XVII – Encontro Regional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação – EREBD Abordagens Contemporâneas na Sociedade da Informação: Tecnologia Sociedade e Cultura Universidade Federal do Ceará Fortaleza – 02 a 08 de Fevereiro de 2014 HERÓI OU VILÃO? REFLEXÕES SOBRE O USO DOS BOOK TRAILERS NA DIVULGAÇÃO LITERÁRIA GT 3 – Tecnologia da Informação, Tecnologias Sociais e Inclusão Modalidade: Comunicação Oral SANTOS, Izabel Lima dos1 GIRÃO, Igor Peixoto Torres2 RESUMO Esse artigo objetiva refletir acerca da influência dos book trailers na divulgação literária e, principalmente, no incentivo a prática da leitura. Os book trailers são uma das muitas práticas do mercado editorial para a divulgação de lançamentos literários e foram idealizados a partir dos já famosos e consolidados trailers de filmes. Como subsídio para a construção desse trabalho nos pautamos no pensamento de Chartier, Pennac, Gomes, dentre outros. Partindo da fundamentação fornecida por esses autores, analisamos as duas correntes existentes em torno do uso dos book trailers no incentivo a leitura. Essa análise expõe os aspectos positivos e negativos oriundos dessa prática visando contribuir para uma maior compreensão dessa prática e das possibilidades por ela oferecidas. Palavras-chave: Book trailers. Divulgação literária. Leitura. ABSTRACT This article aims to reflect about the influence of book trailers in disseminating literary and, especially, in encouraging reading practice. The book trailers are one of the many practices of publishing for the dissemination of literary and releases were designed from the famous and consolidated movie trailers. As a subsidy for the construction of this work, have guided us the works of Chartier, Pennac, Gomes, among others. Based on the state reasons provided by these authors, we analyze the two currents existing around the use of book trailers in encouraging reading. This analysis exposes the positive and negative aspects arising from this practice aiming to contribute to a greater understanding of this practice and the possibilities it offered. Key words: Book trailers. Literary marketing. Reading. 1 2 Graduanda em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará. E-mail: [email protected] Graduando em Biblioteconomia pela Universidade Federal do Ceará. E-mail: [email protected] 1 XVII – Encontro Regional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação – EREBD Abordagens Contemporâneas na Sociedade da Informação: Tecnologia Sociedade e Cultura Universidade Federal do Ceará Fortaleza – 02 a 08 de Fevereiro de 2014 1 INTRODUÇÃO A sociedade contemporânea tem passado por uma crescente hibridização entre práticas digitais e práticas analógicas. Essa mixórdia tem sido tão ampla que nunca foi tão claro o fato desses dois tipos de práticas constituírem-se como facetas de uma mesma realidade. Ademais de sua intensidade, observa-se também a grande amplitude alcançada por esse processo de hibridização. Isso faz com que todas as áreas e níveis da sociedade contemporânea tenham sido atingidos por esse processo e, logicamente, que o universo literário – por sua relevância e simbologia dentro do contexto social – não poderia ficar imune e, muito menos, indiferente a esse fenômeno. Esse processo é tão intenso que Coscarelli (2009, p. 13) afirmou que “vivemos o digital, somos o digital, fazemos o digital. Isso faz parte de nós, cidadãos inseridos no mundo contemporâneo, e se não faz ainda, deveria fazer, ou vai fazer logo”. Todo esse contexto acaba por agir como terreno fértil para que práticas tradicionais se reinventem a fim de tanto melhor adaptar-se a esse novo contexto como conquistar novos espaços e públicos. Uma dessas práticas que buscou adaptar-se a esse contexto foi a propaganda literária. As editoras, principais realizadoras desse tipo de propaganda, buscam cada vez mais inserir-se no ciberespaço. A busca pela ampliação dessa inserção acontece de vários modos e em várias frentes. Dentre as muitas ações desenvolvidas uma tem se destacado pelo seu crescimento no cenário literário brasileiro. Estamos falando dos book trailers. Essa nova ferramenta de divulgação literária incorporou elementos do universo do cinema ao universo literário, utilizando o ambiente da Internet para disseminar esse novo jeito de divulgar livros. Nesse trabalho apresentamos as duas “correntes” – uma favorável e outra contrária – de interpretação dos uso dos book trailers como elemento de divulgação literária e buscamos refletir acerca dos (eventuais) benefícios e malefícios dessa prática. 2 SOBRE ESCRITA, LIVROS E LEITURAS Existem linhas de pesquisas arqueológicas e paleográficas que falam sobre o advento da escrita na Suméria por volta do quarto milênio a.C., mas esse inicio da escrita com o código cuneiforme é muito recente, se compararmos a longa trajetória do desenvolvimento intelectual da humanidade, que desde a sua configuração primitiva fazia uso de “registros” 2 XVII – Encontro Regional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação – EREBD Abordagens Contemporâneas na Sociedade da Informação: Tecnologia Sociedade e Cultura Universidade Federal do Ceará Fortaleza – 02 a 08 de Fevereiro de 2014 com símbolos variados e sem uma lógica mais complexa que a tentativa de passar adiante algum fato do cotidiano. No Egito, foi desenvolvida a escrita através dos chamados hieróglifos, que eram ditos como uma linguagem divina, tamanho o poder atribuído aos que tinham a capacidade de compreender e reproduzir os símbolos, assim também aconteceu na China. A importância da escrita não resulta apenas de uma retrospecção de eruditos. Os povos antigos tinham tal consideração e respeito pela escrita que a sua invenção foi atribuída às divindades ou aos heróis lendários. Os antigos egípcios atribuíam-na alternadamente a Tot e Ísis; os babilônios, a Nebo, filho de Marduk, que era o deus do destino; os gregos, a Hermes e a outros deuses do Olimpo. Uma antiga tradição judaica considerava Moisés o criador da escrita hebraica. E muitos outros povos, incluindo os chineses, os indianos e os habitantes pré-colombianos do México e da América Central, também acreditavam na origem divina da escrita. No tocante as letras latinas, estas foram importadas dos semitas pelos romanos, que por sua vez, juntaram traços culturais ao alfabeto. As muitas transformações pelas quais passaram e ainda passam os processos de escrita, fizeram com que muitos suportes e formatos fossem desenvolvidos e adotados a fim de atuaram como receptáculos do conteúdo que a escrita desejava representar. Dentre todos eles um se destaca: o livro. O livro passou por varias mutações ao longo da história. Foi pintura rupestre, foi rolo de papiro, foi pergaminho de couro e incunábulo, foi artigo de revolução intelectual e braço armado de revoluções, foi Dom Quixote e Dom Juan, foi Platão e Sartre, foi amado e amaldiçoado. Todas essas mutações tornam impossível se negar que o livro tornou-se o principal veículo na viagem de pessoas por vários mundos, reinos e cenários. Não obstante aos tipos de livro que permearam a história – visando sempre sanar as necessidades humanas de adquiri conhecimento ou simplesmente serem imersos em novas experiências – os leitores também se modificaram ao longo da história. Na Idade da Pedra, na Antiguidade e na Idade Média, quando a maioria da população era iletrada, a prática da leitura já existia, mas como? Ora, se ampliarmos a definição de leitura para uma prática anterior à escrita, não é difícil imaginar que homem mesmo em suas formas mais primitiva de percepção do mundo, era dotado de instintos que o fazia interpretar uma caça, perceber semelhantes e “registrar” mesmo que de maneira frugal essa memória, afim de estabelecer relações com o meio que não fossem nocivas a sua existência. 3 XVII – Encontro Regional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação – EREBD Abordagens Contemporâneas na Sociedade da Informação: Tecnologia Sociedade e Cultura Universidade Federal do Ceará Fortaleza – 02 a 08 de Fevereiro de 2014 Nas entrelinhas que separam ou distinguem leitura de leitores, não é difícil perceber o limite tênue que margeia esses dois conceitos. Paulo Freire, inclusive, afirmou que anterior a leitura de palavras está à leitura do mundo. Mais que palavras escritas, nossa mente decodifica imagens e as transforma em textos compreensíveis a nossa cognição. O teor dessa leitura ou da complexibilidade dessa leitura de paisagens e ambientes, está relacionada diretamente ao nosso estágio como leitor e nossa relação com a prática da leitura. Com o desenvolvimento das práticas leitoras e a popularização do livro, o acesso à informação foi sendo cada vez mais ampliado e o número de leitores foi crescendo exponencialmente. Trazendo a discussão para terrenos mais contemporâneos, podemos constatar que o livro realmente possui um fator mágico que atrai multidões. Desde as pinturas rupestres um longo caminho foi percorrido. Hoje não temos um, mas milhares de livros de naturezas diferentes e que podem ser transportados dentro de um aparelho de bolso como um pendrive. O livro desenvolveu-se e busca dia-a-dia acompanhar as transformações tecnológicas incessantemente desenvolvidas pela humanidade. 3 PROPAGANDA E MEIO LITERÁRIO A existência de mecanismos que ajudam na divulgação literária não se constitui em novidade, uma vez que a arte da contação de história é tão ou mais antiga que o próprio livro e, desde os seus primórdios, tem contribuído tanto para a divulgação quanto para a acessibilização do conteúdo das obras literárias. Com o passar dos séculos e o desenvolvimento tecnológico as práticas de divulgação de conteúdos literários se diversificaram e passaram a, cada vez mais, fazer usar de elementos que se destinavam, originalmente, apenas a divulgação de elementos de consumo de massa, dentre esses elementos estão a publicidade, a promoção e a propaganda. Por questões inerentes as suas atividades, quem primeiro buscou incorporar os elementos do marketing ao universo literário foram às editoras. Segundo Kotler (1980 apud AMARAL, 2001, p. 24) o uso do marketing se faz necessário porque “[...] não basta desenvolver um bom produto, determinar seu preço e tronálo acessível aos clientes. Para ele, é preciso desenvolver um efetivo programa de comunicação e promoção [...]” A efetivação do processo de comunicação com o público a que se pretende 4 XVII – Encontro Regional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação – EREBD Abordagens Contemporâneas na Sociedade da Informação: Tecnologia Sociedade e Cultura Universidade Federal do Ceará Fortaleza – 02 a 08 de Fevereiro de 2014 alcançar perpassa pela necessidade de se conhecer esse público, sobre isso Amaral (2001) chega mesmo a firmar que essa é a questão chave. Sendo as novas gerações de leitores fortes usuárias da Internet e dos recursos por ela disponibilizados e subsidiados, as editoras buscaram construir práticas de divulgação que estivessem inseridas no heterogêneo cenário comunicacional da rede. Foi a partir dessa necessidade que surgiram e se multiplicaram os sites, os blogs, os perfis nas mais diversas redes sociais e os – um tanto quanto controversos – book trailers. No caso específico dos book trailers o que observamos é que eles estão completamente inseridos no que Lucia Santaella chama de “era da imagem” e são, ao mesmo tempo, causa e consequência do surgimento e expansão da mesma. Dentro do cenário da era da imagem “[...] a escrita continuou seu curso, mas perdeu certamente a sua dominância sobre a cultura, passando a conviver com a imagem [...]” (SANTAELLA, 2007, p. 289). A multiplicação dos canais usados para a realização de propaganda no meio literário ilustra de maneira muito clara o que Guanaes ([200?] apud SOUZA; COSTA, 2012, p. 4) afirma quando diz que “a história da publicidade segue basicamente a história da tecnologia. A cada novidade que surge, a propaganda se reinventa, como aconteceu com a era do rádio, a era da televisão e agora a era da internet”. 3.1 BOOK TRAILERS A expressão book trailer, segundo GOMES et al (2012, p. 08), foi utilizada pela primeira vez no ano de “[...] 2002 por Sheila Clover − CEO da empresa Circle of Seven Produtions, especializada em publicidade literária”. Isso faz com que os book trailers tenham pouco mais de uma década o que se constitui em um período significativo de tempo em se tratando de internet e NTIC. Apesar de já ter doze anos de existência os book trailers ainda podem ser considerados uma novidade no mercado editorial brasileiro. Os book trailers ou trailers de livros são uma das muitas práticas do mercado editorial para a divulgação de lançamentos literários. Os book trailers foram idealizados a partir dos já famosos e consolidados trailers de filmes, porém Diferentemente dos trailers de cinema, onde é realizada uma edição com as melhores e mais interessantes cenas do filme, o book trailer traz uma montagem elaborada com frases de impacto para chamar a atenção do leitor, permeadas com cenas e imagens do livro e da história, e tudo isso envolto com uma música de fundo. (SOUZA; COSTA, 2012, p. 09). 5 XVII – Encontro Regional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação – EREBD Abordagens Contemporâneas na Sociedade da Informação: Tecnologia Sociedade e Cultura Universidade Federal do Ceará Fortaleza – 02 a 08 de Fevereiro de 2014 Por ser usado basicamente como peça de propaganda pelas editoras o objetivo principal do book trailer é tornar o livro atraente para o leitor, visando gerar o desejo de compra do livro divulgado. Um dos aspectos que diferenciam os book trailers de outros tipos de elementos de divulgação literária é o fato deles não serem meros reprodutores estáticos do conteúdo da obra, ou seja, “[...] o book trailer produz seu próprio conteúdo e explora os cenários da obra de acordo com a visão dos criativos responsáveis.” (GOMES et al, 2012, p. 08). Esse processo de exploração do conteúdo da obra pode ocorrer de muitas maneiras. A mais utilizada é a inserção de frases que resumem o enredo da história em associações a imagens que transmitem a atmosfera e/ou contexto em que a esse enredo se desenrola. O uso dessa ferramenta de divulgação de conteúdo literário tem crescido em número e em variedade de estilos por apresentar duas características que se adéquam muito bem ao ambiente web: a possibilidade de co-produção e compartilhamento por parte do público. A co-produção ocorre porque, atualmente, “os consumidores [...] estão reivindicando o direito de participar da cultura, sob suas próprias condições, quando e onde desejarem.” (JENKINS, 2009, p. 236). Esse contexto fez com que alguns fãs ficassem a vontade para criar suas próprias versões dos book trailers ou até mesmo criar book trailers para livros que não os tinham. Além do aspecto ligado a co-produção, os book trailers, por estarem totalmente inseridos no ambiente digital, podem ser facilmente compartilhados nos muitos ambientes da web. Esses dois aspectos contribuem para uma aproximação do público com o conteúdo existente nas obras. Esse fator acaba por fazer dos book trailers uma forte e excelente possibilidade de divulgação de conteúdo literário. 4 BOOK TRAILER: HERÓI OU VILÃO? Os book trailers surgiram como uma tentativa das editoras de adaptarem-se ao cenário da internet e, assim, conseguirem atrair a atenção de uma geração de leitores que cresceu nesse ambiente altamente imagético. No Brasil, essa prática ainda é recente, tendo crescido em intensidade nos últimos três anos. Com o crescimento no número de book trailers 6 XVII – Encontro Regional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação – EREBD Abordagens Contemporâneas na Sociedade da Informação: Tecnologia Sociedade e Cultura Universidade Federal do Ceará Fortaleza – 02 a 08 de Fevereiro de 2014 produzidos pelas editoras, cresceu também o debate em torno do uso dessa ferramenta como meio de divulgação literária. O debate sobre o uso dos book trailers gira em torno de dois grupos: o daqueles que não veem com simpatia o uso dessa ferramenta, pois ela reduziria as potencialidades da leitura, e o grupo daqueles que acreditam que o uso dessa ferramenta é benéfico, pois agrega novos elementos a já rica experiência da leitura. O grupo contrário à produção e disseminação de book trailers pauta-se em dois argumentos principais: o primeiro é o de que os book trailers são uma prática meramente mercantilista e que, portanto, visa apenas o estimulo ao consumo. O segundo argumento é o de que ao produzir um vídeo com imagens de personagens, cenário, música e demais elementos cênicos, estar-se-ia limitando a possibilidade imaginativa do leitor no tocante aos elementos que compõem a história e com isso estar-se-ia destruindo o aspecto primordial da leitura: a possibilidade do leitor viajar, através de sua imaginação, nas historias contidas nos livros. A síntese dessa visão pode ser encontrada em postagens de alguns blogs, dedicados ao universo literário ou não, e que já trataram do tema dos book trailers. Em um deles encontramos a seguinte justificativa contrária ao uso dessa ferramenta: [...] o trailer coloca rosto e ambientação fixas na história, isso tira a graça de imaginar como cada coisa pode ser. Quando lemos um livro podemos ‘ver’ cada personagem, detalhe ou o que for de acordo com as nossas experiências. [...] O trailer cria essa massificação antes mesmo da leitura. Já dita de que modo vamos ver e interpretar o livro. Acho isso um empobrecimento do ato de ler. (TRAILER DE LIVROS, 2008). O que observamos na citação anterior é que a crítica aos book trailers está centrada na ideia de que os mesmos são prejudiciais a leitura, uma vez que impediriam os leitores de exercerem livremente a imaginação no momento em que estivessem lendo. Nos comentários da postagem da qual se retirou a citação anterior acabou por acontecer uma discussão interessante acerca das potencialidades do uso ou não uso dos book trailers como incentivadores da leitura. Em oposição a visão negativa em relação aos book trailers apresentada anteriormente, há aqueles que acreditam que eles são uma excelente maneira de atrair gerações de leitores em potencial que cresceram dentro do universo web e que estão acostumados a pluralidade dos 7 XVII – Encontro Regional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação – EREBD Abordagens Contemporâneas na Sociedade da Informação: Tecnologia Sociedade e Cultura Universidade Federal do Ceará Fortaleza – 02 a 08 de Fevereiro de 2014 conteúdos desse ambiente. Sobre a importância do uso dessa ferramenta para a conquista de leitores, Gomes et al (2012, p. 03) afirma que [...] este processo de divulgação literária, como entretenimento em meios de comunicação audiovisual, foi de extrema importância para que uma nova geração de leitores se estabelecesse e rompesse com a antiga relação de leitura associada a uma atividade obrigatória e desinteressante, sugerida e fortalecida pela dinâmica dos paradidáticos. O que o argumento exposto acima transparece é que, no contexto atual, onde a sociedade vivencia um intenso processo de midiatização, os book trailers são fundamentais para a conquista de novos leitores. Logicamente, que se deve acompanhar de maneira crítica esse processo de midiatização do livro, porém essa criticidade não deve nos impedir de utilizar de meios, como os book trailers, que possam ajudar na aproximação das pessoas – especialmente as crianças e adolescentes – da leitura. Ainda na defesa dos book trailers há aqueles que argumentam que existe uma certa “[...] importância social da publicidade literária” (GOMES et al, 2012, p. 03), pois essa publicidade, mesmo sendo produzida com a função básica e primordial de criar e/ou intensificar o desejo de compra, esta poderia contribuir para a aproximação dos sujeitos com atividades consideradas benéficas, tais como a prática da leitura. Além do incentivo a leitura, alguns autores argumentam que os book trailers por serem disponibilizados em espaços como o YouTube e compartilhados em redes sociais, podem ajudar a construir uma maior sociabilidade entre os leitores. Segundo Santos e Nunes (2013) os comentários realizados pelos leitores a partir e em torno dos book trailers e de suas experiências de leitura acabam por construir uma variação do tradicional clube do livro. O fato é que o livro, como foi exposto anteriormente, sempre esteve sujeito a influência das mudanças no cenário informacional. Entretanto, essas mudanças não devem ser encaradas como necessariamente benéficas ou prejudiciais para a prática da leitura. No caso específico dos book trailers é preciso ter-se em mente que eles são mais um mecanismo para a divulgação do livros e que “destruir” o hábito da leitura vai na contra mão dos motivos que levaram a criação dessa ferramenta de divulgação. Os book trailers foram criados a fim de atuarem como mais um estimulo que visava despertar a curiosidade do leitor. A curiosidade é elemento fundamental para que o leitor se aproxime do livro. Pode-se afirmar, inclusive, que sem curiosidade não existe leitura, ao menos não uma leitura que valha a pena, que seja prazerosa. E acerca do prazer de ler o 8 XVII – Encontro Regional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação – EREBD Abordagens Contemporâneas na Sociedade da Informação: Tecnologia Sociedade e Cultura Universidade Federal do Ceará Fortaleza – 02 a 08 de Fevereiro de 2014 romancista Daniel Pennac (2008, p. 39) afirma que “[...] o prazer de ler não teme imagem, mesmo televisual e mesmo sob a forma de avalanches cotidianas.” O professor e historiador Roger Chartier, apropriando-se do pensamento de Michel de Certeau, nos diz que “[...] o leitor é um caçador que percorre terras alheias. Apreendido pela leitura, o texto não tem de modo algum – ou ao menos totalmente – o sentido que lhe atribui seu autor, seu editor ou seus comentadores.” (1998, p. 77). Partindo do pensamento desses autores, podemos afirmar que o leitor – de posse de sua capacidade imaginativa e da possibilidade de apropriar-se e reconstruir o significado dos textos – sempre esteve percorrendo terras (páginas) anteriormente semeadas (escritas). Sendo assim, os book trailers se constituiriam em mais uma das muitas “terras” que o leitor tem a possibilidade de percorrer durante o seu processo de leitura e não, em um elemento nocivo que o afastaria da leitura ou o impediria de aproveitá-la plenamente. Os book trailers possuem sim capacidade de influenciar os leitores, entretanto eles não são as únicas ferramentas capazes de influenciar o leitor no momento da leitura. Séries de televisão, filmes, contadores de história e afins também possuem essa capacidade. É importante destacarmos também que o leitor pode ignorar os book trailers, se assim o desejar. O que temos observado é que alguns insistem em tratar a leitura como algo sacrossanto, ignorando que ela é, antes de qualquer coisa, uma prática humana e como tal pode envolver os mais diversos elementos que ajudam a constituir a complexidade e a pluralidade humana. Sendo assim, as NTIC e tudo que advêm delas são, apenas, mais alguns desses elementos. Chartier (1998, p. 77) nos diz que “os gestos mudam segundo os tempos e lugares, os objetos lidos e as razões de ler. Novas atitudes são inventadas, outras se extinguem.” Os book trailers são uma nova maneira de apresentar o conteúdo literário e, como todas as maneiras que os antecederam, possuem aspectos negativos e positivos. O que o bibliotecário precisa ter em mente ao lidar com esse novo elemento são – como sempre foram – as características de seus usuários. Caso os book trailers representem um ganho para a experiência de leitura dos usuários/leitores em questão não há motivos para negligenciar essa ferramenta. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 9 XVII – Encontro Regional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação – EREBD Abordagens Contemporâneas na Sociedade da Informação: Tecnologia Sociedade e Cultura Universidade Federal do Ceará Fortaleza – 02 a 08 de Fevereiro de 2014 Dificuldades e aspectos negativos são inerentes a todas as práticas sociais. O que deve ser observado no caso do uso dos book trailers como elemento de divulgação literária é a adequabilidade dessa ferramenta ao perfil do público que se deseja atingir – juntamente com outros aspectos, tais como a maneira como foi empregada – que definirá o nível do seu sucesso. Independente da postura adotada com relação aos book trailers, acreditamos que todos aqueles que direta ou indiretamente trabalham com o incentivo a leitura devem respeitar e primar pelo uso das técnicas e mecanismos incentivadores que melhor se adequem ao público que desejam atingir. Os book trailers são mais um das muitas ferramentas proporcionadas pelas NTIC e que, se bem utilizadas, podem contribuir para uma aproximação leitor e livro como para uma aproximação entre leitor e biblioteca e também entre biblioteca e mídias sociais digitais. 10 XVII – Encontro Regional dos Estudantes de Biblioteconomia, Documentação, Ciência e Gestão da Informação – EREBD Abordagens Contemporâneas na Sociedade da Informação: Tecnologia Sociedade e Cultura Universidade Federal do Ceará Fortaleza – 02 a 08 de Fevereiro de 2014 REFERÊNCIAS AMARAL, Sueli Angelica do. Promoção: o marketing visível da informação. Brasília, DF: Brasília Jurídica, 2001. CHARTIER, Roger. 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