ANÁLISE FÍSICA DE UMA ARGILA DA REGIÃO DA CAMPANHA Francine Machado Nunes Pós-Graduanda em Engenharia da Universidade Federal do Pampa [email protected] Cristiano Corrêa Ferreira Prof. Dr. Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Pampa [email protected] Flávio André Pavan Prof. Dr. Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Pampa [email protected] Lia MariaHerzer Quintana Prof. MSc. Universidade da Região da Campanha [email protected] Luan Teixeira de Oliveira Acadêmico do curso de Engenharia Química da Universidade Federal do Pampa [email protected] Ângela BeatrisZemnaiçak Acadêmica do curso de Engenharia Química da Universidade Federal do Pampa [email protected] Resumo. Este trabalho faz parte de um projeto que tem como objetivo estudar o comportamento das argilas cerâmicas, encontradas na Região da Campanha, com adição de resíduos industriais sólidos como forma de destinação adequada destes resíduos, redução do consumo de recursos naturais, bem como, a diminuição dos impactos ambientais provocados pela extração da matéria-prima. Sendo assim, nesta etapa, serão apresentados os ensaios iniciais de caracterização física da argila proveniente de uma empresa localizada no município de Bagé-RS. Até o presente momento, foram feitos testes na argila in natura como: índices de consistência, limite de liquidez, limite de plasticidade, limite de contração e massa específica. Os resultados obtidos mostraram que a argila analisada é plástica. Palavras-chave: Argila. Caracterização Fisica. Limites de Atterberg. 1. INTRODUÇÃO Os solos apresentam, como aspectos de caracterização e comparação, o tamanho das partículas que os compõem, porém se encontra uma vasta diversidade de tamanhos de grãos. Uma massa de solo pode ser descrita por suas propriedades físicas, como peso específico, teor de umidade, índices de vazios, entre outras (FIORI, 2009). Segundo Coelho et al. (2006), argila é uma rocha constituída principalmente por um grupo de minerais denominados argilominerais, sendo estes constituídos por silicatos de Al, Fe e Mg hidratados na forma de partículas (cristais). Na fabricação de produtos de cerâmica vermelha são usadas argilas cauliníticas impuras, as quais são misturas de caulinita, ilita e pequena quantidade de esmectita, preferencialmente menos de 3%, além de outras impurezas (MEDEIROS, 2010). O estudo da argila e suas propriedades são de fundamental importância para o processo de fabricação (GRUN, 2007; QUINTANA, 2000). Diante disso, existe um sistema de classificação para determinar as frações ou componentes do solo através de suas respectivas granulometrias, onde a fração de argila é considerada abaixo do diâmetro de 0,002mm (PINTO, 2006). Também se pode dizer que o comportamento plástico da argila, quando misturada com uma determinada quantidade de água, está XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete– RS– Brasil relacionado à possibilidade da aplicação de grandes deformações permanentes sem sofrer ruptura, fissura ou variação de volume apreciável (MEDEIROS, 2010). Portanto, devido a essa diversidade de frações de grãos, presença de argilo minerais complexos e comportamento de partículas distintas perante a água, o emprego de ensaios e índices propostos pelo Engenheiro Químico Atterberg se tornou essencial para identificar a influência dessas partículas argilosas (PINTO, 2006). Assim, Fiori (2009) assegura que os limites de Atterberg ou índices de consistência podem ser definidos pelos vários estados intermediários de consistência e teores de umidade. As mudanças de estado são definidas como: Limite de Liquidez ( LL ) e Limite de Plasticidade ( LP ) dos solos. O LL corresponde ao teor de umidade de um solo quando são necessários 25 golpes no Aparelho Casagrande para fechar uma rachadura-padrão, aberta na superfície da amostra. O LP é determinado pela porcentagem de umidade em que o solo começa a se fraturar ao tentar se modelar um cilindro de 3mm de diâmetro e com cerca de 10 cm de comprimento (PINTO, 2006). O índice de plasticidade ( IP ) de um solo que é dado pela diferença entre os limites de plasticidade e liquidez, de acordo com (FIORI, 2009). Além disso, o autor informa que o IP fornece informações sobre a amplitude da faixa da plasticidade do solo. Outros focos neste estudo são as características dos sólidos como a massa específica dos grãos (γ) que é a relação do peso das partículas e seu volume, e o limite de contração ( LC ), que corresponde ao teor de umidade do solo ( h ), são normatizados pela NBR 6508 (ABNT, 1984) e NBR 7183 (ABNT, 1982) respectivamente. A seguir, serão apresentadas as etapas desenvolvidas para o desenvolvimento do trabalho. 2. METODOLOGIA O fluxograma da Figura 1 apresenta esquematicamente o procedimento experimental para o desenvolvimento deste trabalho. Coleta e preparação da amostra (argila) Secagem da argila a temperatura ambiente Moagem em moinho de martelos Caracteriza ção Física (LL, LP, IP, LC e γ) Peneiramento (ABNT Nº 200) Quarteamento Figura 1. Fluxograma com as etapas dos ensaios de caracterização. A nomenclatura adotada para identificar a argila foi de amostra 1 que corresponde a 100% em peso de argila in natura. Na primeira etapa, coletou-se a argila junto ao pátio da empresa. Deve-se informar que a argila coletada não passou pelo processo de sazonamento que é quando a massa cerâmica fica exposta ao ar livre por aproximadamente 6 meses com a finalidade de eliminar matéria orgânica e outras impurezas. A argila foi levada para o laboratório, seca em temperatura ambiente e posteriormente destorroada a fim de obter uma granulometria reduzida. A pulverização foi realizada em moinho de martelos, localizado no Laboratório de Materiais da Universidade da Região da Campanha (URCAMP), e em seguida homogeneização e quarteamento desta argila. Após esta etapa, uma porção da amostra 1, aproximadamente 200g, foi retirada e passada na peneira 0,42mm para realizar os limites de consistência que se baseiam na análise da argila em relação aos teores de umidade em comportamentos semelhantes. Para realizar o ( LL ), foram usados 150g da argila, colocada em um cadinho de porcelana e umedecida com água destilada, misturado até obter uma massa homogênea. Essa massa foi então colocada no Aparelho Casagrande localizado no Laboratório de Materiais (URCAMP), e iniciou o processo girando a manivela para que ocorressem os golpes (1/s) até fechar o sulco de 1cm. Retirou-se cerca de 5g da amostra e armazenou-se em cápsula metálica, XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete– RS– Brasil previamente pesada em balança analítica e identificada numericamente, pesando-a já com a amostra armazenada. O que restou de argila no Aparelho Casagrande foi novamente misturado no cadinho de porcelana, aumentando o teor de umidade. Este processo foi repetido cinco vezes. Depois de finalizado, as cápsulas foram levadas à estufa, localizado no Laboratório de Materiais (URCAMP), em uma temperatura de 105°C durante 24 horas e pesadas novamente. No ( LP ), foi utilizada aproximadamente 5g de argila umedecida e homogeneizada. Com o auxílio de uma placa de vidro fosco foi feito um pequeno cilindro na argila de forma manual com o auxílio de um gabarito de aproximadamente 3 mm, até que não se conseguisse chegar ao diâmetro sem que ela se fissurasse, conforme imagem da Figura 2a. Neste ponto, a argila também foi armazenada na cápsula metálica no qual foi pesada novamente depois com a amostra 1 armazenada. Levou-se a cápsula à estufa em uma temperatura de 105°C durante 24 horas e em seguida, pesou-a novamente. A pastilha de argila, formada na cápsula metálica após secagem, foi utilizada para determinar o seu volume, na qual foram medidas seu diâmetro e altura com o auxílio de um paquímetro ver Figura 2b. Figura 2. Imagens do limite de Plasticidade Posteriormente, para o ensaio de ( LC ), a pastilha foi imersa dentro de uma cápsula de vidro contendo mercúrio líquido e medido o volume deslocado por este. Para a determinação de (γ) foi utilizada cerca de 100g da amostra 1. Esta foi colocada em balão volumétrico de gargalo liso de 500ml, juntamente com água destilada. Aplicou-se vácuo por 15minutos e em seguida, deixouse em repouso por 18 horas. A mistura então foi transferida para um copo de dispersão e agitada por aproximadamente 15 minutos. Logo após, a mistura foi desaerada em banho-maria por cerca de 30 minutos. O balão com a mistura foi pesado e mediu-se a temperatura da água destilada contida nele. 3. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS A seguir, a Tabela 1 mostra os resultados dos Limites de Atterberg realizados na amostra 1. Tabela 1. Resultados obtidos dos Limites de Atterberg para a argila in natura. Amostra LL (%) LP (%) 1 50,4 22,0 IP 28,5 Observando os resultados presentes na Tabela 1, verifica-se que os valores obtidos de limites de liquidez e plasticidade foram de 50,4% e 22% respectivamente, ao passo que o índice de plasticidade foi de 28,5%. Analisando os valores obtidos com os valores determinados por Souza Santos (1992) e Medeiros (2010), verificou-se que os valores obtidos estão dentro dos intervalos observados para a cerâmica vermelha, sendo de 30 a 60% para o ( LL ), 15 a 30% para o ( LP ) e de 10 a 30% para o ( IP ). Segundo a classificação dos solos apresentadas por Fiori (2009), o ( IP ) da amostra 1 é classificada como plástica. O índice mínimo encontrado na literatura para argila ou massa argilosa é de 10%, ou seja, valores menores podem apresentar problemas no processamento cerâmico, como mudança na consistência da argila ou massa argilosa, conforme (VIEIRA et al., 2011). Ainda de acordo com Vieira et al. (2011), o ( LP ) recomendável para uma boa extrusão está na faixa de entre 18 a 25%. Valor de ( LP ) acima disso resulta na necessidade de adição de água para a conformação, o que provavelmente repercutirá na secagem deste material. A Tabela 2 mostra os resultados para o limite de contração e massa específica da amostra 1. XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete– RS– Brasil Tabela 2. Resultados obtidos para o limite de contração e massa específica da argila in natura. Amostra LC (%) Massa Específica (g/cm³) 01 17,2 2,691 De acordo com a Tabela 2, notou-se que o valor obtido para o ( LC ) e (γ) foram de 17,2% e 2,691 g/cm³, respectivamente. Segundo Fiori (2009), o ( LC ) corresponde ao teor de umidade necessário para preencher totalmente os vazios de uma amostra contraída na secagem lenta. Assim, quando o conteúdo de água exceder 17,2%, o solo começará a se expandir, podendo trazer complicações aos produtos cerâmicos. CONSIDERAÇÕES FINAIS A argila encontrada no município de Bagé-RS é classificada como plástica. Este tipo de argila geralmente não é recomendada para processos industriais de ponta por apresentar maior índice de absorção de água. Entretanto, a argila contém menor teor de areia, o que favorecerá no comportamento de produtos cerâmicos para a construção civil. 4. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6459: Solo – Determinação do Limite de Liquidez. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, RJ, 1984. __________. NBR 7180: Solo – Determinação do Limite de Plasticidade. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, RJ, 1984. __________. NBR 7183: Solos – Determinação do Limite e Relação de Contração de Solos. Associação Brasileira de Normas Técnicas, Rio de Janeiro, RJ, 1982. COELHO, A. C. V.; SANTOS, P. de S. Argilas especiais: o que são, caracterização e propriedades, São Paulo, Brasil. Revista Química Nova. V. 30, n.1, p. 146-152, fev 2007. FIORI, A. P.; CARMIGNAMI, L. Fundamentos de mecânica dos solos e das rochas aplicações na estabilidade de taludes. 2ª edição, Curitiba: Editora UFPR, 2009. 49 -59 p. GRUN, E. Caracterização de Argilas Provenientes de Canelinha/SC e Estudo de Formulações de Massas Cerâmicas. Dissertação (Programa de Pós Graduação em Ciência e Engenharia de Materiais do Centro de Ciências Tecnológicas), Universidade do Estado de Santa Catarina. Joinville, SC, 2007. 59 p. MEDEIROS, E. N. M. Uso da técnica de planejamento experimental para otimização de massa cerâmica com a incorporação de resíduos de cinza de casca de arroz, cinza de lenha e lodo de ETA. Dissertação - Departamento de Engenharia Civil e Ambiental da Faculdade de Tecnologia, Universidade de Brasília, Brasília – DF, 2010. 166 p. PINTO, C. de S. Curso de mecânica dos solos em 16 aulas. 3ª edição, São Paulo: Oficina de Textos, 2006. 24 – 69 p. QUINTANA, L. M. H. Avaliação das Matérias-Primas e Produtos Cerâmicos da Região de Bagé-RS. Dissertação Universidade Federal de Santa Maria, UFSM, 2000. 101p. SANTOS, P. de S. Tecnologia de argilas, aplicação às argilas brasileiras. São Paulo: Edgard Blucher, 1992. V.2, 340 p. VIEIRA, C. M. F.; et al. Avaliação de argilas cauliníticas de Campos dos Goytacazes utilizadas para fabricação de cerâmica vermelha, São Paulo, Brasil. Revista Cerâmica. V. 57, n.344, p. 319323, out-dez 2011. XXVI CONGRESSO REGIONAL DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA E TECNOLÓGICA EM ENGENHARIA – CRICTE 2014 8 a 10 de outubro de 2014 – Alegrete– RS– Brasil