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Bases legais para o exercício da fisioterapia dermato-funcional e suas
diversas aplicabilidades: o que o profissional precisa saber
Luciane Barbosa da Silva Hernandes1
[email protected]
Dayana Priscila Maia Mejia2
Pós-graduação em Fisioterapia Dermato-Funcional – Faculdade Ávila
Resumo
A patologia estética representa uma ameaça à integridade emocional do indivíduo, resultante
da alteração do esquema e da imagem corporal e, consequentemente, de sua autoestima.
Pensando nisso, a ciência procurou criar fórmulas, aparelhos, procedimentos cirúrgicos
para alcançar tal expectativa humana e nessa busca, surgiram os diversos tratamentos
estéticos. O presente estudo faz uma análise reflexiva da legislação que fundamenta o
exercício da fisioterapia dermato-funcional, assim como verifica os principais campos de
atuação desta a fim de que a equipe multidisciplinar e os próprios fisioterapeutas conheçam
mais profundamente as técnicas e os tratamentos fisioterapêuticos disponibilizados no
mercado atualmente. Foi realizada uma revisão bibliográfica nas bases eletrônicas de dados
Medline, Lilacs, Cochrane, Scielo e Bireme com busca no período de 1994 a 2012.
Percebemos que fisioterapia dermato-funcional vem ganhando espaço no mercado da
estética porque além promover, tratar e melhorar a aparência do ser humano, preserva,
desenvolve e restaura a integridade de órgão, sistema ou função. Portanto, os profissionais
fisioterapeutas precisam conhecer profundamente seu campo de atuação tendo como base a
legislação vigente a fim de reivindicar competências privativas à área.
Palavras-chave: Fisioterapia dermato-funcional; Legislação; Aplicabilidades.
1. Introdução
Durante milhares de anos o homem sempre almejou um corpo perfeito, que fosse bem
definido, forte, tivesse suntuosas curvas, enfim, uma aparência invejável aos demais seres da
mesma espécie, pois isto impunha respeito e poder. Flores, Brum e Carvalho (2011) dizem
que a partir do surgimento do conceito de saúde como o completo bem-estar físico, psíquico e
social e não apenas a ausência de doença, é possível compreender que a patologia estética
representa uma ameaça à integridade emocional do indivíduo, resultante da alteração do
esquema e da imagem corporal e, consequentemente, de sua autoestima.
Desta forma, a ciência procurou criar fórmulas, aparelhos, procedimentos cirúrgicos para
alcançar tal expectativa humana e nessa busca, surgiram os diversos tratamentos estéticos
como os famosos peelings, vários tipos de massagens, intervenções cirúrgicas, aparelhos e
uma infinidade de cosméticos. Flores, Brum e Carvalho (2011) ressaltam que o número de
centros compostos por profissionais atuantes em diferentes áreas da saúde vem aumentando,
pois se percebe que, em eventuais necessidades do paciente, os atendimentos podem
solucionar de forma mais coerente e rápida as alterações existentes.
A fisioterapia dermato-funcional vem ganhando espaço ao longo dos tempos por ser esta
imprescindível para otimizar os tratamentos estéticos realizados por diversos cirurgiões e
dermatologistas. Em contrapartida, Tacani e Campos (2004) frisam que é comum deparar-se
com situações onde os próprios profissionais envolvidos na área de estética, muitas vezes
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Pós-graduanda em Fisioterapia Dermato-Funcional
Orientadora Fisioterapeuta Especialista em Metodologia do Ensino Superior
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desconhecem o papel exercido pelo outro. Além disso, intriga-se o fato de muitos
fisioterapeutas limitarem-se somente a alguns tratamentos corporais e muito menos ainda aos
tratamentos faciais, abrindo espaço para que outros profissionais assumam funções que antes
era de exclusividade da fisioterapia.
Outro fato que nos chama atenção é que na prática clínica, muitos pacientes submetidos a
procedimentos cirúrgicos não são encaminhados para a realização de tratamentos pósoperatórios sob a orientação de fisioterapeutas, ou são encaminhados em fases tardias, o que
pode levar a resultados pouco satisfatórios (TACANI; CAMPOS, 2004).
Pensando nisso, o presente estudo vem objetivar uma análise reflexiva da legislação que
fundamenta o exercício da fisioterapia dermato-funcional, assim como verificar os principais
campos de atuação desta área a fim de que a equipe multidisciplinar e os próprios
fisioterapeutas conheçam mais profundamente as técnicas e os tratamentos fisioterapêuticos
disponibilizados no mercado atualmente.
2. Conceituando a Fisioterapia
Tendo como base a Resolução COFFITO 80/87 podemos definir a fisioterapia como uma
ciência aplicada que estuda o movimento humano em todas as suas formas de expressão e
potencialidades, quer nas suas alterações patológicas, quer nas suas repercussões psíquicas e
orgânicas, objetivando preservar, manter, desenvolver ou restaurar a integridade de órgão,
sistema ou função. Tacani e Campos (2004) frisam que esta se fundamenta nos estudos da
biologia, das ciências morfológicas, das ciências fisiológicas, das patologias, da bioquímica,
da biofísica, da biomecânica, da cinesia e da sinergia funcional de órgãos e de sistemas do
corpo humano.
Para que esta ciência se consolide lança mão de um arsenal de recursos e conhecimentos
terapêuticos peculiares considerando o paciente em todas suas condições bio-psico-físicosocial porque busca promover, aperfeiçoar ou adaptar o indivíduo a uma melhor qualidade de
vida. Além disso, o fisioterapeuta pode atuar juntamente com outros profissionais nos
diversos níveis de assistência à Saúde, na administração de serviços, na área educacional e no
desenvolvimento de pesquisas (COFFITO 80/87).
3. Fundamentos legais da fisioterapia
O Conselho Regional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Terceira Região (CREFITO3) mostra que a fisioterapia é uma ciência tão antiga quanto o homem, visto que nossos
ancestrais tentavam diminuir a dor esfregando o local dolorido, o que evoluiu para as técnicas
que hoje conhecemos como exercícios terapêuticos manuais.
Segundo Botomé e Rebelatto (1999), no final do século XX, a fisioterapia passa a fazer parte
da chamada "Área da Saúde" e foi evoluindo no decorrer da história, teve seus recursos e
formas de atuação quase que voltadas exclusivamente ao atendimento do indivíduo doente,
pois tinha que atender um grande número de lesões e ferimentos graves dos soldados que
participaram das duas guerras mundiais e que precisavam retornar à sua vida ativa. A priori os
atendimentos fisioterapêuticos eram executados por voluntários que posteriormente
agregaram novas descobertas e técnicas às suas práticas, o que passou a lhe dar maior
cientificidade.
No Brasil a fisioterapia foi influenciada pela vinda da família Real para colônia em 1808, pois
com os monarcas vieram os nobres e o que havia de recursos humanos de várias áreas para
servir à elite portuguesa. De acordo com Novaes (1998), na caravana vieram cerca de quinze
mil pessoas para servi-la, trazendo da Europa recursos e técnicas mais modernos do que os
aqui existentes, obrigando que os profissionais se adequassem a esses avanços.
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O autor acima citado ressalta que no século XIX, os recursos fisioterapêuticos eram
comandados por médicos. No período de 1879 a 1883, os primeiros serviços de eletricidade
médica e de hidroterapia no Rio de Janeiro começaram a ser realizados, mas apenas em 1919,
quando foi inaugurado o Departamento de Eletricidade Médica pelo professor Raphael de
Barros da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, a fisioterapia passou a ser
utilizada para atender e reabilitar as vítimas de acidentes de trabalho no setor de produção
(MARQUES; SANCHES, 1994).
Botomé e Rebelatto (1999) dizem que para o pleno exercício da fisioterapia podemos destacar
quatro documentos legais publicados oficialmente e que tratam da regulamentação desta no
Brasil. São eles: o Parecer nº 388/63, elaborado por uma comissão de peritos do Conselho
Federal de Educação; o Decreto-lei nº 938/69; a Lei nº 6.316/75 sancionada pelo Presidente
da República e o Código de Ética Profissional de Fisioterapia e Terapia Ocupacional,
estabelecido pelo Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFITTO-10/78).
O Parecer no388/63 do Conselho Federal de Educação (CNE) estabeleceu que a fisioterapia
deve estar relacionada ao processo de reabilitação, atrelada e subordinada à ordem médica,
pois o profissional fisioterapeuta era considerado como um auxiliar de nível médio. A ele
competia desempenhar somente tarefas de caráter terapêutico definido neste parecer.
Vale ressaltar que o Dr. Waldo Rolim foi quem instalou em 1951, o primeiro curso de
Formação de Técnicos em Fisioterapia do Brasil. este tinha duração de um ano e era
patrocinado pelo centro de estudos Raphael Barros. Este curso se estendeu até 1958, visto que
com a promulgação da Lei 5.029 o Instituto de Reabilitação se anexou à Cadeira de Ortopedia
e Traumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP)
(MARQUES; SANCHES, 1994).
Ainda de acordo com Marques e Sanches (1994) este instituto nasceu do esforço de alguns
médicos brasileiros vinculados com a Organização Panamericana de Saúde (OPAS),
Organização Mundial de Saúde (OMS) e a World Confederation for Physical Therapy
(WCPT). A partir deste momento, o curso de fisioterapia ganhou caráter de graduação, com
duração de três anos, mas só se consolidou em 7 de abril de 1967, através da portaria GR no
347. Vale ressaltar que a partir 1980 este curso passou a ter duração de quatro anos.
O segundo documento importante aprovado no dia 13 de outubro de 1969, depois de tantas
lutas e reivindicações, foi o Decreto-lei no938 decretado pela junta militar que governava o
país (os ministros da Marinha de Guerra, do Exército e da Aeronáutica Militar) o qual deu ao
profissional autonomia e título de graduado, além de incumbir-lhe da atividade privativa de
executar métodos e técnicas próprias com a finalidade de restaurar, desenvolver e conservar a
capacidade física do paciente (MARQUES; SANCHES, 1994). Porém, este decreto limita o
trabalho do fisioterapeuta na execução de técnicas reabilitadoras, ou seja, deveria ocupar-se
apenas com indivíduos que já estão doentes ou que já possuem alguma deformidade.
A Resolução do COFFITO-8/78 veio ampliar o campo de atuação e estabelecer as funções
que são privativas do fisioterapeuta: o planejamento, a programação, a ordenação, a
coordenação, a execução e a supervisão de métodos e técnicas fisioterapêuticas que abranjam
os níveis de prevenção primária, secundária e terciária. A Resolução prossegue frisando a
avaliação, reavaliação e determinação das condições de alta do cliente, além da direção dos
serviços e locais destinados a atividades fisioterapêuticas, bem como a responsabilidade
técnica pelo desempenho destas atividades, a divulgação de métodos, a prescrição,
ministração e supervisão da terapia prestada.
A autonomia dada ao fisioterapeuta ainda objetiva preservar, manter, desenvolver ou restaurar
a integridade de órgão, sistema ou função do corpo humano, por meio de ação, isolada ou
concomitante, de agente termo, crio, hidro, aero, foto, sonido e eletroterapêuticos, com o
emprego ou não de aparelho, de exercício respiratório, cardiovascular, de educação ou
reeducação neuromuscular, de regeneração muscular, de relaxamento muscular, de
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locomoção, de regeneração osteoarticular, de correção de vício postural, de adaptação ao uso
de órtese ou prótese e de adaptação de meios e materiais disponíveis, pessoais ou ambientais,
para o desempenho físico do cliente, dentre outras (COFFITO-8/78).
Frisamos também outro momento relevante para a classe dos fisioterapeutas ocorrido no dia
17 de setembro de 1975, que foi a criação da Lei no 6.316/75, que permitiu a implantação do
Conselho Federal e os Conselhos Regionais de Fisioterapia e Terapia Ocupacional,
constituindo em conjunto uma autarquia federal vinculada ao Ministério do Trabalho, com a
incumbência de coordenar, organizar, fiscalizar e orientar (dentre outras) o exercício das
profissões de Fisioterapeuta e Terapeuta Ocupacional (CREFFITO-3).
A lei acima mencionada esclarece as atividades do fisioterapeuta e cita os locais onde os
profissionais podem atuar considerando a “política de assistência à saúde” no País. De acordo
com Botomé e Rebelatto (1999), esse fato ainda limita a atuação fisioterapêutica somente à
recuperação e reabilitação.
Outro marco para a fisioterapia foi a aprovação do Código de Ética Profissional de
Fisioterapia e Terapia Ocupacional, regidas pela Resolução COFFITO-10/78 que expande a
assistência fisioterapêutica para as três esferas: preventiva, interventiva e recuperativa da
saúde.
O referido código de ética veta qualquer tipo de prescrição medicamentosa ou prática de ato
cirúrgico e a indicação ou contribuição em tratamento desnecessário proibido por lei que seja
atentório à moral ou à saúde do cliente praticado sem o consentimento do cliente, ou de seu
representante legal ou responsável, quando se tratar de menor ou incapaz. Lembrando que ao
infrator são aplicadas as penas disciplinares previstas no art. 17 da Lei 6.316/75.
Percebemos no decorrer deste trabalho, que os documentos legais foram elaborados levando
em conta a concepção de saúde-doença visto que em nenhum momento citam os diversos
níveis de atuação que o profissional poderia ou deveria exercer, preocupando-se quase que
exclusivamente com a assistência a indivíduos doentes. Marques e Sanches (2004) ressaltam
que essas indefinições no campo de atuação profissional desvalorizam a área, limitando-a a
critérios inadequados.
4. Contexto histórico da fisioterapia dermato-funcional
Milani, João e Farah (2006) dizem que além da fisioterapia abranger as áreas de ortopedia,
neurologia, cardiologia, traumatologia, pneumologia, pediatria, dentre outras áreas, atua na
estética. Esta última recentemente passou a ser denominada de fisioterapia dermato-funcional,
em uma tentativa de ampliar a área, conferindo-lhe a conotação de restauração de função, pois
antes se limitava apenas em melhorar ou restaurar a aparência.
A fisioterapia vem atuando na área da estética há mais de 30 anos, mas as primeiras
publicações nacionais de cunho científico surgiram no início dos anos 1990. Guirro e Guirro
(2010) destacam que foi a partir da observação de recursos utilizados em estética, e do
domínio que o fisioterapeuta apresentava sobre tais recursos, tanto no aspecto teórico quanto
prático, que a classe começou a se interessar pelo assunto, surgindo a fisioterapia aplicada à
estética.
Os autores citados anteriormente dizem que a partir do interesse pela estética, em 1997 criouse o primeiro grupo de estudos organizado pela Associação Brasileira de Fisioterapia (ABF).
O objetivo era justificar e apontar o papel deste profissional nesse novo campo e assim
legalizá-lo frente ao Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional.
No ano seguinte foi realizado o I Congresso Brasileiro de Fisioterapia Estética que culminou
num marco histórico da fisioterapia nacional e possibilitou a afirmação da cientificidade, a
respeitabilidade e credibilidade da área em ascensão (MILANI; JOÃO; FARAH, 2006).
Desta maneira, entendemos que devido o profissional fisioterapeuta ter capacidades teórico-
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práticas aprofundadas no tratamento de diversas disfunções do corpo humano, a sua atuação
passou a comportar intervenções mais complexas que vão além das intercorrências de cunho
meramente estético, onde podemos citar tratamentos para pacientes queimados,
mastectomizados, portadores de dermatoses, de obesidade e outras patologias. Sendo assim,
fez-se necessário a substituição do termo “estética” para “dermato-funcional”, englobando
assim áreas de intervenção que antes não possuíam um referencial denominativo (MILANI;
JOÃO; FARAH, 2006).
Guirro e Guirro (2010) contribuem dizendo que há pouco tempo os fisioterapeutas eram um
número reduzido de batalhadores discriminados até pela própria classe. Hoje, podemos notar
uma grande quantidade de profissionais que para atingir e ampliar seu espaço lança mão da
cientificidade e de muito esforço, sendo que no decorrer da caminhada houve necessidade de
mudanças profundas e urgentes, a começar pela definição da área.
Vale ressaltar que este termo passou a ser veiculado no ano de 2000 com a realização do I
Congresso Brasileiro paralelo ao I Simpósio Brasileiro de Fisioterapia Dermato-Funcional, os
quais reuniram centenas de profissionais oriundos das mais diversas partes do país, contando
inclusive com o apoio do Sistema COFFITO/CREFITOS (TACANI; CAMPOS, 2004).
A partir daí, a fisioterapia dermato-funcional ganhou força e culminou na publicação da
Resolução 362/2009, que reconheceu esta enquanto especialidade. Sendo assim, o
profissional ganhou espaço na área da saúde por utilizar recursos específicos, como a
preparação para a intervenção cirúrgica, aceleração do processo de recuperação pósoperatória, prevenção e controle de complicações comuns (FLORES; BRUM; CARVALHO,
2011).
É importante frisar que a ação fisioterapêutica deve ser amparada por lei, desta forma, o
COFFITO-8/78 cita os métodos e técnicas que podem ser abordados, além das precauções que
se devem tomar na aplicação dos agentes terapêuticos, a saber, termoterápico ou crioterápico,
hidroterápico, aeroterápico, fototerápico, eletroterápico ou sonidoterápico.
A resolução acima mencionada estipula que na prática clínica o fisioterapeuta atente para: o
objetivo da terapia e a programação para atingi-lo; o segmento do corpo do cliente a ser
submetido ao exercício; a modalidade do exercício a ser aplicado e a respectiva intensidade; a
técnica de massoterapia a ser aplicada, quando for o caso; a orientação ao cliente para a
execução da terapia em sua residência, quando for o caso e a dosagem da frequência e do
número de sessões terapêuticas, com a indicação do período de tempo de duração de cada
uma.
Verificamos que as resoluções 8/78, 80/87 e 362/2009 do Conselho Federal de Fisioterapia e
Terapia Ocupacional (COFFITO) se caracterizam como as mais importantes conquistas para a
fisioterapia dermato-funcional, uma vez que a legalizam com teor de especialidade e ampliam
o seu campo de atuação, permitindo que esta englobe os três estágios da saúde: primária,
secundária e terciária com enfoque ao sistema tegumentar, além de ser imprescindível nos
períodos pré e pós-operatório, por prevenir e tratar as respostas advindas das intervenções
cirúrgicas estéticas.
Milani, João e Farah (2006) comentam que dentre os documentos importantes para a
consolidação da fisioterapia dermato-funcional destaca-se a publicação do Guide to Physical
Therapist Practice da Associação Norte-Americana de Fisioterapia (APTA) no ano de 2001
que apontou como a principal responsabilidade da fisioterapia dermato-funcional a
manutenção da integridade do sistema tegumentar como um todo, incluindo as alterações
superficiais da pele.
Flores, Brum e Carvalho (2011) por sua vez, dizem que esta conquista pode ter sido fruto
também da grande procura por procedimentos cirúrgicos estéticos, pois no Brasil, a cada três
anos são realizadas mais de 1.000.000 de cirurgias estéticas. Nos últimos anos, a cirurgia
plástica tem apresentado larga divulgação e importante aprimoramento de suas técnicas.
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Com isso, os autores dizem que a eficiência de uma cirurgia plástica não depende somente do
ato cirúrgico em si, mas também da preocupação com os cuidados nos períodos pré e pósoperatório para se evitar possíveis complicações como: deiscência ou necrose tecidual,
fibrose, cicatrizes inestéticas, limitações funcionais dentre outras.
Os autores supracitados dizem que a fisioterapia dermato-funcional é importante porque
restaura a integridade tecidual visto que o ato cirúrgico constitui uma agressão e por isso pode
prejudicar a funcionalidade dos tecidos. Uma vez que o cirurgião e o paciente percebam os
resultados de um tratamento adequado pela fisioterapia, esta se torna obrigatória.
Apesar da evolução conceitual e a importância alcançadas pela fisioterapia dermato-funcional,
o profissional ainda enfrenta outros dissabores como a competitividade com profissionais que
preenchem de forma ilegal funções privativas dos fisioterapeutas. Além disso, seu trabalho
não é valorizado pelos próprios médicos cirurgiões-plásticos, pois os mesmos passam a
responsabilidade para profissionais não habilitados e não legitimados para exercer tais
intervenções (TACANI; CAMPOS, 2004).
Mediante os aspectos abordados, Guirro e Guirro (2010) justificam o crescente interesse por
parte de estudantes e profissionais da área que procuram produzir inúmeras pesquisas e
trabalhos científicos relacionados ao tema. Vários cursos de graduação em fisioterapia já
incluíram ou pretendem incluir em seu currículo disciplinas que abordem mais
especificamente estes assuntos. Por fim, cursos de pós-graduação “Lato-Sensu” em
fisioterapia dermato-funcional foram criados em várias universidades espalhadas pelo país.
5. Metodologia
Este trabalho é uma revisão bibliográfica realizada nas bases eletrônicas de dados Medline,
Lilacs, Cochrane, Scielo e Bireme com busca no período de 1994 a 2012. Dentre os estudos
encontrados – mediante os descritores fisioterapia, estética, celulite, estrias, linfedema,
obesidade, quelóide, queimaduras foram selecionados e consultados cerca de 80 documentos,
além dos sites do Conselho Federal de Fisioterapia e Terapia Ocupacional (COFFITO) e dos
Conselhos Regionais (CREFITO’s) consultados em 2013. Foram selecionados apenas 37
artigos que abordavam de forma detalhada a história da fisioterapia e a aplicabilidade da
dermato-funcional, assim como as Resoluções e Decretos-Lei que a regem.
6. Discussão
Corrêa et al. (2008) dizem que a dermato-funcional é uma área de trabalho com grandes
oportunidades para atuação fisioterapêutica. Tem como objetivo tratar os distúrbios estéticos,
dermatológicos, metabólicos e endócrinos com intuito de promover a saúde e o bem estar ao
paciente. Milani, João e Farah (2006), Borges (2010), Guirro e Guirro (2010) complementam
dizendo que a mesma pode atuar em diversas patologias.
Identificamos nos artigos analisados que a fisioterapia dermato-funcional atua no fibroedema
geloide (FEG). Esta disfunção é erroneamente conhecida como celulite. Milani, João e Farah
(2006) afirmam que o FEG é uma das patologias mais comuns, caracterizada por edema no
tecido conjuntivo, causado principalmente pelo acúmulo de proteoglicanas no meio
extracelular que levam consigo grande quantidade de água. Corrêa et al. (2008) corroboram
afirmando que o FEG é uma desordem metabólica localizada no tecido subcutâneo que
provoca alterações na forma do corpo, desencadeando modificações na derme, na
microcirculação e nos adipócitos.
Ainda para Corrêa et al. (2008) esta afecção é caracterizada histologicamente por uma
infiltração edematosa, não inflamatória, seguida de polimerização da substância fundamental
produzindo reações fibróticas, podendo ser até dolorosas no aspecto clínico, e que se
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manifestam em forma de nódulos ou placas, apresentando ainda topografia localizada, sendo
de incidência quase exclusiva do sexo feminino.
Com relação à etiopatogenia do FEG, Sant’Ana, Marqueti e Leite (2007) afirmam que estão
presentes fatores desencadeantes, fatores predisponentes e agravantes. Os fatores
desencadeantes compreendem alterações de natureza hormonal que ocorrem na adolescência,
onde o principal hormônio envolvido o estrógeno. Os fatores predisponentes são hereditários
e múltiplos como sexo, etnia, biótipo corporal, distribuição do tecido adiposo e ainda,
quantidade, disposição e sensibilidade dos receptores das células afetadas pelos hormônios
envolvidos. Fatores agravantes como hábitos alimentares inadequados, sedentarismo, estresse,
patologias, medicamentos e gravidez podem acelerar desequilíbrio.
Para Borges (2010), o FEG pode ser classificado em graus de severidade, sendo eles: 1º grau:
a celulite só é visível através da compressão do tecido entre os dedos ou da contração
muscular voluntária; 2º grau: as depressões são visíveis mesmo sem a compressão dos
tecidos; 3º grau: o acometimento tecidual pode ser observado quando o indivíduo estiver em
qualquer posição e 4º grau: tem as mesmas características do 3º grau com nódulos mais
palpáveis, visíveis e dolorosos, aderência nos níveis profundos e aparecimento de um
ondulado óbvio na superfície da pele.
Corrêa et al. (2008) fala que devido a associação do FEG com a estase linfática, a drenagem
linfática é um dos recursos que podem ser utilizados, podendo ser associada com a
endermologia que é utilização de um aparelho com roletes dirigidos mecanicamente,
encontrados no cabeçote, com uma pressão negativa causada por sucção e uma positiva obtida
pela aproximação dos roletes.
De acordo com Guirro e Guirro (2010) essas técnicas melhoram o fluxo sanguíneo e linfático
permitindo o aumento da oxigenação cutânea, melhora da nutrição celular, auxílio na
eliminação de produtos do metabolismo, melhora do tônus da pele, dentre outros.
A corrente galvânica também pode ser utilizada para favorecer a nutrição do tecido afetado
decorrente do aumento de circulação local, pois quando se coloca o polo negativo diretamente
sobre a cicatriz ocorre a endosmose, o aumento da circulação e a formação de um composto
de pH básico que auxilia no aumento da distensibilidade da mesma. Esta corrente pode ser
também associada à terapia medicamentosa pelo processo de iontoforese (GUIRRO;
GUIRRO, 2010).
O uso do ultrassom para FEG pode ser indicado tanto pelos seus efeitos já conhecidos, como
para o aumento da circulação, com consequente neovascularização e relaxamento muscular. O
ultrassom promove ainda micromassagem, rearranjo e extensibilidade das fibras colágenas e
melhora das propriedades mecânicas do tecido, além de permitir por meio da fonoforese
efeitos de veiculação de substâncias como carbopol, fitossomas ou lipossomas (CORRÊA et
al., 2008).
Outras disfunções que a dermato-funcional vem mostrando resultados satisfatórios são as
estrias. Scorza e Jahara In Borges (2010) afirmam que as estrias se caracterizam por atrofias
lineares formadas pelo rompimento das fibras de colágeno e elastina, que fazem a sustentação
da camada intermediária da pele, responsáveis por sua elasticidade e tonicidade. Assim que
surgem, as estrias são avermelhadas, sinal da presença de inflamação e dilatação dos
capilares, niveladas ao restante da pele, parecendo arranhões. Com o tempo tornam-se
cicatrizes esbranquiçadas e fundas.
De acordo com White et al. (2008), a etiologia das estrias ainda não está definida, mas
existem três teorias que tentam explicá-la, onde a mais bem aceita é a teoria endocrinológica.
Guirro e Guirro (2010) afirmam que adeptos dessa teoria acreditam que o aparecimento das
estrias não está relacionado a uma patologia, e sim ao tipo de medicamento administrado a
esse paciente. Conforme os autores, o hormônio esteroide está presente em todas as formas de
aparecimento das estrias como na obesidade, na adolescência e na gravidez, onde vai atuar
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especificamente sobre o fibroblasto.
Além dessa etiologia, Milani, João e Farah (2006) deduzem que as estrias podem ser resultado
de um repentino estiramento da pele, com consequente ruptura ou perda de fibras elásticas,
podendo decorrer de crescimento rápido, aumento de peso ou gravidez. O exercício vigoroso
e algumas infecções como febre tifoide e hanseníase também são apontados como causadores
de estrias.
Apesar das estrias serem tidas como sequelas irreversíveis, alguns autores se baseiam no fato
de que não há regeneração da fibra elástica, gerando então uma não aceitação de tratamentos
para as mesmas (GUIRRO; GUIRRO, 2010). Porém, estudos mais recentes teem mostrado a
eficácia da aplicação da corrente galvânica subcutaneamente sobre a estria.
Os mesmos mostram que após a aplicação do estímulo elétrico, ocorre um aumento no
número de fibroblastos jovens, uma neovascularização e todas as funções inerentes da pele
são recuperadas, inclusive o retorno da sensibilidade dolorosa no local após algumas sessões.
Logo, o aspecto da pele se apresenta muito próxima ao normal, onde também se observa
algum tipo de reorganização das fibras colágenas. Lima e Pressi (2007) atentam para
contraindicação em alguns pacientes como os cardíacos, portadores de marca-passo,
neoplasias, gestantes, epiléticos ou qualquer outra patologia que contraindique a aplicação de
eletricidade.
Milani, João e Farah (2006) por sua vez citam a aplicação da luz intensa pulsada (IPL) e do
Dye laser para o tratamento da estria alba. Para eles, o estímulo desencadeia um processo de
reparação, por meio de uma inflamação aguda localizada que visa restabelecer de forma
satisfatória a integridade dos tecidos tratados. Citam ainda o uso da microdermoabrasão,
procedimento com finalidade de destruição da camada epidérmica e/ou dérmica superficial
tem o objetivo de estimular a regeneração da estria pela instalação de um processo
inflamatório, com consequente estímulo da atividade fibroblástica.
Outro tratamento que está sendo bastante procurado é a carboxiterapia. Scorza e Jahara In
Borges (2010) dizem que este método é utilizado para tratamento de irregularidades da pele
por promover melhora na pressão parcial de oxigênio, da perfusão tecidual, e também, de
parâmetros locais de circulação.
De acordo com Brandi et al. (2004), a carboxiterapia já vem sendo utilizada para o
tratamento de arteriopatias, psoríase, úlceras, varizes, na redução de adiposidades localizadas,
por seu efeito oxidativo sob os lipócitos e mais recentemente nas estrias visto que a aplicação
de gás carbônico promove elasticidade cutânea.
Segundo Scorza e Jahara In Borges (2010), a Carboxiterapia constitui-se de uma técnica onde
se utiliza o gás carbônico medicinal (Dióxido de Carbono ou CO2) injetado no tecido
subcutâneo, estimulando assim efeitos fisiológicos como melhora da circulação e oxigenação
tecidual.
Ganong (2006) diz que o CO2 é um gás inodoro, incolor e atóxico. É o produto endógeno
natural do metabolismo das reações oxidativas celulares, produzido no organismo diariamente
em grandes quantidades e eliminado pelos pulmões durante a respiração. É uma terapia
rápida, pouco desconfortável e muito eficiente para a maioria dos pacientes.
Domingues e Macedo (2006) concluem dizendo que esta técnica consiste na administração
subcutânea, através de injeção hipodérmica, do CO2 diretamente nas áreas afetadas. Em geral
utilizam-se sessões bissemanais, num total entre 12 e 20. Novo ciclo terapêutico é
normalmente realizado após 6 a 10 meses. A infusão do CO2 ativa a microcirculação local,
melhora a nutrição celular e elimina toxinas, reduz o processo inflamatório melhorando a
qualidade dos tecidos.
Percebemos que a obesidade também é foco de tratamento fisioterapêutico. Moro, Aldenucci
(2010) relatam que nos dias de hoje, a obesidade é uma questão bastante discutida e
polemizada, pois acarreta uma enorme quantidade de patologias por levar a um aumento de
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morbi-mortalidade proveniente da resistência insulínica, dislipoproteinemia, diabetes mellitus,
hipertensão arterial, doenças cardiovasculares, apneia do sono, osteoartrite e câncer de mama.
Francischi et al. (2000) afirmam que a obesidade não é uma desordem singular, e sim um
grupo heterogêneo de condições com múltiplas causas que em última análise resultam no
fenótipo de obesidade. Os princípios mendelianos e a influência do genótipo na etiologia
desta desordem podem ser atenuados ou exacerbados por fatores não genéticos, como o
ambiente externo e interações psicossociais que atuam sobre mediadores fisiológicos de gasto
e consumo energético.
Atualmente, estima-se que exista no mundo aproximadamente 250 milhões de indivíduos
obesos e estudos recentes deduzem que provavelmente em 2025 este número chegará a 300
milhões se não forem diminuídos ou revertidos os fatores predisponentes (FRANCISCHI et
al., 2000).
Podemos considerar a obesidade como uma doença universal, própria da superalimentação.
Milani, João e Farah (2006) a definem como aumento generalizado da gordura corporal
resultante de um balanço energético onde a ingestão supera o gasto. A Organização Mundial
de Saúde (OMS) indica para se avaliar o sobrepeso o cálculo do IMC (índice de massa
corpórea), obtido pela divisão do peso do indivíduo (em kg) pelo quadrado de sua altura (em
m), onde índices entre 25 e 29,9 indicam sobrepeso, de 30 a 39,9 indicam obesidade e, acima
de 40, obesidade mórbida.
Francischi et al. (2000) concluem que a ocorrência da obesidade nos indivíduos reflete a
interação entre fatores dietéticos e ambientais com uma predisposição genética. Contudo,
existem poucas evidências de que algumas populações são mais suscetíveis à obesidade por
motivos genéticos, o que reforça serem os fatores alimentares e a atividade física
responsáveis pela diferença na prevalência da obesidade em diferentes grupos populacionais.
Desta forma, entendemos que a atividade física e o controle alimentar são os mais importantes
recursos para o tratamento da obesidade, mas ambos devem ser controlados, pois Milani, João
e Farah (2006) mostram que a maioria dos obesos não está preparada para suportar grandes
programas de exercícios físicos, podendo desenvolver alterações em articulações, ou mesmo
apresentar riscos, no caso dos que têm alterações coronarianas associadas. O exercício
aeróbico é o mais indicado por promover perda de peso e de massa adiposa, acredita-se que a
prática de atividade física também estimule o controle alimentar.
A fisioterapia dermato-funcional vai atuar após perda ponderal maciça, onde o paciente
vivencia nova condição de saúde, refletida pela melhora ou mesmo pela resolução das comorbidades, especialmente o diabetes tipo II, e pela própria perda de peso, com reflexos biopsico-sociais positivos. Entretanto e quase que simultaneamente, o paciente defronta-se com a
nova imagem corporal, pois não é infrequente que um paciente obeso mórbido apresente após
cirurgia bariátrica de sucesso, indícios de obesidade (MORO; ALDENUCCI, 2010).
Os autores anteriormente mencionados ressaltam ainda que a flacidez cutânea associada à
ptose frequentemente aparece nas diversas regiões anatômicas como mamas, braços, coxas,
glúteos e tronco. Além de outras complicações como o impacto psicossocial do
dermatocalázio generalizado, surgem doenças como o intertrigo e limitações funcionais para a
deambulação, micção e atividade sexual.
A intervenção fisioterapêutica varia de acordo com quadro geral do paciente, mas podemos
destacar a aplicação da drenagem linfática manual para redução de edema, a endermologia
por desagregar as fibroses promovendo com isso um tecido mais uniforme, assim como o
ultrassom, corrente russa, terapias combinadas e bandagens. Exercícios ativos também são
fundamentais no processo de recuperação (MILANI; JOÃO; FARAH, 2006).
Assim, Borges (2010) cita em seu livro outras técnicas atuais que se mostram eficazes,
principalmente no tratamento da flacidez cutânea, é o caso da carboxiterapia, luz intensa
pulsada (IPL) e da radiofrequência.
10
A fisioterapia dermato-funcional também atua diretamente nas adiposidades localizadas, ou
lipodistrofias. Estas alterações variam de região de acordo com o sexo, homens têm o
predomínio de células adiposas na região do abdome e mulheres apresentam maior depósito
em regiões fêmoro-glúteas. Sendo que, quando se acumulam na metade inferior do corpo
classificam-se ginoide e na metade superior, androide.
Diversos são os tratamentos disponíveis no mercado: endermologia, ultrassom,
radiofrequência, carboxiterapia, massagem redutora, em fim, uma série de aparelhos e
técnicas que têm comprovação científica (BORGES, 2010; GUIRRO; GUIRRO, 2010).
É importante salientar que atualmente, para se otimizar e potencializar o trabalho do
fisioterapeuta dermato-funcional, as empresas que produzem os aparelhos de estética, lançam
na maioria das vezes aparelhos de múltiplas utilidades, ou seja, as terapias combinadas são
priorizadas, além de o mesmo aparelho servir para vários tipos de tratamento: lipodistrofia,
flacidez, fibroedema dentre outros (AGNE, 2009).
Um dos pontos-chave da atuação da fisioterapia dermato-funcional é a intervenção pré e póscirurgias plásticas. Dentre os vários procedimentos, Borges (2010) cita a ritidoplastia,
blefaroplastia, mamoplastia, implantes mamários, abdominoplastia e a lipoaspiração.
Corrêa et al. (2008) ressaltam que inicialmente devemos preconizar o trabalho de manutenção
e/ou fortalecimento da musculatura, documentação prévia completa das condições gerais do
paciente, além do condicionamento cardiorrespiratório. Desta forma, o pós-operatório
imediato varia de acordo com a cirurgia e com o procedimento realizado. Sendo que de
acordo com Guirro e Guirro (2010) a redução do edema, a diminuição do quadro álgico e a
potencialização da cicatrização devem ser priorizados em todos os tipos de procedimentos
cirúrgicos. Neste sentido, ultrassom, TENS, laser, microcorrentes, crioterapia e
principalmente a drenagem linfática manual podem ser utilizados precocemente.
Mais tardiamente ou quando necessário, outras técnicas podem ser utilizadas como a
radiofrequência, a carboxiterapia, a endermologia a fim de evitar fibroses e aderências
cicatriciais ou até mesmo limitações de movimento. Milani, João e Farah (2006) frisam que a
realização de exercícios cinéticos-funcionais é fundamental, lembrando que a participação do
paciente, com a associação de dietas, atividade física e alterações em seu modo de vida
também são imprescindíveis.
Semelhantemente às outras disfunções acima relatadas, a flacidez pode ser tratada com
recursos fisioterapêuticos. Nas palavras de Borges (2010) flacidez cutânea é caracterizada por
uma atrofia da pele, em razão do enfraquecimento das fibras de colágeno e elastina que dão
sustentação aos tecidos do organismo.
Milani, João e Farah (2006) completam dizendo que esta pode ser consequência do
envelhecimento fisiológico, onde há perda gradativa de massa muscular esquelética,
substituída por tecido adiposo, e atrofia do tecido subcutâneo, dentre outras alterações. O
sedentarismo é apontado como causa de flacidez muscular, assim como o emagrecimento em
demasia, podendo este último afetar também a pele.
Os autores supracitados frisam que o tratamento desse tipo de patologia consiste em
restabelecer a tensão perdida. Guirro e Guirro (2010) indicam tratamentos que já fazem parte
da rotina do fisioterapeuta, como galvanoterapia, peelings químicos e mecânicos,
carboxiterapia, luz intensa pulsada (IPL), radiofrequência e os inúmeros tratamentos
cosmecêuticos existentes na atualidade, além das cirurgias plásticas como lifting facial e
blefaroplastia, dentre outras.
Segundo os artigos analisados, observamos que a fisioterapia também atua na prevenção e
tratamento das cicatrizes hipertróficas e quelóides provenientes dos tratamentos cirúrgicos,
queimadura e acidentes. Todas as lesões passam pelas fases inflamatória, proliferativa e de
remodelamento, tendo como resultado final a formação de cicatriz. Entretanto, para Piccolo et
al. In Lima Jr. (2008), cicatrizes anormais podem se desenvolver, determinando alterações
11
psicossociais estressantes, uma vez que podem ser esteticamente desfigurantes, com
limitações funcionais e apresentar sintomatologia exuberante. Além disso, sistemas biológicos
complexos, incluindo o bioquímico, metabólico e imunológico parecem estar implicados na
formação de cicatrizes anormais.
Candido (2001) cita diversos tipos de cicatrização, a normotrófica quando a pele adquire o
aspecto de textura e consistência anterior ao trauma; atrófica quando sua maturação não atinge
o trofismo fisiológico esperado, surgindo, geralmente, por perda de substância tecidual ou
sutura cutânea inadequada; bridas cicatriciais, cicatrizes localizadas nas regiões articulares e,
por essa razão, podem provocar limitações funcionais; hipertrófica, a cicatriz respeita o limite
anatômico da pele e o quelóide que é decorrente da contínua produção de colágeno jovem
devido à ausência de fatores inibitórios.
Para Piccolo et al. In Lima Jr. et al. (2008), as cicatrizes hipertróficas são desordens
fibroproliferativas características da raça humana, em que há deposição excessiva de proteínas
da matriz extracelular após processos inflamatórios e traumas. Estas apresentam as mesmas
fases do processo normal de cicatrização, entretanto têm a evolução temporal mais prolongada
e a retração cicatricial mais importante do que observada em cicatrizes não-hipertróficas.
Os quelóides por sua vez, não respeitam os limites da cicatriz e não regridem
espontaneamente ou continuam a progredir após 6 meses de evolução, embora ambos sejam
considerados distúrbios fibroproliferativos (PINTO et al., 2007).
Milani, João e Farah (2008), Guirro e Guirro (2010), Borges (2010) e Staley e Richard In
O’sullivan e Schmitz (2004) demonstram que os recursos fisioterapêuticos utilizados no
tratamento de cicatrizes e quelóides são semelhantes ao realizado nas sequelas de
queimaduras, na fase de remodelagem tecidual, ou seja, na fase tardia. Sendo assim, podemos
destacar a microdermoabrasão superficial, peelings, massagem cyriax, crochetagem,
ultrassom. Em fim, tudo o que iniba a proliferação fibroblástica, a cicatrização e promova o
rearranjo do colágeno.
O tratamento dermato-funcional para queimaduras também são cruciais para a reabilitação
dos injuriados e possuem respaldo na legislação vigente. As queimaduras, de acordo com
Serra, Gomes e Crisóstomo In Lima Jr. (2006), são feridas traumáticas causadas por agentes
térmicos (frio e calor), químicos, elétricos ou radioativos. Estes agentes atuam nos tecidos de
revestimento do corpo humano, determinando destruição parcial ou total da pele e seus
anexos, podendo atingir estruturas profundas como, tecido celular subcutâneo, músculos,
tendões e ossos.
Para Gomes In Guimarães Jr. (2006), esta pode variar desde uma pequena flictena (bolha) na
pele até agressão grave, capaz de desencadear um grande número de respostas sistêmicas
proporcionais à extensão e à profundidade dessas lesões. Rocha et al. (2010) complementam
que esse trauma assume proporções variáveis dependendo do tempo de exposição, do
percentual de área queimada e do agente causador.
De acordo com Guirro e Guirro (2010), a classificação da gravidade das queimaduras é
determinada mediante diversos fatores como a idade do paciente, profundidade da lesão, tipos
de lesões, regiões afetadas, agente causador, porcentagem de superfície cutânea lesada e
traumas associados. Para os autores, determinar o grau de uma queimadura significa atentar
para a profundidade do trauma térmico na pele.
Staley e Richard In O’sullivan e Schmitz (2004) corroboram dizendo que as classificações das
feridas decorrentes de queimaduras apresentam diferentes quadros clínicos, e cada um pode se
modificar dramaticamente durante o curso do tratamento.
Para os autores acima mencionados, as queimaduras estão classificadas quanto à profundidade
como superficial (1o grau); superficial de espessura parcial (2o grau); profunda de espessura
parcial (2o grau profundo); queimadura de espessura integral (3o grau); queimadura elétrica
(4o grau).
12
Milani, João e Farah (2008) dizem que o tratamento de pacientes queimados é
multidisciplinar e segue abordagens diferentes de acordo com a fase em que o paciente se
encontra, podendo ter seu foco na queimadura, na terapia intensiva, na cicatriz e na
recuperação funcional dos movimentos.
Desta forma, pressupomos que a fisioterapia está presente no tratamento de queimados desde
as primeiras 24 horas após a lesão. Para Rocha et al. (2010), o atendimento a queimados deve
iniciar o mais precoce possível, preferencialmente no dia do acidente; evitar imobilizações
prolongadas de qualquer parte do corpo, devendo instituir movimentação ativa do paciente,
quando possível nas extremidades.
Assim, Rocha et al. (2010) diz que a fisioterapia deve prevenir a perda de movimento,
minimizar e evitar as deformidades anatômicas e diminuir a perda de massa corporal. Os
autores frisam que o atendimento deve envolver a elaboração de um programa de tratamento
adequado a cada tipo de paciente, as atividades devem ser planejadas e realizadas diariamente,
avaliando as condutas de acordo com a evolução do paciente, visto que as necessidades de
reabilitação se modificam com frequência.
Após a alta hospitalar, o paciente deve ter atenção ambulatorial por um período de até dois
anos pós-queimadura. Neste período, o fisioterapeuta acompanha o paciente a fim promover a
melhora das cicatrizes hipertróficas, retráteis e bridas, bem como amenizar as limitações
articulares e funcionais decorrentes destas (BARGUIL In BORGES, 2010).
Atualmente a fisioterapia dispõe de um arsenal de recursos que podem ser utilizados na
reabilitação de pacientes queimados. Milani, João e Farah (2006), Corrêa et al. (2008), Borges
(2010) indicam o uso da terapia de compressão, lâminas de silicone (oclusão e hidratação do
estrato córneo), a microdermoabrasão superficial, massagem, o ultrassom, a iontoforese, a
microcorrente, o laser e recentemente a técnica de crochetagem.
Por último, mas não menos importante, verificamos que a fisioterapia dermato-funcional vem
sendo requisitada frequentemente para a reabilitação de pacientes que apresentam quadro de
linfedema, seja proveniente de problemas vasculares, ou pós-cirurgia de câncer de mama pela
retirada da cadeia axilar de nodos linfáticos, alterando a circulação normal da linfa. De acordo
com Milani, João e Farah (2008) esta alteração ocorre quando há acúmulo de líquidos e
proteínas nos espaços intersticiais, podendo ser decorrente de alterações do próprio sistema
linfático, como por exemplo, o linfedema congênito, ou causado por retirada dos linfonodos
(linfadenectomia), radioterapia, pós-infecções, doenças neoplásicas, traumas extensos, dentre
outros.
O tratamento do linfedema deve ser multidisciplinar e os recursos utilizados podem ser
associados na busca do melhor resultado. Desta forma, Staley e Richard In O’sullivan e
Schmitz (2004) dizem que a terapia pode ser iniciada com a perimetria do membro a ser
tratado, assim como a do contralateral a fim de comparação, seguindo o tratamento
propriamente dito com a elevação do membro acometido, drenagem linfática manual (sendo
esta contraindicado em caso de metástase), enfaixamento compressivo, pressoterapia,
cinesioterapia, indicada desde o início do tratamento, pois as contrações musculares irão
exercer compressão no tecido, favorecendo a drenagem linfática.
7. Conclusão
A fisioterapia dermato-funcional vem ganhando espaço no mercado da estética porque além
promover, tratar e melhorar a aparência do ser humano, preserva, desenvolve e restaura a
integridade de órgão, sistema ou função. Dizemos então, que o fisioterapeuta é
potencialmente preparado para prestar atendimento nos três estágios: primário, secundário e
terciário, levando em consideração as características e os limites biológicos, morfológicos,
fisiológicos, sociais, morais e éticos do ser humano.
13
Na prática clínica notamos que muitos profissionais restringem seus atendimentos utilizando
apenas parte das técnicas, dos aparelhos e procedimentos que é de sua competência,
principalmente os mencionados na maioria dos estudos analisados. Esta atitude abre espaço
para que outras áreas se apropriem de técnicas e tratamentos legalmente conquistados pela
fisioterapia dermato-funcional e que estão na grade curricular dos cursos de pós-graduação
oferecidos em todo o país.
Sendo assim, entendemos no decorrer das leituras dos textos, das Resoluções e dos DecretosLei que a fisioterapia dermato-funcional vem conquistando seu espaço na área estética por
meio de lutas incessantes, seja pelo seu reconhecimento, seja para manter tratamentos e
procedimentos que já foram aprovados pelo COFFITO.
Portanto, os profissionais fisioterapeutas precisam conhecer profundamente seu campo de
atuação tendo como base a legislação vigente a fim de reivindicar competências privativas à
área. Além disso, devem fazer-se conhecidos da equipe multidisciplinar, sempre lançando
mão dos seus conhecimentos técnico-científicos com responsabilidade, primando pela ética
que rege sua conduta e respeitando os demais profissionais objetivando o bem maior, a saúde
humana.
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