Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751
CONCORDÂNCIA EM CONSTRUÇÕES DE HIPERALÇAMENTO NO
PORTUGUÊS BRASILEIRO: UMA PROPOSTA MINIMALISTA
Aline Garcia Rodero TAKAHIRA1
RESUMO: Este trabalho investiga a concordância em construções de hiperalçamento no
português brasileiro (PB), como: “Os meninos parecem que viajaram ontem”, já vistas em
Martins & Nunes (2010). Porém, consideramos as possibilidades de concordância do DP em
posição de sujeito com o verbo da oração encaixada e da matriz. Consideramos também
possibilidades de concordância com “os menino” e “tudo”, como: “Os menino(s) parece(m)
que viajaram/viajou (tudo) ontem”. Um teste de julgamento de gramaticalidade foi aplicado
considerando-se as orações encaixadas apenas, como: “Os menino(s) (tudo) viajaram/viajou
ontem”, e as mesmas orações com “parecer”, como as citadas acima. Percebemos que nem
sempre que a oração encaixada isolada é gramatical, permanecerá gramatical junto com um
verbo de alçamento, sugerindo que haja algum mecanismo envolvido na concordância em
construções de hiperalçamento que tornará algumas sentenças impossíveis. Seguindo os
pressupostos teóricos do Programa Minimalista (CHOMSKY, 2000, 2001) e trabalhos que
discutem (hiper)alçamento, topicalização e concordância dentro desse programa
(FERREIRA, 2000, 2009; MARTINS & NUNES, 2010; AVELAR & GALVES, 2011),
buscamos descrever e explicar como funciona a concordância nas construções apresentadas.
Buscamos mostrar que é possível tratar desses dados se considerarmos que a possibilidade
de variação de concordância sujeito-verbo no PB pode ser explicada por uma marca de
Caso, [+K] ou [-K], no DP na posição de sujeito (AVELAR & GALVES, 2011). Tal marca de
Caso, ou sua ausência, influenciará na possibilidade de tal DP entrar em uma relação de
checagem com o T com traços-phi completos nas construções de hiperalçamento.
PALAVRAS-CHAVE: Concordância; Hiperalçamento; Minimalismo.
ABSTRACT: This paper investigates agreement patterns in hyper-raising constructions in
Brazilian Portuguese (BP), as: i) Os meninos parecem que viajaram ontem, as shown in
Martins & Nunes (2010). We will consider the possibilities of agreement of the DP in subject
position with the verb in the embedded and matrix sentences. We will also consider the
possibilities of agreement with “os menino” and “tudo”, as in: “Os menino(s) parece(m) que
viajaram/viajou (tudo) ontem”. A test was applied considering the embedded sentences in
isolation, as: “Os menino(s) (tudo) viajaram/viajou ontem”, and the same sentences with
“parecer”, as mentioned above. We realized that when the embedded sentence by itself is
well-formed, it will not necessarily be well-formed with a raising verb, suggesting that there
is a mechanism involved in agreement of hyper-raising constructions that will turn some
sentences into ungrammatical ones. Following the Minimalist Program (CHOMSKY, 2000,
2001) and papers that discuss (hyper)raising, topicalization and agreement in this Program
(FERREIRA, 2000, 2009; MARTINS & NUNES, 2010; AVELAR & GALVES, 2011), we aim
at describing and explaining how agreement woks in the constructions presented here. We try
to show that it is possible to deal with these data if we consider that the possibility of
subjectverb agreement variation in PB may be explained by a Case mark, [+K] or [-K], in
subject position DP (AVELAR & GALVES, 2011). This Case mark, or its absence, will affect
1
Doutoranda em Linguística, bolsista CAPES, sob a orientação da Profa. Dra. Ana Paula Scher. [email protected].
1
Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751
the possibility of such DP to enter in a checking relation with the T with complete phi-features
in hyper-raising constructions.
KEYWORDS: Agreement; Hyper-raising; Minimalism.
1 Introdução
Uma análise sobre as possibilidades de concordância verbal em uma língua natural, no
caso, o português brasileiro (PB), necessariamente envolve discussões que se constroem na
literatura sobre mecanismos morfológicos e sintáticos que estabelecem concordância nas
línguas naturais.
Neste trabalho, buscamos investigar a concordância em construções de hiperalçamento
no PB. Para tanto, seguimos as ideias de Chomsky (2000, 2001) sobre concordância dentro do
Programa Minimalista2, um dos mais recentes desenvolvimentos da Teoria Gerativa. Além
disso, tomamos como base os trabalhos de Ferreira (2000, 2009), Martins & Nunes (2010) e
Avelar & Galves (2011) no que diz respeito a análises minimalistas sobre construções de
alçamento, hiperalçamento, tópico e concordância no PB dentro de tal programa.
Tratamos de dados como os apresentados a seguir 3:
(1) a. Os meninos parecem que viajaram ontem.
b. Os meninos parece que viajaram ontem.
c. * Os meninos parecem que viajou ontem.
d. * Os meninos parece que viajou ontem.
(2) a. * Os menino parecem que viajaram ontem.
b. Os menino parece que viajaram ontem.
c. * Os menino parecem que viajou ontem.
d. ? Os menino parece que viajou ontem.
(3) a. Os meninos parecem que viajaram tudo ontem.
b. Os meninos parece que viajaram tudo ontem.
c. * Os meninos parecem que viajou tudo ontem.
d. Os meninos parece que viajou tudo ontem.
(4) a. * Os menino parecem que viajaram tudo ontem.
b. Os menino parece que viajaram tudo ontem.
c. * Os menino parecem que viajou tudo ontem.
d. Os menino parece que viajou tudo ontem.
Primeiramente, os exemplos em “a” nos mostram que onde há o DP “os meninos”, em
(1)a e (3)a, há a possibilidade de haver concordância do DP tanto com o verbo da oração
encaixada quanto com o verbo da oração matriz. Porém, quando temos o DP “os menino”,
como em (2)a e (4)a, não é possível haver concordância do DP com ambos os verbos 4.
2
Veja também Chomsky (1993, 1995) para ideias desenvolvidas no início do Minimalismo.
Aplicamos um teste de julgamento de gramaticalidade com todos os dados apresentados nesta seção. O teste foi
aplicado em 15 falantes nativos, sendo três mineiros ou que viveram um grande período de tempo em Minas, o
que é relevante para os julgamentos dos dados com “tudo”, usado no falar típico de regiões de Minas Gerais.
4
Um revisor anônimo nos chamou atenção para o fato de que talvez esteja havendo influência de entonação
nesses casos. Ele apontou sentenças como (i) e (ii), que têm a mesma derivação que (2)a e (4)a, e parecem ser
gramaticais:
3
2
Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751
Uma primeira questão se coloca:
1- O que impede a concordância do DP com ambos os verbos nas sentenças com “os
menino”?
Todos os exemplos em “b” de (1) a (4) acima apresentam a possibilidade de haver
concordância do DP com o verbo na oração encaixada, sem haver concordância do mesmo DP
(alçado) com o verbo da oração matriz.
Uma segunda questão cabe aqui:
2- O que possibilita o DP concordar com o verbo da encaixada, mas não concordar
com o verbo da oração principal quando alçado?
Além disso, todos os exemplos em “c” mostram que não pode haver concordância do
DP alçado com o verbo da oração matriz se não houver concordância do mesmo DP com o
verbo da oração encaixada.
Uma terceira questão é pertinente:
3- O que proíbe haver concordância do DP com o verbo da oração principal sem haver
concordância do DP com o verbo da oração encaixada?
Já nos exemplos em (1)d e (2)d deve haver concordância do DP, “os meninos” ou “os
menino” com algum dos dois verbos, mas nos casos com “tudo”, em (3)d e (4)d, é possível
não haver concordância com nenhum dos dois verbos.
Uma última questão se coloca:
4- O que acontece nas sentenças com “tudo” que permite a ausência de concordância
com ambos os verbos?
Percebemos que nem sempre que a oração encaixada isolada é gramatical,
permanecerá gramatical quando encaixada em uma oração com um verbo de alçamento.
(5) a. Os meninos viajaram ontem.
b. ? Os meninos viajou ontem.
c. Os menino viajaram ontem.
d. Os menino viajou ontem.
e. ? Os meninos tudo viajaram ontem.
f. ? Os meninos tudo viajou ontem.
g. Os menino tudo viajaram ontem.
h. Os menino tudo viajou ontem.
i. ? Os meninos viajaram tudo ontem.
j. Os meninos viajou tudo ontem.
k. Os menino viajaram tudo ontem.
l. Os menino viajou tudo ontem.
(i) Os menino acabaram/acabaru que perderam/perderu o ônibus.
(ii) Os menino demoraram/demoraru pra entenderem o problema.
Como sugerido, seria necessário verificar se não estaria havendo um choque de registro entre “os menino” com
[akabarãw] vs. [akabaru]. De qualquer forma, a sentença em (ii) não é gramatical em nossa variante, ao passo
que (i) e (iii) são perfeitas:
(iii) Os menino demoraram/demoraru pra entender o problema.
Assim, em nossa variante parece que apenas nos casos em que pode haver uma “redução” fonológica no verbo
da oração encaixada, como em [perderu], a sentença é gramatical, mas não em casos onde não pode haver tal
redução, como em “entenderem”, em (ii).
Agradecemos nosso revisor anônimo por esse e também por vários outros comentários que não puderam ser
incorporados a este texto por uma questão de tempo, mas que certamente consideraremos em trabalhos futuros.
3
Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751
Notamos que mesmo as sentenças marcadas com “?” uma parte dos informantes as
consideraram boas, alguns as consideraram ruins e alguns as julgaram “?”. Uma questão de
variantes distintas deve estar em jogo aqui. Neste trabalho, consideramos o fato de que em
alguma variante do PB essas sentenças são possíveis.
O fato é que algumas dessas sentenças em (5) são agramaticais quando em oração
encaixada, como as vistas de (1) a (4) acima. Nossa hipótese é que, seguindo Avelar & Galves
(2011), as possibilidades (variação) de concordância sujeito-verbo no PB, como em (5),
podem ser explicadas por uma marca de Caso, [+K] ou [-K], no DP na posição de sujeito. Nos
casos nos quais assumimos que o DP não apresenta um traço de Caso, ou seja, é [-K], o DP
não estabelece concordância com os traços-phi não valorados de T.
Quando o DP em uma oração encaixada não apresentar traço de Caso nas construções
que tratamos neste trabalho, ele não poderá estabelecer uma relação de Agree com o T com
traços-phi completos da oração matriz, pois ele não poderia valorar Caso. Assim, tal
construção violaria Last Resort (Chomsky, 1995, p. 280), uma vez que o elemento [-K] não
poderia entrar em uma relação de checagem com o T com traços-phi completos, pois não teria
Caso para valorar.
(6) Last Resort
Move F raises F to target K only if F enters into a checking relation with a sublabel of
K5.
(CHOMSKY, 1995, p. 280)
Seguindo os pressupostos teóricos do Programa Minimalista (CHOMSKY, 2000,
2001) buscamos explicar por que essas construções apresentam tais comportamentos.
Este trabalho se divide da seguinte forma: na seção 2, trazemos uma revisão
bibliográfica sobre concordância no Minimalismo, com base em Chomsky (2000, 2001); na
seção 3, discutimos construções de alçamento, hiperalçamento, tópico e concordância no PB,
com base em Ferreira (2000, 2009), Martins & Nunes (2010) e Avelar & Galves (2011); na
seção 4, apresentamos nossa análise; e, na seção 5, estão as conclusões e questões para
trabalho futuro.
2 Concordância no Minimalismo
Para se falar em concordância no Minimalismo é importante ressaltar que esse
programa considera a existência de traços [+interpretáveis], que podem ser interpretados nas
interfaces, e traços [-interpretáveis], que não podem ser interpretados nas interfaces e, então,
precisam ser checados e apagados ao longo da derivação.
Dentro do Minimalismo, os mecanismos de concordância podem ser entendidos de
duas formas:
i)
Em um primeiro momento, no começo do Minimalismo (CHOMSKY 1993, 1994,
1995), concordância era entendida como a manifestação de uma relação local, de
especificador-núcleo, entre os elementos envolvidos. Os traços morfossintáticos
ou formais eram checados no curso da derivação;
5
Último recurso – Mova F alça F para o alvo K somente se F entrar em uma relação de checagem com um sub
rótulo de K (Tradução nossa).
4
Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751
ii) Mais recentemente (CHOMSKY, 2000, 2001), concordância é tratada como o
resultado de uma operação chamada Agree que checa traços não-interpretáveis e
que não pressupõe mais a configuração especificador-núcleo, mas deve obedecer
algumas restrições, como localidade, entre outras. A valoração dos traços é feita à
distância, através de uma relação de c-comando estabelecida entre um núcleo mais
alto, cujos traços não-interpretáveis devem ser checados (a sonda), e o elemento
contra o qual os traços interpretáveis são checados (o alvo).
O mecanismo de checagem discutido em (i), de relação local mantida entre um núcleo
e seu especificador, foi reformulado mais tarde em termos de Agree (CHOMSKY, 2000). O
Programa Minimalista traz uma noção de Agree como uma relação de concordância local,
restringida por c-comando, que se dá entre uma sonda, que contém um traço não valorado, e
um alvo estruturalmente mais baixo, que contém uma versão interpretável desse traço 6.
Assim, o modelo Sonda-Alvo de concordância de traços apresentado em Chomsky
(2000) substitui as configurações de checagem (especificador-núcleo) por c-comando entre
uma sonda na qual faltam valores de traços (traços [-interpretáveis]) e um alvo com os valores
de traços correspondentes ([+interpretáveis]), que a sonda procura para valorar seus próprios
traços. T e v são os locais de traços de concordância não valorados (ou [-interpretáveis]),
assim, são sondas; esses traços de concordância incluem [pessoa] e [número].
Nessa versão mais recente do Minimalismo, a operação Agree tem um papel maior,
abrangendo tanto concordância quanto regência de Caso.
Chomsky (2001) hipotetiza a existência de um traço EPP que, quando especificado em
um núcleo X, requer a presença de um elemento em [Spec, XP] antes da próxima fase forte.
Assim, DPs sujeitos se movem para [Spec, TP] para checar o traço EPP de T. Crucialmente,
esse movimento é independente da relação de Agree (Sonda-Alvo), que valora traços
nãointerpretáveis da sonda com aqueles do alvo e checa o traço não-interpretável de Caso no
alvo (Caso morfológico Nominativo). O alvo deve estar próximo da sonda (Relação de
Localidade). “A combinação da sonda com o alvo induz Agree, eliminando traços não
interpretáveis que os ativam” 7 (CHOMSKY, 2001, p.6). Após a valoração dos traços [interpretáveis] da sonda, esses traços são apagados antes que a derivação seja enviada para os
níveis de interface, LF e PF, e possa assim convergir.
Um alvo é acessível para uma dada sonda apenas se não houver nenhum elemento com
o grupo de traços relevantes intervindo, ou seja, minimalidade relativizada se mantém
(HORNSTEIN, NUNES & GROHMANN, 2005). Além disso, para que um alvo esteja ativo
para os propósitos de Agree, ele deve ter algum traço [-interpretável] não checado. Uma vez
que um dado elemento tem todos seus traços [-interpretáveis] checados, ele se torna inativo.
Tal elemento checado ainda está na estrutura e deve induzir efeitos de minimalidade, mas não
pode participar em nenhuma outra relação de concordância.
3 Concordância, tópico e (hiper)alçamento
Nesta seção, trazemos um pouco do arcabouço teórico que trata de concordância,
construções de tópico, alçamento e hiperalçamento dentro do Programa Minimalista. Essas
discussões serão importantes para a análise dos nossos dados na seção 4.
6
Veja também Hornstein, Nunes & Grohmann (2005) sobre outros aspectos do Programa Minimalista.
“Matching of probe and goal induces Agree, eliminating uninterpretable features that activate
them”(CHOMSKY, 2001, p.6).
7
5
Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751
3.1 Ferreira (2000, 2009) – Hiperalçamento
Ferreira (2000, 2009) discute a propriedade do PB de permitir alçamento do DP na
posição de sujeito de uma oração finita para a posição de sujeito de uma oração mais alta
(hiperalçamento).
(7) O João parece que comprou um carro novo.
(FERREIRA, 2000, p.46)
O autor discute que na análise padrão, “O João” em (7) não pode ter sido inserido
diretamente na oração matriz, pois violaria o critério-θ, uma vez que “parecer” seleciona
apenas um argumento interno. Além disso, mostra que “O João” também não poderia ser um
tópico relacionado à posição de sujeito da oração encaixada seguido por um expletivo na
posição de sujeito da oração matriz, com base nas seguintes evidências:
(a) uma vez que formas pronominais fracas, como em (9)a, ou quantificadores, como em (9)b,
não podem ser topicalizados, e Ferreira (2000, 2009) mostra que poderíamos substituir “O
João” em construções com “parecer” por uma dessas formas e as sentenças ainda seriam bem
formadas, como em (8)a/b, ele conclui que hiperalçamento é possível no PB.
(8) a. Cê parece que está doente.
b. Alguém parece que está doente. (FERREIRA, 2009, p.24)
(9) a. * Cê, João me disse que vai ser aprovada.
b. * Alguém, João me disse que seria aprovado.
(FERREIRA, 2009, p.24)
(b) nesse tipo de construção pode haver concordância sujeito-verbo (FERREIRA, 2000)8:
(10) a. Eles pareciam que estavam doentes.
b. Mas eu não tô parecendo que tô doente, tô?
(FERREIRA, 2000, p. 25 e 26)
(c) ainda, conforme Martins & Nunes (2005), tópicos não são compatíveis com expressões
idiomáticas, mas as construções de hiperalçamento são:
(11) a. A vaca foi pro brejo.
b. A vaca, o João disse que foi pro brejo
c. A vaca parece que foi pro brejo.
(MARTINS & NUNES, 2005, p.70)
Em (11)b, a leitura idiomática se perde quando “a vaca” é topicalizado. No entanto,
em (11)c, a leitura idiomática se mantém e temos uma construção de hiperalçamento.
Ferreira (2000) propõe que os Ts finitos no PB são ambíguos entre Ts com traços-phi
completos e Ts com traços-phi incompletos. Ele aponta que a derivação em (7) “só converge
se T finito da oração encaixada for incompleto e T finito da oração matriz for completo”
(FERREIRA, 2000, p.47), como em (12):
8
Veja também Ferreira (2004).
6
Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751
(12) [TP O João T [VP parece [CP que [TP o João T [vP o João comprou um carro
novo]]]]].
(FERREIRA, 2000, p.47)
Uma vez que nesse exemplo o T finito da oração encaixada é incompleto, o DP se alça
para a oração matriz onde encontra um T finito completo e pode checar Caso.
3.2 Martins& Nunes (2010) – Hiperalçamento aparente
Martins & Nunes (2010) trazem uma discussão sobre como derivar construções de
hiperalçamento, “construções impessoais que envolvem movimento-A para fora de orações
finitas”9 (MARTINS & NUNES, 2010, p. 145), como (13)a, e hiperalçamento aparente
associado com um pronome resumptivo, como em (13)b, de acordo com o sistema de fases de
Chomsky (2000, 2001, 2004, 2005).
(13) a. Os meninos parecem que viajaram ontem.
b. Os meninos parecem que eles viajaram ontem.
(MARTINS & NUNES, 2010, p.145)
Para os autores, como “valoração/atribuição de Caso estrutural é um reflexo de uma
relação de concordância envolvendo uma sonda com um conjunto de traços-phi completo
(CHOMSKY 2000; 2001; 2004; 2005), a proposta de Ferreira é o mesmo que dizer que o T
finito no BP é ambíguo entre ser um núcleo atribuidor de Caso ou não atribuidor de Caso” 10
(MARTINS & NUNES, 2010, p. 147). Eles ainda ressaltam que a possibilidade de haver um
T finito com traços-phi não completos existe apenas em orações encaixadas, pois aí o DP se
alça e recebe Caso do T finito com traços-phi completos da oração matriz. Se o T finito da
oração matriz também puder apresentar traços-phi não completos, a derivação não converge,
pois o DP não teria como ser marcado com Caso.
Nunes (2007, apud MARTINS & NUNES, 2010, p.148) propõe que um T finito com
traços-phi completos corresponde a um T especificado com traços de número e pessoa,
enquanto que um T finito com traços-phi incompletos corresponde a um T especificado com
traço de número levando unicamente à seguinte derivação:
(14) a. O João parece que comprou um carro novo.
b. [TP [o João][Case:NOM] T [N:default; P:default] parece que [TP t
T[N:default]...]]
(MARTINS & NUNES, 2010, p.148 e 149)
Assim, em (14)b o T da encaixada possui apenas um traço de número e, portanto, não
pode valorar o traço de Caso de “O João”. Sendo assim, o sujeito da encaixada, “O João”,
continua ativo para concordância e movimento-A e deve receber Caso pelo T da oração
matriz, que possui tanto traços de número quanto de pessoa, formando uma construção de
hiperalçamento. Então, uma questão é colocada quanto a como o T da oração matriz concorda
9
“Impersonal constructions involving A-movement out of finite clauses” (MARTINS & NUNES, 2010, p.145).
“…structural Case assignment/valuation is a reflex of an agreement relation involving a probe with a
complete f-set (Chomsky 2000, 2001, 2004, 2005), Ferreira’s proposal amounts to saying that finite T in BP is
ambiguous between a Case assigning and a non-Case-assigning head” (MARTINS & NUNES, 2010, p. 147).
10
7
Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751
com o sujeito da oração encaixada se CP é uma fase forte e o sujeito da encaixada não está no
limite do CP, como em (15):
(15) [TP Tϕ-complete [VP seem [CP that [TP DP Tϕ-incomplete...]]]] (MARTINS &
NUNES, 2010, p.149)
O autor assume junto com Ferreira (2000) que, se C seleciona um T com traços
phiincompletos, ele não deve definir uma fase forte. Assim, pode se estabelecer uma relação
de Sonda-Alvo entre o T da oração matriz e o sujeito da encaixada em configurações de
hiperalçamento.
Por uma questão de espaço, não entraremos em mais detalhes desse trabalho.
Resumidamente, Martins & Nunes (2010) tratam sentenças do tipo de (13)a como construções
de hiperalçamento verdadeiro nas quais o DP da oração matriz move da oração encaixada
para o [Spec,TP], enquanto que (13)b são construções de hiperalçamento aparente, pois o DP
da oração matriz move do [Spec,TopP] encaixado para o [Spec,TP] da matriz.
3.3 Avelar & Galves (2011) – Caso e Concordância
Avelar & Galves (2011) discutem a possibilidade de concordância entre verbos e
tópicos não-argumentais em PB e em PE (português europeu). Por uma questão de espaço,
nesta seção, delinearemos apenas aquelas questões pontuais desse trabalho que interessam
para nossa análise.
Primeiramente, os autores discutem sobre a marcação de Caso nos constituintes
nominais que fazem parte das construções de tópico não-argumentais que eles tratam. Eles
fazem a seguinte pergunta: “na construção a seguir, em que o tópico não-argumental os carros
estabelece concordância com os traços uϕ11 de T, como se dá a marcação de Caso do DP o
pneu, realizado na posição de complemento do verbo furar?” (AVELAR & GALVES, 2011,
p.61).
(16) Os carros furaram o pneu.
Eles ressaltam que nesse exemplo o verbo furar é inacusativo e por isso não atribui
Caso acusativo ao seu complemento; “a única fonte disponível para atribuição de Caso (os
traços uϕ de T) atribui, na operação de concordância, Caso nominativo para o tópico
nãoargumental” (AVELAR & GALVES, 2011, p.61). Assim, não fica claro como o
argumento interno é licenciado quanto à marcação de Caso.
Os autores consideram a hipótese de que as línguas naturais não sejam uniformes
quanto à presença obrigatória do traço de Caso em constituintes nominais. Eles afirmam que:
Sendo largamente assumido que as diferenças paramétricas são, em última
instância, definidas pela distribuição de traços formais entre as diferentes
línguas (por exemplo, traços formais presentes numa gramática podem estar
ausentes em outras), é plausível levar em consideração que há pelo menos
dois tipos de língua quanto à necessidade de seus constituintes nominais
receberem traço de Caso (doravante, K). (AVELAR & GALVES, 2011,
p.61).
11
Traços-phi não valorados.
8
Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751
Assim, eles propõem que há línguas nas quais os constituintes nominais são sempre
[+K], ou seja, os DPs apresentam um traço de Caso a ser valorado, como no PE; e há línguas
em que os constituintes nominais podem ser [+K] ou [-K], em outras palavras, os DPs podem
ou não apresentar um traço de Caso a ser valorado, como no PB. Eles exemplificam essa
propriedade das línguas com os exemplos a seguir:
(17) a. Eu fui visto na escola. PE: ok – PB: ok
b. A Maria viu eu na escola. PE: * – PB: ok
c. A Maria me viu na escola. PE: ok – PB: ok
(AVELAR & GALVES, 2011, p.61)
As formas pronominais nominativas podem ocorrer tanto na posição de sujeito quanto
na posição de complemento em PB, o que sugere que o PB está caminhando para um sistema
sincrético sem distinção morfológica entre nominativo e acusativo, ou seja, os pronomes
pessoais podem ser [-K], realizados na forma nominativa 12.
Já no PE, as formas pronominais nominativas não são licenciadas como complementos
de verbo transitivo, que precisam apresentar a forma acusativa, ou seja, são sempre [+K];
assim, “as formas nominativas não são licenciadas em posições relacionadas à atribuição de
outros Casos” (AVELAR & GALVES, 2011, p.61).
Outro exemplo apresentado pelos autores para ilustrar a presença ou ausência do traço
de Caso em DPs na posição de sujeito é a variação na concordância sujeito-verbo no PB
coloquial:
(18) a. Os menino(s) jantou / jantaram.
b. As criança(s) brincava / brincavam na varanda.
c. Naquele restaurante progenerico(3PL) faz / fazem pratos maravilhosos.
(AVELAR & GALVES, 2011, p.62)
Se os elementos (pro)nominais podem ser [+K] ou [-K], essa variação é
esperada: diferentemente dos elementos [+K], os [-K] não podem
estabelecer concordância com os traços uϕ de T, tendo em vista que, dentro
dos pressupostos aqui assumidos, é a presença de um traço de Caso nãovalorado que habilita um DP a estabelecer relação de concordância com
traços uϕ. (AVELAR & GALVES, 2011, p.62)
Quanto à marcação de Caso do complemento do verbo inacusativo na sentença (16),
os autores propõem que tal tipo de sentença é licenciada somente se o DP em posição de
complemento for [-K], assim, os traços-phi não valorados de T não precisam concordar com o
DP complemento e lhe atribuir Caso. Então, “os traços-ϕ que T herda de C ficam disponíveis
para interagir com o tópico não-argumental, valorando-lhe o traço de Caso como nominativo”
(AVELAR & GALVES, 2011, p.63).
4 Análise
Com base nas informações e dados apresentados nas seções anteriores, buscamos
responder as questões colocadas no início deste trabalho.
12
12
Veja Martins & Nunes (no prelo) que discutem implicações negativas dessa proposta.
9
Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751
Primeiramente, sobre as sentenças (a) em (1)-(4), repetidas em (19)a-d abaixo, vemos
que, onde há o DP “os meninos”, em (19)a e (19)c, há a possibilidade de haver concordância
do DP tanto com o verbo da oração encaixada quanto com o verbo da oração matriz. Porém,
quando temos o DP “os menino”, como em (19)b e (19)d, não é possível haver concordância
do DP com os dois verbos.
(19) a. Os meninos parecem que viajaram ontem.
b. * Os menino parecem que viajaram ontem.
c. Os meninos parecem que viajaram tudo ontem.
d. * Os menino parecem que viajaram tudo ontem.
Perguntamos, então: o que estaria impedindo a concordância do DP com os dois
verbos nas sentenças com “os menino”?
Nossa hipótese para dar conta dessa primeira questão deriva da possibilidade de
constituintes nominais poderem ser do tipo [+K] ou [-K], como vimos na seção 3.3 com o
trabalho de Avelar & Galves (2011).
Vejamos primeiro como explicar a boa formação de (19)a/c, em (20):
(20) a. Os meninos parecem que viajaram (tudo) ontem13.
b. [TP [os meninos][Case:NOM] T[N:default; P:default] [VP parecem [CP que
[TP t T[N:default] [vP t viajaram (tudo) ontem]]]]]
Com base em Ferreira (2000, 2009) e Martins & Nunes (2010), assumimos que essas
sentenças são de hiperalçamento contendo, então, um T finito incompleto na oração
encaixada, não atribuidor de Caso, e um T finito completo na oração matriz, atribuidor de
Caso. Uma vez que o T finito da oração encaixada é incompleto, o DP “Os meninos” é alçado
para a oração matriz onde encontra um T finito completo e pode checar Caso. Como em (20)b
o T da encaixada possui apenas um traço de número e, portanto, não pode valorar o traço de
Caso de “Os meninos”, o sujeito da encaixada, “Os meninos”, continua ativo para
concordância e movimento-A e deve receber Caso pelo T da oração matriz, que possui tanto
traços de número quanto de pessoa. Como C seleciona um T com traços phi-incompletos, ele
não deve definir uma fase forte. Assim, se estabelece uma relação de Sonda-Alvo entre o T da
oração matriz e o sujeito da encaixada.
Assumimos com Avelar & Galves (2011) que elementos pronominais marcados como
[-K] não podem estabelecer concordância com os traços-phi não valorados de T, pois é a
presença de um traço de Caso não-valorado que habilita um DP a estabelecer relação de
concordância com traços-phi não valorados. Como a derivação em (20) converge e é uma
oração na qual há atribuição de Caso e, consequentemente, concordância, assumimos que o
DP “Os meninos” seja marcado como [+K]. Porém, as sentenças em (19)b/d são agramaticais.
Se considerarmos que “Os menino” em tais exemplos é [-K], temos a seguinte
derivação (que corretamente não converge):
(21) a. * Os menino parecem que viajaram (tudo) ontem.
b.* [TP[Case:NOM] T[N:default; P:default] [VP parecem [CP que [TP [os
menino] T[N:default] [vP t viajaram (tudo) ontem]]]]]
13
Discutimos brevemente o estatuto de “tudo” mais adiante nesta seção.
10
Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751
Em (21)b vemos que, se “Os menino” é [-K], ele não tem porque entrar em relação de
checagem ou se mover de [Spec-TP] e a sentença não converge. Acreditamos que é
exatamente isso que ocorre em (19)b/d: “os menino”, um DP que é [-K], não tem porque se
mover e nessas sentenças agramaticais tal DP foi alçado.
A seguir, mostramos que em todos os exemplos em (1)-(4)b, repetidos em (22), existe
a possibilidade de concordância do DP com o verbo na oração encaixada, sem haver
concordância do mesmo DP (alçado) com o verbo da oração matriz. A segunda questão
colocada foi: o que possibilita o DP concordar com o verbo da oração encaixada, mas não
concordar com o verbo da oração principal quando alçado?
(22) a. Os meninos parece que viajaram ontem.
b. Os menino parece que viajaram ontem.
c. Os meninos parece que viajaram tudo ontem.
d. Os menino parece que viajaram tudo ontem.
Para essas sentenças, assumiremos que o DP esteja se alçando para uma posição de
tópico, como Martins & Nunes (2009) assumem para o PE, que não apresenta concordância
na oração principal e, assim, não apresenta construções de hiperalçamento. Diferentemente do
PE, o PB permite construções de hiperalçamento, permite concordância entre o DP da oração
encaixada e o verbo da oração matriz, como já vimos em (19)a/c acima. Mas também permite
construções de tópico, nas quais não há concordância, como vemos nos exemplos em (22).
Nesses casos, a forma de concordância default é a de terceira pessoa singular para construções
impessoais com um sujeito expletivo na sentença matriz.
Uma questão que fica é se há algum problema em se assumir que as construções com
T finito na oração encaixada têm o DP da oração encaixada ora movido para receber Caso e
gerar concordância, como em (19), ora movido para uma posição de tópico, como em (22).
Vimos também que todos os exemplos em (1)-(4)c, repetidos em (23), mostram que
não pode haver concordância do DP alçado com o verbo da oração matriz se não houver
concordância do mesmo DP com o verbo da oração encaixada. Perguntamos, então: o que
proíbe haver concordância do DP com o verbo da oração principal sem haver concordância do
DP com o verbo da oração encaixada?
(23) a. * Os meninos parecem que viajou ontem.
b. * Os menino parecem que viajou ontem.
c. * Os meninos parecem que viajou tudo ontem.
d. * Os menino parecem que viajou tudo ontem.
Aqui consideramos os DPs “Os menino(s)” como [-K], o que permite a não
concordância na oração encaixada, como “Os menino(s) viajou”. Porém, essa marca [-K],
como já vimos, impossibilita que esse DP se alce, pois ele não entra em uma relação de
checagem para Caso. Assim, as sentenças em (23) violam Last Resort uma vez que o
movimento de “os meninos” acontece sem valorar ou apagar nenhum traço. Last Resort tem
sido implementado em termos de Greed, de acordo com o qual movimento só é lícito se
algum traço do elemento movido for checado ou apagado:
(24) Last Resort
11
Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751
A movement operation is licensed only if it allows the elimination of [–
interpretable]formal features14.
(HORNSTEIN, NUNES & GRAHMANN, 2005, p.279)
Já nos exemplos em (1)d e (2)d, repetidos em (25)a/b, deve haver concordância do DP,
“os meninos” ou “os menino” com algum dos dois verbos, mas nos casos com “tudo”, em
(3)d e (4)d, repetidos em (25)c/d, é possível não haver concordância com nenhum dos dois
verbos. Perguntamos, então: o que acontece nas sentenças com “tudo” que permite a ausência
de concordância com ambos os verbos?
(25) a. * Os meninos parece que viajou ontem.
b. ? Os menino parece que viajou ontem.
c. Os meninos parece que viajou tudo ontem.
d. Os menino parece que viajou tudo ontem.
Hipotetizamos que isso se dá porque “os meninos tudo” forma um constituinte e leva a
uma leitura de “grupo”, concordando em número singular, como vemos em “parece” e
“viajou”15. Já em (25)a, o DP “Os meninos” tem traço [+pl] que deveria valorar pelo menos o
T da oração encaixada e se alçar para posição de tópico, como nas construções em (22), ou
entrar em Agree com o T da oração matriz e se alçar para a posição de sujeito da oração
matriz, como em (19)a/c. Quanto à (25)b o mesmo deve ocorrer. No entanto, alguns falantes
consideraram (25)b gramatical. Tal possibilidade fica inexplicada em nossa análise. Talvez
seja o caso de “Os menino” ser um DP [-K] alçado para a posição de tópico, mas essa
hipótese ainda precisa ser verificada.
5 Conclusões
Neste trabalho discutimos as possibilidades de concordância em construções de
hiperalçamento. Pudemos explicar essas diversas possibilidades assumindo que os
constituintes nominais do PB podem ser [+K] ou [-K], ou seja, os DPs podem ou não
apresentar um traço de Caso a ser valorado (AVELAR & GALVES, 2011). Mostramos que
nas instâncias em que assumimos que o DP não apresenta um traço de Caso, ou seja, é [-K], o
DP não estabelece concordância com os traços-phi não valorados de T e não pode estabelecer
uma relação de Agree com o T com traços-phi completos da oração matriz, pois DPs com o
traço [-K] por hipótese não podem valorar Caso.
6 Referências
AVELAR, Juanito; GALVES, Charlotte. 2011. Tópico e concordância em português
brasileiro e português europeu. XXVI Encontro da Associação Portuguesa de Linguística.
Lisboa, APL, p.49-65.
CHOMSKY, Noam. 2005. On Phases. MIT, Ms.
14
Último Recurso – Uma operação de movimento é licenciada se ela permitir a eliminação de traços formais [interpretáveis]. Tradução nossa.
15
Para ver mais sobre concordância com DPs que formam um grupo e levam a possibilidades de concordância
no singular ou no plural, veja Rodrigues (2006) que apresenta uma proposta Minimalista. E para ver mais dados
e uma discussão sobre o “tudo” no falar mineiro, veja também Godoy (2005).
12
Anais do X Encontro do CELSUL – Círculo de Estudos Linguísticos do Sul
UNIOESTE - Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Cascavel-PR | 24 a 26 de outubro de 2012 | ISSN 2178-7751
_____. Beyond explanatory adequacy. MIT Occasional Papers in Linguistics, v.20, 2001.
[Reimpresso In: BELLETTI, A. (Ed.). Structures and Beyond, Oxford, Oxford University
Press, 2004, p. 104–131].
_____. 2001. Derivation by phase. In: KENSTOWICZ, M. (Ed.). Ken Hale: A life in
language. MIT Press, Cambridge, Mass, p.1-52.
_____. 2000. Minimalist inquiries: the framework. In: MARTIN, R.; MICHAELS, D.;
URIAGEREKA, J. (Eds.). Step by step: essays on minimalist syntax in honor of Howard
Lasnik. MIT Press, Cambridge, Mass, p.81-155.
_____. The Minimalist Program. Cambridge, Mass: The MIT Press, 1995.
FERREIRA, Marcelo. 2009. Null subjects and finite control in Brazilian Portuguese. In:
NUNES, Jairo (Ed.). Minimalist essays on Brazilian Portuguese syntax. John Benjamins B.V.
_____. 2004. Hyperraising and Null Subjects in Brazilian Portuguese. MIT Working Papers in
Linguistics 47: Collected Papers on Romance Syntax, p. 57-85.
_____. 2000. Argumentos Nulos em Português Brasileiro. Dissertação de Mestrado
(Linguística). Universidade Estadual de Campinas. 113 p.
GODOY, Luisa Andrade Gomes. A palavra tudo como quantificador universal puro no
português brasileiro. Monografia de bacharelado (Linguística). Belo Horizonte, UFMG, 2005,
49p.
HORNSTEIN, Norbert; NUNES, Jairo; GROHMANN, Kleanthes K. Understanding
Minimalism. Cambridge University Press, 2005.
MARTINS, A. M.; NUNES, Jairo. (no prelo). Subject and Topic Hyper-raising in Brazilian
Portuguese: A Case Study on Reference Sets for Economy Computations. Romania Nova.
_____. Apparent Hyper-raising in Brazilian Portuguese: Agreement with Topics across a
Finite CP. In: PHOEVOS, E.; PANAGIOTIDIS (Orgs.). The Complementiser Phase: Subjects
and Operators. Oxford University Press, 143-163, 2010.
_____. 2009. Syntactic Change as Chain Reaction: The Emergence of Hyper-raising in
Brazilian Portuguese. In: CRISMA, P. & LONGOBARDI, G. (Orgs.). Historical Syntax and
Linguistic Theory. p.144-157. Oxford University Press.
_____. Raising Issues in Brazilian and European Portuguese. Journal of Portuguese
Linguistics. 4.2, p.53-77. 2005.
NUNES, Jairo. 2007. A-over-A, Inherent Case, and Relativized Probing. Paper presented at
the Thirtieth Annual Colloquium of Generative Linguistics in the Old World (GLOW),
University of Tromsø.
RODRIGUES, Erica dos Santos. Processamento da concordância de número entre sujeito e
verbo na produção de sentenças. Doutorado (Letras). Rio de Janeiro, PUC/RIO, 2006, 202p.
13
Download

xcelsul_artigo (11) - Círculo de Estudos Linguísticos do Sul