Uma Visão da Espiritualidade
Como é a caminhada da espiritualidade?
O que me incentivou a elaborar este trabalho foram experiências ao longo da minha vida
profissional quando tive a oportunidade de dar assessoria a instituições e de conviver com
pessoas dos mais diversos credos religiosos.
Ao chegar ao crepúsculo de século XX e na aurora do século XXI pude observar que houve
uma expansão da humanidade em busca de algo além dos bens materiais. O homem vai em
busca do seu interior para um encontro consigo mesmo e com um ser superior.
Essa busca está baseada nas necessidades geradas em sua vida cotidiana na qual ele vive
uma crise gerada pela violência, pelo desamor e por uma desestruturação da família. O ser
humano busca respostas, soluções para seus inúmeros questionamentos. Muitas vezes pensa
que pode encontrar na religião uma forma de preencher seu vazio existencial. Como, de
modo geral, aquilo que é procurado não é encontrado, retorna para o seu ponto de partida,
frustrado e sem respostas para suas angústias.
Por que o homem na sua busca não satisfaz seus objetivos? Será um problema das
religiões? Ou será que ele não sabe que é um ser bio, psico, social e espiritual?
Os homens não são peças de uma engrenagem. São seres pensantes, protagonistas do seu
crescimento. Porém, sua responsabilidade torna-se responsabilidade espiritual.
Nesse estudo serão abordados alguns pontos sobre espiritualidade e comportamento
humano no que diz respeito a um pensar adequado e um agir coerente.
Acredito que se faça necessário deixar clara a diferença entre espiritualidade e
espiritualização, para que se possa entender a proposta desse trabalho.
A espiritualidade não é uma religião, e sim o que diz respeito à espiritualização, sendo
possível ter uma sem ter a outra.
Quero, através dos estudos e das pesquisas que fiz, poder trazer o que outros autores
pensam sobre este tema: comportamento humano e espiritualidade, considerando, ainda,
se pode haver uma dissociação entre ambas.
Enfim, o que é espiritualidade?
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Aurélio Buarque de Hollanda Ferreira, no “Pequeno Dicionário Brasileiro da Língua
Portuguesa”, define o comportamento “por um conjunto de atitudes de reações do indivíduo
em face do meio social”.
Valdir José de Castro, no seu “Mística da realização humana”, diz que na Bíblia não existe
uma “teoria” sobre Deus, mas uma espiritualidade. Antes de ser uma coleção de livros, a
Bíblia é um conjunto de experiências que homens e mulheres fizeram de Deus. É a
história de pessoas que erraram, acertaram, mas, principalmente, caminharam “para” e
“com” Deus, sentindo Sua presença nos fatos concretos da vida.
“Caminho” é uma palavra muito especial na espiritualidade.
Então “Espiritualidade” é “caminho”.
Podemos falar de espiritualidade nas religiões cristã, judaica, budista, hinduísta e em tantas
outras, desde que se trate de um caminho para atingi-la.
Esses autores mostram que os termos “espiritualidade” e “comportamento” se completam,
não são palavras com o mesmo significado, e sim complementares.
Na caminhada da vida pode se observar o comportamento humano através das atitudes e
das reações das pessoas.
Segundo o Programa Geron, da PUC, coordenado pela Prof. Dra.Valdemarina Bidone de
Azevedo e Souza, quando se fala em espiritualidade, não se está abordando coisas
sobrenaturais, muito embora a dificuldade da explicação científica, pelo contrário, é dado
um enfoque mais prático possível de ser entendido e relacionado com as coisas do
cotidiano. Da mesma forma, o entendimento da espiritualidade de uma pessoa vai
influenciar sua posição no que tange ao aspecto científico, o que traz implicações sociais,
políticas, econômicas e religiosas. Espiritualidade está relacionada ao profundo sentimento
de pertença ao universo, portanto, à compreensão dessa experiência que se manifesta em
princípios de vida que definem ações sociais cotidianas. Os homens não são peças móveis
de uma grande engrenagem, como já foi dito anteriormente, mas co-criadores; logo, as
atividades atinentes ao nosso estar no mundo tornam-se responsabilidade espiritual. A
espiritualidade está ligada à necessidade humana de um comportamento que dê conta de um
pensar adequado e de um agir coerente.
O que significa pensar adequado e agir coerentemente?
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Baseada na exposição acima posso concluir, que a espiritualidade está relacionada ao
comportamento do homem no que diz respeito à sua vida cotidiana. Ele é um ser de
necessidades, podendo-se considerá-lo um criador de sua vida material onde aparece como
protagonista da sua história. Estar comprometido com sua história é estar comprometido
também com seus referenciais, seus ideais, seus valores, com seu grupo social e familiar,
com seu trabalho. É ter uma atitude frente à vida.
O que é ter uma atitude frente à vida?
É poder estar aberto para uma aprendizagem que resulta numa troca com o outro em que,
para ensinar, é preciso apreender as suas necessidades. É saber ouvir e enxergar as coisas
como elas realmente são e não como se gostaria que fossem. Esse processo se dá através da
troca de experiências que resultam num movimento dialético em espiral, numa relação
entre o mundo interno e o mundo externo, visando à aprendizagem e ao crescimento. Os
resultados serão oriundos do conhecimento e das experiências que vão sendo adquiridas ao
longo da vida.
Nessa caminhada, para se atingir os objetivos propostos, se faz necessário trabalhar os
traumas, as resistências e buscar um entendimento de sua história, num contínuo trabalhar e
trabalhar-se, isto é, aprender a pensar. Assim, as pessoas passarão a ter uma atitude
coerente e responsável diante da vida. Dessa forma, ficarão mais livres para poderem ouvir,
enxergar e entender mensagem do seu Deus.
A negação desse processo de transformação favorecerá o Fazer e o Ter. Quanto mais se faz,
mais se tem, então menos tempo sobra para refletir, para pensar naquilo que representa o
ser. Os trabalhos são mecânicos, não exigindo reflexão, criatividade e transformação.
Pensar é o trilho da aprendizagem. O que se observa é que as pessoas não sabem pensar. O
pensar é ameaçador. Pensar implica em questionamento, em reflexão, é poder se dar conta
de suas limitações, é se deparar com aquilo que não se sabe. É poder se dar conta de sua
história e de sua identidade. Logo, as pessoas pensam automaticamente, mecanicamente,
eliminando, assim, todo um processo de vida.
Ana Quiroga faz referência a Pichon-Rivière quando ele, em 1966, estabeleceu o que são
os critérios de saúde e enfermidade. Neles se referiu à dialética entre mundo interno e
mundo externo, uma relação dialética mutuamente transformadora entre o sujeito e o
contexto vincular social.
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O que é a dialética?
Ana Quiroga explica que se entende por dialética o movimento, a transformação e a troca
que fazem a essência de todo fenômeno, de todo fato. Esse movimento permanente e
infinito é um auto movimento. O que se quer dizer com isso é que ele não é promovido por
causas externas. Sua origem, sua gênese está nas contradições internas, na identidade e nas
lutas de contrários que acontecem na interioridade de cada fato de cada relação, de cada
fenômeno, dando assim seu caráter de processo.
As definições clássicas da dialética remetem sempre a essa idéia central de contradição
interna que, por sua vez, nos enfrentam com uma primeira contradição ao afirmar que o
desenvolvimento, o movimento infinito da natureza, a sociedade e o pensamento se
baseiam na identidade e na luta de contrários.
Então o que se entende por contradição?
Ana Quiroga mais uma vez explica que cada coisa, cada existência se configura como uma
unidade de múltiplos aspectos, de múltiplo traços ao que chama
qualidades
ou
determinações. Desses múltiplos aspectos alguns são opostos entre si: constituem os pólos
de uma ou várias contradições internas. Por exemplo, o crescimento dos seres humanos
estabelece
uma contradição entre aspectos infantis e maduros, adultos, isto tanto no
psiquismo como no corporal. Uma relação afetiva abre a contradição entre a dependência e
a autonomia, entre o amor e o ódio. Na aprendizagem, são pólos opostos a ignorância e o
conhecimento. Um não pode existir isoladamente, só em relação ao outro. Essa
interconexão, essa interdependência é que faz sua unidade ou identidade. Esses opostos não
são estáticos, são móveis e transitórios.
Inicialmente essas idéias foram baseadas em observações de pessoas que diziam ter uma
religião, uma convicção, fazer parte de pastorais, freqüentar uma igreja. Muitas vezes,
apresentavam um comportamento não condizente com aquilo que pregavam. Pode-se
observar nelas mentiras, relações extraconjugais, “fofocas”, etc.
Esses comportamentos foram classificados por mim como dissociados. Com o passar do
tempo, observando-as melhor, pude ver que elas na realidade não apresentavam um
comportamento dissociado, até porque estavam bem comprometidas com seus ideais, com
sua vida, com seus objetivos.
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Considerando o que diz Quiroga sobre os opostos, me parece que a essas pessoas falta
aprender a parar, pensar e refletir no seu comportamento, naquilo em que realmente
acreditam, porque, segundo a autora, os opostos não são estáticos, são móveis e transitórios.
O ser humano precisa ter respostas prontas, caminhos pré-estabelecidos para serem
seguidos, receitas prévias para serem aplicadas, porém lhe falta a coragem para construir
.Construção essa que se dá através de um parar, pensar e questionar, para poder enfrentar os
vários momentos que a vida apresenta. São obstáculos que nos levam muitas vezes a viver
momentos de crise.
O mais importante é saber aceitar que a dissociação é inerente à vida humana. É saber
refletir, criticar, descobrir uma interação entre o mundo interno e o mundo externo e poder
avaliar atitudes e comportamentos frente àquilo que se acredita como o certo.
Ana Quiroga diz que, quando em nome da prática se nega a teoria, isto é uma dissociação
que não tem sentido, porque a teoria é o instrumento que nasceu da prática, mas que a
orienta e organiza. Diz ela que se precisa estar atento para o que se adquire, faz e tem.
Entretanto, é fundamental que se tenha um tempo para questionar.
A citação da Ana Quiroga mostra que se pode fazer muitas coisas, porém o mais importante
é saber parar e avaliar como essas coisas foram alcançadas. Importa ”como” foram feitas,
pois os resultados são a decorrência dos fatos.
O que dá sentido à vida não é a caminhada paralela entre o ser e o ter, e sim a parada que se
faz necessária diante de cada momento de crise, de vazio oriundo do acúmulo de fazer e ter.
Vazio que não é só um estado de tristeza, mas que pode atingir o patamar da depressão.
Segundo Dr. Roque Marcos Savioli, em “ Depressão- onde está Deus”, a falta de uma
razão existencial, por exemplo, pode ser causa dessa doença, principalmente na ausência de
problema orgânico. Ele salienta uma posição de Victor Frankl, psicanalista austríaco, judeu,
que esteve confinado em um campo de concentração por muitos anos: “uma vida sem
objetivo, sem razão de ser, fica vazia, sem graça, daí vem a depressão e todos os seus
comemorativos.”
Diz Savioli, que a relação entre a incidência de complicações da doença coronária com a
depressão está muito bem comprovada, encontrando-se maior o número de enfartados e/ ou
anginosos nos pacientes deprimidos.
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Penso que o médico, ao avaliar um paciente, deveria olhá-lo não somente levando em
consideração os dados biológicos, mas, também, tudo o que se refere à sua vida cotidiana;
como ele, no seu dia a dia, lida com
as questões culturais, sociais, psicológicas e
espirituais.
Da mesma forma se pode explicar que a espiritualidade é uma caminhada que se faz
necessária para a busca de conhecimentos, de fatos e de experiências para as quais nem
sempre se encontram respostas, porém o significado dela está no constante movimento da
espiral dialética.
Através das respostas que as pessoas vão colhendo, vão se encontrando e, no vazio em que
inicialmente estavam, já não se sentem sós, pois aprenderam a ouvir, a enxergar as coisas
como são, não como elas gostariam que fossem, as coisa podem fugir do seu controle.
Com isto aprendem a ter fé.
Aprende-se que a fé é uma caminhada de vida e dependendo dessa caminhada, alcança-se
uma espiritualidade consciente, verdadeira e madura . Assim, um comportamento coerente,
uma espiritualidade condizente com aquilo que se pensa e faz é poder estar aberto às várias
situações que a vida nos apresenta num movimento contínuo de aprender a aprender.
Se esse processo ficar só no ter e fazer, será um processo incompleto pela ausência do ser,
será uma verdade que eu penso ter posse. Essa não se constituirá numa aprendizagem
adquirida através de minhas experiências, de minhas crises, de meus vazios, será, apenas,
uma pseudo verdade.
O que pode dificultar esse processo são os medos básicos, como o medo da perda e o medo
do desconhecido
que aparecem através do medo de se mostrar, de se expor.
A
comunicação fica truncada, não há comprometimento nem interesse em que algo se
esclareça. Se isso acontecer, há o risco da pessoa se dar a conhecer e de que suas falhas
sejam vistas. Então só interessa que ela continue fingindo ser aquilo que acredita que é.
Um ser humano que não se expressa, que não se expõe, não está sendo fiel, não está
cumprindo uma missão.
Todo comportamento humano está ligado ao ser e ao fazer. Não basta que uma pessoa
tenha uma personalidade, traços de caráter se não tiver uma atitude frente à vida. Toda
pessoa pensa e logo age. Entretanto, se faz necessário que isso seja feito refletidamente,
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sem medo de perder suas convicções e do que vai encontrar. É importante que ela esteja
conseqüentemente pronta para trabalhar e se trabalhar.
Na sua caminhada de busca, é fundamental que possa, diante das crises, questionar a fé,
conversar com aquele ser superior em que acredita, seja qual for o nome que lhe dê. Assim,
encontrará respostas às tantas perguntas e comportamentos que muitas vezes parecem
incoerentes.
O fazer é a expressão, o concreto, é a prática expressa através de atitudes em que se ouve,
se toca, se enxerga. Atrás dessas atitudes, desses movimentos, dessa expressão existe um
ser pensante, que acredita, que tem um referencial e uma história.
Logo, espiritualidade é fazer esse percurso onde, muitas vezes, o Ter e o Fazer
predominam. Na maior parte do tempo, a preocupação dos seres humanos se encontra nas
aquisições, numa corrida contra o tempo, preocupados somente com as obras inacabadas.
Percorrer um caminho e encontrar respostas para suas crises, para quê? Onde está? Quem
é? Quais os seus objetivos? Crises aparecem em todas as etapas da vida e são pertinentes a
cada faixa etária.
Quanto mais as pessoas se trabalharem, mais facilmente atingirão uma fé adulta. O
equilíbrio psíquico favorece a vida espiritual. Fato importante é que se viva cada etapa da
vida sem queimá-la. Cada etapa deve ser bem vivida, porque aquilo que não foi resolvido,
volta mais tarde em forma de regressões e possíveis conflitos.
Precisa-se remediar os erros de educação, aliviar as frustrações, trabalhar as neuroses para
entendê-las. Só assim podem se tornar mais livres e disponíveis para Aquele em que se
acredita.
O equilíbrio psíquico favorece a vida espiritual e seu pleno desenvolvimento. Faz-se
necessário um conhecimento profundo de si mesmo nos aspectos evolutivos, destacando
características positivas, evitando “retardos” no desenvolvimento, fixações, regressões e
possíveis conflitos.
Deve haver uma integração que favoreça o crescimento na maturidade psicológica e
espiritual que são duas áreas que não podem estar separadas no processo formativo, para
que a resposta seja mais verdadeira e personalizada . A pessoa deve reconciliar-se com o
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passado e entender a própria vida como uma história de crescimento psicológico e
espiritual.
Como uma unidade complexa, ela tem, no nível psico-fisiológico, ligado às necessidades
fisiológicas do organismo, fome e sede ( objetivo: sobrevivência e auto preservação),
enquanto que, no nível racional – espiritual, precisa ir em busca de conhecimento. Há,
ainda, a necessidade de atingir a verdade das coisas, os conteúdos abstratos.
O homem se auto transcende e pode estabelecer relações com o “outro de si”, com objetos,
acontecimentos, pessoas, além de um ser a quem considere superior e a quem poderá
chamar de Deus, tendo com Ele uma relação de atenção, respeito e liberdade. Finalmente, o
seu humano apresenta absolutas condições de saber-se buscado por esse ser cósmico e de
poder acolher seu convite.
O comportamento do homem é fruto da integração entre os diferentes níveis da vida
psíquica. O estudo do desenvolvimento da vida espiritual se dá nas suas condições
psicológicas. Isso pode ser explicado e entendido através do livro “Do Mito ao Pensamento
Científico”, do Prof. Carlos Antônio Mascia Gottschall, quando se refere a John Locke,
dizendo: “ o núcleo do empirismo é justamente que nossas idéias entram na mente através
de nossos sentidos “. O homem se educa com seu corpo, com seus impulsos instintivos e
não sem eles.
O homem pode colocar obstáculos e frustrar os efeitos da caminhada que é feita ao longo
da vida. É importante que a pessoa favoreça tais condições, a fim de que os resultados
alcançados no decorrer do tempo possam agir do melhor modo possível.
A liberdade é condição para a elaboração dessa caminhada, como ela é
condição para o
crescimento humano na liberdade. Quanto maior a liberdade do homem, maior é a sua
disponibilidade para o conhecimento do Criador. Quanto mais o homem for escravo ( do
pecado, dos instintos, das paixões, de si mesmo), tanto menos pode estar aberto aos valores
morais, espirituais e religiosos.
O que o leva a ter uma atitude frente à vida é a maturidade, enquanto está em condições de
escolher e decidir como viver neste mundo.
Segundo Kaplan, o homem livre conhece o que quer verdadeiramente e querendo pode
verdadeiramente querer, este torna possível a liberdade.
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Entre a vida psíquica e espiritual não tem nenhuma relação. Se não cresce espiritualmente,
é porque não soube lidar com seus problemas, suas neuroses.
O produto da vida da pessoa inclui quase que exclusivamente valores naturais, não auto
transcendentes.
A liberdade é dom de Deus, mas também é conquista do homem.
O homem não só cresce e se desenvolve, mas, enquanto consciente e livre, progride. Assim,
o crescimento espiritual é psicologicamente caracterizável como uma autêntica dedicação
de amor, porque o concebe como autor intencional da própria vida, no sentido de tomar
decisões conscientes, responsáveis diante das exigências e dos desafios da vida pessoal e
social.
Como entendo essa conquista?
Essa conquista é o resultado de uma longa caminhada que fiz durante a minha vida,
observando, lendo, experimentando, porém me limitei apenas às explicações.
Como diz o Prof. Dr. Carlos Antonio Mascia Gottschall, op.cit., a consolidação do método
científico se dá através de: observação, hipótese, experimentação, mensuração, análise e
conclusão.
Logo, pode-se concluir que, no presente estudo, encontram-se apenas relatos. Não há ainda
constatações, porque, segundo o autor acima, “o que faz a ciência
são fato e não
explicações”.
A minha intenção em “Como é a caminhada da espiritualidade? “ é poder deixar uma porta
aberta para discussões e constatações, podendo, assim, chegar a análises e conclusões dos
fatos. Meus estudos e minhas observações aqui relatados me levam a crer na teoria de que a
espiritualidade é uma caminhada de vida.
Conceição de Lemos Psicóloga
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UMA VISÃO DA ESPIRITUALIDADE
“O DOM DA ESCUTA - APRENDENDO A ESCUTAR”
Aprender a escutar leva a pessoa a repensar o seu processo humano-espiritual da
“escuta do coração” em todas as suas dimensões: física, espiritual, emocional, relacional,
psíquica, etc. Este aprendizado pode levar a rever e transformar a própria vida nos
diversos relacionamentos: com deus, com o próximo, consigo mesmo e com o mundo.
A escuta leva ao autoconhecimento e, conseqüentemente, a melhora da auto-estima e
da saúde na sua globalidade. Escutar-se para conhecer-se, numa viagem interior em
busca de si mesmo, da própria identidade, do sentido da vida, do caminho da felicidade
de perceber-se único e irrepetível diante de deus e do mundo.
Pensando a saúde como um processo dinâmico de desenvolvimento em quatro níveis:
físico, psíquico, social e espiritual, (OMS. 1998) precisamos considerar também a
ansiedade, a depressão, o estresse, a negação da enfermidade, o medo da morte como
emoções negativas associadas ao desenvolvimento das doenças, lembrando que assim
como temos fatores de risco médicos temos os fatores de risco psicológicos que
necessitam ser trabalhados no paciente tendo em vista a promoção da saúde, prevenção
e reabilitação da enfermidade. Considerando, portanto este conceito observa-se que
saúde transcende aos aspectos meramente fisiológicos estando relacionada à busca por
uma melhor qualidade e estilo de vida, onde a espiritualidade necessita ser trabalhada.
Estudos têm demonstrado que a espiritualidade pode promover efeitos positivos na saúde
dos pacientes. Antes de tudo gostaria de clarear o entendimento sobre espiritualidade
Muitos autores, poetas, estudiosos e cientistas já expressaram suas diferentes teorias
sobre este tema tão instigante: a espiritualidade. O objetivo a que se propõe este capitulo
é o de percorrer uma caminhada através de conteúdos e questionamentos que possam
levar a refletir não apenas sobre a conceituação da espiritualidade, mas pensando em
estimular uma reflexão que oportunize a pensar sobre de que forma a espiritualidade se
relaciona com a saúde.
Baseado nos grupos de espiritualidade que coordeno em que tem por objetivo
compreender o conceito de espiritualidade se faz necessário considerar que a
espiritualidade é uma caminhada de vida onde o ser humano busca entender o sentido da
doença ou da crise e o sentido da mesma em sua vida. Para esses grupos existe um
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significado diferente entre as palavras: espiritualização e espiritualidade, pois se observa
que muitas pessoas que freqüentam instituições religiosas só têm espiritualização e não
espiritualidade uma vez que a verdadeira espiritualidade funciona em todos os momentos
da vida diária. Espiritualidade é uma caminhada constante que a pessoa faz com deus e
em cada momento de sua vida. Há uma transformação e construção constantes e
permanentes que só terminam no final da vida e são baseadas numa dinâmica de
questionamento pessoal. Logo:
O ser humano deve ser pensado na sua integralidade, somando cuidados físicos,
psicoemocionais e espirituais como proteção a enfermidade coronariana.
Espiritualidade---------construção do conhecimento-------caminhada de vida
O homem configura-se em uma complicadíssima trama de vínculos e relações sociais,
assim ela vai formando sua história de vida. História que começa no nascimento e vai até
a morte.
Nesta trajetória percorrida faz parte mensagens recebidas de nossos pais, avós,
educadores e de todas as pessoas que influenciaram de uma forma ou de outra em nossa
educação.
Quando nascemos fomos batizados e recebemos os primeiros ensinamentos cristãos que
é de acôrdo com a crença de cada família. Assim vamos formando nossa fé primitiva que
independe da fé e da religião de quem recebemos.estes ensinamentos que nos são
passados são conhecimentos adquiridos em que ainda não há uma aprendizagem.
Essas mensagens que vamos recebendo ao longo da vida é baseado no que o homem
configura-se em uma praxis, em uma atividade transformadora , numa relação dialética
mutuamente modificante com o mundo. Relações destinadas a satisfazer as
necessidades. Isto quer dizer que nosso esquema referencial deveria estar sempre em
movimento, em transformação buscando aprendizagens conhecimento do nosso eu que
nos levarão as curas interiores, perdões e a libertação. Para que se alcance esse
conhecimento, essa transformação partimos do pré suposto de que o homem é em cada
aqui e agora o ponto de chegada de uma história vincular e social, como também o
ponto de chegada de uma trajetória de aprendizagens, esse processo. Tem uma história
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com continuidades e descontinuidades . Isto quer dizer que existe uma relação dialética
entre as formas como aprendemos. Assim o que interessa não são os resultados finais e
sim a maneira como nos passaram as mensagens a maneira de como aprendemos.
Dialética que está implícito a reflexão interior, o questionamento, a crítica, logo quando a
pessoa aceita a palavra do outro investida de autoridade e a faz acriticamente negando a
sua própria experiência está pondo em jogo sua modalidade de aprender. Quando
falamos de fé pensamos como foram passados esses primeiros ensinamentos é uma
semente que se planta e para se colher na fase adulta dependerá de como se deu essa
aprendizagem.. Se não houveram ensinamentos nos primórdios da infância será dificil
resgatar essa fé na fase adulta. Porque todas as etapas da fase evolutiva são pré
requisitos para a fase posterior.todos os momentos de nossa vida devem serem vividos
intensamente, não só os momentos de alegria como os momentos difíceis,as crises,
perdas etc. porque são aprendizagens importantes que vão nos fortificar para
outros
momentos. Esse processo é de intensa profundidade e compreensão para que se dê uma
verdadeira aprendizagem.
Pode-se entender que existe um “ser”em cada um de nós, que precisa ser descoberto,
trabalhado e este trabalhar e trabalhar-se se dá através de cada momento de nossa vida,
sejam nos momentos difíceis ou nos momentos alegres. O pão pode ter os melhores
ingredientes, mas se não tiver o fermento não vai levedar nem se tornar pão, como ele
pode ter todos esses ingredientes e ser jogado numa forma, também não vai levedar
porque esses elementos precisam serem trabalhados, amassados e de acordo com esse
trabalho teremos um resultado que será de acordo com nossa construção. Muitas vezes
nos deparamos ou seja vivemos situações que nos indagamos porque estou fazendo
isso? Para que estou fazendo? O que vou ganhar com isso? Passa-se o tempo e não
temos a resposta desejada. Nada de concreto aparece.porém o resultado surge quando
menos esperamos ( na verdade só surge quando já estamos prontas) pode não ser o
resultado esperado, mas ele pode servir de veículo para outras mudanças. Lembrem-se
que a espiritualidade é uma caminhada de vida que precisamos estar sempre alerta para
os acontecimentos e as mudanças.
O mundo se apresenta com multiplicidade de objetos e estímulos com seqüencias
initerruptas de experiências e acontecimentos em que o homem se inclui e se orienta de
uma determinada maneira.. Tem no sujeito uma determinada organização.
A representação do mundo, o prisma cognitivo é uma estruturação elaborada e
incorporada implicitamente no processo de aprendizagem.
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O mundo interno é uma organização pessoal e social.
Assim formamos a nossa matriz de aprendizagem ou modelo interno de aprendizagem
baseado em toda história de vida.
Este modelo interno ele é próprio e particular de cada pessoa.mesmo que as pessoas
tenham passado pelo mesmo momento, pela mesma situação, cada um assimila,
compreende, elabora e transforma de acordo com suas experiências.
Falamos que essa história de vida começa no nascimento e vai até a morte e que a
formação dessa história deu-se através das mensagens recebidas por todas as pessoas
que influenciaram em nossa educação, porém perguntamos onde começou essa
formação? Esse cenário vincular acontece no interior do grupo familiar por efeito da
função materna, função joica ou de sustento do ser do bebe em que ele alcança no
dialogo pele a pele, mirada a mirada, corpo a corpo, a integração do seu eu e a
discriminação do mundo, os processos de simbolização e pensamento.assim começa a
diferenciar o lugar do outro na aprendizagem. Esse outro que satisfaz as necessidades do
bebe proporcionando a aprendizagem. Nesse
processo interacional se dá com
características que dependem de cada sujeito e de cada contexto vincular social, a
passagem da dependência a autonomia da indiferenciação a identidade..
Assim temos desde a primeira infância o “impulso do saber” que tem por instrumento o
primeiro objeto, o próprio corpo e o corpo do outro extendendo-se logo ao mundo
circundante.. Nesse exercícico, nessa função integradora
e de sustento, a mãe e a
família oferecerão as respostas socialmente disponíveis.
Espiritualidade é uma caminhada que se faz ao longo da vida desde o nascimento até a
morte.
Faz parte desta trajetória a nossa história de vida compreendida através da mensagens
que recebemos de nossos pais, nossos educadores e de todas as pessoas que
influenciaram de uma maneira ou de outra em nossa educação.
Quando nascemos fomos batizados e adquirimos os primeiros ensinamentos cristãos que
é de acordo com cada família e com a religião de cada um. Assim vamos formando nossa
fé primitiva que vai se alicerçando de acordo com a maturidade de cada faixa etária.
O importante é como essas mensagens nos foram transmitidas sendo um processo
evolutivo, estendendo-se por todos os momentos de nossa vida.
Espiritualidade é uma caminhada que se constrói, não é somente através da teologia, da
psicologia, da filosofia, mas em todas as áreas da ciência adquirimos conhecimento e
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aprendizagem para esta construção e é peculiar a cada pessoa particularmente, porque
cada um busca de acordo com suas necessidades. É uma atividade transformadora numa
relação dialética modificante com o mundo, relação esta que tem seu motor na
necessidade.
Construção do eu
Ao longo desta caminhada a medida que as muralhas vão se formando muitos
questionamentos vão surgindo como: onde estou? Quem sou eu? O que quero da minha
vida?
A medida que essas dúvidas começam aparecer que podem vir permeadas por estados
depressivos, vazio existencial, perdas, crises etc, aparecendo assim a necessidade de
reconstrução do eu que foi ficando obscuro a medida que as muralhas foram se
alicerçando ao longo da caminhada.
Nessa reconstrução o homem vai em busca do sentido de sua vida buscar ou resgatar
seus valores. No momento que satisfizer e der um sentido concreto e pessoal de sua
própria existência ele se realizará.
Conceição de Lemos Psicóloga
Os Grupo de Estudo Sobre Espiritualidade acontecem na
paróquia do Santíssimo Sacramento – Santa Terezinha – Todas
às quartas –feiras à tarde é oferecido à todas as pessoas que se
interessam por esse tema
Grupo de Estudo Sobre Espiritualidade tem como objetivo:
-
levar as pessoas a desenvolver a maturidade que segundo Viktor Frankl “ a pessoa
madura é aquela que ao longo de sua caminhada de vida vai desenvolvendo um sadio
senso de identidade, um cálido senso de pertença e fraternidade com seus semelhantes
e um sólido senso de missão como sentido último da própria existência”. (Viktor Frankl)
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- O grupo terá como missão:
Desenvolver atividades buscando através do auto conhecimento uma ampliação do nível
de consciência sobre a ótica da espiritualidade contribuindo assim para uma saúde
integral.
Conceição de Lemos
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Uma visão da Espiritualidade - Instituto Brasileiro de Psicocardiologia