na prática nenhum ajuste na força da fase móvel foi necessário. Na Tabela 1.6 há a descrição das condições selecionadas para a análise e os valores de k dos antidiabéticos em cada uma das colunas. Tabela 1.6 - Condições de análise para determinação de antidiabéticos nas diferentes colunas e valores de k Colunas Convencional Monolítica Fase Móvel ACN: Solução (50:50)** ACN: Solução (43:57)** Núcleo ACN: Solução Fundido (50:50)** Sub 2 μm ACN: Solução (53:47)** Vinj T Conc. (μl) (nm) (oC) (μg/ml) 2 230 30 100 2 230 30 100 2 230 30 100 2 230 30 100 K CL 1,3 - GB 2,7 GZ 4,2 - GM 5,2 CL 0,9 - GB 2,2 GZ 4,3 - GM 5,5 CL 1,3 - GB 2,7 GZ 4,5 - GM 5,6 CL 1,2 - GB 2,7 GZ 4,2 - GM 5,2 * Foram utilizados loop de 10 μl, tubo de PEEK de 0,004 polegada e frequência de aquisição dos dados e constante de tempo do detector iguais a 20 Hz/0,1 s * *Solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0 63 5 CONCLUSÃO Método analítico para quantificação de clorpropamida, glibenclamida, glimepirida e gliclazida foi desenvolvido e otimizado em coluna convencional com partículas totalmente porosas de 5 μm de diâmetro. Posteriormente, as condições analíticas selecionadas foram transferidas e otimizadas para a análise dos antidiabéticos utilizando colunas monolítica, empacotada com partícula de núcleo fundido e empacotada com partículas totalmente porosas sub 2 μm. O único ajuste realizado foi na proporção de acetonitrila e solução de acetato de amônio 5mM pH 3,0 na fase móvel. Esses métodos, descritos na Tabela 1.6, foram utilizados nas etapas subsequentes desse trabalho. 64 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] WORLD HEALTH ORGANIZATION. Disponível em: <http://www.who.int/ mediacentre/factsheets/fs312/en/index.html>. Acesso em: 29 de agosto de 2012. [2] DIRETRIZES DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES 2009. Disponível em: <http://www.diabetes.org.br/attachments/diretrizes09_final.pdf>. Acesso em: 28 de agosto de 2012. [3] ARAÚJO, L. M.B.; BRITTO, M. M.S; CRUZ, T. R. P. Tratamento do Diabetes Mellitus do Tipo 2: Novas Opções. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabologia. v. 44, n. 6, p. 509-518, 2000. [4] LEBOVITZ, H. E. Type 2 diabetes mellitus-current therapies and the emergence of surgical options. Nature Reviews Endocrinology. v. 7, p. 408-419, 2011. [5] OVER, R. K.; RATNER, R. E. Combination Pharmacotherapy with Incretins: What Works Best and When? Current Diabetes Reports. v. 8, p. 361-367, 2008. [6] WEISSMAN, P. N. 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[29] BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RE n o. 899, de 29 de Maio de 2003. Guia para validação de métodos analíticos e bioanalíticos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Poder Executivo, de 02 de Junho de 2003c. [30] OLAH, E.; FEKETE, S.; FEKETE, J.; GANZLER, K. Comparative study of new shell-type, sub-2μm fully porous and monolith stationary phases, focusing on masstransfer resistance. Journal of Chromatography A. v.1217, p. 3642-3653, 2010. 67 CAPÍTULO 2 CARACTERIZAÇÃO FÍSICA DAS COLUNAS CROMATOGRÁFICAS 68 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA Nesta revisão serão apresentadas características físicas, vantagens e desvantagens das colunas cromatográficas: monolítica (MN), empacotada com partículas de núcleo fundido (NF) e empacotada com partículas porosas de diâmetro inferior a 2 m (Sub 2 m). Além disso, serão realizadas comparações dessas colunas com a coluna convencional (CV), empacotada com partículas porosas de diâmetro entre 3-5 µm. 1.1 Coluna monolítica As fases estacionárias monolíticas surgiram no final da década de 80 e início da década de 90. A popularização dessas fases, entretanto, só aconteceu a partir do ano 2000, quando monolitos de sílica se tornaram disponíveis comercialmente. Ao longo dos últimos cinco anos os monolitos, que podem ser feitos de material orgânico sintético (ex: resina acrílica), natural (ex: celulose) ou material inorgânico (ex: sílica), foram amplamente difundidos [1, 2]. A fase monolítica de sílica é preparada no formato de um cilindro, pelo processo “sol-gel”. Esse preparo não ocorre dentro das colunas cromatográficas convencionais de aço inoxidável, pois após a etapa de secagem o cilindro monolítico encolhe e perde o contato com a parede interna da coluna cromatográfica. Sendo assim, materiais especiais, como o PEEK, devem ser utilizado, pois se ajustam mais facilmente ao diâmetro do monolito de sílica [1]. Em um procedimento típico de preparo de monolitos de sílica pelo processo “solgel”, tetrametoxissilano ou tetraetoxissilano é adicionado a uma solução aquosa de poli(oxietileno) (agente porogênico) contendo ácido ou base (catalisador). A mistura é agitada a 0 oC e a solução resultante é colocada dentro de um molde de policarbonato para que ocorram as reações de hidrólise e policondensação. A primeira etapa é a formação de um “sol”, suspensão coloidal de espécies sólidas em um líquido. Em seguida, a suspensão é convertida em gel, por meio de um processo de policondensação. A amostra na forma de gel é então envelhecida por alguns dias. O cilindro de sílica úmido formado é colocado em uma solução aquosa para formar as estruturas mesoporosas. Sucessivas evaporações, secagens e 69 tratamentos térmicos são realizados para decompor os constituintes orgânicos e estabilizar a superfície do gel hidrofílico de sílica. Após as etapas de envelhecimento e secagem, o monolito de sílica encolhe dentro do molde. O cilindro monolítico é retirado do molde e encaixado em um tubo de PEEK, e por meio de aquecimento e aplicação de pressão externa o tubo de PEEK se ajusta ao monolito, assegurando a inexistência de espaços vazios. O monolito é posteriormente funcionalizado com o reagente de interesse [3]. A fase monolítica é um meio contínuo de separação, contendo uma "partícula única". Possui uma estrutura sólida e altamente porosa, de pequenos domínios, que fornece elevada eficiência cromatográfica (Figura 2.1) [1]. Figura 2.1 - Micrografia da fase monolítica de sílica [4] Os domínios do monolito podem ser micro, macro ou mesoporosos. Segundo a IUPAC, os microporos são poros com diâmetros que não excedem 2 nm (20 Å), os mesoporos são poros de tamanhos intermediários entre 2 e 50 nm e os macroporos são definidos como poros com diâmetros superiores a 50 nm (500 Å). Nas colunas monolíticas de sílica de primeira geração os macroporos, em inglês chamados de through-pore, são de 2 µm. É principalmente através deles que a fase móvel passa durante o processo de eluição cromatográfica. Já os mesoporos, chamados em inglês de skeleton-pore, possuem poros de aproximadamente 13 nm nos monolitos de primeira geração. São os mesoporos que geram a área superficial, normalmente entre 50 a 300 m2/g, necessária à separação cromatográfica [1,5]. Na figura 2.2 há um esquema de uma coluna monolítica e os respectivos macroporos e mesoporos. 70 Figura 2.2 - Macroporos de 2 μm (a) e mesoporos de 13 nm (b) da fase monolítica [4] Característica física importante das colunas monolíticas é a elevada porosidade (ε), situada em torno de 80% [5]. A alta porosidade justifica os elevados valores de permeabilidade (Kv0) característicos desse tipo de coluna. Valores de permeabilidade iguais a 5,00 x 10-14 e 8,00 x 10-14 m2 foram descritos na literatura para a coluna monolítica da marca Onyx® [6, 7]. Verifica-se que, em consequência da elevada porosidade e da baixa densidade características das colunas monolíticas, o fator de retenção (k) dos analitos nesse tipo de coluna é inferior ao observada nas colunas com partículas porosas convencionais de diâmetro entre 3 e 5 µm. Observa-se também que colunas monolíticas e convencionais que possuem o mesmo grupo químico ligante apresentam valores de seletividade (α) próximos, indicando que os mecanismos que governam a separação em ambas são similares [8]. Como já foi relatado, a geometria dos canais dos monolitos apresentam estrutura altamente permeável e, portanto, de menor resistência à vazão da fase móvel do que a gerada pelas partículas porosas presentes nas colunas cromatográficas convencionais. Sendo assim, é possível realizar análises rápidas, em vazões elevadas (> 5 ml/min), utilizando instrumentos convencionais de cromatografia líquida (HPLC), sem que haja aumento da pressão para valores acima do máximo suportado por eles (400 bar) [1, 2]. Embora as colunas monolíticas apresentem as vantagens mencionadas, menos de 1% dos profissionais que trabalham com cromatografia as utilizam. Os motivos são o pequeno número de fornecedores (apenas Merck e Phenomenex) e de grupos químicos ligantes (sílica, C8, C18), inexistência de colunas com comprimento superior a 100 mm (por limitações durante o processo produtivo), estabilidade 71 química limitada a uma estreita faixa de pH (2-8) e elevado consumo de solvente [9, 10]. Além disso, a limitação do número de fornecedores faz com que o custo das colunas monolíticas seja elevado. Em cotação realizada no primeiro semetre de 2011, a coluna monolítica da marca Phenomenex (Onyx® C18 100 x 2,0 mm) foi cotada em R$ 1700,00, enqunato que a coluna convencional da marca ACE (C18 100 x 2,1 mm) foi cotada em R$ 960,00. Outro ponto negativo é que as fases monolíticas dão origem a picos de pior simetria [11]. Além disso, a eficiência cromatográfica das colunas monolíticas, apesar de ser comparável à apresentada por colunas convencionais com partículas porosas de diâmetro entre 3,5 e 5,0 μm, é inferior à alcançada por colunas empacotadas com partículas de núcleo fundido e partículas porosas sub 2 μm [1,10,12]. Com o objetivo de melhorar o desempenho das colunas monolíticas, a empresa Merck introduziu no mercado, no fim de 2011, a fase monolítica de sílica de segunda geração. Essa nova fase é chamada de Chromolithic High Resolution® e possui duas vantagens em relação à fase de primeira geração: gera uma maior eficiência cromatográfica (H fase monolítica 2 a geração < 7 μm; H fase monolítica 1 a geração < 12,5 μm) e propicia a obtenção de picos mais simétricos. Essas características foram alcançadas mediante o desenvolvimento de um processo de fabricação mais reprodutível, garantindo que poros de tamanhos homogêneos fossem formados, além da redução do tamanho dos macroporos. Na fase de primeira geração o macroporo possui tamanho entre 1,8-2,0 μm, já na de segunda geração esse tamanho encontra-se situado entre 1,1-1,2 μm. É óbvio que a redução do tamanho do macroporo conduziu a um aumento da pressão, entretanto as colunas Chromolithic High Resolution® ainda podem ser utilizadas em cromatógrafos convencionais, pois a pressão gerada é inferior a 400 bar [12]. Apesar de não serem utilizadas com elevada frequência, muitos trabalhos científicos vem sendo realizados com os monolitos. Separações de compostos orgânicos sob condições de fase reversa, dos quais se destacam fármacos, peptídeos e proteínas, representam a quase totalidade dos trabalhos publicados [1]. Exemplo de aplicação das colunas monolíticas é a determinação de tadalafil em coluna C18, 100 x 4,6 mm, empregando-se vazão de 5 ml/min, em aproximadamente 10 minutos [13]. 72 1.2 Coluna empacotada com partículas de núcleo fundido O conceito de partículas peliculares ou superficialmente porosas, constituídas por um núcleo sólido e uma fina camada porosa, foi inicialmente sugerido por Hórvath e Lipsky, na década de 60, e foi aplicado a colunas de cromatografia de troca iônica, um tipo de cromatografia líquido-sólido. O desenvolvimento dessas partículas foi realizado considerando o princípio de que o menor caminho de difusão presente nas partículas peliculares, comparado ao presente nas partículas totalmente porosas, poderia propiciar uma difusão mais rápida do analito, aumentando a eficiência cromatográfica. Apesar da excelente capacidade de separação apresentada por essas partículas, elas não foram adotadas pela comunidade científica pelo fato de a cromatografia de troca iônica apresentar aplicação limitada. Na época, o interesse maior era pela cromatografia líquido-líquido [14]. Também na década de 60 e pelo mesmo motivo, Kirkland e colaboradores desenvolveram as chamadas shell particles, constituídas por um núcleo sólido e por uma camada porosa mais espessa do que a sugerida por Hórvath e Lipsky. Kirkland foi o primeiro pesquisador a desenvolver partículas desse tipo aplicadas à cromatografia líquido-líquido. Na década de 70, colunas como Corasil® I e II, da Waters, empacotadas com shell particles, foram comercializadas. Entre 5 e 10% do volume dessas partículas era ocupado pela camada porosa. Apesar do sucesso inicial, com o passar do tempo percebeu-se que essas colunas eram instáveis: rapidamente perdiam fase estacionária, arrastada pela fase móvel, gerando análises de baixa reprodutibilidade. Além disso, constatou-se a baixa capacidade de amostra em consequência da menor superfície porosa desse tipo de partícula [14]. Ao mesmo tempo em que as limitações das shell particles foram evidenciadas, eram produzidas partículas totalmente porosas com diâmetros cada vez menores, capazes de gerar análises extremamente eficientes. A redução do tamanho das partículas totalmente porosas passou a ser o foco das pesquisas e os estudos envolvendo as shell particles foram temporariamente interrompidos [14]. Recentemente, a necessidade de desenvolver colunas eficientes que pudessem operar em equipamentos de HPLC levou ao desenvolvimento de novas gerações de 73 colunas empacotadas com shell particles. As colunas empacotadas com partículas totalmente porosas de tamanho muito reduzido, apesar de eficientes, geram pressões acima de 400 bar, sendo compatíveis com equipamentos de UHPLC. Pensando nisso, em 1992 a Agilent desenvolveu a coluna Poroshell 300®, constituída por partículas de 7 μm de diâmetro, envolvidas por camada porosa de 1 μm. Entretanto, o real sucesso dessas partículas ocorreu em 2006, com a introdução da coluna Halo core-shell® pela Advanced Material Technologies. Essa coluna é constituída por shell particles, de 2,7 μm de diâmetro, envolvida por 0,5 μm de camada porosa. A camada porosa, agora estável quimicamente, ocupa 75% do volume da partícula, e não apenas 10% como nas shell particles desenvolvidas na década de 60, solucionando o problema da baixa capacidade de amostra [14]. Procedimento típico de preparo das shell particles envolve a suspensão de partículas de sílica não porosas em uma mistura de etanol e água. Uma solução concentrada de hidróxido de amônio deve ser vertida sobre a suspensão, fazendo com que os grupos silanóis presentes na superfície da sílica fiquem carregados negativamente. Em seguida adiciona-se uma solução de surfactante orgânico catiônico (C18TABr+) e as moléculas desse surfactante, carregadas positivamente, são adsorvidas às partículas de sílica, que estão carregadas negativamente. Por último adiciona-se tetraetilortosilicato, que tem como função construir a estrutura de sílica porosa em torno das moléculas de surfactante adsorvidas. Finalmente, as novas partículas formadas são centrifugadas e o mesmo processo é repetido até que a espessura da camada porosa desejada seja alcançada [14]. As shell particles também têm sido chamadas fused core, core shell e porous shell. Em português, o termo mais empregado é partículas de núcleo fundido. As colunas com partículas de núcleo fundido (Figura 2.3), ao contrário das monolíticas, não são um sistema contínuo. São constituídas por um núcleo sólido de sílica fundida não poroso (core), normalmente de 1,6 ou 1,7 µm de diâmetro, revestido por uma parte externa porosa (shell) com espessura geralmente de 0,5 µm. Sendo assim, essas partículas possuem um diâmetro total de 2,6 ou 2,7 µm (Figura 2.4) [15]. Já há no mercado, entretanto, partículas de núcleo fundido com diâmetro total de 1,7 µm (núcleo de 1,25 µm de diâmetro e a parte externa de 0,23 µm de espessura), 74 1,3 µm, assim como partículas de 2,6 µm de diâmetro total com parte externa porosa de 0,35 µm e núcleo de 1,9 µm. Figura 2.3 - Micrografia de partícula de núcleo fundido [16] Figura 2.4 - Esquema de partícula de núcleo fundido [17] As colunas de núcleo fundido possuem porosidade (ε) entre 50% e 60%. Na literatura encontram-se descritos valores de ε iguais a 56% (Poroshell® 2,7 μm), 55% (Kinetex® 2,6 μm) e 51% (Halo® 2,7 μm) [18, 19]. A permeabilidade (Kv0) desse tipo de coluna é inferior à observada em colunas monolíticas. Valores de Kv0 iguais a 1,18 x 10-14 m2 (Kinetex® 2,6 μm), 1,02 x 10-14 m2 (Halo® 2,7 μm) e 0,99 x 10-14 m2 (Poroshell® 2,7 μm) foram descritos na literatura [20]. Observa-se que a retenção dos analitos em colunas com partículas de núcleo fundido é inferior à observada em colunas convencionais empacotadas com partíclas totalmente porosas. A explicação está no fato de o volume de fase estacionária presente em partículas de núcleo fundido ser inferior ao presente em partículas totalmente porosas [14]. O maior benefício de colunas com partículas de núcleo fundido é a possibilidade de redução do tempo de análise, com eficiência cromatográfica comparável à propiciada por colunas com partículas porosas sub 2 µm e manutenção da pressão em níveis compatíveis com os requeridos por um instrumento de HPLC (400 bar) [21]. 75 Apesar das vantagens, de modo similar às colunas monolíticas há um número limitado de fabricantes (exemplos: Phenomenex, Agilent, Advanced Materials Technologies, Supelco) e de grupos químicos ligantes disponíveis, o que é um fator que contribui para a baixa utilização desse tipo de coluna [10]. Em cotação realizada no primeiro semestre de 2011, a coluna de núcleo fundido da marca Phenomenex (Kinetex® C18, 100 x 2,1mm, 2,6 µm) foi cotada em R$ 1490,00. Já a coluna da marca Agilent (Poroshell® C18, 100 x 2,1mm, 2.7 µm) foi cotada em R$ 975,00, preço próximo ao cobrado pelas tradicionais colunas convencionais. Apesar de ainda pouco utilizada, há várias publicações empregando coluna de núcleo fundido. Exemplo é o trabalho publicado em 2011 por Kirkland e colaboradores, no qual é descrita a separação de nove proteínas, em menos de dois minutos, com resolução mínima de 1,5, utilizando-se coluna de núcleo fundido [22]. 1.3 Coluna empacotada com partículas porosas sub 2 µm O desafio de desenvolver partículas com diâmetro inferior a 2 µm, resistentes à pressão gerada no sistema cromatográfico em consequência da redução do tamanho das partículas, foi vencido, inicialmente, pela obtenção de partículas não porosas de 1,5 µm de diâmetro. Embora essas partículas não porosas sub 2 µm conduzissem a análises de alta eficiência, apresentavam baixa capacidade de amostra e baixa retenção devido à pequena superfície de contato com o analito. Para que não houvesse redução da retenção e da capacidade de amostra era preciso desenvolver partículas porosas sub 2 µm que fossem capazes de resistir a altas pressões. Pensando nisso pesquisadores da Waters, em 2004, desenvolveram a primeira coluna empacotada com partículas porosas de diâmetro inferior a 2 µm resistentes mecanicamente. Nessas colunas, denominadas Acquity®, a resistência das partículas porosas sub 2 µm é alcançada por meio de pontes de etano inseridas na estrutura da sílica [23]. As colunas empacotadas com partículas porosas com diâmetro inferior a 2 µm, ao contrário das monolíticas e das empacotadas com partículas de núcleo fundido, aplicam-se a análises realizadas em instrumentos que operam sob pressão de até 76 1000 bar (UHPLC) [24]. Instrumentos de UHPLC ainda não são comuns devido ao custo 25% maior quando comparado aos instrumentos de HPLC [15]. O primeiro cromatógrafo a suportar altas pressões foi desenvolvido pela Waters e lançado em 2004 com o nome de Acquity UPLC®. As modificações requeridas em um sistema desse tipo em relação ao HPLC são: resistência a altas pressões (tipicamente até 1000 bar), volumes internos menores, melhoramento nos sistema de controle de dados, injetores com precisão na faixa de pequenos volumes de injeção, sistema de injeção rápido e capaz de suportar pressões elevadas, detector com elevada frequência de aquisição de dados, filtros de colunas com porosidade menor que 2 µm. Depois de 2004, outros sistemas de UHPLC, que suportam pressões de até 1300 bar, foram desenvolvidos [25,26]. As colunas com partículas porosas sub 2 μm possuem valores de permeabilidade (Kv0) da ordem de 10-15 e, portanto são menos permeáveis que as monolíticas. Na literatura encontram-se relatados valores de Kv0 iguais a 6,28 x 10-15 m2 para a coluna Zorbax SB® e 4,50 x 10-15 m2 para a coluna Acquity® [27]. Quanto à porosidade, valor de 63% foi descrito para a coluna Acquity® [19]. Em relação à retenção verifica-se que colunas com partículas porosas sub 2 μm apresentam maior capacidade de retenção do que colunas com partículas de núcleo fundido. Isso se deve ao fato de essas partículas serem menores e totalmente porosas, o que aumenta a superfície de contato entre analito e fase estacionária [21]. A principal vantagem das colunas com partículas porosas sub 2 μm é possibilitar análises rápidas, o que contribui para a redução do consumo de solventes, com elevada eficiência de separação. A eficiência de uma análise, determinada pelo número de pratos teóricos (N), é inversamente proporcional ao diâmetro das partículas, o que explica o fato de colunas empacotadas com partículas tão pequenas, como as de diâmetro inferior a 2 μm, propiciarem análises de elevada eficiência [28]. Ao benefício da alta eficiência se contrapõe a elevação da pressão do sistema cromatográfico, já que a pressão gerada é inversamente proporcional ao quadrado do diâmetro das partículas (equação 2.1), requerendo a utilização de um sistema de UHPLC, mais caros e de menor disponibilidade nos laboratórios [5, 23]. 77 Pt L u0 2 dp (2.1) Pt = pressão no sistema cromatográficos, = fator de resistência da coluna, L = comprimento da coluna, u0 = velocidade linear da fase móvel, dp = diâmetro da partícula Vale destacar que, ao contrário do que ocorre com as colunas monolíticas e de partículas de núcleo fundido, há uma grande variedade de grupos químicos ligantes e de fabricantes das colunas com partículas porosas sub 2 μm disponíveis no mercado [10]. Em cotação realizada no primeiro semestre de 2011, a coluna da marca Waters (Acquity UPLC BEH C18, 100 x 2,1mm, 1,7 µm) foi cotada em R$ 3310,18. Já a coluna da marca Agilent (Zorbax C18, 100 x 2,1mm, 1,8 µm) foi cotada em R$ 975,00. Além das vantagens já relatadas, com partículas porosas sub 2 μm são obtidos picos com larguras na meia altura (W0,5) inferiores a 1 segundo, propiciando um aumento de 2 a 3 vezes na detectabilidade se comparada à propiciada por colunas convencionais [21]. Característica importante das colunas com partículas sub 2 µm é a limitação do diâmetro interno, que deve estar compreendido na faixa de 1,0 a 2,1 mm, a fim de minimizar o efeito frictional heating. Esse efeito é caracterizado pelo aquecimento dos solventes da fase móvel quando submetidos a altos valores de pressão, promovendo gradiente de temperatura ao longo da coluna e consequente redução da eficiência [9, 10, 23]. Outros problemas a serem destacados nesse tipo de coluna é a menor reprodutibilidade de empacotamento, o que é consequência da redução do tamanho das partículas, e o menor tempo de vida útil, que é consequência dos altos valores de pressão a que essas colunas são submetidas [9, 29]. A determinação de triancinolona e compostos relacionados em 1,5 minuto é um exemplo da aplicação das colunas porosas com partículas sub 2 μm em análises farmacêuticas. A análise foi conduzida em um UHPLC (Acquity UPLC®), coluna C18 78 2,1 x 50 mm, 1,7 μm, a 25 oC, utilizando fase móvel composta de ACN e água (40:60) e vazão variando de 0,5 a 0,6 ml/min [29]. 2 OBJETIVO ESPECÍFICO O objetivo do trabalho descrito nesse capítulo foi caracterizar fisicamente as colunas CV, MN, NF e Sub 2 μm utilizando os parâmetros volume morto, porosidade total, fator de retenção, seletividade e permeabilidade. 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Materiais 3.1.1 Insumos farmacêuticos ativos Os mesmos descritos no capítulo 1, item 3.1.1. 3.1.2 Solventes, reagentes e vidrarias Os mesmos descritos no capítulo 1, item 3.1.2. 3.1.3 Equipamentos e colunas cromatográficas Os mesmos descritos no capítulo 1, item 3.1.3. 3.2 Métodos 3.2.1 Estimativa do volume morto e porosidade total das colunas Volume morto de uma coluna cromatográfica representa o volume total de líquido que é capaz de ocupá-la, e está diretamente relacionado à porosidade [28]. Para estimá-lo injetaram-se, em triplicata, em todas as quatro colunas, solução de uracila (10 µg/ml em fase móvel). A fase móvel foi composta por ACN:solução de acetato de amônio 5 mM, pH 3,0 (50:50). A análise foi conduzida sob temperatura de 30 ºC, 79 vazão de 0,1 ml/min, volume de injeção de 1 μl e comprimento de onda de 254 nm. Utilizando o valor médio do tempo de detecção da uracila (tempo morto), o volume morto de cada coluna foi calculado por meio da equação (2.2) [30]. Vm V t 0 (2.2) Vm = volume morto, V = vazão da fase móvel, t0 = tempo morto A partir dos valores de volume morto foi possível estimar a porosidade total de cada coluna utilizando-se a equação (2.3) [28]. A porosidade representa o espaço livre total de uma coluna, e é composta pela porosidade externa (espaços vazios entre as partículas) e pela porosidade interna (espaços vazios dentro das partículas) [19]. Vm 3,14 rc L 2 (2.3) ε = porosidade total Vm = volume morto, rc = raio da coluna, L = comprimento da coluna 3.2.2 Avaliação da retenção e seletividade das colunas O fator de retenção (k) é o parâmetro utilizado para avaliação da retenção, que está relacionada à capacidade da coluna em manter as moléculas dos analitos retidas na fase estacionária. Já a seletividade (α) está relacionada à capacidade de separação de duas substâncias que eluem lado a lado [28]. A seletividade e o fator de retenção das colunas foram estimados em três fases móveis de forças eluotrópicas diferentes, utilizando como modelo os fármacos clorpropamida (CL), glibenclamida (GB), glimepirida (GM) e gliclazida (GZ). Para a execução do experimento foram utilizadas condições previamente estabelecidas: fase móvel composta por ACN e solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0; volume de injeção 2 µl; temperatura 30 oC; vazão de 0,2 ml/min e comprimento de onda 230 nm. 80 As três fases móveis utilizadas foram ACN: solução de acetato de amônio nas proporções 55:45, 50:50 e 45:55. Utilizando cada uma delas, injetou-se, em triplicata, solução contendo 100 μg/ml de cada um dos antidiabéticos e solução de uracila 10 μg/ml para determinação do tempo morto. O procedimento acima descrito foi executado nas quatro colunas cromatográficas. Para o cálculo do fator de retenção determinou-se o tempo de retenção médio de cada analito e o tempo morto médio, em cada uma das colunas, empregando-se cada uma das fases móveis. O cálculo foi realizado por meio da equação (2.4) [28]. k t r t0 t0 (2.4) k = fator de retenção, tr = tempo de retenção, t0 = tempo morto A seletividade (α) também foi determinada para cada uma das colunas e fases móveis experimentadas para os pares de analitos adjacentes. A equação (2.5) foi utilizada para realização dos cálculos [28]. k2 k1 (2.5) α = seletividade, k2 = fator de retenção do analito mais retido e k1 = fator de retenção do analito menos retido. 3.2.3 Estimativa da permeabilidade das colunas A permeabilidade (Kv0) das colunas foi determinada com o auxílio do gráfico de velocidade linear (u0) em função da pressão na coluna (∆Pc). A permeabilidade pode ser calculada por meio da equação (2.6), e a pressão da coluna e a velocidade linear são determinadas com auxílio das equações (2.7) e (2.8), respectivamente [6, 7]. 81 u 0 L Pc (2.6) Pc Pt Pec (2.7) u0 L / t 0 (2.8) K v0 Kv0 = permeabilidade, u0 = velocidade linear da fase móvel, η = viscosidade da fase móvel, L = comprimento da coluna, ∆Pc = pressão na coluna, ∆Pt = pressão total do sistema com a coluna, ∆Pec = pressão extracoluna (pressão do sistema na ausência da coluna), t0 = tempo morto Considerando-se u0 como variável independente (x) e ∆Pc como variável dependente (y), a seguinte transformação pode ser realizada na equação (2.6): K v0 u 0 L Pc K v0 x L y y x L K v0 A partir da relação matemática apresentada, conclui-se que a inclinação do gráfico u0 x ∆Pc pode ser escrita como: Inclinação L K v0 Portanto, Kv0 pode ser calculado com o auxílio da equação (2.9). K v0 L Inclinação (2.9) Para a execução dos experimentos de determinação de permeabilidade, método analítico desenvolvido para determinação dos antidiabéticos orais em coluna CV, e aqueles obtidos após transferência para as colunas MN, NF e sub 2 μm, foram 82 utilizados (Tabela 2.1). O desenvolvimento do método e a transferência para as outras colunas estão descritos no capítulo 1. Tabela 2.1 - Condições de análise para determinação de antidiabéticos nas diferentes colunas* Colunas Fase Móvel Vinj (μl) (nm) T (oC) Convencional ACN: Solução (50:50)** 2 230 30 Monolítica ACN: Solução (43:57)** 2 230 30 Núcleo Fundido ACN: Solução (50:50)** 2 230 30 Sub 2 μm ACN: Solução (53:47)** 2 230 30 * Foram utilizados loop de 10 μl, tubo de PEEK de 0,004 polegada e frequência de aquisição dos dados e constante de tempo do detector iguais a 20 Hz/0,1 s ** Solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0 As colunas foram submetidas a vazões crescentes utilizando as respectivas fases móveis e, para cada valor de vazão, um par de dados u0 x ∆Pc foi obtido. Para uma estimativa mais correta da permeabilidade, os valores de vazão máximos empregados em cada coluna foram aqueles que conduziram a valores de pressão próximos aos máximos suportados por cada uma (Tabela 2.2). A determinação da permeabilidade empregando vazões que geram pressões muito abaixo da máxima suportada pela coluna pode conduzir a uma estimativa da permeabilidade superior a real [27]. Tabela 2.2 - Pressões máximas suportadas pelas colunas e valores de vazão máximos empregados em cada coluna para determinação de Kv0 Coluna Pressão máxima (bar) Vazão limite (ml/min) Convencional 275 1,2 Monolítica 200 1,2 Núcleo Fundido 400* 1,0 Sub 2 μm 1034** 1,2 *Apesar de a coluna com partículas de núcleo fundido suportar 600 bar, o valor limite considerado será de 400 bar, já que a vantagem de sua utilização está no fato de ela propiciar uma boa eficiência cromatográfica sem a necessidade da utilização de equipamentos sob alta pressão do tipo UHPLC. **Apesar de a coluna com partículas sub 2 μm suportar 1200 bar, o valor limite considerado será de 1034 bar, ® valor máximo suportado pelo equipamento UPLC Acquity utilizado. Com as colunas conectadas ao sistema determinou-se a pressão total em cada vazão (∆Pt). Posteriormente a coluna foi substituída por um conector de volume morto desprezível, e novamente em cada valor de vazão determinou-se a pressão 83 extracoluna (∆Pec). Subtraindo-se a pressão total da extracoluna, conforme equação 2.7, determinou-se a pressão em cada coluna (∆Pc). Para cálculo de u0 foi necessária a determinação do tempo morto (t0) em cada uma das vazões, em cada uma das colunas, por meio da injeção de solução de uracila a 10 μg/ml. Dividindo-se o comprimento de cada coluna (L = 100 mm), pelo tempo morto (equação 2.8), foi possível calcular u0 em cada coluna e vazão. Os pares de valores u0 x ∆Pc relativos a cada coluna foram plotados. Fazendo-se uso do método dos mínimos quadrados realizou-se análise de regressão linear e os valores de inclinação dos gráficos foram determinados. Utilizando-se os valores de inclinação determinados, os valores tabelados de viscosidade da fase móvel de acordo com a proporção dos componentes orgânico e aquoso [30] e empregando-se o comprimento das colunas (L = 100 mm), os valores de permeabilidade das colunas foram calculados por meio da equação (2.9). 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Estimativa do volume morto e porosidade total das colunas Na Tabela 2.3 estão apresentados os valores estimados de volume morto e porosidade total das colunas. Tabela 2.3 - Volume morto e porosidade total das colunas Coluna Volume morto (μL) Porosidade (%) Convencional 221 64 Monolítica 261 83 Núcleo Fundido 208 60 Sub 2 μm 196 57 Encontra-se descrito na literatura que a porosidade de coluna monolítica é de cerca de 80% [1], portanto o valor encontrado, 83%, é coerente. Observa-se ainda que a coluna monolítica é aquela que apresenta maior volume morto (261 μl). Isso é 84 explicado pelo fato de a coluna mais porosa ser a que apresenta maior volume de espaços vazios que podem ser percorridos pela fase móvel. Na literatura foram descritos valores de porosidade em torno de 66% para coluna convencional [2] e de 63% para coluna com partículas sub 2 μm (Acquity®) [19]. Portanto, os valores encontrados (ε CV= 64% e ε sub 2 μm= 57%) estão próximos aos descritos. Considerando-se que nas partículas de núcleo fundido apenas a parte externa é porosa [13], pode-se afirma que a porosidade interna (espaços vazios dentro das partículas) é menor do que a presente nas partículas totalmente porosas de 5 e 2 μm. Entretanto, para se avaliar a porosidade total deve-se considerar também a porosidade externa (espaços vazios entre as partículas). Sabe-se que o aumento do diâmetro das partículas contribui para o aumento da porosidade externa [19]. Sendo assim, a maior porosidade total da coluna convencional em relação à coluna de núcleo fundido ( CV = 64% > ε NF = 60%), verificada experimentalmente, era esperada, já que as colunas com partículas totalmente porosas de 5 μm apresentam, além da maior porosidade externa, maior porosidade interna. Verificou-se também que a porosidade total da coluna com partículas de núcleo fundido foi superior àquela da coluna com partículas sub 2 μm ( sub2 NF = 60% > = 57%), o que não está de acordo com os resultados apresentados na literatura. Na literatura valores de ε = 56% (Poroshell® 2,7 μm) [18] e 51% (Halo® 2,7 μm) [19] foram descritos para colunas de núcleo fundido, e valores superiores (ε = 63%) foram relatados para colunas sub 2 μm. 4.2 Estimativa da retenção e seletividade das colunas 4.2.1 Retenção Para demonstrar o comportamento das colunas quanto à capacidade de retenção, está apresentado a seguir, na Figura 2.5, o gráfico que relaciona o percentual de 85 ACN na fase móvel e o fator de retenção da gliclazida. Os gráficos referentes aos outros fármacos apresentam o mesmo perfil e por isso não foram apresentados. 6 5 Sub 2 μm 4 k CV 3 2 NF 1 MN 0 40 45 50 55 60 % ACN Figura 2.5 - Relação entre a porcentagem de acetonitrila presente na fase móvel e a retenção (k) da gliclazida nas diferentes colunas Como todos os tipos de colunas em estudo possuem fases estacionárias do tipo C18 (fase reversa), é óbvio que o aumento do percentual de solvente orgânico na fase móvel, com consequente elevação da força eluotrópica, conduza à redução do fator de retenção [30]. Esse comportamento pode ser observado na Figura 2.5. Ainda analisando o gráfico da Figura 2.5 percebe-se que para uma mesma composição de fase móvel, o fator de retenção da gliclazida é maior na coluna de partículas sub 2 μm, seguida da coluna convencional, da coluna de partículas de núcleo fundido e, por último, da coluna monolítica. Portanto, a capacidade de retenção das colunas segue a ordem: Sub 2 μm > CV > NF > MN. Os resultados encontrados estão de acordo com o descrito na literatura. A menor retenção da coluna monolítica se deve à elevada porosidade e baixa densidade características dos monolitos [8]. Já a coluna empacotada com partículas de núcleo fundido apresenta menor retenção do que as colunas empacotadas com partículas sub 2 μm e partículas convencionais de 5 μm, porque, ao contrário dessas, as partículas de núcleo fundido não são totalmente porosas, o que reduz a superfície de contato e a interação com o analito. Por último, verificou-se que as colunas constituídas por partículas totalmente porosas (empacotadas com partículas de 5 μm e com partículas sub 2 μm) apresentaram maior capacidade de retenção, já que a 86 maior porosidade permite o estabelecimento de maior interação com os analitos. O menor tamanho das partículas sub 2 μm, em comparação com as partículas de 5 μm, contribui para maior uma superfície de contato e consequente maior interação da fase estacionária com os analitos, e explica a maior retenção das colunas com partículas sub 2 μm em relação a coluna convencional. 4.2.2 Seletividade Para demonstrar o comportamento das colunas quanto à seletividade está apresentado a seguir, na Figura 2.6, o gráfico no qual se relacionam o percentual de acetonitrila na fase móvel e a seletividade (α) do par de analitos gliclazida e glibenclamida, selecionado como modelo para apresentação dos resultados. É importante destacar que todas as quatro colunas possuem fase ligada do tipo C18. Os gráficos referentes aos outros pares de analitos adjacentes apresentam o mesmo perfil e por isso não foram apresentados. 2.20 Sub 2 μm NF 1.80 1.60 MN 1.40 CV α GB/GZ 2.00 1.20 40 45 50 55 60 % ACN Figura 2.6 - Relação entre a porcentagem de acetonitrila presente na fase móvel e a seletividade (α) do par GZ e GB nas diferentes colunas O gráfico apresentado na Figura 2.6 indica que o aumento do percentual de acetonitrila, com consequente elevação da força eluotrópica da fase móvel (já que se trata de cromatografia em fase reversa), conduz a uma pequena redução da seletividade em todas as colunas. Percebe-se também que para uma mesma composição de fase móvel, embora os valores encontrados sejam muito próximos, a seletividade segue a seguinte ordem: 87 α Sub 2 μm > α NF > α MN > α CV. A título de ilustração, para a fase móvel constituída de ACN:solução de acetato de amônio (50:50) os valores de seletividade são α 1,55; α MN = 1,59; α NF = 1,66; α Sub 2 μm CV = = 1,71. A pequena diferença de seletividade entre as colunas, todas de fase ligada C18, torna possível supor que os mecanismos que governam a separação nas quatro colunas sejam similares. 4.3 Estimativa da permeabilidade das colunas Há na Figura 2.7 o gráfico da variação de pressão (∆Pc) em função da velocidade linear da fase móvel (u0) para as quatro colunas. 100000000 Sub 2 μm ∆P c (Pascal) 80000000 60000000 NF 40000000 MN 20000000 CV 0 0.00E+00 4.00E-03 8.00E-03 u0 (m/s) Figura 2.7 - Relação entre u0 e ∆Pc nas diferentes colunas Os valores de inclinação dos gráficos, de viscosidade das fases móveis e do comprimento das colunas, utilizados para o cálculo da permeabilidade (Kv0) por meio da equação (2.8), estão relacionados na Tabela 2.4. Tabela 2.4 - Inclinação do gráfico das retas u0 x ∆Pc, viscosidade da fase móvel, comprimento e permeabilidade das colunas Coluna Inclinação η (Pascal.s) L (mm) Kv0 (m2) Convencional 2 x 109 0,00074 100 3,70 x 10-14 Monolítica 2 x 109 0,00080 100 4,00 x 10-14 Núcleo Fundido 8 x 109 0,00074 100 9,25 x 10-15 Sub 2 μm 1 x 1010 0,00072 100 7,20 x 10-15 88 Analisando-se os resultados da Tabela 2.4 verifica-se que a permeabilidade das colunas segue a seguinte ordem: Kv0 MN > Kv0 CV > Kv0 NF > Kv0 Sub2. A ordem encontrada e os valores de Kv0 são similares aos descritos na literatura e podem ser explicados com base nas características de cada coluna [6, 7, 27]. A maior permeabilidade apresentada pela coluna monolítica (Kv0 = 4,00 x 10-14 m2) deve-se à estrutura de macroporos, pelos quais a fase móvel passa sem grande resistência [1]. Na literatura, Kv0 = 6,00 x 10-14 m2 [6] e Kv0 = 8,00 x 10-14 m2 [7] foram descritos para coluna a monolítica Onyx®. Já a coluna empacotada com partícula totalmente porosa sub 2 µm foi a de menor permeabilidade (Kv0 = 7,20 x 10-15 m2). A despeito de a coluna ser totalmente porosa, o que contribuiria para aumentar permeabilidade, as partículas são muito pequenas (1,8 μm) e o que dificulta a passagem da fase móvel entre as partículas. Isso contribui para a menor permeabilidade desse tipo de coluna e explica a alta pressão que ela gera no sistema. Na literatura foram descritos valores de Kv0 iguais a 6,28 x 10-15 m2 para a coluna Zorbax SB® e 4,50 x 10-15 m2 para a coluna Acquity® [27]. Por outro lado, a coluna empacotada com partículas de núcleo fundido de 2,7 μm de diâmetro apresentou permeabilidade igual a 9,25 x 10-15 m2, valor intermediário entre as permeabilidades das colunas convencional (partícula totalmente porosa de 5 μm) e de partículas sub 2 μm (partícula totalmente porosa de 1,8 μm). A menor permeabilidade comparada à coluna convencional pode ser explicada pela estrutura parcialmente porosa e por possuir tamanho de partícula inferior (2,7 μm < 5 μm). Já a maior permeabilidade comparada à coluna de partículas sub 2 μm é explicada pelo maior tamanho de partícula (2,7 μm > 1,8 μm). Na literatura foram descritos valores de Kv0 para colunas de núcleo fundido iguais a 1,18 x 10-14 m2 (Kinetex® 2,6 μm), 1,02 x 10-14 m2 (Halo® 2,7 μm) e 0,99 x 10-14 m2 (Poroshell® 2,7 μm) [20]. 5 CONCLUSÃO As colunas foram caracterizadas segundo os seguintes parâmetros: volume morto, porosidade, retenção, seletividade e permeabilidade. Verificou-se que a coluna monolítica apresentou maior porosidade (83%), e consequentemente maior volume 89 morto, o que é justificável pela presença de uma estrutura de meso e macroporos. Já as outras três colunas apresentaram porosidades na faixa de 57% a 64%. Constatou-se que as colunas, todas de fase ligada C18, apresentaram seletividades similares, o que permite supor que os mecanismos que governam a separação nas quatro colunas sejam similares. A coluna monolítica apresentou a menor capacidade de retenção, em função da alta porosidade e menor interação dos analitos com a fase estacionária. Analisando-se as outras três colunas verifica-se que os fatores de retenção, apesar de maiores na coluna de partículas sub 2 μm, seguida da convencional e da empacotada com partículas de núcleo fundido, não foram muito diferentes. O último parâmetro avaliado foi a permeabilidade (Kv0). Os valores de permeabilidade das colunas em estudo estão de acordo com os descritos na literatura e seguem a seguinte ordem: Kv0 MN > Kv0 CV > Kv0 NF > Kv0 Sub2. É importante destacar que a permeabilidade da coluna está diretamente relacionada com a pressão que ela gera no sistema cromatográfico. Sendo assim, a menor permeabilidade da coluna empacotada com partículas sub 2 μm explica o fato de esse tipo de partícula gerar pressões na ordem de 1000 bar, justificando a necessidade do emprego de um equipamento de UHPLC. Já a maior permeabilidade das colunas monolíticas explica o fato de elas poderem ser submetidas a altos valores de vazão de fase móvel e mesmo assim poderem ser utilizadas em equipamento de HPLC que operam sob pressão máxima de 400 bar. 90 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] FARIA, A. M.; BOTTOLI, C. B. G.; JARDIM, C. S. F.; COLLINS, C. H. Fases estacionárias monolíticas para separações cromatográficas. Química Nova. v. 29, n.2, p. 300-309, 2006. [2] MISTRY, K.; GRINBERG, N. Application of Monolithic Columns in High Performance Liquid Chromatography. Journal of Liquid Chromatography and Related Technologies. v. 28, p. 1055-1074, 2005. [3] SIOUFFI, A. M. Silica gel-based monoliths prepared by the sol–gel method: facts and figures. 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New York: John Wiley & Sons, 1997. 765 p. 93 CAPÍTULO 3 OTIMIZAÇÃO DE PARÂMETROS INSTRUMENTAIS CROMATOGRÁFICOS 94 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 Efeitos extracoluna e a eficiência cromatográfica Equipamentos de HPLC não são capazes de operar sob pressão superior a 400 bar, e, portanto, são inadequados para análises com colunas empacotadas com partículas com diâmetro sub 2 μm. Essa limitação levou ao desenvolvimento de sistemas de UHPLC, que suportam pressão de aproximadamente 1000 bar. Além de bombas capazes de trabalhar em pressões superiores, sistemas de injeção, detecção e tubulação foram adaptados para que a eficiência das partículas sub 2 μm fosse aproveitada e para que houvesse redução do efeito extracoluna [1]. Atualmente, além de UHPLC, outros sistemas cromatográficos são empregados para separações rápidas (em inglês Rapid Resolution Liquid Chromatography, Ultra-Fast Liquid Chromatography, Rapid Separation Liquid Chromatography). Os equipamentos para execução da cromatografia rápida assemelham-se aos de HPLC, que suportam até 400 bar, porém apresentam redução dos efeitos extracoluna. As técnicas de cromatografia rápida são as mais adequadas para que colunas de alta eficiência, como a empacotada com partículas de núcleo fundido e a monolítica, que não geram altas pressões, possam ser usadas com sucesso, sendo desnecessária a utilização de cromatógrafos como UHPLC [2]. Do ponto de vista estatístico, a largura do pico cromatográfico é definida por meio da variância total (2 total), que corresponde à soma da variância da coluna (2 coluna) e da variância extracoluna (2 extracoluna). Portanto, a eficiência total de uma separação decorre da coluna (eficiência intrínseca) e de aspectos extracoluna [2]. A eficiência intrínseca da coluna é matematicamente definida pela equação de Van Deemter e envolve os termos A (difusão de Eddy), B (difusão longitudinal) e C (resistência à transferência de massa) [2]. Já os aspectos extracoluna podem ser divididos em dois tipos. O primeiro é de natureza volumétrica, chamado de volume extracoluna (ECV, do inglês extra-column volume) e está relacionado aos volumes de injeção, do detector e dos tubos de conexão. O segundo refere-se a eventos de tempo, como frequência de aquisição dos dados e constante de tempo do detector. 95 É importante destacar que a variância extracoluna também depende da vazão da fase móvel. O aumento da vazão, até determinado limite, contribui para o aumento da variância extracoluna. A partir da vazão na qual um fluxo turbulento é estabelecido, a variância extracoluna deixa de aumentar com a vazão. Os fatores responsáveis pelos efeitos extracoluna estão descritos na equação (3.1) e representados na Figura 3.1 [1, 2]. 2 2 2 2 2 extracolun a injetor det ector tubosec onexões eventosdeaquisiçãodosdados (3.1) Figura 3.1- Esquema de equipamento de HPLC - em vermelho, os fatores que contribuem para o efeito extracoluna – [2] Exemplos de volumes dos componentes típicos de equipamentos de HPLC e UHPLC estão apresentados no Quadro 3.1 [3,4]. Quadro 3.1 - Volumes dos componentes típicos de equipamentos de HPLC e UHPLC [Adaptado de 3,4] Descrição UHPLC Acquity® UPLC HPLC Agilent® 1100 Tubo de entrada 6,3 μl 17,7 μl Tubo de saída 2,3 μl 10,1 μl Volume do loop 2,0 μl 10,0 μl Assento capilar da agulha NA 3,7 μl Célula de fluxo do detector 0,5 μl 8,0 μl Volume extracoluna total (ECV)* 11,1μl 49,5 μl * Normalmente o ECV de UHPLC está próximo a 10 μL e de HPLC entre 30-50 μL [4]. 96 Em um sistema bem configurado a contribuição dos processos ocorridos fora da coluna deve ser desprezível, evitando-se a redução da eficiência de separação. É desejável que a variância extracoluna seja minimizada de forma que a redução do número de pratos teóricos em consequência do efeito extracoluna não exceda 10%, ou seja, a eficiência total deve ser no mínimo 90% da capacidade da coluna. A variância extracoluna máxima aceitável é definida pela equação (3.2) [3]. O valor, em porcentagem, que a eficiência total de uma análise (estimada na presença dos efeitos extracoluna) representa em relação à eficiência da coluna, é denominado eficiência remanescente (Er) e é calculada com o auxílio da equação 3.3 [5]. 2 ec max 0,10 2 coluna 0,10 2 Lrc 4 2 (1 k ) 2 N 2 coluna E r 100. 2 total 2ec max (3.2) (3.3) = variância extracoluna máxima aceitável, 2coluna = variância da coluna, L = comprimento da coluna, rc = raio da coluna, ε = porosidade da coluna, k = fator de retenção do analito, N = número de pratos teóricos, Er = eficiência remanescente, 2total = variância total Analisando a equação (3.2), percebe-se que para colunas com menor raio (menor rc) e mais curtas (menor L) a variância máxima aceitável é menor e, portanto, essas colunas são mais susceptíveis aos efeitos extracoluna. O mesmo raciocínio se aplica àquelas colunas empacotadas com partículas porosas sub 2 μm e de núcleo fundido, que apresentam maior eficiência (maior N). Além disso, a equação (3.2) indica que para analitos menos retidos (menor k) a variância extracoluna máxima aceitável é menor do que para os analitos mais retidos. A estimativa da 2extracoluna é feita a partir de pico obtido em um sistema cromatográfico sem coluna. As condições de análise devem ser similares às que seriam utilizadas para a análise cromatográfica (mesma fase móvel, vazão, volume de injeção). Todavia, no local da coluna, deve ser utilizado um conector com volume 97 morto desprezível. Deve-se injetar solução contendo um dos analitos de interesse ou, alternativamente, uracila ou acetona. A partir do pico registrado calcula-se o valor de tangenciando o pico nos pontos de inflexão até a linha de base (largura entre as tangentes na linha de base = 4) ou medindo-se a largura do pico na meia altura (largura do pico na meia altura = 2,354), como demonstrado na Figura 3.2 [2,4]. Figura 3.2 - Medida da largura na linha de base (4σ) e da largura na meia altura (2,354σ) [6] O valor de , calculado em unidade de tempo, deve ser multiplicado pela vazão, de maneira a se encontrar o valor de em unidade volumétrica. O quadrado do valor encontrado corresponde a 2extracoluna [2,4]. Para estimar o ECV do sistema cromatográfico deve-se multiplicar 4, medido em unidade de tempo, pela vazão empregada. Esse cálculo é apenas uma estimativa, já que parte-se do princípio de que toda 2extracoluna é advinda do ECV. De fato há também a contribuição dos eventos relacionados ao tempo, como frequência de aquisição dos dados e constante de tempo do detector. O valor real de ECV consiste na adição de todos os volumes do sistema: volumes de injeção, do tubo de PEEK do injetor a coluna, do tubo de PEEK da coluna ao detector, da célula de detecção, filtros de linha e demais conectores [4]. Há estratégias para reduzir os efeitos extracoluna de um sistema cromatográfico. A primeira delas é ajustar a condição de detecção: a constante de tempo do detector (t) deve ser suficientemente reduzida pelo fato de as larguras de base dos picos 98 serem estreitas (apenas poucos segundos); deve haver alta frequência de aquisição dos dados (F) para que sejam adquiridos dados suficientes em pouco tempo [7]. Em sistemas de UHPLC a frequência deve ser de no mínimo 20 Hz e a constante de tempo do detector 0,1 s [8]; em sistemas de HPLC a frequência deve ser de no mínimo 10 Hz e a constante de tempo do detector 0,3 s [7]. Outras estratégias são substituir a tubulação do equipamento por tubos de menor volume e reduzir os volumes de injeção da amostra e da cela do detector [7]. Normalmente, sistemas de HPLC apresentam variância extracoluna entre 40 e 60 μl2, enquanto que em sistemas de UHPLC a variância extracoluna encontra-se entre 4 a 10 μl2 [4]. Embora em sistemas de UHPLC a variância extracoluna seja reduzida, em se tratando de análise com colunas muito eficientes, pode haver perda de eficiência superior aos 10% aceitáveis [2]. Como exemplo cita-se estudo publicado em 2011, no qual foi verificada perda de 35% da eficiência em análise realizada utilizando sistema de UHPLC da Waters e coluna C18 - 50 × 2,1 mm, 1,7 μm [9]. Os resultados desse estudo confirmam que mesmo utilizando sistemas de reduzido volume extracoluna, como os de UHPLC, a perda de eficiência cromatográfica devido à variância extracoluna pode ser elevada quando colunas de alta eficiência são utilizadas. 2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Foram objetivos dessa etapa do trabalho: 1- Otimizar parâmetros instrumentais cromatográficos do equipamento de UHPLC visando à redução da variância extracoluna. 2- Investigar a influência da variância extracoluna na eficiência remanescente das colunas em estudo (convencional, sub 2 µm, núcleo fundido e monolítica), durante análise dos quatro antidiabéticos orais (clorpropamida, glibenclamida, glimepirida e gliclazida), procurando compreender como o tipo de coluna e os fatores de retenção dos analitos interferem no grau de influência da variância extracoluna na eficiência remanescente. 99 3- Verificar se os níveis dos parâmetros instrumentais otimizados com base na variância extracoluna (objetivo 1) são os ideais para garantir a maior eficiência remanescente durante análise dos antidiabéticos (objetivo 2). 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Materiais 3.1.1 Insumos farmacêuticos ativos Os mesmos descritos no capítulo 1, item 3.1.1. 3.1.2 Solventes, reagentes e vidrarias Os mesmos descritos no capítulo 1, item 3.1.2. 3.1.3 Equipamentos e colunas cromatográficas Os mesmos descritos no capítulo1, item 3.1.3. 3.1.4 Outros materiais Loops de 10 μl, 5 μL e 2 μl. Tubos de PEEK de diâmetro interno iguais a 0,004 polegada (0,1016 mm) e 0,0025 polegada (0,0635 mm) e 270 mm de comprimento. 3.2 Métodos 3.2.1 Otimização dos parâmetros instrumentais cromatográficos parte I: avaliação do efeito extracoluna Os parâmetros instrumentais cromatográficos submetidos à otimização, os níveis em que foram testados, bem como o desenho experimental univariado empregado para a realização da otimização, encontram-se descritos na Tabela 3.1. 100 Tabela 3.1 - Experimentos de otimização dos parâmetros instrumentais cromatográficos Experimento 1 Loop Experimento 2 Experimento 3 PEEK F/t 2 μl 0,004 polegada 10 Hz/0,4 s = 25 5 μl 0,0025 polegada 20 Hz/0,2 s = 100 10 μl 20 Hz/0,1 s = 200 40 Hz/0,1 s = 400 40 Hz/0,025 s = 1600 Parâmetros fixos Parâmetros fixos Parâmetros fixos PEEK: 0,004 polegada Loop: Escolhido no exp. 1 Loop: Escolhido no exp. 1 F/t: 20 Hz/0,1 s F/t: 20 Hz/0,1 s PEEK: Escolhido no exp. 2 Para decidir sobre o melhor nível de cada um dos parâmetros, a variância extracoluna (2extracoluna) e o volume extracoluna (ECV) foram estimados. No local da coluna foi inserido um conector com volume morto desprezível e injetou-se solução de uracila a 10 μg/ml, em vazões crescentes (de 0,02 a 0,6 ml/min). As condições de análise desenvolvidas para determinação simultânea de antidiabéticos orais em coluna convencional, descritas no Capítulo 1, foram utilizadas (fase móvel composta de ACN:solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0 (50:50), temperatura 30 oC e volume de injeção 2 μl). Para cada valor de vazão, a solução de uracila foi injetada em triplicata e a largura na meia altura média (w0,5) dos picos registrada. Para as estimativas da σ2extracoluna e do ECV as equações (3.4), (3.5), (3.6) e (3.7) foram utilizadas [4]. w0,5 2,354 (3.4) w0,5 / 2,354 (3.5) 2 2 extracolun a ( vazão) (3.6) ECV 4 vazão (3.7) 101 w0,5= largura na meia altura, σ = desvio padrão, σ2extracoluna = variância extracoluna, ECV = volume extracoluna 3.2.2 Otimização dos parâmetros instrumentais cromatográficos parte II: avaliação da eficiência cromatográfica remanescente Nessa segunda etapa loops de diferentes volumes e diferentes pares de frequência de aquisição dos dados (F) e constante de tempo do detector (t) foram avaliados. O diâmetro interno do tubo de PEEK que conecta a coluna ao detector não foi avaliado porque resultados descritos no item 4.1.2 deste capítulo demonstraram que os PEEKs testados (0,004 e 0,0025 polegada) pouco se diferenciaram em termos de σ2 extracoluna. Os volumes de loop foram avaliados nas quatro colunas. Foram realizadas três injeções de solução contendo 100 μg/ml dos antidiabéticos, conforme os métodos analíticos desenvolvidos no capítulo 1 (Tabela 3.2), empregando-se loops de 2 e 10 μl. O experimento foi realizado em vazões de 0,02 a 0,6 ml/min. Tabela 3.2 - Condições de análise para determinação de antidiabéticos nas diferentes colunas* Colunas Fase Móvel Vinj (μl) (nm) T (oC) Convencional ACN: Solução (50:50)** 2 230 30 Monolítica ACN: Solução (43:57)** 2 230 30 Núcleo Fundido ACN: Solução (50:50)** 2 230 30 Sub 2 μm ACN: Solução (53:47)** 2 230 30 *Utilizou-se PEEK de 0,004 polegada e F/t = 40 Hz/0,0025 s **Solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0 Para cada valor de vazão, em cada um dos loops e colunas, determinou-se, para os quatro antidiabéticos, a média da largura na meia altura (w0,5). Esse valor foi utilizado para a determinação da σ2total (equação 3.8). A σ2extracoluna, necessária para o cálculo da σ2coluna, foi estimada em cada valor de vazão, com loops de 2 e 10 μl, utilizando-se os métodos descritos na Tabela 3.2, substituindo-se a coluna por tubo de volume morto desprezível e injetando-se uracila (conforme descrito no item 3.2.1). Com os valores de σ2total e σ2extracoluna foi possível determinar σ2coluna. 102 2 total w0,5 vazão 2,354 2 2 2 2 coluna total extracolun a (3.8) (3.9) Em seguida, com os valores de σ2total e σ2coluna, calculou-se a eficiência remanescente (Er) por meio da equação 3.3 [5]. Já os parâmetros frequência de aquisição e constante de tempo do detector foram avaliados utilizando-se apenas a coluna de partículas sub 2 μm. Essa coluna foi escolhida porque, dentre as quatro em estudo, é a que, de acordo com dados da literatura, possui maior eficiência cromatográfica. Isso significa que a performance da coluna de partículas sub 2 μm é influenciada de forma mais significativa por aumentos da σ2extracoluna advindas de mudanças em F/t. O desenho experimental incluiu a injeção em triplicata de solução de antidiabéticos orais (100 μg/ml), seguindo método analítico desenvolvido para a coluna de partículas sub 2 μm descrito na Tabela 3.2, utilizando-se loops de 2 μl e PEEK de 0,004 di. Os seguintes pares de F/t foram avaliados: 10 Hz/0,4 s , 20 Hz/0,2 s, 20 Hz/0,1 s, 40 Hz/0,1 s e 40 Hz/0,025 s. O experimento foi realizado nas vazões de 0,15 ml/min e 0,6 ml/min. Para cada valor de vazão e par de F/t determinou-se a média da largura na meia altura (w0,5), a σ2total (equação 3.8) e a σ2coluna (equação 3.9), para os quatro antidiabéticos. A σ2extracoluna, necessária para o cálculo da σ2coluna, foi estimada conforme procedimento descrito no item 3.2.1, nas vazões de 0,15 e 0,6 ml/min, em todos os pares F/t. Em seguida, com os valores de σ2total e σ2extracoluna, calculou-se a eficiência remanescente (Er) por meio da equação 3.3 [5]. 3.2.3 Determinação do volume extracoluna real (ECV) O valor real do volume extracoluna, determinado após otimização dos parâmetros intrumentais cromatográficos, foi calculado somando-se os volumes dos seguintes componentes do equipamento Acquity® UPLC: tubo de PEEK de entrada, tubo de PEEK de saída, volume do loop e célula de fluxo do detector. 103 4. RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Otimização dos parâmetros instrumentais cromatográficos parte I: avaliação do efeito extracoluna Como já relatado, a proposta do presente trabalho foi otimizar parâmetros instrumentais cromatográficos do equipamento de UHPLC utilizado, visando à redução dos efeitos extracoluna. A redução desses efeitos implica no aumento da eficiência cromatográfica e possibilita que a efetiva capacidade cromatográfica das colunas seja aproveitada. O equipamento utilizado nesse trabalho já é fabricado visando à redução dos efeitos extracoluna. No entanto, análises utilizando colunas de alta eficiência e com diâmetro interno igual ou menor que 2,1 mm são extremamente susceptíveis aos efeitos extracoluna. Portanto, qualquer redução nesses efeitos pode ser significativa para aumentar a eficiência cromatográfica. Os resultados da otimização do volume do loop, do diâmetro interno do tubo de PEEK e da frequência de aquisição dos dados/tempo de constante de filtro, estão apresentados e discutidos a seguir. 4.1.1 Volume do loop O primeiro parâmetro avaliado foi o volume do loop. Na Figura 3.3 observa-se a relação entre vazão e variância extracoluna empregando-se loops de 2, 5 e 10 μl. σ2 extracoluna (µl2) 28.00 24.00 20.00 Loop 10 16.00 Loop 5 12.00 Loop 2 8.00 4.00 0.00 0.00 0.20 0.40 0.60 0.80 Vazão (ml/min) Figura 3.3 - Relação entre vazão e σ2extracoluna em análises com loops de 2, 5 e 10 μl 104 Analisando-se a Figura 3.3 percebe-se que a variância extracoluna diminui com a redução do volume do loop, o que já era esperado, uma vez que quanto menor o volume do loop, menor o ECV e, consequentemente, menor o alargamento do pico [7]. Os valores médios de ECV utilizando-se os loops de 10, 5 e 2 μl, estimados a partir dos dados do gráfico apresentado na Figura 3.3, são 18,55, 14,45 e 11,38 μl, respectivamente. Vale destacar que a pressão do sistema foi praticamente a mesma, independente do volume do loop utilizado. Sendo assim, como o loop de 2 μl propiciou menor efeito extracoluna, sem gerar aumento da pressão do sistema, foi selecionado e utilizado nas etapas seguintes. Ainda analisando a Figura 3.3 percebe-se que o aumento da vazão contribuiu para o aumento da variância extracoluna até determinado limite (cerca de 0,10 ml/min). A partir desse ponto observa-se uma tendência de a variância extracoluna se manter constante. Essa observação está de acordo com o descrito na literatura [1]. 4.1.2 Diâmetro interno da tubulação de PEEK no trajeto da coluna ao detector O segundo parâmetro avaliado foi o diâmetro interno (d.i.) da tubulação de PEEK que faz conexão da coluna ao detector. O gráfico da Figura 3.4 indica a relação entre vazão e variância extracoluna e o gráfico da figura 3.5 indica a relação entre vazão e pressão, ambos para análises realizadas com tubos de PEEK com diâmetros de 0,0025 e 0,004 polegada. σ2 extracoluna (µl2) 12.00 10.00 peek 0,004 8.00 peek 0,0025 6.00 4.00 0.00 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 Vazão (ml/min) Figura 3.4 - Relação entre vazão e σ2extracoluna em análises com PEEK de 0,0025 e 0,004 polegada de di 105 Pressão (bar) 1200 1000 800 peek 0,0025 600 peek 0,004 400 200 0 0.00 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 Vazão (ml/min) Figura 3.5 - Relação entre vazão e pressão em análises com PEEK de 0,0025 e 0,004 polegada de di Analisando-se a Figura 3.4 observa-se que o aumento da vazão contribuiu para o aumento da variância extracoluna até determinado limite (cerca de 0,1 ml/min). Além disso, percebe-se que com a redução do diâmetro interno do tubo de PEEK de 0,004 para 0,0025 polegada, houve ligeira diminuição da variância extracoluna. A redução observada ocorreu como consequência da redução do volume do sistema cromatográfico (menor ECV) [7]. Ressalta-se que a pequena diferença observada indica que, na prática, esse parâmetro não foi significativo para melhorar a variância extracoluna. Os valores de ECVmédio estimados foram 11,38 μl utilizando o PEEK de 0,0025 polegada e 11,62 μl para o PEEK de 0,004 polegada. Analisando-se o gráfico da Figura 3.5 percebe-se que o PEEK de 0,0025 polegada levou a um aumento significativo na pressão em relação ao de 0,004 polegada. São elucidativos os valores de pressão na vazão de 0,4 ml/min: a pressão quando da utilização do PEEK de 0,0025 polegada (848 bar) foi praticamente o dobro da verificada quando utilizou-se o PEEK de 0,004 polegada (453 bar). Assim, o PEEK de 0,004 polegada foi o selecionado para as análises posteriores, pois há um aumento insignificante da variância extracoluna em relação ao PEEK 0,0025 polegada e a pressão gerada é significativamente menor. 106 4.1.3 Frequência de aquisição dos dados (F) e constante de tempo do detector (t) Os últimos parâmetros avaliados foram a frequência de aquisição dos dados e a constante de tempo do detector (Figura 3.6). σ2 extracoluna (µl2) 35.00 30.00 10/0,4 25.00 20/0,2 20.00 20/0,1 15.00 40/0,1 10.00 5.00 0.00 0.00 40/0,025 0.20 0.40 0.60 0.80 Vazão (ml/min) Figura 3.6 - Relação entre vazão e σ2 extracoluna em análises com diferentes pares de F/t Analisando-se o gráfico da Figura 3.6 percebe-se que em vazões menores a frequência e a constante de tempo do detector praticamente não influenciaram na variância extracoluna. Entretanto, em análises mais rápidas, realizadas em vazões maiores, o aumento da frequência de aquisição dos dados e a redução da constante de tempo do detector, contribuíram para a diminuição da variância extracoluna. Esse comportamento pode ser explicado com base na teoria cromatográfica. Em vazões menores o sinal chega ao detector com uma velocidade menor, e, portanto, uma frequência de aquisição de dados menor é suficiente. Além disso, nessas condições a base dos picos cromatográficos não é muito estreita, o que justifica o fato de a constante de tempo do detector não precisar ser extremamente reduzida. Já em vazões maiores o sinal chega rapidamente ao detector, e se a frequência de aquisição não acompanhar a chegada desses dados ocorre o alargamento do pico cromatográfico. As bases dos picos são estreitas (poucos segundos), e por isso a resposta do detector deve ser rápida, ou seja, a constante de tempo deve ser suficientemente reduzida [10]. 107 Conforme verificado no gráfico da Figura 3.6, a variância extracoluna para os valores F/t de 10 Hz/0,4 s e 20 Hz/0,2 s são maiores que os valores de variância verificados para os outros três pares de F/t investigados, sobretudo em vazões maiores. A despeito de as diferenças dos valores de variância extracoluna serem pequenas nas análises realizadas com F/t de 20 Hz/0,1 s, 40 Hz/0,1 s e 40 Hz/0,025 s e serem menos influenciadas pela vazão, a maior frequência (40 Hz) e a menor constante de tempo do detector (σ2extracoluna média (0,025 s) levaram à menor variância extracoluna = 8,10 μl). Dessa forma, objetivando-se a máxima redução do efeito extracoluna, o par 40 Hz/0,025 s foi selecionado como o ideal. Concluindo, os seguintes níveis dos parâmetros instrumentais foram selecionados: loop de 2 μl, PEEK com d.i de 0,004 polegada, F de 40 Hz e t de 0,025 s. A variância extracoluna média, calculada a partir dos valores de variância extracoluna obtidos em cada vazão testada aplicando-se os parâmetros instrumentais cromatográficos otimizados foi igual a 8,10 μl2 e o ECVmédio igual a 11,33 μl. Esses valores estão próximos aos descritos na literatura para equipamentos de UHPLC: a variância extracoluna deve estar entre 4 e 10 μl2 e o ECV próximo a 10 μl [2,4]. 4.2 Otimização dos parâmetros instrumentais cromatográficos parte II: avaliação da eficiência cromatográfica remanescente A avaliação do efeito extracoluna como critério para seleção dos níveis ideais dos parâmetros instrumentais cromatográficos, descrita no item 4.1, é uma maneira indireta de otimizar a separação cromatográfica, uma vez que há uma relação inversa entre a variância extracoluna e a eficiência cromatográfica. A intensidade dessa relação pode variar em função do tipo de coluna e do fator de retenção dos analitos [6]. Por outro lado, a eficiência cromatográfica remanescente (Er) relacionase diretamente com a eficiência cromatográfica e também pode ser usada para a seleção dos níveis ideais dos parâmetros instrumentais cromatográficos. Os resultados da otimização do volume do loop e da frequência de aquisição (F) e tempo da constante de filtro (t) utilizando Er como critério, e discussões sobre como o tipo de coluna e o fator de retenção dos analitos interferem na intensidade da relação entre efeito extracoluna e a Er, estão apresentados a seguir. 108 4.2.1 Volume do loop Os resultados da eficiência remanescente em função da vazão dos antidiabéticos (CL, GZ, GB e GM), em loops de 2 e 10 μl, nas colunas CV (Figura 3.7), MN (Figura 3.8), NF (Figura 3.9), Sub 2 μm (Figura 3.10), estão representados a seguir. CL loop10 100 90 CL Loop 2 80 GZ Loop 10 Er (%) 70 60 GZ Loop 2 50 40 GB Loop 10 30 GB Loop 2 20 10 0 0.00 GM Loop 10 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 GM Loop 2 Vazão (ml/min) Figura 3.7 - Relação entre vazão e Er dos antidiabéticos em loops de 10 e 2 μl - Coluna CV CL loop10 100 90 CL Loop 2 80 GZ Loop 10 Er (%) 70 60 GZ Loop 2 50 GB Loop 10 40 30 GB Loop 2 20 10 0 0.00 GM Loop 10 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 GM Loop 2 Vazão (ml/min) Figura 3.8 - Relação entre vazão e Er dos antidiabéticos em loops de 10 e 2 μl - Coluna MN 109 100 CL loop10 90 CL Loop 2 80 70 GZ Loop 10 Er (%) 60 50 GZ Loop 2 40 GB Loop 10 30 GB Loop 2 20 10 0 0.00 GM Loop 10 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 GM Loop 2 Vazão (ml/min) Figura 3.9 - Relação entre vazão e Er dos antidiabéticos em loops de 10 e 2 μl - Coluna NF 100 90 CL loop10 80 CL Loop 2 Er (%) 70 60 GZ Loop 10 50 GZ Loop 2 40 GB Loop 10 30 20 GB Loop 2 10 0 0.00 GM Loop 10 0.10 0.20 0.30 0.40 0.50 0.60 GM Loop 2 Vazão (ml/min) Figura 3.10 - Relação entre vazão e Er dos antidiabéticos em loops de 10 e 2 μl - Coluna Sub 2 μm A análise dos resultados apresentados nas Figuras 3.7 a 3.10 permitem discutir a influência do volume do loop e fator de retenção dos analitos na eficiência remanescente das colunas em estudo. Analisando as curvas referentes a determinada coluna e a um mesmo volume de loop, percebe-se que quanto menor retenção do analito (k CL <k GZ <k GB <k GM) menor é a eficiência remanescente (Er CL < Er GZ < Er GB < Er GM). Para exemplificar: na Figura 3.7, referente à coluna convencional, na vazão de 0,3 ml/min, utilizando 110 loop de 10 μl, as eficiências remanescentes da CL, GZ, GB e GM foram de 67%, 82%, 91% e 93% respectivamente. Analisando as curvas de todas as colunas relativas a um mesmo volume de loop e mesmo analito verifica-se que a Er é menor na coluna sub 2 μm e aumenta sucessivamente nas colunas de núcleo fundido, monolítica e convencional. Exemplificando: utilizando o loop de 10 μl, na vazão de 0,3 ml/min, as eficiências remanescentes para a clorpropamida nas colunas sub 2 μm, NF, MN e CV foram de 12%, 44%, 60% e 67% respectivamente. A análise das curvas referentes a determinada coluna e a um mesmo analito permite observar que o aumento do volume do loop, o qual promove aumento da variância extracoluna (conforme demonstrado na Figura 3.3 - item 4.1.1), vem acompanhado da redução da Er. Por exemplo, na figura 3.9, observa-se que para a gliclazida, utilizando coluna de NF e vazão de 0,3 ml/min, as eficiências remanescentes foram de 92,51% quando se usou loop de 2 μl e de 64,58% no caso de loop de 10 μl. Analisando-se as curvas de determinada coluna e determinado analito, percebe-se que a influência do aumento do volume do loop, com consequente aumento da variância extracoluna (conforme demonstrado na Figura 3.3 - item 4.1.1), na redução da Er, é mais significativa na coluna de sub 2 μm, seguida das colunas NF, MN e CV. A título de exemplo, encontram-se relacionados a seguir, na Tabela 3.3, os valores de eficiência remanescente obtidos para a glibenclamida nas análises realizadas com as quatro colunas, vazão de 0,3 ml/min, loops de 2 e 10 μl, bem como a diferença entre os valores de Er quando os diferentes volumes de loop foram empregados. Tabela 3.3 - Er para a glibenclamida nas quatro colunas - vazão de 0,3 ml/min loop 2 μl loop 10 μl Er loop 2 μl - Er loop 10 μl Er Sub2 90% 71% 19% Er NF 93% 81% 12% Er MN 97% 90% 7% Er CV 91% 96% 5% 111 Nas curvas referentes a determinada coluna, percebe-se que a influência do aumento do volume do loop, com consequente aumento da variância extracoluna, na redução da Er, é mais significativa para analitos menos retidos. Nos dados apresentados a seguir referentes à Figura 3.10, para coluna sub 2 μm, loops de 2 e 10 μl, vazão de 0,3 ml/min, torna-se evidente esta observação (Tabela 3.4) Tabela 3.4 - Er dos antidiabéticos na coluna sub 2 μm - vazão de 0,3 ml/min loop 2 μl loop 10 μl Er loop 2 μl - Er loop 10 μl Er CL 67% 12% 55% Er GZ 80% 46% 34% Er GB 90% 71% 19% Er GM 92% 76% 16% Destaca-se ainda que os gráficos de vazão versus Er apresentam aspecto inverso aos gráficos de vazão versus σ2extracoluna. O aumento da vazão contribui para o aumento da σ2extracoluna (até determinado limite) e esse aumento σ2extracoluna resulta em redução da eficiência cromatográfica remanescente. Os resultados apresentados indicam que a influência negativa do aumento da variância extracoluna na eficiência cromatográfica, como resultado do aumento do volume do loop, foi maior para os analitos menos retidos (clorpropamida e gliclazida) e para as colunas mais eficientes (Sub 2 μm, NF). Os resultados obtidos estão de acordo com os da literatura [1, 6] e baseado neles confirma-se a escolha do loop de 2 μl descrito no item 4.1.1 como o ideal para garantir uma maior Er, ou seja, garantir uma melhor eficiência cromatográfica. 4.2.2 Frequência de aquisição dos dados (F) e constante de tempo do detector (t) Os resultados da eficiência remanescente (Er) em função de F/t, dos quatro antidiabéticos, na coluna de partículas sub 2 μm, estão apresentados a seguir. Nas Figuras 3.11 e 3.12 encontram-se os resultados referentes às análises realizadas nas vazões de 0,6 e 0,15 ml/min, respectivamente. Ë importante destacar que na abscissa dos gráficos não estão plotados os valores nominais de F/t (10 Hz/0,4 s, 112 20 Hz/0,2 s, 20 Hz/0,1 s, 40 Hz/0,1 s e 40 Hz/0,025 s) e sim o resultados da divisão entre F e t (10/0,4 = 25; 20/0,2= 100; 20/0,1= 200; 40/0,1= 400; 40/0,025 = 1600). 100 Er (%) 90 80 GM 70 GB 60 GZ 50 CL 40 30 0 400 800 1200 1600 Relação F/t Figura 3.11 - Relação entre F/t e Er dos antidiabéticos - Vazão de 0,6 ml/min 100 Er (%) 90 80 GM 70 GB 60 GZ 50 CL 40 30 0 400 800 1200 1600 Relação F/t Figura 3.12 - Relação entre F/t e Er dos antidiabéticos - Vazão de 0,15 ml/min Os gráficos apresentados nas Figuras 3.11 e 3.12 trazem informações acerca da influência da relação entre F/t, fator de retenção dos analitos e vazão da fase móvel na eficiência cromatográfica remanescente. Analisando-se os gráficos percebe-se que o aumento da relação F/t, com consequente redução da σ2extracoluna (conforme demonstrado na Figura 3.6 - item 4.1.3), vem acompanhado do aumento da Er. Para exemplificar, no gráfico da Figura 3.11, referente à gliclazida, vazão de 0,6 ml/min, as eficiências remanescentes encontradas nas relações F/t de 25 e 1600 foram 53% e 80% respectivamente. 113 Analisando as curvas referentes a um mesmo analito, nas Figuras 3.11 e 3.12, percebe-se que a influência do aumento da relação F/t no aumento da Er é mais significativa em vazões maiores, o que pode ser evidenciado nos dados apresentados na Tabela 3.5 referentes à clorpropamida. Tabela 3.5 - Er da clorpropamida em diferentes vazões e relações F/t Er CL 25 Er CL 1600 Er CL 1600 - Er CL 25 Vazão 0,6 ml/min 34% 66% 32% Vazão 0,15 ml/min 56% 58% 2% Analisando as curvas dos quatro analitos em uma mesma vazão, percebe-se que a influência do aumento da relação F/t, com consequente redução da σ2extracoluna, no aumento da Er, é mais significativa para analitos menos retidos. Para exemplificar, encontram-se apresentados na Tabela 3.6 os dados observados no gráfico da Figura 3.11. Tabela 3.6 - Er dos antidiabéticos em diferentes relações F/t - vazão de 0,6 ml/min Er CL 25 Er CL 1600 Er CL 1600 - Er CL 25 Er CL 34% 66% 32% Er GZ 53% 80% 27% Er GB 74% 90% 16% Er GM 74% 90% 16% Os resultados são compatíveis com os descritos na literatura [1] e permitem concluir que a eficiência da clorpropamida, analito menos retido, é mais susceptível aos efeitos do aumento da σ2extracoluna em consequência da redução da relação F/t. Além disso, em vazões baixas, que geram picos mais largos, a influência da relação F/t é negligenciável, tornando-se importante em altas vazões, sendo necessário o aumento da relação F/t para que não haja perda significativa da eficiência. Considerando as discussões acerca dos gráficos apresentados nas Figuras 3.11 e 3.12 confirma-se a escolha da frequência de 40 Hz e da constante de tempo do detector de 0,025 s, selecionadas anteriormente no item 4.1.3, como as ideais para garantir um melhor desempenho cromatográfico. 114 Vale destacar que o aumento da relação F/t, apesar de contribuir para diminuir a variância extracoluna, leva também à redução da relação sinal/ruído (S/R) [6]. Entretanto, analisando a relação S/R dos picos dos antidiabéticos, verificou-se que mesmo com uma frequência elevada (40 Hz) e uma constante de tempo do detector reduzida (0,025 s), as relações S/R, em todas as vazões testadas, foram superiores a 10, relação mínima recomendada para uma análise quantitativa exata e precisa segundo a RDC 899 [11]. 4.3 Cálculo do volume extracoluna (ECV) real Os volumes dos componentes do equipamento de UHPLC (desde a injeção até a detecção), que dão origem ao volume extracoluna, estão descritos na Tabela 3.7. Tabela 3.7 - Volumes estimados dos componentes do equipamento de UHPLC (Acquity®) e volume extracoluna Fonte Volume (μl) Tubo de entrada 5,0 Tubo de saída 2,2 Volume do loop 2 Célula de fluxo do detector 0,5 Volume extracoluna 9,7 5 CONCLUSÃO Conclui-se que os melhores níveis de parâmetros instrumentais cromatográficos, selecionados por meio da análise dos menores valores de variância extracoluna, e confirmados por meio de análises da eficiência cromatográfica remanescente, foram: loop de 2 μl, PEEK de 0,004 polegada de diâmetro interno e frequência de aquisição dos dados/constante de tempo do detector de 40 Hz/0,025 s. A influência negativa da 2extracoluna na eficiência cromatográfica foi maior para a clorpropamida e gliclazida (analitos menos retidos) e quando colunas mais eficientes (sub 2 μm e núcleo fundido) foram empregadas. Em condições de elevada 2extracoluna (baixa relação F/t, elevado volume de loop), os valores de Er da clorpropamida e 115 gliclazida nas colunas de núcleo fundido e de partículas sub 2 μm variaram entre 20 e 60%, o que significa que foram bem inferiores aos 90% recomendados. Entretanto, após a otimização e consequente redução da 2extracoluna (alta relação F/t, reduzido volume de loop), houve uma melhora significativa: os valores de Er da clorpropamida e gliclazida nas colunas de núcleo fundido e de partículas sub 2 μm passaram a ficar entre 70 e 80% e portanto mais próximos ao ideal valor de 90%. Apesar de menos significativa, a melhora da 2extracoluna também contribuiu para o aumento da eficiência remanescente durante a análise dos analitos mais retidos (glibenclamida e glimepirida) nas colunas convencional e monolítica. Após redução da 2extracoluna, os valores de Er da glibenclamida e glimepirida nas colunas convencional e monolítica passaram de aproximadamente 90% para 95%. Portanto, a otimização do sistema cromatográfico foi essencial para permitir que a performance das colunas cromatográficas, em especial das colunas empacotadas com partículas sub 2 µm e com partículas de núcleo fundido, fosse bem aproveitada, apesar das limitações relacionadas à instrumentação e às próprias colunas. Por último, vale destacar que o volume extracoluna estimado, calculado por meio da soma dos volumes dos componentes do equipamento de UHPLC Acquity UPLC ®, foi igual a 9,7 μL e está de acordo com o valor próximo a 10 μL previsto na literatura [2,4]. 116 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] FOUNTAIN, K. J.; NEUE, U. D.; GRUMBACH, E. S.; DIEHL, D. M. Effects of extra-column band spreading, liquid chromatography system operating pressure, and column temperature on the performance of sub-2μm porous particles. Journal of Chromatography A. v. 1216, p. 5979-5988, 2009. [2] NETO, A. J. S. Como obter maior eficiência com partículas superficialmente porosas em HPLC. Scientia Chromatographica, v. 3, n.1, p. 65-87, 2011. [3] BRADLEY, A. C.; WELCH, C. J.; ZHANG, L. Effect of extra-column volume on practical chromatographic parameters of sub-2-μm particle-packed columns in ultrahigh pressure liquid chromatography. Journal of separation science. v. 35, p. 20182025, 2012. [4] HOW TO MEASURE AND REDUCE HPLC EQUIPMENT EXTRA COLUMN VOLUME. Disponível em: <http://www.mac-mod.com/pdf/MMA084-ReduceECV_ MM_Singles.pdf>. Acesso em: 20 de agosto de 2012. [5] FEKETE, S.; FEKETE, J. The impact of extra-column band broadening on the chromatographic efficiency of 5 cm long narrow-bore very efficient columns. Journal of Chromatography A. v. 1218, p. 5286-5291, 2011. [6] MAJORS, R. E. Are You Getting the Most Out of Your HPLC Column? LCGC North america. v. 21, n. 12, p.1124-1133, 2003. [7] AMPARO, M. R.; FRANZINI, C. D.; SCHIAVON, B.; CARVALHO, L. S.; de, NETO, A. J. S. Influência dos parâmetros instrumentais sobre o desempenho de coluna de HPLC com partículas superficialmente porosas sub-3 μm. Scientia Chromatographica. v. 3, n. 2, p.51-66, 2011. [8] GUIDELINES FOR THE USE OF UHPLC INSTRUMENTS. Disponível em: <http://www.unige.ch/sciences/pharm/fanal/lcap/Guidelines%20for%20the%20use%2 0of%20UHPLC%20instruments%20-%20site%20WEB%20labo.pdf>. Acesso em: 20 de Novembro de 2012. [9] FEKETEA, S.; GANZLER, K.; FEKETE,J. Efficiency of the new sub-2_m core– shell (KinetexTM) column in practice, applied for small and large molecule separation. Journal of Pharmaceutical and Biomedical Analysis. v. 54, p. 482-490, 2011. [10] MCCALLEY, D. V. Instrumental considerations for the effective operation of short, highly efficient fused-core columns. Investigation of performance at high flow rates and elevated temperatures. Journal of Chromatography A. v. 1217, p. 45614567, 2010. [11] BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RE n o. 899, de 29 de Maio de 2003. Guia para validação de métodos analíticos e bioanalíticos. Diário Oficial da União, Brasília, DF, Poder Executivo, de 02 de Junho de 2003c. 117 CAPÍTULO 4 AVALIAÇÃO E COMPARAÇÃO QUALITATIVA DA EFICIÊNCIA DE COLUNAS CROMATOGRÁFICAS 118 1 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 1.1 Curvas de Van Deemter e de Knox Tradicionalmente, colunas cromatográficas são caracterizadas e comparadas por meio de suas respectivas curvas de Van Deemter, nas quais se plota a altura do prato teórico (H) em função da velocidade linear da fase móvel (u0). A obtenção da curva (H x u0) permite relacionar o alargamento do pico cromatográfico e a vazão da fase móvel e determinar a velocidade linear (diretamente relacionada à vazão da fase móvel) na qual a altura do prato teórico (diretamente relacionada ao alargamento do pico) é mínima, ou seja, velocidade na qual a eficiência da coluna é máxima. A altura mínima do prato teórica é abreviada como Hmin e a velocidade linear ótima é abreviada como u0 otm. Um prato teórico representa uma etapa de equilíbrio do soluto entre as fases móvel e estacionária. Dessa maneira, a altura de um prato teórico está relacionada ao comprimento da coluna necessário para que ocorra o equilíbrio. Quanto menor a altura do prato, mais estreita será a largura de uma banda cromatográfica e maior a eficiência [1,2, 3]. A curva de Van Deemter é regida pela equação (4.1): H A B C u0 u0 (4.1) H = altura do prato teórico, A = coeficiente de difusão de Eddy, B = coeficiente de difusão longitudinal, C = coeficiente de resistência à transferência de massa, u0 = velocidade linear da fase móvel. Altos valores do termo A (coeficiente de difusão de Eddy) ocorrem em colunas que não são bem empacotadas, o que resulta na presença de caminhos múltiplos e, consequentemente, na difusão axial do soluto e alargamento do pico (Figura 4.1). Quanto menor o diâmetro das partículas, menor é a possibilidade de formação de caminhos múltiplos e menor é o coeficiente A. O termo A independe da velocidade linear da fase móvel [4]. 119 Figura 4.1 - Efeito da difusão de Eddy (A) no alargamento do pico [3] Altos valores do termo B (coeficiente de difusão longitudinal) ocorrem em vazões baixas da fase móvel (baixa velocidade linear) e quando um soluto de alto coeficiente de difusão é analisado. Nessas condições a difusão longitudinal do soluto aumenta, o que resulta em alargamento do pico (Figura 4.2) [4]. Figura 4.2 - Efeito da difusão longitudinal (B) no alargamento do pico [3] Já o termo C (coeficiente de resistência à transferência de massa) diz respeito à resistência à transferência de massa do analito entre as fases estacionária e móvel (Figura 4.3) e está relacionado à taxa de sorção/dessorção ou difusão do soluto entre as fases. Fenômenos como a estagnação da fase móvel entre os poros da fase estacionária, diferentes velocidades de transferência do analito ao longo da coluna e baixa dessorção e/ou difusão do analito contribuem para o aumento do termo C e consequente alargamento do pico. Fatores que colaboram para a elevação do termo C são o aumento da velocidade linear, do tamanho das partículas da fase estacionária e a diminuição do coeficiente de difusão do analito [4]. 120 Figura 4.3 - Efeito da resistência à transferência de massa (C) no alargamento do pico [3] A relação entre a altura do prato teórico e os termos A, B e C, em função da velocidade linear da fase móvel, é demonstrada na Figura 4.4. A soma da influência desses coeficientes resulta na curva de Van Deemter [4]. Figura 4.4 - Contribuição dos termos A, B e C na obtenção da curva de Van Deemter [5] Além das tradicionais curvas de Van Deemter, as chamadas curvas de Knox, construídas a partir dos parâmetros H e u0 na forma reduzida, representados como h e v, também podem ser utilizadas para fins de comparação do desempenho de colunas. Essas curvas permitem a comparação das colunas eliminando a 121 variabilidade proporcionada pelos diferentes tamanhos de partículas das colunas e coeficientes de difusão dos analitos, e são regidas pela equação de Knox (equação 4.2). A maior eficiência cromatográfica ocorre no menor valor de h (hmin), e a velocidade linear reduzida ótima na qual hmin ocorre é abreviada como v0 opt. Baixos valores de hmin estão relacionados a um empacotamento de alta qualidade. Para o cálculo dos parâmetros reduzidos h e v aplicam-se as equações (4.3) e (4.4) [6]. 1 3 h Av Bv Cv h H dp v u0 d p Dm (4.2) (4.3) (4.4) A = coeficiente de difusão de Eddy, B = coeficiente de difusão longitudinal, C = coeficiente de resistência à transferência de massa, h = altura do prato teórico reduzido, v = velocidade linear da fase móvel reduzida, u0 = velocidade linear da fase móvel, H = altura do prato teórico, dp = diâmetro da partícula, Dm = coeficiente de difusão do analito Os formatos das curvas de Van Deemter e de Knox são influenciados pelo fator de retenção do analito (k), já que os termos B e C de ambas dependem de k. Assim, para comparação de duas ou mais colunas por meio de suas respectivas curvas de Van Deemter ou Knox, o analito deve possuir fatores de retenção similares nas colunas em estudo. Para tanto se faz necessário ajustar a composição da fase móvel em cada coluna para garantir valores de k similares. É importante destacar que o ajuste na composição da fase móvel introduz alterações em termos de viscosidade da fase móvel e difusão do analito, fatores que também interferem no formato das curvas de Van Deemter [7]. 122 1.2 Características das curvas de Van Deemter e de Knox das colunas MN, NF e Sub 2 μm 1.2.1 Coluna monolítica As colunas monolíticas de sílica de primeira geração apresentam altura de prato na faixa de 5 a 20 μm, e muitas vezes, a eficiência é comparável às de colunas convencionais com partículas porosas de diâmetro entre 3,5-5 μm [8,9]. Por outro lado, a eficiência das colunas monolíticas é inferior à de colunas empacotadas com partículas de núcleo fundido e empacotada com partículas porosas sub 2 μm. Essas observações podem ser ilustradas nas curvas de Van Deemter do etilbenzeno (Figura 4.5), nas quais verifica-se que Hmin sub 2 μm = 4 μm < Hmin NF = 5 μm < Hmin MN = 8 μm = Hmin CV = 8 μm. As condições de análise são fase móvel ACN:água (70:30) e volume de injeção de 0,6 μl [10]. Figura 4.5 - Curvas de Van Deemter em quatro diferentes colunas obtidas para o etilbenzeno [10] Comparando-se as curvas de Van Deemter referentes às colunas convencional e monolítica, apresentadas na Figura 4.5, percebe-se que a curva da coluna monolítica é menos inclinada após o ponto mínimo. Significa que monolitos de sílica exibem menores valores do termo C do que a coluna convencional, e, portanto, maiores valores de vazão podem ser usados, propiciando análises mais rápidas com menor perda de eficiência [11]. Esse comportamento pode ser explicado pela 123 natureza porosa do monolito de sílica, que propicia uma aprimorada transferência de massa do analito entre as fases estacionária e móvel. Outra vantagem dessa estrutura porosa e altamente permeável é a geração de valores de pressão baixos, compatíveis com equipamento de HPLC [12]. Em trabalho publicado em 2004, verificou-se que coluna monolítica C18 (Chromolith®) foi comparável em termos de seletividade, reprodutibilidade e eficiência à coluna particulada totalmente porosa de 3 μm, C18 (YMC®). A pressão produzida em coluna monolítica foi 3,5 vezes menor que a produzida pela coluna particulada, e a retenção foi 3,5 vezes menor. O fator de cauda obtido com a coluna monolítica foi maior, entretanto aceitável [13]. Além desse, outro estudo também destaca a tendência das colunas monolíticas (em especial as de primeira geração) de gerar picos mais assimétricos, principalmente durante a análise de substâncias básicas [14]. 1.2.2 Coluna empacotada com partículas de núcleo fundido As partículas de núcleo fundido são constituídas por um núcleo sólido, normalmente de 1,7 µm de diâmetro, e uma camada porosa, normalmente de 0,5 µm, pela qual ocorre o processo de difusão do analito. O menor caminho de difusão (0,5 µm), quando comparado ao caminho de difusão presente nas partículas totalmente porosas, facilita a transferência de massa e reduz o caminho intra partícula, o que contribui para a redução do termo C (coeficiente de resistência à transferência de massa) da equação de Van Deemter. A redução do coeficiente C minimiza o alargamento dos picos, contribuindo para o aumento da eficiência, e é especialmente importante em elevados valores de vazão da fase móvel, condição que favorece o aumento do termo C [15]. Outra característica a ser destacada em colunas com partículas de núcleo fundido, quando comparada às partículas totalmente porosas, é a distribuição mais homogênea do tamanho das partículas no leito cromatográfico. Acredita-se que a maior aspereza da superfície das partículas de núcleo fundido seja essencial para a obtenção do leito cromatográfico mais homogêneo [16]. Como consequência há menos caminhos múltiplos, o que diminui a difusão axial do analito. O resultado é a 124 redução do termo A (coeficiente de difusão de Eddy) da equação de Van Deemter, o que minimiza o alargamento dos picos e contribui para o aumento da eficiência [15]. Os pequenos valores de hmin, (entre 1,5 e 4,0 μm) descritos na literatura para colunas com partículas de núcleo fundido evidenciam a qualidade do leito cromatográfico desse tipo de coluna [17]. Em trabalho de revisão publicado em 2011 foi relatado que em colunas com partículas de núcleo fundido também há a redução da difusão longitudinal, ou seja, redução do coeficiente B da equação de Van Deemter [16]. Esse comportamento é decorrente do fato de aproximadamente 20% do volume da coluna ser ocupado por uma sílica não porosa pela qual o analito não pode se difundir [17]. Resumindo, pode-se dizer que a melhora na eficiência cromatográfica verificada nas colunas empacotadas com partículas de núcleo fundido, quando comparada às colunas empacotadas com partículas totalmente porosas convencionais, é consequência da redução dos termos A, B e C da equação de Van Deemter [16]. Analisando-se as curvas de Van Deemter referentes ao etilbenzeno (Figura 4.5), observa-se o aumento da eficiência já que Hmin NF = 5 μm < Hmin CV = 8 μm [10]. Em levantamento bibliográfico valores de Hmin entre 3 e 11 μm foram relatados para análises em colunas de núcleo fundido de diferentes marcas [17]. Vale destacar que a redução do termo C justifica o fato de as curvas de Van Deemter referentes às colunas de núcleo fundido serem menos inclinadas do que as curvas das colunas com partículas porosas convencionais. Em colunas de partículas de núcleo fundido, ao contrário do que acontece nas convencionais, verifica-se que mesmo com o aumento da velocidade linear da fase móvel não há perda significativa de eficiência, ou seja, não há aumento representativo de H. Sendo assim, utilizandose colunas com partículas de núcleo fundido, é possível a realização de análises rápidas, com elevada velocidade linear da fase móvel, sem perda significativa de eficiência. Além disso, deve-se lembrar de que as pressões geradas pelas colunas com partícula de núcleo fundido são compatíveis com HPLC [16]. Estudos têm sido realizados atualmente com o objetivo de comparar as colunas de partículas de núcleo fundido com aquelas empacotadas com partículas porosas sub 125 2 µm. Em 2008 um estudo foi realizado utilizando-se como modelo um método analítico para separação de torcetrapibe e impurezas. Comparada com a coluna de partícula porosa sub 2 µm, a de núcleo fundido atingiu 80% da eficiência e gerou aproximadamente a metade da pressão [10]. 1.2.3 Coluna empacotada com partículas sub 2 μm As colunas com partículas totalmente porosas de diâmetro inferior a 2 μm apresentam características que permitem análises rápidas e eficientes [18]. O pequeno diâmetro das partículas (dp) contribui para a redução dos termos A e C da curva de Van Deemter, o que minimiza o alargamento dos picos e aumenta a eficiência (redução da altura do prato teórico H) [4]. A redução do termo A como resultado da redução do tamanho das partículas ocorre porque o empacotamento de partículas menores gera menos espaços vazios dentro do leito cromatográfico. Como consequência há menos caminhos, o que reduz a difusão de Eddy das moléculas do soluto por entre a fase estacionária [4]. Já a redução do termo C, também como consequência da redução do tamanho das partículas, é explicada pelo fato de o menor diâmetro das partículas corresponder a um menor caminho percorrido pelo analito na fase estacionária, facilitando a transferência de massa do analito entre as fases estacionária e móvel [4]. Apesar das vantagens relatadas, a redução do diâmetro das partículas vem acompanhada do aumento da pressão do sistema cromatográfico, já que a pressão gerada é inversamente proporcional ao quadrado do diâmetro das partículas. Sendo assim faz-se necessário a utilização de sistemas cromatográficos denominados UHPLC, que suportam valores de pressões na ordem de 1000 bar [16,18]. Analisando-se o formato típico de uma curva de Van Deemter relativa à coluna de partículas sub 2 μm (Figura 4.5), observa-se que de maneira similar ao que ocorre com as colunas de núcleo fundido, o aumento da velocidade linear da fase móvel não implica em perda significativa da eficiência, ou seja, não há aumento significativo de H. É importante destacar que esse comportamento, que é consequência da redução do termo C, é mais pronunciado nas colunas com 126 partículas sub 2 μm do que nas colunas com partículas de núcleo fundido. Além disso, a eficiência cromatográfica gerada por colunas com partículas sub 2 μm é superior à gerada por colunas com partículas de núcleo fundido, o que é evidenciado comparando-se os valores de Hmin do etilbenzeno (Figura 4.5): Hmin NF = 5 μm > Hmin Sub 2 μm = 4 μm [10]. Segundo dados da literatura, valores de Hmin entre 3 e 7 μm foram encontrados para colunas com partículas sub 2 μm de diferentes marcas [17]. Encontram-se na literatura várias publicações relacionadas ao emprego de coluna sub 2 µm e comparando-a com outras colunas. Exemplo é a análise de extrato de raiz de gengibre por HPLC (coluna C18 - 2,1 x 100 mm - 5 µm) e por UHPLC (coluna C18 - 2,1 x 100 mm - 1,7 µm). Foi verificado que o uso de UHPLC resultou em aumento da resolução, da velocidade de análise, e melhora na detectabilidade [18]. 1.3 Gráficos de performance cinética Quando apenas colunas cromatográficas empacotadas eram utilizadas, elas podiam ser comparadas a partir de seus respectivos valores de altura do prato teórico (H) ou prato teórico reduzido (h). Entretanto, com a introdução de colunas monolíticas, poliméricas e outras com diferentes formas e tamanhos, que apresentam maior permeabilidade e menor resistência ao fluxo, a comparação em função dos valores mínimos de H e h deixou de ser suficiente. Analisando as equações de Van Deemter e de Knox verifica-se que a permeabilidade do leito cromatográfico não é um fator considerado, e, portanto, informações sobre resistência ao fluxo e a possibilidade de se utilizar altos valores de vazão e/ou colunas de maior comprimento não são consideradas [19]. Para minimizar o problema que emergiu com a evolução das colunas cromatográficas, pesquisadores passaram a avaliar a altura do prato teórico (H) e o coeficiente de permeabilidade (Kv0) para comparação entre colunas. Entretanto, tornou-se difícil avaliar simultaneamente os dois parâmetros. Além disso, nenhum desses parâmetros trazia informação acerca do tempo de análise [19]. Na tentativa de correlacionar permeabilidade do leito cromatográfico, eficiência cromatográfica e tempo de análise, Poppe e colaboradores propuseram a 127 elaboração de um gráfico de performance cinética (do inglês Kinetic Performance Plot) do tipo (N x t0). Entretanto, a construção desse gráfico envolvia a utilização de algoritmos e cálculos matemáticos, o que limitou a sua aplicabilidade [19,20]. Em 2005, Desmet e colaboradores desenvolveram fórmulas matemáticas simples para a construção do gráfico de performance cinética (N x t0), anteriormente proposto por Poppe. Para a construção desse gráfico faz-se necessário aplicar às colunas cromatográficas valores crescentes de vazão da fase móvel. Para cada valor de vazão testado um par de valores (u0 x H) é calculado (equações 4.5 e 4.6). Posteriormente, fazendo-se uso dos pares de valores u0 e H e dos valores de viscosidade da fase móvel, permeabilidade do leito cromatográfico e pressão máxima suportada por cada coluna, os pares de valores (N x t0) são calculados utilizando-se as equações (4.7) e (4.8) e, em seguida, plotados (Figura 4.6) [19]. H L N (4.5) u0 L k 1 tr (4.6) N t0 Pmax Pmax Kv0 u0 H Kv0 u0 (4.7) (4.8) 2 H = altura do prato teórico, L = comprimento da coluna, N = número de pratos teóricos, u0 = velocidade linear da fase móvel, tr = tempo de retenção, k = fator de retenção, ΔPMax = pressão máxima suportada pelo sistema, η = viscosidade da fase móvel, Kv0 = permeabilidade da coluna, u0 tempo morto = velocidade linear da fase móvel, t0 = 128 Figura 4.6 - Gráfico de performance cinética (N x t0) [19] As equações (4.5) e (4.6) transformam valores experimentais H e u0 em um número projetado de pratos teóricos (N) e tempo morto (t0) que seriam obtidos caso a coluna cromatográfica em estudo tivesse um comprimento tal que permitisse que a pressão máxima suportada por ela fosse alcançada, considerando a análise em determinado valor de u0 [1,19]. Portanto, o gráfico permite a comparação da relação entre eficiência máxima estimada e tempo de análise mínimo de diferentes colunas [21]. A principal vantagem do gráfico de performance cinética (N x t0) é a visualização direta da relação entre eficiência e tempo, e é ideal para a comparação do potencial cromatográfico entre colunas de diferentes tamanhos e tipos de partículas. Por meio dele é possível obter parâmetros importantes como o número de pratos teóricos no qual a coluna atinge a melhor relação tempo de análise/pressão (Nopt) e o tempo para se obter Nopt (Topt). O ponto Nopt x Topt é determinado traçando-se uma reta tangente à curva obtida por meio do gráfico (N x t0), conforme representado na Figura 4.6. Alternativamente, para facilitar a localização do ponto Nopt x Topt, pode-se plotar o gráfico (N x t0/N2) e nesse gráfico o par Nopt x Topt está localizado no ponto mínimo da curva [19]. Outros possíveis gráficos de performance cinética também podem ser construídos por meio da aplicação de fórmulas matemáticas que convertem valores experimentais u0 e H em outros pares de valores de interesse, como por exemplo (np x tr) e (N, L). As variáveis np (capacidade de picos) e L (comprimento da coluna) podem ser obtidas com o auxílio das equações (4.9) e (4.10), respectivamente [19]. 129 np 1 N ln 1 k 4 L NH (4.9) (4.10) np = capacidade de picos, N = número de pratos teóricos, k = fator de retenção, L = comprimento da coluna, H = altura do prato teórico O gráfico de performance (np x tr) possibilita determinar o tempo mínimo necessário para que determinado fator de capacidade de picos seja alcançado ou determinar o maior fator de capacidade de picos que pode ser alcançado em determinado tempo, considerando que a coluna é longa o bastante para que a pressão máxima por ela suportada seja alcançada [1]. A capacidade de picos representa o número máximo de picos que podem ser separados entre o tempo morto e o tempo de eluição do último analito [22]. Já o gráfico (N x L) possibilita determinar o comprimento da coluna cromatográfica necessário para que determinado valor N projetado seja alcançado. Dessa forma é possível verificar se os valores projetados de N correspondem a colunas de comprimento impraticáveis (muito longas ou curtas) [1]. Embora haja vantagens, os gráficos de performance cinética apresentam limitações. Assume-se, para fins de cálculos, que a viscosidade da fase móvel (η), o fator de retenção (k) e a permeabilidade do leito cromatográfico (Kv0) são constantes, ou seja, que independem da vazão da fase móvel. Isso é verdade em condições cromatográficas de pressão inferior a 400 bar. Sabe-se, entretanto, que em pressões mais elevadas o aquecimento da fase móvel promove alterações nesses parâmetros, muitas vezes difíceis de serem previstas. Assim, a análise dos gráficos de performance cinética pode conduzir a estimativas incorretas acerca dos potenciais cromatográficos das colunas que estão sendo comparadas [20, 23]. 2 OBJETIVO ESPECÍFICO O objetivo do estudo descrito nesse capítulo foi comparar colunas cromatográficas monolítica (MN) e empacotadas com partículas porosas de 5 μm (CV), com 130 partículas de núcleo fundido de 2,7 μm (NF) e com partículas porosas de 1,8 μm (Sub 2 μm), utilizando como modelo método analítico para determinação de antidiabéticos orais (CL, GB, GM e GZ) e os parâmetros eficiência, velocidade de análise, pressão, resolução entre os picos e fator de assimetria dos picos. 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Materiais 3.1.1 Insumos farmacêuticos ativos Os mesmos descritos no capítulo 1, item 3.1.1. 3.1.2 Solventes, reagentes e vidrarias Os mesmos descritos no capítulo 1, item 3.1.2. 3.1.3 Equipamentos e colunas cromatográficas Os mesmos descritos no capítulo1, item 3.1.3. 3.2 Métodos 3.2.1 Avaliação da eficiência e velocidade de análise das colunas Para comparar a eficiência e velocidade de análise das colunas cromatográficas utilizou-se como modelo o método analítico para determinação de antidiabéticos orais desenvolvido em coluna convencional e aplicado às outras colunas após os necessários ajustes na composição da fase móvel, conforme foi descrito no capítulo 1. O ajuste na composição da fase móvel foi realizado com o objetivo de manter os valores dos fatores de retenção (k) dos analitos próximos em todas as colunas, já que as curvas de Van Deemter e de Knox, usadas para comparar a eficiência das colunas e velocidade de análise, têm o formato influenciado por k [7]. 131 Os parâmetros instrumentais cromatográficos otimizados, descritos no capítulo 3, foram utilizados nessa etapa do trabalho. O volume do loop, o diâmetro interno do tubo de PEEK e a frequência de aquisição dos dados/tempo da constante de filtro que promoveram a redução do efeito da variância extracoluna foram essenciais para uma comparação mais fidedigna do real desempenho das colunas cromatográficas. Na Tabela 4.1 encontra-se a descrição das condições de análise utilizadas. Tabela 4.1 - Condições de análise para determinação de antidiabéticos nas quatro colunas* Colunas Fase Móvel Vinj (μl) (nm) T (oC) Conc. (μg/ml) Convencional ACN: Solução (50:50)** 2 230 30 100 Monolítica ACN: Solução (43:57)** 2 230 30 100 Núcleo Fundido ACN: Solução (50:50)** 2 230 30 100 Sub 2 μm ACN: Solução (53:47)** 2 230 30 100 * Parâmetros instrumentais cromatográficos: loop de 2 μl, tubo de PEEK de 0,004 polegada e frequência de aquisição dos dados e tempo da constante de filtros iguais a 40 Hz/0,025 s ** Solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0 Além das curvas de Van Deemter e de Knox, gráficos de performance cinética também foram usados para comparação da performance e velocidade de análise obtidas com cada uma das colunas cromatográficas avaliadas. 3.2.1.1 Curvas de Van Deemter Aplicando-se os respectivos métodos analíticos apresentados na Tabela 4.1, cada coluna foi submetida a valores crescentes de vazão (0,02 a 0,6 ml/min para as colunas CV, NF e Sub 2 μm e 0,02 a 1,0 ml/min para a coluna MN). Determinaramse o número de pratos teóricos e o tempo de retenção dos picos referentes aos quatro fármacos, em cada vazão avaliada e em cada coluna. Outro parâmetro determinado em cada vazão e em cada coluna foi o tempo morto. Para estimativa do tempo morto injetaram-se 2 μl de uracila (10 μg/ml). A partir do número de pratos teóricos, tempo de retenção, tempo morto e fatores de retenção (k), as alturas dos pratos teóricos (H) e os valores de velocidade linear da fase móvel (u0) para cada antidiabético, em cada uma das vazões e colunas, foram calculados. Para a realização dos cálculos foram utilizadas as equações (4.5) e 132 (4.6). A partir dos pares de valores (u0 x H) calculados, foram construídas curvas de Van Deemter para os quatro antidiabético em cada coluna. As equações matemáticas que descrevem cada uma das curvas de Van Deemter construídas foram determinadas com o auxílio de um macro do Excel. A significância das equações foi comprovada por meio da análise de variância (α = 5%) e a significância dos coeficientes A, B e C de cada equação foi comprovada a partir da aplicação do teste t-student (α = 5%). A partir das equações matemáticas referentes às curvas de Van Deemter, os valores de u0 opt e Hmin de cada analito, em cada coluna, foram calculados. Considerando que o par de valores u0 opt e Hmin ocorre no ponto mínimo da curva, no qual a inclinação da reta tangente é nula, pode-se dizer que a derivada da equação nesse ponto é igual a zero. Considerando os arranjos matemáticos (Figura 4.7) u0 opt foi estimado a partir das constantes B e C da equação de Van Deemter. H (u0 ) A B Cu 0 u0 u 0otm H ' u 0 C B u 02 H ' u0 otm C B u 2 0 otm 0 B C Figura 4.7 - Transformações matemáticas para o cálculo de u0 otm Sendo assim, calculando-se a raiz da razão entre as constantes B e C, os valores de u0 opt de cada analito, em cada coluna, foram determinados. Os valores de u0 opt foram aplicados às equações de Van Deemter determinadas para cálculo dos respectivos valores de Hmin. 3.2.1.2 Curvas de Knox A partir dos pares de valores de u0 e H, usados na construção das curvas de Van Deemter, foram calculados os parâmetros reduzidos v0 e h (equações 4.3 e 4.4). 133 O coeficiente de difusão (Dm) de cada analito foi estimado por meio da aplicação da equação de Wilke Chang [24] e o diâmetro das partículas fornecido pelo fabricante de cada coluna foram utilizados para a realização dos cálculos dos parâmetros reduzidos. Como a coluna monolítica não possui partículas, o tamanho médio dos poros do monolito de sílica da marca Onyx®, descrito na literatura como sendo igual a 3,5 μm, foi utilizado em substituição ao diâmetro das partículas [25]. 3.2.1.3 Gráficos de performance cinética A partir dos pares de valores de u0 e H, usados na construção das curvas de Van Deemter, foram calculados os pares de valores (N x t0), (np x tr) e (N, L) por meio das equações 4.7. 4.8, 4.9 e 4.10. Em seguida esses pares de valores foram plotados em gráficos. Para a realização dos cálculos foram utilizadas planilhas do Excel desenvolvidas por Desmet e colaboradores [26]. 3.2.2 Avaliação da resolução, fator de assimetria e pressão Aplicando-se os métodos analíticos da Tabela 4.1, cada coluna foi submetida a vazões crescentes de fase móvel. Para cada valor de vazão a pressão do sistema foi registrada e os valores de resolução entre os pares de picos adjacentes e o fator de assimetria dos picos calculados utilizando-se as equações (4.11) e (4.12) [2]. Rs 2 t r 2 t r 1 w1 w2 As B A (4.11) (4.12) Rs = Resolução, tr1 e tr2 = tempos de retenção, w1 e w2 = larguras dos picos na linha de base, As = Fator de assimetria, A = largura da metade direita do pico dividido a partir do ponto de altura máxima, a 10% da altura, B = largura da metade esquerda do pico dividido a partir do ponto de altura máxima, a 10 % da altura. 134 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Avaliação da eficiência e velocidade de análise das colunas 4.1.1 Curvas de Van Deemter As curvas de Van Deemter da clorpropamida (Figura 4.8), gliclazida (Figura 4.9), glibenclamida (Figura 4.10) e glimepirida (Figura 4.11) em cada coluna em estudo estão apresentadas a seguir. 30 MN H (μm) 25 20 CV 15 NF 10 5 0.00 Sub2 2.00 4.00 6.00 u0 (mm/s) Figura 4.8 - Curvas de Van Deemter da CL nas diferentes colunas H (μm) 30 25 MN 20 CV 15 NF 10 Sub2 5 0.00 2.00 4.00 6.00 u0 (mm/s) Figura 4.9 - Curvas de Van Deemter da GZ nas diferentes colunas 135 30 H (μm) 25 MN 20 CV 15 NF 10 Sub2 5 0.00 2.00 4.00 6.00 u0 (mm/s) Figura 4.10 - Curvas de Van Deemter da GB nas diferentes colunas 30 25 H (μm) MN 20 CV 15 NF 10 Sub2 5 0.00 2.00 4.00 6.00 u0 (mm/s) Figura 4.11- Curvas de Van Deemter da GM nas diferentes colunas As equações matemáticas que descrevem as curvas de Van Deemter das Figuras 4.8 e 4.9 estão apresentadas na Tabela 4.2 e as equações matemáticas que descrevem as curvas de Van Deemter das Figuras 4.10 e 4.11 estão apresentadas na Tabela 4.3. 136 Tabela 4.2 - Equações referentes as curvas de Van Deemter da CL e GZ - Figuras 4.8 e 4.9 Coluna Analito Clorpropamida Gliclazida CV H = 12,66 + 1,04/u0 + 3,14u0 H = 7,71 + 1,89/u0 + 3,36u0 MN H = 18,91 + 0,67/u0 + 1,84u0 H = 15,77 + 0,80/u0 + 1,58u0 NF H = 11,00 + 1,17/u0 + 0,88u0 H = 5,66 + 2,06/u0 + 0,85u0 Sub 2 μm H = 9,81 + 0,98/u0 + 0,54u0 H = 5,52 + 1,60/u0 + 0,48u0 Tabela 4.3 - Equações referentes as curvas de Van Deemter da GB e GM - Figuras 4.10 e 4.11 Coluna Analito Glibenclamida Glimepirida CV H = 6,63 + 1,90/u0 + 4,08u0 H = 6,59 + 1,69/u0 + 3,70u0 MN H = 13,57 + 0,97/u0 + 2,24u0 H = 13,91 + 1,14/u0 + 1,50u0 NF H = 5,24 + 1,72/u0 + 0,90u0 H = 4,55 + 1,85/u0 + 0,73u0 Sub 2 μm H = 5,14 + 1,46/u0 + 0,61u0 H = 4,44 + 1,51/u0 + 0,48u0 Analisando-se o perfil das curvas de Van Deemter apresentadas nas Figuras 4.8 a 4.11, verifica-se que aquelas referentes à coluna sub 2 μm, seguida da coluna com partículas de núcleo fundido, são as menos inclinadas após o ponto de máxima eficiência (Hmin). Significa que mesmo em altas velocidades lineares da fase móvel é possível obter valores de eficiência próximos ao máximo quando essas colunas são usadas. Por outro lado, as curvas de Van Deemter referentes à coluna convencional são as mais inclinadas. Portanto, o emprego de altas velocidades lineares da fase móvel na coluna convencional implica na obtenção de valores de eficiência distantes do máximo que ela poderia propiciar. Já as curvas de Van Deemter relativas à coluna monolítica apresentaram inclinações intermediárias. Curvas com aspectos similares aos observados foram descritas na literatura, destacando-se trabalho publicado em 2009 por Brice e colaboradores [10]. É sabido que quanto maior a influência do aumento da velocidade linear da fase móvel na perda da eficiência cromatográfica, maior é a inclinação da curva de Van Deemter após o ponto de máxima eficiência e maior é o coeficiente C [4]. Sendo assim e considerando o exposto no parágrafo anterior, esperar-se-ia que para um 137 mesmo analito as equações relativas à coluna convencional apresentassem os maiores valores do termo C, seguidos daqueles das colunas monolítica, empacotadas com partículas de núcleo fundido e com partículas sub 2 μm. Os resultados encontrados para o termo C, apresentadas na Tabela 4.2 e 4.3, são compatíveis com o previsto. Para ilustrar, os termos C das equações relativas a glimepirida em cada coluna são: C CV = 3,70; C MN =1,50; C NF = 0,73 e C sub 2μm = 0,48. Os dados apresentados na Tabela 4.2 e 4.3, evidenciam que o coeficiente A das equações relativas a um mesmo analito foi maior nas análises realizadas em coluna monolítica, seguida das análises em colunas convencional, empacotadas com partículas de núcleo fundido e com partículas sub 2 μm. Para exemplificar os termos A das equações relativas a glimepirida em cada coluna são: A A CV = 6,59; A NF = 4,55 e A sub 2μm MN = 13,91; = 4,44. Para compreender os resultados é importante considerar que o coeficiente A é tanto maior quanto maior for o número de caminhos múltiplos e que o número de caminhos múltiplos é diretamente proporcional ao diâmetro das partículas (dp) e inversamente proporcional à qualidade do empacotamento/formação da coluna [4]. Sendo assim, como o diâmetro das partículas na coluna sub 2 μm é 1,8 μm, menor que o presente na coluna de partículas de núcleo fundido (dp = 2,7 μm), há menos caminhos múltiplos na coluna sub 2 μm, o que explica o menor valor de A nas equações de Van Deemter relativas à coluna sub 2 μm. O mesmo raciocínio se aplica para explicar a razão de o termo A das equações relativas à coluna de núcleo fundido (dp = 2,7 μm) ser menor do que o presente nas equações relativas à coluna convencional (dp = 5 μm). Para justificar os maiores valores do termo A verificados nas equações relativas à coluna monolítica pode-se supor a presença de um leito cromatográfico de baixa qualidade, com baixa homogeneidade de tamanho dos poros, como já foi relatado em trabalhos da literatura [10]. Na Tabela 4.4, apresentada a seguir, estão descritos os valores de Hmin e u0 opt das curvas de Van Deemter apresentadas nas Figuras 4.8 a 4.11. 138 Tabela 4.4 - Valores de Hmin e u0 opt relativos às curvas de Van Deemter - Figuras 4.8 a 4.11 Analito Coluna cromatográfica CV MN Sub 2 μm NF Hmin u0 opt Hmin u0 opt Hmin u0 opt Hmin u0 opt (μm) (mm/s) (μm) (mm/s) (μm) (mm/s) (μm) (mm/s) CL 16,27 0,57 21,13 0,60 13,03 1,15 11,26 1,34 GZ 12,75 0,75 18,02 0,71 8,31 1,56 7,27 1,83 GB 12,20 0,68 16,52 0,66 6,36 1,38 7,03 1,54 GM 11,59 0,68 16,53 0,87 6,87 1,60 6,14 1,78 Analisando-se os resultados percebe-se que os valores de Hmin dos antidiabéticos analisados em uma mesma coluna são tanto menores quanto maior é o fator de retenção (kGM > kGB > kGZ > kCL). Essa observação deve-se ao fato de os analitos menos retidos serem mais afetados pelo efeito extracoluna, o que promove redução da eficiência, como foi discutido no capítulo 3 [27]. Verifica-se também que a influência do fator de retenção na eficiência é mais significativa nas colunas empacotadas com partículas sub 2 μm e de núcleo fundido, seguida da coluna monolítica e por último da convencional. Justifica-se esse resultado considerando que as colunas empacotadas com partículas sub 2 μm e de núcleo fundido são mais afetados pelo efeito extracoluna, como também foi discutido no capítulo 3. Para fins de comparação da eficiência cromatográfica das colunas, serão discutidos apenas os resultados relativos à glimepirida, fármaco mais retido e, portanto, menos influenciado pelo efeito extracoluna. A menor influência do efeito extracoluna permite que a eficiência verificada experimentalmente seja a mais próxima da real eficiência que a coluna é capaz de gerar. Analisando-se os resultados referentes à glimepirida apresentados na Tabela 4.4 verifica-se que o menor valor de Hmin foi obtido em análise realizada na coluna de partículas sub 2 μm (Hmin = 6,14). O valor de Hmin obtido na coluna empacotado com partículas de núcleo fundido foi um pouco maior (Hmin = 6,87), e essa diferença significa que a coluna de núcleo fundido apresentou eficiência máxima equivalente a 89% da eficiência máxima propiciada pela coluna de partículas sub 2 μm. Maiores valores de Hmin foram gerados pelas colunas convencional (Hmin = 11,59) e monolítica (Hmin = 16,53). 139 De acordo com a literatura era de se esperar que a coluna com partículas sub 2 μm fosse a mais eficiente (em função do menor tamanho de partícula) e que a eficiência da coluna de partículas de núcleo fundido, também elevada (em função da estrutura superficialmente porosa), fosse um pouco inferior [15,18]. Entretanto, a maior eficiência da coluna convencional quando comparada à propiciada pela coluna monolítica não está de acordo com a literatura. Esperar-se-ia que a coluna monolítica apresentasse eficiência comparável à da coluna convencional [8, 9]. É importante também comparar os valores de velocidade ótima (u0 opt) das quatro colunas cromatográficas, apresentados na Tabela 4.4. Como a velocidade linear ótima da fase móvel é inversamente proporcional ao diâmetro das partículas (dp), era de se esperar que a coluna convencional (dp = 5 μm) apresentasse a menor velocidade (u0 opt = 0,68 mm/s - vazão de aproximadamente 0,08 ml/min) e que a coluna com partículas sub 2 μm (dp = 1,8 μm) apresentasse a maior velocidade (u0 opt = 1,78 mm/s - vazão de aproximadamente 0,2 ml/min) [28]. A velocidade linear ótima de análise da glimepirida em coluna de núcleo fundido (u0 opt = 1,60 mm/s - vazão um pouco abaixo de 0,2 ml/min), apesar de um pouco menor, foi próxima a obtida em coluna com partículas sub 2 μm (u0 opt = 1,78 mm/s). Resultados similares já foram descritos na literatura. Em experimento realizado com benzofenona verificou-se que a velocidade linear ótima de análise em colunas de núcleo fundido e de partículas sub 2 μm foram bem próximas, ficando em torno de 3 mm/s [10]. Quanto à velocidade linear ótima da coluna monolítica (u0 opt = 0,87 mm/s - vazão de aproximadamente 0,15 ml/min), verificou-se que ela foi maior do que a apresentada pela coluna convencional, mas inferior à das outras colunas. Considerando as discussões sobre o formato das curvas de Van Deemter e sobre valores de Hmin e u0 opt, conclui-se que as colunas com partículas sub 2 μm e com partículas de núcleo fundido apresentaram maior eficiência máxima, ou seja, menores valores de Hmin, os quais ocorreram em maiores velocidades. O formato menos inclinado das curvas de Van Deemter referentes a essas colunas permite o emprego de altas velocidades lineares da fase móvel com obtenção de eficiência próxima ao máximo que elas poderiam propiciar, ou seja, há nessas colunas um maior compromisso entre eficiência e velocidade de análise. As colunas monolítica e convencional são menos eficientes (maiores valores de Hmin) e ao aumento da 140 velocidade de análise corresponde maior perda de eficiência (maiores valores do termo C). É importante destacar que quando se comparam apenas as colunas monolítica e convencional, apesar de a convencional ter apresentado maior eficiência máxima, em maiores velocidades de análise a eficiência propiciada pela coluna monolítica foi maior, em consequência da estrutura altamente porosa, que permite maior transferência de massa, inclusive em altas velocidades. 4.1.2 Curvas de Knox Curvas de Knox relativas à glimepirida nas quatro colunas estão apresentadas na Figura 4.12. Esse fármaco foi selecionado como modelo, pois, como já explicado, é o mais retido e, portanto, menos influenciado pelo efeito extracoluna. 12 10 MN h (μm) 8 6 Sub2 4 NF 2 CV 0 0.00 10.00 20.00 30.00 40.00 v0 (mm/s) Figura 4.12 - Curvas de Knox da GM nas diferentes colunas As equações relativas às curvas apresentadas na Figura 4.12, bem como os valores de hmin e v0 opt de cada curva, estão descritos na Tabela 4.5. Tabela 4.5 - Equações e valores de hmin e vo opt correspondentes às curvas de Knox da GM Equação hmin (μm) v0 opt (mm/s) CV h = 1,32 + 2,72/v0 + 0,09v0 2,31 5,43 MN h = 4,97 + 1,93/v0 + 0,11v0 5,89 4,14 NF h = 1,68 + 2,98/v0 + 0,06v0 2,53 6,93 Sub 2 μm h = 2,47 + 2,30/v0 + 0,10v0 3,43 4,89 141 Com o auxílio das curvas de Knox a performance das colunas cromatográficas podem ser avaliadas independentemente do diâmetro das partículas (dp) das colunas e dos coeficientes de difusão (Dm) dos analito, já que os parâmetros reduzidos h e v0 são normalizados em função de dp e Dm, como pode ser verificado nas equações 4.3 e 4.4. Sendo assim, as diferenças entre os valores de hmin e v0 opt são consequência apenas da qualidade do empacotamento da coluna [4]. Os resultados apresentados na Tabela 4.5 evidenciam que as colunas convencional e com partículas de núcleo fundido são as mais bem empacotadas (hmin CV = 2,31 μm e hmin NF = 2,53 μm), seguidas da coluna com partículas sub 2 μm (hmin Sub 2 μm = 3,43 μm) e por último da coluna monolítica (hmin MN = 5,89 μm). A elevada qualidade de empacotamento da colunas de núcleo fundido já foi descrita na literatura e está relacionada a uma distribuição homogênea do tamanho das partículas [16]. Era de se esperar que a coluna convencional, que possui partículas de diâmetro igual a 5 μm, apresentasse melhor empacotamento do que a coluna com partículas sub 2 μm, já que é mais difícil a produção de partículas menores de tamanho homogêneo [29]. O elevado valor de hmin obtido pela coluna monolítica pode ser consequência de um leito cromatográfico com poros irregulares, situação já descrita na literatura [10,13]. 4.1.3 Gráficos de performance cinética Serão apresentados gráficos de performance cinética relativos à glimepirida (fármaco mais retido e portanto menos influenciado pelo efeitos extracoluna) nas diferentes colunas. O primeiro deles (Figura 4.13) é um gráfico do tipo (N x T0/N2). 1.00E-06 MN CV t0/N2 (s) 1.00E-07 NF Sub2 1.00E-08 1.00E+06 1.00E+05 1.00E+04 1.00E+03 N (/) Figura 4.13 - Gráfico de performance cinética (N x t0/N2) da GM 142 Avaliando-se o gráfico apresentado na Figura 4.13 percebe-se que análises que requerem número de pratos teóricos em torno de 1 x 10 5 serão realizadas mais rapidamente em colunas empacotadas com partículas sub 2 μm. Pela aparente tendência dos gráficos verifica-se também que análises que exijem uma eficiência maior, com o número de pratos em torno de 1 x 10 6, serão realizadas mais rapidamente em colunas de núcleo fundido, e aquelas que exijem menores eficiências serão realizadas mais rapidamente em colunas empacotadas com partículas sub 2 μm. Outro dado importante obtido diz respeito aos valores ótimos de eficiência (Nopt) de cada coluna (ponto mínimo das curvas), que diz respeito ao número de pratos teóricos obtidos quando a coluna atinge a sua melhor performance cinética (menor relação entre tempo e eficiência em dada pressão). Os valores de Nopt das colunas empacotadas com partículas de núcleo fundido e com partículas sub 2 μm estão na faixa de 1,5 x 105 e os valores de Nopt das colunas convencional e monolítica são menores (cerca de 5 a 6 x 104). O segundo gráfico de performance cinética é do tipo (N x L) e está apresentado na Figura 4.14. 10.00 MN CV L (m) 1.00 NF Sub2 0.10 1.00E+03 1.00E+04 1.00E+05 1.00E+06 N (/) Figura 4.14 - Gráfico de performance cinética (N x L) da GM O gráfico apresentado na Figura 4.14 demonstra o tamanho da coluna necessário para que um determinado número de pratos teóricos seja alcançado. Como exemplo, para a coluna Sub 2 µm seria necessária uma coluna de, aproximadamente, 90 cm para que um número de pratos de 1 x 105 fosse alcançado. 143 O último gráfico de performance cinética elaborado é do tipo (np x tr) (Figura 4.15). 1.00E+06 1.00E+05 MN 1.00E+04 CV tr (s) 1.00E+03 NF 1.00E+02 Sub2 1.00E+01 1.00E+00 10 60 110 160 210 260 310 360 410 np (/) Figura 4.15 - Gráfico de performance cinética (np x tr) da GM O gráfico apresentado na Figura 4.15 evidencia que, considerando o mesmo tempo de análise, é possível que um maior número de picos sejam separados na coluna empacotada com partículas sub 2 μm, seguida da coluna de núcleo fundido, convencional e monolítica. Como exemplo, considerando um tempo de análise de 10000 s (aproximadamente 3 horas), seria possível separar aproximadamente 130 picos na coluna monolítica, 160 na coluna convencional, 210 na coluna de núcleo fundido e 230 na coluna empacotada com partículas sub 2 μm. 4.2 Avaliação da resolução, fator de assimetria e pressão 4.2.1 Resolução Na Tabela 4.6 estão apresentados os resultados de resolução (Rs) entre os pares de picos adjacentes (gliclazida e clorpropamida - GZ/CL; glibenclamida e gliclazida GB/GZ; glimepirida e glibenclamida - GM/GB), em vazões de 0,02 a 0,6 ml/min. 144 Tabela 4.6 - Valores de resolução entre GZ/CL, GB/GZ e GM/GB nas diferentes colunas Vazão (ml/min) Resolução - Rs GZ/CL GB/GZ GM/GB CV MN NF Sub2 CV MN NF Sub2 CV MN NF Sub2 0,60 7,35 7,65 11,08 12,22 5,53 8,07 10,10 10,03 2,72 3,23 4,57 4,75 0,40 8,08 7,93 11,72 13,37 6,16 8,35 10,40 10,15 3,04 3,34 4,79 4,79 0,30 0,20 8,58 9,19 8,10 8,34 12,11 12,18 13,21 13,11 6,56 7,08 8,51 8,93 10,66 10,60 10,01 9,80 3,26 3,57 3,38 3,55 4,98 5,02 4,85 4,87 0,15 9,23 8,47 12,19 12,96 7,33 9,14 10,60 9,66 3,74 3,67 5,11 4,89 0,10 9,71 8,63 11,80 12,77 7,57 9,32 10,10 9,42 3,83 3,75 4,89 4,88 0,08 9,75 8,73 11,67 12,52 7,64 9,48 9,90 9,17 3,91 3,83 4,79 4,79 0,06 9,83 8,72 11,50 12,32 7,63 9,43 9,60 8,84 3,82 3,80 4,57 4,62 0,04 9,23 8,60 10,73 11,77 7,16 9,19 8,70 8,18 3,64 3,69 4,16 4,32 0,02 Média 8,03 7,63 9,03 9,96 5,82 7,92 7,10 6,78 3,04 3,17 3,36 3,53 8,90 8,28 11,40 12,42 6,85 8,83 9,77 9,20 3,46 3,54 4,62 4,63 Antes de analisar os dados é importante lembrar que a resolução (Rs) entre dois picos cromatográficos depende da seletividade (α), do número de pratos teóricos (N) e do fator de retenção (k), como poder ser verificado na equação 4.13 [2]. 1 k Rs 1 / 4( 1) N k (4.13) Os fatores de retenção dos analitos em todas as colunas são similares, já que foi realizado o ajuste na composição da fase móvel para que isso ocorresse. Sendo assim, as diferenças entre os valores de resolução verificados devem-se às diferenças na seletividade e no número de pratos teóricos. Foi constatado no capítulo 2 que as colunas em estudo, todas de fase ligada C18, possuem seletividades similares. Entretanto é importante destacar que nesse experimento foram utilizadas fases móveis de diferentes composições, o que também interfere na seletividade [2,4]. Considerando que as fases móveis utilizadas nas colunas convencional e de núcleo fundido possuem a mesma composição (ACN: solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0 50:50), a qual é muito similar a fase móvel utilizada na coluna de partículas sub 2 μm (ACN:solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0 53:47), pode-se dizer que o principal fator que explica as 145 diferenças nos valores de resolução verificados entre as colunas convencional, de partículas de núcleo fundido e de partículas sub 2 μm é o número de pratos teóricos. Já a coluna monolítica foi submetida a uma fase móvel de composição bem distinta, de menor força eluotrópica (ACN:solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0 43:57). Sendo assim as diferenças nos valores de resolução verificados entre a coluna monolítica e as outras é devido aos fatores seletividade e número de pratos teóricos. Analisando-se os valores médios de resolução entre os picos (Tabela 4.6), constatase que os maiores valores foram alcançados com as colunas de partículas sub 2 μm e de núcleo fundido e os menores valores correspondem às colunas monolítica e convencional. Esse resultado pode ser atribuído ao fato de as colunas de partículas sub 2 μm e de núcleo fundido gerarem maior eficiência (maior número de pratos teóricos) do que as colunas monolítica e convencional. A eficiência cromatográfica dessas colunas pode ser constatada nas curvas de Van Deemter apresentadas nas Figuras 4.8 a 4.11. A vantagem, em termos de resolução, propiciada pelas colunas de partículas de núcleo fundido e sub 2 μm em relação às colunas monolítica e convencional já foram relatadas na literatura [10, 30, 31]. É importante destacar que apesar de a coluna monolítica ter sido menos eficiente do que a coluna convencional, como verificado nas Figuras 4.8 a 4.11, as resoluções propiciadas por ela foram próximos e até maiores do que as observadas entre os picos gerados pela coluna convencional. Esse comportamento é devido à maior seletividade da fase móvel utilizada na análise com coluna monolítica, a qual possui menor força eluotrópica [2,4]. Avaliando-se a equação 4.13 percebe-se que a resolução é mais influenciada pela seletividade (α) do que pelo número de pratos teóricos (N) [32]. Isso explica o fato de os valores de resolução entre os picos obtidos em coluna monolítica, apesar de apresentarem menor número de pratos teóricos do que os obtidos em coluna convencional, serem próximos e até maiores do que os valores de resolução entre os picos obtidos em coluna convencional. Para ilustrar, estão apresentados na Figura 4.16 os cromatogramas referentes às análises dos antidiabéticos em cada coluna, na vazão de 0,4 ml/min. 146 Figura 4.16 - Cromatogramas relativos às análises dos antidiabéticos nas colunas (a) CV, (b) MN, (c) NF e (d) Sub 2 μm - ordem de eluição: CL, GZ, GB e GM. 4.2.2 Fator de assimetria dos picos Na Tabela 4.7 estão apresentados os resultados dos fatores de assimetria dos picos referentes aos antidiabéticos, determinados em vazões de 0,02 a 0,6 ml/min. 147 Tabela 4.7 - Fatores de assimetria dos picos dos antidiabéticos orais nas diferentes colunas Fator de Assimetria Vazão (ml/min) Clorpropamida Gliclazida Glibenclamida Glimepirida CV MN NF Sub2 CV MN NF Sub2 CV MN NF Sub2 CV MN NF Sub2 0,60 1,12 1,01 1,23 1,23 1,05 0,83 1,09 1,08 1,03 0,81 0,97 0,93 1,03 0,78 1,01 0,98 0,40 1,13 1,02 1,22 1,15 1,06 0,83 1,09 1,01 1,03 0,82 0,96 0,90 1,05 0,78 0,99 0,92 0,30 1,12 1,03 1,21 1,14 1,07 0,84 1,09 1,02 1,01 0,82 0,96 0,91 1,03 0,79 0,99 0,92 0,20 1,13 1,07 1,19 1,16 1,07 0,89 1,08 1,03 1,02 0,85 0,97 0,91 1,03 0,81 1,00 0,93 0,15 1,13 1,08 1,17 1,12 1,09 0,92 1,06 1,03 1,02 0,87 0,98 0,93 1,03 0,83 0,99 0,94 0,10 1,10 1,08 1,12 1,13 1,07 0,96 1,06 1,04 1,03 0,92 0,95 0,99 0,92 1,01 0,96 1,00 0,08 1,10 1,08 1,12 1,08 1,05 0,98 1,06 1,06 1,01 0,97 0,96 1,00 0,97 1,04 0,99 1,00 0,06 1,07 1,09 1,10 1,10 1,05 1,02 1,05 1,05 1,02 0,98 0,97 1,00 0,98 1,01 0,99 1,02 0,04 1,07 1,08 1,06 1,09 1,03 1,01 1,06 1,04 1,02 1,07 0,99 1,00 1,07 1,01 1,00 1,02 0,02 1,05 1,05 1,05 1,05 1,02 1,08 1,01 1,08 0,99 1,03 0,99 1,00 1,03 1,05 1,01 1,03 Média 1,10 1,06 1,15 1,13 1,06 0,94 1,07 1,04 1,02 0,91 0,98 0,95 1,03 0,88 1,01 0,96 148 O fator de assimetria de um pico cromatográfico deve estar compreendido entre 0,81,8, sendo que o fator ideal é 1,0 [33]. Percebe-se que há uma tendência de melhora da simetria dos picos com o aumento da retenção dos analitos (kGM > kGB > kGZ > kCL) para análises realizadas nas colunas convencional, de núcleo fundido e sub 2 μm. Isso ocorre porque analitos mais retidos sofrem menos o efeito extracoluna e consequentemente picos mais simétricos são obtidos. Já nas análises realizadas em coluna monolítica a situação inverte-se: a simetria do pico piora com o aumento da retenção. Esse comportamento ocorre porque a causa predominante da piora da simetria dos picos analisados em coluna monolítica não é o efeito extracoluna e sim o fato de a fase monolítica apresentar um leito cromatográfico irregular, com baixa homogeneidade de tamanho de poros, como já foi descrito na literatuta [10, 13, 14]. Sendo assim, quanto maior a interação com esse leito irregular (maior k), pior é a simetria do pico. Na literatura há trabalhos que descrevem que, de uma maneira geral, os picos em colunas monolíticas, em especial os relativos a substâncias básicas, são menos simétricos do que os gerados em colunas empacotadas. Esse foi um dos motivos que impulsionou o desenvolvimento das fases monolíticas de segunda geração, que dentre outras características, dão origem a picos de melhor simetria [8]. 4.2.3 Pressão do sistema cromatográfico A relação entre vazão e pressão durante a análise dos antidiabéticos orais nas diferentes colunas está apresentada na Figura 4.17. Pressão (bar) 1000 800 Sub2 600 NF 400 MN 200 CV 0 0.00 0.30 0.60 0.90 1.20 Vazão (ml/min) Figura 4.17 - Relação entre vazão e pressão nas diferentes colunas 149 Verifica-se que em um mesmo valor de vazão os maiores valores de pressão foram gerados pela coluna com partículas totalmente porosas sub 2 μm. Para exemplificar: na vazão de 0,6 ml/min a pressão gerada pela coluna sub 2 μm foi de 632 bar, aproximadamente cinco vezes maior do que a pressão gerada pelas colunas convencionais e monolítica, e 1,5 vezes maior do que a gerada pela coluna com partículas de núcleo fundido. Considerando que a pressão é inversamente proporcional ao quadrado do diâmetro das partículas da coluna, e que a coluna sub 2 μm utilizada possui partículas de apenas 1,8 μm de diâmetro, elevados valores de pressão, já descritos na literatura, eram esperados. Esse aumento da pressão justifica a necessidade da utilização de um equipamento de UHPLC [15,18]. Como já foi dito, quando se trabalhou com partículas de núcleo fundido a pressão foi de aproximadamente 65% da gerada por partículas totalmente porosas sub 2 μm. Na literatura há trabalhos que demonstram que essa relação está em torno de 50% [10]. É importante destacar que a pressão gerada pela coluna de núcleo fundido foi compatível com o sistema de HPLC (Pmax = 400 bar). As colunas monolítica e convencional apresentaram valores de pressão mais baixos, compatíveis com sistemas de HPLC, e próximos entre si. 5 CONCLUSÃO Conclui-se que as colunas com partículas sub 2 μm e com partículas de núcleo fundido apresentaram maior eficiência máxima (Ex.: Hmin Hmin NF GM Sub 2μm GM = 6,14 μm e = 6,87 μm), os quais ocorreram em maiores velocidades lineares de fase móvel (Ex.: u0 opt Sub 2μm GM = 1,78 mm/s e u0 opt NF GM = 1,60 mm/s). O formato menos inclinado das curvas de Van Deemter referentes a essas colunas permite o emprego de altas velocidades de fase móvel com obtenção de eficiência próxima a máxima. Já as colunas monolítica e convencional foram menos eficientes (Ex.: Hmin MN GM = 16,53 μm e Hmin CV = 11,59 μm) e com o aumento da velocidade de análise houve uma maior perda de eficiência (maiores valores do termo C). Quando se comparam apenas as colunas monolítica e convencional, apesar de a convencional ter propiciado análises de maior eficiência máxima, em altas 150 velocidades a eficiência gerada pela monolítica foi maior, o que é consequência da estrutura permeável, que permite melhor transferência de massa. Analisando-se as curvas de Knox percebe-se que as colunas convencional e com partículas de núcleo fundido foram melhor empacotadas (Ex.: hmin CV GM = 2,31 μm e hmin NF GM (Ex.: hmin = 2,53 μm), seguidas das colunas com partículas sub 2 μm Sub 2 μm GM = 3,43 μm). A coluna monolítica apresentou o pior processo produtivo (Ex.: hmin MN GM = 5,89 μm). Avaliando-se os gráficos de performance cinética verifica-se que a coluna empacotada com partículas sub 2 μm, seguida da coluna de núcleo fundido, são capazes de dar origem a análises com maior capacidade de picos e com maior número de pratos teóricos em tempos de análise mais curtos. Analisando-se a resolução constata-se que maiores valores foram alcançados com as colunas de partículas sub 2 μm e de núcleo fundido. Quanto à simetria nota-se que com exceção da monolítica, que gerou picos mais assimétricos, todas as outras colunas deram origem a picos de boa simetria. Quanto à pressão nota-se que a gerada pela coluna sub 2 μm foi aproximadamente 1,5 maior do que a gerada pela coluna com partículas de núcleo fundido, sendo que em vazões acima de 0,4 ml/min a coluna sub 2 μm gerou pressões que requerem sistemas de UHPLC, ao contrário da coluna de núcleo fundido, que gerou pressão compatível com sistemas de HPLC. As colunas monolítica e convencional geraram os valores mais baixos de pressão, também compatíveis com sistemas de HPLC. Considerando o exposto conclui-se que a coluna empacotada com partículas de núcleo fundido é a melhor alternativa à coluna convencional. A coluna monolítica, apesar de compatível com HPLC e de propiciar análises mais rápidas com maior eficiência do que a coluna convencional, apresenta eficiência cromatográfica bem inferior à gerada pelas colunas de núcleo fundido e sub 2 μm, além de dar origem a picos de pior simetria e ser, dentre todas as colunas, a de maior custo. Considerando a análise da glimepirida para exemplificar, verifica-se que coluna de núcleo fundido gerou análises com 90% da eficiência máxima e da velocidade ótima e aproximadamente a mesma resolução propiciada pela coluna sub 2 μm, com a 151 grande vantagem de não gerar no sistema pressões acima de 400 bar, e portanto não requerer a utilização de sistemas de UHPLC, mais caros e menos disponíveis. Da mesma maneira que a coluna sub 2 μm, a coluna de núcleo fundido foi capaz de manter elevada eficiência em altas velocidades de análise e de gerar picos de boa simetria. Além disso, já é possível encontrar no mercado colunas de núcleo fundido com aproximadamente o mesmo preço que colunas convencionais. 152 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] THE KINETIC PLOT METHOD. Disponível em: <http://www.vub.ac.be/CHIS/ Research/ kp.html>. Acesso em: 01 de Abril de 2012. [2] SNYDER, L. R., KIRKLAND, J. J., GLAJCH, J. L. Practical HPLC method development. 2 ed. New York: John Wiley & Sons, 1997. 765 p. [3] HARRIS, D. C. Análise Química Quantitativa. 7 ed. Rio de Janeiro: LTC, 2008. 886 p. [4] LOUGH, W. J.; WAINER, I. W. High performance liquid chromatography: fundamental principles and practice. London: Black Academic & Professional, 1996. 276 p. [5] THE VAN DEEMTER EQUATION <http://www.chromedia.org/chromedia? waxtrapp=wnjedDsHqnOxmOlIEcCbCmF&caller=pdoxfDsHqnOxmOlIEsGvG&zoekre s=yes&scrv=subwnjedDsHqnOxmOlIEcCbCmF>. Acesso em: 11 de dezembro de 2012 [6] NGUYEN, D. T. T.; GUILLARME, D.; RUDAZ, S.; VEUTHEY,J. L. 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Recentemente, novas colunas cromatográficas (monolítica, empacotada com partículas de núcleo fundido e empacotada com partículas porosas de diâmetro inferior a 2 μm), novas geometrias (menores comprimento e diâmetro interno), novas abordagens (como o uso de temperatura elevada - HTLC) e novos instrumentos (UHPLC) foram introduzidos no mercado de modo a reduzir o tempo de análise mantendo a eficiência cromatográfica [1]. Associado às novas alternativas, o aumento da vazão da fase móvel é uma maneira simples de reduzir o tempo de análise. Entretanto, com o aumento da vazão tem-se elevação da pressão e, portanto, para se estabelecer a vazão máxima à qual uma coluna pode ser submetida deve-se considerar a pressão máxima que ela suporta. [1, 2]. As colunas convencional com partículas totalmente porosas (CV), monolítica (MN), empacotada com partículas de núcleo fundido (NF) e empacotada com partículas porosas de diâmetro inferior a 2 μm (Sub 2 μm), podem ser submetidas a diferentes valores máximos de pressão. Normalmente, as colunas monolíticas de sílica suportam uma pressão máxima de 200 bar, as empacotadas com partículas de núcleo fundido resistem a uma pressão de até 600 bar e as empacotadas com partículas totalmente porosas de diâmetro inferior a 2 μm podem ser submetidas a valores de pressão em torno de 1000 bar [3]. Colunas convencionais, empacotadas com partículas totalmente porosas de diâmetro entre 3 e 5 μm suportam pressão máxima de aproximadamente 275 bar [4]. Em função da demanda para aumentar a produtividade em análise farmacêutica, há trabalhos na literatura que descrevem o desenvolvimento de análises extremamente rápidas utilizando novas colunas cromatográficas. Em um deles métodos rápidos para análise de formulação de lidocaína foram desenvolvidos e validados em coluna monolítica e em coluna empacotada com partículas sub 2 μm. Em seguida, 157 comparação em termos quantitativos entre os métodos desenvolvidos foi realizada utilizando os parâmetros seletividade, exatidão e precisão. Na Figura 5.1 estão apresentados os cromatogramas referentes às análises da formulação de lidocaína nas colunas convencional (C18 150 × 4,6 mm, 5 μm, fase móvel composta por ACN e acetato de amônio pH 7,2 (60:40) na vazão 1 ml/min e temperatura 30 oC), monolítica (C18 100 × 4,6 mm, fase móvel composta por ACN e acetato de amônio pH 6 (32:68), vazão 5 ml/min e temperatura 30 oC) e sub 2 μm (C18 50 × 2,1 mm, 1.7 μm, fase móvel constituída de ACN e acetato de amônio pH 7,2 (60:40), vazão 1 ml/min e temperatura 30 oC) [5]. Figura 5.1 - Cromatogramas referentes à formulação de lidocaína - (1) metilparabeno, (2) 2,6dimetilanilina, (3) propilparabeno e (4) lidocaína nas colunas (a) CV, (b) MN e (c) Sub 2 μm [5] Em relação à comparação dos parâmetros quantitativos foi verificado que todos os métodos foram seletivos e exatos (percentual de recuperação entre 99,2 - 101,3%). Quanto à precisão (repetibilidade e precisão intermediária) valores aceitáveis foram observados, com apenas dois valores superiores ao limite de repetibilidade esperado [5]. Em outro estudo foi demonstrada a capacidade da coluna empacotada com partículas de núcleo fundido em conduzir análise extremamente rápida de quatro compostos farmacêuticos de pequena massa molecular (entre 300 e 500 daltons). A 158 análise em coluna convencional (C18, 5 μm, 2,1 × 50 mm, vazão da fase móvel 0,4 ml/min) foi realizada em 3,10 minutos e a análise realizada em coluna de núcleo fundido (C18, 2,7 μm, 2,1 mm × 20 mm, vazão da fase móvel 1 ml/min) levou apenas 0,85 minuto [6]. 1.2 Métodos analíticos para determinação de sulfoniluréias Há na literatura métodos para quantificação de sulfoniluréias e sulfuniluréias associadas à antidiabéticos orais de outras classes. Nota-se que na maioria desses métodos colunas convencionais com partículas porosas de 5 µm foram usadas. Foi encontrada apenas uma referência na qual coluna monolítica (C18 100 x 4,6 mm) foi aplicada na determinação simultânea de glibenclamida e glimepirida e suas respectivas substâncias relacionadas. Na Figura 5.2 há um cromatograma relativo à análise [7]. Figura 5.2 - Cromatograma das substâncias relacionadas da glimepirida a (1) e b (2), glibenclamida (3) e glimepirida (4) [7] Como já foi dito, a maioria dos métodos para determinação de antidiabéticos foi desenvolvido em coluna convencional. Um deles foi desenvolvido para quantificação de glibenclamida, gliclazida, glipizida, pioglitazona, repaglinida e rosiglitazona em formulações farmacêuticas. Empregaram-se coluna C18 - 250 x 4,6 mm, 5 μm e vazão de 1 ml/min. O tempo de análise foi de 28 minutos [8]. Outro método foi desenvolvido para determinação de glipizida, rosiglitazona, pioglitazona, glibenclamida e glimepirida em comprimidos. Foram empregados vazão de 1 ml/min, 159 fase móvel composta por solução de trietanolamina 0,05% v/v (pH 3,5, ajustado com ácido ortofosfórico), acetonitrila e metanol, na proporção de 55:15:30, coluna C18 150 × 4,6 mm, 5 μm. Os fármacos foram separados em 20 minutos [9]. Não foi encontrado na literatura nenhum método para quantificação simultânea de clorpropamida, glibenclamida, glimepirida e glicazida em coluna convencional ou em colunas que permitem análises mais rápidas (monolítica, com partículas de núcleo fundido ou com partículas totalmente porosas Sub 2 µm). 2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS Foram objetivos dessa etapa do trabalho: 1- Desenvolver e comparar métodos analíticos extremamente rápidos para quantificação dos antidiabéticos orais clorpropamida (CL), glibenclamida (GB), glimepirida (GM) e gliclazida (GZ), utilizando as colunas CV, MN, NF e Sub 2 μm. 2- Validar os métodos analíticos extremamente rápidos desenvolvidos em coluna CV e de NF e comparar essas colunas cromatográficas em termos quantitativos, verificando a capacidade de originarem métodos confiáveis. 3 MATERIAIS E MÉTODOS 3.1 Materiais 3.1.1 Insumos farmacêuticos ativos Os mesmos descritos no capítulo 1, item 3.1.1. 3.1.2 Solventes, reagentes e vidrarias Os mesmos descritos no capítulo 1, item 3.1.2. 160 3.1.3 Equipamentos e colunas cromatográficas Os mesmos descritos no capítulo 1, item 3.1.3. 3.1.4 Substâncias químicas de referência e amostras Glibenclamida SQR (Farmacopeia Brasileira, lote 1018) e Daonil® comprimidos (5 mg de glibenclamida, lote 139672, validade 09/201, Sanofi Aventis – São Paulo, Brasil) 3.2 Métodos 3.2.1 Desenvolvimento e comparação de métodos analíticos extremamente rápidos para determinação de antidiabéticos nas colunas CV, MN, NF e Sub 2 μm O desenvolvimento de métodos analíticos extremamente rápidos para quantificação de antidiabéticos orais (métodos extremos) em cada coluna foi realizado a partir dos métodos previamente desenvolvidos e descritos no capítulo 1, e utilizando-se os parâmetros instrumentais cromatográficos otimizados no capítulo 3 (Tabela 5.1). Tabela 5.1 - Condições de análise para determinação de antidiabéticos nas diferentes colunas* Colunas Fase Móvel Vinj (μl) (nm) T (oC) Conc. (μg/ml) Convencional ACN: Solução (50:50)** 2 230 30 100 Monolítica ACN: Solução (43:57)** 2 230 30 100 Núcleo Fundido ACN: Solução (50:50)** 2 230 30 100 Sub 2 μm ACN: Solução (53:47)** 2 230 30 100 * Parâmetros instrumentais: loop de 2 μl, tubo de PEEK de 0,004 polegada e frequência de aquisição dos dados e constante de tempo do detector iguais a 40 Hz/0,025 s ** Solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0 Para desenvolver os métodos extremos a partir dos métodos apresentados na Tabela 5.1, as etapas 1 e 2 descritas a seguir foram realizadas em cada coluna. 161 Etapa 1 - Determinação da vazão máxima Análises de antidiabéticos foram conduzidas em cada coluna utilizando-se os respectivos parâmetros analíticos descritos na Tabela 5.1. A vazão da fase móvel foi aumentada de forma progressiva até que a pressão máxima suportada por cada coluna (Tabela 5.2) ou que resolução mínima próxima a 2,5 entre os picos referentes à glibenclamida e glimepirida (picos adjacentes mais próximos) fosse atingida. Se a pressão máxima foi atingida, mas a resolução mínima não, prosseguiu-se com a etapa 2. Se a resolução mínima ou ambas as condições foram alcançadas concluiuse que o método extremo relativo à coluna em teste apresentava as condições de análise descritas na Tabela 5.1 e a maior vazão testada. Tabela 5.2 - Pressão máxima suportada pelas diferentes colunas Colunas Convencional Pressão máxima (bar) 275 Monolítica 200 Núcleo Fundido 400 * Sub 2 μm 1034** * Apesar da coluna com partículas de núcleo fundido suportar 600 bar, o valor limite será de 400 bar, já que a vantagem de sua utilização está no fato de ela propiciar uma boa eficiência cromatográfica sem a necessidade da utilização de UHPLC. ** Apesar da coluna com partículas sub 2 μm suportar 1200 bar, o valor limite considerado será de 1034 bar, ® valor máximo suportado pelo equipamento UPLC Acquity utilizado. Etapa 2 - Determinação da composição da fase móvel Análises de antidiabéticos foram conduzidas em cada coluna utilizando-se os respectivos parâmetros analíticos descritos na Tabela 5.1 e a vazão selecionada na etapa 1. Aumentou-se progressivamente o percentual de acetonitrila da fase móvel até que resolução mínima próxima a 2,5 entre os picos da glibenclamida e glimepirida fosse atingida. Concluiu-se que o método extremo relativo à coluna em teste apresentava a vazão máxima determinada na etapa 1, a composição da fase móvel determinada na etapa 2 e o restante das condições de análise conforme descrito na Tabela 5.1. 162 Após serem desenvolvidos, os métodos analíticos extremos referentes a cada coluna foram comparados em termos de velocidade de análise e eficiência. Para tanto foram utilizados como parâmetros o tempo de retenção do analito mais retido (glimepirida) e as alturas de prato teórico (H) dos picos relativos aos antidiabéticos. 3.2.2 Comparação das colunas CV e NF em termos quantitativos Além de avaliar as colunas cromatográficas em termos qualitativos, faz-se necessário também avaliar o impacto dessas novas colunas em termos quantitativos. Avaliações qualitativas já foram abordadas nos capítulos 2 e 4, e dizem respeito aos parâmetros seletividade, fator de retenção, pressão, eficiência, resolução, simetria, tempo de análise. Já as avaliações quantitativas têm por objetivo comparar a capacidade das novas colunas em dar origem a métodos analíticos que assegurem a confiabilidade dos resultados. Para realização da avaliação quantitativa foram validados os métodos em condições extremas nas colunas convencional e de núcleo fundido, entretanto apenas a glibenclamida foi utilizada como modelo nos procedimentos experimentais de validação. Os resultados da validação do método extremo desenvolvido em coluna convencional serviram de base para avaliação dos resultados da validação do método extremo em coluna de núcleo fundido. Para a realização das validações foi necessário determinar os parâmetros seletividade, adequabilidade do sistema, estabilidade das soluções, linearidade, precisão, exatidão e robustez, de acordo com as normas da RE 899/2003 da ANVISA e outras referências complementares. Esses parâmetros foram determinados nas colunas convencional e de núcleo fundido, utilizando os respectivos métodos extremos desenvolvidos. 163 3.2.2.1 Seletividade e adequabilidade do sistema (system suitability) As soluções a seguir foram preparadas e injetadas no cromatógrafo em triplicata, exceto a solução padrão de trabalho, que foi injetada cinco vezes para avaliação da adequabilidade do sistema. - Diluente: ACN:solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0 (1:1) - Solução padrão de trabalho (100 μg/ml): Pesaram-se exatamente cerca de 25,0 mg de glibenclamida SQR em balão volumétrico de 25 ml. Adicionaram-se cerca de 20 ml de acetonitrila:solução de acetato de amônio (4:1) e o balão foi levado para banho de ultrassom por 5 minutos. O volume foi completado com ACN:solução de acetato de amônio (4:1). Pipetou-se 1 ml dessa solução para balão de 10 ml e o volume foi completado com acetonitrila:solução de acetato de amônio (1:1). - Solução amostra de comprimido de glibenclamida (100 μg/ml): O peso médio de 20 comprimidos foi determinado e em seguida os comprimidos foram triturados até formarem pó. Pesou-se quantidade de pó correspondente a 1 peso médio, equivalente a 5 mg de glibenclamida, e transferiu-se para balão volumétrico de 25 ml. Foram adicionados cerca de 20 ml de ACN:solução de acetato de amônio (4:1) e o balão foi levado para banho de ultrassom por 30 minutos. Em seguida o volume do balão foi completado com ACN:solução de acetato de amônio (4:1). A solução foi filtrada, descartando-se os primeiros 5 ml. Pipetaram-se 5 ml do filtrado para balão volumétrico de 10 ml e o volume foi completado com ACN:solução de acetato de amônio (1:4). - Solução placebo de comprimido de glibenclamida: Pesaram-se cerca de 157,0 mg de placebo (Tabela 5.3) em balão volumétrico de 25 ml. Adicionaram-se cerca de 20 ml de ACN:solução de acetato de amônio (4:1) e o balão foi levado para banho de ultrassom por 30 minutos. Em seguida o volume do balão foi completado com ACN:solução de acetato de amônio (4:1). A solução foi filtrada e os primeiros 5 ml descartados. Pipetaram-se 5 ml do filtrado para balão volumétrico de 10 ml e o volume foi completado com acetonitrila:solução de acetato de amônio (1:4). 164 Tabela 5.3 - Função farmacotécnica, percentuais usuais e percentuais adicionados dos ® excipientes presentes no comprimido referência de glibenclamida (Daonil )* Excipientes Função Farmacotécnica* % usual* % adicionado Estearato de magnésio Lubrificante 0,25-5% 5% Aerosil Deslizante 0,1-5% 0,5% Lactose Diluente 65%-85% 65% Amido Desintegrante 3-15% 15% Talco Diluente 1-30% 14,5% ® *O placebo foi preparado misturando-se os excipientes descritos na bula do Daonil , comprimido referência da glibenclamida. A quantidade de cada excipiente adicionada ao placebo foi estimada com base no percentual de cada tipo de excipiente que é usualmente utilizado em comprimidos [10]. Para que os métodos sejam considerados seletivos o diluente e o placebo não devem apresentar picos interferentes no mesmo tempo de retenção da glibenclamida. Além disso, os picos de glibenclamida obtidos na amostra e no padrão de trabalho devem apresentar pureza de pico [11]. Para que os sistemas sejam considerados adequados os seguintes critérios devem ser atendidos: fator de retenção (k) entre 1 e 10 [2], fator de assimetria (As) entre 0,8 - 1,8 [12], desvio padrão relativo área (DPR área) menor ou igual a 1% [13,14] e desvio padrão relativo tempo de retenção (DPR tr) menor ou igual a 1% [13,14]. 3.2.2.2 Estabilidade das soluções padrão de trabalho e amostra Solução padrão de trabalho de glibenclamida (100 μg/ml) foi preparada conforme descrito no item 3.2.2.1 deste capítulo e injetada, em triplicata, de hora em hora, por quatro horas. As áreas dos picos de glibenclamida foram registradas e comparadas. Esse experimento foi realizado apenas na coluna convencional, utilizando o respectivo método. Para que a solução de trabalho seja considerada estável a variação entre a área do pico de glibenclamida no tempo inicial (zero hora) e no tempo final (quatro horas) não deve exceder 2%. Mesmo procedimento e critério de aceitação foram utilizados para avaliar a estabilidade da solução amostra [13]. 165 3.2.2.3 Linearidade Foram preparadas, em triplicata, soluções estoque de glibenclamida a 1 mg/ml, em acetonitrila:solução de acetato de amônio (4:1). A partir de cada solução estoque, foram feitas diluições para cinco diferentes concentrações, conforme Tabela 5.4, totalizando 15 soluções. Cada solução foi injetada em triplicata. Tabela 5.4 - Preparo das soluções de glibenclamida para avaliação da linearidade Nível de concentração* Volume de solução estoque (ml) ACN:Solução (1:1) q.s.p. (ml) Concentração (μg/ml) 60% 1,5 25,0 60 80% 2,0 25,0 80 100% 2,5 25,0 100 120% 3,0 25,0 120 140% 3,5 25,0 140 *Em relação à concentração de trabalho de 100 μg/ml As curvas analíticas foram construídas com os valores de área dos picos de glibenclamida obtidos em cada nível de concentração. Os dados foram submetidos aos seguintes testes estatísticos: outlier (teste do resíduo padronizado Jacknife), normalidade dos resíduos (teste de Ryan-Joiner), independência dos resíduos (teste de Durbin-Watson), homoscedasticidade dos resíduos (teste de Brown-Forsythe ou Levene modificado). Após a aplicação dos testes, as regressões lineares foram calculadas pelo método dos mínimos quadrados e foram construídos os gráficos de distribuição de resíduos. Ao final, avaliação da significância das regressões foram realizadas por meio da aplicação do teste de análise de variância (ANOVA). Todos os testes estatísticos foram realizados com auxílio de planilha desenvolvida por Souza e colaboradores [15]. Para que haja linearidade a regressão deve ser estatisticamente significativa, o coeficiente de correlação (r) deve ser superior a 0,99 e o gráfico de resíduos não deve apresentar nenhuma tendência [11, 14]. 166 3.2.2.4 Precisão intra-corrida e precisão inter-corridas A precisão intra-corrida (repetibilidade) foi avaliada por meio de seis determinações a 100% da concentração de trabalho (100 μg/ml de glibenclamida). As soluções amostra para a análise foram preparadas conforme procedimento descrito no item 3.2.2.1 e injetadas três vezes. A precisão inter-corridas (precisão intermediária) foi realizada pela repetição deste procedimento em outro dia. Os resultados foram agrupados e calcularam-se os teores de glibenclamida e os desvios padrões relativos (DPR) das seis determinações do primeiro dia e das 12 determinações realizadas no primeiro e segundo dias. Para que os métodos apresentem precisão intra e inter-corridas o DPR entre as seis e 12 determinações não deve exceder 2% [11, 13, 14]. 3.2.2.5 Exatidão A determinação da exatidão foi realizada em três níveis de concentração, com a adição de quantidades conhecidas de glibenclamida SQR ao placebo do comprimido de referência de glibenclamida (Daonil®). O placebo foi preparado conforme Tabela 5.3. Foram preparadas três soluções padrão estoque de glibenclamida, na concentração de 1 mg/ml, em acetonitrila:solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0 (4:1). A partir de cada solução padrão estoque, foram preparadas três soluções com concentrações equivalentes a 80%, 100% e 120% da concentração de trabalho de glibenclamida (100 μg/ml). Todas as soluções foram fortificadas com 157,0 mg de placebo (massa correspondente à quantidade de excipientes na amostra na concentração de trabalho do doseamento), e submetidas ao procedimento de preparo da amostra de comprimido de glibenclamida, descrito no item 3.2.2.1. Cada uma das nove soluções foi injetada três vezes. Na Tabela 5.5 há um resumo de como foram preparadas as soluções para o ensaio de exatidão. 167 Tabela 5.5 - Preparo das soluções para o ensaio de exatidão Níveis de concentração Massa de placebo (mg) Volume de solução estoque de padrão (ml) Conc. Glibenclamida (µg/ml) Exatidão 80% 157,0 4 80 Exatidão 100% 157,0 5 100 Exatidão 120% 157,0 6 120 A exatidão foi calculada pela relação entre a concentração obtida experimentalmente e a concentração teórica de glibenclamida nas soluções fortificadas com o placebo. Para que os métodos sejam considerados exatos o percentual de recuperação deve estar entre 98% - 102% [13]. 3.2.2.6 Limites de detecção e quantificação Para determinação dos limites de quantificação e detecção foram realizadas diluições seriadas a partir de uma solução padrão de trabalho de glibenclamida (100 μg/ml), preparada de acordo com o item 3.2.2.1. Cada solução foi injetada três vezes. Determinou-se o desvio padrão relativo (DPR) entre as áreas dos picos, bem como a relação sinal/ruído (S/R). O limite de detecção de cada método foi estimado como sendo igual a concentração da solução que produziu S/R = 3. Já o limite de quantificação foi considerado como sendo igual a concentração da solução que deu origem a um pico de S/R = 10 e a áreas reprodutíveis (DPR ≤ 2% entre as áreas de três injeções) [11]. 3.2.2.7 Robustez A robustez dos métodos foi avaliada variando-se deliberadamente algumas condições cromatográficas e verificando-se a influência das modificações nos resultados do doseamento de glibenclamida em comprimido. Em cada condição modificada foram realizadas injeções do padrão (cinco) e da amostra (três). Os parâmetros foram variados de acordo com o método estatístico de Youden e Steiner [16]. As variáveis modificadas, bem como a distribuição dessas variáveis nos 168 experimentos de robustez, estão descritas na Tabela 5.6. Tabela 5.6 - Descrição das variáveis nos experimentos de robustez 1 2 3 4 5 6 7 8 A, a B, b C, c D, d Vazão da Balão Agitação da pH da fase móvel* Volumétrico Amostra fase móvel A B C D +0,1 ml/min Transparente 35 min 3,05 A B c D +0,1 ml/min Transparente 25 min 3,05 A b C d +0,1 ml/min âmbar 35 min 2,95 A b c d +0,1 ml/min âmbar 25 min 2,95 a B C d -0,1 ml/min Transparente 35 min 2,95 a B c d -0,1 ml/min Transparente 25 min 2,95 a b C D -0,1 ml/min âmbar 35 min 3,05 a b c D -0,1 ml/min âmbar 25 min 3,05 Resultado (%) S T U V W X Y Z * Em relação à vazão do método extremo da coluna em teste O método é considerado robusto para todos os parâmetros testados se o efeito de cada variável for menor que o efeito maior. O efeito de cada variável é calculado subtraindo-se a média dos resultados obtidos nos quatro experimentos em que determinada variável foi utilizada em nível alto, pela média dos resultados obtidos 169 nos quatro experimentos em que a mesma variável foi utilizada em nível baixo, conforme demonstrado na equação 5.1 [16]. Efeito da variável A/a = (S + T + U + V)/4 – (W+X+Y+Z)/4 (5.1) Já o cálculo do efeito maior é realizado multiplicando-se o desvio padrão relativo entre os valores de teor obtidos nos oito experimentos por raiz de dois. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO 4.1 Desenvolvimento e comparação de métodos analíticos extremamente rápidos para determinação de antidiabéticos nas colunas CV, MN, NF e Sub 2 μm Na Tabela 5.7 estão descritas as condições analíticas dos métodos extremamente rápidos desenvolvidos em cada coluna. Tabela 5.7 - Condições analíticas para determinação extremamente rápida de antidiabéticos nas diferentes colunas* Vazão Vinj T Conc. (ml/min) (μl) (nm) (o C) (μg/ml) ACN: Solução (50:50)** 1,0 2 230 30 100 Monolítica ACN: Solução (50:50)** 1,2 2 230 30 100 Núcleo Fundido ACN: Solução (65:35)** 0,6 2 230 30 100 Sub 2 μm ACN: Solução (65:35)** 1,2 2 230 30 100 Colunas Fase Móvel Convencional * Parâmetros instrumentais: loop de 2 μl, tubo de PEEK de 0,004 polegada e frequência de aquisição dos dados e constante de tempo do detector iguais a 40 Hz/0,025 s ** Solução de acetato de amônio 5 mM pH 3,0 Analisando-se a Tabela 5.7 verifica-se que foi possível desenvolver um método extremo em coluna empacotada com partículas sub 2 μm que apresentou elevado valor de vazão e alto percentual de acetonitrila na fase móvel. Isso provavelmente foi possível porque a coluna com partículas sub 2 μm resiste mecanicamente ao aumento de pressão provocado pelo aumento da vazão (suporta pressão de até 1200 bar) e possui elevado poder de resolução, o que permite que haja resolução 170 mínima de 2,5 entre a glibenclamida e glimepirida (picos adjacentes mais próximos) mesmo quando fase móvel de elevada força eluotrópica foi utilizada. O método extremo desenvolvido em coluna de núcleo fundido também apresenta fase móvel de elevada força eluotrópica, o que provavelmente só foi possível em função do elevado poder de resolução desse tipo de coluna. O menor valor de vazão máximo é consequência da menor resistência mecânica das partículas de núcleo fundido ao aumento da pressão. Ainda avaliando-se os resultados da Tabela 5.7 pode-se dizer que o fato das colunas monolítica e convencional apresentarem um menor poder de resolução justifica que fases móveis com apenas 50% de acetonitrila, e, portanto de menor força eluotrópica do que as utilizadas nos métodos relativos às colunas de partículas sub 2 μm e partículas de núcleo fundido, já conduzam ao limite mínimo de resolução estabelecido como 2,5. Na Tabela 5.8 a seguir estão relacionados parâmetros cromatográficos obtidos durante a análise de antidiabéticos utilizando os métodos extremos desenvolvidos. Tabela 5.8 - Parâmetros cromatográficos obtidos em análises de antidiabéticos utilizando os métodos extremos desenvolvidos Pmáx. Patingida Colunas HCL HGZ HGB HGM tr GM Rs mín. (bar) (bar) (μm) (μm) (μm) (μm) CV 275 185 29,75 29,83 34,05 31,40 2,32 1,37 MN 200 186 18,78 19,46 21,39 19,50 2,54 0,74 NF 400* 356 14,17 10,96 11,26 10,19 2,54 0,86 Sub 2 μm 1034** 840 13,94 10,99 11,69 10,79 2,64 0,52 (min) * Apesar da coluna com partículas de núcleo fundido suportar 600 bar, o valor limite considerado será de 400 bar, já que a vantagem de sua utilização está no fato de ela propiciar uma boa eficiência cromatográfica sem a necessidade da utilização de equipamentos sob alta pressão do tipo UHPLC. ** Apesar da coluna com partículas sub 2 μm suportar 1200 bar, o valor limite considerado será de 1034 bar, ® valor máximo suportado pelo equipamento UPLC Acquity utilizado. Para analisar os dados da Tabela 5.8 deve-se lembrar de que o objetivo do desenvolvimento desses métodos era propiciar análises extremamente rápidas de antidiabéticos orais. Considerando esse objetivo pode-se dizer que a coluna com partículas sub 2 μm foi capaz de propiciar a análise mais rápida, já que o tempo de 171 retenção da glimepirida (tr GM), último analito eluído, foi de apenas 0,52 minuto. O método extremo desenvolvido em coluna convencional foi o mais lento (tr GM = 1,37 minuto), e os referentes às colunas com partículas de núcleo fundido e monolítica apresentaram velocidades intermediárias. Ë importante destacar que o aumento da velocidade de análise vem acompanhado de perda de eficiência, o que pode ser comprovado pelos elevados valores de altura de prato teórico (H) descritos na Tabela 5.8. Nota-se que mesmo em condições extremas as colunas empacotadas com partículas sub 2 μm e partículas de núcleo fundido foram mais eficientes (menores valores de H) do que as colunas monolítica e convencional. Destaca-se que em elevadas velocidades a coluna monolítica foi mais eficiente (H entre 19 e 21 μm) do que a convencional (H entre 30 e 34 μm). Além disso, com o aumento da velocidade de análise valores de k menores que 1,0, valor mínimo ideal, foram obtidos para a clorpropamida nas colunas monolítica, sub 2 μm e convencional. Na Figura 5.3 estão representados os cromatogramas referentes às análises dos antidiabéticos utilizando os métodos extremos desenvolvidos. Figura 5.3 - Cromatogramas referentes às análises dos antidiabéticos utilizando os métodos extremos em coluna (a) CV (b) MN (c) NF (d) Sub 2 μm - ordem de eluição: CL, GZ, GB e GM. 172 Analisando-se os cromatogramas nota-se que os picos gerados em análises realizadas nas colunas de núcleo fundido e sub 2 μm (Figura 5.3 c e d) são mais altos, indicando a capacidade dessas colunas em propiciar métodos com maior detectabilidade do que as colunas convencional e monolítica (Figura 5.3 a e b). 4.2 Comparação das colunas CV e NF em termos quantitativos A fim de facilitar a execução experimental, a validação foi realizada apenas para a glibenclamida. O método extremo desenvolvido em coluna de núcleo fundido foi selecionado para ser validado e em paralelo, para comparação, realizou-se validação em coluna convencional. 4.2.1 Seletividade e adequabilidade do sistema (system suitability) Os métodos desenvolvidos nas colunas convencional e de núcleo fundido foram seletivos, o que significa que o diluente e o placebo não apresentaram picos interferentes no mesmo tempo de retenção da glibenclamida e que foi verificada a pureza dos picos referentes à glibenclamida nas soluções padrão de trabalho e amostra. Para exemplificar, nas Figuras 5.4 e 5.5 estão apresentados os cromatogramas referentes ao diluente e soluções placebo, padrão de trabalho e amostra em coluna convencional e de núcleo fundido, respectivamente. Figura 5.4 - Cromatogramas da GB - (a) padrão, (b) amostra, (c) diluente (d) placebo coluna CV 173 Figura 5.5 - Cromatogramas da GB - (a) padrão, (b) amostra, (c) diluente (d) placebo – coluna NF Os valores médios e os desvios padrões relativos (DPR) dos parâmetros de adequabilidade do sistema obtidos após cinco injeções da solução padrão de trabalho de glibenclamida nas colunas convencional e de núcleo fundido, utilizando os métodos extremos desenvolvidos, estão apresentados na Tabela 5.9. NF CV Tabela 5.9 - Valores médios e DPR dos parâmetros de adequabilidade do sistema Área (AU.s) tr (min.) As K Média 310158 1,14 1,08 4,20 DPR (%) 0,38 0,48 1,52 0,65 Média 523592 0,76 1,13 1,25 DPR (%) 0,26 0,00 0,40 0,92 Os resultados de adequabilidade do sistema foram satisfatórios. O DPR entre as áreas e entre os tempos de retenção foi inferior a 1%, os fatores de assimetria (As) ficaram entre 0,8 e 1,8, os fatores de retenção (k) estão entre 1 e 10. 174 4.2.2 Estabilidade das soluções padrão de trabalho e amostra As áreas relativas ao pico de glibenclamida nas soluções padrão de trabalho e amostra, determinadas de hora em hora por 4 horas, em coluna convencional, estão descritas na Tabela 5.10. Tabela 5.10 - Áreas das soluções padrão de trabalho e amostra em período de 4 horas Hora Área (AU.s) da amostra Área (AU.s) do padrão 0 317660 310158 1 316784 311415 2 316115 312496 3 317345 312647 4 318899 313485 ∆ % (Hora 0 – Hora 4) 0,39% 1,07% Como houve uma variação inferior a 2% entre as áreas registradas no início (hora zero) e no final do experimento (hora quatro), conclui-se que as soluções padrão de trabalho e amostra são estáveis por, pelo menos, 4 horas. 4.2.3 Linearidade Para estimar as regressões lineares, as quais estabelecem a relação entre área e concentração de glibenclamida, optou-se pela utilização do método dos mínimos quadrados (MMQ). Antes da aplicação do MMQ testes estatísticos foram aplicados aos dados de regressão linear (Tabela 5.11). Tabela 5.11 - Testes estatísticos aplicados aos dados de regressão linear CV NF Outliers Normalidade Homocedasticidade Independência Resíduo Jacknife Ryan-Joiner Levene modificado Durbin-Watson Dados seguem a Dados são Dados são normal homocedásticos independentes Dados seguem a Dados são Dados são normal homocedásticos independentes Não há outliers Há 1 outlier 175 De acordo com a Tabela 5.11 percebe-se que os dados de regressão dos métodos analíticos, em todas as colunas, são passíveis de serem tratados pelo MMQ, já que todos seguem a distribuição normal, são homocedásticos e independentes. Na Tabela 5.12 estão apresentados os dados de regressão linear relativos às colunas convencional e núcleo fundido, os quais foram submetidos ao método dos mínimos quadrados. Tabela 5.12 - Concentrações de glibenclamida e valores de área para a construção das NÚCLEO FUNDIDO CONVENCIONAL curvas analíticas Glibenclamida Nível de concentração 60 60% 80 80% 100 100% 120 120% 140 140% 60 60% 80 80% 100 100% 120 120% 140 140% N Área (AU.s) 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 1 2 3 191674 191698 187923 254599 256441 250450 317926 316438 323956 384642 387554 377181 451851 443013 444486 306233 312254 305766 408035 417134 401414 511206 505373 518806 626778 630699* 609504 724971 710136 713492 *outlier – Dado excluído As curvas analíticas obtidas a partir da aplicação do método dos mínimos quadrados aos dados da Tabela 5.12, bem como as equações das retas e os coeficientes de correlação (r), estão apresentados nas Figuras 5.6 e 5.7 176 y = 3206,7x - 2011 r = 0,9993 Área (AU.s) 500000 400000 300000 200000 100000 0 30 60 90 120 150 180 Concentração (μg/ml) Figura 5.6 - Curva analítica para a determinação de GB em comprimidos - Coluna de CV y = 5122x + 191,12 r = 0,9991 850000 Área (AU.s) 700000 550000 400000 250000 100000 0 30 60 90 120 Concentração (μg/ml) 150 180 Figura 5.7 - Curva analítica para a determinação de GB em comprimidos - Coluna NF Após aplicação do teste de significância da regressão (α = 0,05) verificou-se que as regressões apresentadas nas Figuras 5.7 e 5.8 são estatisticamente significativas. Nas Figuras 5.8 e 5.9 a seguir estão representados os gráficos de distribuição de resíduos. Analisando-os verifica-se uma distribuição aleatória dos pontos e, portanto, ausência de qualquer tendência. Resíduos 8000 4000 0 -4000 -8000 40 60 80 100 120 140 160 Concentração (μg/ml) Figura 5.8 - Gráfico de distribuição de resíduos - coluna CV 177 14000 Resíduos 7000 0 -7000 -14000 40 60 80 100 120 140 160 Concentração (μg/ml) Figura 5.9 - Gráfico de distribuição de resíduos - coluna NF Considerando as discussões apresentadas pode-se concluir que os dois métodos apresentam linearidade. Os resultados das análises estatísticas indicaram ajustes adequados ao modelo de regressão linear: o coeficiente de correlação r foi superior a 0,99 e a ANOVA demonstrou que as regressões foram estatisticamente significativas a um nível de significância de 5%. Além disso, analisando-se os gráficos de resíduos, não se observou nenhuma tendência. 4.2.4 Precisão intra-corrida e precisão inter-corridas Avaliou-se a precisão intra-corrida dos métodos por meio de seis determinações a 100% da concentração de trabalho (100 μg/ml) e a inter-corrida por meio de 12 determinações Os valores de teor e DPR estão apresentados na Tabela 5.13. Tabela 5.13 - Valores de área e teor de glibenclamida em comprimidos para avaliação da precisão dos métodos extremos relativos às colunas CV e NF corrida corrida IntraIntracorridas Inter- 2o dia 1o dia CV NF Área Média (AU. s) Teor médio (AU. s) 311576 100,40 531507 100,46 DPR (%) 0,24 0,18 Área Média (AU. s) Teor médio (AU. s) 310241 99,97 526201 99,45 DPR (%) 0,22 0,34 Área Média (AU. s) Teor médio (AU. s) 310908 100,18 528854 99,95 DPR (%) 0,33 0,58 178 Os valores de DPR obtidos foram inferiores a 2,0%, indicando que os métodos apresentaram precisão intra-corrida (repetibilidade) e precisão inter-corridas (precisão intermediária) satisfatórias. 4.2.5 Exatidão Na Tabela 5.14 estão apresentados os resultados referentes ao percentual de analito que, após ter sido adicionado ao placebo e submetido ao mesmo procedimento de preparo da amostra de comprimido de glibenclamida, foi recuperado. Tabela 5.14 - Percentual de recuperação de glibenclamida adicionada ao placebo para avaliação da exatidão dos métodos extremos nas colunas CV e NF Nível CONVENCIONAL 80% (80 μg/ml) 100% (100 μg/ml) 120% (120 μg/ml) NÚCLEO FUNDIDO 80% (80 μg/ml) 100% (100 μg/ml) 120% (120 μg/ml) Conc. teórica Recuperado Porcentagem Médias (μg/ml) (μg/ml) (%) (%) 1 80,35 80,24 99,86 2 80,10 80,04 99,92 3 1 80,32 100,44 80,16 100,06 99,80 99,62 2 100,13 100,08 99,96 3 100,40 100,45 100,05 1 120,53 120,73 100,17 2 120,16 120,95 100,66 3 120,48 121,02 100,45 1 80,35 80,42 100,08 2 80,10 80,47 100,46 N 3 80,32 80,59 100,34 1 100,44 101,15 100,71 2 100,13 100,29 100,17 3 100,40 101,03 100,62 1 120,53 121,84 101,09 2 120,16 121,64 101,24 3 120,48 122,00 101,26 99,86 99,87 100,43 100,29 100,50 101,19 Os valores de porcentagem de recuperação entre 98% e 102% indicam que os métodos apresentaram exatidão adequada para quantificação de glibenclamida em comprimidos. 179 4.2.6 Limites de detecção e quantificação Os limites de detecção e quantificação de glibenclamida referentes aos métodos extremos desenvolvidos nas colunas CV e NF estão descritos na Tabela 5.15. Tabela 5.15 - Limites de detecção e quantificação Coluna LD (μg/ml) LQ (μg/ml) CV 2,5 7,5 NF 0,5 2,5 Os resultados apresentados na Tabela 5.15 são apenas informativos já que os métodos em questão são para determinação quantitativa de glibenclamida em comprimidos, e, portanto, o limite de detecção não precisaria ser determinado. Além disso, como a concentração de trabalho é alta (100 μg/ml) o limite de quantificação também não precisaria ser estimado. Analisando-se os dados nota-se que o método extremo desenvolvido em coluna de núcleo fundido apresentou menor limite de detecção e de quantificação do que o método extremo desenvolvido em coluna convencional. Isso é consequência da redução do tamanho das partículas (de 5 μm na coluna CV para 2,7 μm na coluna de NF) e do menor caminho de difusão presente nas partículas de núcleo fundido. Ambos os fatores contribuem para um menor alargamento do pico cromatográfico, dando origem a um pico de maior relação sinal/ruído [17,18]. 4.2.7 Robustez Os resultados de robustez estão apresentados na Tabela 5.16. Os efeitos de cada variável e o efeito maior foram calculados para que a influência das modificações propostas na quantificação da glibenclamida em comprimidos fosse avaliada. 180 Tabela 5.16 - Avaliação do efeito das variáveis na determinação de teor de glibenclamida utilizando os métodos extremos nas colunas CV e NF Coluna CONVENCIONAL Vazão Balão Agitação pH da FM Vazão NÚCLEO FUNDIDO Média dos Efeito da Efeito teores* variável** maior*** A: 1,1 ml/min 100,01 100,01-99,46= a: 0,9 ml/min 99,46 0,55 B: Transparente 99,18 99,18-100,28= - b: Âmbar 100,28 1,10 C: 35 minutos 99,84 99,84-99,63= c: 25 minutos 99,63 0,21 D:3,05 100,47 100,47-99,0= d:2,95 99,00 1,47 A: 0,7 ml/min 99,81 99,81-99,34= a: 0,5 ml/min 99,34 0,46 B: Transparente 98,94 98,94-100,21= - b: Âmbar 100,21 1,28 C: 35 minutos 99,66 99,66-99,49= c: 25 minutos 99,49 0,17 D:3,05 99,79 99,79-99,36= d:2,95 99,36 0,44 Variável Balão 1,51 1,12 Agitação pH da FM *Média dos teores dos 4 experimentos realizados com determinada variável no nível alto ou baixo. **Média dos teores dos 4 experimentos realizados com determinada variável no nível alto menos a média dos teores dos 4 experimentos realizados com determinada variável no nível baixo *** DPR entre os teores obtidos nos 8 experimentos x 2. Analisando-se os resultados da Tabela 5.16 verifica-se que o método extremo desenvolvido em coluna convencional foi robusto para todos os parâmetros avaliados (vazão e pH da fase móvel, tipo de balão volumétrico, tempo de agitação), já que os efeitos das variávies foram inferiores ao efeito maior. Já o método extremo desenvolvido em coluna de núcleo fundido foi robusto para os parâmetros vazão e pH da fase móvel e tempo de agitação. Verifica-se que no experimento realizado em coluna de núcleo fundido o efeito da variável balão volumétrico (1,28) foi superior ao efeito maior (1,12), indicando ser esse um parâmetro significativo durante a quantificação de glibenclamida realizada em coluna de núcleo fundido. Entretanto considerando que o preparo da amostra relativo aos métodos em coluna convencional e de núcleo fundido é o mesmo, que o tipo de balão volumétrico (âmbar ou transparente) não demonstrou efeito significativo durante a quantificação 181 de glibenclamida realizada em coluna convencional e que referências da literatura apontam para a fotoestabilidade da glibenclamida [19], não faz sentido que o tipo de balão seja considerado parâmetro de efeito significativo na determinação de glibenclamida em coluna de núcleo fundido. 5 CONCLUSÃO O método extremo desenvolvido em coluna empacotada com partículas sub 2 μm foi o mais rápido, já que o tempo de retenção da glimepirida, último analito a ser eluído, foi de apenas 0,52 minutos. O método extremo desenvolvido em coluna convencional foi o mais lento (tr GM = 1,37 minuto), e os referentes às colunas empacotadas com partículas de núcleo fundido (tr GM = 0,86 minuto) e monolítica (tr GM = 0,74 minuto) apresentaram velocidades intermediárias. Verificou-se que mesmo em condições extremas as colunas empacotadas com partículas sub 2 μm e partículas de núcleo fundido geraram análises mais eficientes do que as colunas monolítica e convencional. É importante destacar que as pressões atingidas pelas colunas convencional, monolítica e de núcleo fundido foram compatíveis com HPLC (inferior a 400 bar). Já a pressão atingida pela coluna de partículas sub 2 μm é compatível com UHPLC (próxima a 1000 bar). Considerando apenas velocidade de análise o método extremo desenvolvido em coluna Sub 2 μm foi o ideal, já que propiciou a análise mais rápida. Entretanto considerando simultaneamente os fatores velocidade, eficiência e a limitação de pressão, o método extremo relativo à coluna de núcleo fundido foi o ideal. Os métodos extremos em coluna convencional e de núcleo fundido para determinação de glibenclamida em comprimido foram adequadamente validados quanto aos parâmetros seletividade, linearidade, precisão, exatidão, limites de detecção e quantificação e robustez. Além disso, verificou-se a adequabilidade de ambos os sistemas (system suitability). Conclui-se que o método desenvolvido em coluna de núcleo fundido, assim como o método desenvolvido na coluna convencional, é confiável para determinação quantitativa de glibenclamida em comprimidos. 182 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1] AL-SAYAH, M. A.; RIZOS, P.; ANTONUCCI, V.; WU, N. High throughput of active pharmaceutical ingredients by UPLC. Journal of Separation Science. v. 31, p. 21672172, 2008. [2] SNYDER, L. R., KIRKLAND, J. J., GLAJCH, J. L. Practical HPLC method development. 2 ed. New York: John Wiley & Sons, 1997. 765 p. [3] GUILLARME, D.; RUTA, J.; RUDAZ, J.; VEUTHEY, J. 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A otimização foi realizada baseada na análise dos valores de variância extracoluna e eficiência cromatográfica remanescente. - Verificou-se que a influência negativa da variância extracoluna na eficiência cromatográfica foi mais intensa durante a análise da clorpropamida e gliclazida (analitos menos retidos) e quando colunas mais eficientes (sub 2 μm e núcleo fundido) foram empregadas. Portanto, a otimização do sistema cromatográfico foi especialmente importante para que o potencial cromatográfico das colunas empacotadas com partículas sub 2 µm e com partículas de núcleo fundido fosse aproveitado. Dessa forma foi possível realizar uma comparação fidedigna do desempenho cromatográfico das quatro colunas em estudo. - Considerando as análises das curvas de Van Deemter e de Knox, gráficos de performance cinética, resolução, simetria e pressão, conclui-se que a coluna empacotada com partículas de núcleo fundido é a melhor alternativa à coluna convencional quando o objetivo é a obtenção de análises rápidas e ao mesmo tempo eficientes. A coluna monolítica, apesar de compatível com equipamento de HPLC e de propiciar análises mais rápidas com maior eficiência do que a coluna convencional, apresenta eficiência cromatográfica bem inferior à gerada pelas colunas de núcleo fundido e sub 2 μm, além de dar origem a picos de pior simetria. Para exemplificar, considerando a análise da glimepirida, verificou-se que coluna de núcleo fundido gerou análises com 90% da eficiência máxima e da velocidade ótima e aproximadamente a mesma resolução propiciada pela coluna sub 2 μm, com a grande vantagem de não gerar no sistema pressões acima de 400 bar, e portanto 186 não requerer a utilização de sistemas de UHPLC, mais caros e menos disponíveis. Além disso, assim como a coluna sub 2 μm, a coluna de núcleo fundido foi capaz de manter elevada eficiência em altas velocidades de análise e de gerar picos de boa simetria. - O método extremo desenvolvido em coluna empacotada com partículas sub 2 μm foi o mais rápido, o desenvolvido em coluna convencional o mais lento (tr GM = 1,37 minuto), e os referentes às colunas empacotadas com partículas de núcleo fundido (tr GM = 0,86 minuto) e monolítica (tr GM = 0,74 minuto) apresentaram velocidades intermediárias. Verificou-se que mesmo em condições extremas as colunas empacotadas com partículas sub 2 μm e partículas de núcleo fundido foram mais eficientes. É importante destacar que as pressões limites atingidas pelas colunas convencional, monolítica e de núcleo fundido foram compatíveis com equipamentos de HPLC (inferior a 400 bar). Já a pressão atingida pela coluna de partículas sub 2 μm é compatível com equipamento de UHPLC (próximo a 1000 bar). - Considerando apenas velocidade de análise o método extremo desenvolvido em coluna empacotada com partículas sub 2 μm é o ideal. Entretanto considerando a velocidade de análise, eficiência e a limitação da pressão máxima, o método extremo desenvolvido em coluna de núcleo fundido é o ideal. - Os métodos extremos em coluna convencional e de núcleo fundido para determinação de glibenclamida em comprimido foram adequadamente validados. Conclui-se que o método desenvolvido em coluna de núcleo fundido, assim como o método desenvolvido na coluna convencional, é confiável para determinação quantitativa de glibenclamida em comprimidos. - Por último destaca-se a importância desse tipo de estudo para a escolha, compreensão das limitaçoes, vantagens e cuidados necessários ao aproveitamento dessas novas fases estacionárias disponíveis no mercado. 187 APÊNDICE TRABALHOS APRESENTADOS EM CONGRESSO 188