Desbravadores Canelas 2000 Desbravadores Canelas 2012 Jorge Silva Manual de Excursionismo Prólogo De acordo com Gary Vitti treinador da equipa de Basquetebol Los Angeles Lakers, quem vai aos vestiários ou às salas de treino desta equipo fica admirado com os diferentes estilos e sapatos e encontra. Isto levanto uma pergunta inevitável: Quais são os melhores sapatos? Segundo ele, "os melhores sapatos são os que são certos para o seu pé - os sapatos que lhe ficarem bem, que o ajudam no seu desporto e, mais importante ainda, que não lhe causam problemas." "Vemos muitos vezes lesões ortopédicas", continua Vitti, "que são o resultado directo de sapatos incorrectos ou mesmo de uma mudança de modelo de sapatos. 0 tipo de lesões mais comuns são tendinites, bursites, joanetes, dedos de martelo, calos calosidades bolhas, canela lascada, condromalacias (amolecimento de qualquer cartilagem) e fracturas por stress. Isto deve-se ao facto de, quando se muda de sapatas, mudar-se a mecânica do pé." "Há sapatos diferentes para cada tipo de actividade. Os sapatos paro correr têm amortecedores de choque nos saltos, com mais flexibilidade na parte do frente dos dedos. O almofadado dos sapatos para caminhar corresponde à parte acolchoada do pé, junto ao metatarso, sobre a qual se aplica o maior stress. Os sapatos para ténis requerem estabilidade lateral por causa dos movimentos, de um lado para o outro, do desporto. Se puder, use o sapato certo para cada desporto. Experimente os sapatos com o mesmo tipo de meias que vai usar quando os calçar. 0 sapato deve ter o espaço da largura de um polegar entre o dedo mais comprido e a sua ponta." Quando encontrar o tipo de sapato que lhe dá conforto, compre dois pares o use-os em dias alternados. A transpiração continua fará com que os sapatos se estraguem mais depressa. Alternando os pares de sapatos, dará tempo para que um seque completamente entes de o voltar a usar. Manter o mesmo estilo de sapato é a melhor escolha que poderá fazer. Caminhar é uma maneira fácil e agradável de obter melhor saúde e aumentar o seu bem-estar mental. Mas uma parte essencial de qualquer programa de caminhado é pensar na segurança pessoal. Mantenha em mente esta filosofia enquanto lê a lista de sugestões de saúde e segurança que lhe damos abaixo. Algumas já deve conhecer, outras serão ideias novas que quererá incorporar no seu regime de caminhada. São todas importantes. O Pedestrianismo, ou caminhada, é tão antigo como o próprio homem. Os passeios pedestres situam-se entre o desporto e o turismo. A sua prática resume-se num caminho a percorrer, desfrutandose de toda a natureza que o rodeia, ora descansando, ora tirando fotografias num contacto mais intimo com o mundo animal e vegetal, sem pressas de chegar ao fim. Na maior parte dos casos, as caminhadas não exigem grande aprendizagem nem técnicas especiais, podendo ser praticadas por pessoas de todas as idades. No entanto para determinados tipos de percursos deverão seguir-se as indicações de um guia mais experiente e conhecedor do percurso. Como as palavras "pressa" ou "competitividade" não deverão fazer parte do seu vocabulário, torna-se uma actividade física moderada e relaxante. Embora o Pedestrianismo seja considerado um desporto de aventura, o factor risco deverá existir. 2 Manual de Excursionismo Caminhar, conhecer, respeitar a Natureza! Andar é dom que herdámos dos antepassados. É um exercício natural e gratificante. Percorrer montes e campos por veredas, por trilhos macios ou pedregosos. Descobrir quem outrora os utilizou na labuta do dia a dia. As serras, os riachos, a floresta, os prados, as aves, as flores, os insectos são um deslumbramento todo o ano... As estações transformam a paisagem... Afinal, tudo se conjuga para nos conhecermos melhor a nós próprios e aprendermos a respeitar a Natureza. Caminhar é fácil! Todos descobrem que o podem fazer. Em grupo, o convívio compensa-nos da vida sedentária que pesa no dia a dia. Caminhar também é fazer turismo, conhecer as regiões, o património e os costumes. Vamos voltar a caminhar em Portugal! J. M. Pom Pombo Duarte Presidente do Clube de Actividades de Ar Livre 3 Manual de Excursionismo Requisitos: 1. Descrever o vestuário e o equipamento convenientes para uma excursão (incluindo sapatos e meias) 2. Citar os utensílios essenciais a levar para uma excursão de 2 dias 3. Apresentar provas que andou: a) 2 dias num mês (15 km por dia) b)25 km em6 horas num só dia. Apresentar um relatório desta excursão. Descrever as vossas observações e experiências. 3. Descrever 3 excursões interessantes a fazer na vossa região. 4. a) Estabelecer o mapa duma dessas excursões. b) Apresentar a prova: - que é capaz de ler uma carta topográfica - que sabe utilizar a bússola - que é capaz de calcular antecipadamente e aproximadamente a duração da marcha 5. Saber a medida dos vossos passos e medir uma distância de meio km usando-os para a medida. 4 Manual de Excursionismo Percursos Tipos de Percursos No trekking existem pequenas variações dos Percursos de Grande Rota: de pequena rota, circulares, ecológicos e internacionais europeus. De seguida, são enumerados os pormenores que os diferenciam. Percursos de Grande Rota Identificados pela sigla GR, estes são os percursos de extensão igual ou superior a 50 km. Poderiam definir-se como os percursos principais em redor dos quais se estendem todos os restantes. Percursos de Pequena Rota Usualmente ligados aos GR, criando em redor destes uma rede de caminhos mais local. A sua extensão raramente alcança os 50 km. Percursos de Pequena Rota Circulares Este tipo de caminhos, também chamados simplesmente Percursos Circulares, caracteriza-se por começar e terminar num mesmo ponto. O caminheiro vê-se condicionado pelos meios de transporte para se aproximar dos percursos pedestres e poder regressar ao local de partida. Percursos Internacionais Europeus São aqueles cujo percurso tem continuidade em países vizinhos, chegando a alcançar, por vezes, extensões espectaculares. O seu traçado costuma coincidir, na passagem por diferentes países, com os GR de cada um deles. Em todos os tipos de percursos podem existir ramais ou variantes, bifurcando-se o caminho em algum ponto para voltar a unir-se mais adiante. Também se podem encontrar percursos locais que permitam o acesso a algum lugar de especial interesse (um miradouro, umas ruínas, etc.). O prazer de andar ao ar livre, em boa companhia e desfrutando de paisagens fantásticas. Dividimos os nossos Percursos Pedestres em quatro tipos: • • • • Percursos Pedestres com Interesse Arqueológico e/ou Histórico; Percursos Pedestres em Serra e Baixa Montanha; Percursos Pedestres em Média Montanha; Percursos Pedestres em Alta Montanha com Ascensão a Picos Elevados. Histórico ico Percursos Pedestres com Interesse Arqueológico e/ou Histór Em diferentes locais do país efectuamos estes passeios que, para além da actividade física em si, levam-no até locais nem sempre conhecidos: aquedutos, antas, grutas, povoações abandonadas, ruínas, etc. 5 Manual de Excursionismo Percursos Pedestres em Serra e Baixa Montanha Neste tipo de percursos poderá a começar a sua iniciação à montanha. Em locais por vezes paradisíacos, o contacto com diferentes animais que vivem em estado selvagem é muitas vezes possível! Locais: Gerês, Serra de Montesinho, Serra da Estrela, Serra de Gredos (Espanha), Picos da Europa (Espanha). Média Montanha Percursos para vários dias, por vezes em autonomia. Muitas vezes, dependendo da época do ano, existe a possibilidade de efectuar travessias em campos de neve. Locais: Pirinéus franceses e espanhóis; Alpes. Alta Montanha com Ascensão a Picos Elevados Os grandes percursos, uns em autonomia outros com todo o apoio logístico. As grandes montanhas de várias parte do mundo ao seu alcance – percursos efectuados a diferentes altitudes, de acordo com os seus interesses e capacidade física. A ascensão a alguns picos de elevada altitude através de vias que pouco mais exigem do que a marcha e a quadrupedia. É essencial possuir um boa condição física. Montanhismo e Excursionismo O MONTANHISMO pode ser definido como a ascensão de montanhas por caminhada ou escalada. Faz parte de um conjunto de actividades bastante amplo, denominado EXCURSIONISMO. O excursionismo é uma prática salutar, que visa proporcionar actividades em locais os mais variados possíveis, cumprindo algum objectivo esportivo, recreativo ou cultural, através de uma programação bem planejada e geralmente sob a direcção de um guia. Numa conceituação ampla, envolve inúmeras modalidades, tais como o próprio montanhismo, o campismo, a exploração de cavernas, a canoagem, o mergulho, os roteiros culturais, os passeios recreativos, etc. Como no nosso meio prevalecem as actividades de carácter montanhístico, é comum que a denominação "montanhismo" se confundia, por força do hábito, com o termo genérico "excursionismo". Devido ao fato de o montanhismo ter-se iniciado nos Alpes, recebe também o nome de ALPINISMO, denominação que se generalizou bastante, tornando-se amplamente aceita. A rigor, a palavra "alpinismo" deveria ser reservada para as actividades montanhísticas realizadas nos Alpes, assim como "andinismo" para os Andes, "himalaismo" para o Himalaia, etc. A Cordilheira dos Alpes é considerada o berço do montanhismo. A primeira ascensão de vulto a um dos seus picos foi o Monte Aiguille, em território francês, por Antoine de Ville, que realizou uma verdadeira escalada sobre rocha. Esse fato ocorreu em 1492 e causou enorme furor na época, pois acreditava-se que as altas montanhas eram habitadas por dragões e seres alienígenas. Tão intenso era esse temor, que as próximas conquistas alpinas importantes só se deram em 1744 (Monte Titlis), 1770 (Monte Buet) e 1779 (Monte Velan). 6 Manual de Excursionismo Em agosto de 1786, o médico Michel Gabriel Paccard e o montanhês, caçador e garimpeiro de cristais Jacques Balmat conseguiram atingir o teto da Europa Ocidental: o Monte Branco (4.807 m), situado nos Alpes franco-italianos. Tal aventura foi motivada por um prémio oferecido por um cientista e naturalista suíço Horace Bénédict de Saussure, que pensava fazer naquele cume alguns ensaios científicos. De fato, um ano depois, o próprio Saussure chegou ao topo do monte, integrando uma expedição com Balmat e outros 17 guias, e ali realizou diversas experiências. O sábio tornou-se responsável pelo enorme interesse que as ascensões montanhísticas passaram a despertar, porém sob uma óptica mais científica do que esportiva. Medo e superstição ainda rondavam aqueles cumes nevados. Durante os próximos 70 anos, algumas conquistas notáveis foram feitas na cadeia dos Alpes, entre elas o Jungfrau (1811), o Finsteraahorn (1812), o Watterhorn (1854) e o Monte Rosa (1855). Entretanto, só em 1856, quando um grupo de montanhistas conseguiu ascender ao cume do Monte Branco sem auxílio de um guia experiente, é que o esporte começou a apresentar um surto de popularidade na Europa. Encerrava-se, dessa forma, o período do montanhismo puramente exploratório e de carácter científico. Desde tempos memoráveis, o homem tem ocupado os seus pés como meio de transporte, recor recorrendo grandes distancias. Caminhar em grupo pelas matas e florestas é uma maneira saudável de curtir o verde, o ar puro e a água cristalina da montanha. Faz bem para o corpo e para a cabeça. Mas, infelizmente, isso tem causado inúmeras vítimas. Por causa da falta de cuidado e desconhecimento de algumas regras básicas. Planeamento Antes de mais nada, é muito importante você saber aonde ir, como ir e com quem ir. Procure conhecer o local, através de mapas e informações de amigos e moradores da região. Lembre-se que para fazer excursionismo não é necessário ser atleta. Mas você precisa estar bem de saúde e respeitar suas limitações. Faça um desenho do seu roteiro, para não se perder no meio da mata. Obtenha, com antecedência, todas as informações meteorológicas: sol, chuva, temperatura, etc. Deixe avisado na sua casa: • O local da caminhada. • Com quem você vai. • Qual o dia e a hora previstos para o retorno. • Para quem avisar no caso de demora para voltar. • Se você for principiante, deve fazer caminhadas leves, sem muitas subidas e descidas. Não pense que, por já ter feito uma determinada trilha, você a conhece bem. Pode haver surpresas. Muita atenção nas bifurcações. • • • 7 Manual de Excursionismo Situações de emergência • • • • No caso do grupo se perder, procure reconstituir mentalmente o caminho feito. O grupo deve voltar até o ponto limite do caminho certo e reiniciar a caminhada interrompida pelo erro. Se não encontrar o caminho, não se desespere. A calma e a prudência vão ajudar você. Faça o seguinte: • PARE. Fique calmo e junte todo o grupo. • SENTE-SE. Em pé você se cansa mais depressa. • ALIMENTE-SE. Para se distrair e recompor as energias. • ORIENTE-SE. Mantenha a calma e converse bastante com o grupo, usando as Técnicas de Orientação. Tentem decidir juntos qual direcção todos devem seguir. • DESLOQUE-SE. Retome a caminhada sempre com muita atenção e prudência. • Procure deixar sinais bem visíveis pelo caminho. Isso ajuda as equipes de resgate a encontrar o grupo mais facilmente. • Ao caminhar, respire compassadamente no ritmo ajustado à frequência do seu passo. • Em cada parada, marque com atenção no desenho do roteiro o caminho andando e a rota a seguir. Ao retomar a caminhada, fique atento parao não errar a direcção. • Se ninguém do grupo conhecer as Técnicas de Orientação, é melhor ficar parado, esperando socorro, do que se aventurar no meio da mata por caminhos duvidosos. • Neste caso, monte um acampamento, faça um abrigo seguro e procure água. Nunca se afaste mais de 300 metros do acampamento. • Abra uma clareira, dando uma aparência ''pouco natural'' ao lugar onde está o grupo. • Faça uma fogueira com muita fumaça, usando folhas verdes e húmidas. Tome cuidado para não colocar fogo na mata. • Se alguém do grupo se ferir ou estiver em más condições físicas, não o deixe só. Procure socorrê-lo com segurança. Dependendo do caso, deixe-o sob observação e vá buscar ajuda. Mas nunca vá sozinho. 8 Manual de Excursionismo Regras Básicas • • • • • • • • • Jamais fique sozinho durante a caminhada. E leve sempre um Manual de Primeiros Socorros. Nunca entre numa mata ou floresta sem conhecer bem as trilhas. Vá pelo caminho mais fácil e seguro, mesmo sendo o mais longo. Evite brejos e atoleiros. Chegando num córrego, sonde o fundo com uma vara e tome cuidado na hora de cruzar. As pedras do leito podem estar soltas e escorregadias. Pise firme, com confiança, e pronto para agir no caso de uma queda. Pare e coma alguma coisa sempre que sentir algum sinal de esgotamento. Não coloque plantas silvestres na boca. Ande somente à luz do dia. Na mata a noite chega mais cedo. Fique atento aos animais e armadilhas de caçadores. Não destrua a natureza. Não leve plantas para casa. E não faça trilhas novas: use as já existentes. O grupo inteiro deve caminhar no ritmo do companheiro mais vagaroso. Montanhismo é a prática de subir montanhas através de caminhadas ou escaladas. O montanhismo faz parte do "excursionismo" um conjunto de actividades mais amplo que envolve o campismo, a exploração de cavernas, a canoagem, o mergulho, etc. O nome "alpinismo" na prática é sinónimo de "montanhismo", mas não deveria ser utilizado pois historicamente representa a prática de montanhismo na região dos Alpes, assim como o termo Andinismo é utilizado na região dos Andes. Escalar é uma sucessão de posições de equilíbrio. É uma alternância de movimentos curtos e relaxamento, num ciclo realizado com rapidez. A técnica de escalada em rocha tem um aspecto bastante contraditório. Por um lado é um esporte cuja prática acontece acompanhada do perigo. Às vezes uma simples falha ou falta de atenção pode ter consequências graves. É necessário manter um autocontrole e uma concentração permanentes. Por outro lado, se para isso você bloqueia a sua mente e assume uma atitude mental "pesada", seus movimentos se desenrolam de maneira forçada e sem rendimento. Você desperdiça energia e se cansa rapidamente". Para facilitar a progressão na rocha não se deve ficar estático, pelo contrário, deve-se analisar à todo o instante todas as partes do seu corpo. Nesse jogo vertical movimentar-se com rapidez e eficiência é crucial para o sucesso. Uma das razões porque os melhores alpinistas escalam lances difíceis aparentando a mesma facilidade com que você anda são dois outros princípios: • Eles fazem movimentos curtos, utilizam agarras intermediárias, numa sucessão de pequenos movimentos, ao invés de passos enormes quando não são necessários. • E também eles se penduram com as articulações estendidas. Manter uma articulação dobrada exige a acção dos músculos, que se cansam". Lembrando de Bonaitti: "Escala-se com a cabeça", dizia um dos melhores alpinistas de todos os tempos." 9 Manual de Excursionismo Nomenclatura Todos os percursos registados são catalogados através de siglas e números. Os Percursos de Grande Rota são identificados pelas letras GR seguidas de um número, como, por exemplo, GR-8. Se existir alguma variante, esta identifica-se com outro número de pois de um ponto. No GR-8 existem duas variantes identificadas como GR-8.1 e GR-8.2. Os Percursos de Pequena Rota têm a numeração correspondente precedida das letras PR. Quando se trata de um Percurso Circular, é acrescentada a letra C, como, por exemplo, PRC-1. Os Percursos Internacionais da Europa identificam-se com a letra E seguida de um número atribuído, como, por exemplo, E-4. Alguns percursos, além do número de catalogação, têm um nome próprio, quer por serem caminhos muito populares, com longa tradição, quer por serem especialmente característicos, como, por exemplo, o GR-65 francês conhecido por Caminho de Santiago, ou ainda o GR-11 francês também chamado Senda Pirenaica. Avaliação da dificuldade dos Percursos Ao contrário de outros desportos, como o alpinismo ou a escalada, não existe uma tabela oficial ou um critério preestabelecido de dificuldade para os percursos pedestres. Para a avaliação da dificuldade de um percurso é necessário obter informações completas sobre as características da rota e deduzir a sua dificuldade. Dispondo de dados suficientes, pode partir-se de três factores básicos para o estabelecimento do grau de dificuldade: a extensão, o tipo de terreno e o desnível. A climatologia não é um dado a descurar, principalmente nos itinerários de montanha, em que o grau de dificuldade é alterado por completo consoante a época do ano: a neve, o frio ou o calor extremos não facilitam as caminhadas. A segurança é outro aspecto a valorizar, nomeadamente no que concerne a sinalização, no sentido que é menos provável alguém se perder num percurso bem sinalizado. Tratando-se de percursos catalogados, decerto que haverá abundante documentação disponível para informação, quer em mapas, quer em guias. Em rotas com pouca ou nenhuma sinalização, esta lacuna deverá ser compensada por bons conhecimentos de orientação, mais concretamente no manejo da bússola e na interpretação de mapas. Por conseguinte, em alguns percursos, a experiência poderá ser fundamental. A forma física e a experiência do caminheiro são factores que tornarão por si só os percursos mais ou menos complicados. 10 Manual de Excursionismo Equipamento Descrever o vestuário e o equipamento convenientes para uma excursão (incluindo sapatos e meias) • Bíblia • Cantil Quando se realiza qualquer tipo de exercício continuado, é preciso ingerir líquidos para evitar a desidratação. Na verdade, quando surge a sensação de sede, o corpo já perdeu grande quantidade de água. Embora também se possam tomar sumos ou bebidas gaseificadas, as bebidas doces causam mais sede. Deve beber-se água. No máximo, água com uma pequena percentagem de sumo de laranja, limão ou em substituição bebidas energéticas. Se faz calor, há que levar uma provisão de água por cada 3 km a percorrer e beber o equivalente a um copo de água de meia em meia hora. No Inverno, o consumo reduz-se a metade: meio litro cada 3 km. Com baixas temperaturas, será bom tomar uma bebida quente. Se o peso não for grande problema, levar uma termos com uma bebida quente será muito reconfortante. O caminheiro informa-se sempre previamente das características do percurso, para conhecer as fontes, mas a qualidade da água nem sempre oferece todas as garantias. Convém ser previdente e levar uma quantidade de água suficiente nos cantis ou, para precaver levar num bolso algumas pastilhas de purificação de água como alternativa. As garrafas ou cantis costumam ser de plástico ou de metal. Os primeiros são mais leves, mas conservam a água fresca por menos tempo. Os dois tipos são igualmente resistentes. O importante é que fechem bem, para que o conteúdo não se verta durante o transporte. Alguns cantis têm uma correia para serem transportados ao ombro ou um gancho para serem presos ao cinto. Embora algumas pessoas considerem cómodo levar o cantil pendurado, a verdade é que desta maneira evita-se paragens desnecessárias para tirar o cantil do seu interior. Contudo, se o percurso a seguir for bastante acidentado e cheio de vegetação a circundar, é preferível resguardá-lo dentro da mochila, pois este pode ficar preso num ramo, impedindo-nos a progressão ou criando-nos um sério problema. • Bússola • Carta Topográfica • Ração de Combate Deverão transportar-se na mochila pequenas provisões, além dos alimentos principais, como frutos secos, bolachas, barras energéticas, etc. O chocolate também poderá incluir-se na lista, mas 11 Manual de Excursionismo devemos ter algum cuidado na escolha que fizermos, pois alguns derretem-se com facilidade. De uma forma clara, todos os alimentos que sejam energéticos serão uma boa ajuda durante o percurso. • Mochila Existe uma grande variedade de modelos, de qualidades muito diversas e com diferentes capacidades. Numa saída curta durante o Verão, apenas um agradável passeio por terreno plano, os requisitos exigidos à mochila serão mínimos. Quando não se leva muito peso, a resistência, a forma e uma grande capacidade da mochila têm uma importância muito relativa. Mas, caso se trate de uma rota de vários dias, com mau tempo e por terreno irregular, tudo muda. Quando é preciso transportar uma carga pesada (roupa para mudar, material de campismo, comida, etc.) durante muitas horas, a escolha correcta da mochila é de grande importância. Como critério geral, qualquer que seja o tipo de mochila que se adquira, é necessário avaliar a sua resistência e impermeabilidade. Materiais como a lona ou a fibra de nylon impermeabilizada satisfazem ambas as exigências. Os fechos de correr são os pontos fracos da sua impermeabilidade. Devem estar protegidos por uma aba que evite a passagem da água para o interior do saco. A qualidade das costuras e a resistência das tiras e das correias são outros aspectos que convém verificar. Não é recomendável utilizar uma mochila muito grande quando se transporta pouco peso. E nem sempre se fazem saídas de vários dias que exijam levar muito material. O normal é ter duas mochilas e utilizar a mais conveniente . Para as excursões de um só dia, uma mochila até 35 litros de capacidade é mais do que suficiente, ao passo que para uma saída de vários dias será necessário uma mochila de 40 a 60 litros, que permita o transporte do equipamento necessário. Embora talvez pareça que as mais práticas sejam as que têm muitas bolsas laterais e exteriores, estas nem sempre se revelam tão úteis como se supõe. Estas bolsas permitem aceder facilmente a material de pequenas dimensões sem necessitar de revolver o conteúdo da mochila. No entanto, não costumam oferecer boa protecção aos objectos que as contêm. Além disso, as bolsas são sempre a parte externa mais castigada da mochila, a que sofre mais raspadelas e esticões. Por outro lado, no caso de se estar a percorrer carreiros estreitos ou mesmo a abrir caminho, as bolsas impedem a progressão, ficando presas entre ramos e arbustos. A parte rígida que se apoia directamente sobre as costa é a armação. A sua forma é importante, visto que distribui o peso de maneira uniforme entre a zona lombar e dorsal. Existem mochilas com armação externa de tubo de alumínio, mas para o tipo de carga média que se transporta em percursos pedestres não são as mais adequadas. Para adaptar a mochila à estatura de cada “caminheiro”, à carga transportada e também à inclinação do terreno, convém que todas as correias sejam reguláveis. Se forem acolchoadas, tornar-seão mais cómodas. Além das tiras para prender aos ombros, as mochilas de considerável volume têm também uma correia acolchoada para atar à cintura. Desta maneira, as ancas também suportam parte do peso (os ombros transmitem o esforço à coluna vertebral e esta, por sua vez, fá-lo incidir sobre a bacia). Para regular a tensão dos tirantes, deve colocar-se a mochila e apertar a correia da cintura, com os tirantes totalmente frouxos, e ir esticando-os até que se obtenha uma tensão uniforme sobre os ombros. O peso também conta: uma mochila vazia não deveria pesar mais de 1 Kg. A colocação do material dentro da mochila deve reger-se pela lógica, colocando de forma mais acessível, na parte superior, aquilo que se vai utilizar com mais frequência ou mais cedo. É muito prático guardar tudo dentro de peque nos sacos, por tipos (roupa interior, T-shirts, Kit cozinha ...), dias (roupa que irei usar amanhã, pequeno almoço, refeições individuais...) ou associações (tudo o que diz respeito 12 Manual de Excursionismo a roupa, tudo o que diz respeito a comida, tudo o que diz respeito a ...). Desta forma, o conteúdo ficará protegido da humidade em caso de chuva, visto que as mochilas nunca são totalmente impermeáveis. • Calçado Os pés do caminheiro são o elemento básico a proteger: o Trekking é, acima de tudo, caminhar. A escolha correcta o calçado torna-se, pois, fundamental. O tipo de sapato escolhido (que dependerá do tipo de percurso a realizar e das condições climatéricas) tem de ser cómodo: será preciso andar durante muitas horas. O isolamento é também um factor primordial. Para optimizar o conforto e o isolamento, o uso de peúgas apropriadas é tão importante como a escolha do calçado adequado. O mercado oferece actualmente uma completíssima gama de modelos e materiais, em todas as cores e formas imagináveis. Cada tipo de calçado é indicado para as diferentes condições climatéricas e os diversos terrenos. Eis alguns tipos que se podem encontrar. Sapatilhas desportivas A sua melhor qualidade é serem sempre muito cómodas. Fabricam-se em diversos materiais, como a lona de algodão, lona de nylon e couro. São perfeitamente adequadas para a prática do trekking, sempre que o percurso se realize numa zona seca e num terreno de superfície muito irregular. Convém escolher um modelo que tenha almofada de ar no calcanhar, actuando como amortecedor. Em contrapartida, as sapatilhas desportivas não são apropriadas para as rotas de montanha, já que pela sua falta de rigidez não oferecem protecção alguma aos tornozelos nem à planta dos pés. E também não proporcionam um bom isolamento contra a humidade e o frio. Botas ligeiras Têm características muito semelhantes às sapatilhas desportivas, com algumas diferenças que as tornam mais adequadas para caminhar pela montanha, sendo também mais resistentes. As botas ligeiras proporcionam uma leve protecção dos tornozelos, já que o cano apresenta apenas uma rigidez mínima. E não são completamente impermeáveis, pelo que se tornam adequadas à montanha somente em boas condições climatéricas. Botas de trekking trekking Este tipo de botas é o mais apropriado. Trata-se de uma combinação entre as resistentes e rígidas botas de montanha e as cómodas e anatómicas sapatilhas desportivas. Geralmente são forradas com gore-tex (um tecido sintético microporoso impermeável que permite a transpiração). Têm grandes vantagens e nenhum inconveniente: são resistentes, impermeáveis e cómodas. Na verdade, são muito mais seguras e resistentes do que o calçado desportivo e, apesar de terem uma sola rígida e cano alto para protecção dos tornozelos, são também muito mais cómodas que as botas de montanha. São apropriadas para qualquer tipo de terreno. Botas de montanha Este tipo de calçado utiliza-se apenas em alta montanha e em condições extremas. Raramente se usarão na prática do trekking, salvo em situações e percursos muito concretos. Caracterizam-se pela sua grande dureza e pela rigidez da sola. Torna-se difícil a adaptação a estas características, pelo que é necessário acostumar-se a elas pouco a pouco: a princípio os ferimentos por atrito e as bolhas nos pés são quase inevitáveis... 13 Manual de Excursionismo Escolher o calçado A escolha correcta do calçado é de importância vital. Nada pior do que uns sapatos incómodos, inadequados ou de tamanho errado. Há que ter os cuidados necessários. Convém fazer a compra do calçado durante a tarde, já que os pés estão um pouco mais inchados do que a manhã. Os sapatos têm de ficar bem ajustados ao calcanhar e ao peito do pé. Mas is dedos devem dispor de espaço suficiente na parte da frente para poderem mover-se. • Vestuário Na escolha do vestuário há que esquecer as modas e a estética e ser completamente prático. Comodidade, pouco peso e protecção contra o frio, a humidade e o vento. É isto, em geral, o que se deve exigir aos artigos de vestuário para a prática do trekking. A roupa tem de estar em consonância com as condições climatéricas: um percurso com uma agradável temperatura primaveril não é o mesmo durante os rigores do frio invernoso. Além disso, há que prever também que o tempo pode mudar durante o percurso. No Verão, as temperaturas são altas e não é preciso um resguardo para o frio, mas pode cair um forte aguaceiro a qualquer momento. Convém levar na mochila alguma peça de vestuário para este tipo de emergências. Com o exercício, o corpo vai ficando mais quente. Por conseguinte, é preciso adoptar um vestuário que permita pôr ou tirar roupas de modo a regular a temperatura do corpo, para garantir o conforto e não se acabar repleto de suor. Vestir diversas camadas de roupa também assegura uma melhor protecção contra o frio. As roupas em si não produzem calor, a única coisa que fazem é manter o calor libertado pelo próprio corpo e evitar a entrada do frio. O melhor isolamento térmico consegue-se quando se forma uma camada de ar quente à volta do corpo. Por isso, duas camisolas finas, por exemplo, resguardam mais do que uma mais grossa. Em geral, é recomendável que se vistam três camadas. Mas são as condições climatéricas que determinam qual o vestuário mais adequado e quais os materiais mais apropriados. Como vestirvestir-se no Inverno: Nesta estação do ano, o objectivo principal será proteger-se o frio. Mas é necessário sublinhar que a sensação da temperatura não se relaciona apenas com os graus que o termómetro marca. O vento e a humidade aumentam enormemente a sensação do frio. Há que procurar um vestuário que proteja de ambos os factores. A roupa interior. O tronco é protegido por várias peças, visto que se trata da parte do corpo que mais necessita de regulação térmica. Convém que as peças que estão em contacto com a pele sejam de um material que não absorva a humidade, como o polipropileno e a clorofibra, que a expulsam das roupas. No Inverno há que evitar as camisolas interiores de algodão, embora se tenha de reconhecer que este material é talvez mais confortável e agradável ao tacto que os materiais sintéticos. Mas absorve a humidade e leva muito tempo a secar. A lã também absorve a humidade, mas não perde, como o algodão, as suas qualidades térmicas. As peças de angora são especialmente as recomendáveis. A camada intermédia. Para a Segunda camada, sem dúvida alguma, o material mais adequado é a chamada “fibra polar”. Com o aparecimento no mercado deste material sintético, foram completamente postas de lado as camisolas de lã. Este tecido proporciona o mesmo isolamento térmico que a lã, mas tem metade do peso e a sua manutenção não é tão delicada. 14 Manual de Excursionismo As peças exteriores. Para a camada exterior, há que escolher uma pela isoladora que proteja também do vento e da chuva. As peças com enchimento de penas já não constituem a melhor opção, como sucedia a já alguns anos. Aparecem no mercado alguns materiais sintéticos que apresentam diversas vantagens sobre as peças em penas: oferecem um óptimo isolamento térmico e pesam pouco. No entanto, são totalmente incompatíveis com a humidade, que lhes retira a capacidade isoladora. Alguns materiais são totalmente impermeáveis, como o chamado “perlon”. A sua impermeabilidade evita a penetração de água da chuva, mas, ao mesmo tempo, não permite a transpiração, o que representa um grande inconveniente, pois acabamos cobertos de suor. O gore-tex é a melhor opção. Trata-se de uma membrana microporosa sobre um tecido de nylon. O pequeno tamanho dos seus poros (0,0002mm de diâmetro) impede a passagem das gotas de água, mas permite que o suor, em forma de vapor de água, possa sair. Estes casacos devem ser bastante folgados para que proporcionem comodidade e permitam uma boa liberdade de movimentos. As calças. Há que vestir sempre calças compridas. Isto não só por causa do frio, mas também para evitar os possíveis arranhões causados por ramos, pedras, etc. Esta peça deve ser acima de tudo, cómoda. Convém que sejam modelos largos a fim de possibilitar uma boa movimentação dos membros. A não ser que se efectue um percurso em condições extremas, as calças de treino são adequadas, podendo complementar-se com malhas interiores em caso de baixas temperaturas. As malhas podem ser de um material que funcione como bom isolador térmico (lã, polipropileno, etc.). Complementos. Algumas partes do corpo, como os pés e as mão são as primeiras a arrefecerem, já que a irrigação sanguínea aí chega com maior dificuldade. Nos dias frios serão imprescindíveis umas boas luvas: podem ser de lã ou de fibras sintéticas, como o Thinsulate. Para os pés, aplica-se também o princípio das camadas múltiplas. O complemento ideal para umas botas de trekking é um par de meias de ski (não têm calcanhar nem costuras), com peúgas finas de algodão por baixo. É preferível que não sejam 100% algodão, já que com o suor se enrugam e podem causar bolhas. Para proteger a cabeça e o pescoço das baixas temperaturas, deve usar-se um cachecol e um bom gorro de lã ou Thinsulate que cubra as orelhas. Uma gola poderá abrigar ambas as partes do pescoço. Para proteger as orelhas pode também utilizar-se uma fita larga de malha polar. Óculos de Sol são a melhor protecção para os olhos quando o vento é frio e intenso. Como vestirvestir-se no Verão Os conselhos para o vestuário em época estival são muito mais simples. Pouco se pode fazer para a protecção do calor, além de vestir roupas leves e frescas. O material mais apropriado é o algodão. Absorve o suor e, quando há Sol, seca com facilidade, não permanecendo muito tempo com a sensação de humidade na pele. O uniforme estiva do caminheiro é composto por uma simples camisola de manga curta em algodão e uns calções. No entanto, caso se siga por carreiros muito estreitos entre vegetação, será mais aconselhável vestir calças compridas, para evitar arranhões e ferimentos causados por silvas e ramos, ou o desagradável contacto com urtigas bem como alguns animais pouco interessantes, como por exemplo carraças. O pior inimigo, nesta época do ano, é o Sol. Com a diminuição da camada do ozono, os perigos relacionados com a exposição ao Sol, são maiores. Por isso, há que evitar utilizar peças com alças e vestir uma camisola leve de manga comprida para protecção dos raios solares. O uso de um chapéu é 15 Manual de Excursionismo importante. Caso não o tenhamos, devemos pelo menos usar um lenço. É claro que os óculos de Sol também não devem ser esquecidos. Muito embora se possa pensar que é um assunto de menor importância, devemos levar connosco um batom do cieiro para protegermos os lábios. • Impermeável • Canivete • Sisal • Kit 1ª socorros • Kit fogo • Bloco de Notas • Caneta • Métodos de purificação purificação de água Citar os utensílios essenciais a levar para uma excursão de dois dias Todos os itens da alínea anterior, não esquecendo os seguintes: • Tenda • Saco – cama • Colchonete • Lanterna 16 Manual de Excursionismo Durante a marcha As marcas Embora existam muitos troços sem sinalização, ao longo de um percurso pedestre encontrar-seà uma série de sinais, baseados num código internacional adoptado por todas as organizações europeias que se dedicam ao trekking. Estas marcas podem indicar que se trata de um percurso de pequena rota ou grande rota, que se está a seguir o caminho correcto ou que há uma mudança de direcção nos próximos metros. As marcas que confirmam que se está a seguir a direcção correcta consistem em duas riscas horizontais paralelas, com cerca de 15 cm de comprimento e 5 cm de altura, separadas por uma distância aproximada de 1 cm. Na sinalização internacional a risca superior é sempre de cor branca, enquanto a inferior será vermelha caso se trate de um percurso de Grande Rota e amarela caso se trate de um Percurso de Pequena Rota. Caso se tenha enveredado por um caminho errado, as duas riscas (sempre uma de cada cor) aparecerão cruzadas diagonalmente. Para indicar uma próxima mudança de direcção utiliza-se também a marca de riscas paralelas, mas dupla, colocando por baixo uma seta de cor branca que indique a direcção a tomar. Para informar que se abandonou o percurso principal e se enveredou por uma variante, utilizam-se na sinalização também as marcas acima descritas, mas com um traço branco transversal sobre as riscas paralelas. Estas marcas são pintadas o podem aparecer em rochas, no tronco de uma árvore, num poste de electricidade ou no suporte de uma placa indicadora. Quem se aventura em algumas das nossas serras, principalmente pelas do Norte, isto é, quem se afasta das estradas e dos tradicionais “caminhos de bois” encontra-se , com frequência, uns estranhos montículos de pedra. Umas vezes têm a altura de um palmo e são constituídos por apenas meia dúzia de pedras sobrepostas. Noutras ocasiões são do tamanho de um homem e formam autênticas obras de arte e de equilíbrio, atendendo às ingratas condições climatéricas dos locais onde se encontram implantados, normalmente muito inóspitos onde os ventos são fortes e constantes. Para os “caloiros” nestas andanças, estes amontoados de pedras constituem uma surpresa e, não raras vezes, interrogam-se sobre a sua utilidade. Porém, a função destas modestas e rudes construções é extremamente rica: destina-se a sinalizar o itinerário aos caminhantes e foram, em geral, ali erigidas pelos pastores. Embora ao longo de todo o ano o auxílio que nos prestam seja de enorme valor, é no Inverno, em que frequentemente a neve cobre as trilhas, que estes marcos – que no nosso país são conhecidos por “Moços” ou “Mariolas” (fotos 1 e 2) – que a sua mais valia atinge o seu expoente, ao orientarem-nos no caminho correcto e, assim, livrarem-nos de muitas “enrascadelas”. Mas este tipo de sinalização não é exclusivo das nossas serras. Encontram-se com frequência, nas montanhas europeias, sendo estes marcos conhecidos por “Cairns” nos Alpes franceses e como “Uomo di Sasso” nos Alpes italianos. 17 Manual de Excursionismo O ritmo da marcha Neste desporto não existe nenhuma lei universal que determine qual é o ritmo de marcha apropriado. Cada um deve encontrar a sua regra pessoal. O ritmo dependerá não só da forma física da pessoa, mas também de factores externos, que tornem o percurso mais ou menos duro, como as condições climatéricas e, principalmente, a inclinação do terreno. Embora cada desportista possa avançar com o seu próprio ritmo, o importante é manter uma marcha constante. As frequentes mudanças de ritmo só aumentam o cansaço. Deve caminhar-se com regularidade e segurança, evitando tropeções e desequilíbrios, que fazem perder forças inutilmente e alteram o ritmo de respiração. Como regra prática, a velocidade de marcha é a adequada quando se pode avançar respirando pelo nariz. Nenhuma máquina, e muito menos o corpo humano, pode passar da imobilidade ao rendimento máximo sem sofrer as consequências indesejáveis. Deve começar-se com um ritmo suave, dando tempo para que o coração e os músculos se adaptem ao exercício. Passados cerca de 20 minutos de marcha, o corpo já aqueceu. Pode fazer-se então uma pequena paragem para adaptar o vestuário à nossa temperatura e retornar o caminho com um pouco mais de energia. Se não existirem circunstâncias especiais que aconselhem um início de percurso mais tarde, o melhor é partir de manhã cedo. Aproveita-se toda a luz do dia, sobretudo no Inverno, quando escurece mais cedo. No Verão, como o dia é longo, no período mais quente do dia aproveita-se para retemperar forças através de um descanso mais prolongado. Num terreno plano ou com desníveis suaves, o normal é avançar cerca de 3 a 5 Km por hora. Claro que estas médias são bastante relativas, uma vez que ninguém consegue fazer as mesmas médias no início de dia e mante-las até ao fim do percurso. O cansaço diminui a velocidade de progressão. Ao fazermos um cálculo do tempo necessário para percorrer um percurso, há que ter em conta o tempo que se irá perder nas diversas paragens. Para nos aproximar-mos mais do tempo real que necessitaremos, convém acrescentarmos cerca de 30-40% do tempo previsto inicialmente. Quando é necessário efectuar uma caminhada muito longa, torna-se conveniente moderar as forças para chegar até ao fim. Se o que conta é avançar, um bom ritmo de marcha assume então maior importância. Há que evitar as paragens muito frequentes. Quando se sente cansaço é preferível não para, mas sim diminuir a velocidade. Se faz muito calor e se se caminha ao Sol, é aconselhável que as paragens sejam mais frequentes. Não é necessário que os descansos sejam muitos longos: cinco minutos chegam. Convém parar em algum lugar onde haja sombra e, sobretudo, aproveitas cada descanso para beber. Problemas mais frequentes Problemas com os pés: Os pés merecem uma atenção especial. Se doerem, o trekking deixa de ser um entretenimento e gozo para cada passo ser uma autêntica tortura. Deve cuidar-se regularmente dos pés para prevenir a formação de bolhas. Antes de iniciar uma excursão, devemos fazer um “check inn”, cobrindo com adesivos e almofadinhas os pontos mais sensíveis onde podem ocorrer bolhas ou irritações. Também, é importante verificar se as unhas dos pés estão bem cortadas, para que não surjam encravadas e provoquem dores. Aconselha-se o uso de calçado cómodo e já usado, acompanhado de meias absorventes, o que ajuda a evitar pé de atleta. Os sapatos necessitam sempre de um período de uso para se adaptarem à 18 Manual de Excursionismo forma do pé e perderem a rigidez original. Caso contrário, estaremos a apresentar um exercício bastante violento para os pés. Por vezes, a prevenção revela-se insuficiente e acabam por surgir bolhas . Umas peúgas mal ajustadas que formem rugas, uns sapatos demasiado apertados ou uma pedrinha podem a causa do problema. Se a pele só está avermelhada pela irritação e ainda não surgiu bolha, basta cobrir a parte afectada com um adesivo, bem esticado e sem almofada, e trocar de peúgas. No caso de aparecer uma bolha, o mais apropriado é picá-la com uma agulha e extrair o líquido. Uma forma simples de esterilizá-la uma agulha será queimando-a com um fósforo ou isqueiro. Se não retirarmos o líquido imediatamente, a bolha impedirá a progressão devido às dores, pois com a fricção tenderá a aumentar e, por fim a rebentar, colando-se à meia. Dores musculares: Surgem quando se realiza um esforço considerável ou quando se faz exercício sem estar bem treinado. No tecido muscular acumulam-se produtos metabólicos, como o ácido láctico, em virtude de uma irrigação sanguínea insuficiente. As dores musculares só se eliminam mediante uma melhor irrigação do sangue. Isto consegue-se fornecendo calor às partes afectadas através de massagens. Plantas e insectos: É muito frequente a presença de urtigas nos carreiros. Estão cobertas de pelos diminutos que, em contacto coma pele, causam uma irritação urticante ligeira e que por vezes leva horas a desaparecer. Durante o caminho, pode cair-se na tentação de apanhar e comer bagas, como por exemplo as amoras. Devem comer-se apenas aquelas que se conheçam perfeitamente. Existem várias bagas vistosas bastante tóxicas sendo algumas mesmo mortais. Os insectos também constituem uma pequena ameaça. Pouco se pode fazer para evitar uma picada de abelha ou vespa, mas o certo é que se não as importunarmos, estas não nos atacam. Porém, no caso disso acontecer, deve-se extrair com muito cuidado o ferrão, para que não rebente a pequena bolsa de veneno que contém na sua base. Aproximando um brasa várias vezes, mantendo o calor o mais junto possível da pele durante alguns minutos, destrói-se o veneno. Por fim e não esquecendo os mosquitos, existem várias loções capazes de afastar esse insecto. 19