Capítulo 5 - Cinemática da Velocidade e da Aceleração. O Jacobiano do Manipulador 54 CAPÍTULO 5 CINEMÁTICA DA VELOCIDADE E DA ACELERAÇÃO O JACOBIANO DO MANIPULADOR 5.1 INTRODUÇÃO Nos capítulos anteriores foram estudadas as cinemáticas direta e inversa da posição. Para o estudo das cinemáticas direta e inversa da velocidade e da aceleração, há necessidade de estudar certas propriedades das matrizes de rotação, as quais serão úteis no estudo das transformações de velocidades e acelerações entre sistemas de coordenadas. No presente capítulo serão apresentadas as citadas propriedades e deduzidas as relações entre as velocidades lineares e angulares do órgão terminal (ou de qualquer outro ponto do manipulador) e as velocidades das juntas. Também serão discutidas a relação entre as acelerações das juntas e do órgão terminal (ou de qualquer outro ponto do manipulador). 5.2 PROPRIEDADES DAS MATRIZES DE ROTAÇÃO Considere-se uma matriz de rotação variante no tempo R = R(t). Tendo em vista a ortogonalidade de R, pode-se escrever Derivando em relação ao tempo: (5.2.1) Definindo (5.2.2) pode-se verificar facilmente que a matriz S é anti-simétrica, pois (5.2.3) Pósmultiplicando a eq. (5.2.3) por R(t), e levando em conta as eqs. (5.2.1) e (5.2.2), chega-se a Capítulo 5 - Cinemática da Velocidade e da Aceleração. O Jacobiano do Manipulador 55 (5.2.4) que permite expressar a derivada temporal da matriz de rotação em função dela mesma e da matriz antisimétrica S(t). Essa matriz anti-simétrica S(t) tem uma interpretação física interessante. Considere-se um vetor constante p’ e o vetor função do tempo p(t) = R(t) p’. Derivando em relação ao tempo o vetor p(t): ou, tendo em vista a eq. (5.2.4): Denotando o vetor velocidade angular instantânea do sistema R(t) com relação ao sistema inercial por ω(t), sabe-se da mecânica que Portanto, observando as duas últimas equações, verifica-se que a matriz S(t) descreve o produto matricial entre o vetor ω(t) e o vetor R(t)p’. A matriz S(t) representa o vetor ω(t) = [ωx ωy ωz]T na forma (5.2.5) o que justifica que S(t) = S(ω ω(t)). No importante caso particular dos vetores unitários i, j e k, tem-se 0 S( i ) = 0 0 0 S( j) = 0 -1 0 0 0 -1 1 0 0 1 0 0 0 0 0 -1 0 S( k) = 1 0 0 0 0 0 (5.2.6) (5.2.7) (5.2.8) Também pode-se provar que, se R é uma matriz de rotação, então (5.2.9) expressão que será muito útil mais tarde. Capítulo 5 - Cinemática da Velocidade e da Aceleração. O Jacobiano do Manipulador 56 Propriedades da matriz S A matriz S apresenta algumas propriedades interessantes que estão relacionadas a seguir, sem provas, embora as mesmas não sejam difíceis. (1) Linearidade S(αa + βb) = αS(a) + βS(b) (5.2.10) onde α e β são escalares e a e b são vetores. (2) Para qualquer vetor p S(a) p = a x p (5.2.11) isto é, o produto matricial da matriz anti-simétrica associada ao vetor a, S(a), pelo vetor p, é igual ao produto vetorial do vetor a pelo vetor p. (3) Seja a matriz ortogonal 3 x 3 R e sejam a e b dois vetores no espaço 3D. Então R(a x b) = R a x R b (5.2.12) ou seja, se primeiro forem girados a e b usando a matriz de transformação R e depois formado o produto vetorial dos vetores girados R a e R b, o resultado é o mesmo que o obtido primeiro formando o produto vetorial a x b e depois girando o vetor produto. (4) R S(a) RT = S(R a) (5.2.13) (5) Se R = R(θ) é uma matriz de rotação função apenas da variável θ, então dR = S R (θ ) dθ (5.2.14) 5.3 VELOCIDADE E ACELERAÇÃO Seja R(t) uma matriz de rotação ortogonal 3 x 3, dependente do tempo. De acordo com a eq. (5.2.4) e com a justificativa de que S(t) = S(ω ω(t)), conforme visto no item 5.2, pode-se escrever . R = S(ω (t)) R (t) (5.3.1) Velocidade Considere-se, inicialmente, o caso da rotação pura. Seja um vetor p1, definido no sistema móvel O1x1y1z1, o qual gira em relação ao sistema fixo O0x0y0z0. Então, o vetor dado é transformado para o sistema fixo através da relação p0 = R(t) p1 (5.3.2) Para achar a velocidade em relação ao sistema fixo, basta derivar a eq. (5.3.2) em relação ao tempo: Capítulo 5 - Cinemática da Velocidade e da Aceleração. O Jacobiano do Manipulador 57 (5.3.3) que é a familiar expressão da velocidade no caso da rotação pura. Seja, agora, o caso geral de translação e rotação. Nesse caso, a matriz de transformação homogênea é dada por R1 (t) d1 (t) 1 0 0 (5.3.4) H 0 (t) = 1 O Por simplicidade, serão omitidos o argumento t e os superescritos e subescritos que aparecem na matriz e no vetor da expressão acima. Assim, o vetor posição, em relação ao sistema da base, é dado por p0 = d + R p1 (5.3.5) Derivando em relação ao tempo, obtem-se o vetor velocidade: (5.3.6) . onde foi usada a eq. (5.3.1) e adotada a notação d = v . Na eq. (5.3.6): v é a velocidade linear da origem do sistema móvel em relação ao sistema fixo; ω é a velocidade angular do sistema móvel em relação ao sistema fixo; r = R p1 é o vetor posição p1 em relação ao sistema fixo. Se o vetor p1 estiver se movimentando em relação ao sistema móvel, então deve-se adicionar ao termo v o termo . R (t) p1 que é a taxa de variação de p1 expressa no sistema O0x0y0z0. Aceleração A eq. (5.3.6) pode ser colocada na forma (5.3.7) Derivando em relação ao tempo: (5.3.8) A eq. (5.3.8) pode ser escrita como (5.3.9) Capítulo 5 - Cinemática da Velocidade e da Aceleração. O Jacobiano do Manipulador 58 onde a é a aceleração linear. O termo ω x (ω ω x r) denomina-se aceleração centrípeta da partícula e está sempre dirigido para o eixo de rotação, sendo perpendicular a esse eixo. O termo é chamado aceleração transversal. Se o vetor p1 estiver variando com relação ao sistema móvel, a expressão (5.3.9) deve ser modificada para (5.3.10) onde O termo é conhecido como aceleração de Coriolis. 5.4 ADIÇÃO DE VELOCIDADES ANGULARES Muitas vezes tem-se interesse em achar a velocidade angular resultante devida à rotação relativa de vários sistemas de coordenadas. Considere-se, inicialmente, a composição das velocidades angulares de apenas dois sistemas de coordenadas móveis, O1x1y1z1 e O2x2y2z2, em relação a um sistema fixo O0x0y0z0. Seja um ponto p representado nos respectivos sistemas pelas relações (5.4.1) onde (5.4.2) e (5.4.3) Derivando a eq. (5.4.2) em relação ao tempo: (5.4.4) O termo da expressão acima pode ser escrito como (5.4.5) O primeiro termo do lado direito da eq. (5.4.4) é simplesmente (5.4.6) Quanto ao segundo termo do lado direito da eq. (5.4.4), usando a eq. (5.2.12), obtem-se Capítulo 5 - Cinemática da Velocidade e da Aceleração. O Jacobiano do Manipulador 59 (5.4.7) Combinando as expressões acima (5.4.8) Tendo em vista que S(a) + S(b) = S(a + b), vê-se então que (5.4.9) Em outras palavras, as velocidades angulares podem ser somadas, desde que estejam expressas em relação ao mesmo sistema de coordenadas, no caso o sistema O0x0y0z0. A expressão (5.4.9) pode ser extendida para qualquer número de sistemas de coordenadas: (5.4.10) 5.5 O JACOBIANO DO MANIPULADOR Matematicamente, as equações da cinemática direta definem uma função entre o espaço das posições e orientações cartesianas (ou, simplesmente, o espaço cartesiano) e o espaço das posições das juntas (ou, simplesmente, o espaço das juntas). As relações entre velocidades são, então, determinadas pelo Jacobiano dessa função. O Jacobiano é uma função matricial, podendo ser imaginado como uma versão vetorial da derivada ordinária de uma função escalar. Trata-se de uma das quantidades mais importantes na análise e no controle do movimento de um robô. Ele aparece em basicamente todos os aspectos da manipulação de um robô: no planejamento e execução de trajetórias, na determinação de configurações singulares, na dedução das equações dinâmicas do movimento e na transformação de forças e torques do órgão terminal para as juntas do manipulador. Para um manipulador com n membros, deve-se deduzir o Jacobiano que representa a transformação instantânea entre o vetor das velocidades das juntas (n componentes) e o vetor das velocidades lineares e angulares do órgão terminal (6 componentes, sendo 3 velocidades lineares e 3 velocidades angulares), ou de qualquer outro ponto do manipulador. Portanto, o Jacobiano é uma matriz de dimensões 6 x n. Considere-se um manipulador com n variáveis das juntas, representadas pelo vetor q =[q1 q2 ... qn]T e seja a transformação do sistema do órgão terminal em relação ao sistema da base dada por (5.5.1) Capítulo 5 - Cinemática da Velocidade e da Aceleração. O Jacobiano do Manipulador 60 À medida que o robô se movimenta, tanto as variáveis das juntas, qi, como a posição d0n e a orientação do órgão terminal, R0n, serão funções do tempo. O objetivo agora é relacionar as . velocidades linear e angular do órgão terminal com o vetor das velocidades das juntas, q (t) . Seja a velocidade angular do órgão terminal definida por (5.5.2) e seja a velocidade linear do órgão terminal denotada por (5.5.3) Deseja-se obter expressões das formas (5.5.4) (5.5.5) onde Jv e Jω são matrizes 3 x n. Pode-se reunir as duas últimas equações como (5.5.6) onde a matriz dada por (5.5.7) é o conhecido Jacobiano do Manipulador, uma matriz 6 x n, onde n é o número de membros do manipulador. 5.6 DEDUÇÃO DO JACOBIANO Inicialmente, será determinada a parte inferior do Jacobiano da eq. (5.5.7), Jω , referente à velocidade angular. Conforme estudado anteriormente, as velocidades angulares podem ser somadas vetorialmente, desde que estejam expressas em relação a um mesmo sistema de coordenadas. Assim, pode-se determinar a velocidade angular do órgão terminal, em relação à base, expressando a velocidade angular de cada membro em relação à base e somando vetorialmente essas velocidades. Logo, a velocidade angular do i-ésimo membro, se a junta for rotativa, em relação ao sistema i - 1, é dada por (5.6.1) Capítulo 5 - Cinemática da Velocidade e da Aceleração. O Jacobiano do Manipulador 61 Por outro lado, se a junta for prismática, então tal velocidade angular é nula: (5.6.2) Portanto, a velocidade angular total do órgão terminal, em relação ao sistema da base, é dada por (5.6.3) onde (5.6.4) denota o vetor unitário k do sistema i - 1 expresso em relação ao sistema da base e onde ρi = 1 se a junta i é rotativa ρi = 0 se a junta i é prismática Assim, a metade inferior do Jacobiano da eq. (5.5.7) é dada por (5.6.5) Será, agora, determinada a parte superior do Jacobiano da eq. (5.5.7), Jv, referente à velocidade linear. A velocidade linear do órgão terminal pode ser obtida a partir da derivação temporal do vetor posição, usando a regra da cadeia da derivação: (5.6.6) Assim, vê-se que a i-ésima coluna de Jv é simplesmente Além disso, essa expressão é justamente a velocidade linear do órgão terminal que resulta se . . q i for igual a 1 e os outros q j forem nulos. Em outras palavras, a i-ésima coluna do Jacobiano é gerada mantendo-se todas as juntas fixas exceto a i-ésima, que é atuada com velocidade unitária. Dois casos são considerados a seguir. Caso 1 Se a junta i é prismática, então R0j-1 é independente de qi = di para todo j, e (5.6.7) Capítulo 5 - Cinemática da Velocidade e da Aceleração. O Jacobiano do Manipulador 62 Se todas as juntas forem fixadas, exceto a i-ésima, tem-se (5.6.8) Assim, (5.6.9) Caso 2 Se a junta i é rotativa, então ok denota o vetor dk0 da origem O0 à origem Ok para qualquer k, e podese então escrever (5.6.10) (5.6.11) ou, na nova notação: Com relação à fig. 5.1, que ilustra o movimento do órgão terminal devido ao membro i, observe-se que tanto di-10 como Ri-10 são constantes se apenas a i-ésima junta for atuada. Fig. 5.1 Movimento do órgão terminal devido ao i-ésimo membro Portanto, da eq. (5.6.10): (5.6.12) Tendo em conta que o movimento do membro i é uma rotação qi em torno de zi-1, tem-se (5.6.13) e assim Portanto, (5.6.14) (5.6.15) Capítulo 5 - Cinemática da Velocidade e da Aceleração. O Jacobiano do Manipulador 63 e a parte superior do Jacobiano, Jv é (5.6.16) onde a i-ésima coluna é (5.6.17) se a junta for rotativa e (5.6.18) se a junta for prismática. Reunindo as metades superior e inferior do Jacobiano, foi mostrado que o Jacobiano para um manipulador de n membros tem a forma (5.6.19) onde a iésima coluna é dada por (5.6.20) se a junta i for rotativa e (5.6.21) se a junta i for prismática. As fórmulas acima tornam simples a determinação do Jacobiano de qualquer manipulador, pois todas as quantidades necessárias já estão disponíveis a partir da cinemática direta. Na verdade, as únicas quantidades necessárias para calcular o Jacobiano são os vetores unitários zi e os vetores que localizam as origens O1, O2, ... , On, em relação à origem O0. Ora, é fácil verificar que zi é dado pelos três primeiros elementos da terceira coluna da matriz Hi0, enquanto que oi é dado pelos três primeiros elementos da quarta coluna de Hi0. Portanto, apenas as terceira e quarta colunas das matrizes de transformação homogênea são necessárias para a construção do Jacobiano. O procedimento acima funciona não apenas para calcular a velocidade do órgão terminal, mas também para determinar a velocidade de qualquer ponto do manipulador. Isso será muito importante para a determinação das velocidades dos centros de massa dos vários membros do manipulador, a fim de deduzir as equações dinâmicas do movimento, conforme será estudado em capítulo posterior. Exemplo ilustrativo Considere-se o manipulador planar da fig. 1.15. Como ambas as juntas são rotativas, o Jacobiano (que neste caso é uma matriz 6 x 2) tem a forma (5.6.22) onde vê-se facilmente que as várias quantidades que aparecem na expressão acima são dadas por Capítulo 5 - Cinemática da Velocidade e da Aceleração. O Jacobiano do Manipulador 64 (5.6.23) (5.6.24) Executando os cálculos: (5.6.25) A expressão do Jacobiano dada acima é praticamente a mesma obtida no cap. 1 (ver eq. (1.7.9). Também é interessante observar que as duas primeiras linhas da eq. (5.6.25) fornecem a velocidade linear da origem O2 relativamente à base. A terceira linha é a velocidade linear na direção z0 que, no presente caso, é zero. As três últimas linhas representam a velocidade angular do último sistema, que é simplesmente uma rotação em torno do eixo horizontal, cuja velocidade é 5.7 SINGULARIDADES . O Jacobiano 6 x n, J(q), define uma relação linear entre o vetor das velocidades das juntas, q , e o vetor das velocidades do órgão terminal, T . ω) X = (v,ω dada por (5.7.1) (5.7.2) Tendo em conta que o Jacobiano é função da configuração q, as configurações para as quais decresce a ordem de J possuem especial significado, sendo conhecidas como configurações singulares. A identificação de configurações singulares é importante por diversas razões: 1. As singularidades representam configurações em que a mobilidade do manipulador é reduzida, isto é, não é possível impor um movimento arbitrário ao órgão terminal; 2. Nas singularidades, pequenas velocidades do órgão terminal podem corresponder a grandes velocidades das juntas; Capítulo 5 - Cinemática da Velocidade e da Aceleração. O Jacobiano do Manipulador 65 3. Nas singularidades, pequenas forças e torques do órgão terminal podem corresponder a grandes forças e torques das juntas; 4. As singularidades usualmente (mas nem sempre) correspondem a pontos do contorno do volume de trabalho do manipulador, isto é, pontos de máximo alcance do manipulador; 5. As singularidades correspondem a pontos do volume de trabalho do manipulador que podem ser inatingíveis sob pequenas mudanças dos parâmetros do membro (ai, di, etc.); 6. Nas proximidades das singularidades não existe uma única solução para o problema da cinemática inversa; em tais casos, pode não haver solução ou pode haver uma infinidade de soluções. Exemplo ilustrativo Considere-se novamente o manipulador planar para o qual foi calculado anteriormente o Jacobiano, dado por Para verificar se existem singularidades, é necessário examinar se existe redução na ordem da matriz. Como se trata de uma matriz 6 x 2, deve-se examinar todas as submatrizes quadradas 2 x 2 que nela estão contidas. No caso, existe a submatriz 2 x 2 (5.7.3) o que comprova que o manipulador pode apresentar singularidades. Tais singularidades podem ser identificadas calculando-se as condições para as quais o det J é nulo, isto é: det J = a1a2s2 = 0 Como a1 e a2 ≠ 0 (comprimentos do braço e do antebraço), então o determinante se anula quando θ2 = 0 ou θ2 = π que são, respectivamente, as situações em que o órgão terminal está localizado na superfície externa do volume de trabalho (conforme ilustra a fig. 1.19) e na superfície interna do volume de trabalho. Capítulo 5 - Cinemática da Velocidade e da Aceleração. O Jacobiano do Manipulador 66 5.7.1 Desacoplamento de singularidades Assim como foi feito o desacoplamento da cinemática inversa de posição da de orientação, para o caso de punho esférico, também pode-se fazer o desacoplamento das singularidades do braço (i. é., dos três primeiros membros) das singularidades do punho esférico. Considere-se que um manipulador clássico que tenha 3 GDL no braço e 3 GDL no punho esférico. Nesse caso, o Jacobiano é uma matriz 6 x 6 e uma configuração q é singular se e somente se (5.7.4) Pode-se particionar o Jacobiano em blocos 3 x 3: (5.7.5) Logo, como as três últimas juntas são rotativas: (5.7.6) Tendo em vista que os eixos do punho interceptam-se em um ponto comum o, se forem escolhidos sistemas de coordenadas tais que o3 = o4 = o5 = o6 = o, então a expressão para J0 torna-se (5.7.7) e a i-ésima coluna Ji de JP é (5.7.8) se a junta for rotativa, ou (5.7.9) se a junta for prismática. Nesse caso, o Jacobiano tem a forma triangular (5.7.10) com determinante (5.7.11) Capítulo 5 - Cinemática da Velocidade e da Aceleração. O Jacobiano do Manipulador 67 onde J11 e J22 são matrizes 3 x 3. J11 tem a i-ésima coluna zi-1 x (o - oi-1) se a junta i for rotativa e zi-1 se a junta for prismática, enquanto que (5.7.12) Portanto, o conjunto de configurações singulares do manipulador é a união do conjunto de configurações do braço satisfazendo det J11 = 0 e o conjunto de configurações do punho satisfazendo det J22 = 0. Note-se que essa forma do Jacobiano não fornece necessariamente a relação entre a velocidade do órgão terminal e as velocidades das juntas. Ela pretende apenas simplificar a determinação das singularidades. Serão examinadas, a seguir, as duas singularidades desacopladas. 5.7.2 Singularidades do punho Pode-se ver facilmente, a partir da eq. (5.7.12), que um punho esférico está em uma configuração singular sempre que os vetores z3, z4 e z5 forem linearmente dependentes. Observando a fig. 5.2, vê-se que isso acontece quando os eixos das juntas z3 e z5 são colineares: Fig. 5.2 Singularidade do punho esférico De fato, sempre resulta uma singularidade quando os eixos de duas juntas rotativas forem colineares, pois, para θ5 = 0 (situação mostrada na figura acima) e θ5 = π, uma rotação igual e oposta em torno dos eixos não acarreta movimento líquido do órgão terminal. Essa é a única singularidade do punho esférico, a qual é inevitável, a não ser que se imponham limites mecânicos no projeto do punho, de tal modo que os eixos z3 e z5 não possam ficar alinhados. 5.7.3 Singularidades do braço Para investigar as singularidades do braço, é necessário apenas calcular J11, de acordo com a eq. (5.7.8), conforme mostra o exemplo a seguir. Exemplo ilustrativo: Manipulador articulado Seja o manipulador articulado da fig. 5.3: Capítulo 5 - Cinemática da Velocidade e da Aceleração. O Jacobiano do Manipulador 68 Fig. 5.3 Manipulador articulado Pode-se mostrar (ver problema 5.8) que (5.7.13) e que o determinante de J11 é (5.7.14) Da eq. (5.7.14) pode-se ver que o braço estará em uma configuração singular sempre que s3 = 0, ou seja, θ3 = 0 ou π (5.7.15) (5.7.16) e sempre que A situação da eq. (5.7.15) está mostrada na fig. 5.4 e aparece sempre que o antebraço está totalmente distendido ou totalmente retraído: Fig. 5.4 Singularidades do braço do manipulador articulado A situação da eq. (5.7.16) está mostrada na fig. 5.5 e ocorre quando o centro do punho estiver sobre o eixo z0, de modo que nesse caso haverá uma infinidade de configurações singulares e de soluções para a cinemática inversa de posição: Capítulo 5 - Cinemática da Velocidade e da Aceleração. O Jacobiano do Manipulador 69 Fig. 5.5 Singularidades do braço do manipulador articulado sem excentricidade Para um manipulador articulado com excentricidade, conforme fig. 5.6, o centro do punho não pode interceptar z0, o que vem corroborar que configurações singulares podem ser evitadas impondo-se pequenas mudanças nos parâmetros do manipulador (nesse caso, uma excentricidade no cotovelo ou no ombro). Essa é uma solução muito utilizada pelos fabricantes de robôs. Fig. 5.6 Manipulador articulado com excentricidade no ombro 5.8 CINEMÁTICA INVERSA DE VELOCIDADE E DE ACELERAÇÃO Conforme foi visto no item anterior, as velocidades das juntas estão relacionadas com as velocidades do órgão terminal pelo Jacobiano: (5.8.1) logo, a solução do problema da cinemática inversa da velocidade resume-se a resolver o sistema de equações diferenciais lineares (5.8.1), o que é conceitualmente simples. Capítulo 5 - Cinemática da Velocidade e da Aceleração. O Jacobiano do Manipulador 70 Derivando a eq. (5.8.1) em relação ao tempo: (5.8.2) .. Assim, dado um vetor das acelerações do órgão terminal, X , o vetor aceleração instantânea das juntas é dado como uma solução de (5.8.3) onde (5.8.4) Para manipuladores com 6 GDL, as equações para a cinemática inversa de velocidade e de aceleração podem ser escritas, respectivamente, como (5.8.5) (5.8.6) desde que det J(q) ≠ 0. Obs.: Para manipuladores redundantes (aqueles que dispõem de uma quantidade de graus de liberdade maior do que a quantidade de variáveis necessárias para cumprir uma determinada tarefa) ou com menos do que 6 membros, o Jacobiano não pode ser invertido e, nesse caso, haverá uma solução para as eqs. (5.8.1) ou (5.8.4) se e somente se o vetor do membro esquerdo estiver dentro da faixa de operação do Jacobiano. Isso pode ser determinado pelo seguinte teste de ordem (rank): Um vetor a pertence à faixa de operação de J se e somente se (5.8.7) Em outras palavras,, a eq. (5.8.1) (eq. (5.8.4)) pode ser resolvida para ( ) desde que o rank da matriz aumentada [J(q) X] ([J(q) b]) seja o mesmo do Jacobiano J. Esse é um resultado da Álgebra Linear e diversos algoritmos existem (tal como o da eliminação de Gauss) para resolver tais sistemas de equações lineares. Capítulo 5 - Cinemática da Velocidade e da Aceleração. O Jacobiano do Manipulador 71 PROBLEMAS 5.1 Verificar a eq. (5.2.3). 5.2 Verificar a eq. (5.2.4). 5.2 Verificar as eqs. (5.2.6) a (5.2.8). 5.3 Deduzir a eq. (5.3.10). 5.4 Considerar o manipulador de Stanford do problema 3.2. Com base na cinemática direta obtida, detalhar o desenvolvimento do Jacobiano para esse manipulador. 5.5 Idem problema 5.4, para o manipulador SCARA do problema 3.3. 5.6 Idem problema 5.4, para o manipulador articulado MK3 do problema 3.4. 5.7 Idem problema 5.4, para o manipulador ER9 do problema 3.5. 5.8 Deduzir as eqs. (5.7.13) e (5.7.14). 5.9 Referindo-se à fig. 5.7 que mostra a singularidade do braço de um manipulador SCARA, mostrar que a mesma ocorre quando θ2 = 0, π.