Anais do XX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 22 e 23 de setembro de 2015 APLICAÇÃO DE MOLÉCULAS FOTÔNICAS PARA A CRIAÇÃO DE FILTROS ÓPTICOS BASEADOS EM FOTÔNICA DE SILÍCIO Guilherme Lopes da Silva Marcelo Luís Francisco Abbade Pontifícia Universidade Católica de Campinas CEATEC [email protected] Grupo de Sistemas Fotônicos e Internet Avançada CEATEC [email protected] Resumo: Este trabalho consiste em analisar como moléculas fotônicas podem ser dimensionadas para se construir filtros ópticos baseados em Fotônica de Silício. Para tanto, foram realizadas simulações no software Rsoft. Palavras-chave: fotônica de silício, moléculas fotônicas e comunicação de dados. Área do Conhecimento: Elétrica – Telecomunicações. 1. INTRODUÇÃO O desenvolvimento da microeletrônica, desde a década de 40 até os dias atuais, foi bastante significativo ao ponto de acarretar em mudanças tanto na economia como no modo de vida das pessoas. Tal desenvolvimento foi tão impactante que nossa era pode ser denominada "Idade do Silício" [1]. Na atualidade, o Silício tem sido muito utilizado como matéria prima para a fabricação de componentes em miniatura, tais como circuitos integrados (CIs). Os avanços tecnológicos resultaram na criação de componentes cada vez menores, dotados de alta eficiência. Por exemplo, um chip de 1cm² contém por volta de um bilhão de transistores [2]. Entretanto, a microeletrônica apresenta alguns aspectos negativos como os limites físicos de integração eletrônica e o elevado consumo de energia para as altas taxas de processamento. Estes fatores podem ser problemáticos para o avanço dessa tecnologia, já que a sociedade atual demanda por um aumento do fluxo de informação associado ao consumo energético baixo. Por isso, tem-se estudado novas tecnologias que visem o baixo custo e maior eficiência energética. Nesse contexto, insere-se a fotônica de Silício, cujo objetivo é implementar funções similares às da microeletrônica. A fotônica de Silício é baseada na utilização de dispositivos constituídos de Silício. Tais dispositivos podem ser construídos de forma integrada, o que permite a implementação dos circuitos integrados em fotônica (Photonic Integrated Circuits, PIC’s) [3]. O Silício é um elemento de gap indireto e, por hora, não apresenta a eficiência necessária para a construção de alguns dispositivos fotônicos ativos como amplificadores e lasers [4]. Porém, o baixo custo comercial e o elevado parque industrial existente estimulam a sua utilização para dispositivos passivos. Em 2010, o primeiro circuito implementado em fotônica de Silício foi disponibilizado comercialmente [5]. Espera-se que em um futuro próximo [3], uma série de dispositivos sejam lançados no mercado, possibilitando empresas como IBM e Intel utilizá-los no núcleo de processamento de seus computadores [6]. Esse é apenas um exemplo que demonstra a importância da fotônica de Silício para o progresso da Tecnologia da Informação (TI). Em relação aos elementos básicos para a construção de dispositivos fotônicos, podem ser citados ressonadores de Fabry-Perot, guias de onda (tipos rib e strib), interferômetros de Mach-Zehnder, grades de Bragg, ressonadores em anel (ring ressonators, RR’s) e moléculas fotônicas. Tais elementos são explorados para que se torne possível a implementação de dispositivos mais complexos como linhas ópticas de atraso, moduladores, acopladores, filtros, entre outros. Estes são fundamentais no desenvolvimento dos PIC’s e no avanço dos circuitos integrados em opto-eletrônica (opto-eletronic integrated circuits, EIC’s) [7]. Dentre as estruturas mais simples, uma que está despertando interesse nos últimos anos é a estrutura das moléculas fotônicas. Estas são constituídas de microcavidades ópticas acopladas entre si e são importantes candidatas na fabricação de filtros ópticos, que por sua vez, serão implementados na técnica de criptografia óptica desenvolvida por nosso grupo de pesquisas [8]. Portanto, no presente trabalho serão estudadas as estruturas das moléculas fotônicas, jun- Anais do XX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 22 e 23 de setembro de 2015 tamente com guias de onda retangulares e ressonadores em anel. Este trabalho está organizado da seguinte maneira: A Seção 2 trata da estrutura e funcionamento das moléculas fotônicas. A Seção 3 apresenta o arranjo de simulação. Posteriormente, a Seção 4 mostra os resultados obtidos nesse trabalho. Por fim, a Seção 5 a aborda conclusão. 2. ESTRUTURA E FUNCIONAMENTO DAS MOLÉCULAS FOTÔNICAS I-) Princípio de Operação dos Ring Ressonators Inicialmente, será feito um estudo a respeito dos (RRs). Tal estudo será fundamental para compreender o princípio de funcionamento das moléculas fotônicas. Estruturas bastante utilizadas em Fotônica, os RRs são constituídos por um barramento (que pode ser um guia de onda retangular) e um anel, acoplados entre si [3]. A luz é injetada pelo barramento e se uma de suas frequências angulares coincidir com a frequência de ressonância do sinal óptico do anel, r , parte desse sinal acoplará no anel Quando isso ocorre, é cificada anteriormente frequência angular de por [3]: r 2m e percorrerá seu comprimento. dito que a fração do sinal espesofreu ressonância no anel. A ressonância pode ser descrita Associado à frequência angular descrita por (1), existe um comprimento de onda, denominado comprimento de onda de ressonância. Este é dado por [3]: res res (2) em que c é a velocidade da luz. Além de (2), o comprimento de onda de ressonância pode ser descrito por [3]: res N eff 2R m (3) m em que N eff representa o índice de refração efetivo da estrutura, R m é o raio do anel e m é um número inteiro associado ao comprimento de onda de ressonância. Para cada comprimento de onda de ressonância, a variação entre os comprimentos extremos da ressonância induz o surgimento de uma certa largura espectral. Esta é medida à meia altura da Lorentziana que caracteriza o espectro e é calculada por meio de [9]: (1) sendo o tempo de propagação do sinal no interior do anel e m um número inteiro. A Figura 1 ilustra um RR. 2c (1 A t ) 2 1 res 2 2N g R At em que N g (4) corresponde ao índice de refração do grupo. t representa o coeficiente de transmissão e, A é a atenuação, dada por [9]: A e R (5) sendo que a variável diz respeito ao coeficiente de perdas pela propagação. O espaçamento ou distância espectral entre duas ressonâncias vizinhas é denominado espaçamento espectral livre (FSR). Tal distância é dada por [9]: Fig.1. Ring ressonator. Anais do XX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 22 e 23 de setembro de 2015 FSR plando novamente ao guia. Nesse trabalho, será considerado que o tempo do pulso é bastante superior ao período do anel, sendo que o pulso interage consigo mesmo na região de acoplamento. A resposta espectral, a 2 , em função da frequência angular, é descrita 2 N eff 2R (6) por [9]: Com a base fornecida pela teoria e pelas equações citadas acima, será feita uma análise a respeito da troca de potências no interior do anel do RR. O estudo será feito em paralelo com a Figura 2. a2 t Ae jT 1 tAe jT (7) em que T representa o período do anel e frequência angular qualquer. é uma II-) Princípio de Operação das Moléculas Fotônicas. Fig.2. Distribuição de Potências no interior da microcavidade. Segundo [9], o acoplamento entre guia de onda retangular e microcavidade não apresenta perdas e não depende da natureza do acoplamento. Então, um pulso com amplitude complexa a1 é inserido no guia de onda retangular sendo que uma parte dela é transmitida e a outra, acoplada no interior do anel. As variáveis K e t representam coeficientes de acoplamento e de transmissão, respectivamente. A amplitude b1 está t . Após o acoplamento, b1 sofre uma atenuação A e um desvio de fase , tornando-se b 2 . Quando esta percorre a região de relacionada com K e a2 , com acoplamento, parte de sua potência é acoplada ao guia de onda. Logo, a soma dessa parcela acoplada ao guia com a potência transmitida (fração transmitida de a1 ) resulta em a 2 . Considerando o tempo de vida de cada pulso injetado no guia, sabe-se que deve ocorrer interferência entre a fração do pulso que chega na região de acoplamento com a fração que sai do anel e está aco- Fig.3. Espectro e transmissão de um Ring Ressonator O perfil espectral de um RR é ilustrado pela Figura 3. Nela, podem ser visualizados alguns parâmetros citados em I. Anéis ressonantes podem ser combinados e acoplados entre si, gerando uma estrutura com anéis internos e externos. Tal estrutura é conhecida como Molécula Fotônica e será objeto de estudo do Anais do XX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 22 e 23 de setembro de 2015 presente trabalho. Toda teoria estudada em I é válida, porém alguns detalhes precisam ser observados. A Figura 4 ilustra uma molécula fotônica simples. resolução de 30nm; as larguras dos anéis e do guia de onda retangular valem 0,45 µm; o índice de refração efetivo utilizado foi de 2,9 e os gaps foram de 0,2 nm. A Figura 5 ilustra o arranjo de simulação da primeira molécula fotônica estudada. Os raios externo e interno foram de 20 µm e 5 µm, respectivamente. A Figura 6 ilustra uma estrutura formada por três Fig.4. Molécula Fotônica A inclusão de um anel no interior de outro cria uma nova condição de ressonância relativa a eles. A resposta espectral na saída do guia, a 2 , para a molécula Fig 5. Estrutura de uma molécula fotônica com um anel no Software RSoft. fotônica da Figura 4 é dada por [9]: t 1(1 t 2 A 2 e jT 2 ) A1 e jT 1 (t 2 A 2 e jT 2 ) a2 (1 t 2 A 2 e jT 2 ) t 1A1 e jT 1 (t 2 A 2 e jT 2 ) anéis, sendo um externo e dois internos. O anel externo possui um raio de 21 µm e o interno, de 6 µm. (8) As variáveis com índice 1 correspondem ao anel externo e; as variáveis com índice 2 dizem respeito ao anel interno. 3. ARRANJO DE SIMULAÇÃO Para os arranjos de simulação apresentados nesse trabalho, um pulso de 1 mW de potência, ajustado em 1550nm, incidiu no guia de onda retangular e parte de sua potência ressonou nos anéis. Na saída do guia de onda, foi inserido um monitor cuja função era medir a parcela do sinal transmitido. Os parâmetros comuns para as estruturas apresentadas são os seguintes: as simulações foram executadas em polarização TE na Fig 6. Estrutura de uma Molécula Fotônica com dois aneis internos no Software RSoft. Anais do XX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 22 e 23 de setembro de 2015 4. RESULTADOS Os resultados apresentados nesse relatório foram obtidos a fim de projetar filtros ópticos rejeita faixa. Se o caso se resumisse a estudar filtros passa faixa, um segundo barramento deveria ser acrescentado à direita das estruturas apresentadas na seção “ARRANJO DE SIMULAÇÃO”. Assim, a análise da potência deveria ser feita na saída do novo barramento. Optou-se por selecionar apenas a região espectral de interesse, nas proximidades de 1550nm, ao invés do espectro completo da simulação apresentada neste trabalho. O resultado da primeira estrutura apresentada na seção “ARRANJO DE SIMULAÇÃO” é ilustrado pela Figura 7. As três ressonâncias ocorreram em 1589,65 nm, 1595,75 nm e 1601,95 nm, respectivamente. A largura de banda medida foi de 37 GHz com um FSR de 6 nm. Tais medições foram um pouco distintas do que foi estudado em [9]. As diferenças podem ser explicadas da seguinte maneira: os resultados de [9] foram baseados em equações matemáticas que, por sua vez, não consideram uma série de parâmetros presentes no software RSoft. Além disso, o pacote utilizado para as simulações no Rsoft, denominado FullWave, considera as degradações geradas por dispersão do guia de onda. E por fim, é preciso ressaltar o fato de que as simulações não foram executadas na resolução máxima, devido ao tempo necessário que isso levaria. A segunda estrutura estudada, ilustrada pela Figura 6, gerou o resultado ilustrado pela Figura 8. As ressonâncias ocorreram em 1545 nm, 1550,4 nm, 1554,5 nm e 1559,35 nm. A largura de banda reduziu para Fig 8. Região espectral da molécula fotônica de um anel interno, de raios maiores. 24GHz e o FSR foi de 4,2 nm. Essas reduções de banda e de FSR eram esperadas, pois de acordo com as equações estudadas em [9], quanto maior o raio dos anéis, menores seriam esses valores. Além disso, vale ressaltar que o aumento do raio das estruturas fez com que surgisse um dupleto de ressonâncias, na região entre 1610 nm e 1620 nm. A banda e o FSR medidos foram de 12 GHz e 1,2 nm, respectivamente. 5. CONCLUSÃO Fig 7. Região espectral da molécula fotônica de um anel interno. Com o resultado apresentado na seção 4, é possível concluir que a molécula fotônica é eficiente para gerar filtros ópticos, envolvendo baixo custo de fabricação e dimensão compacta. Os valores de banda encontrados nesse estudo foram considerados satisfatórios. Entretanto, técnicas como criptografia óptica exigem filtros com bandas muito finas, inferiores a 8Ghz. Por isso, será necessário desenvolver estudos que visem a diminuição, ainda mais, das larguras de banda das ressonâncias aqui estudadas. O objetivo geral de análise do comportamento de moléculas fotônicas foi satisfatoriamente. Anais do XX Encontro de Iniciação Científica – ISSN 1982-0178 Anais do V Encontro de Iniciação em Desenvolvimento Tecnológico e Inovação – ISSN 2237-0420 22 e 23 de setembro de 2015 REFERÊNCIAS [1] Jacobus W Swart “Evolução de Microeletrônica à Microssistemas”,CCS e FEEC-Unicamp. [2] Adel S.Sedra, Kenneth C.Smith, “Microelectronic Circuits, 5th edition. [3] G. T. Reed, A. P. Knights, “Silicon Photonics- The State of Art,” John Wiley & Sons Inc., 2008. [4] G. T. Reed, A. P. Knights, “Silicon Photonics- An Introduction,” John Wiley & Sons Inc., 2004. [5] http://www.luxtera.com/ . Acessado em 10 de agosto de 2015. [6] Informação fornecida pela Dra.Michal Lipson durante sua palestra na 4th International Winter School for Graduate Students da National Nanotechnology Infrastructure Network (NNIN); 09 a 13 de Janeiro de 2012Unicamp, Campinas- Brasil. [7] D.G. Rabus, “Integrated Ring Resonators-The Compendium,” Springer, 2007. [8] M. L. F. Abbade ; L. A. Fossaluzza Junior ; R. F. Silva ; E. A. M. Fagotto, "Criptografia Óptica Mediante Controle Analógico da Amplitude e do Atraso de Fatias Espectrais: Análise para Sinais NRZ," In: MOMAG 2012 (Evento conjunto do 15º SBMO Simpósio Brasileiro de Micro-ondas e Optoeletrônica e 10º CBMag Congresso Brasileiro de Eletromagnetismo), 2012, João Pessoa- PB. Anais do MOMAG 2012, 2012. p. ST-20.5.1-ST-20.5.6. [9] Luís Alberto Mijam Barêa ; “Moléculas Fotônicas para aplicações em Engenharia Espectral e Processamento de Sinais Ópticos”. In: 2014 UNICAMP